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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Resenha Cinema: As Aventuras de Tintin - O Segredo do Licorne


Há quem diga que Steven Spielberg nasceu pro Tintin, o personagem do quadrinista Hergé, um intrépido repórter investigativo que se envolve em inúmeras aventuras.
Talvez fosse a semelhança que as enrascadas em que o personagem original se envolvia com as aventuras de Indiana Jones, repletas de lugares misteriosos, vilões ameaçadores e enigmas intrincados. Ou, quem sabe, fosse apenas esperança que o frescor juvenil das aventuras imaginadas pelo Hergé contaminassem o diretor que, vamos combinar, não vem na sua melhor forma, e digo isso de um dos meus realizadores cinematográficos preferidos, mas já tem muito tempo desde O Resgate do Soldado Ryan, Minority Report e O Império do Sol.
Nem mesmo seu retorno a Indiana Jones foi o que se esperava. O Reino da Caveira de Cristal foi divertidíssimo, mas não lambe as botas d'O Templo da Perdição, talvez o mais fraco da trilogia original.
Foi, então, com esperança que fui assistir o que prometia ser uma parceria épica entre Spielberg e Peter Jackson, um longa rodado com o sistema de captura de performance que Robert Zemeckis vem aperfeiçoando nos últimos anos, e que transformaria Jamie Bell, Daniel Craig, Simon Pegg e Nick Frost e Andy Serkis, especialista nessa modalidade de atuação nas criações de Hergé numa fita aventuresca como a muito tempo Spielberg não fazia.
Ao filme:
O repórter Tintin (Jamiel Bell) compra uma miniatura de um navio, o Licorne do título, em uma feira de antiguidades. Imediatamente surgem pessoas dispostas a comprar o modelo, como Barnabé, e o misterioso senhor Sakharine (Craig).
Intrigado com o interesse dos estranhos na sua aquisição, Tintin resolve fazer uma pequena investigação com seu inseparável cão Milu, e acaba por descobrir que o segredo do Licorne está ligado ao capitão Haddock (Serkis), o que o envolve em uma viagem através de fronteiras da Europa à África para montar um quebra cabeças que pode levar à uma fortuna perdida.
Está tudo lá, como eu me lembrava nas animações que via nas tardes da TV Cultura, tudo turbinado pela espetacular animação por CG que dá novos e interessantíssimos tons ao traço de Hergé, e pela mão de Steven Spielberg para filmar cenas de ação de tirar o fôlego.
Os personagens não chegam a gerar aquele "vale da estranheza" que alguns trabalhos em computação gráfica acabam causando, mas estão extremamente bem feitos, envoltos por sombras vivas e texturas realistas de pele e cabelos mas sendo, ainda, fiéis ao traço original em um excelente trabalho da WETA digital de Peter Jackson.
O espetáculo visual, no entanto, está muito mais galgado na capacidade de Steven Spielberg de imaginar sequências espetaculares e da forma como ele as gera ao se ver livre das amarras de uma câmera física. Essa capacidade sensacional do cineasta está presente em todo o filme na forma das lindas transições onde o oceano pode virar uma possa d'água ou um aperto de mão se transforma nas dunas do Sahara, mas fica, de fato, evidente na grande sequência em que Tintin, Milu e Haddock perseguem, em uma moto com side-car, Sakharine e seus comparsas em um jipe.
Sem um único corte de câmera Spielberg constrói uma sequência empolgante e esteticamente lindíssima, passando por cada um dos núcleos envolvidos na perseguição, incluindo aí uma enxurrada, um falcão e um tanque de guerra!
Pessoalmente, porém, não achei o filme tão bom quanto alguns setores da crítica alardearam. Tintin é uma aventura divertida e correta, tem seus encantos, mas ainda não é o filme que vai devolver Spielberg à velha forma.
Mas certamente valeu a tentativa.

"-Como anda a sua sede de aventuras, capitão?
-Insaciável, Tintin."

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Resenha Game: Call of Duty - Modern Warfare 3


Não foi necessário muita coisa para dar início à Terceira Guerra Mundial, bastou a insanidade de um homem. Vladimir Makarov, o ultranacionalista russo que queria ver os exércitos de seu país marcharem sobre as cinzas dos EUA e Europa conseguiu seu intento.
Ao final do segundo game, Modern Warfare 2, ficava claro que as coisas não haviam sido concluídas.
Se o general Shepherd estava morto, e Price e Soap haviam sido resgatados por Nikolai, os EUA e a Rússia continuavam em guerra, e as coisas não iam bem pros ianques, pegos com as calças na mão pela ofensiva vermelha.
Esse é o ponto de partida de Call of Duty - Modern Warfare 3, sequência do jogaço de 2009 e jogo mais vendido da história, que dá continuidade à epópeia da Força Tarefa 141 (Ou o que restou dela...) para encontrar Makarov e impedir que ele siga com seus planos de destruição global.
O player controla personagens em várias linhas narrativas de maneira intercalada, ora estando no comando da Força Tarefa 141, ora nas operações do exército dos EUA para conter o exército russo e retomar pontos-chave nos Estados Unidos e na Europa, e até comandando agentes do serviço secreto russo tentando proteger o presidente de um atentado.
A variedade de missões e dos personagens que controlamos em cada uma delas é interessante. Se após jogar MW-2 pela primeira vez, lamentei as variações pois não davam tempo para o player se afeiçoar a nenhum dos personagens, após jogar os três MW em sequência, devo dizer que mudei diametralmente de opinião.
Soap MacTavich, John Price e até mesmo Iury, o russo que se junta aos remanescentes da 141 são personagens com quem criamos laços, além do soldado Frost, da Delta Force, que também passa por poucas e boas junto com o gamer.
Além desses personagens marcantes (Price é rei.), há o espetáculo visual dos gráficos da série, que já eram espetaculares em MW2, e que continuam um disparate nesse terceiro capítulo.
Observar atônito um prédio desabando no centro de Munique diante dos seus olhos em uma tela HD de 42 polegadas faz valer cada centavo pago nas prestações ao longo do último ano. Aliás, o esmero e a grandiosidade dos cenários chegam a dar vontade de assistir alguma outra pessoa jogando, só pra poder admirar o estrago da Terceira Guerra Mundial em grandes cidades dos EUA e Europa.
O gameplay continua simples e eficiente, a música, os efeitos sonoros e a dublagem são muito bons (Há alguns nomes bem famosos no elenco de dubladores, que infelizmente não consegui identificar enquanto jogava, tal meu nível de imersão.), garantindo a integridade da experiência gamística.
A série encerra essa trilogia como o melhor game de tiro disponível no mercado na combinação história/excelência técnica e segue como um item obrigatório na estante de quem curte games de guerra e de tiro.

"-Eu estou aqui por você, Makarov.
-Você não soube, Price? Eles dizem que a guerra acabou.
-Minha guerra acaba com você."

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

E tu, que sempre foi Skywalker...


Tu, meu amor, sempre foi Skywalker. Sempre foi catalisadora. Tu sempre fez as coisas acontecerem. A trama sempre se movimentou através de ti. Porque tu sempre foi Skywalker. Tu é poderosa na Força, e mesmo sem experiência foi capaz de enfrentar o Império. Tu sempre foi otimista, e sempre acreditou que o Vader poderia voltar ao lado luminoso da Força. Porque tu sempre foi Skywalker.
Não importa o que tu diga, amor, tu sempre foi Skywalker.
Eu, não. Eu sempre fui Kenobi. Sempre fui contido, meio pessimista. Sempre fui algo contrito. Porque eu sou Kenobi. Eu pude te oferecer os meios, mas não cataliso nada. Posso ser causa, porque sou Kenobi. Mas tu é efeito, porque tu é Skywalker.
Ser Kenobi é meio sina, meio, pois em parte eu escolhi ser Kenobi. Talvez por comodismo, talvez por pragmatismo. Mas sou, até a raíz da alma, Kenobi.
Ser Skywalker é cem por cento escolha. Tu decidiu ser Skywalker, o que demandou coragem. Não é, entretanto, garantia de acertar sempre.
O Vader provou isso ao arrancar a mão do Luke, lembra?
Skywalkers também estão sujeitos a enganos.
Como os que tu eventualmente comete, meu amor.
Eu sou Kenobi. Nem sempre falo o que sinto. Não sou um tipo de fácil convívio, admito. Eu sei que não sou, meu amor. Reconheço que minhas disposições não são as mais doces, e sei que é complicado tentar me compreender. Eu, Kenobi que sou, sou isolacionista e poderia viver numa cabana isolada em Tatooine, apenas vendo de longe a ti, que é Skywalker...
E tu, que é impulsiva, catalisadora e valente, tão valente que surpreende até a si mesma, vai te equivocar.
E vai supôr por isso ou por aquilo que eu não te amo. Um erro grande demais. Pesado demais. Primário demais, padawan. Mesmo pra ti, que sempre foi Skywalker.
Eu, que sempre fui Kenobi, sei o que eu sinto. E o que continuarei sentindo. Mesmo que tu, ao invés de trazer equilíbrio à Força, a jogasse nas trevas.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Inexplicável


O Benedito vinha andando calmamente pela rua, fones de ouvido posicionados sobre as orelhas, óculos escuros sobre os olhos, e mãos crispadas sobre as alças de sua mochila.
Benedito vinha ouvindo Journey, "Don't Stop Believin'". Sentia-se bem sendo anacrônico logo pela manhã. Ultimamente era um dos poucos momentos em que Benedito sentia-se bem. Quando andava de casa ao trabalho ouvindo sua playlist entitulada "Só as Jedi".
Ali estavam várias músicas que significavam algo para Benedito. By Your Side, na versão de Beachwood Sparks, Brown Eyed Girl, do Van Morrison, In My Life, dos Beatles, Hurt do Johnny Cash... Músicas bem distintas entre si, mas que lembravam Benedito de Bruna.
A Bruna era tudo o que o Benedito queria da vida.
Sério.
Se tudo o que o Benedito queria da vida se transformasse em uma mulher, seria a Bruna. Sem tirar e nem pôr.
Todas as características da Bruna batiam, ipsis litteris, com as idealizações que o Benedito formulara na sua longa vida de relacionamentos arruinados.
Toda a vez que um namoro do Benedito terminava, ele aprendia alguma coisa. Percebia alguma nova particularidade, e acrescentava algo à lista de itens que ele consideraria indispensáveis na pessoa que seria "A" pessoa. A mulher que o completaria e com quem Benedito iria querer passar todos os dias de sua vida.
E no lugar mais improvável... OK, o terceiro ou quarto lugar mais improvável, atrás de uma gafieira, um quartel da Legião Estrangeira e uma convenção de leitores de O Segredo. Foi através da internet.
E embora o Benedito tenha sido desconfiado com relação à Bruna como era com relação a quase tudo, ela perseverou, e eles se encontraram. Tiveram uma história pra chamar de "nossa". Partilharam tempo, refeições e filmes. Sobremesas, parques e conversas. Caminhadas, camas e beijos.
Mas, como fazia com quase tudo na vida, as noções pré-concebidas de responsabilidade e compromisso de Benedito acabaram por traí-lo. E ele inadvertidamente afastou de si a única pessoa que de fato quis ter por perto em sua vida.
Agora ali estava Benedito. Tentando se curar. Tentando colar os pedaços. Tentando sentir algum sabor que não fosse o amargo na sua língua.
Benedito fazia isso cultivando um sentido de normalidade artificial em sua rotina. E, quando ele não parava pra pensar, nem doía.
Contando os dias desde que Bruna lhe disse adeus de maneira inapelável, deixando claro que estava magoada e que não queria mais vê-lo, Benedito lutava diariamente contra o ímpeto de lhe mandar uma mensagem, de telefonar, ou fazer qualquer contato.
Esse era um desses dias. Benedito caminhava ouvindo música pela rua, quando a figura volumosa de uma mulher grande e robusta assomou junto dele.
Benedito olhou de relance, e seguiu caminhando, mas a mulher falou com uma voz grave carregada de uma nota de reprimenda:
-Bêne?
Benedito virou a cabeça tirando os fones de ouvido e surpreendeu-se a se deparar com a dona Maria Coralina.
Maria Coralina era a tia de um amigo de infância de Benedito, o Jorge, que passava mais tempo na casa da tia do que na sua própria. Quando era guri, ali pelos seus treze, quatorze anos, Benedito e seus amigos iam à casa de dona Coralina, chamada carinhosamente de tia Cora pelos moleques para cortar os cabelos.
Jorge tinha uma máquina, e por cinquenta centavos raspava os cabelos de alguém. O sucesso era garantido, já que o preço de Jorge garantia que os cinco ou dez reais que os piás ganhavam pra cortar o cabelo rendessem frutos muito mais saborosos com a economia.
Benedito tinha lembranças bastante claras de ir à casa da tia Cora pra cortar o cabelo junto com outros dois ou três amigos, e, enquanto esperava na sala forrada de jornal velho pela sua vez, comer bolo de laranja e beber coca-cola servidos com um sorriso pela tia Cora, provavelmente a única pessoa da rua que não se importava de receber uma turba de pré-adolescentes barulhentos dentro de sua casa por mais de dez minutos.
Agora ali estava ela, aquela mulher grande e volumosa, com a pele muito alva e os cabelos muito loiros cortados em um chanel curto, trajando um vestido amarelo e com os óculos escuros na ponta do nariz.
-Querido! - Ela gritou enquanto abraçava com força o Benedito, que quase sentiu as costas estalarem ante a pressão, e sapecava-lhe um beijo estalado no rosto.
Tia Cora sempre abraçava assim, com força. Era bacana vê-la.
Mas havia algo de errado. O que era? Benedito não conseguia lembrar.
-O que tu anda fazendo? - Ela perguntou, enquanto limpava-lhe a mancha de batom da bochecha.
-O de sempre, tia... Trabalhando, estudando, tentando não ficar louco. E a senhora?
-Ah, cuidando das minhas coisas... - Ela respondeu agitando as mãos. Olhou bem pra ele, e seguiu: -Tu parece tristinho. O que houve? É guria, né?
Benedito riu. Era incrível como as pessoas que nos conhecem a muitos anos têm a capacidade de ler nossa fisionomia como se fosse uma capa de revista.
-É, tia Cora... É guria.
Benedito respondeu ainda pensando no que estava errado. Não ouvira falar que a tia Cora havia morrido? Uma vizinha havia falado isso um mês ou dois atrás. Benedito chegou a pensar em telefonar pro Jorge e dar seus pêsames, mas perdera contato com o amigo. Não tinha mais o número. Obviamente alguém havia se enganado. Ali estava ela, corada e lépida diante dele, conversando com o vozeirão grave como fizera sempre.
-E ela era especial, é? Essa guria? - Quis saber a tia Cora, sussurrando como se não quisesse ser ouvida.
-Ela é, tia. Muito especial. Era "a" guria. - Respondeu Benedito, sorrindo.
-Ah... Pois então... Não fica assim - Ela aconselhou. - O que tiver que ser, vai ser. Pode acreditar.
Abraçou ele novamente, de maneira terna, e passou com força as mãos nas suas costas.
-A tia vai lá. Manda um beijo pra tua mãe. - Despediu-se.
Benedito seguiu então seu caminho. Rumou ao trabalho, teve um dia cheio, trabalhou até sentir ardência nos olhos. No fim do dia, comeu um picolé de côco no caminho de volta pra casa, e, ao chegar, ouviu, ainda com a chave na porta, o telefone tocando.
Correu pra atender, era sua mãe. Conversaram brevemente amenidades, e, antes de se despedir, Benedito lembrou-se:
-Ah, mãe. Encontrei a tia Cora, hoje, ela te mandou um beijo.
A mãe de Benedito perguntou "que Cora?", e, ao ouvir a resposta, disse que o filho se enganara:
-Mas Benedito, meu filho, a Cora morreu.
-Como que morreu, mãe? Se eu encontrei ela, hoje? Quem disse que ela morreu se enganou.
-Não, Benedito. - Respondeu-lhe sua mãe. - Eu levei flores no túmulo da Cora em Finados, ano passado.
Benedito pensou em replicar, mas achou melhor não. Disse que devia ter se enganado, então. E que fora outra pessoa. Quando se despediu sua mãe chegou a dizer entre risos, "cuidado com os fantasmas.".
Benedito não achou graça. Demorou a dormir. Não que acreditasse em fantasmas. Não. Benedito não acreditava em nada. Mas pensou se tivera um sonho muito vívido ou se alucinara.
No dia seguinte, quando ia trabalhar, vinha atento pela rua. E ali, perto da pracinha entre a José do Patrocínio e a Demétrio, viu a tia Cora virar a esquina vindo da Borges em sua direção, já sorrindo. Ela acenou de passagem, sorrindo muito, e passou a mão em seu ombro enquanto lhe disse:
-Não fica com essa carinha comprida. Se ela e tu foram feitos um pro outro, vai dar certo no fim.
E seguiu andando.
Benedito parou e virou, acompanhando com o olhar os passos decididos da tia Cora em direção à José do Patrocício e sumindo na esquina com a Coronel Genuíno.
Benedito pensou muito naquele dia. Foi relapso no trabalho. Ficou com a tia Cora na cabeça. Estaria ficando louco? Alucinando? Repassou tudo o que fizera no dia anterior e não lembrava de ter ingerido nenhum psicotrópico de nenhuma espécie, embora lembrasse com bastante detalhes do seu dia.
No dia seguinte falou com um dos seus amigos e conseguiu o telefone de Jorge. Ligou e expressou suas condolências, sentiu, com isso, uma ponta de paz.
Entretanto, após cruzar com tia Cora na rua novamente, e ouvir dela que a noite sempre ficava mais escura antes de amanhecer, percebera que não fora o suficiente.
No final de semana, pensou em ir ao cemitério para conferir o túmulo da tia Cora, mas percebeu que, se desse início à esse tipo de obssessão sabia como acabaria: Preso tentando exumar o corpo sem autorização. Era uma pessoa lógica o Benedito. Não acreditava em nada que não pudesse ver, nem comprovar de maneira prática. Ás vezes nem acreditava em coisas que podiam ser comprovadas. Não sabia lidar com aquele estranho traço sobrenatural em seu dia a dia. Nem queria aprender.
Resolveu fazer um teste:
Na manhã seguinte Benedito fez um caminho diferente pra chegar ao trabalho. E não encontrou a assombração. Ficou aliviado. Trabalhou e voltou pra casa pelo caminho alternativo.
No outro dia, saiu de casa dez minutos mais cedo do que o de hábito e fez o caminho de sempre.
Novo sucesso. A aparição não deu nenhum sinal de (pós) vida.
Manteve a sua rotina assim por uma semana. Variava o caminho ou o horário de sair de casa. As coisas voltaram ao normal.
Benedito seguiu com sua rotina de auto-comiseração e saudade de Bruna. Voltou a flertar com a tristeza e o silêncio.
Foram dias sombrios aqueles de Benedito. Seis, ao todo.
No sétimo dia, Benedito saiu de casa no horário de sempre, e fez o caminho de sempre.
Ali, próximo à praça do SENAC cruzou com a tia Dora. Lépida e faceira. Ao passar por ela, parou com um sorriso e tirou o fone de ouvido pra receber o abraço apertado dela. Ela o soltou e cutucou-lhe amigavelmente com o cotovelo perguntando:
-E a tua guria?
-Nada, ainda, tia Cora. - Respondeu Benedito, dando de ombros.
-Mas vai vir. Se for pra ser, vai vir. - Ela disse o encorajando. E seguiu andando.
Ele, ainda sorrindo, ficou olhando enquanto ela andava antes de sumir na esquina com a Coronel Genuíno. Decidira que estava disposto a acreditar em algo inexplicável de quando em quando. Talvez, racionalizou Benedito, aceitar um pequeno traço de paranormalidade em sua vida o ajudasse a acreditar que a Bruna tinha chance de ser feliz com ele.
Colocou o fone de volta a tempo de ouvir as notas finais de In My Life:
-In My Life... I Love You More.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Top 10 Cinema: Uniformes (E caracterizações) de Personagens de Quadrinhos 2

Algum tempo atrás elenquei os meus uniformes favoritos de heroínas e vilãs dos quadrinhos traduzidos ao cinema e à TV. Aceitando a sugestão (Ou raivosa recriminação) de uma leitora do blog, resolvi fazer mais um dos infames Top-10 Casa do Capita, com os melhores trajes masculinos de heróis dos gibis traduzidos para cinema e TV.
Já peço desculpas por (obviamente) não fazer essa lista com a mesma empolgação que tive ao conceber a sua co-irmã (Sorry, Didi.). Bora lá:


10 - Rorschach (Watchmen, 2009)
O herói de moral ilibada e estabilidade mental discutível de Watchmen ganhou a carranca e a voz rascante do talentoso Jackie Earle Haley no filme de Zack Snyder. Entretanto, em filmes baseados em quadrinhos mais do que em qualquer outro tipo, o hábito tem grande peso sobre o monge. O figurino de Rorschach, composto de um surrado sobretudo e um chapéu sobre a máscara com as manchas dançantes foi o mais fiel à sua contraparte em quadrinhos no longa metragem, e ajudou Haley e seu Walter Kovaks a se tornar o dono de Watchmen.


9 - Eric Draven (O Corvo, 1994)
O roqueiro que voltava da morte com a ajuda d'O Corvo na elegante e sombria adaptação de Alex Proyas à história em quadrinhos de James O'barr usava um traje ligeiramente diferente do gibi. As diferenças porém, apenas acrescentaram na caracterização de Brandon Lee no último papel de sua vida. A roupa negra e o sobretudo de couro com a maquiagem branca e preta fizeram de Lee a aparição que assombrou os executores de sua amada numa das melhores adaptações de gibis que o cinema conheceu.


8 - Hellboy (Hellboy, 2004)
O demônio Anung Un-Rama invocado pelos nazistas durante um ritual e criado com afeto pelo professor Bruttenholm para se tornar um herói foi vivido com mérito por Ron Pearlman no cinema. Em grande parte graças à maquiagem criada pelo papa Rick Baker que transformou o ator feioso na versão em carne e osso da criação de Mike Mignola, e que se fundiu ao traje com o casaco estilo militar e as calças de couro gerando a ótima tradução ao celulóide do herói demoníaco das HQs.


7 - Senhor Fantástico e Tocha Humana (Quarteto Fantástico, 2005)
Reed Richards e Johnny Storm usaram trajes simples, estilosos e bem fiéis aos originais no filme de Tim Story. O colante peça única sobre os músculos falsos davam um visual com a maior cara de herói de gibi aos atores Ioan Gruffud e Chris Evans, e embora eles não recheassem suas fantasias com a mesma graça de Jessica Alba(por razões óbvias), o resultado final era bem bacana.


6 - Lanterna Verde (Lanterna Verde, 2011)
Se existia alguma boa ideia em Lanterna Verde há boas chances de ter sido o uniforme gerado digitalmente. Nos quadrinhos o traje dos Lanternas é uma manifestação do poder do anel, nada mais justo do que criá-lo da mesma forma que as outras projeções da criação dos Guardiões de Oa. Na tela o uniforme ficou orgânico e vivo, com um visual de fibra muscular entrecortado pelo brilho do anel, muito maneiro, pena que esqueceram de escrever um bom roteiro pro filme.


5 - Capitão América (Capitão América - O Primeiro Vingador, 2011)
Mais tenebroso do que a escolha de Chris Evans para o papel do herói bandeiroso só a paleta de cores em seu uniforme nas primeiras fotos do longa que chegaram à internet. Foi apenas uma impressão equivocada, claro. Tanto Evans fez um bom trabalho na pele de Steve Rogers quanto após o tapa esperto do cinematógrafo Shelly Johnson, as cores do traje ficaram bem bonitas, e o uniforme em si, muito bacana. Dando função à coisas como as listras vermelhas no abdôme, e emprestando um visual de capacete da segunda guerra à máscara o traje conseguiu ser totalmente diferente do original, mas fiel o bastante.


4 - Demolidor (Demolidor, 2003)
O bom filme do herói cego de Hell's Kitchen pode ter sofrido na mão da tesoura da Fox, mas o traje de couro envergado por Ben Affleck no filme de Mark Steven Johnson era uma leitura bem interessante do uniforme do herói dos quadrinhos.
A fantasia de couro vermelha podia suscitar dúvidas sobre como o dêmonio da guarda podia realizar suas acrobacias usando calças tão apertadas. Ainda assim, o traje evocava o original dos gibis com competência e estilo.


3 - Homem de Ferro (Homem de Ferro, 2008)
Mark Millar e Bryan Hitch disseram que o capacete do Homem de Ferro dos gibis sempre pareceu estranho porque, para usá-lo, Tony Stark teria que "ter a cabeça do tamanho de uma laranja e sem nariz". Pelo menos foi a desculpa que deram para o visual do ferroso na versão Ultimate dos Vingadores que criaram.
Bem, Stan Winston provou que eles estavam errados. A armadura que sua empresa criou para Tony Stark no longa de 2008 é perfeita e extremamente fiel às versões mais atuais dos quadrinhos, e Downey Jr. tem a cabeça maior que uma laranja e tem nariz.


2 - Homem-Aranha (Homem-Aranha 2, 2004)
O uniforme do primeiro longa de Sam Raimi, de 2002, já era extremamente fiel, mas o traje criado pelo figurinista James Acheson para cortar despesas (Ele admitiu em entrevistas que gostava mais do traje do primeiro longa, que considerava mais bonito.) era ainda melhor.
Um capacete articulado sob a máscara permitia que víssemos o maxilar de Tobey Maguire e seus dublês se moverem quando o herói falava, os olhos tinham um formato e tamanho melhores, e as teias em alto-relevo eram mais finas, dando ao traje um visual mais ágil e leve. As variações são praticamente imperceptíveis à primeira vista, mas estão lá. O que o segundo longa é superior ao primeiro, o segundo uniforme repete com relação ao antecessor.


1 - Superman (Superman, 1978)
Confesso que estava na dúvida com relação a qual traje ficaria em qual posto. Cheguei a cogitar a fantasia de Tobey Maguire em Homem-Aranha 2 na primeira posição, até porque não tenho certeza se outro ator dentro da meia-calça azul piscina envergada por Christopher Reeve no filme de 78 teria o mesmo efeito. Mas pesou o meu embasbacamento infantil com o filme de Richard Donner.
O uniforme, extremamente simples, convenceu todo mundo de que Reeve era o Superman. Fosse pela presença do ator, fosse por não ter viadagens nem invenções estéticas discutíveis, o traje era incrivelmente fiel, e ajudou Chris Reeve a mostrar que um homem podia voar.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Resenha Cinema: Sherlock Holmes - O Jogo de Sombras


Em nove de janeiro de 2010 eu fiz minha resenha do primeiro Sherlock Holmes, filme dirigido por Guy Ritchie e estrelado por Robert Downey Jr. e Jude Law. Assistira ao filme na estréia, fã que sou de Downey e de Ritchie, e não me arrependi.
Como sempre faço com produtos de entretenimento que me agradam, encerrei a resenha com um "Que venha Sherlock 2, e o professor Moriarty.".
E foi no sábado, pouco mais de dois anos depois que fui novamente ao cinema, casualmente ao mesmo cinema, no Shopping Praia de Belas, para assistir à essa segunda incursão do maior detetive da literatura na roupagem mais cool que o cinema já lhe deu.
O professor James Moriarty (Jared Harris, ótimo) finalmente está na mira de Holmes (Downey Jr.). Conforme a tensão cresce entre os países da Europa com uma série de atentados ao redor do velho continente, Holmes vai descobrindo como o respeitado intelectual britânico se encaixa na intrincada teia de interesses que pode causar o colapso da civilização ocidental. Para isso, o detetive precisará da ajuda de seu fiel companheiro, doutor Watson (Law), ás vésperas do seu casamento, bem como entender o envolvimento da cigana Simza (Noomi Rapace) na trama que pode dar incício à uma guerra de proporções globais.
Sherlock Holmes - O Jogo de Sombras aumenta o escopo do filme original sem se perder na pirotecnia, é melhor e mais centrado na investigação e na trama do que o (divertidíssimo) predecessor. Além disso, há as adições ao elenco, Noomi Rapace, que é uma atriz interessantíssima não tem muito com o que trabalhar, sua cigana Simza não tem o carisma da Irene Adler de Rachel McAdams, mas ela não faz feio. Tem mais sorte Stephen Fry e seu Mycroft Holmes, irmão mais velho de "Sherlie", e tão brilhante e excêntrico quanto o caçula. Além, óbviamente de Jared Harris, que interpreta um Moriarty sinistro, extremamente calculista e cínico, um antagonista à altura de Holmes.
A mistura de mistério, humor e ação do longa continua tão empolgante quanto era dois anos atrás, a música de Hans Zimmer idem, e a reconstituição histórica, desta vez não restrita à Londres também é refrescante, o ponto alto do filme, porém, segue sendo a incrível química desenvolvida por Downey Jr. e Jude Law, toda a vez que os dois discutem a "relação" você sabe que dará boas risadas, e quando eles caem na porrada é difícil não ficar na ponta da cadeira em sequências excelentes como o atentado ao trem, a invasão à fábrica de armas na Alemanha e uma fuga subsequente pela floresta em uma lindíssima sequência em câmera ultra lenta.
Em suma?
Elementar, meu caro leitor: Sherlock Holmes - O Jogo de Sombras é uma ótima evolução da franquia cinematográfica do detetive mais célebre da literatura, um filme ágil, divertido, com bom elenco e direção competente. E... Bom, que venha Sherlock 3.

"-Como você sabia que eu o encontraria?
-Você não me encontrou, você derrubou um prédio em mim."

sábado, 14 de janeiro de 2012

Top 10 Casa do Capita: Os Melhores Games de Todos os Tempos


Foi com algum alívio que eu li nesta semana a notícia de que o Playstation 3 ainda vai ser o carro chefe da Sony por mais alguns anos (Até 2016, segundo Kaz Hiray, chefe de tecnologia da empresa).
Gastei dinheiro que eu não tinha pra comprar o meu primeiro console HD da Sony anos atrás, e ficaria triste de saber que ele se tornaria obsoleto já na próxima E-3. Imbuído desse sentimento eu formulei a lista com meus dez games favoritos da plataforma. Algumas injustiças foram cometidas, eu sei, então, vamos remediar isso, e com mais um dos infâmes Top 10 Casa do Capita, não apenas de Playstation 3, mas de todas as plataformas, elencar os dez melhores, e mais importantes games, não só de PS3, mas de todas as plataformas.

10 - Red Dead Redemption

Fiquei em dúvida se devia ou não colocar um game tão recente e sem grandes inovações na minha lista. Entretanto, a qualidade da narrativa de Red Dead Redemption e o carisma do fora-da-lei reformado John Marston me obrigaram a apostar no espetacular game de 2010.
Muito mais do que apenas um GTA do Velho Oeste, Red Dead Redemption é uma declaração de amor a um breve período histórico que se recusa a sair do imaginário coletivo.
Não há como não se apaixonar pelo game, sua história e seus personagens, tampouco como evitar em diversos momentos, a vontade de apenas cavalgar pelos territórios de fronteiras selvagens apinhados de feras e bandoleiros.
Com uma jogabilidade esperta, trilha sonora invocada e gráficos de derrubar queixo, Red Dead Redemption faz por merecer seu lugar ao sol.

9- Resident Evil 4

Tanta gente vai chiar com essa escolha. Mas é a mais pura verdade. Resident Evil foi o grande sucesso comercial em termos de survival horror, me lembro do pânico da gurizada jogando o game de Playstation em meados de 96. O sucesso foi tamanho que em 98 saiu a sequência Resident Evil 2, que aumentava o escopo do game original, limitado à uma mansão, e o levava à uma cidade inteira. Outras sequências seriam lançadas anualmente até 2004 sem grandes inovações. Foi em 2005 que saiu Resident Evil 4, o game que os puristas amam odiar.
A ambientação saía de Racoon City e rumava à Europa, onde Leon Scott Keneddy, o personagem principal do segundo game estava, á serviço do governo dos EUA procurando pela filha do presidente, Ashley, sequestrada por uma seita dominada por uma sinistra forma de vida.
A tensão do survival horror ainda estava lá, mas ganhava mais ação do que em qualquer capítulo da série num festival de clichês cinematográficos que nós adoramos controlar.

8- Street Fighter II

Aquele que nunca foi brincar de luta no pátio do colégio durante o ensino fundamental e gritou "Eu sou o Blanka!", que atire a primeira pedra.
Street Fighter II, lançado em 1991 era sequência de um game que quase ninguém jogou, e revolucionou os games de luta trazendo cenários personalizados ao redor do mundo com música própria à cultura de cada ambiente retratado na tela. Foi o primeiro game com o sistema de combos que anos depois chegaria aos desnecessários trocentos mil hits, e certamente o game de luta mais clonado da história dos video games. Street Figter II deu tão certo, que apenas em 2008 lançaram Street Fighter IV, o primeiro game da série com modificações práticas na (excelente) jogabilidade original, e ainda assim, as mudanças são apenas na renderização dos personagens, que sai do 2-D com pinta de recorte de papel, e passa um 3-D caprichado com belos efeitos de pintura oriental.
Mesmo com poucas alterações, Street Fighter mantém a saúde como maior franquia da Capcom, e segue sendo um viciante best seller.

7- Tetris

Como assim, Tetris? É, isso mesmo. Tetris. O game de blocos encaixáveis que até camelô vendia anos atrás e que veio "da Rússia com amor" é provavelmente o jogo eletrônico mais viciante já criado em todos os tempos. Não há como explicar a tensão enquanto você vê os blocos caindo, nem a satisfação quando as linhas completas se desitegram ou a frustração quando os blocos chegam ao topo da tela. É tão viciante, que em mais de uma ocasião eu, jogando GTA IV, parava em um dos fliperamas virtuais do jogo e passava horas jogando a versão de Teris existente em Liberty City, a QUB³D.

6- Super Mario 64

Os games de Plataforma da série Super Mario World eram divertidíssimos, Super Mario Kart, idem. Agora, maneiro, mesmo, foi ver o encanador apaixonado pela princesa Peach falando pelos cotovelos, rindo e gritando enquanto corria por plataformas multicoloridas em três dimensões e realizando malabarismos improváveis por ambientes tão variados quanto montanhas nevadas, planícies desérticas e castelos assombrados.
Super Mario 64 subverteu todas as regras conhecidas da franquia, até então jogos de plataforma em 2-D, e ainda assim se manteve fiel à essência dos games anteriores com cenários fantásticos que pareciam sempre ter uma nova surpresa para oferecer, estabelecendo diversos novos parâmetros para games futuros, como, por exemplo, a utilização de uma câmera livre.
Nada mal para um encanador italiano que gosta de estrelinhas e princesas...

5- Super Metroid

Joana Dark e Lara Croft que vão se lascar. Samus Aran é a mulher mais casca grossa da história dos games. Era na pele macia da heroína (devidamente protegida pela sua armadura) que os gamers do mundo partiam atrás dos piratas espaciais para recuperar a larva Metroid roubada dos laboratórios Ceres.
Andando por ambientes sombrios que evocavam Alien - O Oitavo Passageiro, enfrentando vilões extremamente cruéis e melhorando o seu equipamento de acordo com a sua perícia ao completar as missões ao som de uma ótima trilha sonora Super Metroid é um clássico de alta dificuldade que mostrou quão tensos podiam ser games de 16 bits e fez a alegria de toda uma geração no distante ano de 1994...

4- Goldeneye 007

Em 1997 sete em dez jogadores de video game estavam viciados em um título de Nintendo 64, mesmo aqueles que já haviam migrado para a Sony e seu Playstation.
O jogo era Goldeneye - 007, adaptação gamística do filme de mesmo nome que lançou Pierce Brosnan como o espião em 1995.
Olhando em perspectiva Goldeneye têm diversas restrições técnicas, especialmente se for comparado aos games de tiro de hoje, como Call of Duty, entretanto dezessete anos atrás o game foi uma revolução espetacular. Se o divertidíssimo modo history que seguia a trama do filme era viciante, o que dizer então do multiplayer cheio de boas sacadas e inovações que ainda hoje ecoam na indústria? Quem não sentiu o prazer de empunhar duas DD-44 Dostovey e fugir dos arquivos de Moscou não sabe, de verdade, o que é se divertir.
Talvez o maior clássico entre os games de tiro em primeira pessoa.

3- Chrono Trigger

Eu nunca fui fã de RPGs eletrônicos, mas o game da Square era espetacular demais pra passar batido. Repleto de inovações com relação aos outros RPGs da época, em uma trama dramática cheia de referências à mitologias variadas, bons gráficos, sistema de combate esperto e trilha sonora espetacular, Chrono Trigger nos desafiava a juntar um pequeno exército e terminar a aventura de Chrono, Lucca e Marle para impedir que Lavos destrua o planeta, e depois continuar jogando até experimentar os dezoito (!) finais que o game oferecia. Tudo isso criado por um dream team que contava com nomes do calibre de Akira Toriyama, criador de Dragon Ball e Hironobu Sakaguchi, da série Final Fantasy e embalado pelo que talvez tenha sido a melhor trilha sonora de um game da era 16 bits.

2- Grand Theft Auto IV

Muita gente prefere San Andreas, o capítulo anterior da franquia de roubo de carros, mas se o segundo e terceiro games foram maneiraços, foi na quarta incursão da série aos games que a excelência narrativa foi alcançada.
É quando conhecemos Niko Bellic, imigrante Sérvio recém chegado a Liberty City (Uma Nova York turbinada) e sua luta para sobreviver em meio às pataquadas do primo viciado em apostas, o assédio de policiais corruptos, gângsters cruéis e agências governamentais obscuras.
Além do cenário inacreditável, com uma cidade imensa composta por três ilhas que podiam ser exploradas sem telas de carregamento nem perda de detalhamento entre uma e outra, havia uma história digna de Martin Scorsese, e um protagonista tão carismático que dá até ums ponta de tristeza saber que não voltaremos a vê-lo nos games futuros.

1- The Legend Of Zelda: Ocarina Of Time

Não há como escapar. Se A Link To The Past, o game de Super NES era excelente, foi apenas em 1998 que nós pudemos, de fato, ver até onde ia Hyrule. O Link de Ocarina Of Time flutua entre a infância e a idade adulta, vai e volta no tempo e mostra que mesmo heróis de poucas palavras podem demonstrar um espectro de emoções sensacional.
Na pele do elfo nós enfrentamos monstros imensos, combinamos equipamento e armamento variado, viajamos por cenários tão variados quanto os povos que vivem em Hyrule, derrubamos governos tirânicos e restauramos povoados arruinados, e ainda podemos nos dar ao luxo de, volta e meia, tocar uma musiquinha na nossa ocarina. O vilão Ganondorf Dragmire é sinistro, o cenário é monstruosamente grande, a trama começa sensacional e avança até espetacularmente épica.
Em Zelda : Ocarina Of Time, tudo funciona à perfeição, e o resultado é um game perfeito que te faz manter o Nintendo 64 à mão, pois a gente sempre pode sentir vontade de jogar mais uma vez e mostrar aos fãs de God of War que Link limpa o chão com Kratos a qualquer hora.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Top 10 Game: Games de PS3


Como o Playstation 3 ainda tem uns bons três anos de vida útil, bora fazer uma listinha do que saiu de melhor e mais divertido pro console da Sony!
Sim, este é mais um dos infâmes Top 10 Casa do Capita dedicado aos jogos mais maneiros do PS3, a ele, pois.
Ah, os critérios de escolha são os mais simples possíveis: Tem que ser bonito e divertido, igual mulher que a gente se apaixona.

10 - FIFA 12

Eu poderia colocar aqui qualquer uma das versões do futebol virtual da EA se nenhuma injustiça, coloquei a edição 12 apenas por ser a mais recente do viciante game, já que a franquia se aprimora a cada ano, sempre agregando inovações que tornam FIFA o simulador de futebol definitivo.
Quem assiste futebol, joga PES, quem ama futebol, joga FIFA...

9 - Star Wars - The Force Unleashed

Eu sei, tecnicamente nem é um jogo tão memorável, mas eu sou fã de Star Wars daqueles que ainda ficam perplexos quando Vader diz que é pai do Luke, então tenham paciência e entendam meu carinho por The Force Unleashed que tirou daqui o espetacular Red Dead Redemption (Que será devidamente homenageado em outro top-10).
Como nerd fã da saga de George Lucas é impossível não se sentir como um piá de Kichute novo ao controlar os poderes da Força e trilhar o caminho oposto ao de Darth Vader em busca de redenção na pele de Galen Marek, o Starkiller, enquanto brande com fúria um sabre de luz.

8 - Assassin's Creed Brotherhood

Se o primeiro jogo da série era um sandbox bem competente com uma história interessante mas que pecava pela repetição, o segundo game já tinha superado esses problemas ao oferecer um gameplay mais arejado no tocante ao avanço da trama, foi, porém, no terceiro capítulo que o pessoal da Ubisoft encontrou a excelência da série, combinando o que havia de melhor nos dois capítulos anteriores e construindo uma trama imersiva e divertidíssima com espaço para ação, aventura, quebra-cabeças e teorias conspiratórias.

7 - Uncharted - Drake's Fortune

Todo mundo sabe que o segundo capítulo, Among Thieves e o terceiro, Drake's Deception são melhores, mas foi nesse primeiro game que a Naughty Dog nos apresentou Nathan Drake, o Indiana Jones de que os games precisavam. O caçador de tesouros canastrão é um personagem carismático em uma aventura com cara de matiné das mais maneiras que permite ao player transitar por museus sombrios, templos abandonados e florestas tropicais enquanto distribui murros poderosos e tiros certeiros e arrasa corações.

6 - Dead Space

Se Assassin's Creed deu aquela refrescada nos games em estilo sandbox Dead Space deu uma arejada no estilo survival horror. Paradoxalmente fez isso ao enfiar o gamer em uma claustrofóbica trama onde o engenheiro Isaac Clarke preso na Ishimura, uma imensa nave de mineração em meio à uma medonha infecção alienígena que a infesta com cadáveres deformados animados apenas pelo desejo de aumentar a infecção.
Armado com os cortadores de plasma e outras ferramentas de mineração Isaac tem que colocar a Ishimura em movimento de novo para poder voltar pra casa.

5 - Call of Duty - Modern Warfare 2

Call of Duty 4, o primeiro Modern warfare foi um jogaço com uma trama maneiraça e um gameplay simples e fácil de jogar, era viciante e divertido. O segundo game, porém, foi o que mostrou do que era capaz o Playstation 3 em termos gráficos.
Inexplicável, de cair o queixo, e deslumbrantes são alguns dos adjetivos que cabem para descrever os cenários onde se desenrola a história e a forma como eles são alterados conforme se desenrola a invasão massiva da Rússia contra os EUA.
Jogaço de tiro em primeira pessoa com "J" maiúsculo.

4 - The Elder Scrolls V - Skyrim

Um mundo onde o jogador pode ir onde quiser, ser o que tiver vontade, fazer o que quer que lhe passe pela cabeça na hora em que decidir. Tudo isso com gráficos de altíssima geração, um sistema de jogo simples e sem frescura, com um cenário abissal repleto de ameaças em cada curva das estradas de chão batido, onde um escudo melhor e uma espada mágica podem ser a diferença entre ser um herói triunfante e o almoço de uma fera bizarra.

3 - Batman Arkham City

Se Batman Arkham Asylum era um jogaço de fazer a alegria de qualquer nerd que se preze, não era um game perfeito. Apesar da ótima trama dos gráficos sensacionais e do gameplay simples que deixava qualquer guri de apartamento se sentindo o cavaleiro das trevas em pessoa, Arkham Asylum era curto. Curto demais pra um game que oferecia tanto em termos de qualidade. Esse erro foi remediado na sequência, Arkham City, que ampliou o game original em todos os aspectos e mostoru, mais uma vez, qual é a criatura mais perigosa de Gotham City.

2 - Heavy Rain

O "filme interativo" da Quantic Dream me fisgou na primeira jogada. O game que investia muito mais em drama e investigação do que na ação e na aventura mostrou o quanto os estúdios são tacanhos na hora de aproveitar o potencial gráfico dos games da novíssima geração. Heavy Rain, com seus quatro protagonistas repletos de expressão e emoção interpretados de fato por atores de verdade e desenrolar onde não existe game over serviu pra abrir portas à uma nova forma de encarar video games, e mostrar que, com um pouco de interesse e coragem, podia-se escapar de fórmulas batidas e esgotadas de esmagar botões, gritar, babar, bater no peito e gritar que é muito macho.

1 - GTA IV

O imigrante leste-europeu que chega á América e escala a pirâmide do crime do completo obscurantismo até os mais altos escalões da máfia e do governo dos EUA apresentou um dos maiores e mais detalhados mundos digitais de que se tem notícia. A Liberty City de Grand Theft Auto IV é imensa, detalhada, orgânica. Do bairro repleto de imigrantes em Broker até as mansões de Alderney passando pelos arranha-céus de Algonquin todas as ilhas estão disponíveis ao mesmo tempo. Os personagens coadjuvantes memoráveis e os trabalhos sujos em que o player se envolve pela metrópole áfora sempre surpreendem e rendem mais uma risada ou mais um momento de admiração com a riqueza da trama. Tudo isso pra mostrar quem é Niko Bellic, e porque ele está nos EUA.
Clássico absoluto.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Pela Janela


Não foi, definitivamente, de propósito que o Aurélio se apaixonou pela Renata.
Na verdade, analisando friamente, como o Aurélio fazia costumeiramente, a Renata seria a última pessoa por quem ele se apaixonaria. Não que a Renata fosse feia. Não, não era o caso. A Renata era muito bonita. Uma graça de guria. Tinha um rosto lindo, uma pele macia e lisinha, cabelos cheirosos, pernas de enlouquecer... Era uma beleza de menina.
Não era, também, que a Renata não fosse legal. A Renata era. A Renata era muito legal. Um doce de guria. Divertida, esperta, engraçada, sem frescuras... Tudo de melhor.
Então, era perfeitamente possível que uma pessoa normal se apaixonasse pela Renata. A questão aqui, é justamente que o Aurélio não era uma pessoa normal.
Quer ver um exemplo clássico?
Quando era criança, enquanto os amigos do Aurélio queriam ser pilotos de corrida, policiais, bombeiros ou jogadores de futebol, o Aurélio queria ser beduíno.
É... Beduíno.
O Aurélio, quando criança, queria ser um membro desse povo nômade originário da península arábica, que vive no deserto e que viaja em caravanas vivendo do comércio de mercadorias variadas com as populações sedentárias das regiões onde vivem.
O Aurélio chegava a se imaginar vestido de preto, de turbante, no meio do deserto montado em um camelo. Achava o máximo o visual beduíno, meio mendigo, meio jedi.
Isso provavelmente já mostra o tipo de pessoa que o Aurélio era.
A Renata era normal... Bom, era bastante normal. Ela tinha algumas idiossicrasias e estranhezas, entretanto, as dela não a tornavam menos encantadora, na verdade a tornavam mais encantadora, mais perfeita e delicada.
E essa pessoa encantadora que era a Renata, talvez por algum mecanismo psíquico de cuidar de gente ferida, doente ou triste, encontrou em seu coração espaço pra receber o Aurélio.
Não foi fácil. Renata era cautelosa, Aurélio era paranóico. Mas aconteceu. Ela o encontrou, e ele a deixou entrar, ao menos um pouco.
E foi bom pro Aurélio.
A Renata iluminou sua vida como aquele sol de julho, que entra pela janela e faz o cachorro correr pra deitar ali e se aquecer. Ela fez o Aurélio experimentar emoções e sentimentos que ele ignorava até então. Fez ele ansiar por toques, carícias e palavras que ele desconhecia. O fez valorizar gestos que ele consideraria insignificantes antes de conhecê-la.
Todavia, por melhor que fosse Renata. Por mais dedicada, por mais tenaz, Aurélio ainda era... Bom, o Aurélio.
Naturalmente solitário, misantrópico, niilista, pessimista, quebrado além do reparo ou conserto e programado para ver o pior de tudo em todas as situações.
Aurélio percebeu que não fazia bem à Renata, que o convívio com ele não oferecia a ela nenhum benefício.
Aurélio tinha todos os defeitos do mundo, mas não era ingênuo nem egoísta.
Ao perceber pra onde ia o caminho que trilhava, resolveu salvaguardar a pessoa com quem mais se importara na vida. Bastava se afastar. Fazer silêncio. E esperar que ela voltasse a sorrir longe dele, onde seu sorriso jamais seria ameaçado.
Ia doer, claro. Muito. Mas Aurélio sabia como proceder quando lhe faltava o ar de tanto sofrimento.
Ele fazia algo banal. Oferecia um sentimento de normalidade à sua rotina. Via um filme, lia um livro, acompanhava as aventuras de Austin Stevens e O Universo no Nat Geo...
Doía... Mas de alguma forma, parecia ser o certo a se fazer. Isso, e torcer pra que ela fosse feliz o suficiente pra sorrir tantos e tão grandes sorrisos que, de vez em quando, iluminassem seu dia através da janela, pra que ele encontrasse a calidez que vinha dela, e se aninhasse ali por breves intervalos de paz.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Adeus de leopardo


Foi na cidade indiana de Guwahati, uma das poucas da índia totalmente cercada por florestas, que um leopardo adulto, faminto e assustado, ao adentrar uma casa deparou-se com um morador, provavelmente também assustado, que de forma incauta atacou o felino com uma barra de ferro.
No que se louve a coragem de um homem dentro de sua casa de tentar defender sua família ou sua propriedade contra uma fera de, digamos oitenta quilos, cheia de presas e garras, há que se também levar em conta a imbecilidade de um incauto que supõe que será capaz de afugentar uma fera selvagem com um pedaço de ferro...
Esse, aliás, é um dos males da humanidade. O Homem supõe que seu controle sobre a terra garantirá à espécie humana controle sobre a fauna, a flora e os elementos.
Bom, embora nós tenhamos o poder de destruir o mundo, diversas vezes se houver vontade, não o faremos sem que hajam consequências. Aí estão os tornados, furacões, terremotos e tsunamis pra mostrar. Mas não é o ponto, aqui...
O ponto é que, na vida, de modo geral, nós muitas vezes somos aquele hindu bigodudo com uma barra de ferro na frente de um leopardo. Nós nos imbuimos de uma coragem e de uma galhardia que não combinam com a situação em que nos encontramos.
Não medimos as consequências do que pretendemos fazer, apenas agimos, puro instinto, pura alma.
Paramos diante de alguém que parece perfeito e deixamos que ela saiba como nos sentimos. Deixamos que ela perceba que, a despeito de nossas fachadas, de nossos equívocos, nós queremos mais... Podemos mais.
Mas sabe como é a vida... Ali estamos nós, em um instante brandindo uma barra de ferro com decisão. E no seguinte, ouvindo um adeus definitivo que nos arranca o escalpo.

A propósito, o Leopardo passa bem.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Resenha Cinema: Imortais


Sabe quando tu vai ao cinema ver um filme que tu tem diversas razões pra achar que não vai ser o bicho, e então reduz propositadamente as expectativas de modo a não se desapontar demais? Tu já deve ter feito isso, eu geralmente gosto das animações que me arrisco a assistir por que minhas expectativas são muito baixas com relação ao formato. Adorei filmes medianos por estar com expectativas baixíssimas com relação a eles.
Ontem, entretanto, encontrei um filme que se mostrou imune a esse expediente:
Imortais.
Na trama o maléfico rei Hipérion (Mickey Rourke) planeja levar sua vingança contra os deuses do Olimpo que ignoraram suas preces e permitiram que sua família perecesse. Para isso, Hipérion irá libertar os titãs, aprisionados pelos deuses no monte Tártaro, o que requer o arco de Epiros, cujo paradeiro é conhecido pela oráculo virgem Phaedra (Freida Pinto).
Os deuses do Olimpo liderados por Zeus (Luke Evans), porém, não estão cegos a tudo isso, e escolheram um campeão para se opôr a Hipérion: Teseu (O novo Superman, Henry Cavill), camponês concebido após sua mãe ser vítima de estupro, e considerado um bastardo indesejado, foi treinado desde cedo na arte do combate por um misterioso velho (John Hurt).
Após o ataque de Hipérion à sua aldeia (Uma favela grega?), o herói relutante Teseu precisa encontrar o arco de Epiros e fazer frente ao vilão, impedindo-o de liberar a fúria dos Titãs sobre o Olimpo e a humanidade.
A aventura épico-grega do indiano Tarsem Singh está obviamente amarrada a 300. Desde a paleta de cores usada na produção, tingindo até o céu de um dourado escuro, passando pelos cenários criados com tecnologia de previsão do tempo do Jornal Nacional, e a utilização de planos sequência nos combates em slow motion, o visual do filme tem muito do longa de Zack Snyder que barateou os custos de realização de um épico. Ao mesmo tempo, Singh, que tem no currículo filmes de grande impacto visual como A Cela e The Fall, imprime sua visão (carnavalesca) do panteão grego ao longa. Zeus, Posseidon, Ares e companhia parecem destaques de carro alegórico na Sapucaí, ou strippers de uma boate gay bem afetada. Apesar disso, o filme falha em gerar impacto visual. Os delírios de Joãozinho Trinta de Singh se perdem no eco da reciclagem de situações e cenários. Lá estão a planície árida, os exércitos inimigos se chocando, o discurso motivacional pré-batalha... Tudo muito genérico, vazio.
Se o roteiro não ajuda, e a direção de Singh só adiciona delírios visuais, o elenco também não chega a se sobressair.
Henry Cavill é um herói sem carisma, tem cara de bom-moço, abdôme definido, grita e se descabela, mas não adianta. Na hora em que o pau canta ele não convence. Rourke faz pose e cara de mau, até tem bons momentos, mas está irregular. Freida Pinto mostra a carinha bonita (e a bundinha, também), mas oferece pouco em termos dramáticos, o que, aliás, vale pra todos os deuses gregos, Luke Evans (Zeus) Daniel Sharman (Ares), Kellan Lutz (Posseidon), Steve Baiers (Heracles)e Isabel Lucas(Uma Atena delicinha)são uma moçada bonita e sarada que devia estar em pôsteres de pratique esportes e não tendo falas em um filme.
De bom no elenco ficam o sempre competente John Hurt e Stephen Dorff, que não tem muito o que fazer, mas até se salva na pele do ladrão Stavros.
No final das contas Imortais é um filme vazio, chato, e que, mesmo tendo mais forma do que conteúdo, falha em ser um espetáculo visual.
Aparentemente não tem jeito, pra ver um grande épico de novo, só quando O Hobbit for lançado, em dezembro.

"A alma de todos os homens é imortal. Mas a alma dos homens corretos é imortal e divina."

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Resoluções?


Não fiz nenhuma resolução de ano novo. Não é o meu estilo. Ano passado acredito que tenha tentado, fiz uma ou duas. Mas não lembro quais foram, nem se as cumpri. Não importa.
As resoluções de ano novo são um mecanismo para nos dar a oportunidade de deixar pra trás o ano velho, e de abraçar o ano novo em toda a sua glória. Uma maneira de as pessoas varrerem a sujeira das bobagens que fizeram para baixo do tapete do tempo e abraçar a novidade. Arrancar a folha toda riscada do bloco do ano que passou e encarar com um sorriso no rosto, a folha branquinha do ano que se inicia.
Bazófia, claro.
Esse expediente rasteiro pode servir aos que guardam mágoa ou vergonha do que passaram. Aqueles que olham pra trás e não encontram nada de bom no ano que ficou pra trás...
Não é o meu caso. A despeito dos erros e bobagens que eu possa ter cometido no 2011 que se encerrou no sábado, ele tem ótimas memórias. Talvez algumas das melhores do todos os anos.
Não quero esquecer 2011. Não o quero debaixo do tapete.
Vou levar 2011 comigo pra sempre. Não importa o que eu faça ou onde eu vá.
Sou um sujeito difícil, de humores arredios, disposição severa e timidez quase patólogica, ser feliz, sorrir, sentir ansiedade para que algo ou alguém chegue não são facetas comuns a minha personalidade.
Em 2011 eu experimentei tudo isso.
Posso não ter aprendido a ser alegre. Posso não ter aprendido a ser tolerante. Posso não ter aprendido a ser uma pessoa melhor.
Mas aprendi como é bom saber que eu não estou sozinho mesmo à distância.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Melhor


Se encontraram ao acaso na rua após dez anos, e Lisa e o Reginaldo. Foi ela quem reparou nele, já que ele costumava andar olhando sempre pra frente, evitando as pessoas que atravessavam seu caminho, com seu passo largo e apressado. Ela, pequenina, estacou em sua frente e sorriu. Ah, Deus... Nem que não quisesse parar Reginaldo poderia ter prosseguido. O sorriso dela o deixou brevemente de pernas moles. Ele sorriu de volta, timidamente, meio sem graça. Ficou olhando pra ela. Deu-se conta de que já passara mais de meio minuto a encarando e balançou a cabeça como quem acorda:
-Oi, guria... Tudo bem? - Perguntou.
-Tudo, e contigo? - Ela respondeu, olhando pra ele. Estava mais magro. Parecia mais alto. Estaria mais alto? Só tinha um jeito de saber. Deu dois passos pra frente e o abraçou de maneira terna. Sua cabeça batia-lhe na altura do peito. Não. Ele não estava mais alto.
-O que anda fazendo aqui? - Ele perguntou enquanto a soltava afagando-lhe de leve nos ombros desnudos exceto pela alça da blusa vermelha que ela vestia.
Ela riu enquanto passava a mão nos cabelos macios e perfumados e olhou pra baixo um instante:
-Eu moro aqui, agora.
Ele colocou as mãos nos bolsos enquanto suspirava fazendo cara de surpresa:
-Uau... Tu mora aqui, então...
-Moro. -Ela respondeu. -Já tem alguns anos, na verdade.
-Que legal... E tá gostando? - Ele perguntou, tirando as mãos dos bolsos e cruzando os braços.
-Tô... Tô sim. Tô achando muito maneiro.
-Que ótimo... E tá trabalhando?
-Tô. Tô sim.
-Na tua área?
-É. Mas não te preocupa, não é na empresa da música do logotipo. - Ela sorriu.
-Quê? - Ele inquiriu cerrando o cenho.
-A empresa lá... Onde você me mandou não trabalhar por causa da música explicando o logotipo...
-Ah, a tá... - Ele riu da própria falta de memória. - Sim... Mas não era logotipo. Era logomarca. Eles explicavam a logomarca.
Ela não disse nada, apenas sorriu. Ele percebeu que estava balançando o corpo pra frente e pra trás feito um autista de filme em crise. Endireitou-se. Olhou pra ela e se desconcentrou, desmanchando o sorriso falso que construíra.
-E no mais... Tudo jóia? - Ele perguntou, imaginando porque o silêncio o estava deixando tão desconfortável.
Ela olhava pra ele, ainda sorrindo, mas suas sombrancelhas, arqueadas como as de Peter Pan, apontaram brevemente pra cima quando ela balbuciou que sim.
Ele teve ímpetos de apanhá-la pela mão e beijar seus braços e pescoço e lábios. De cheirar o perfume de seus cabelos e de seu colo, e de confessar o quanto lhe doera o silêncio da última década enquanto pedia perdão.
Não fez isso, no entanto. Com a voz embargada deu-lhe um abraço sintético, com tapinhas leves nas costas enquanto dizia como fora bom vê-la.
-Tchau. - Ela disse, acariciando-lhe o pescoço enquanto ele ajeitava a postura.
Saíram andando, cada um pro seu lado. Ele olhou pra trás, viu enquanto ela ia embora. Tão linda quanto dez anos antes.
Tentou se convencer de que ela estaria diferente, agora. De que todas as coisas que a faziam ser tão especial além da beleza e da delicadeza teriam se desfeito na esteira do tempo.
Não se convenceu.
Se ele ainda era, dez anos depois, um niilista misantrópico e solitário, ela ainda devia ser a quintessência do sonho de consumo nerd.
Desejou que ela estivesse bem e feliz. Desejou que ela estivesse trabalhando em um emprego onde pudesse ser a pesoa doce que sempre fora. Que tivesse uma vida cheia de alegria e realização. E até que namorasse o Ryan Gosling ou um dublê passável.
Ele, quebrado além de qualquer reparo que era, só podia desejar o melhor a alguém que o fazia querer ser melhor.