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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Rapidinhas do Capita



Ontem, após o gre-Nal 392 ficou claro que, pro GFPA os gandulas já eram adversários temíveis, o que se dizer então do Internacional, mesmo desfalcado de cinco titulares?

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Bons tempos aqueles em que o Luxemburgo brigava com o treinador adversário, com o árbitro e os jornalistas. O fim da pindaíba nem é se submeter a treinar o GFPA, é assumir que a falta de material com que se trabalhar é tanta que até brigar com um repositor de bola e ir pro vestiário mais cedo é melhor que aguentar o papelão de perder uma partida ao natural depois da fiasqueira de entrar em campo com dezoito jogadores.

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O que que se faz?
Toca-se a ficha?
Siga-se o rumo?
Deixa-se pra lá?
Faz-se o que parece que ela quer?
Ou exatamente o oposto, que por alguma razão, parece ser a coisa certa?
Cérebro, coração ou fígado?
O que ele mais tem é fígado. Mas o que ele tem de coração, mesmo não sendo muito, é todo dela.

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Uma luz, por favor.
Um sinal.
Qualquer coisa.
Pra ele saber se deve ou não manter a esperança de vê-la dançar Michael Jackson Beat It na cama deles.

sábado, 28 de abril de 2012

Your Call


Você tem olhos mas não vê.
Tem ouvidos mas não ouve.
Ele não vai te dizer tudo de novo.
Ele já disse antes.
Achou que tinha ficado claro.
Ele explicou a sua situação.
Ele seguiu as regras que tu estabeleceu.
Fez como tu disse.
Abraçou o tratado por ti oferecido.
Acatou teu pedido de tempo.
Pro melhor e o pior.
Você sabe como ele se sente.
Tá na tua mão. É contigo.
Sempre foi.
Ele não vai a parte alguma.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Resenha Cinema: Os Vingadores


Foi sentado em uma cadeira que não era geograficamente a do meio da fileira, morrendo de sono e de dor, e tomando apenas um refrigerante ao invés do meu milk shake de chocolate que à meia noite e quatro desta sexta-feira eu me acomodei com os óculos 3-D na minha carranca cansada e conferi Os Vingadores, ambiciosa produção da Marvel que uniu nas telonas, sob a batuta de Joss Whedon, os heróis que haviam sido apresentados individualmente em seus filmes solo. Cento e quarenta e dois minutos de aplausos, gritos e gargalhadas mais tarde, me levantei e fui procurar pelo meu queixo no chão do cinema.
Os Vingadores parte de onde os outros filmes da Marvel Studios haviam parado (Em especial Capitão-América e Thor) para contar a história de um dia. Um dia como nenhum outro, em que os maiores heróis do mundo se viram unidos contra uma ameaça comum. O dia em que surgiram Os Vingadores.
A ameaça comum em questão, óbvia pra quem havia assistido Thor, era Loki (Tom Hiddleston), o irmão adotivo de Thor, que após ter seus planos para se tornar rei de Asgard frustrados pelo deus do trovão volta suas atenções à Terra e ao Tesseract. O Cubo Cósmico que foi o MacGuffin do filme do Capitão América.
Mancomunado com sinistras forças intergalácticas, Loki une um exército e avança contra a SHIELD em busca do cubo. Para tentar impedir os planos nefastos do vilão, Nick Fury (Samuel L. Jackson) une uma equipe de pessoas especializadíssimas, mas que podem não ter lá um grande perfil de trabalhar em equipe. Esse time é composto por Steve Rogers, o Capitão América (Chris Evans), Tony Stark, o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Bruce Banner, cientista que se transforma no monstro gigante conhecido como Hulk (Mark Ruffalo), Thor, o deus nórdico do trovão (Chris Hemsworth), a espiã Natasha Romanoff, a Viúva Negra (Scarlett benzadeus Johansson), e Clint Barton, o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), assassino exímio no uso do arco e flecha.
Em se levando em conta as dificuldades de se fazer um filme de duas horas e vinte e poucos minutos que tem pelo menos seis(!) protagonistas, fora o vilão e os coadjuvantes, sem deixar que ninguém pareça um acessório, Os Vingadores fica ainda mais fabuloso. Especialmente quando vemos que o filme transcorre com a cara de gibi que Os Vingadores precisava ter, e como ele funciona enquanto filme, especialmente no comparativo com com as demais produções da Marvel, em especial os três últimos longas, que pareciam abrir mão do desenvolvimento individual em nome da vitrine para personagens e situações que vemos na película da equipe.
Em Os Vingadores isso não acontece. O filme tem um ritmo acelerado desde a primeira cena, e vai acelerando mais e mais até o apocalíptico clímax, que é uma mistura do que há de melhor nos filmes de Michael Bay e Roland Emmerich, mas com alma e coração e cérebro.
Ao contrário do que se passou em Homem de Ferro 2 e Thor, em que parecia que uma cartilha demandava a colocação de uma gratuita sequência de ação em cada um dos atos do filme, em Os Vingadores toda a ação surge pra movimentar a trama. Mesmo as obrigatórias (pelo menos na tradição da Marvel) lutas que acontecem entre os super-heróis antes de eles resolverem, de fato, trabalhar juntos não parecem forçadas. Elas estão ali para mostrar quem são aquelas pessoas, do que elas são capazes, e como elas estavam acostumadas a operar até então.
Méritos para o diretor/roteirista/quadrinista Joss Whedon, que entre os Buffy, Firefly e Serenity da vida, aprendeu como contar histórias com diversos protagonistas, como deixou muito claro na obrigatória Surpreendentes X-Men que escreveu. Ele dá a todos os personagens igual importância e peso, impedindo que se concretizassem os temores de muitos (incluindo eu) de que Os Vingadores se transformasse em uma festa do Homem de Ferro repleta de super-convidados. Claro, ajuda ter no elenco atores talentosos que já viveram seus personagens antes (à exceção de Ruffalo, novato do grupo) e que sabem estar na pele de seus respectivos super-heróis ou vilões. O capitão América de Chris Evans está ótimo, deslocado, perdido, um herói à moda antiga preso em um mundo moderno, Chris Hemsworth e seu Thor também não fazem feio, assim como o frio Gavião arqueiro de Jeremy Renner. Scarlett Johansson tem seus momentos e não decepciona (mesmo se ela não soubesse nem falar quem é que se decepcionaria com a Scarlett?), e Robert Downey Jr. segue sendo o mesmo sujeito que transformou o Homem de Ferro no herói mais cool do cinema. Há que se reconhecer, porém, o Bruce Banner/Hulk de Mark Ruffalo. O ator mostra um cientista brilhante, contido, contrito, consciente do preço do descontrole, e quando há o descontrole, meu amigo, é catártico!
Tom Hiddleston também segue ótimo como Loki, tão bem quanto em Thor, mas mais à vontade, parecendo, de fato, se divertir com seu vilão, outro que tem grandes momentos, inclusive cômicos.
Além da ação e da tensão, ainda sobra humor em Os Vingadores, talvez o melhor tipo de humor nos filmes da casa das ideias desde o primeiro Homem de Ferro, que no longa da equipe é o dono da maior parte das sacadas engraçadas, mas elas saem da boca de todo mundo, inclusive do Capitão América e de Thor, todos tem seu momento de arrancar risos da audiência, mas sem comprometer o heroísmo dos personagens.
Mesmo que Os Vingadores fosse um filme ruim, ou só mais um filme de super-herói, ainda teria valido o ingresso e a privação de sono só pra ver o inacreditável plano sequência que vai mostrando todos os personagens, cada um na sua frente de batalha, mas por sorte, mesmo com os defeitos (deve ter algum, prometo que se encontrá-lo quando rever o filme falo a respeito.)o filme tem muito mais a oferecer. Joss Whedon estabelece um novo patamar pra filmes baseados em quadrinhos que se admitem como filmes baseados em quadrinhos, dá o primeiro passo para uma nova e fabulosa franquia (Fique até depois dos créditos e flerte com a Morte!), e desde já deixa claro que Batman e Homem-Aranha terão que suar, e muito, pra tirar o título de blockbuster do ano das mãos dos Heróis Mais Poderosos da Terra.

"Esse é o meu segredo, Capitão. Eu estou sempre nervoso."

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Contagem Regressiva para Os Vingadores


Como leitor de quadrinhos eu sempre preferi a Marvel na comparação com a DC. Como as duas gigantes dos comics americanos eram os quadrinhos aos quais se tinha mais acesso na minha tenra infância, só bem mais tarde fui descobrir que existia (muita) vida (mais) inteligente além de Supermen e Homens-Aranha. Ainda assim, embora eu tenha lido, de lá pra cá, muito Vertigo, Wild Storm, alguns mangás, fumetti e outros quadrinhos europeus, não se pode negar que, em se tratando de gibis e super-heróis, as coisas sempre terminam em Marvel versus DC.
Ás vezes literalmente.De qualquer forma, eu preferia, e ainda prefiro, a Marvel.
Provavelmente um dos fatores que ajudou a alicerçar essa preferência foi o fato de que, por estranho que possa parecer para alguém que não lê quadrinhos habitualmente (ou como diz meu amigo Alê, um civil), os super-heróis da Marvel têm problemas comuns. Isso não se restringe ao Homem-Aranha e seus problemas financeiros. O Demolidor tem uma vida afetiva mais enrolada do que um carretel. O Homem Formiga e a Vespa vivem um casamento onde já houveram até casos de violência doméstica. Os X-Men são vítimas de preconceito racial. O Quarteto Fantástico é uma família com todas as peculiaridades que uma família pode ter, e uma lista poderia seguir e seguir...
Na DC, não. Os personagens publicados sob o selo da editora são maiores do que a vida. São alienígenas invulneráveis, semi-deuses indestrutíveis, corredores mais rápidos que a luz, e por aí a fora. Talvez excetue-se desse balaio o Batman, mas a ideia geral é essa.
Outro diferencial nessa relação Marvel e DC, é que os personagens da DC eram cada um o guardião de sua própria cidade fictícia. O Superman em Metrópolis, o Batman e Gotham City, Keystone City pro Flash, e Coast City pro Lanterna Verde, e, embora eles trabalhassem juntos na Liga da Justiça, o lance é que eles raramente se encontravam fora dos gibis da equipe.
Na Marvel não... Os super-heróis da Marvel viviam todos em cidades de verdade. Na verdade, viviam todos na mesma cidade de verdade:
Nova York.
Isso era divertidíssimo nos gibis da editora, pois um evento que tomava parte no gibi do Quarteto podia ser comentado pelo Aranha na sua revista, ou uma luta do Thor podia causar reverberações no gibi do Capitão-América, e assim por diante. Os personagens não apenas viviam na mesma cidade, como a partilhavam na prática. Não era raro ver um super-herói voando por aqui ou por ali no gibi de outro. O Aranha, por exemplo, chegou a estrelar o Marvel Team-Up, em que fazia parceria com heróis tão diversos como o Motoqueiro Fantasma em uma edição e os Inumanos na seguinte.
Foi uma pena, então, que quando os heróis da Marvel começaram a ganhar as telonas, tenha sido em produtoras diferentes. O Blade estava na New Line, os X-Men e o Demolidor, na Fox, o Homem-Aranha tinha seus filmes produzidos pela Sony, de modo que a possibilidade de ver esse universo partilhado entre os personagens foi por terra pra tristeza de nerds ávidos por ver, no cinema, algo que se tornara regra nos quadrinhos.
Foi então que a editora Marvel resolveu que podia faturar uma grana federal se, ao invés de vender licenças de seus filmes para os estúdios, produzisse filmes de seus personagens por conta própria.
Empréstimos daqui, contratação de diretores e roteiristas de lá, uma dose cavalar de colhões ao contratar um ex-ator-problema para encabeçar o que poderia ser uma franquia e voilá...
Em 2008 o primeiro filme da Marvel quanto estúdio estreava nos cinemas. O Homem de Ferro dirigido por Jon Favreau e estrelado por Robert Downey Jr foi um tremendo hit cheio de acertos por todos os lados, e, mais que isso, acenou pela primeira vez com algo que os fãs de gibis queriam ver a muito tempo. Foi após os créditos de encerramento, quando Nick Fury emergiu das sombras na pele de Samuel L. Jackson, e perguntou a Tony Stark se ele achava que era o único super-herói do mundo. E lhe falou sobre algo chamado Iniciativa Vingadores...
Agora, pouco menos de quatro anos e quatro filmes repletos de apontamentos mais tarde, está pra estrear Os Vingadores, talvez o projeto de quadrinhos no cinema mais ambicioso desde que o Homem-Aranha digital de Sam Raimi se balançou nas telonas em 2002.
Alguém pode falar que super grupos não são novidade no cinema depois de X-Men, mas não é a mesma coisa. Os X-Men eram um filme de equipe desde o início, seus personagens foram apresentados como um grupo treinado pra operar em conjunto desde a origem. Os Vingadores, não. Os Vingadores são um grupo heterogêneo de super seres com backgrounds e personalidades totalmente diferentes e por vezes conflitantes praticamente forçados a trabalhar em equipe contra todos os seus instintos pessoais.
Mesmo que se pese que a filmografia da Marvel não tem sido livre de equívocos, e que quanto maior o escopo e a expectativa sobre um filme maior a possibilidade de ele dar errado, a simples ideia de ver esse grupo de super-heróis coloridos e barulhentos dividindo a mesma cena já causa arrepios na espinha de qualquer ser humano que, em algum momento abriu um gibi na vida, e nos faz torcer pra que o diretor e roteirista Joss Whedon estivesse em um modo mais pra Astonishing X-Men do que pra Buffy - A Caça-Vampiros quando colocou a mão na massa.
Agora é esperar e conferir. O filme estréia na sexta-feira, e esse nerd que vos fala estará vendo o filme aos primeiros quatro minutos do dia 27, com um milk-shake bem grande no colo e um sorriso no rosto!

Resenha Filme: O Incrível Hulk


Como Os Vingadores vem aí, e a Casa do Capita fez resenhas de todos os filmes que pavimentaram o caminho até o filme do grupo, exceto O Incrível Hulk, resolvi aproveitar o ensejo e reparar essa injustiça com o verdão.
Vamos lá:
Se foi ao Homem de Ferro que coube a honra de iniciar o caminho da Marvel enquanto estúdio nos cinemas do mundo, a medalha de prata caiu no colo de um personagem que provavelmente era o mais bem sucedido herói Marvel além das páginas dos gibis até o boom das produções de quadrinhos nos anos 2000:
O incrível Hulk.
A versão Stanleeniana de Jeckyll e Hyde fora um tremendo hit televisivo nos anos setenta e oitenta, tendo estrelado uma longeva série de TV e uma porção de telefilmes sempre estrelados pela dupla Bill Bixby como David (e não Bruce) Banner e Lou Ferrigno (O Hulk).
Olhando em perspectiva, acho que o Hulk foi o primeiro personagem de quadrinhos a aparecer em crossovers com outros heróis em live action até a Viúva Negra dar as caras no segundo filme do Homem de Ferro em 2010. O Hulk de Bixby/Ferrigno contracenara com o Thor em O Retorno do Incrível Hulk (1988) e com o Demolidor em O Julgamento do Incrível Hulk (1989) até sumir do radar das adaptações.
O personagem passou um bom tempo restrito aos gibis até voltar à TV em uma animação nos moldes da série animada do Homem-Aranha entre 1996 e 97, para finalmente ter uma chance no cinema em 2003.
O Hulk, dirigido por Ang Lee era o tipo de coisa que parecia à prova de falhas. Um então desconhecido Eric Bana como Bruce Banner, Jennifer (ohmeuDeus) Connelly como Betty Ross, Sam Elliot como Thunderbolt Ross, e Nick Nolte como o pai de Bruce Banner. Na origem era o tipo de filme que merecia ser visto, tanto que eu estava no cinema em uma pré-estréia com mais umas quinze testemunhas (três sujeitos com bonecos e camisetas do Hulk me deixaram meio temeroso, confesso). Mas entre o dramalhão com cara de complexo freudiano, um protagonista digital que não convencia quando se movia e um poodle hulk, algo deu muito errado. Tão errado que a Universal, que bancara o longa do gigante esmeralda, abandonou o personagem de vez, e seus direitos acabaram revertendo à Marvel.
Foi de onde veio esse O Incrível Hulk, estrelado por Edward Norton, que saiu no mesmo ano em que o Homem com Ferro de Robert Downey Jr. e que parecia gozar das mesmas credenciais, como um protagonista talentoso e com alguns problemas fora da tela (Ed Norton chegou a se recusar a promover Uma Saída De Mestre para a Paramount) e um diretor sem grandes trabalhos no currículo (Louis Leterrier tinha feito dois Carga Explosiva e Cão de Briga).
O Incrível Hulk, que tinha um roteiro escrito pelo próprio Norton e Zak Penn (De X-Men 2 e 3) não chegava a propriamente reiniciar a história do gigante verde, nem era propriamente uma continuação da fita de Ang Lee, no final das contas, o filme parecia tentar dar um sentido de continuidade tanto ao longa com Eric Bana quanto à série de TV com Bill Bixby e Lou Ferrigno, mas trilhando um outro caminho, e já começava com um Bruce Banner refugiado na América do Sul (Mais especificamente na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro) e consciente da condição Hulk.
Enquanto trabalhava clandestinamente em uma fábrica de guaraná, Banner pesquisava uma cura para sua maldição com a ajuda de um correspondente misterioso, o Sr. Azul, que mais tarde descobriríamos ser Samuel Sterns (o futuro vilão Líder, interpretado por Tim Blake Nelson). A experiência de Banner porém falha, e, como desgraça pouca é bobagem, ele se vê novamente no radar da SHIELD e do exército dos EUA e seu desafeto, o general Ross (William Hurt).
Decidido a se livrar do Hulk, Banner volta aos Estados Unidos para se encontrar com Sterns, mas sendo perseguido por Ross e seu homem de confiança, Emil Blonsky (Tim Roth) um soldado veterano obcecado pelo poder do Hulk, ele precisa se esconder e contar com toda a ajuda que conseguir, inclusive a de Betty Ross interpretada por Liv (ohmeuDeus) Tyler, sua ex-namorada.
O Incrível Hulk era um bom filme de super-herói. O elenco qualificado ajudava muito, mesmo que o corte que foi aos cinemas e está na TV não tenha sido feliz ao limar várias sequências que desenvolviam o protagonista e alguns coadjuvantes ao mostrar o desespero de um sofrido Banner em ter que viver sozinho e afastado de todos por conta de sua face verde e furiosa (Essas sequências podem ser quase todas vistas no DVD duplo e no Blu-Ray do filme, vale a pena).
Além disso, ainda tinha boas sequências de ação, como a luta do Hulk contra a unidade de elite do exército que o perseguia pela favela e contra o exército americano liderado por um Emil Blonsky turbinado por uma imitação do Soro do Supersoldado do Capitão-América, mas a grande pancadaria do filme era mesmo o enfrentamento do golias verde contra o Abominável, a versão gama de Blonsky, outro monstro verde, gigante e super forte. Entre golpes titânicos, destruição desmedida e muitos rosnados o clímax do confronto chega com um incrível "Hulk Esmaga!".
Apesar de divertido, porém, o Hulk de Leterrier e Ed Norton não foi bem nas bilheterias. Faturou mais do que o orçamento, mas não fez a carreira que seus colegas de estúdio fariam mais tarde. Norton ainda brigaria com a Marvel por conta da edição do filme e se afastaria de Os Vingadores. Ainda assim, olhando em perspectiva, eu acho que a despeito das falhas, O Incrível Hulk é meu filme preferido da Marvel enquanto estúdio, e embora eu vá sentir falta de Edward Norton, ficarei feliz de ver o gigante esmeralda em ação novamente em Os Vingadores.

"-Não me deixe com fome. Você não vai gostar de me ver com fome... Fome?"

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Rapidinhas do Capita

Ele a viu imediatamente naquela vernissage insuportável. O nome dela era Hera, que nem a deusa grega e a inimiga do Batman. Tinha os cabelos castanhos bem compridos e encaracolados, olhos vagamente verdes e entre um nariz delicadamente aquilino que se debruçava sobre lábios finos mas convidativos. Alta, esguia, vestindo uma blusa vermelha bem justa de uma manga só e jeans escuros apertados contra suas coxas compridas, ela era perseguida onde fosse por olhares gulosos. Talvez tenha sido a expressão tímida do sujeito junto à porta que chamou-lhe a atenção, ele parecia diferente. Ela se aproximou e se apresentou com a mão direita estendida e dizendo:
-Prazer, Hera.
Ele ergueu as sobrancelhas e fez cara de espanto enquanto pegava a mão dela entre as suas. Não pôde deixar de perguntar:
-Hera? Sério?
-Sim. - Ela assentiu sorrindo um pouco embaraçada.-E tu? - Quis saber.
-Zeus. - Ele respondeu, estufando o peito e engrossando a voz enquanto sorria meio de lado.
-Ah, é... - Ela disse em um suspiro. Olhou pra baixo por um instante e então disparou:-Palhaço.Ele fez cara de confuso e tomou fôlego pra falar, mas ela o deteve com um gesto enquanto dizia:
-Volta pra tua pokébola, mané. Que eu tenho mais o que fazer que desperdiçar meu tempo contigo. Otário.E saiu andando. Ainda deteve-se alguns metros depois e se virou mostrando-lhe o punho cerrado com o dedo médio em riste. Ele, entre o chocado e o constrangido, se escorou em uma parede próxima e ficou ali, pensando onde errara. Um amigo que também estava na vernissage chegou e perguntou:
-E aí, velho? Como tá a caça?
-Tá ruim, tchê. Tomei fora até me apresentando.
-Também, com esse nome... "Zeus"... O que a tua mãe tinha na cabeça...?
Ele deu de ombros. Achara mesmo que seria demais a mulher de sua vida ter tanto em comum com ele...

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-Eu queria mesmo era te beijar. - Ele confidenciou.
Ela sorriu enquanto se aproximava dele com os lábios entreabertos, mas ele a deteve:
-Não... Na boca, só, não me serve. Eu quero tudo. Cada decímetro cúbico da tua pele.
Ela abriu a boca e arregalou os olhos imitando uma cara de escandalizada. Ele sorriu.
-Isso, também, claro... Mas quando eu falo de tudo é tudo, mesmo... Pescoço, nuca, nariz, orelhas, mãos, cotovelos, queixo, sobrancelhas, pés, tornozelos, coxas, panturrilhas, umbigo, ombros, braços e antebraços, peito, região ilíaca, costas... Tudo isso, e o que juntar cada parte à próxima.
Ela sorriu olhando pra baixo. Ele sorriu olhando pra ela, a abraçou e foi embora.Ambos sabiam que o que ele sentia era pleno demais pra demonstrar a conta-gotas.

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Passaram em frente a uma janela de uma casa qualquer. Ele olhou para a janela e viu, do lado de dentro, um gato. O contato olho no olho fez com que o felino abrisse bem a boca franzindo o nariz.
-Olha - Disse ele. -Um gato enfurecido.
-Não. - Disse ela -Ele estava miando.E dizendo isso voltou até a janela e parou, novamente cara a cara com o bichano, que repetiu o movimento de abrir a boca e franzir o nariz.
-Viu? Só miando.
Era a tônica daquela relação. Ele vendo sempre o pior de tudo, e ela lhe mostrando que as coisas não eram ruins como pareciam.

Resenha Blu-Ray: Cavalo de Guerra

Desde que foi lançado o primeiro trailer de Cavalo de Guerra logo dava pra perceber que era uma arapuca.
Isso mesmo, uma arapuca. Uma armadilha, um plano engenhoso bolado por Steven Spielberg com a colaboração generosa de seu maestro de confiança, John Williams, para fazer a audiência chorar.
Foi nesse final de semana, após um jogo e um churrasquinho com os amigos que eu caí na arapuca de Spielberg. E quer saber?Eu não me arrependi.
Cavalo de Guerra narra as aventuras em que o cavalo Joey se envolve desde que era apenas um potrinho em Devon, na Inglaterra, até a sua vida adulta, quando é comprado por uma fábula pelo fazendeiro Ted Narracott (Peter Mullan) para ser animal de tração, embora seja um puro-sangue.Adotado pelo filho de Ted, Albert (Jeremy Irvine), Joey usa arreios e puxa arados até que Ted, endividado e em uma maré de azar, vê-se obrigado a se desfazer do animal para garantir o teto de sua família. Quem compra o cavalo é o capitão Nicholls (Tom Hiddleston), para ser sua montaria no conflito que se anuncia:
A Primeira Guerra Mundial.
A partir de então, Joey conhece os dois lados do conflito, em um momento nas mãos de alemães, no seguinte sob posse dos ingleses, e até sob a tutela de um fazendeiro na França. A história contada de forma episódica e cheia de núcleos que impede que as duas horas e vinte do filme se tornem cansativas vai sobrepondo os encontros de Joey com vários tipos em situações diversas (nesse sentido há que se destacar a ótima sequência em que o soldado inglês e o alemão se encontram no meio do caminho entre suas respectivas trincheiras), e é nesse período que Joey tem sua fibra testada até o limite, e então além.
Em que se pese que nesse longa Spielberg usa um dos artifícios mais manjados pra arrancar lágrimas (Faça um animal sofrer desgraçadamente por duas horas e vinte e seis minutos), Cavalo de Guerra ainda e um ótimo filme. Todas as qualidades que nos acostumamos a ver nos longas do fundador da Amblin estão lá, a cinematografia excelente, os enquadramentos bacanosos e o uso esperto da câmera, as transições estilosas, e até a trilha sonora de Williams, que já esteve em melhor forma mas ainda é um compositor de mão cheia.
Alie-se a isso um elenco numeroso cheio de atores competentes com destaque positivo para Emily Watson (como Rose Narracott), Tom Hiddleston e Niels Arestrup, e negativo para o jovem Jeremy Irvine (que não oferece muita coisa com seu Albert Narracott e é até meio irritante em alguns momentos), e as lindas sequências em que Joey corre, salta e arfa, e temos, sim, uma máquina de choro (Eu consegui manter os olhos secos até quase o final. Maldito seja, Spielberg), mas também entretenimento emocionante e de qualidade irrefutável.
As pessoas dizem que Spielberg não é mais o mesmo, mas olhando bem, em 2011 ele se aproximou bastante...

"Nós vamos ficar bem, Joey. Nós somos sortudos, você e eu. Sortudos desde o dia em que eu te conheci."

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Os Simpsons 25 anos


Hoje, 19 de abril, Os Simpsons fazem aniversário. Foi em um dezenove de abril, no longínquo ano de 1987 que a família amarela deu as caras pela primeira vez.
Eles apareciam em curtas de duração variada que, de modo geral, não se prolongavam por mais do que um minuto e meio durante o programa de variedades The Tracey Ullman Show.
Foi o produtor James L. Brooks quem encomendou ao cartunista Matt Groening uma versão animada de sua tira Life in Hell. Ao perceber que, para tanto, teria de abrir mão dos direitos autorais sobre sua tira, resolveu, em lugar disso, criar novos personagens.
O resultado foi a família disfuncional Simpson, composta por Homer, Marge, Lisa e Maggie nomes de seus pais e irmãs na vida real, e substituiu a si próprio e seu irmão mais velho Mark, por Bart, nome que serve tanto como apelido para Bartolomew quanto como anagrama à palavra "brat", que em inglês significa algo como pestinha.
Os Simpsons viveram como curta no programa de Ullman por 48 episódios, ou três temporadas, ou pouco mais de dois anos, até maio de 89.
Foi em dezembro do mesmo ano que a família amarela ganhou seu próprio programa em horário nobre na Fox.
Ao longo dos anos, os Simpsons viram suas características visuais e de personalidade trilharem caminhos inversos, enquanto os designs dos personagens foram sendo suavizados na comparação com os pontudos esboços originais de Groening, os aspectos mais marcantes de suas personalidades foram se tornando mais e mais evidentes. O espírito conciliador da Marge, o engajamento da Lisa, a rebeldia do Bart e a burrice do Homer foram sendo exponencialmente aumentadas ao longo da série, e foram aumentando exponencialmente sua graça.
Outra coisa interessante é o enfoque do programa. Originalmente centrado em Bart nas primeiras temporadas talvez Os Simpsons não tivesse se sustentado como "programa de adultos" no horário nobre após duas décadas se não tivesse encontrado no carisma simplório da voz de Homer, provavelmente o melhor texto cômico da TV, um alicerce mais firme pra fazer rir.
A despeito de todas as críticas que a série já recebeu (Da secretaria de turismo do Rio de Janeiro ao ex-presidente norte-americano George W. Bush) o sucesso se mantém e os recordes se empilham. Simpsons já ganhou 27 Emmy, uma estrela na calçada da fama, um longa metragem, já ultrapassou a impressionante marca dos 500 episódios e é a série animada a ficar mais tempo no horário nobre da TV estadunidense.
Nesses vinte e cinco anos de estrada, Os Simpsons estabeleceu algumas tradições como o sangrento desenho animado Comichão & Coçadinha, os especiais de Dia das Bruxas "A Casa da Árvore dos Horrores" a grande quantidade de participações especiais (Pelé, Mel Gibson, Michael Jackson...), a abertura sempre diferente da anterior (A frase de Bart no quadro, a música que lisa toca no sax, e a chegada da família ao sofá), sem contar os bordões como o "excelente" do senhor Burns, o "Rá-rá" de Nelson, e, claro, o "D'oh" de Homer, que entrou até no dicionário Oxford de língua inglesa.
Junte-se à hilária família protagonista o espetacular elenco de coadjuvantes (De Ned Flanders ao caipira Kletus, passando por Barney, o cara da loja de quadrinhos, professora Krabappel, diretor Skinner e Moe Szyslack), e roteiros que a duas décadas e meia não deixam a peteca cair e pronto, temos aí o mais amarelo dos clássicos da TV.

"D'oh!"

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Rapidinhas do Capita


Isso é cinema moderno:
Os Vingadores nem sequer chegou aos cinemas e eu já estou babando em antecipação pela ideia de comprar o Blu-Ray do filme com cerca de meia hora de cenas que não estarão na projeção.
Isso é cinema moderno 2:
O produtor de Homem-Aranha Avi Arad disse que quer rodar a adaptação aos cinema do game Uncharted no Brasil.
Por mais que seja maneira a perspectiva de ver as aventuras de Nathan Drake em celuloide me assusta a perspectiva de ver as aventuras de Nathan Drake em celuloide.

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Eu tive sonhos em excesso essa noite. Dormi muito, talvez por causa da gripe que me atacou e se recusa a me soltar... Foi difícil pegar no sono, e quando finalmente dormi, cansado que estava de tanto tossir, mergulhei fundo em uma miscelânea variada de sonhos.
Sonhei que tinha ido assistir a Os Vingadores no cinema. Estava sozinho, e a sessão era às nove. A moça do caixa e o guri da bomboniére eram inacreditavelmente lentos, e após um tempo inacreditável que levaram pra validar meu ingresso, o moleque era incapaz de me servir os pães de queijo que eu queria comprar pois os derrubava (Tenho certeza de que de propósito) no chão.
Enquanto eu esperava tamborilando os dedos no balcão, alguém por quem eu era apaixonado entreva no cinema com outra pessoa, e eu, enraivecido, cobria o rosto pra não ser visto, e de fato não era. Finalmente percebi que já eram nove e meia e que eu perdera meia hora de filme de modo que, furioso, eu brigava com todos os funcionários do cinema, inclusive uma moça bonita que era a cara da Jordana Brewster, e pedia meu dinheiro de volta.
Depois sonhei que estava na praia e meu cachorro encontrava uma baleia encalhada. Eu, por alguma razão, achava que podia empurrá-la de volta pra dentro do mar, mas o meu cachorro começava a comer o cetáceo ainda vivo para meu desespero. Eu tentei pegá-lo pela coleira e levá-lo de volta pra casa pra empurrar a baleia de volta pro mar, mas o cusco estava sem guia, de modo que eu não tive alternativa, exceto deixar que ele comesse o mamífero agonizante.
Também sonhei que brigava com meu avô. No sonho ele alternava entre sua versão mais fragilizada pelo câncer e a versão de que eu gosto de lembrar, bonachona e meio bruta. Nós brigávamos por uma bobagem, nem sei o que era... Mas no sonho, eu sabia que ele já havia morrido, de modo que me desculpei, mesmo sem saber se eu de fato estava errado na discussão, ele me cumprimentou com a mão de ferro que sempre usava, e eu o abracei.
Foi bom voltar a abraçar meu avô.

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TRADUÇÕES:

Ela saiu do quarto e perguntou:
-O vestido preto ou esse azul?
-Esse. - Ele respondeu após colocar a mão no queixo e fazer um breve "hmmmm".
-Sério? Por quê? - Ela replicou.
Ele disse:
-Porque esse casa melhor com a maquiagem escura dos teus olhos. Deixa teu visual menos pesado, e equilibra com o jeito meio despojado como tu arrumou o cabelo.
Mas na verdade ele quis dizer:
-Porque a gente já está atrasado, eu sou incapaz de distinguir diferença entre os dois exceto pela cor, tu já está usando esse e eu me recuso a ver um terceiro.

Um pouquinho de amargura


Aconteceu. Simplesmente. Sem nenhuma espécie de aviso. Foi automático como costumam ser as coisas definitivas.
A Lourdes acordou naquela manhã de quinta-feira, e nem imaginou que, no fim do dia, aquilo teria acontecido.
Ela deixou de gostar do Rafael.
Tão estranho, especialmente quando se considerava tudo... A Lourdes era apaixonada pelo Rafael, apaixonada mesmo, de forma visceral, incoercível... Ela mudou sua vida por causa do Rafael, venceu distâncias e medos, encontrou mais coragem do que supunha caber em si para estar com ele. A Lourdes fez e aconteceu por causa do Rafael.
E, embora o Rafael não tivesse feito e nem acontecido por causa da Lourdes, embora ele fosse incapaz de arroubos de romantismo e grandes demonstrações de afeto, o Rafael era, também, apaixonado pela Lourdes com tudo o que tinha. Com coração, alma e cérebro. Especialmente cérebro, que depois de fígado, era o que o Rafael mais tinha.
O Rafael era louco pela Lourdes. Ele jamais disse o quanto era. Em parte porque achava que, em seu tom de voz monocórdico, uma declaração de amor teria tanto impacto quanto uma receita de limonada, e, em segundo, porque tinha medo de se abrir. O Rafael não via como alguém especial como a Lourdes, que tinha todos os predicados que qualquer homem com um neurônio e meio funcionando dentro da cabeça procurava em uma mulher, poderia se afeiçoar a ele. Na verdade, na mente distorcida de Rafael, ele montava diversos cenários, todos muito elaborados, em que a Lourdes achava ele muito legal com um grande perímetro entre eles, e que, assim que essa zona de conforto era vencida, a Lourdes percebia que o que pareciam algumas particularidades interessantes na personalidade do Rafael, não passavam de defeitos.
De qualquer modo, a Lourdes não conhecia esses cenários mentais do Rafael, e, pessoa espetacular que era, foi à luta. E conseguiu vencer as barreiras do Rafael. Todas e cada uma delas. E ele se tornou dela. Tão dela quanto podia ser. Ainda que permanecesse incapaz de demonstrar, ainda que tivesse nós a desatar, e situações a resolver... Ainda era dela.
E, mesmo sendo dela, tentou se afastar, não para esquecê-la, tarefa que não apenas era impossível mas também era algo que ele, em sã consciência jamais quereria fazer, e até escolheu o caminho do afastamento, o Rafael, na esperança de manter a pureza do que sentia em relação à Lourdes, mesmo sentindo certa pieguice e risibilidade naquele intento.
Aconteceu que, pro Rafael, ficar longe da Lourdes era particularmente difícil. Não saber dela, não ter notícias. Era complicado, doloroso. Talvez, inclusive tenha sido aí que o Rafael percebeu que era muito mais do que uma paixonite ou mera atração física o que ele sentia pela Lourdes. Ele de fato se importava com ela, ele de fato gostava dela. Admitia até que talvez a amasse, se é que ele era capaz de tal coisa.
De toda a sorte, se reaproximou de Lourdes. Quase impôs sua presença na vida dela, coisa que, em qualquer outra situação, teria evitado tanto em nome do amor-próprio quanto do respeito ao espaço alheio. E ela o acolheu, generosa que era.
Mas nessa acolhida ficou claro, tanto para Lourdes quanto para Rafael, que ela já não gostava mais dele...
Ao menos não como antes.
Talvez fosse pelo fato de ele inadvertidamente tê-la magoado em mais de uma ocasião. Talvez fosse por ela ter percebido que ele era um santo com pés de barro. Ou, quiçá fosse exclusivamente por ela ter-se decidido a não mais depositar tantas esperanças em um ser-humano tão falho quanto ele era. Mas independente do que fosse, o fato é que ela já não tinha o mesmo entusiasmo, a mesma força, a mesma alegria de partilhar tempo com ele. Já não o amava.
Rafael, em um primeiro momento sentiu raiva. Ficou magoado, triste. Mas então percebeu que finalmente pudera desempenhar um papel positivo na vida de Lourdes:
Pudera ser elemento do processo de cura que lhe permitiria voltar a abrir seu coração. E ela merecia voltar a abrir seu coração. E alguém havia de merecer passagem até lá.
Rafael continuaria sorrindo quando a encontrasse. Continuaria sentindo-se grato por saber dela e ser parte, mesmo que uma pequena parte, do seu dia-a-dia. E seguiria a amando de coração, tripas, cérebro e até de fígado, pois o amor não consumado, mesmo o mais sincero e incoercível, tem direito a um pouquinho de amargura.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Uma Surpresa


Após algum tempo observando o modo como as pessoas funcionam é difícil não esbarrar em uma parede de desânimo e de desesperança. O ser humano de modo geral, é ruim. Não há porque fazer floreios ou usar meias palavras. É ruim.
Quem mantém guardada alguma fagulha de otimismo com relação a esse empreendimento fracassado que é a humanidade está, fatalmente, trilhando um caminho até a decepção. Tudo bem, admito que não sou a melhor pessoa pra falar da humanidade. Sou um assumido niilista e misantropo do tipo mais xarope e resignado, sou tão descrente com relação à humanidade que pareço até paciente, o que não chega a ser o caso...
Mas há, ainda, atos capazes de me surpreender. Todo mundo ficou sabendo do jogador de futebol italiano Piermario Morosini, que após sofrer uma parada cardíaca dentro de campo no sábado, em uma partida válida pela série B do campeonato da terra da bota, veio a morrer (Aliás, não existem cardiologistas na Europa? Dia desses foi o Fabrice Muamba quem sofreu uma parada cardíaca dentro de campo, agora o Morosini).
Morosini deixou apenas uma irmã, Maria Clara Morosini, que necessita de cuidados especiais devido à problemas mentais.
O outro irmão do atleta cometeu suicídio a algum tempo, e os pais de Morosini são falecidos.
Maria Clara estava às portas de ficar desamparada, mas o artilheiro Antonio Di Natale, ex-companheiro de Morosini na Udinese, vai entrar na justiça para adotar a jovem.
O presidente da Associação Profissional de Futebolistas Italianos, que não escondeu o pesar pela morte do ex-companheiro e amigo prontificou-se a requerer a guarda de Maria Clara e garantir que não falte nada à moça, assim como as equipes da Atalanta, formadora de Morosini, e a Udinese, dona dos direitos federativos do atleta.
Em que se pese que Di Natale tem dinheiro o bastante pra bancar os cuidados que a irmã de Morosini necessita, e que há todo um trauma pela morte do amigo envolvido na decisão do goleador, ainda assim, é um belo gesto, e, se não vai me fazer repensar minha posição com relação ao mundo e às pessoas em geral, ao menos fica a surpresa, essa positiva, dos grandes gestos de que algumas pessoas são capazes diante de uma tragédia.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Rapidinhas do Capita


Hoje é sexta-feira 13. Eu me lembro de que, quando era criança, sexta-feira 13 era dia de assistir a um filme da série do Jason Vorhees no Corujão. Era dia de Globo Repórter sobre crendices e superstições. Ás vezes era até dia de ficar com um pouco de receio de passar embaixo de escadas, ou ter seu caminho cruzado por um gato preto ou, Deus o livre, quebrar um espelho. Apesar de muita gente ligar a má fama da sexta-feira 13 à mitologias judaico-cristãs, já os vikings tinham a sexta-feira, dia de Frigga, e o número 13 ligados ao azar e à desgraça. Eu não sabia de nada disso quando desenvolvi, ainda piá, uma leve frigatriscaidecafobia. Que é um dos nomes que se dá ao medo da sexta-feira 13. Eu simplesmente tinha medos irracionais, como da música tema de 2001 - Uma Odisseia no Espaço e de documentários em preto e branco. É engraçado que, com o passar do tempo, eu tenha perdido praticamente todos os meus medos... Não tenho mais medo do escuro, nem medo da música de 2001, nem de documentários em preto e branco, e a única coisa que veio me assombrar nessa sexta-feira 13 foi um cheque sem fundo emitido em 2004. Isso e... Bom. Mais uma coisinha.

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A Melissa e o Edgar conversando. E ela disse:
-Não fique bravo comigo.
Ele sorriu, mesmo triste.
-Não tô bravo. Nem magoado... Só... É, não... desculpa, eu sei que não tenho o direito, mas eu tô magoado, sim. - E olhou pro outro lado fingindo uma risada.
Ela não disse nada. Chegou a mover a mão pra tocar no braço dele quando ele olhava pro outro lado, mas conteve-se. Ele virou de volta:
-Eu entendo. Eu juro. Entendo mesmo. Só que... Só que aquela era a nossa foto, sabe? Eu tenho uma igual em um porta retrato perto da TV. Só que sou eu quem tá do teu lado.
A Melissa não respondeu. Suspirou e olhou pro outro lado. O Edgar chegou a mexer a mão pra tocar no cabelo dela, mas deteve-se.
Continuaram ali sentados.

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Agora, grave, mas grave, MESMO, é quando alguém na mesa de RPG, vestindo uma camiseta do Super Mario te chama de nerd.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Não Importa


É no filme Adaptação... Sabe qual? Aquele com o Nicolas Cage, Meril Streep, Chris Cooper e Tilda Swinton? É do Charlie Kaufman, o mesmo que escreveu Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança. É em uma parte em que o Charlie e o irmão gêmeo dele, o Donald, estão conversando, e o Charlie começa a relembrar uma história do passado com o Donald:
-Teve essa vez no colegial... Eu estava te vendo pela janela da biblioteca. Você estava falando com a Sarah Marsh.
E o Donald responde:
-Oh, Deus. Eu era tão apaixonado por ela.
E o Charlie continua:
-Eu sei. E tu estava flertando com ela. E ela estava sendo um amor contigo.
-Eu lembro disso. - Responde o Donald.
-Então, quando tu saiu, ela começou a caçoar de ti com a Kim Canetti. E era como se elas estivessem rindo de MIM! E tu não sabia de nada. Tu parecia tão feliz. - Revela o Charlie. Mas o Donald responde:
-Eu sabia. Eu ouvi elas.
E o Charlie, indignado pergunta:
-Mas como tu parecia tão feliz?
E o Donald, cheio de naturalidade responde:
-Eu amava a Sarah, Charles. Isso era meu, esse amor. Me pertencia. Nem mesmo a Sarah tinha o direito de tirar isso de mim. Eu amo quem eu quiser.
-Mas ela pensava que tu era patético! - Replica o Charlie.
-Isso era da conta dela, não minha. Você é o que você ama, não o que ama você. Foi isso que eu decidi muito tempo atrás. - Responde o Donald dando fim à discussão.
Pois é... É assim que funciona. Não importa o que aconteça. Isso é meu. Me pertence. E eu lamento, ninguém vai conspurcar o que eu sinto. Pois é, na falta de termo melhor, inefável...

Nem Tudo


Quando criança o Alceu estudava em uma escola que ficava a uma distância razoável de sua casa. Não era como se fosse em outra cidade, mas era em outro bairro. Podia-se chegar lá relativamente rápido usando-se transporte público, a questão é que, nem sempre o Alceu tinha grana pra isso, de modo que ele ia, geralmente a pé, de casa à escola. Não era uma grande caminho. Coisa de vinte, vinte e cinco minutos de caminhada. Em seu itinerário o Alceu passava por uma área aberta, onde havia um monumento e geralmente alguns sem-teto acampados sob um viaduto próximo. Nessa área aberta, não era raro o Alceu se deparar com restos de sangue, e animais mortos, provavelmente fruto das caçadas noturnas dos cães que os mendigos criavam. Era difícil o Alceu não passar pelos restos mortais de um pombo, rato ou outros bichos de pequeno porte.
Uma manhã, porém, em um mês de agosto particularmente gelado, Alceu viu um animal maior morto. Ao aproximar-se impelido pela curiosidade infantil através da onda de mal-cheiro proveniente tanto da falta de higiene dos mendigos quanto do animal morto, deparou-se com um gato. Um gato desses de pelos amarelos. Tinha uma lesão fatal no pescoço e outras próximas do olho que estava virado pra cima.
Ver animais mortos era comum para o Alceu, mas não animais domésticos. Cães e gatos eram bichos que o Alceu tinha com alguma conta, então, lhe entristeceu a visão daquele gato morto quase a ponto de fazer-lhe verter lágrimas. Mas apenas quase. Alceu seguiu seu caminho rumo à escola.
No dia seguinte, porém, passou novamente ali, e mais uma vez olhou o gato morto. E repetiu o trajeto e a parada para ver o animal diariamente, observando em detalhes a decomposição do gato. Observou-o inchar, sentiu o mau-cheiro piorar, viu quando o abdômen se rompeu revelando vermes, e conforme a pele do bichano se ressecava e se soltava enquanto o pelo se acumulava à margem do corpo até que restassem apenas ossos dispostos em formato de gato, e depois nem isso.
Tudo aquilo não levou um mês. E ainda que fosse um gato desconhecido, um animal pequeno ao qual Alceu jamais vira vivo, aquilo de algum modo ensinou-lhe uma lição que ele carregaria pra toda a vida:
Tudo nessa vida é passageiro. E tudo está fadado a morrer, se decompôr e sumir na esteira do tempo. Tudo.
Essa lição manteve Alceu seguro, dentro de um senso de observação científico que encara a tudo com normalidade e distância. Alceu, ao longo dos anos, recusou-se a sofrer por saber que tudo é transitório.
Até encontrar alguém especial, alguém capaz de tocá-lo e cativá-lo. Alguém que fez com que Alceu percebesse que nem tudo deve minguar e desaparecer.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Pra manter vivo.


A Fernanda chegou ao parque, cabelo preso em um rabo de cavalo bem grande, blusa branca, saia preta e tênis, e ficou olhando em volta segurando a alça da bolsa com as duas mãos. Vários metros adiante, o Roberto se levantou do banco onde estava sentado e ergueu o braço em um aceno, chamando a atenção dela. Fernanda suspirou e foi andando em direção a ele, que ficou parado, mãos nos bolsos da calça jeans larga, olhando enquanto ela se aproximava.
As mãos nos bolsos tinham sua razão, o Roberto não sabia se devia abraçá-la, ou não. Sabia que não estenderia a mão para cumprimentá-la como se faz quando encontra-se um tio-avô que não se vê a muito tempo, certamente que não. Sabia, também, que iria querer abraçá-la. Na última vez em que a vira não a abraçou. Se inclinou como se saudasse um lutador de karatê adversário e a beijou, de leve, no rosto. Não foi uma boa experiência. Havia se acostumado a abraçá-la nos últimos meses. Quando se conheceram, quando se viram, pela primeira vez ao vivo, ela o abraçou. Ele lembrava daquele sábado à noite em um dia particularmente quente de junho, quando após um dia inteiro de desencontros, finalmente iria vê-la. Ele estava de costas, olhando pra rua, e ouviu o ruído do salto dos sapatos dela na calçada e se virou. E ela estava ali. Linda, linda, linda. E sorriu pra ele, e andou em sua direção e o abraçou, e, meu Deus, como ela era perfumada... E dali em diante, quando eles se encontravam, sempre havia abraços. Ou melhor ainda, havia beijos, beijos como aquele que ela pedira de uma forma que não dava margem à negativas, como se alguém em sã consciência fosse querer negar-lhe um beijo. E agora aquilo, ele escondia as mãos dentro dos bolsos porque não sabia o que fazer quando ela se aproximasse.
Finalmente Fernanda chegou perto dele, apoiou sua mão direita no ombro esquerdo de Roberto, que se inclinou e recebeu um beijo no rosto. Ele sorriu pra ela enquanto se endireitava pensando com raiva na alegoria do lutador de karatê.
-Oi, tudo bem com você? - Ela perguntou, delicada.
-Sim. - Ele respondeu. -Tudo joia. E contigo?
Ela deu de ombros:
-Tudo bem...
Ele fez sinal pra que ela sentasse no banco junto com ele, ela sentou, juntando os joelhos enquanto colocava a bolsa a seu lado, e olhou pra ele.
Ele olhou de volta, direto nos olhos dela, nas sobrancelhas, também. Aquelas sobrancelhas arqueadas com uma qualidade meio Peter Pan, meio Shazam que ele tanto adorava desde a primeira vez em que as percebeu. Olhou as suas mãos, juntas sobre suas pernas, as mãos dela, pequenas, delicadas... Lembrou-se de quando haviam dado as mãos pela primeira vez. A caminho do cinema, ele nervoso a ponto de mal conseguir pensar nos que estava acontecendo... E as pernas dela, que ele achou lindas desde o primeiro vislumbre e que, por sorte, estavam sempre de fora fizesse chuva ou sol, frio ou calor. Ela parecia um pouco aflita. Ele entendia, ela estava com raiva dele, o que era perfeitamente natural considerando tudo.
Ele estava com raiva de si mesmo, como ela não estaria? Ele tentou se lembrar de como deixara certas coisas tomarem tão grandes proporções a ponto de se interporem entre ele e ela. Pensou na frustração de ver tudo tão perfeito e bem encaminhado degringolar. Pensou em se desculpar de novo por tê-la feito perder tempo. Pensou em tantas coisas pra dizer. Mas continuou olhando pra ela, vendo ali, a pouco mais de trinta centímetros de distância os lábios mais doces em que já colara os seus, o corpo onde estivera mais feliz em sua vida, e a pessoa mais especial que jamais imaginou existir. Ele sabia que as coisas iam mal, mas recusava-se a deixar pra lá, não podia conceber a ideia de perdê-la de vez.
Ela olhou pra ele de baixo pra cima, e perguntou:
-Por que tu me chamou aqui...?
Ele abriu a boca pra falar mas as palavras lhe faltaram:
-...
Não conseguia concatenar nada, mas antes reticências, que manteriam aquilo vivo, do que pontos finais.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Não ouse...


Não ouse não me dizer as coisas.
Não ouse se melindrar comigo.
Não ouse me ocultar tua raiva.
Não ouse esconder a tristeza.
Não ouse não sorrir pra mim.
Não ouse não me dar notícias.
Não ouse me sonegar tua voz.
Não ouse se acovardar de mim.
Não ouse engolir o choro.
Não ouse engolir o riso.
Não ouse me pedir pra te esquecer.
Não ouse me expulsar da tua vida.

domingo, 8 de abril de 2012

Resenha Cinema - Jogos Vorazes




Jogos Vorazes não era, nem de longe, a minha ideia de entretenimento pro sábado de aleluia. Mas, como eu queria ver se encontrava uma camiseta do Capitão América pra ir vestido a carater à estréia d'Os Vingadores, já estava no shopping, e sabia que Jovens Adultos não tinha estreado em Porto Alegre, mesmo, resolvi dar uma chance ao maior fenômeno da temporada norte-americana, e encarar as duas horas e vinte e dois minutos da adaptação do livro de Suzanne Collins.
O filme se desenrola nas ruínas do que, outrora, foi a América do Norte. Hoje, um amontoado de distritos paupérrimos ao redor de uma capital opulenta. Como represália por uma revolução que aconteceu mais de 70 anos antes, os doze distritos são obrigados a anualmente oferecer tributos à capital, esses tributos são dois jovens, um menino e uma menina, de doze a dezoito anos que competirão em uma mistura de arena de gladiadores com reality show, um torneio até a morte chamado Jogos Vorazes.
A história centra foco em Katniss Everdeen (A ótima Jennifer Lawrence), jovem que se oferece como voluntária para lutar no lugar da irmã. Junto com Katniss, vai Peeta Mellark (Josh Hutcherson), filho de padeiros, que irá, ao lado dela, representar o Distrito Doze na contenda letal.
Eu não li Jogos Vorazes, não sei como a trama do livro se desenrola, mas o filme, embora não seja bom, também não é ruim. Abre inclusive espaço para questionamentos à autoridade opressiva, livre arbítrio, e o fetiche da sociedade pela violência, claro, tudo tratado com a (falta de) profundidade que um filme que tenta ser o próximo Crepúsculo precisa demonstrar.
O diretor Gary Ross vai bem, e ajuda ter no elenco gente do calibre de Stanley Tucci, Woody Harrelson, Donald Sutherland e Jennifer Lawrence.
Ela, aliás, é um achado. Em tempos de personagens femininas que parecem anestesiadas e incapazes de pensar ou agir exceto pelo amor de seu vampiremo ou lobis-homo, a Katniss de Lawrence é decidida, agressiva, e apta, mas nunca masculinizada, o que fica, claro no obrigatório romance e no fato de a personagem principal estar dividida entre dois amores, mas mesmo isso é tratado com algum frescor pelo roteiro.
Com uma produção decente (confesso que ainda não saquei os figurinos da Capital, uma mistura de carnaval do Rio com concurso de drag queen, a gatinha Elizabeth Banks, por exemplo, está irreconhecível), trilha sonora OK, e um trabalho seguro de Ross e seu elenco, a trilogia de Collins pode virar uma série bem razoável de filmes. Se isso acontecer, já terá minha torcida pra superar a Saga Crepúsculo, e fazer as gurias se preocuparem mais em saber quem são e o que querem do que em tentar agradar ao seu namorado.

"Encare a probabilidade de sua morte iminente e saiba que não há absolutamente nada que eu possa fazer para ajudá-los."

sábado, 7 de abril de 2012

Resenha DVD - 50%


Feriado da sexta-feira santa, Porto Alegre deserta, trabalho no dia seguinte, como tornar menos modorrenta a noite em casa? Um filme é sempre uma boa pedida. Cinema? Era a minha escolha inicial, mas como o filme que eu queria ver, Jovens Adultos, não estreou em Porto Alegre (malditas sejam, distribuidoras!), me sobrou uma passada na locadora.
Lá encontrei esse 50%, estrelado por Joseph Gordon-Levitt, e que ainda tinha no elenco Seth Rogen, Anjelica Houston, Bryce Dallas Howard e Anna Kendrick. Como não havia lido muito a respeito do filme e curto o trabalho dos atores do elenco, resolvi arriscar.
Grata surpresa.
50% narra a história de Adam Lerner (Gordon-Levitt), um jovem normal de 27 anos que trabalha em uma rádio, tem uma namorada linda (Howard), um amigo inseparável (Rogen), e uma mãe super protetora com quem evita falar (Houston), sua vida, porém, sofre um tremendo abalo quando Adam descobre que sofre de um raro e agressivo tipo de câncer cuja taxa de mortalidade é de 50%.
A partir daí nos acompanhamos Adam enquanto ele lida com a aceitação de sua doença e seu tratamento, e como essa condição afeta não apenas ao protagonista, mas a todos aqueles que o cercam. Vemos Adam sofrendo os efeitos da químioterapia, tentando se habituar aos efeitos tanto da doença quanto do tratamento, conhecendo outras pessoas que sofrem do mesmo mal, tentando levar sua vida de maneira mais normal possível e fazendo terapia com Katherine (Kendrick), a jovem psiquiatra que lhe é designada pelo hospital.
Filmes sobre doenças, de modo geral não apresentam grandes novidades. Não é diferente com esse 50%, as apologias e lições sobre valorizar a vida, não deixar passar oportunidades e a importância de se ter pessoas que o amam por perto que estão em todos os demais longas sobre temas semelhantes se fazem presentes basicamente nos mesmos momentos em que aconteceriam em qualquer outro filme. Os maiores trunfos de 50% são o elenco, muito bom e, por estranho que possa parecer, o fato de o diretor Jonathan Levine fazer o longa, uma dramédia indie com direito à cinematografia meio chapada, a trilha sonora espertinha e tudo mais, funcionar basicamente dentro da estrutura de uma comédia romântica.
É quase um Quero Ficar com Polly com câncer e mais talento. Sem se levar excessivamente a sério, nem carregar demais nos tons dramáticos, 50% consegue fazer rir (Principalmente com o "amigo podrão" Seth Rogen) e emocionar, e embora dificilmente seja um filme inesquecível, ainda assim, nós acabamos nos importando com os personagens, o que mais uma dramédia indie pode almejar?

"-Eu lamento não ter ido à sua exposição, mas é que eu te odeio tanto..."

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Rapidinhas do Capita


Os três amigos contavam vantagem.:
-Meu filho é um engenheiro premiadíssimo, trabalha na OAS, e está tão rico que deu uma mansão de presente a um amigo. - Diz o primeiro.
-Isso não é nada - Faz pouco caso um segundo. -Meu filho é criador de cavalos e tem um haras que fornece garanhões para os maiores campeões do hipismo. Está indo tão bem que no último mês deu um cavalo a um amigo, o animal era tão bom que botava o Baloubet du rouet no chinelo.
O terceiro fez um som de escárnio e disse:
-E o meu filho, que administra a maior empresa de importação de veículos da américa? É tão rico que se deu ao luxo de presentear um amigo com um Phantom da Chrysler.
Ficaram os três em silêncio até que um quarto amigo apareceu. Os três exibidos não resistiram e foram logo perguntando:
-E tu, Walter? O que teu filho faz da vida?
-E garoto de programa. - Respondeu o Walter, resignado.
-Garoto de Programa? - Inquiriram os três exibidos em uníssono.
-Sim. Garoto de programa. Agrada bichas ricas sexualmente em troca de dinheiro.
-Puta merda - Disse um deles. - E tu aprova isso? Não te envergonha?
-Olha, tchê, - Disse o Walter. -Aprovar eu não aprovo, mas ele tá indo bem. Nesse último mês só de três clientes ele ganhou uma mansão, um cavalo premiado e um carrão importado.


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Eu adoro RPG. Comecei a jogar RPG com cerca de 14 anos de idade. Jogava as versões mais simples, tipo First Quest, um D&D pra gente lenta que vinha com livrinho, miniaturas, dados e fichas de personagens prontas.
Achei maneiro. Peguei gosto pela coisa.
Joguei AD&D, AD&D 2º edição, joguei e jogo AD&D 3.5, joguei e jogo Star Wars SAGA, joguei O Senhor dos Anéis CODA, joguei Vampiro - A Máscara e Lobisomem - O Apocalipse, jpguei Call of C'thullu, tentei jogar Gurps, RPGs genéricos em Live Action e até Defensores de Tóquio.
De alguns gostei muito, de outros gostei pouco, e de alguns sequer gostei. Mas não saí mais da mesa. Tenho muitos amigos que jogam a anos, e que jogaram na adolescência e depois pararam, e posso dizer que entendo um pouco de RPG e RPGistas.
E tenho que dizer que se há algo que me incomoda com relação ao RPG, é o rótulo de maluco que insistem em colar em quem joga. Nunca entendo porque ligam o RPG a gente pirada.
A maioria das pessoas com quem joguei não se vestiam de preto, não matavam os amigos jogando Live Action, e jogavam RPG no começo da tarde e à noitinha iam pro parque jogar futebol...
Claro, conheci pessoas que se diziam RPGistas mas que eram, na verdade, fanáticos bitolados incapazes de separar o jogo da vida real, mas a proporção era ínfima.
Nem todo o RPGista é um assassino serial em potencial. Se a generalização é errada em toda parte, porque no RPG seria diferente?
Mães e pais do mundo, não impeçam seus filhos de jogar RPG, e nem proibam suas filhas de namorar RPGistas.
Nem todos nós somos malucos, na verdade, a maioria de nós são bem legais.

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Eu adoraria dizer que foi um lapso. Mas estaria mentindo.
Na verdade, é um hábito. Inclusive é um hábito bem agradável, diga-se de passagem.
Não sei deixar passar uma oportunidade de tentar te fazer sorrir.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Quadrinhos: Sandman Apresenta 1: As Fúrias


Semana passada eu casualmente me deparei com o encadernado Sandman Apresenta 2 - Os Caçadores de Sonhos em uma livraria que frequento perto do trabalho. Após ler a ótima história, vi meu vício por Sandman ser reavivado, e, embora eu tenha praticamente tudo o que já saiu do universo do personagem em casa pra reler, achei que seria interessante procurar pelo Sandman Apresenta 1, que eu sabia que existia mas não fazia nem ideia de que se tratava...
Passei na mesma livraria, e contando com a paciência da atendente, descobri que o primeiro volume da coleção tratava das Fúrias.
Agora, aqui vai um alerta. Se tu não leu Sandman ainda, primeiro, vá tomar vergonha na cara e ler, e, segundo, se tu não gosta de spoilers, não prossiga, pois aparecerão muitos na sequência.
Ainda aqui? OK, então.
Esse volume trata das Fúrias, entidades da mitologia grega que punem àqueles que derramam o próprio sangue de sua família, e que mataram Morpheus dos Perpétuos; Da Imago Hoppolyta Hall, meio humana e meio fúria, mãe de Daniel Hall, criança gerada nos domínios do Sonhar, e do próprio Daniel, que assumiu o manto de Sonho após a morte de Morpheus.
O roteiro de Mike Carrey mostra Hippolyta às voltas com seu luto pouco convencional pelo sumiço e presumida morte de Daniel. Entre acessos de ira e sexo casual com desconhecidos Hippolyta acaba presa, e, por acaso, encontra o telefone da companhia de teatro Canto do Bode entre as opções de terapia que lhe são oferecidas na delegacia.
Ela entra em contato com os atores e acaba viajando com a trupe à Grécia, como intérprete, e isso a coloca no meio de um plano nefasto arquitetado por Cronos, o Titã, para se vingar do Olimpo tomando o lugar das Fúrias como mestre da Vingança, e também pode colocá-la na estrada pra se reencontrar com Daniel e refazer sua vida, ou destruí-la de vez.
É uma boa história. O autor, Mike Carey tem um trânsito decente pelo selo Vertigo, e escreveu Hellblazer e Lúcifer, logo, não é um total estranho à mitologia de Neil Gaiman.
O escritor trafega com segurança pelos domínios dos Perpétuos, mas falta-lhe um pouco da finesse que Gaiman esbanjava, nada de espantoso, claro, e nem que tire a qualidade da história que ele conta, especialmente quando os ótimos desenhos de John Bolton enchem as páginas com painéis com a maior cara e pintura e a atmosfera é bastante familiar a qualquer um que tenha adentrado Fiddler's Green e a Biblioteca de Lucien.
Sandman Apresenta - As Fúrias é uma história bastante agradável, e embora permaneça a vontade de ver o novo Sonho escrito por Gaiman, a versão de Carey não ofende, e até satisfaz.

"-Existem regras. Fora do Sonhar, você não pode fazer nada a não ser me observar, e você sabe disso.
-É verdade. Mas você está dentro do Sonhar. Onde as únicas regras são as minhas."

terça-feira, 3 de abril de 2012

O Crível Homem Que Encolheu


O Marciano tinha problemas. Muitos problemas. Problemas de agora e de ontem, tinha o Marciano. E a perspectiva de sabe Deus quantos novos problemas amanhã.
A vida de Marciano parecia resumir-se a ser sempre um escravo de seus problemas. O Marciano era incapaz de relevar qualquer coisa. Levava a vida à ponta de faca, esbravejava, esperneava e afugentava quem queria estar por perto.
Claro, há que se descontar que parcela de seus problemas não eram de sua inteira responsabilidade. O Marciano tivera problemas enquanto crescia. Uma família disfuncional obviamente não faz bem a ninguém, não teria feito ao Marciano. Algumas escolhas infelizes na juventude, também. O Marciano teve amigos errados... Mulheres erradas, mesmo raras... Prazeres errados... E pagou o preço.
Por muito tempo, diga-se de passagem. Todos fazem escolhas de que se arrependem em algum momento, claro, e, claro, todos pagamos o preço. Mas nem todos tornam-se escravos de suas más escolhas.
Mas Marciano tornou-se.
Marciano, fosse por escolha ou sina, transformou-se em um produto de escolhas erradas. E, por escolha ou sina, jamais quis reformá-las.
Marciano envelheceu afastando de perto de si qualquer pessoa que fosse teimosa o suficiente para tentar ficar perto dele e ser, francamente, seu amigo. Jamais deixou de punir exemplarmente uma tentativa de aproximação ou gesto de boa vontade.
Marciano achava que o mundo conspirava contra ele às suas costas e tornou-se, por escolha ou sina, uma pessoa desconfiada e desagradável.
Marciano diminuiu-se ao aumentar o escopo de qualquer coisa, por ínfima que fosse, que o desagradasse.
E finalmente, ficou pequeno demais para que qualquer pessoa se importasse com ele.

Qualquer Coisa...


A Giovana andava triste naqueles dias se começo de outono. Ela não chegou a traçar o paralelo de como o desfolhar das árvores e o verde e o amarelo e o lilás vivos do verão dando lugar ao laranja, vermelho e marrom do outono de certa forma retratavam o que se passava no seu coração. Giovana também não fez ligação do fato de que o calor intenso dos dias de fevereiro ir dando lugar a dias de temperatura amena e até mesmo fria de fato na metade de março podiam ser traduzidos com o que acontecera com o calor que outrora lhe aquecera a alma.
Giovana não pensou nisso.
Ela não pensou em nada disso.
Giovana pensou, certamente, em tocar a vida. Em trabalhar, sair com seus amigos, tentar se divertir, ver bons filmes, ler bons livros, assistir um pouco de TV... Ela pensou nisso.
Todavia nem sempre era fácil levar a cabo tais ideias, e em mais de uma ocasião, Giovana entregou-se à melancolia típica daqueles que têm o coração metaforicamente partido.
Giovana pegava-se, volta e meia, pensando e Cássio.
Pensando em como Cássio e ela tinham tudo para dar certo. Em como eles partilhavam gostos, desgostos, coincidências da vida, quartos, camas, táxis e lábios e em como tinham chegado a imaginar partilhar tanto mais... Uma vida... Um filho, dois filhos, três filhos, uma família, uma Liga da Justiça, um futuro... Giovana pensava nisso e logo afastava tais pensamentos como fazemos com um inseto renitente, chegava quase a acenar com a mão na esperança de fazer com que tais pensamentos se desvanecessem como fumaça de um incenso de cheiro enjoativo.
Giovana, afinal de contas, sabia quem era. Sabia do que era capaz. Tinha a sensação de ter dobrado de tamanho nos últimos meses apenas pela força que descobrira em si. Não se olvidaria dessa fortaleza. Não se entregaria à autocomiseração e nem tampouco deixaria de viver. Se aprendera algo enquanto sua história com Cássio era vivida, fora que gostava de viver. E ela era jovem, e bela, e inteligente, e sairia daquilo mais sábia do que entrara, tinha certeza.
Claro... Talvez adiasse alguns planos... Reformulasse outros... Talvez ela não quisesse mais uma liga da Justiça de filhos no futuro... Talvez quisesse... Enfim, tinha tempo, tinha disposição, e as ferramentas necessárias para fazer a vida funcionar... Precisava apenas repensar algumas coisas.
Enquanto isso, em alguma outra parte, Cássio, imerso em seus próprios pensamentos, dúvidas e angústias também pensava em Giovana. Esse pensamento apunhalava seu coração e seu pensamento pois eram indeléveis as marcas que Giovana, com sua pertinaz determinação, deixara em seu peito. Cássio a desejava todos os dias de manhã à noite. E não apenas o seu corpo bem feito, sua pele macia, seus cheiros e sabores... Não... Tudo isso o encantava, claro, mas ele queria o conjunto todo. Todas as coisas, algumas inclusive idiossincráticas, que a tornavam quem ela era. Ele precisava, porém, de tempo... Tempo para resolver sua vida, e então poder dizer à ela como a desejava... E que, ao lado dela, estava e sempre estivera disposto a formar e partilhar uma vida... Um lar, uma família. Um filho... dois... três... Um Quarteto Fantástico, uma Liga da Justiça, Vingadores, Sociedade do Anel, Tropa dos Lanternas Verdes, Ordem Jedi... Ao lado dela, qualquer coisa...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Resenha Cinema: Um Método Perigoso


Eu sou um grande admirador de David Cronenberg.
O diretor canadense de filmes como A Mosca, Gêmeos - Mórbida Semelhança, Videodrome, Scanners - Sua Mente Pode Destruir, A Hora da Zona Morta, Crash - Estranhos Prazeres sempre teve sua filmografia ligada à violência explícita. Essa ligação de sua filmografia com uma qualidade gore chegou a lhe render o nada elogioso apelido de Barão do Sangue, mesmo que seus longas não fossem terrores slashers tradicionais. Muito pelo contrário. Cronenberg tem no seu cartel alguns ótimos suspenses, mas pelo que me lembro, o que mais se aproxima de um terror de fato na sua lista de filmes é a ficção científica A Mosca, coincidentemente aquele que é seu filme mais repleto de sangue, tripas e (muita) gosma.
A predileção de Cronenberg pela violência explícita, porém, sempre foi muito uma questão de estilo do realizador. Talvez uma crítica constante ao tratamento díspar que se dá ao binômio sexo e violência, duas facetas inerentes do ser humano, e onde, estranhamente, sexo escandaliza mais do que eviscerações...
De toda a sorte, o estilo de Cronenberg se refinou com os anos. Seus últimos filmes, o excepcional Marcas da Violência e o ótimo Senhores do Crime tinham, ainda, a presença tanto da violência explícita e altamente gráfica quanto o tratamento aberto da sexualidade. E, em seu novo trabalho, este Um Método Perigoso, o canadense voltou a tratar dos dois temas, e, á despeito de economizar em nudez (Quase nenhuma) e violência (pouca.), esse é provavelmente o seu trabalho que os abrange com mais franqueza.
No filme que adapta o livro A Very Dangerous Method, e a peça The Talking Cure, acompanhamos Carl Jung (Michael Fassbender) e seu trabalho empregando o método da psicanálise em Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma jovem russa com tendências masoquistas, bem como sua relação com Sigmund Freud (Viggo Mortensen).
Em se tratando de um filme sobre psicanalistas, há que se ter em mente que Um Método Perigoso é um filme arrastado em diversos momentos. O roteiro, porém, é sólido, e embora pareça haver uma fixação do roteirista por tratar a relação entre Jung e Freud como uma parábola ao holocausto, isso não chega a incomodar. As interações entre os protagonistas são muito interessantes e bem desenvolvidas, se existe o peso da discussão de temas mais duros como as doenças psicológicas aceitação de suas características enquanto indivíduo e inveja, ainda há espaço para algumas ótimas tiradas sarcásticas, especialmente entre Jung e Freud, com sua fixação na ideia de que tudo está ligado ao sexo e seu conforto no papel de patriarcal autoridade máxima da psicanálise.
Aliás, Mortensen está excelente no papel, sem dizer nada, apenas parado lendo uma carta, o ator convence como pai da psicanálise mesmo antes de sua caracterização alcançar a imagem de Freud que todos conhecem. Michael Fassbender mantém sua série de boas performances recentes como um Jung humano e repleto de falhas de caráter. Keira Knightley, por sua vez, não chega no mesmo patamar dos colegas. Não que lhe falte empenho, aliás, pelo contrário. A gatinha inglesa se esforça tanto que acanastra sua Sabina Spielrein, especialmente no primeiro terço do filme, quando ela está internada. Seus trejeitos exagerados com direito a gestos desconexos e uma projeção de queixo de deixar Marlon Brando e Brad Pitt com inveja não convencem, mas certamente não estragam o filme, e, depois que Sabina se livra de sua condição, Keira melhora bastante, também.
Há ainda a interessante participação de Vincent Cassel, como Otto Gross, psiquiatra psicótico que foi paciente de Jung e inspirador da teoria bleueriana da esquizofrenia.
Enfim, Cronenberg mostra que amadureceu, e que apesar de ainda ter predileção por sexo e violência, tornou-se um diretor competente o suficiente para tratar dos temas sem a necessidade de grafismos chocantes.
Palmas pra ele.

"Ás vezes temos que fazer coisas imperdoáveis... Apenas para sermos capazes de continuar vivendo."

Game of Thrones: Segunda Temporada


Vou confessar que vi o primeiro episódio de Game of Thrones no ano passado carregando uma reticência quase total. A simples ideia de uma série de TV baseada em um livro de fantasia medieval me fazia pensar em mais uma tentativa de emular O Senhor dos Anéis e me arrancava bocejos.
Ver que um dos atores principais da empreitada era Sean Bean, aparentemente com a mesma peruca do Boromir não ajudava. Não...
Definitivamente Game of Thrones não me chamava a atenção.
Eu não vi o primeiro episódio na estréia. Tampouco vi o segundo. Olhei daqui e acolá partes de reprises, apenas. E não me empolguei. Algumas escrotíssimas listas de itens que procuravam mostrar porque Game of Thrones era melhor do que O Senhor dos Anéis apenas aumentou minha antipatia pela série. Foi apenas após uma incursão à uma livraria que frequento, e uma olhada por cima no livro um das Crônicas do Gelo e Fogo de George R. R. Martin, que resolvi dar uma chance à série.
E foi o que bastou para, livre de preconceitos, me afeiçoar a Eddard, Caitlin, Bran, Hobb e Arya Stark, Tyrion, Cersei e Jamie Lannister, Daennerys Targaryen, Khal Drogo, Robert Baratheon, Jon Snow e vários outros personagens riquíssimos em uma história de fantasia medieval dura e crua, repleta de intrigas palacianas.
O que falta a Game of Thrones em termos da magia e do impacto que sobram em outras histórias do mesmo gênero é compensado pela criação de personagens que exalam realismo mesmo no ambiente fantástico de Westeros. Embora hajam heróis autênticos em Game of Thrones (Eddard Stark e Jon Snow, por exemplo...) não existe aquele grande vilão óbvio. Os Lannisters, por desprezíveis que sejam em várias ocasiões, ainda são personagens interessantes, especialmente Tyrion (Peter Dinklage, ótimo no papel), os bárbaros Dothraki, de Khal Drogo são saqueadores, estupradores e assassinos, o rei Robert Baratheon era um monarca irascível acovardado e mais interessado em vinho e prostitutas do que em conquistas, e ainda assim, nós simpatizávamos e nos importávamos com eles em diversas ocasiões.
A primeira temporada se foi. Personagens que supúnhamos protagonistas morreram. Alianças que julgávamos sólidas se desfizeram em traições e ardis. O poder mudou de mãos, guerras foram declaradas, forças julgadas extintas reveladas e novos perigos passaram a espreitar de além da Muralha e nós passamos quase um ano roendo as unhas e esperando pelo reinício da série...
Ontem às dez da noite na HBO finalmente a espera foi recompensada. O episódio The North Remembers nos levou de volta à uma Westeros mergulhada na guerra dos Stark e do norte contra a king's Landing e o trono de ferro nas mãos dos Lannister. Mostrou que as coisas não vão bem para a Khaleesi Daenerys Targaryen, seus dragões e seu khalasar improvisado, que Joffrey não é um rei dos mais populares, e que além da Muralha coisas sinistras tomam posição, além de apresentar novos personagens e muita lenha pra jogar na fogueira. Mostrou, também, que Westeros ainda é um lugar complicado pra se viver se você não for versado nas artes da intriga, e mesmo assim, ainda poderá ter problemas. Mas acima de tudo, mostrou que o público pode se preparar para mais uma fornada de episódios de uma série excelente, com elenco afiado e produção caprichadíssima com o padrão HBO de qualidade.
O único defeito de Game of Thrones até aqui?
Uma semana é tempo demais pra esperar pelo próximo episódio.

"-Três vitórias não o tornam um conquistador.
-Melhor do que três derrotas..."