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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Resenha Cinema: As Vantagens de Ser Invisível


Este ano de 2012 tem sido pródigo em relação a bons filmes. Grandes filmes como A Invenção de Hugo Cabret e O Espião Que Sabia Demais, produções espetaculosas como Os Vingadores e Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, e pequenas pérolas que surgem quase às escondidas no cinema e que mereciam ser vistas como Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo e Deus da Carnificina deram as caras pelos cineplexes da vida desde janeiro, e ainda há tempo para 007 - Operação Skyfall e O Hobbit, pra ficar só nos óbvios, o que me leva a pensar se nesse, que deve ser nosso último ano na terra de acordo com os Maias, não estamos tendo uma safra cinematográfica tão boa quanto a que tivemos em 1999...
Enfim... É de outra pequena pérola que chegou quase escondida aos cinemas e que certamente merece ser vista que vou falar.
As Vantagens de Ser Invisível, filme escrito e dirigido por Stephen Chbosky baseado em seu próprio romance, conta a história de Charlie (Logan Lerman), um adolescente de quinze anos que andou passando por maus bocados.
Charlie é um jovem traumatizado que perdeu seu melhor, e talvez único amigo, sofreu com depressão, alucinações e tentativas de suicídio. Como desgraça pouca é bobagem, Charlie ainda está prestes a começar no ensino médio, o high school americano que separa "popular kids" de "loosers" por alguns sofridos anos de segregação.
É justamente no colégio que o calouro Charlie conhece Patrick (Ezra Miller), veterano boa gente, e sua adorável meio-irmã Sam (Emma Watson), e junto com eles, passa por sua obrigatória jornada de auto-descoberta, amadurecimento e crescimento.
Não, não se preocupe.
As Vantagens de Ser Invisível não é uma dessas dramédias adolescentes xaroponas que volta e meia a gente vê na TV a cabo nem um desses filme/livros romântico adolescentes como Crepúsculo ou Jogos Vorazes ou nenhuma dessas besteiras. As Vantagens de Ser Invisível é muito mais filme, e tem muito mais trunfos.
Um desses trunfos, é justamente o fato de o diretor Stephen Chboski ser roteirista do filme, e ter escrito o livro que adapta. Ele sabe sobre o que quer falar, e se importa com os personagens, evitando que o longa se pasteurize de qualquer maneira, e isso fica claro no outro trunfo do filme: O elenco que ele escalou pra povoar seu mundo e contar sua história:
Logan Lerman, Emma Watson e Ezra Miller.
O que poderia parecer um longa estrelado por Percy Jackson, Hermione e o psicopata adolescente de Precisamos Falar Sobre Kevin encontra nas vozes dos três talentosos protagonistas tudo o que precisa pra tocar a audiência.
Logan Lerman está excelente. Seu Charlie é um jovem perfeitamente verossímil, cheio de nuances, e dono de um silêncio que muitas vezes diz tudo.
Emma Watson está adorável. A ex-frequentadora de Hogwarts mostra uma menina cheia de bagagem ruim, maus namorados, tentando se encontrar em outros antes de si própria, e Ezra Miller... Bom, Ezra Miller é um mutante. Seu Patrick rouba todas as cenas em que aparece, tamanho seu talento e naturalidade.
As Vantagens de Ser Invisível é uma bela história de crescimento, é uma ode à adolescência e aos fugazes amores eternos pelos quais todo mundo passa nessa fase, embalada por boas canções dos anos oitenta e noventa (período mo qual o filme se passa), fruto de uma direção honesta, um roteiro apaixonado, e atuações apaixonantes.
Quem dera toda a história de amor adolescente fosse assim. Honesta. Franca. Talentosa... E livre de vampiros.

"Nós aceitamos o amor que julgamos merecer."

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quadrinhos: Grandes Astros: Superman


Lá em meados de 2004, 2005, quando todo mundo pensou que a DC fosse criar uma versão própria do Universo Ultimate, que fazia um puta sucesso na Marvel, esqueceram de um detalhe importantíssimo: A cronologia da DC é tão zoada, e cheia de universos paralelos que a última coisa que a editora precisa fazer é criar mais um pra recontar as origens de seus heróis do zero. Quando eles querem fazer isso eles apenas recomeçam tudo com alguma CRISE, e segue o jogo, tão aí os Novos 52 que não me deixam mentir.
Então, espertamente, ao invés de recontar a origem de todos os seus heróis em (mais) um mundo paralelo, o que a DC resolveu fazer foi dar carta branca a uns criadores consagrados pra que eles contassem uma história de um personagem sem se preocupar com a cronologia vigente, ou qualquer cronologia.
Aliás, registre-se aqui, que é por coisas como essa que a DC tem muito mais "histórias definitivas" pros seus personagens do que a Marvel.
A Distinta Concorrência da Casa das Ideias volta e meia libera criadores pra contar uma história atemporal, atípica, e geralmente fodona, com um de seus personagens mais mainstream. É por isso que é tão difícil escolher uma história preferida do Batman, por exemplo. É um personagem que tem umas dez histórias "definitivas".
Enfim, nesse caso, o selo da tal "carta branca" era o tal Grandes Astros (All Stars no original), e começou com os dois grandes medalhões da Diabólica Companhia:
Batman e Superman.
Por estranho que pareça, o Morcegão se deu mal nessa. Caiu na mão do roteirista Frank Miller, que já tinha sentado na graxa com Cavaleiro das Trevas 2 e do artista Jim Lee, e Grandes Astros: Batman & Robin, mesmo sem ser horrível, se perdeu nas areias do tempo, e ficou no rodapé da história do morcegão nos quadrinhos.
Melhor sorte teve o Homem do Amanhã. Grant Morrison, acompanhado do desenhista Frank Quitely e do arte finalista/colorista Jamie Grant escreveu aquela que ao lado de Superman - As Quatro Estações e O Que Aconteceu ao Homem do Amanhã? é a mitologia definitiva do Homem de Aço.
A obra, vencedora de prêmios Eagle, Eisner e Harvey foi originalmente publicada no Brasil em formato de mini série, em doze capítulos lançados entre 2006 e 2008, e desde então, jamais dera as caras novamente.
A Panini finalmente se deu conta da injustiça, e lançou nesse mês de Outubro Grandes Astros: Superman - Edição Definitiva, compilação das doze edições da série em um único volume de 308 páginas com vários extras inéditos, incluindo esboços de Quitely (O desenhista que mostrou ao mundo como é que o Superman podia convencer todo mundo que era Clark Kent e que os dois não eram a mesma pessoa) e notas de Morrison.
Grandes Astros: Superman mostra o que acontece quando o último filho de Krypton absorve uma carga excessiva de energia solar ao resgatar um grupo de pesquisadores na superfície do Astro-Rei, vítimas de uma armadilha de Lex Luthor.
Envenenado pela overdose de radiação solar, o herói descobre-se correndo contra o tempo para preparar o mundo para existir sem o seu maior campeão.
Grant Morrison entende demais do riscado. Quando não está convencido de que é um gênio, ele é genial, e foi o que aconteceu na época de Grandes Astros: Superman.
O escocês estava apenas contando uma história com o maior herói do mundo. Uma história inteligente, empolgante, tocante, grandiosa e irretocável, com o maior herói do mundo.
Da primeira página, com a origem do herói contada em apenas quatro sucintos quadros,
à última, mostrando o quanto Kal-El está disposto a sacrificar pela humanidade, nós vemos a história definitiva de Superman contada por uma equipe de criadores excepcional.
Os devaneios tecnológicos e filosóficos de Morrison, a arte espetacular de Frank Quitely e as lindas cores digitais de Grant trabalham com precisão de orquestra para pintar o mais belo retrato do Universo do Superman em muito tempo.
A Lois Lane mais apaixonante, atrevida e linda, o Jimmy Olsen mais porra louca, Perry White, Cat Grant e Steve Lombard, os adoráveis Jonathan e Martha Kent, a Zona Fantasma, a mais espetacular versão da Fortaleza da Solidão, um Bizarro de partir o coração e um odioso Lex Luthor, está tudo lá, na melhor forma, com o melhor conteúdo, lançando um olhar inovador e ao mesmo tempo reverente sobre o pai de todos os super-heróis.
A edição definitiva, obrigatória pra qualquer forma de vida baseada em carbono capaz de ler e que já tenha passado os olhos em cima de um quadrinho de super-herói está nas livrarias em edição bonitona, com capa dura, papel couché no miolo e formato 18,5 x 27,5 Cm, custa R$79,00 que a gente paga rindo satisfeito, e coloca na estante pensando em quando vai ler de novo.

"Planeta condenado. Cientistas desesperados. Última esperança. Casal bondoso."

Quadrinhos: Batman - Vitória Sombria


Quer saber quando comprar um gibi na certeza absoluta de que não vai se arrepender de tê-lo comprado após a leitura?
Procure na capa pelos nomes de Jeph Loeb e Tim Sale.
Essa dupla é responsável por algumas das mais belas histórias de super-heróis da última década. Coisas como Homem-Aranha: Azul, Hulk: Cinza, Superman - As Quatro Estações e Batman - O Longo Dia das Bruxas, todos trabalhos muito acima da média, repletos de uma sensibilidade ímpar, e extremamente divertidos.
Recentemente republicada pela Panini Books, essa Batman - Vitória Sombria, um calhamaço de quase quatrocentas páginas, é meio que uma sequência direta de O Longo Dia das Bruxas.
Ela mostra o que acontece quando uma fuga em massa no Asilo Arkham (O sanatório judicial com a pior segurança do mundo...) se dá durante as investigações de uma série de homicídios de policiais ligados a Harvey Dent, o Duas Caras, e cujas pistas apontam para a possível volta do assassino Feriado.
Ao mesmo tempo conta que as famílias mafiosas de Gotham estão se vendo numa posição complicada entre a polícia, agora chefiada pelo incansável comissário James Gordon, os criminosos insanos do Arkham, e a cruzada inexorável do Cavaleiro das Trevas contra o crime em todas as suas formas.
A trama ainda mostra a complicada relação de Batman com a Mulher Gato e o mundo em geral, e os primeiros passos de Dick Grayson como o Robin.
Como toda a história fechada de Loeb, Vitória Sombria é muito boa. E já que é estrelada por um Batman que ainda não é O Batman que todos conhecem, a trama flerta com a inexperiência de um homem morcego em início de carreira, sua dificuldade de confiar em quem o cerca após a tragédia de Harvey Dent (Pela qual se considera responsável), mesmo pessoas acima de qualquer suspeita, como Jim Gordon e o Alfred, e até em uma insuspeita relação de amor e ódio com o pai, Thomas Wayne.
Os desenhos esquisitos de Tim Sale dão o seu recado com a competência habitual, compensando a falta de apuro anatômico com uma quantidade gigantesca de expressão.
Pra quem gosta de quadrinhos em geral, especialmente fãs do Batman e amantes de O Longo dia das Bruxas, é essencial.
Com 396 páginas, capa dura e miolo em papel couché, Batman - Vitória Sombria vale os 96 reais que custa, mas na Livraria Saraiva, pelo menos até semana passada saia, com desconto, por 76 mangos.

"Harvey Dent era... Meu amigo."

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Rapidinhas do Capita



Primeiro Trailer de Homem de Ferro 3

A Marvel já vinha atiçando os fanboys com teasers de teasers (micro vídeos de quinze a vinte segundos) de Homem de Ferro 3 desde o final de semana. Hoje, porém, foi lançado oficialmente a primeira prévia de verdade do filme.
Confira o Mandarim (Sir Ben Kingsley) aterrorizando Tony Stark:



Homem de Ferro 3, dirigido por Shane Black, que ocupa a vaga de Jon Favreau, estréia no Brasil em 26 de abril de 2013


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Coulson Vive!
Só Marvel Studios, hoje. Clark Gregg, o agente Phil Coulson de Homem de Ferro, Thor, Homem de Ferro 2 e Os Vingadores vai estar na série de TV da SHIELD, que Joss Whedon e a Marvel desenvolvem para a ABC.
A série que não terá envolvimento direto com os filmes dos estúdios da Casa das Ideias apresentará o cotidiano da maior agência de espionagem dos quadrinhos e terá seus personagens próprios.
A atriz Summer Glau, a bonitinha Cameron da extinta Terminator - The Sarah Connor Chronicles, que já trabalhou com Whedon em projetos como Firefly e Dollhouse á afirmou publicamente que gostaria de estar no projeto.

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E já que estamos falando só disso, Frank Grillo, ator de A Perseguição e Guerreiro, afirmou em seu twitter ter sido testado para um papel em Capitão América - O Soldado Invernal, sequência do longa do Sentinela da Liberdade que deve estrear em 2014.
O papel para o qual Grillo teria feito teste é o do vilão Ossos Cruzados, seguidor do Caveira Vermelha (Que se depender de Hugo Weaving não aparecerá mais nos filmes da Marvel...) e inimigo habitual do Capitão América nos quadrinhos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Resenha Cinema: Os Infratores


Eu confesso que já andava de saco cheio de ver o trailer de Os Infratores em todos os filmes que eu ia assistir no cinema. Já não suportava mais a cara de ovo do Shia LaBeouf cantando a Mia Wasikowska, o Tom Hardy grunhindo e o Guy Pearce falando com vozinha fina na inserção que andou praticamente onipresente nas salas de cinema nos últimos dois meses.
Não é menos verdade, porém, que eu fiquei muito interessado em ver o filme.
Ontem, com alguns dias de atraso, fui ao cinema assistir Os Infratores, e gostei demais.
O filme se passa em 1931... São os anos da grande depressão nos Estados Unidos. Impera a Lei Seca. No pacato condado de Franklin, Virgínia, três irmãos lucram contrabandeando uísque e conhaque artesanal destilado em seu próprio alambique.
São os irmãos Bondurant, Jack (Shia LaBeouf), Forrest (Tom Hardy) e Howard (Jason Clarke), bastante satisfeitos com sua vidinha pacata, exceto por Jack, o caçula que narra a história e sonha em ser como os grandes gangsteres de Chicago como Floyd Banner (Gary Oldman), e despreza a falta de visão dos irmãos mais velhos.
A rotina tranquila dos Bondurant, porém, acaba, com a chegada das autoridades ao condado na forma do ajudante especial Charlie Rakes (Guy Pearce), que surge para, ou conseguir uma bela fatia dos lucros da contravenção local, ou acabar de vez com ela, o que o coloca em rota de colisão com os obstinados Bondurants, levando o pacato condado à uma verdadeira guerra.
É ótimo o filme de John Hillcoat, o diretor australiano do bom A Proposta, e do excelente A Estrada, em mais uma parceria com o multi-homem Nick Cave, autor do roteiro baseado no livro The Wettest County In The World, de Matt Bondurant, neto do Jack verdadeiro.
O cineasta faz um filme de gângster em que some a figura cinematográfica do bandido simpático e charmoso como o John Dillinger de Inimigos Públicos, e do agente federal obstinado e incorruptível da estirpe de Elliot Ness em Os Intocáveis e faz um retrato distorcido do gênero, criando o agente federal corrupto e cheio de trejeitos afetados de Guy Pearce, e os mafiosos caipiras que, ou são trogloditas brucutus monossilábicos como o personagem de Hardy, ou são deslumbrados incautos como o Jack de LaBeouf, mantendo como regra apenas a violência (extremamente gráfica em varias e ótimas sequências) e a vaidade dos protagonistas, que gastam uma grana federal em roupas da moda e carrões, se penteiam e perfumam com esmero, ou apenas acreditam em sua própria lenda.
Claro, desconstrução, por si só, não basta, mas Os Infratores tem mais a oferecer.
Toda a parte técnica, com ótima fotografia, boa trilha sonora e efeitos visuais está excelente, a direção de Hillcoat é estilosa, dá o recado sem ser invasiva, e oferece aos atores espaço para trabalhar, o que faz com que a audiência se envolva com os personagens, tornando difícil não simpatizar com Forrest, o ogro blasé interpretado com serenidade por Hardy, ou não se apiedar em alguns momentos, e se irritar em outros com o coitadismo de Jack, interpretado com esmero por um Shia LaBeouf (desesperado por credibilidade artística depois de Transformers e mais Transformers) e sentir repulsa pelo excessivo Rakes de Pearce. Há ainda no elenco a bonitona e ruivíssima Jessica Chastain, no papel de Maggie Beaouford, Mia Wasikowska, como Bertha Minnix, e Dane DeHaan como Criquet Pate, todos bem em seus papéis
Em suma?
Duas horas de cinema da melhor qualidade.
Corra pra assistir.

"Eu sou um Bondurant. Nós não baixamos a cabeça pra ninguém."

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Crônicas do Observador


Sujeito nos seus cinquenta e tantos anos, cabelo quase que inteiramente branco, exceto por alguns fios cinzentos que ainda teimavam em ter cor nas laterais e na parte de trás da cabeça.
Uniforme de servente, com os tênis pretos, calça de prega azul-marinho, e a camisa azul-clara sob o avental preto onde se lia o nome do shopping center bordado em letras amarelas.
O sujeito anda arrastando os pés, são quase dez da noite, deve estar cansado. Será que arrasta os pés quando entra quatro da tarde? Será que entra quatro da tarde, ou os turnos de trabalho do pessoal da limpeza são diferentes dos turnos dos funcionários das lojas, quase todos estagiários que são pouco mais do que adolescentes?
Enfim, ele anda arrastando os pés.
É um sujeito sisudo, taciturno, óculos de aro de metal, tamanho médio. Lentes que não chegam a ser particularmente fortes. Nota-se pois, quando ele fica em determinado ângulo, a lente não distorce a paisagem atrás dele.
É um sujeito de estatura mediana, magro. Invisível a todos os frequentadores do shopping, exceto, talvez, ao observador.
Qual será a história daquele homem? Que tipo de vida o levou a chegar até os cinquenta, ou quase cinquenta, ou mais de cinquenta a tirar lixo de mesas e empurrar tonéis plásticos cheios de sujeira por dentro de um shopping center?
Exercício literário básico:
Formular um passado para o desconhecido.
O observador imagina que o Servente é um ex-presidiário. Cometeu em série algum crime de gravidade regular, furto de veículo, assalto... Não parece o tipo de sujeito que cometeria delitos graves. Não parece um assassino, um estuprador, nem nada do gênero. Talvez, com muito boa vontade, o observador lhe imagine cometendo um assalto à mão armada... É. Um assalto à mão armada, mas sem vítimas fatais.
Foi preso, não era muito bom naquilo, jamais seria um ladrão afamado como o Papagaio. Foi capturado, julgado, sentenciado. Não foi particularmente abusado na prisão. As prisões brasileiras são horríveis, mas não são penitenciárias norte-americanas de filme, onde todo o presidiário é uma "jail house bitch" em potencial. Não.
O Servente cumpriu sua pena... Digamos oito anos... Em regime fechado. Depois mais dois em regime semi-aberto e aberto. Saiu da prisão, procurou algo para fazer, em que trabalhar para se manter, e o único emprego para o qual possuía aptidão e suas referências e passado não eram impeditivos, era o de servente.
Não começou no shopping, claro. Deve ter começado em algum lugar como uma fábrica de celulose, ou algo que o valha. Trabalhando no turno da noite. Sozinho. Mostrou-se confiável, focado, silente, e progrediu, saindo dos turnos da madrugada e trabalhando entre pessoas.
Ás vezes, o Servente lembra de seu passado criminoso, e pensa em como hoje em dia, mais velho, mais sábio, poderia realizar um grande golpe e se aposentar. Quem sabe morar na Argentina, que sempre sonhou conhecer? Mas então ele lembra da prisão, da sua idade, e de tudo o que pode dar errado, e se concentra em limpar logo aquelas mesas cobertas de restos de fast food.
"Pronto", pensa o observador. "Funciona", diz ele, referindo-se à pequena história que elaborou para o Servente.
Olha em volta, percebe três adolescentes daquela estirpe mais fútil, conversando em uma mesa próxima. As três falam entre si sem olharem umas pras outras. Duas têm os olhos vidrados em seus celulares, a terceira mexe obstinadamente na tela de um moderno tablet envolto por uma capa cor de rosa. Elas terminam de comer seus lanches deixando grandes sobras jogadas sobre as bandejas na mesa e se levantam rindo e falando alto. O Servente se aproxima da mesa, e, encurvado, começa a juntar o lixo. Tateia sob os papéis amassados e sujos ao redor das bandejas plásticas, e tira dali um telefone celular. É um modelo de última geração. Tela grande, sem teclas. O Servente olha para o telefone, então olha para um lado, e depois para o outro. O observador finge não estar olhando, mas sorri satisfeito antevendo o acerto crítico sobre as disposições do Servente.
O Servente olha para o celular recém encontrado, limpa a tela do aparelho nas próprias calças, e então se endireita, e corre até as três meninas, entregando-lhes o celular. Uma delas, a do tablet, sorri dizendo "Ai, brigaduân", e guarda o aparelho na bolsa, seguindo então, seu caminho.
O Servente volta com seus passos arrastados até a mesa, e põe-se a juntar a sujeira.
O observador sorri. Pensa que ás vezes é bom estar enganado.
E começa a formular um novo passado, quiçá um mais digno, para o personagem da vez.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Resenha Game: FIFA 13


Eu já devo ter falado sobre isso antes, mas a verdade é que até meados de 2002 eu não passava nem perto de games da série FIFA. Pra mim, a franquia esportiva da EA era uma piada de mau gosto, e o que era maneiro, mesmo, eram os games que a Konami fazia pra série Superstar Soccer, Winning Eleven e, posteriormente, Pro Evolution Soccer.
É estranho pensar que, quem me jogou nos braços da concorrência foi justamente a Konami, ao não desenvolver versões de seus games de Pro Evolution e Winning Eleven para a plataforma 128 bits da Nintendo, o Game Cube.
Como a Konami simplesmente ignorou o console da Nintendo, eu precisei arrumar outro jogo de futebol pra jogar, e encontrei o FIFA 2002, que estava longe de ser uma maravilha, mas já era bem melhor que a suas versões 95/96, as únicas que eu havia jogado até então.
Joguei FIFA 2002, 03 e 04. Pulei a versão 05, mas me tornei fã da série. FIFA não era um game perfeito de futebol, longe disso, mas tentava desesperadamente ser um simulador perfeito de futebol. Tentava com toda a força dos desenvolvedores ser o mais próximo possível da experiência de jogar futebol de verdade, o que eu, como um bom boleiro de final de semana, tinha que saber valorizar.
Em 2007, já tendo comprado meu primeiro video game não Nintendo, o Playstation 3, e tendo a oportunidade de voltar a comprar o PES, não titubeei em escolher FIFA, tanto por gostar mais do simulador que o game se propunha a ser em detrimento do arcade maluco de PES, quanto porque o game da EA jamais se acomodou entre uma versão e a outra, e mesmo errando aqui e ali, sempre buscou seguir trabalhando em busca da excelência.
E na semana passada eu comprei meu FIFA 13, e percebi mais um passo dado pela série da EA Sports rumo à tal excelência.
FIFA 13, cujo demo eu já havia experimentado e aprovado, é ainda melhor em sua versão integral. Alguns dos tropeços do jogo em sua versão 12 foram sanados, como o sistema de impacto, ainda demasiado experimental no game do ano passado, que fazia os jogadores tropeçarem uns nos outros o tempo inteiro, especialmente em lances de bola parada, se o player não estivesse atento à sua movimentação defensiva.
Isso não acontece mais. O sistema de impacto permanece, os adversários e os companheiros têm "substância", não são fantasmas que podem ser atravessados como que por mágica que algum botão de desarme não estiver sendo pressionado.
A inteligência artificial dos defensores adversários foi incrementada, e ficou mais difícil bater a zaga inimiga tanto na velocidade ou no drible, quanto fazendo jogadas tramadas de "um, dois", já que os beques controlados pelo PC estão de olhos bem abertos e vigilantes.
A parte tática do game continua bem construída e sutil, premiando aqueles que sabem fazer bom uso dela, e esculhambando bonito a vida de quem não sabe.
Os gráficos ainda são bons, alguns jogadores são idênticos, outros apenas parecidos, mas em se tratando de um game com aquela quantidade absurda de rostos pra digitalizar, "parecidos" já demonstra um esforço absurdo por parte da equipe gráfica do jogo.
O modo carreira foi aprimorado, com aumento da interação entre treinador e jogadores, possibilidade de acumular o cargo de técnico de uma seleção nacional ao trabalho como ménager de um clube, por exemplo.
Outra boa novidade foi a volta da "lojinha" virtual, desaparecida nas últimas versões, onde se pode comprar comemorações, chuteiras, bolas e uniformes alternativos de diversas equipes, além de recursos pra usar na carreira de treinador, tudo isso usando pontos que se adquire simplesmente jogando o game.
Minha tristeza segue sendo o fato de o Internacional, meu clube do coração, não estar no game (além de Palmeiras, Vasco, Botafogo, Ponte Preta, Portuguesa, Náutico, Sport...), infelizmente o fato de o Brasil não ter uma Liga de Futebol e cada contrato de utilização de imagem ter de ser negociado individualmente com os clubes pesa na hora de construir o campeonato brasileiro, além disso, a Konami investiu pesado na montagem da versão digital do Campeonato Brasileiro na versão 2013 de PES, o que não deve ter facilitado a vida da EA na hora de tentar usar a imagem dos clubes da série A, nada no entanto que prejudique em demasia a experiência de jogar FIFA, e, se fosse o caso, existe pra isso o Creation Centre, onde se pode criar clubes de futebol, com nome, escudo, uniforme e patrocínios, igual que nem são no mundo real.
Claro, nada disso valeria patavina se FIFA não continuasse tendo uma jogabilidade absurdamente eficiente, com tempo de resposta acima da média, e animações que beiram a perfeição. Mas FIFA tem tudo isso.
É perfeito?
Não. Ainda não. Enquanto PES segue investindo pesado na América do Sul, FIFA ignora a imensa maioria dos clubes de países abaixo da Linha do Equador, disponibilizando dois ou três clubes argentinos no balaio "Resto do Mundo", não tem explicação pra existir uma liga Romena de futebol no FIFA e não a existir a Liga Argentina. Um campeonato sul-americano de clubes e um mundial seriam adições extremamente bem vindas, e, claro, a exclusão da cretina dupla de comentaristas em português, Tiago Leifert e Caio Ribeiro, insuportáveis com suas vozes xaropes e comentários cretinos.
No mais, FIFA segue sendo a grande franquia de futebol virtual dessa geração, e que venha FIFA 14, e mais um passo rumo à excelência.

"Goooooooooooooooool!"

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Quadrinhos: Batman - O Filho do Demônio


Volta e meia a Panini surpreende e joga nas bancas e livrarias uma edição caprichada de um quadrinho já publicado de que quase ninguém lembra.
Na semana passada eu estava incauto andando pela Saraiva Mega Store procurando pelo Blu-Ray de Os Vingadores e me deparei com essa bonita versão encadernada com letras metalizadas e tudo mais de Batman - O Filho do Demônio, história escrita por Mike W. Barr, de Camelot 3000 (Não confundir com James O'Barr, de O Corvo, como eu fiz), e desenhada por Jerry Bingham.
Na trama, o Homem Morcego se vê às voltas com Talia e Ra's Al Ghul, da Liga dos Assassinos, e uma ameaça que envolve um nome do passado do vilão imortal, o assassino Qaym, responsável pela morte da esposa de Ra's anos antes, e que tem um plano assassino em mente para causar um genocídio usando uma máquina capaz de controlar o clima.
Conhecendo a identidade do vilão, Batman aceita unir forças a R'as Al Ghul, e, mais do que isso, aceita tornar-se esposo de Talia, para regozijo dos Al Ghul.
Vivendo como marido e mulher, o justiceiro encapuzado engravida Talia, e o que parecia motivo para uma celebração se transforma em preocupação para Ra's e sua filha quando percebem que a paternidade vindoura mexeu sobremaneira com Batman, que decidido a não permitir que seu filho passe pelo mesmo trauma que ele, e cresça sem pais, passa não só a superproteger Talia, mas também esquiva-se do perigo em nome da auto preservação.
A história é interessante, não é a última bolachinha do pacote, algumas das soluções do roteiro de Barr parecem corridas e simplistas, e a arte de Bingham não chega a empolgar, embora faça o serviço e tenha ecos da arte de Jim Aparo, talvez o mais seminal artista do Homem Morcego, o trabalho de cor, no entanto, é muito bom.
Se por um lado a trama explora de forma interessante a forma como Bruce Wayne encara a vida após anos isolado do mundo unicamente pensando em enfrentar o crime, por outro mostra uma transformação na personalidade obsessiva de Batman que não condiz com a bagagem do personagem, ainda assim, é uma história que merece ser lida, especialmente porque só foi publicada aqui uma vez, em meados de 1989, e mesmo tendo sido cortada da cronologia da DC logo após sua publicação (tudo bem, como a cronologia da DC é uma baderna poucos anos atrás ela voltou a ser parte da mitologia do personagem), é uma história seminal de Batman, especialmente no tocante à sua relação com R'as Al Ghul, e Talia.
Como eu já disse lá no início, a edição é caprichada, com capa dura com efeito metalizado, papel couché no miolo e formato 20,5 x 27,5 cm, e preço camarada de R$17,90 (em promoção na Saraiva saiu por 15,90 pilinhas).
Agora é esperar que a Panini se anime e publique as outras duas histórias que compõe a trilogia do Demônio de Batman e R'as Al Ghul, A Noiva do Dem^nio, e O Nacimento do Demônio, jamais publicadas no Brasil.
Ah, outra coisa maneira, nessa edição publicada pela Panini de O Filho do Demônio, há de bônus um prefácio escrito por ninguém menos que o Luke Skywalker Mark Hammil, que além de ter redimido seu pai Anakin e trazido equilíbrio à Força, também dublou o Coringa em diversos desenhos animados e vídeo games do Cruzado Encapuzado.
Luke Skywalker escrevendo o prefácio de um gibi do Batman. Se o céu existe...

"Seus olhos se fecham... E, sempre que isso acontece, seus pais morrem novamente."

Resenha Cinema: Busca Implacável 2


Deve ser uma coisa bonita chegar aos sessenta anos de idade sem precisar se reinventar como ator. Deve ser bacana olhar pra trás e ver coisas como A Lista de Schindler e Star Wars - Episódio I: A Ameaça Fantasma coexistindo em harmonia na sua filmografia.
Quantos atores podem ver isso, e saber que, não só suas carreiras não estão em stand-by, mas também que se tem todo um novo nicho pra explorar?
Eu sei de um que pode:
Liam Neeson.
O ator irlandês que já viu sessenta invernos e continua firme e forte lançando mais de um filme por ano se transformou em action hero depois dos cinquenta, e não para de produzir. Pra melhorar, ele tem mais capacidade de atuação do que outros colegas que foram action heroes a vida inteira e, ou não têm carga dramática pra explorar, ou fizeram cirurgias plásticas demais pra convencer alguém de que têm mais de duas expressões faciais.
Não é o caso de Neeson, que consegue equilibrar no currículo Simplesmente Amor, As Crônicas de Nárnia, O Preço da Traição, Kinsey - Vamos Falar de Sexo e Os Miseráveis sem canastrar jamais, exceto se o roteiro pedir, como em Esquadrão Classe A, e é provavelmente o único ator vivo que tem o estofo moral pra ameaçar a platéia antes de apresentar o trailer do seu filme.
Neeson também é um cara que conseguiu equilibrar seu trabalho entre grandes produções mainstream, ainda que em papéis secundários, como Cruzada e Fúria de Titãs e filmes menores, de diretores desconhecidos e em centros de cinema mais periféricos, sem, no entanto, enterrar a carreira como Nicolas Cage vem tentando fazer nos últimos anos.
Foi, aliás, em uma dessas peripécias fora do grande circuito que Liam Neeson encontrou o produtor/roteirista Luc Besson, o diretor Pierre Morel e Bryan Mills, que seria o personagem a mostrar nas telonas quão casca-grossa Neeson podia ser.
Na trama de Busca Implacável, de 2008, Bryan Mills viajava à Europa e quebrava Paris para resgatar a filha Kim (Maggie Grace), sequestrada por albaneses traficantes de mulheres.
Era uma ótima fita de pai vingativo à moda antiga, com um Liam Neeson raivoso, atirando, chutando, quebrando ossos, eletrocutando e atropelando todo mundo (Nem a mulher do amigo do herói era poupada de levar um balaço do mocinho á certa altura do filme).
O longa fez boa carreira nos cinemas e quatro anos depois, Neeson volta à pele de Bryan Mills para mais uma aventura cheia de porradaria.
Busca Implacável 2 mostra Bryan Mills em férias na Turquia com a ex-esposa Lenore (Famke Janssen, gatona), recém separada do marido rico do primeiro filme, e a filha Kim. Enquanto curte Istambul com a família, Bryan não sabe que está na mira de diversos parentes vingativos dos bandidos albaneses que matou em Paris anos antes.
Esses homens raivosos, liderados por Murad Krasniqi (Rade Seberdzija) decidem sequestrar Kim, Lenore e o próprio Bryan, para cobrar sangue por sangue.
Busca Implacável 2 é isso. Quase uma repetição do primeiro longa, mas com algumas inversões interessantes, como o fato de que, ao invés de Kim ser sequestrada, o sequestrado agora é Bryan, o que gera uma situação bem maneira do herói orientando sua filha para que ela o resgate (O que, aliás, ele faz de uma forma como só um mestre Jedi do calibre de Qui-Gon Jinn poderia fazer).
Outra boa sacada do roteiro é a motivação simples dos vilões. A vingança familiar não só é perfeitamente condizente para com a série, mas também impede que o filme caia na armadilha dos planos excessivamente elaborados e megalomaníacos dos vilões como aconteceu com a franquia Duro de Matar, e a ambientação na Turquia é bacana, claustrofóbica como grandes cidades asiáticas, e estilosa como uma capital européia.
Nada disso, entretanto seguraria o filme sem o carisma de Liam Neeson.
É a presença do ator que impede que Busca Implacável 2 se transforme em uma sessão de Domingo Maior daquelas mais sem graça, e talvez até deixe Luc Besson salivando por um novo filme que, dependendo do roteiro, eu até gostaria de ver. Aliás, fica aqui minha sugestão para um novo nome para a série:
Busca Implacável: Liam Neeson quebra a Europa.
Eu iria ver todos os filmes no cinema com certeza.

"Kim, preste atenção: Sua mãe e eu seremos raptados."

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Resenha Cinema: Ted


Seth McFarlane é um comediante grosseiro. Quem já assistiu Uma Família da Pesada, American Dad e The Cleveland Show sabe que o tipo de comédia que McFarlane faz não tem como principal meta fazer amigos. Ele avacalha geral, sem se preocupar em ofender a quem quer que seja.
Talvez por isso seu humor funcione tão bem.
É difícil assistir a uma temporada de Uma Família da Pesada sem ver um episódio em que se pense "Putz. Esse cara não tem noção...", pois ele de fato não tem. McFarlane e sua equipe não levam ninguém livre e fazem piada de tudo e de todos.
Na TV isso não chega a ser novidade. Os Simpsons já fazem isso a anos, de uma forma mais simpática e comedida, é verdade, mas ainda assim... De qualquer forma, a grosseria de McFarlane aparentemente já não cabia mais na TV, e o sujeito resolveu roteirizar, dirigir e co-estrelar esse Ted.
Na trama, o pequeno John Bennett pede, na noite de Natal, que seu urso de pelúcia ganhe vida. Para espanto de todos, seu desejo é atendido, e o seu ursinho Ted, agora vivo, se torna seu melhor amigo. O que inicialmente se transforma em notícia mundo afora, tornando Ted uma celebridade, que, com o passar do tempo perde relevância como quase tudo na vida.
Após mais de vinte anos de amizade, John (Mark Wahlberg, que finalmente encontrou seu nicho e deveria fazer só comédias de agora em diante) e Ted (Seth McFarlane), agora adultos, ainda vivem juntos, ao lado da namorada de John, Lori (Mila Kunis, acostumada à Seth McFarlane, já que dá voz à Meg de Uma Família da Pesada).
O problema foi que Ted cresceu e deixou de ser aquele simpático ursinho de pelúcia respondão de vinte e sete anos antes, e se tornou um desagradável e grosseiro bicho de pelúcia viciado em drogas que não quer fazer nada da vida exceto comer, assistir TV e fumar maconha.
Não seria um problema se Ted não tivesse o dom de influenciar John, e fazer o amigo acompanhá-lo em todas as suas ideias de diversão. Isso fica evidente pra Lori, que planeja um relacionamento a longo prazo com John, mas não vê como isso será possível enquanto seu namorado não se desvencilhar da influência nociva de Ted, e amadurecer.
Lori dá um ultimato a John, que tem que escolher entre seu melhor amigo e a mulher que ama.
O elenco funciona muito bem, além de Wahlberg, que vai bem nas comédias, McFarlane, mestre na matéria, e Kunis, que é uma gata e sabe rir de si mesma, ainda tem Giovanni Ribisi, com direito a número de dança, um amnésico Patrick Warburton, Joel McHale e Patrick Stewart na narração além de pontas de Norah Jones, Tom Skerritt e Ryan Reynolds.
Ted trabalha dentro de uma estrutura de comédia romântica, também tem elementos de "bromance" e tudo isso embalado no humor surreal e grosseiro que McFarlane e seus colegas de roteiro dominam com maestria, é hilariante, repleto de referências nerds (Star Wars, Hasbro e Flash Gordon, com direito à hilária participação especial de Sam J. Jones) e que ainda acha espaço pra um pouquinho de doçura em meio à toda a acidez.

"Quando ouvir um trovão/Não tenha medo, não/Apenas agarre seu amigo do trovão/E diga essas palavras mágicas:/Foda-se trovão/ Pode chupar meu piruzão!/ Você não pode me pegar, trovão/Porque você é só o peido de Deus!"

Resenha Cinema: Looper


O diretor Rian Johnson é bom no seu trabalho. Quem viu o policial noir de high school A Ponta de Um Crime (2005), sabe das qualidades narrativas do diretor, que voltou a mostrá-las em outro filme acima da média, Vigaristas (2008).
Quem assistiu a esses dois filmes, certamente ficou interessado em ver Looper, quando começaram a falar a respeito do filme.
Conforme eram divulgadas as primeiras notícias do longa, como o elenco composto por Joseph Gordon-Levitt (Parceiro de Johnson em A Ponta de Um Crime) e Bruce Willis partilhando o mesmo papel, e as posteriores imagens mostrando um Gordon-Levitt usando praticamente uma cara protética pra ficar com as feições de Willis, e os demais nomes no elenco (Jeff Daniels, Emily Blunt, Paul Dano...), e a premissa envolvendo viagens no tempo... Bom. Tudo deixava a audiência curiosa com relação ao que esperar(Eu, pelo menos fiquei).
Nesse final de semana fui assistir ao longa, e, bom...
Looper mostra o mundo no ano de 2042, em 2042, ainda não existe a viagem no tempo, mas trinta anos no futuro, apesar de extremamente ilegal, existirá.
Em 2072, quando a máfia precisar de uma pessoa morta, ao invés de dar cabo do salafrário por conta própria, eles sequestram o miserável, e o mandam ao passado, onde um pistoleiro especializado, um Looper, enche o desgraçado de chumbo e desova o defunto sem que a máfia precise se preocupar com nada (Aparentemente sequestro, agressão e uso ilegal de dispositivo de deslocamento temporal são crimes sem nenhuma gravidade se comparados a assassinato...).
Um desses Loopers é Joe (Joseph Gordon-Levitt, bem, mostrando que sabe mesmo usando uma maquiagem pesada e esquisita), Joe é um sujeito com um plano.
Cada vez que ele mata um desconhecido, pega metade do seu pagamento (Lingotes de prata presos no alvo) e guarda para a aposentadoria que planeja na França.
Tudo corre conforme o planejado para Joe, até o momento em que ele se vê obrigado a matar a si próprio, na sua versão trinta anos mais velho (Bruce Willis, assumindo a calvície).
O que deveria ser apenas mais uma execução corriqueira, porém, acaba mal para o jovem Joe, pois o velho Joe tem seus próprios planos em 2042, o que o coloca em rota de colisão com sua versão futura e com seus empregadores.
Não é ruim, não. É interessante, bem intencionado, embora um pouco pretensioso, como, aliás, é toda a filmografia de Rian Johnson.
O longa trabalha bem as complicações tradicionais da viagem no tempo, pinta um retrato maneiro do futuro, e ainda adiciona elementos de outras vertentes da ficção científica, como a distopia tradicional de futuros com governos ausentes, indivíduos controlando sindicatos do crime das sombras e até mutantes.
Talvez tenha sido o hype excessivo o problema do filme, toda a crítica especializada pareceu ansiosa por correr e encher o filme de elogios, e, francamente, não sei se ele merece todos.
É uma boa ficção científica de ação e viagens no tempo, tem momentos tensos (A cena em que outro looper fugitivo começa a sentir, literalmente na pele, o que está acontecendo com sua versão mais jovem é de causar pesadelos) e boas atuações (Em especial de Levitt e de Jeff Daniels), mas determinado momento parece vergar sob o peso das próprias ambições. Não se compara, por exemplo, a outra ficção de viagem no tempo com Bruce Willis: Os Doze Macacos.
Ainda assim, vale a ida ao cinema. É um filme maneiro, divertido, e bem montado que merece ser visto, nem que seja pra tentar descobrir onde é que a pretensão deixa de ser benéfica e se torna um problema.

"-Como está seu mandarim?
-Estou aprendendo francês.
-Esqueça o francês, aprenda mandarim.
-Eu vou me mudar pra França.
-Eu sou do futuro, e estou te dizendo pra aprender mandarim."