Pesquisar este blog

sábado, 28 de setembro de 2013

Resenha Game: Grand Theft Auto V


Logo que começou a ser anunciado, Grand Theft Auto V já prometia ser um dos melhores games de 2013, e o jogo ideal para fechar com chave de ouro as portas da geração atual de consoles.
Desde 2008, quando a Rockstar lançou o excepcional Grand Theft Auto IV, água passou sob a ponte.
A empresa lançou games fracos como LA: Noir, games competentes como Max Payne 3, e obras primas como Red Dead Redemption. A experiência que a desenvolvedora obteve com esses três jogos fica bastante clara em Grand Theft Auto V, assim como a reverência pelo game antecessor, óbvio melhor capítulo da franquia de roubos de carro, e a vontade de agradar aos fãs de Vice City e San Andreas, que sentiram falta do tom pastelão de ultra violência quase caricatural desses games em GTA IV.
Tecnicamente falando, GTA V é um triunfo técnico sem precedentes.
O mundo em que o jogo se desenvolve, a cidade de Los Santos, a dublê GTA de Los Angeles, é enorme e além de uma imensa metrópole, ainda conta com uma vasta área vicinal, cheia de cidades menores, condados interioranos cheios de caipiras, e paisagens florestais, desérticas e litorâneas de encher os olhos e que lembram versões melhoradas das melhores ambientações de Red Dead Redemption (Aliás, a influência de RDR também pode ser sentida além das paisagens, em atividades secundárias como a caça, e nas feras selvagens que vivem nas matas do interior e até nas cercanias da metrópole, fui atacado por um puma em uma montanha a uns duzentos metros da cidade...), tudo construído de maneira bonita e eficiente, com uma renderização beirando a perfeição com as coisas surgindo à distância, e não brotando do nada quando se chega perto...
A animação dos personagens é excelente, e mesmo os transeuntes aleatórios que encontramos nas ruas, nas praias e nos clubes de Los Santos são bem feitos. A física do jogo também é excepcional, com os veículos possuindo pesos e centros de gravidade distintos e tendo seu movimento influenciados pelo terreno, um detalhe muito bacana que também é sentido no movimento dos personagens a pé.
Grand Theft Auto V, pela primeira vez dá ao jogador a possibilidade de jogar com mais de um personagem. A trama tem três protagonistas, Michael, Franklin e Trevor, cada um deles com habilidades e backgrounds diferentes.
Michael roubava bancos, forjou a própria morte e se aposentou após fazer um acordo com um agente do FBI para viver com sua esposa e seus dois filhos em uma mansão em Los Santos usando um novo nome sob um programa de proteção à testemunha muito particular.
Franklin é um jovem negro de South Los Santos disposto a subir na vida da forma que for possível, mesmo pelo crime. Cansado dos marginais de sua vizinhança, vê em Michael uma espécie de figura paterna que pode lhe apontar o melhor caminho a seguir para ascender na cadeia alimentar da bandidagem e Trevor, um psicopata canadense de deixar o Wolverine encabulado, era parceiro de Michael na época dos assaltos, ele começa o jogo fabricando metanfetamina no interior, onde tenta eliminar a concorrência e expandir seu pequeno império de drogas até descobrir que Michael talvez não esteja morto.
A construção gráfica de todos eles é ótima, e pode-se inclusive mexer no visual dos personagens como em GTA - San Andreas, adicionando barbas, tatuagens e cortes de cabelo (Muitos fãs sentiam falta desses elementos em GTA IV), sem alterar a excelência das animações. Além disso, existem formas de melhorar as capacidades de pilotagem, a resistência, mira e força dos protagonistas, e mesmo suas habilidades especiais (Cada um deles têm uma), o que dá ao jogo uma faceta de RPG que, embora não chegue nem perto da de San Andreas, é bastante interessante.
O trabalho de dublagem também é excelente, todos os personagens, centrais e coadjuvantes são ricamente dotados em termos de sotaques, entonações e espectro emocional, e funcionam às mil maravilhas nesse mundo ambíguo, exagerado e construído à perfeição que é Los Santos e seus arredores.
A jogabilidade é funcional e simples como sempre. O sistema de tiro, herdado de Max Payne 3 é irrepreensível, embora eu sinta falta da barra de saúde dos antagonistas nos tiroteios e especialmente nas pancadarias. O modo de direção continua tão bom quanto antes, embora a física do jogo possa atrapalhar apressadinhos com pé de chumbo, já os sistemas de controle de vôo, são ambíguos, o dos helicópteros é bastante simples, praticamente igual ao de GTA IV, já o dos aviões é mais desafiador e complexo, mas nada que faça ninguém arrancar os cabelos.
Além das missões principais, cerca de sessenta e cinco, existem mais dezenas de missões secundárias, além de atividades de toda a espécie. Você pode assistir TV, navegar pela internet (Existem dois sites em particular que são ótimos, o Life Invader, emulando o Facebook, e o dublê GTA do Twitter, o Bleeker), ouvir rádio, jogar tênis, golfe, dardos, tunar seu automóvel e participar de corridas de rua, praticar tiro ao alvo, pesca submarina, triatlo, skydiving, base jump, caçar, ajudar transeuntes que são assaltados, ou ajudar assaltantes a fugir da polícia, visitar alguma das dezenas de lojas de roupas que existem pela cidade e arredores... Não falta o que fazer em GTA V.
Em termos de mecânica de jogo, de apuro técnico e de realização, GTA V é um triunfo absoluto, sem precedentes em termos de escala e detalhamento, está, porém, longe de ser perfeito.
A história do game é divertida, movimentada, por vezes beirando o absurdo, essa edição do game não quer ser um simulador realista de nada, e isso fica bastante claro na forma como as aventuras de Franklin, Michael e Trevor são conduzidas, pendendo muito mais à ação e ao humor do que a qualquer outra coisa, sem passar nem perto da profundidade da tragédia de Red Dead Redemption ou do círculo de crime e castigo de GTA IV, pra ficar só nos games da própria Rockstar.
Não bastasse essa propensão ao humor e ao absurdo, outro elemento claramente satírico da Rockstar gera desconforto:
os personagens.
Se Niko Bellic era sugado para o mundo da criminalidade pelas ações do primo e a força das circunstâncias e John Marston era obrigado pela lei a retomar a vida que tentava deixar pra trás, ambos eram homens de princípios, que, a seu modo torto, possuíam códigos de conduta e algum senso de honra.
Franklin, Michael e Trevor, por outro lado, são apenas bandidos.
A despeito de terem lá suas boas sacadas e lampejos de decência, os três não passam de marginais, sociopatas e psicóticos.
Esse detalhe talvez seja, mais do que as claras gozações da desenvolvedora ao America Way of Life (e à sociedade contemporânea como um todo espalhadas pelo game), a grande crítica do jogo ao player e ao mundo: Três protagonistas tão viciosos, e que ainda assim, são capazes de gerar algum carisma e empatia em uma geração que parece viciada em caos quando coloca as mãos no controle de um GTA.
Em suma, GTA V está longe de ser perfeito, mas é a quintessência dos games sandbox. A epítome da série Grand Theft Auto. Tudo aquilo com que toda uma geração de consoles esperava pra mostrar do que era capaz para o bem, ou o mal.
Obrigatório para fãs e não fãs da série.
Custa sonhar com todo esse apuro técnico e escala absurda de possibilidades num game mais profundo na nova geração?

"-Sabe, eu estive nesse jogo por muitos anos, e saí vivo. Se você quer meu conselho: Desista dessa merda."

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Rapidinhas do Capita


Engraçado como certas coisas nos afetam mais do que outras, mas ao mesmo tempo servem pra nos mostrar o quanto evoluímos...
Se fosse em 1997, eu teria dito: "Já passou da idade de puxar as tranças da menina que tu gosta no recreio, irmão. Ficar falando que as coisas que ela gosta são infantis sem aguentar dez minutos de porrada com um homem é falácia da grossa, e se não gostou, desce aqui que a gente resolve que nem homem se tu pensa que vale o que caga."
Mas é outro momento, eu sou outra pessoa, mais educado, mais polido, melhor resolvido, e mais seguro.
Minha necessidade de auto afirmação acabou com a adolescência, assim como minha disposição pra barracos e pancadarias e minha avidez em julgar as disposições dos outros.
Mas se precisar muito, muito, mesmo, ainda deito o braço em um, vá lá...

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Peter Mayhew, o eterno Chewbbaca, revelou que, a despeito de possível procura por um novo intérprete pro wookie mais famoso do cinema nas futuras sequências de Star Wars, ele pretende se candidatar ao papel.
Tá certo ele, o ator de 2,20 m que passa por cirurgias nos joelhos é mais chewbbaca que qualquer outro gigante que encontrem pra vestir o casacão de pele nos vindouros filmes de J. J. Abrams.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Jogando GTA V até os olhos arderem, e então jogando mais um pouco. Resenha do game muito em breve.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Resenha Cinema: Elysium


Foi em 2009 que Neil Blomkamp se lançou ao estrelato com seu longa de estreia nos cinemas. Distrito 9, produzido por Peter Jackson era uma competentíssima ficção científica de orçamento modesto mas muito bem aproveitado, que mostrava alienígenas vivendo em campos de refugiados na África do Sul.
Com um roteiro maneiro, bem amarradinho, e repleto de entrelinhas políticas e sociais, e uma direção esperta, espremendo até a última gota dos trinta milhões de dólares de seu orçamento, Blomkamp mostrou que entendia do riscado, atraindo a atenção da mídia e do público para seu filme, que se tornou um tremendo sucesso de bilheteria, e lhe garantiu entrada para o mainstream hollywoodiano.
Quatro anos se passaram e Blomkamp volta aos cinemas novamente com uma ficção científica escrita por ele próprio, repleta de sub-texto sócio-político, mas o mainstream se faz sentir no orçamento, de cento e quinze milhões de dólares e no elenco estrelado, cheio de nomes reconhecíveis.
Na trama de Elysium, o planeta Terra de 2154 é um pouco diferente de hoje em dia. A diferença entre ricos e pobres se tornou mais palpável do que nunca após a humanidade esgotar os recursos naturais do planeta, que se transformou em uma gigantesca favela hiper populosa, na sua órbita paira o paraíso artificial de Elysium.
Um habitat sintético erigido em uma estação orbital funcionando como morada dos podres de ricos onde graças à moderna tecnologia não existe privação de nenhuma espécie, nem doenças e nem morte.
Os excluídos do novo mundo, claro, não se conformam com essa situação, muitos pés de chinelo apelam aos serviços de Spider (Wagner Moura), uma espécie de coiote de fronteira high tech, que, pelo preço certo, oferece aos desesperados uma chance de entrar ilegalmente no paraíso artificial dos abastados.
Uma chance pequena já que, para proteger Elysium, a Chefe de Estado Delacourt (Jodie Foster) está preparada para fazer qualquer coisa, inclusive abater naves ilegais cheias de mulheres e crianças.
Alheio a tudo isso, Max da Costa (Matt Damon) tenta levar sua vida na Terra. Ex-condenado por roubos, agressões e outras infrações, Max se esforça para andar na linha trabalhando na fábrica que manufatura os robôs responsáveis por serviços essenciais na Terra e pelo policiamento de Elysium, especialmente após reencontrar Frey (Alice Braga), seu amor dos tempos de criança no orfanato onde cresceu.
Porém, ao ser exposto à uma dose fatal de radiação em um acidente de trabalho, e receber a notícia de que morrerá em cinco dias, Max procura a ajuda de Spider para chegar a Elysium, onde a tecnologia médica disponível poderá salvá-lo da morte certa.
Spider aceita, mas demanda um serviço de Max em troca:
Sequestrar um figurão de Elysium e roubar informações vitais de sua mente.
Para suportar a viagem, e ser capaz de pagar seu preço, Max passa por uma cirurgia que o liga a um exoesqueleto mecânico e chama seu amigo Julio (Diego Luna) para ajudar no trabalho, e também ganhar uma passagem para a estação paradisíaca.
Durante o sequestro, porém, algo dá errado, e Max, acaba de posse de uma brecha no sistema de Elysium capaz de acabar com a polarização da humanidade, isso o coloca na mira de Delacourt, que ativa o mercenário Kruger (um cascudo Sharlto Copley) para impedi-lo de alcançar seu objetivo.
Irregular, talvez seja a melhor forma de definir Elysium.
O filme começa muito bem, a apresentação do cenário convence, e Matt Damon na pele de Max da Costa esbanja carisma, ao menos até ser acometido pelo seu envenenamento, daí em diante, da mesma forma como o personagem vai se tornando mais murrinha, o filme começa a apresentar seus problemas, os mais flagrantes são a quantidade de informação jogada na tela, e a mudança de pegada, acelerando o filme conforme a trama avança apostando na ação em detrimento do tom previamente estabelecido, nada que estrague o filme, mas certamente não ajuda.
O elenco vai bem, Damon acaba prejudicado pela direção que o roteiro dá a Max, mas tem tempo de mostrar o que sabe, Foster é discreta e subaproveitada, Wagner Moura interpreta como se estivesse drogado com metanfetamina, o que, considerando seu personagem, é bacana, Alice Braga e Diego Luna pouco tem a fazer, e Sharlto Copley ruleia com seu sotaque afrikaans, sua barba de papai noel mendigo e sua psicopatia cascuda.
Resumindo: Elysium não entrega o que promete. Está longe de ser um filme ruim, mas a expectativa elevada é sua inimiga. Se tu for ao cinema esperando pouca coisa, provavelmente vai curtir bastante, e não se arrependerá de pagar o ingresso.

"-O que você fez comigo?
-Te dei uma saída..."

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A Melhor das Hipóteses?


Quando o telefone tocou e ela estava toda chorosa do outro lado da linha ele já imaginou o que era. Não se falavam já tinha algum tempo, exceto por mensagens de celular e eventuais e-mails com imagens ridículas que volta e meia ela mandava pra ele, e que vinham rareando.
Ela estava namorando, não era de agora. Ela dava uma sumida quando se envolvia com alguém, ao menos do convívio dele, o que era natural considerando que se tratava de um heterossexual solteiro e, pior de tudo, ex-namorado.
Quando ele a encontrou, na Borges em frente ao IPERGS, onde ela desceu da lotação, o rosto dela denunciava que não estava bem quase tanto quanto suas roupas, demasiadamente largadas para o padrão dela.
Usava uma calça de ginástica, tênis e uma jaqueta jeans sobre um blusão cinza de gola alta. As canelas finas expostas ao vento gélido que soprava do Guaíba chegavam a estar azuis.
Ele caminhou até ela, e a abraçou sem dizer palavra. A segurou alguns instantes entre os braços, e ela se desvencilhou:
-Para... Para se não eu vou começar a chorar...
-O que houve, alemoa? - Ele perguntou, passando a mão pelo braço dela.
-A vida é uma merda, Ned... - Ela disse, fazendo sinal com a cabeça para que começassem a andar.
-Novidade... - Ele respondeu andando ao lado dela.
Continuaram em silêncio, andando em direção ao shopping, quando estavam na esquina do Marinha com a Ipiranga ela disse:
-Não quero ir ao shopping...
-Não precisamos ir. - Ele respondeu.
Pegaram a Ipiranga e seguiram andando em direção à Praia de Belas, onde entraram, e foram andando até a praça Itália. Ela perguntou se ele queria sentar num dos bancos, ele disse que sim, mas pensou se não seria melhor catar uns cubos de gelo e fazer um iglu. Estava surpreendentemente frio pra uma Semana Farroupilha.
Sentaram num dos bancos da praça, perto do obelisco, e ela se esgueirou à sua maneira, abraçando os joelhos no espaço mínimo do banco sob o olhar divertido dele:
-Eu sempre me impressiono com a tua flexibilidade...
Ela riu sem vontade:
-Pois é... Eu devia colocar isso no meu currículo.
Ele não disse nada. Ela apoiou o queixo nos joelhos e ficou olhando pra frente. Após alguns longos minutos falou:
-Eu fiquei te chamando de idiota o tempo inteiro por causa do teu lance, e acabou que a idiota sou eu, sabia?
-Mesmo? - Ele perguntou.
-Mesmo. - Ela confirmou. -Eu devo ter algum distúrbio.
Ele permaneceu em silêncio. Ela respirou fundo:
-Eu não sei... Na verdade eu acho que nem gostava dele. Só não queria estar sozinha...
-Então tu agiu certo...
Ela suspirou. Ele continuou:
-Não era justo estar com uma pessoa só pra não se sentir sozinha... Não era justo nem com o Gervásio e nem contigo.
-Gerson. - Ela corrigiu.
-Tanto faz. - Ele deu de ombros.
Ela riu, mas voltou a ficar séria.
-Tu tem razão... Não era justo... Mas agora eu tô... Sei lá. Me sinto mal, angustiada porque terminei.
-É natural... Logo passa. Se tu não gostava dele...
-Eu gostava... Gosto. Mas não amo ele... Ele não é o amor da minha vida.
-Claro que não. - Ele garantiu.
-Claro... Porque se fosse eu não teria terminado com ele, né?
Ele a encarou muito sério.
Ela sustentou o olhar por um instante, e então arregalou os olhos:
-Ah, não... Não me diz isso...
Ele não disse nada. Só olhou pra frente.
-Puta merda... Esquece o que eu disse. Tu é que é o idiota. Parabéns. Mesmo se eu fosse idiota, tu me ganha. Tu me ganha por um monte. Tu é idiota em nível olímpico.
Ele assentiu com a cabeça.
Ela tomou fôlego pra falar, mas deteve-se. Ele perguntou:
-Que foi, alemoa?
-Eu ia te perguntar por que, mas nem tu deve saber... Então deixa. - Ela respondeu, irritada.
-Eu sei por que... É porque eu me cansei de magoar ela. De deixar ela triste. De não conseguir cumprir as menores expectativas dela. Ela merece mais do que eu tenho a oferecer agora. Ela ficou brava comigo, chateada... Pensou que eu fiz uma escolha que eu não fiz...
-Vem tu com as tuas neuras de ser julgado injustamente de novo? - Ela atravessou feito um trator.
-Não... - Ele respondeu, francamente. -Não mesmo. Ela tem o direito de pensar assim, mesmo que não seja o caso. Da perspectiva dela provavelmente é o que parece... Pra quem olha de fora, talvez, também. Mas não foi...
-O que aconteceu?
-Eu não quero falar a respeito... Entrar em detalhes. Até porque, cada vez que repasso as coisas na minha cabeça parece pior. Mas foi só uma besteira que eu fiz. Eu não... Eu não tinha nenhuma intenção de magoar ela. Mas conscientemente assumi esse risco, e ela se magoou comigo. Se chateou como eu acho que nunca tinha se chateado antes. A forma como ela falou comigo depois me deixou muito claro que ela estava mais brava comigo do que já havia estado. Mais desencantada, mais triste... Distante.
Ele se ajeitou no banco incômodo. Esticou as pernas pra frente, e deixou o corpo paralelo, apoiando-se nos braços atrás de si. Continuou:
-Então eu percebi que tinha estragado alguma coisa... E que o que eu estava fazendo... Magoando ela e pedindo desculpas, magoando ela e pedindo desculpas, magoando ela e pedindo desculpas... Bom, era o oposto de amar.
-E como é que tu sabe que ela se sentia assim? Como é que tu sabe que ela não entendeu o que houve, que não foi compreensiva - Ele a interrompeu dessa vez:
-Ela deixou claro. Ela deixou bem claro. Ela usou palavras que expressaram exatamente a forma como ela se sentiu. E ela se magoou. Se irritou. E foi justificável. Depois ela escreveu um lance que... Enfim. Deixou bem claro a ideia que ela tinha de mim.
Ele ficou em silêncio, olhando pra frente. Ela tirou as pernas de cima do banco. Olhou pra ele.
-Eu não tenho lido vocês... Vocês andaram falando demais de sexo e eu não me sentia confortável lendo...
Ele sorriu.
-Pois é... Acho que ela e eu estávamos numa seca danada e ainda... Enfim... Acabamos verbalizando.
-Que merda... - Ela concluiu.
-Pois é. - Ele concordou.
Uma lágrima escorreu pelo rosto dela. Ele viu, se endireitou e a aparou com a manga do moletom vermelho-melancia que usava.
-Não chora alemoa... O Gerônimo não era o homem da tua vida...
-Gerson... - Ela corrigiu.
-Nem o Gerson, nem o Gerônimo... - Ele confirmou.
-Não é por isso... É por causa de vocês... Vocês tinham... Vocês têm que ficar juntos. Eu já disse... O que é que tu vai fazer agora, seu traste?
-Não te preocupa. - Ele disse, sorrindo um sorriso cansado. -Nada vai mudar. Ela vai ser sempre o amor da minha vida. Mesmo brigada comigo. Mesmo justificadamente chateada. Mesmo me excluindo da PSN, mesmo mudando o telefone... Ela sempre vai ser o amor da minha vida. Na pior das hipóteses, vai ser aquela lembrança cálida quando eu for um velho cruel que vive sozinho numa casa escura furando a bola das crianças da vizinhança e criando serpentes em grandes viveiros de vidro... No plano médio, minha vida vai se resolver num futuro próximo, e eu vou mandar um e-mail naquele endereço que ela mencionou pra mim, certa vez. E talvez eu nem receba resposta, visto que provavelmente não mereço nenhuma, mas ao menos ela vai ter certeza de que ela era a the one, que sempre foi e que sempre seria.
-E na melhor? - Ela perguntou, fungando e limpando mais uma lágrima fugidia.
-Na melhor? Na melhor, nos encontramos daqui dez anos, quando ela estiver autografando o livro de crônicas dela na Cultura, e a gente vai sair pra dar uma volta e não nos largaremos mais...
-Isso não é de um filme?
-É.
-Vai tomar no teu cu.
Ele sorriu de novo. Agora triste. Ela o abraçou, o xingou mais um pouco, e pediu que ele a levasse até a parada pra ela tomar um táxi, mas ele a convenceu a voltar a pé pra casa, e eles foram, conversando sobre mil coisas que não tinham nenhuma importância, de modo que pela hora e quinze seguintes, ele conseguiu não pensar no amor perdido de sua vida.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Resenha Cinema: Rush - No Limite da Emoção


Eu cresci amando o automobilismo. Até meus treze, quatorze anos de idade quando descobri que gostava de futebol, o único esporte pelo qual eu demonstrava interesse eram o basquete, muito por causa de Oscar Schmidt, e acima de tudo, o automobilismo em geral, mas a Formula 1 em especial.
Domingo, pra mim, era sinônimo de grande prêmio, de torcer por meus pilotos preferidos (Nelson Piquet, Ayrton Senna, Nigel Mansell, Allain Prost, e mais tarde Michael Schumacher, Jack Villeneuve, Damon Hill), beber a adrenalina das corridas, comemorar vitórias, lamentar derrotas e até chorar quando meu herói de macacão e capacete perdia o campeonato (Fiz isso por causa de Nelson Piquet, quando tinha cinco ou seis anos. Fui para baixo da mesa da sala com o meu carrinho Williams azul, amarelo e branco e chorei após uma derrota no GP da Áustria).
Eu era um fedelho tão fissurado, que minha mãe e meu pai eram incumbidos de me acordar de madrugada para acompanhar os GPs da Austrália e do Japão, e assim faziam.
Hoje em dia, com a Formula 1 transformada em um circo sem alma, talhado para movimentar rios de dinheiro e nada mais, perdeu a graça assistir às corridas, acompanhar o campeonato, ficar acordado até altas horas acompanhando os treinos para ver quem sai na pole-position... O esporte perdeu tanto a sua popularidade e a sua emoção, que eu sequer me lembrava do porquê de antigamente gostar tanto de ver as corridas.
Sábado, depois do trabalho, eu fui ao cinema ver Rush: No Limite da Emoção, e me lembrei.
Rush, dirigido com estilo e mão firme por um Ron Howard voltando à sua melhor forma, mostra a rivalidade entre dois pilotos, o britânico James Hunt (o Thor, Chris Hemsworth), e o austríaco Niki Lauda (Daniel Brühl, o Fredrick Zoller de Bastardos Inglórios).
Nos anos setenta a Formula 1 era um esporte de altíssimo risco, repleto de acidentes e com uma média de fatalidades que ultrapassava uma por temporada. Usando esse pano de fundo, Howard e o roteirista Peter Morgan (os dois repetindo a dobradinha do ótimo Frost/Nixon) desenvolvem a relação de dois homens totalmente opostos em tudo, exceto pela excelência na arte de pilotar em alta velocidade.
De um lado Hunt, um playboy mulherengo, agressivo e farrista, disposto a tudo para vencer dentro de um circuito, inclusive se casar, acreditando que isso o tornaria um piloto melhor, e de outro Lauda, um homem de gelo, pragmático, metódico e calculista, aceitando vinte por cento de chance de morrer pilotando, e nada além disso.
Rush acompanha os dois protagonistas, mostrando as diferenças entre os dois dentro e fora das pistas desde o início de suas carreiras na Formula 3, até encontrar seu ápice na temporada 1976 da Formula 1, quando Lauda, correndo pela Ferrari e Hunt, pilotando pela McLaren lutam ponto a ponto pelo título de campeão.
É espetacular, Ron Howard, que nos anos setenta estrelou filmes de corridas como Eat My Dust e Grand Theft Auto (nada a ver com o game), revive seus tempos de velocidade com maestria, cada corrida filmada por ele é sensacional, e apenas a sequência da carona de Niki Lauda na Itália, quando ele conhece sua futura esposa, já coloca todas as perseguições automobilísticas da série Velozes & Furiosos inteira no bolso.
Se a direção invocada de Howard e o roteiro afinado de Morgan se equilibram com maestria entre o drama esportivo e o espetáculo adrenalístico, turbinadas por uma fotografia espertíssima, algo crua e granulada de Anthony Dd Mantle, e uma música espetaculosa de Hans Zimmer, o elenco principal é outro grande trunfo, Chris Hemsworth convence como o boa pinta, cabeça quente e sanguíneo piloto inglês, e Daniel Brühl está simplesmente demolidor como Lauda. As atrizes que interpretam suas respectivas esposas, Olivia Wilde (tão linda que chega a ser irritante), como a modelo Suzy Miller, e Alexandra Maria Lara, no papel de Marlene Knaus repetem as atuações dos maridos, com ambas convincentes, mas a esposa de Lauda brilhando mais. Há, ainda outros nomes reconhecíveis no elenco (Christian McKay, Natalie Dormer, Pierfrancesco Favino e Julian Rhind-Tutt), mas Rush acerta ao não abrir concessões e manter seus dois protagonistas na tela o tempo todo, afinal é a história deles, de sua rivalidade e da velocidade que seguram a a audiência colada na tela até o catártico final.
Excelente filme, corra pro cinema pra assistir.

"Bem vindos à corrida da década!"

sábado, 14 de setembro de 2013

Tu Ainda Vai Me Amar?


Tu ainda vai me amar?
Quando nós estivermos habituados a nos ver diariamente, tu ainda vai me amar?
Quando não houver mais incerteza, quando não houver mais surpresa. Tu ainda vai me amar?
Tu ainda vai me amar quando se habituar comigo? Quando nossa vida for rotina?
Tu ainda vai me amar?
Quando estiver acostumada a viver do meu lado. A dormir e acordar. Tu ainda vai me amar?
Quando a minha língua no teu corpo deixar de te arrepiar, tu ainda vai me amar?
Quando a tua mãe cansar de me odiar, e a minha entender que tu não sabe, mesmo, cozinhar, tu ainda vai me amar?
Quando o entusiasmo passar, e a idade chegar, tu não vai te cansar?
Quando os assuntos se repetirem quando a gente conversar, e minha rabugice te assustar, e eu, sem intenção, te magoar, tu não vai repensar?
E o que eu vou poder fazer pra te convencer a me perdoar? Te convencer que valeu a pena esperar?
Vou te levar à praia pra gente andar na beira do mar.
Te dar um videogame maneiro pra gente jogar.
Um vestido curtinho pra tu vestir e eu tirar.
Vou te beijar.
Te cheirar.
Fazer de ti o meu lugar.
Qualquer coisa pra tu não deixar de me amar.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Entretenimento Adulto


O Leandro estava sentado na frente da TV jogando videogame, a Raika, sua namorada, estava sentada no sofá a seu lado com o notebook no colo, vez que outra ela o olhava de soslaio, mas ele nada percebia, concentrado que estava no Playstation.
Raika esperou até ter certeza de que ele estava bem, mas bem absorto no jogo, e então disparou:
-Quem é Sasha Grey?
-Quê? - O Leandro perguntou, sem desviar os olhos da TV.
-Sasha Grey, quem é? - Insistiu Raika, fingindo desinteresse na resposta.
-É uma atriz, não é...? Não fez um filme do... O diretor sem noção, aquele... Que faz uns filmes tri bons e outros que não têm explicação de tão ruins... Cronemberg? - Perguntou Leandro, ainda de olhos fixos na TV.
-Cronemberg não é o cara de Gêmeos - Mórbida Semelhança? - Inquiriu Raika, esquecendo-se brevemente de fingir que não tinha interesse na resposta.
-Ah, é... Então não... Não pode ser ele... O Cronemberg só faz filme bom... Soderbergh, pode ser? - Sugeriu Leandro, hesitante.
-Ah... Steven Soderbergh... Sim, acho que sei qual o filme... - Disse a Raika, com uma nota de desapontamento na voz.
-Confissões de Uma Garota de Programa...? -Continuou Leandro, sem certeza e sem se desconcentrar do jogo.
-Ah, tá... Sei quem é... E Silvia Saint? Tu sabe quem é? - Raika disparou, sem dar tempo para Leandro pensar muito.
-Filha do Sílvio Santos? - Ele perguntou, rindo.
-Não, né... - Devolveu Raika, fazendo uma voz de quem fala "dãããã", logo em seguida.
-Então não sei... - Respondeu Leandro com pouco caso.
-Não sabe, mesmo? - Insistiu a Raika, curiosa.
-Não. Quem é? - Devolveu o Leandro, olhando de relance pra namorada para logo em seguida voltar a imergir no que acontecia no televisor.
-Não sei, por isso tô te perguntando. - Ela replicou, bufando.
-Não sei, também... Bota no Google. De repente tu descobre... - Sugeriu Leandro, tentando claramente encerrar a conversa.
-É... Depois eu vejo... E Briana Banks? - A Raika quis saber.
Leandro pausou o jogo e olhou pra ela, de cenho franzido:
-Não é uma militar da força aérea americana?
-Quê? - A Raika se perdera naquela.
-Acho que é... Uma piloto ou médica da aeronáutica dos EUA... Uma coisa assim. - Continuou o Leandro, controle na mão.
-Acho que não estamos falando da mesma pessoa... - Desconversou a Raika.
-Não sei, não, hein? Acho que é essa, sim. Onde tu viu esse nome? - Insistiu Leandro, um aficionado por guerras que lera sobre a médica Brienne Brooks, condecorada no Afeganistão e fez uma confusão danada.
-Não importa, deixa pra lá... - Disse a Raika abanando as mãos.
-Tá bem. - Concordou Leandro, tirando o jogo do pause por breves instantes até a Raika vir de novo:
-E Jenna Jameson, tu sabe quem é?
-Jonah Jameson? - Ele perguntou, sorrindo e pausando o jogo de novo.
-Jenna! Jenna Jameson. - Corrigiu Raika,
-Jenna, eu não sei, mas Jonah é o chefe do Homem-Aranha... - Disse o Leandro, com um entusiasmo que desapareceu conforme não foi correspondido pela cara de paisagem da Raika.
Ficaram os dois em silêncio, ela com o laptop no colo, e ele com o controle entre as mãos. Ali pelas tantas ela não resistiu, se jogou pra frente abraçando-o bem forte pelo pescoço e dizendo:
-Ai, meu amor! Meu coração! Meu tudo! Eu sabia!
Leandro, pego de supetão, pausou o jogo o mais rápido possível e após alguns instantes largou o controle pra corresponder ao abraço. Perguntou:
-Sabia o que, amor?
-A minha amiga, a Fabi, ela me disse que tinha pego o marido dela vendo pornô, aí eu disse que era um horror, isso, homem adulto vendo pornografia. Ela riu de mim e me disse que todo o homem vê pornografia, e quando eu disse que tu, não, ela falou "Claro que vê, inclusive deve conhecer elas todas, só não te fala". Aí eu tentei não pensar nisso, mas toda a hora me vinha nacabeça a Fabi falando que tu via pornografia e conhecia as atrizes, aí pesquisei as mais famosas na internet e fiz esse teste contigo.
O Leandro a olhou incrédulo, brevemente, mas antes que tivesse a chance de falar a Raika juntou as mãos em seu colo e disse:
-Me desculpa, tá coração? Desculpa ter pensado isso de ti. Duvidado da tua hombridade.
O Leandro sorriu balançando a cabeça:
-Imagina, meu amor... Tudo bem... Na verdade eu-
Mas a Raika o interrompeu, agarrando-o pelos ombros:
-Olha, eu vou te compensar por isso, tá? Tu não precisa de atriz pornô, tu vai ter uma mulher disposta a fazer todas as tuas vontades, e, melhor de tudo, exclusiva, só pra ti!
E se levantou, após beijá-lo com uma volúpia inédita:
-Vou tomar um banho bem bom, me perfumar bem, e depois vou te dar tua recompensa no quarto. Termina esse jogo aí que em quinze minutos a gente começa nosso filme adulto particular.
Deu-lhe uma piscada sexy e correu pro banheiro.
O Leandro Nem terminou o jogo, salvou, desligou o videogame e foi correndo tomar uma água pra se hidratar. A verdade é que ele via pornografia sim. E tinha uma atriz preferida, a Nicole Aniston, uma das poucas de quem sabia o nome, além da Stoya. Ele provavelmente já vira algum filme ou pelo menos alguma cena com as que a Raika mencionara em seu interrogatório improvisado, mas era péssimo guardando nomes. Leandro inclusive ia, honestamente, assumir aquela pequeno desvio de caráter.
Concordava com a Fabi. Todo o homem, eventualmente via pornografia.
Mas depois das promessas da Raika não teve coragem... E, se tudo o que ela prometera fosse até parcialmente verdade, ele abriria mão da pornografia eventual de boníssimo grado.

Resenha Blu-Ray: Velozes & Furiosos 6


Dormi cedo demais, ontem. Peguei no sono enquanto tentava assistir ao jogo entre Inter e Vitória, os jogos do Inter ultimamente tem esse efeito em mim. Me fazem dormir que nem uma pedra e bem rápido. Duvido que algum sonífero químico funcione melhor que o "futebol" apresentado pelo Inter do Dunga.
De qualquer forma, dormi cedo demais, e acordei por volta de meia-noite e trinta com duas certezas... Bom, na verdade três, mas a terceira não vem ao caso. As duas certezas que importam eram:
Estava calor.
Eu não conseguiria mais dormir naquela noite.
Com essa certeza martelando na cabeça, não me restou alternativa exceto procurar o que fazer. E a escolha vou procurar um filme pra ver na madrugada.
Após uma breve busca na grade do serviço de locação da TV a cabo, o escolhido foi um filme que eu queria ter visto no cinema, mas não consegui:
Velozes & Furiosos 6.
Sequência óbvia do filme que trouxe a trupe de Vin Diesel e Paul Walker ao Brasil em 2011, Velozes & Furiosos 6 mostra a gangue de rachadores vivendo mansamente dos frutos de seu último golpe no quinto filme.
Brian (Walker) e Mia (Jordana Brewster) têm um filho recém nascido, Dom (Diesel) está tranquilo com a ex-tira Elena (Elsa Pataki), Gisele (Gal Gadot) e Han (Sung Kang) viajam pelo mundo, Roman (Tyrese Gibson) torra sua fortuna com viagens à lugares paradisíacos e modelos piranhudas e Trej (Chris 'Ludacris' Bridges) compra carros conceito para passear em recônditos do Caribe.
A rotina tranquila do grupo termina quando o agente Luke Hobbs (Dwayne The Rock Johnson) encontra Dom.
Para sua surpresa, porém, Hobbs não quer prendê-lo, mas pedir seu auxílio para capturar uma gangue de criminosos de alto nível liderados por Shaw (Luke Evans), um ex-militar inglês interessado em roubar sofisticados armamentos da OTAN e vendê-los no mercado negro.
Para atrair a atenção de Dom e seus amigos, além de indultos a todo o grupo, Hobbs tem um outro trunfo:
No grupo de Shaw está ninguém menos do que Letty (Michelle Rodriguez), ex-namorada de Dom dada como morta no quarto filme.
Com o grupo de Brian e Dom reunido, começa uma caçada que se estende de Londres à Espanha, passando por Los Angeles e colocando os bandidos gente-boa de Dom mais o agente Hobbs e sua parceira Riley (Gina Carano) contra os brutais mercenários de Shaw numa luta onde a vitória pode significar a chance de voltar pra casa, e a derrota, é a morte.
Claro que pra se aproveitar os filmes da série Velozes & Furiosos é necessário estar com a suspensão de descrença tão em dia quanto o desapego.
Se essa necessidade de aceitar o implausível em nome da diversão já era crucial nos três primeiros filmes da franquia, tem sido escalonada vertiginosamente desde o retorno de Diesel no quarto longa, e mais um degrau do exagero e do absurdo é superado nesse sexto filme.
O desapego fica por conta da completa alteração do tom dos filmes.
Se Velozes & Furiosos, + Velozes + Furiosos e Velozes & Furiosos - Desafio em Tóquio ganharam ou sustentaram fãs por serem filmes policiais ambientados no mundo das corridas de rua, de Velozes e Furiosos 4 pra cá a série mudou bastante, se tornando filmes de ação estilo "heist movie", com todos os clichês dos filmes de assalto (Se duvida veja Onze Homens e Um Segredo, Efeito Dominó e A Origem, e confira todas as semelhanças), e nesse sexto episódio ganha até um arzão de filme de máfia, trocando a família Corleone pela família Toretto.
Ainda assim, o filme diverte. Enquanto assistia à película vidradão, ainda pensei como um filme tão ruim podia ser tão divertido, e a resposta é "Porque ele entrega exatamente o que se espera", duas horas de adrenalina, piadinhas idiotas e velocidade estilo montanha-russa que despreza solenemente coisas como roteiro, interpretações ou as leis da física.
O elenco de canastrões do goleiro ao ponta-esquerda segue impagável, especialmente quando tenta aprofundar as interpretações, por sorte a franquia tem a decência de não se levar a sério demais, brincando inclusive com os músculos oleados de The Rock e Vin Diesel.
Precisa de mais uma razão pra ver o filme?
A luta da Gina Carano (Que ontem, olhando de certo ângulo os olhos, o nariz e as sobrancelhas percebi porque eu acho tão atraente) contra Michelle Rodriguez no metrô de Londres. As duas gatonas dão risada na cara de Diesel e The Rock com seu agarramento em Operação Rio.
Em suma, é ruim, mas é bom. Vale demais a locação e me arrependo de não ter visto no cinema. Remediarei isso quando lançarem Velozes & Furiosos 7.
Sim, vai ter, dê uma conferida na cena após os créditos, preparando terreno pra nova sequência e endireitando a cronologia da série para com Desafio em Tóquio.

"-Você não vira as costas à sua família, mesmo quando ela o faz."

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Duelo de Demos: FIFA 14 X PES 14



Calma, não invoquei dois demônios das profundezas do inferno pra se digladiarem no blog, mas sim, estive vagando pela PSN na terça e ontem em busca das versões prévias dos representantes desse ano das duas maiores franquias esportivas do mundo, o FIFA Soccer da EA Games e o Pro Evolution Soccer da Konami.
Todo mundo já deve saber que eu sou FIFistA convicto de longa data, mas também sabem que eu me divirto muito jogando Pro Evolution entre amigos.
Comecemos com FIFA, que baixei primeiro:
O Game da EA vem dando uma sonora goleada no PES nos últimos anos. Embora o público brasileiro, que majoritariamente prefere Pro Evolution possa ficar bravo, a proporção mundial de vendas das franquias bateu em 25 pra 1 no ano passado.
Isso mesmo, pra cada exemplar de Pro Evolution vendido no mundo, vinte e cinco FIFA já haviam sumido das prateleiras.
Isso não é por acaso. FIFA Soccer alcançou, entre suas versões 12 e 13, um patamar elevadíssimo em termos de qualidade, fidelidade e apuro técnico. Jogar FIFA soccer num console de última geração é a chance mais próxima que um perna de pau como eu ou você temos de experimentar como é ser um craque da bola jogando nos maiores palcos futebolísticos do mundo.
Após jogar algumas partidas do DEMO da versão 14 do jogo, dá pra dizer que há algumas alterações interessantíssimas.
Um sistema de proteção de bola mais refinado foi adicionado ao jogo. Agora, com a pelota dominada, ao invés de ficar girando ou correndo pra fugir da marcação enquanto procura por um companheiro melhor colocado, existe a opção de dar as costas ao marcador e proteger a bola. Uma evolução muito bem sacada do sistema de impacto inserido em FIFA 12 e aperfeiçoado na versão anterior. O sistema de chute também foi aprimorado, tornando as pegadas dos atacantes na redonda mais verossímeis e mais difíceis. Não basta chegar espremendo o botão pra achar a meta, estufar a rede exige estar com o tempo de bola em dia, ter equilíbrio e estar bem posicionado pra não pegar de rosca e levar vaia.
Não bastasse isso, os times adversários agora jogam como se toda a partida fosse final de campeonato e toda a bola fosse um prato de comida. Paredões se formam em frente ao gol inimigo, especialmente nos embates de grandes clubes contra equipes de menor expressão.
Os gráficos melhoraram sensivelmente, especialmente nos uniformes dos jogadores, com texturas mais bonitas e acabamento caprichado, as feições dos jogadores seguem apenas OK em sua maioria, embora alguns jogadores digitais extra-classe sejam irritantemente iguais às suas contrapartes do mundo real.
As animações de comemoração, e a movimentação dos atletas, da corrida ao gestual seguem ótimas, e ainda nem estamos falando da versão acabada do jogo, que só será lançado no Brasil em 03 de outubro.
Com relação ao PES:
A Konami tem que correr atrás do prejuízo. Embora a própria companhia tenha assumido que não tinha como competir com FIFA em seus próprios termos (leia-se "PES não tem como virar um simulador", e nem deve...), o jogo não precisava ficar naquela mesmice apresentada desde a versão 2009.
A utilização de um novo motor gráfico deixaria o game mais bonito e a engine FOX, prometia melhorar a física do jogo, tornando a bola menos previsível, e levar em conta a altura e o peso dos atletas na hora de disputas e divididas de bola.
Na versão DEMO a tal melhoria gráfica não é notada. PES sempre teve gráficos mais vistosos que os de FIFA, em especial na recriação das feições de jogadores mais famosos. Ao jogar com o Bayern de Munique, por exemplo, chega a dar vontade de rir da fidelidade da carranca do craque francês Ribéry, o meia-cancha de Notre Dame, do Shrek Wayne Rooney ou do zagueiro brasileiro Dante.
A questão é que, no PES, a qualidade das feições digitais dos jogadores "TOP" não é novidade, e a representação dos jogadores menos cotados é muito ruim.
Veja por exemplo o lateral Rafael, do Manchester United, o boneco parece um espantalho que sobrou o Hollywood Wax Museum. Esses rostos "genéricos" do game, acabam criando um desequilíbrio com os jogadores mais afamados, que têm feições super texturizadas, cheias de efeitos de sombra pra reproduzir suas faces aos mínimos detalhes.
A animação da movimentação dos atletas segue durinha, com os players se mexendo como robôs, mas a física realmente melhorou.
Os jogadores, embora ainda alcancem velocidades absurdas quando engatam uma quinta marcha, e tenham um foguete no pé (independente de ser o esquerdo ou o direito), ganharam mais peso, isso melhorou o sistema de drible e acrescentou verossimilhança às viradas dos atletas e aos movimentos de preparação de chute.
Infelizmente, o principal defeito de PES ainda existe:
O jogo é fácil demais.
É praticamente impossível não vencer, e muito difícil não tocar uma sacola na CPU. Os goleiros seguem sendo o ponto baixo do jogo, com movimentação limitada e sem sentido, posicionamento zero, e reflexos de goleiro de showbol.
Enfim, como diz a tela de abertura das DEMOs, aquilo é uma prévia jogável, e não reflete a qualidade do produto finalizado, mas, baseado na prévia, FIFA vai dar outra surra de relho no Pro Evolution, embora ao menos a franquia da Konami, dessa vez, mostre uma tentativa de melhorar que vá além das licenças.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Água


A água, além de inspiração pra uma música muito chata do Guilherme Arantes, é condição inequívoca para a existência da vida.
É sabido, já diriam os dothraki, que a água é o solvente universal, um dos quatro elementos essenciais da natureza, segundo os gregos, e que, apenas em sua forma líquida, recobre setenta e um por cento da superfície da Terra, sendo a molécula mais abundante do planeta.
A água também é um elemento purificador em várias religiões como o hinduísmo, o cristianismo, o budismo e até mesmo a wicca.
E, veja só, a água é tão importante que nas mitologias religiosas politeístas, as entidades relacionadas à água gozam de maior prestígio e maior número de seguidores, veja, por exemplo, Yemanjá, e Netuno...
Para os seres humanos a água é tão importante quanto para o resto da natureza. Talvez mais. A água é o componente majoritário das células. Por ser o solvente universal, ela é responsável por praticamente todas as nossas reações químicas internas, além de transportar alimentos, oxigênio e sais minerais pelo corpo e estar presente em todas as nossas secreções e até mesmo em nossos ossos, compostos por 20% de água. Nós podemos passar semanas sem comer, mas apenas dois dias sem ingestão de água já começa a causar transtornos e passar cinco dias a seco pode ser fatal.
O corpo de um ser humano é constituído de 65 a 75% de água. Essa porcentagem varia de acordo com a idade, sexo, massa muscular e tecido adiposo, mas convenciona-se dizer que 70% de uma pessoa é água. A maior parte.
Partindo-se desse princípio, quando tu sente saudades de uma pessoa de, digamos, uns cinquenta quilos, tu está morrendo de saudade, a grosso modo, de 35 litros d'água.
Talvez esse pensamento simplista sirva pra não se condoer tanto de si mesmo.
Ou talvez não.
Talvez esse pensamento besta, surgido da necessidade de justificar o injustificável prove-se tão inútil e vazio quanto a sala de troféus do grêmio, e a única coisa que sobre seja assumir a responsabilidade e engolir a dor. E decidir o que fazer com a frustração de planos elaborados, promessas não cumpridas, juras de amor verdadeiras mas insuficientes e quatro novos pares de cuecas brancas adquiridos no dia seguinte à noite do último amasso.
Enquanto isso, liga pra fornecedora de água mineral e pede dois galões de vinte litros pra ver se isso amaina a saudade que corrói a alma.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Resenha Blu-Ray: Alvo Duplo


Após uma frustrante sessão de cinema em que aturei Ashton Kutcher tentando desesperadamente atuar, cheguei em casa e resolvi tentar uma nova experiência cinematográfica, quem sabe algo menos pretensioso.
Depois de um breve escrutínio na grade do serviço de locação da TV a cabo, resolvi apostar cinco mangos em Alvo Duplo.
Filme estrelado por um mestre na arte de não atuar, Sylvester Stallone.
Alvo Duplo mostra o assassino de aluguel Jimmy Bobo (um Stallone na sua zona de conforto e parecendo menos "embotoxado" do que em seus recentes trabalhos anteriores), criminoso de carreira, no mundo do crime desde a adolescência, que após 26 prisões, quatro julgamentos e duas condenações vive na moita, fazendo seu trabalho da maneira mais rápida e limpa possível.
Seu trabalho consiste em ser contratado por gente ruim para matar gente ainda pior. Sua única regra é:
Nada de mulheres. Nem crianças.
Trabalhando em Nova Orleans com um parceiro, Louis Blanchard (Jon Seda), Jimmy acaba de realizar mais um serviço rotineiro, apagando um chantagista, mas, na hora de coletar o pagamento, eles são emboscados em um bar, onde Louis é assassinado, e Jimmy é atacado pelo mercenário Keegan (Um esforçado Jason Momoa, o Khal Drogo) escapando da morte por um triz.
Ao mesmo tempo, o detetive Taylor Kwon (Sung Kang, da série Velozes e Furiosos) chega à cidade em busca de pistas sobre a morte de seu ex-parceiro, Hank Greely (Holt McCallany), justamente o alvo do último trabalho de Jimmy e Louis.
Fazendo a conexão entre a morte de Greely e a de Louis ao acaso, Kwon acaba chegando a Bobo, e após alguma tensão, os dois percebem que estão atrás das mesmas pessoas, e resolvem unir forças em busca de seu inimigo em comum.
A premissa rasa diz tudo. Alvo Duplo é quase um filme de ação oitentista com toda a violência e simplicidade que um filme dos anos oitenta pedia (Até uns peitos e bundas são mostrados porque todo mundo sabe que, em filme de ação oitentista, sempre tinha que aparecer um par de tetas, pelo menos).
Seguindo o modelo de investigação clássica do cinema, onde cada parada leva à seguinte, e em cada uma há um tiroteio que faz justiça ao título original do filme, Bullet to the Head (que poderia ser livremente traduzido como "balaço na cabeça", e balaços na cabeça não faltam ao filme).
A direção de Walter Hill egresso do cinema de ação 70/oitentista com fitas como Warriors - Selvagens da Noite, 48 Horas, partes um e 2, e Inferno Vermelho não fede nem cheira, e do elenco, que ainda tem Christian Slater, Adewale Akinnuoye-Agbaje e a gatinha Sarah Shahi, se salva, mesmo é Jason Momoa, interpretando até mais do que o roteiro com estrutura de video game (tem até um smartphone ao qual os protagonistas apelam para receber a próxima "missão") exigiria.
Em suma, uma hora e meia de diversão razoável, com alguns peitinhos de fora, piadinhas infames, tiros, facadas, machadadas, pancadarias e explosões conforme pede a cartilha do cinema macho.
Vale os cinco pilas da locação.

"-Nós vamos lutar ou você planeja me entediar até a morte?"

Resenha Cinema: Jobs


Sexta-feira, prenúncio de feriadão pra este humilde escriba (Vocês que trabalham de segunda à sexta e desprezam feriados aos sábados não sabem como um feriado no sábado é maneiro para lacaios como eu), saí do serviço, apanhei meu cachorro no anho e fui ao cinema procurar algo para assistir.
Tinha intenção de ver o mais recente filme de Roland Emmerich, O Ataque. Me parecia que uma dose cavalar de diversão escapista e desprovida de qualquer gravidade além de um eventual pico de tensão infundada era exatamente o que eu precisava pra sobreviver ao final de semana prolongado que havia começado tão mal.
Mas mudei de ideia.
Não sei ao certo o que me fez comprar o ingresso para ver a cinebiografia de Steve Jobs. Não sou um seguidor da quase religião que faz alguns geeks se ajoelharem ante qualquer aparelho eletrônico com um desenho de maçã mordida, certamente não sou um fã dos talentos dramáticos de Ashton Kutcher, e nem sequer sou capaz de lembrar de nenhum outro trabalho do diretor do filme, Joshua Michael Stern.
Talvez tenha sido apenas vontade de, amargamente, reclamar de alguma coisa que não a vida, e, prevalecidamente, escolhi um alvo fácil para direcionar minha ranhetice.
Jobs é esse alvo fácil.
A cinebiografia narra episódios importantes da vida de Steve Jobs, genioso gênio por trás da Apple, desde sua fase hippie nos anos setenta, usando LSD e tentando pegar mulher na universidade que abandonaria antes da formatura, até suas midiáticas apresentações de produtos, já como o mais famoso CEO do mundo corporativo.
O filme, na verdade, abre em 2001, com um Ashton Kutcher devidamente caracterizado como o Steve Jobs que todo mundo conheceu (Diga-se de passagem: A maquiagem faz um ótimo trabalho ao realçar as semelhanças físicas entre Kutcher e Jobs), gola rolê, jeans, tênis apresentando o I-Pod, para então voltar no tempo, e mostrar Jobs, aluno genial da universidade de Reed, andando descalço pelo campus, seguindo-se à sua viagem à Índia, seu emprego na Atari, e a criação do Mac, na garagem da casa de seus pais adotivos.
Daí, o filme já avança para a Apple devidamente fundada, com uma bela sede em Palo Alto, na Califórnia, e um Steve Jobs grosseiro, briguento, workaholic e cheio de si. Um sujeito tão desprezível que, quando sua namorada o procura dizendo que está grávida, ouve que ele não tem tempo pra isso, e que a criança pode nem mesmo ser sua.
Quando esse sujeito egocêntrico e nojentão que "não sabe trabalhar em equipe" acaba chutado da própria companhia, é até difícil sentir pena dele.
Se até este ponto Jobs era uma cinebiografia chatinha com um protagonista canastrão, porém esforçado, daí em diante o filme assume sua natureza chapa branca, e passa a mitificar o biografado com unhas e dentes.
O protagonista se torna um homem generoso, sábio e tranquilo, casado, com filhos, e sendo visitado por aquela filha mais velha que tentou enjeitar anos antes.
Não há nenhuma menção à Pixar, empresa criada por Jobs, e mal e porcamente se ouve o nome de Bill Gates.
À exceção de Steve Wozniak (Josh Gad), seu amigo e parceiro na fundação da Apple, os coadjuvantes não têm nenhuma profundidade ou relevância exceto orbitar Jobs e fazê-lo parecer brilhante.
Mesmo Woz, co-criador do sistema operacional da empresa, aparece ouvindo "palestras" de seu amigo sobre como as invenções dele são geniais (o que rendeu queixas públicas do verdadeiro Wozniak e troca de farpas entre ele e Kutcher, que além de protagonizar, produz o longa metragem).
Kutcher se esforça, além da maquiagem se puxa para emular o jeito de falar e caminhar de Jobs, e até mesmo passou algum tempo se alimentando da mesma dieta maluca do fundador da Apple, que consistia em suco de cenoura e frutas variadas, mas está longe de ser ator pra segurar um drama biográfico nas costas, especialmente quando o personagem central do filme era alguém reconhecido por seu individualismo e personalidade magnética. Nem o fato de o restante do elenco (que conta com nomes como Dermot Mulroney, Lukas Haas, Matthew Modine e J.K. Simmons) ser subaproveitado ajuda o Jobs de Kutcher a convencer.
Apostando na superexposição, com personagens aparecendo volta e meia pra reforçar verbalmente o que a audiência vê na tela, o roteiro de Matt Whiteley simplesmente deixa de explorar a contento qualquer característica negativa de Jobs, preferindo lamber o saco do biografado e elevá-lo ao pedestal de grande revolucionário da ciência e da tecnologia (Albert Einstein aparece em um pôster no comecinho do filme) num longa que termina superficial e aborrecido.

"-Apple? Como a fruta?
-A fruta da criação."

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Resenha Blu-Ray: 42 - A História de Uma Lenda


42 - A História de uma lenda foi uma grata surpresa aos cofres da Legendary Pictures. A empresa que tem produzido todos os filmes recentes da Warner, incluindo os super-heroicos Batman, Superman, e o ótimo, porém ruim de bilheteria, Círculo de Fogo.
O longa de Brian Helgeland, o mesmo diretor de Coração de Cavaleiro, custou pouco para os padrões hollywoodianos (40 milhões), e fez uma ótima carreira nas bilheterias estado-unidenses, embora provavelmente fique por aí, já que um dos temas centrais do filme, o beisebol, não é lá muito relevante fora da terra do tio Sam, exceto, no Japão e alguns poucos países nas Américas Central e do Sul, prova disso é que o longa, que ficou no topo das bilheterias norte-americanas quando foi lançado, saiu aqui direto em home-video, e sem muito alarde (Eu tive que catar o filme no meio do catálogo do NOW sem nenhum destaque)...
O longa narra a história de Jackie Robinson (Chadwick Boseman), que, em 1946 tornou-se o primeiro jogador de beisebol negro a jogar pelas grandes ligas após uma epifania de Branch Rickey, presidente dos Brooklyn Dodgers.
Rickey, interpretado por um convincente Harrison Ford, fugindo do seu estereótipo do action-hero de setenta anos em plena forma, resolveu que era o momento de tentar algo novo. Havia 400 jogadores na Major League Baseball em 1946, todos eles brancos. E Rickey resolveu ousar, e trazer um jogador das ligas negras para o seu time.
Rickey escolheu Robinson porque, além de um ótimo jogador de beisebol, ele tinha fibra, espírito de luta, era um veterano da Segunda Guerra Mundial, e "um metodista", como o próprio Rickey.
Armado da coragem de ousar mudar para, a princípio, fazer mais dinheiro (dólares não são pretos ou brancos. Dólares são sempre verdes), Rickey foi atrás de Robinson, e colocou-o, não apenas nas grandes divisões, mas também na linha de fogo do racismo proveniente da crônica esportiva, dos fãs e dos demais jogadores.
Robinson, apoiado por sua esposa Rae (Nicole Beharie) e por Rickey, enfrentou com fibra e determinação o preconceito que vinha de todas as direções, sendo forçado a suportar calado humilhações e ofensas sabendo que, qualquer reação que tivesse, seria o estopim para apontá-lo como um cidadão de segunda-classe, e um crioulo que não merecia jogar com os brancos.
Ao fazer isso, Robinson deixou seu talento fazer o serviço dentro de campo. Conquistando os fãs, seus companheiros e silenciando a mídia racista que tentava impedir que outros seguissem seu exemplo.
É um bom filme.
Segue a cartilha clássica dos dramas raciais e dos dramas esportivos, é meio chapa branca, mas nada que chegue a incomodar. Helgeland não é exatamente um diretor acima da média, mas conta com um bom elenco (encabeçado por Boseman e por um quase irreconhecível Harrison Ford), que tem ainda bons trabalhos que merecem destaque de Andre Holland como Wendell Smith, o crônista pessoal de Robinson, Alan Tudyk como o asqueroso Ben Chapman, treinador do time rival dos Dodgers, e ainda Christopher Meloni e Lucas Black.
Embora não tenha absolutamente nenhuma novidade a oferecer em termos de narrativa, 42 - A História de Uma Lenda faz seu serviço, e conta uma história verdadeira e tocante sobre preconceito e superação, que merece ser reconhecida mesmo por aqueles que não ligam pra beisebol.

"-Você quer um jogador que não tenha coragem de se defender?
-Não. Eu quero um jogador que tenha a coragem de não se defender.
-Senhor, dê-me um uniforme. Dê-me um número às costas. E eu lhe dou a coragem."

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A Conversa Que Não Tivemos


Ele segurou as mãos dela entre as suas quando se sentaram. Ela sorri aum sorriso comedido, mas ele só conseguia ver lágrimas metafísicas a escorrer-lhe pela face. Isso o matava por dentro. Começou a falar após respirar fundo brevemente:
-Minha mãe costuma dizer que não se tira dos pés de um santo para colocar nos de outro.
É uma referência bastante católica à promessas feitas da boca pra fora, ou devoções mal-cumpridas. Tu não tira a vela que acendeu aos pés de Santo Antônio para colocá-la aos pés de Santo Expedito, pra te dar um exemplo...
Ela sorriu de novo. Parecia apreensiva, mas sorriu. Ela sempre tinha um sorriso pra ele. Ele respirou fundo, sentindo um gosto metálico na boca. Continuou:
-Alguns de nós fazemos isso... Eu faço. É errado, como minha mãe tentou, em vão, me ensinar com a sua analogia religiosa. E eu sei que é errado. Mas os hábitos mais velhos são os que mais custam a morrer e esse é um hábito particularmente antigo, sabe?
Ele olhou pra ela. E ela o olhava com compreensão. Ela também sempre tinha compreensão pra ele. Ele apertou a mão dela, e seguiu:
-Talvez eu devesse parar de alimentar esses maus hábitos. Eu alimento eles com culpa, sabe? Minha... Minha relação com meu pai, enquanto eu crescia, enquanto eu formava a minha personalidade, ela nunca foi das mais salutares. Meu pai era um mau exemplo. Era o homem que eu não queria ser. E ainda hoje eu tenho mágoa dele por coisas que ele fez com a minha mãe e meus irmãos enquanto eu crescia. Então, não é que eu não goste dele, mas tenho mil reservas com relação a ele. E, por alguma razão torta, o fato de eu ter mais afinidade com a minha mãe me faz sentir culpado. Então, nas datas especiais, os presentes que eu dou ao meu pai são melhores ou em maior quantidade do que os que eu dou à minha mãe... E, de novo... Eu sei que não faz sentido. Nem é justo. Mas é assim que eu ajo... É assim que as coisas funcionam, de sob uma ótica torta, dentro da minha cabeça... Com compensações e precedentes...
Ela apertou os lábios superiores contra os inferiores, e baixou os olhos... Ele entendeu aquilo como um pedido de espaço, e soltou a mão dela. As mãos dele estavam frias. Ele esfregou uma na outra, e as duas nas calças. Tomou fôlego, fechou os olhos um segundo:
-Não é assim que se ama... Eu sei que não é. Não é a forma certa de fazer as coisas. Eu não posso ficar tirando dos teus pés. Não posso me devotar a ti parcialmente porque não é assim que se faz. Não é o jeito certo de se fazer e se não é o jeito certo é o jeito errado e o jeito errado é incômodo pra mim e te fere. Te machuca. Te maltrata. E eu não posso ser o responsável por fazer nada disso. Pra te amar, eu devia te acalentar. Te confortar. Poder ser teu como eu quero que tu seja minha. Inteira, sem percalços, desvios nem barreiras. E eu não posso. Não posso porque eu sei que têm coisas que te ferem e incomodam, de maneira plenamente justificável, que eu não sei se posso mudar. Ao menos, não agora.
Uma lágrima escorreu do rosto dele. Ele pegou a mão dela de novo. E então a largou novamente:
-Eu fui honesto contigo, tá? Mas eu sei que ás vezes honestidade não basta... Que ás vezes a verdade não é o bastante... Mas é só o que eu tenho... Não tenho a capacidade de tergiversar contigo. Aí eu fiquei pensando... O que fazer quando o que eu tenho pra oferecer não é o que ela precisa? Quando não é o que ela merece? E a resposta é óbvia: Sair da tua vida. Te deixar seguir com as tuas coisas... Ser tudo o que tu pode ser. Tudo o que tu merece ser.
Ela ainda o encarava. Muito séria. Os olhos nos dele. Ele pôs o polegar no queixo dela:
-Não precisa começar a soltar foguetes ainda... Eu não vou sumir da tua vida. Quando tu precisar de uma dica pra passar de fase, eu sempre vou estar na PSN. Quando tu precisar saber um endereço, eu sempre vou ter o Google Maps à mão... Quando tu tiver sede à caminho do Centro eu sempre terei uma Coca geladinha no refrigerador. Eu não te mereço porque tu é perfeita demais. É mais do que eu consigo administrar. Muito mais do que o que eu posso equiparar. Tu é tudo o que eu sempre quis e eu não sei o que fazer com tanta felicidade e completude. E, no tempo certo, tu vai encontrar alguém que mereça. Alguém que saiba como agir quando tudo está certo.
Ela se levantou, muito séria. Ele tentou alcançar a mão dela. Ela, delicada que era, deu-lhe a mão. E foi embora.
Enquanto a olhava partir. Ele continuou consigo mesmo:
E eu... Eu vou ficar quietinho... Mantendo a distância mínima pra não te ferir. Te observando partir... Eu nasci pra ficar sozinho... E é exatamente isso que eu vou fazer.