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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Top 10 Cinema: 2013

Mais um ano vai se perdendo nas areias do tempo. Até aqui foram 364 dias em que se fez muita coisa, entre elas, ver muitos filmes. Talvez não tantos quanto gostaríamos, talvez nem todos os que gostaríamos de ter visto, alguns por nossa culpa, outros por culpa das distribuidoras, do Leandro Hassum e do Fábio Porchat (Onde estão A Trapaça, O Lobo de Wall Stret, Dallas Buyer's Club, 12 Yeas a Slave e The World's End?), mas ainda assim, uma boa quantidade de filmes, e, bons filmes, afinal de contas.
Em um ano que não foi exatamente espetacular, e teve até algumas decepções (Homem de Ferro 3 não foi o que se esperava, nem O Homem de Aço, Elysium decepcionou, assim como O Conselheiro do Crime), mas também teve gratas surpresas, algumas das quais integram essa lista que segue, esperando não estar sendo injusta.
À ela, então. O infame Top 10 Casa do Capita com os melhores filmes a desembarcar no cinemas ou locadoras do Brasil em 2013:




10 - Thor - O Mundo Sombrio

É estranho, após o primeiro Thor ter sido apenas uma fita razoável de super-herói, quase nada além de uma parada obrigatória antes de Os Vingadores, ver sua sequência nessa lista. Especialmente levando-se em conta todos os rumores sobre elenco sendo chamado de volta ao trabalho para regravar cenas que teriam sido reescritas de cabo a rabo após o fim das filmagens.
Ainda assim, o segundo longa metragem do deus do trovão dirigido por Alan Taylor foi muito bem, obrigado.
Mais seguro, mais divertido, com melhor ritmo do que o predecessor, O Mundo Sombrio foi uma grata surpresa em um ano onde o Superman e o Homem de Ferro, mesmo não fazendo feio, não cumpriram suas promessas. É pedir demais que o terceiro longa seja melhor, ou ao menos tão bom quanto?

9 - Guerra Mundial Z

Brad Pitt, e zumbis. Não tinha como não dar certo. Todas as cocotas querem ver o sujeito mais bonito do cinema, e todos os marmanjos querem ver zumbis enfurecidos correndo feito loucos para se alimentar da carne dos vivos.
Filme de horror mais caro de todos os tempos, a adaptação do livro de Max Brooks foi outro filme que penou na mão de reedições, regravações e toda a sorte de problemas que um filme pode ter durante sua execução, ainda assim, a história do investigador aposentado da ONU, Gerry Lane (Pitt) que é recolocado na ativa após uma violenta epidemia de zumbis varrer a Terra funciona que é uma beleza.
Movimentado, divertido, e respeitando o cânone morto-vivo, Guerra Mundial Z deu um banho em The Walking Dead, fez bela carreira nas bilheterias, garantiu uma sequência e fez a festa de quem foi ver no cinema.

8 - O Mestre

Soco na boca do estômago dirigido por Paul Thomas Anderson. A história do ex-combatente da Segunda Guerra Mundial Freddie (Joaquin Phoenix, assombroso), um bêbado errante e violento incapaz de se ajustar à vida civil, e de como ele tem a chance de recomeçar ao conhecer Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman, ótimo)e A Causa (Qualquer semelhança com L. Ron Hubbard e a cientologia não é mera coincidência) é desses filmes que deixam o espectador sentado inerte na cadeira alguns minutos após o fim da projeção.
Drama de personagens com performances brilhantes (O elenco principal conta ainda com Amy Adams), fotografia belíssima e direção beirando a perfeição é pra ver e rever, e se esbaldar com o trabalho soberbo de todos os envolvidos.

7 - Capitão Phillips

O libelo anti-globalização/filme de ação de Paul Greengrass (O Ultimato Bourne, A Zona Verde) é um dos melhores trabalhos de Tom Hanks desde O Resgate do Soldado Ryan, mas não é apenas isso.
A história real do capitão Richard Phillips, sequestrado após seu navio ser abordado por piratas somalis em 2009 se tornou um dos melhores e mais tensos filmes de 2013 graças a seu roteiro e elenco (Além de Hanks há um show do ator semi-amador Barkhad Abdi, interpretando o pirata Muse), sim, mas especialmente graças a seu diretor.
Além da melhor mão para thrillers de ação do cinema atual, Greengrass não perde nada com sua câmera na mão, e conta sua história sem tomar partido, humanizando os dois lados da balança sem pender para este ou aquele.

6 - O Lado Bom da Vida

O filme do ótimo David O. Russel (O Vencedor) que conta como Pat Solitano (Bradley Cooper) pretende reconstruir seu casamento após oito meses internado em uma instituição para doentes mentais devido a um surto bipolar com a ajuda de sua mãe compreensiva (Jackie Weaver), seu pai obsessivo compulsivo (Robert De Niro) e sua vizinha Tiffany (Jennifer Lawrence), igualmente uma ex-interna de clínica mental, é uma saborosa mistura de romance, comédia e drama amparada nas atuações de um elenco fazendo seu melhor (todo o elenco principal foi merecidamente indicado ao Oscar) sob a batuta de um cineasta que sabe tudo de direção de atores.
O filme fofo do ano, melhor trabalho de Cooper, show da gostosérrima Jennifer Lawrence e uma das melhores atuações de De Niro em todos os tempos.


5 - Rush - No Limite da Emoção

A ode à adrenalina, rivalidade ambição e velocidade engendrada pelo diretor Ron Howard, o roteirista Peter Morgan, o cinematógrafo Anthony Dod Mantle e o compositor Hans Zimmer e estrelada por Chris Hemsworth e Daniel Brühl é um filme pra absolutamente ninguém botar defeito.
Qualquer pessoa com dois neurônios e uma espinha se diverte com o filme, mas se o espectador é minimamente interessado por automobilismo, Rush é pra assistir de joelhos, agradecendo aos envolvidos.
A história de Niki Lauda (Brühl) e James Hunt (Hemsworth), dois pilotos de estilo completamente antagônico dentro e fora das pistas desde o início de suas carreiras na Formula 3 até o Mundial de Formula 1 de 1976, quando os dois disputaram ponto a ponto o título do campeonato é um triunfo de realização tão espetacular e uma trama de rivalidade e superação tão fodona que é até difícil acreditar que é baseado em uma história real.

4 - Django Livre

Se a audiência não sabia nada sobre guerra até vê-la pelos olhos de Quentin Tarantino em Bastardos Inglórios, o mesmo se pode dizer sobre faroestes, conforme ficou claro no bangue-bangue sulista que o diretor lançou em dezembro de 2012 nos EUA e que chegou aos cinemas brasileiros em janeiro desse ano.
A história do escravo liberto Django (Jamie Foxx) e sua tentativa de salvar sua esposa Brunhilde (Kerry Washington) das garras do fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) com a ajuda do caçador de recompensa alemão Dr. King Schultz (o brilhante Christoph Waltz) é a quintessência do cinema de um Tarantino na sua melhor forma, em toda a sua glória irreverente, sangrenta e vibrante.

3 - Antes da Meia-Noite

Depois de vinte anos e três filmes (fora uma ponta na animação Waking Life), somos todos íntimos de Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy). O casal que nós acompanhamos desde aquele trem rumo a Viena, passando pela conversa na cama, o reencontro em Paris e finalmente esse final de férias em família em uma idílica ilha grega, quando a rotina da vida de casado faz aflorar o pior dos dois amantes.
Mais ácido do que as incursões anteriores dos personagens às telas, mas não menos inteligente, romântico e charmoso em sua tagarelice, Antes da Meia-Noite é um maduro e bem-vindo novo capítulo da franquia mais romântica do cinema, e um triunfo pessoal de Delpy, Hawke e do diretor Richard Linklater, todos co-autores dos roteiros da série que só melhora com o passar do tempo.
Encontro marcado pra daqui a dez anos?

2 - Gravidade

Alfonso Cuarón, um diretor extremamente foda, ganha um orçamento de responsa, duas estrelas hollywoodianas de primeira grandeza, e constrói uma das ficções científicas mais sensacionais da história do cinema.
A desesperadora situação da doutora Ryan Stone (Sandra Bullock) e do astronauta Matt Kowalski (George Clooney) após um acidente com seu ônibus espacial 600 Km acima da Terra deixando os dois incomunicáveis e à deriva no espaço sideral é uma joia rara no cinema de hoje em dia.
Sem a ambição de se tornar uma franquia, sem uma mitologia complexa que obrigará o espectador a comprar livros, quadrinhos ou videogames pra entender toda a dimensão da trama, Gravidade requer apenas atenção e uma pequena dose de suspensão de descrença (a menos que tu seja um astrofísico, então a dose precisa ser um pouquinho maior) para deixar a audiência na ponta da cadeira, de queixo no chão, contraindo todos os músculos de tensão inescapável.
O roteiro redondinho de Cuarón (com a participação de seu filho, Jonas), mais o charme e o carisma de George Clooney, e talvez a maior interpretação da carreira de Sandra Bullock, somados a efeitos visuais de ponta, 3-D caprichado, fotografia excepcional, e trilha sonora fodona formam um dos melhores filmes do ano, e provavelmente o melhor suspense espacial dos últimos 30 anos.

1 - O Hobbit - A Desolação de Smaug

Foi por muito pouco que A Desolação de Smaug venceu Gravidade no meu Top-10.
Muito pouco, mesmo.
Se eu tivesse que apontar o gol de ouro que deu a vitória na morte súbita para o segundo O Hobbit, provavelmente apontaria a sequência dos barris descendo o rio.
Isso porque essa sequência, em particular, é a síntese de tudo que há em A Desolação de Smaug.
Humor, tensão, ação, aventura, drama... Tudo lá, bem dosadinho, em uma embalagem linda que só faz melhorar em 48 quadros por segundo, com um 3-D caprichado, efeitos visuais de cair o queixo, trilha sonora belíssima e atuações competentes de um elenco acima da média dando vida a um mundo imaginado e trazido à vida por um time de cobras.
A sequência da aventura de Bilbo Bolseiro, Gandalf e a companhia de anões de Thorin Escudo de Carvalho é uma evolução e um melhoramento exponencial de tudo o que havia de melhor em Uma Jornada Inesperada, que já havia sido meu filme preferido do ano passado.
Aventuresco, divertido, honesto e puro, O Hobbit - A Desolação de Smaug é uma matiné espetaculosa pra ninguém botar defeito, e o grande campeão de 2013 na opinião desse nerd que vos fala.
O único defeito? Falta quase um ano pra poder assistir Lá e De Volta Outra Vez.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

TOP 10 Negativo 2013

Em 2012 tivemos uma inspirada safra de produções cinematográficas. Tão boa que talvez tenha chegado perto do glorioso ano de 1999, provavelmente o ano mais prenhe de grandes filmes que eu tive a oportunidade de testemunhar.
O ano de 2013 não foi tão bom quanto o anterior, muito por conta do calendário de lançamentos brasileiro, que nos sonegou lançamentos com muito potencial, como O Lobo de Wall Street, Dallas Buyer's Club e 12 Years a Slave para colocar porqueiras declaradas como Até Que a Sorte Nos Separe 2 em número recorde de salas.
A despeito dos problemas, houveram muitos bons filmes em 2013, além, claro, de muitos filmes sofríveis.
São esses que nos interessam na lista que segue, o infame Top 10 Negativo da Casa do Capita.
Como de praxe, filmes lançados no decorrer de 2013 nos cinemas ou em home-video e que eu tenha assistido.





10 - O Conselheiro do Crime

Ridley Scott, Cormac Maccarthy, Michael Fassbender, Javier Bardem, Brad Pitt, Penelope Cruz. Essa equipe não parece material de top 10 negativo. E nem deveria.
Ainda assim, o tratado moral de Macarthy conseguiu a proeza. Numa trama de fronteira sem surpresas, onde o desfecho é óbvio desde o primeiro de vários discursos, com um protagonista chato e com personagens que são caricatos sem ser interessantes, essa coleção de frases de efeito está aqui muito mais pela má execução do que pela má intenção.
Não adianta montar time dos sonhos pra disputar torneio regional, assim como não adianta reunir elenco, roteirista e diretor de primeira linha pra contar uma história óbvia e pretensiosa.

9 - Elysium

Seria demais dizer que é a decepção do ano? O filme dirigido por Neil Blomkamp e estrelado por Matt Damon prometia a mesma qualidade do excelente Distrito 9 com um elenco de primeira e o grande investimento de super-produção, mas a promessa não se cumpriu.
Elysium resultou num filme irregular, com um protagonista que perde toda a sua simpatia e humanidade no final do primeiro ato e se torna só um herói de ação sisudo em um exoesqueleto conforme o filme se torna mais genérico e didático enquanto se aproxima do final.
Nem a alardeada estreia hollywoodiana de Wagner Moura torna a empreitada menos desapontadora.

8 - Duro de Matar - Um Bom Dia Para Morrer

John McLane deveria ter pendurado a pistola com Duro de Matar - A Vingança, a única sequência digna de Duro de Matar. Se Duro de Matar 2 era bem meia-boca, e A Vingança era ao menos uma fita de ação digna, Duro de Matar 4.0 era absolutamente desnecessário e idiota e esse Um Bom Dia Para Morrer só não é risível porque simplesmente não tem graça.
O pior? Duro de Matar 6 já está em andamento na FOX...

7 - O Resgate

Nicolas Cage está falido. Ele levou um golpe milionário do contador e a sua situação ficou tão apertada que ele teve até que vender parte de sua coleção de gibis. Quem coleciona gibis sabe o tipo de dor que Nick sentiu tendo que fazer isso.
Pior do que vender sua coleção de gibis foi ser obrigado a aceitar qualquer proposta de emprego. Só isso explica coisas como O Resgate, tenebroso heist movie onde Cage é um ladrão especialista com coração de ouro que abandona o crime após ser preso. Porém, quando sua filha (Sami Gayle) é sequestrada por um ex-cúmplice (Josh Lucas), ele precisa voltar à ativa mesmo com o FBI na sua cola.
Nada funciona no filme, e o talentoso Nic Cage mostra, outra vez, que não tem nenhum critério compreensível na hora de escolher seus trabalhos, exceto o tamanho do pagamento.

6 - Jobs

Cinebiografia mezzo chapa branca do idealizador da Apple Steve Jobs estrelada pelo pseudo ator Ashton Kutcher.
Não tem como ficar pior que isso.
Abrindo mão das passagens mais controversas da vida do executivo para colocá-lo em um pedestal, esse Jobs é um subproduto de louvação à personalidade tão vazio quanto maçante.
Kutcher se esforça amparado na semelhança física com Jobs, mas isso não o torna um ator mais talentoso, nem faz com que a série de eventos jogada na tela ao longo da projeção ganhe estofo ou drama.
Outro filme sobre a vida de Steve Jobs, baseado na sua biografia escrita por Walter Isaacson, deve sair e, quem sabe, fazer justiça à uma das mais controversas figuras da era digital.

5 - João & Maria - Caçadores de Bruxas

Eu me pergunto o que leva um executivo de estúdio a ler um roteiro que moderniza o mito dos irmãos João e Maria ao mostrar que eles cresceram após os eventos do conto dos irmãos Grimm e se tornaram caçadores de bruxas e achar que vai sair alguma coisa de bom daí.
Será que o sujeito leu isso e pensou em Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.), mesmo com a premissa berrando Van Helsing (Hugh Jackman) a plenos pulmões?
Não importa. O que importa é que João & Maria - Caçadores de Bruxas é chato, ruim, e nem o carisma de Jeremy Renner e a beleza de Gemma Arterton e Famke Janssen conseguem salvar o filme de ser a bomba que é.

4 - G. I. Joe - Retaliação

Retaliação não é nem de longe tão ruim quanto A Origem de Cobra, isso porém, significa quase nada.
A Origem de Cobra era um filme horroroso em todos os aspectos. Elenco, roteiro, direção, proposta... Era totalmente podre, em forma, conteúdo e execução.
Retaliação, por outro lado, é apenas um filme muito ruim, e até honesto com relação à própria ruindade. Tem figuras carismáticas no elenco, como The Rock e Bruce Willis, a gatinha Adrianne Palicky, e os ninjas que rendem até algumas sequências de ação bem-intencionadas.
De boas intenções, porém, o inferno está transbordando, e mesmo sendo honesto e ajeitadinho, G. I. Joe - Retaliação, continua sendo uma tremenda porqueira.

3 - Wolverine - Imortal

Hugh Jackman é um bom sujeito. Ele é talentoso, divertido, boa-pinta e adora ser o Wolverine. Isso, porém, não me impede de dizer que os filmes solo do mutante canadense no qual ele embarca são totais e absolutas porcarias.
Após o resultado catastrófico de X-Men Origens - Wolverine, esperava-se que The Wolverine (No Brasil Wolverine - Imortal) fosse ao menos uma fita de ação competente estrelada pelo X-Man mais talhado pra ação que existe.
Mas não.
Wolverine - Imortal é chato, bobo, e incorre novamente em todos os defeitos do longa anterior.
Ao menos esse ano Wolverine deve ganhar um filme decente com X-Men - Dias de Um Futuro Esquecido, e quem sabe a Fox aprende como devem ser os filmes do herói, ou ao menos Jackman pendura as garras saindo por cima.

2 - Depois da Terra

Nada ensina uma lição paternal melhor sobre as armadilhas da fama do que produzir um filme para ensinar seu filho a se proteger das armadilhas da fama.
Will Smith, um ator talentoso e que dá a impressão de ser um astro muito boa-gente fez isso. Co-roteirizou e escreveu Depois da Terra tanto como um libelo pró-cientologia quanto para ensinar Jaden Smith, seu filho e co-estrela, sobre os perigos de Hollywood.
Um roteiro construído sobre tal carta de intenções obviamente não podia dar certo, e quem embarcou junto nessa canoa furada foi M. Night Shyamalan, que nada conseguiu acrescentar à produção, nem mesmo suas marcas registradas:
Boas atuações de atores mirins (Jaden Smith esteve melhor até em O Dia Em Que a Terra Parou), e suspense carregado (Nem em um mundo com perigos em cada canto existe alguma tensão.).
E pensar que Will Smith rejeitou o papel principal em Django Livre...

1 - Truque de Mestre

Meu campeão indiscutível na lista de piores do ano, Truque de Mestre, de Louis Leterrier é um desperdício de dinheiro do estúdio, do talento dos atores do elenco (Woody Harrelson, Michael Caine, Morgan Freeman, Jesse Eisenberg, todos subaproveitados) e, pior de tudo, do tempo de quem assiste.
Com uma trama pirotécnica e histriônica cheia de reviravoltas inúteis e um desfecho "surpresa" que se torna óbvio ali pela metade do filme, tudo embalado numa roupagem artificialmente descolada de quem se acha muito esperto e começa a rir antes de soltar a "punch line" da piada, Truque de Mestre é desses filmes que merecia ter mofado nas salas de cinema e nas prateleiras das locadoras, mas, bem amparado por um marketing monstruoso e pelo mau gosto da audiência, deu lucro e vai render a sequência que já tentava emplacar na metade dos créditos de encerramento.
Se nada mudar, Truque de Mestre dois estará nessa lista em dezembro de 2015.

Resenha DVD: Sem Dor, Sem Ganho


À certa altura de Sem Dor, Sem Ganho, um aviso surge na tela congelada, alertando ao espectador que aquela continua sendo uma história verídica.
Isso por si só, dá uma ideia do tipo de absurdo que o longa metragem de Michael Bay ilustra nas telas ao contar a história (real, lembre-se) de Daniel Lugo (Mark Wahlberg), um fisiculturista, personal trainer e trambiqueiro que após assistir à uma palestra motivacional de Johnny Wu (Ken Jeong), resolve que é um realizador que precisa apenas tomar a iniciativa para que o universo provenha o sucesso em suas empreitadas.
A empreitada, no caso, envolve a ideia "jeniau" de Lugo, de sequestrar um ricaço, e torturá-lo até que ele concorde em abrir mão de todos os seus bens em benefício de seu algoz.
Embora seja um realizador, Lugo não conseguiria realizar a sua visão sem ajuda. É onde entram em cena Adrian Doorbal (Anthony Mackie), um halterofilista que sofre de disfunção erétil após anos de abuso de substâncias anabólicas que precisa de dinheiro para pagar seu tratamento, e Paul Doyle (Dwayne The Rock Johnson), um ex-presidiário, ex-viciado em drogas, ex-alcoólatra convertido ao cristianismo na penitenciária e que está com dificuldades para conseguir emprego.
O alvo desse "dream team" do crime é Victor Kershaw (Tony Shalhoub), um rico homem de negócios, aluno de Lugo na academia e uma pessoa abjeta de quem ninguém sentiria a menor falta se desaparecesse.
Com uma equipe, um alvo, um plano e o universo conspirando a seu favor, não havia como a ideia de Lugo dar errado, não fosse um único problema:
A completa imbecilidade dos envolvidos no crime.
É até estranho ver um filme assinado por Michael Bay sem explosões a cada dez minutos, nem chuvas de asteroides destruindo Manhattan , ou robôs gigantes se digladiando em rodovias que parecem feitas de lego (E com um orçamento com menos de nove dígitos.). Ainda assim, as marcas registradas do diretor estão lá. A fotografia dourada de final de tarde, a câmera girando ao redor dos personagens, e, claro, a edição meio histérica, por vezes fazendo lembrar o finado Tony Scott.
Essas marcas, somadas às principais virtudes do diretor acabam simplesmente casando com a história dos fortões imbecis. Mais contido que o de hábito, talvez até pelo orçamento apertado, de "apenas" 26 milhões de dólares, a tendência ao mau-gosto de Bay encontra lastro em Miami, o ambiente ideal para desabrochar, no roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely, que acertam a mão ao tratar a série de crimes com alguma leveza (Ao menos no primeiro ato do filme e em boa parte do segundo), e nas interpretações do trio de protagonistas. Tudo isso somado ajuda Sem Dor, Sem Ganho a ser um programa bastante palatável.
O elenco, aliás, merece nota.
Mark Wahlberg, que encontrou seu nicho nas comédias, interpreta um Daniel Lugo surtado, completamente imbecil, mentiroso compulsivo e que acredita ser dono de uma "inteligência superior", Anthony Mackie está muito bem como o marombeiro impotente que curte uma gordinha, e The Rock rouba a cena como Paul Doyle, cheio de oscilações de humor e com o carisma que todo mundo se acostumou a ver no grandalhão.
Tony Shalhoub está ótimo. Seu personagem é repleto de dimensões, extremamente antipático e manipulador desafiando a audiência a vê-lo como a vítima que é.
Há ainda Ed Harris, fazendo o tipo durão tradicional, o detetive Ed DuBois, além de Rob Corddry, como o chefe e cúmplice de Lugo, John Mese, Rebel Wilson, como a enfermeira Robin Peck, Peter Stormare como o doutor Bjornson, e a deliciosa Bar Paly como a stripper Sorina Luminita, além de mais alguns nomes reconhecíveis.
Em suma, Sem Dor, Sem Ganho é um bom filme, uma comédia de erros sobre três idiotas tentando roubar o sonho americano.
Vale a locação.

"Meu nome é Daniel Lugo, e eu acredito em malhação. Tudo isso começou porque era hora de eu me esforçar mais, de outra forma, me aguardavam mais quarenta anos usando calças de abrigo pra trabalhar."

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Resenha DVD: O Verão da Minha Vida


O Verão da Minha Vida era um desses filmes que eu estava doido pra ver no cinema em 2013 mas que foram solenemente ignorados pelas grandes distribuidoras.
Quando foi lançado no Brasil, em fins de outubro, me lembro de ter ficado bastante desapontado por não tê-lo encontrado na programação de nenhum cinema de Porto Alegre, nem mesmo naqueles habituados a passar filmes de fora do grande circuito.
Por sorte o longa não tardou a ser lançado em home-video e menos de dois meses após sua discreta passagem pelas salas de exibição do centro do país, encontrei-o para locação pertinho de casa.
Na trama de O Verão da Minha Vida, escrito e dirigido por Nat Faxon e Jim Rash, mesma dupla responsável pelo roteiro do ótimo Os Descendentes, conhecemos Duncan (Liam James, de 2012), um moleque de 14 anos de idade que está indo passar as férias na casa de praia de Trent (Steve Carrel), o namorado de sua mãe (Toni Collette).
Liam não está feliz.
Além de ser um adolescente ensimesmado vindo de um lar desfeito, ele preferia estar passando o verão com seu pai em San Diego, isso porque, entre outras coisas, Trent é um babaca de marca maior.
Egocêntrico, cheio de valores equivocados e confundindo escrotidão com autoridade, Trent é o pior pesadelo do moleque, mas não o único.
A filha de Trent, Laura (Devon Werden) não nutre exatamente a maior calidez com relação a Duncan, e mesmo sua mãe parece mais disposta a amenizar eventuais desavenças do que em tomar o partido do filho.
Pra tornar tudo ainda mais complicado, na casa ao lado existe outra família desfeita, com a piradona mãe Betty (Allison Janney), o moleque caolho Peter (River Alexander), e a gatinha Susanna (Annasophia Robb, um pitéu), que por vezes vê Duncan com curiosidade científica.
É nesse ambiente desolador que Duncan conhece Owen (Sam Rockwell), boa-gente que gerencia do parque aquático Water Wizz ao lado de Caitlin (Maya Rudolph).
Avesso aos padrões e regras que dominam a casa de Trent, Owen pode ser a tábua de salvação de Duncan não apenas para sobreviver ao verão, mas também para se encontrar e aprender que, dentro de uma concha, é muito difícil crescer.
Eu sei, é mais um daqueles filmes de amadurecimento. Mas pôxa, olhe que ótimos filmes essa premissa rende.
O Verão da Minha Vida, é um desses ótimos filmes.
Os diretores/escritores Faxon e Rash (Que também atuam no longa, respectivamente nos papéis de Roddy e Lewis, funcionários do Water Wizz) encontram o tom, variando o filme entre o clima chato da casa de Trent e a leveza e diversão do parque aquático de Owen.
O roteiro consegue ser tocante sem apostar no sentimentalismo fácil nem abrir mão da graça, e dá espaço pro elenco trabalhar.
Elenco, aliás, que ajuda bastante.
Liam James convence como o adolescente sorumbático que precisa desesperadamente de um amigo, Toni Collette é sempre ótima, e AnnaSophia Robb, além de ser uma gracinha e ter bunda de negona (sim, é um elogio) é um bálsamo elucubrando sobre caranguejos, há ainda Amanda Peet e Rob Corddry, no papel de vizinhos malas, mas não tem outra, quem merece os maiores louros são mesmo Sam Rockwell, que esbanja carisma como Owen, e Steve Carrel, mostrando uma faceta até então desconhecida na pele do pentelho Trent.
Entre bom elenco, roteiro esperto, direção sem frescura e pronto. Não há nada para não gostar em O Verão da Minha Vida. Assista sem medo, vale demais o preço da locação.

"-As pessoas têm que seguir seu próprio caminho, e você, meu amigo, irá seguir seu próprio caminho."

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Resenha Cinema: A Vida Secreta de Walter Mitty


Sábado solitário, Natal se aproximando, problemas, tristezas e dissabores, em nenhum outro momento alguém precisou tanto de um feel good movie.
Entre Questão de Tempo, O Jogo do Exterminador e A Vida Secreta de Walter Mitty, esse último era a escolha mais óbvia para a ocasião, o problema é ir assistir a um filme estrelado por Ben Stiller quando não se é, nem de longe, um fã do ator.
Não gosto de suas comédias família, e acho ele uma variação do mesmo tema de Adam Sandler, talvez um pouco menos idiota, mas ainda assim, com uma filmografia que passa longe de ser do meu agrado exceto por raras exceções.
Uma dessas exceções, diga-se de passagem, é Trovão Tropical, a surtada comédia de guerra estrelada por Stiller, Robert Downey Jr. e Jack Black.
Foi pensando em Trovão Tropical e sua (não tão) fina ironia e esperto humor escatológico que eu resolvi apostar em A Vida Secreta de Walter Mitty.
E não me arrependi.
No filme conhecemos Walter (Stiller), um sujeito tímido e hesitante, incapaz até de deixar uma piscadinha para Cheryl (Kristen Wiig), sua nova colega de trabalho, no eHarmony.
Modesto e insuspeito, Walter trabalha na famosa Life Magazine, onde é o gerente responsável pelo setor de negativos. Na sua sala escura, ele passou os últimos dezesseis anos revelando e tratando as fotos que ilustraram as páginas da revista, entre elas, várias fotos de Sean O'Connel (Sean Penn), intrépido fotógrafo de vida selvagem.
Apegado à sua rotina singela, Walter frequentemente se perde em devaneios onde se torna todas as coisas que não consegue ser na vida real. Heroico, criativo, aventureiro, romântico... Entretanto a existência sonhadora de Walter é sacudida violentamente quando a revista é vendida, e deixará de existir em versão impressa.
Quando começam as movimentações para produzir a edição derradeira da Life, Walter percebe que perdeu uma foto de O'Connell, uma que o próprio fotógrafo considera seu melhor trabalho e recomendou para ser a capa da edição final da revista.
Incapaz de contatar O'Connell, que vive transitando de um lugar inóspito a outro e não usa telefone celular, sendo assediado por Hendricks (Adam Scott), gerente responsável pela transição da revista impressa para edição online, e tendo que lidar com a mudança de sua mãe (Shriley MacLaine) para um condomínio de idosos, Walter se pergunta o que fazer, até ser encorajado por Cheryl a procurar por Sean.
É nesse momento que Walter deixa de sonhar, e passa a viver. Embarcando numa jornada global que o levará a experimentar aventuras extraordinárias, muito maiores do que aquelas que ele imaginava.
E funciona?
Bem, a crítica norte-americana se polarizou entre gente que amou o filme (Uma minoria), e gente que o odiou. A maioria das críticas que li depois de assistir ao longa pichava o filme de Stiller, mas, francamente, eu achei tocante.
A Vida Secreta de Walter Mitty encontra um espaço pra transitar entre os épicos emocionais de efeitos visuais como As Aventuras de Pi, e as dramédias indie estreladas por Steve Carell.
O roteiro tem seus problemas, falhas e furos que são bastante óbvios, mas não chegam a incomodar. Ele exige suspensão de descrença da platéia, mas isso, pra mim, não é um problema.
A fotografia é linda, os efeitos visuais são ótimos, a trilha sonora é excelente, e as atuações são boas, mesmo de Stiller, um ator longe de ser acima da média, que convence como o sujeito tímido que decide parar de pensar no mundo, e efetivamente ir vê-lo.
O drama, por vezes carece de profundidade, mas há piadas muito boas (a tiração de sarro com Benjamin Button é facilmente a melhor do filme), e momentos realmente emocionantes.
É um feel good movie, competente na medida em que me fez sentir bem enquanto assistia.
O que mais se pode querer?
Assista no cinema, com a suspensão de descrença ativada, e aproveite.

"Ver a vida. Ver o mundo. Testemunhar grandes eventos..."

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Resenha DVD - G. I. Joe - Retaliação


Em 2009 eu assisti G. I. Joe - A Origem de Cobra no cinema.
Parecia um risco calculado, os trailers deixavam bem claro que o filme era ruim, mas em mais de uma ocasião eu me diverti no cinema vendo filmes ruins. Alguns deles inclusive do diretor Stephen Sommers, o responsável por aquela primeira adaptação dos brinquedos, desenhos animados e quadrinhos de Comandos em Ação à telona. A Múmia e O Retorno da Múmia, eram óbvios filmes ruins que eram divertidos de ver no cinema, por exemplo.
Mas G. I. Joe - A Origem de Cobra era tão ruim, que só não foi o pior filme de 2009 porque a FOX havia cometido Dragon Ball - Evolution, que conseguiu a proeza ímpar de suplantar a ruindade do filme dos Comandos em Ação.
Ainda assim, fez 300 milhões de dólares entre bilheteria doméstica e estrangeira contra um orçamento na casa dos 175 milhões, de modo que garantiu que uma sequência surgisse...
Essa sequência é esse G. I. Joe - Retaliação, lançado em março desse ano e que eu aluguei quase que por curiosidade mórbida na sexta-feira.
O diretor Jon M. Chu comanda a fita que mostra o que acontece quando os Joes são vítimas da retaliação do título, orquestrada pela organização pérfida dos Cobra.
Infiltrados nos mais altos escalões do governo dos EUA desde o final do primeiro filme, os vilões voltam à carga após Storm Shadow (Byung-hun Lee)libertar o comandante Cobra (Luke Bracey) e Zartan (Arnold Vosloo), na pele do presidente dos EUA (Jonathan Pryce), voltar a máquina de guerra norte-americana contra os Joes, e exterminar a maior parte dos operativos da unidade, que fica reduzida a apenas 4 combatentes:
Roadblock (Dwayne The Rock Johnson), Flint (D. J. Cotrona), Snake Eyes (o Darth Maul Ray Park), e Lady Jaye (A delicinha quase Mulher-Maravilha da TV, Adrianne Palicki).
Tendo que enfrentar a conspiração dos Cobra, reforçados pelo brutamontes Firefly (Ray Stevenson), o governo dos EUA e tentando descobrir como foram colocados no topo da lista dos mais procurados não apenas dos Estados Unidos, mas de todo o mundo livre, os heróis recebem a ajuda do general Joe Colton (Bruce Willis), o Joe original, e do mestre cego da ordem dos ninjas (RZA), que escala a novata, Jynx (Elodie Young), para se unir a Snake Eyes em sua missão.
Agora, esse grupo de sobreviventes terá que se desdobrar para impedir que os Cobra usem a influência dos Estados Unidos para destruir todos os arsenais atômicos da Terra e dominem o mundo!
Retaliação tenta ser mais sério e pé no chão na comparação com seu predecessor, cheio de piadinhas infames e equipamentos absurdos, mas isso é praticamente impossível quando estamos falando de um longa metragem de "guerra" baseado em brinquedos com censura livre.
O carisma de Dwayne Johnson e Bruce Willis (repetindo o trabalho em RED e Os Mercenários), as boas cenas de ação dos ninjas (Apenas isso, boas)e a bela estampa de Élodie Yung e especialmente de Adrianne Palicki (O único quesito em que G. I. Joe não deixou a desejar em nenhum dos filmes, atrizes bonitas) não são suficientes pra encobrir o fato de que o roteiro do filme simplesmente não convence.
Em que se reconheça o mérito de não tentar transformar Retaliação em um remake ou reboot, também há de se deixar claro que a história é bagunçada, e apenas recicla conceitos já vistos em outros filmes de ação (melhores), e as reviravoltas simplesmente não fazem sentido, dando a impressão de existirem apenas porque, como numa brincadeira de criança, "esse boneco é legal, vamos virá-lo pro lado do bem!".
G. I. Joe - Retaliação é superior ao filme de 2009, consegue ser mais realista e sombrio (palavra/conceito da moda no cinemão dos EUA), mas isso significa quase nada, já que A Origem de Cobra era imbecil e completamente esquizofrênico em seu roteiro e execução, face à ruindade de proporções bíblicas do primeiro filme, isso significa muito pouco mérito.
A série G. I. Joe é totalmente esquecível e com sorte povoará apenas a sessão da tarde em alguns anos.

"-A revolução Cobra começou."

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Resenha DVD -Truque de Mestre


Existe certa pretensão em Truque de Mestre que ficava bem óbvia desde os primeiros trailers do filme, que inundaram os cinemas às vésperas do lançamento efetivo do longa em meados de julho.
Mas a despeito dessa pretensão, o filme sobre quatro mágicos com habilidades distintas unidos sob a orientação silenciosa de um observador misterioso que começam uma onda de golpes e assaltos espetaculares disfarçados como números de mágica incrivelmente pirotécnicos que passam a ser perseguidos por um agente obstinado do FBI e uma agente novata da Interpol poderia, ao menos, ser divertido, afinal, era um projeto de Louis Leterrier, diretor dos divertidos Cão de Briga e O Incrível Hulk (Mas também da pirotécnica porcaria que foi o remake de Fúria de Titãs).
O elenco certamente estava longe de ser ruim.
No papel do agente do FBI Dylan Rhodes, o carismático Mark Ruffalo, Mélanie Laurent como a agente da Interpol Alma Dray, como os mágicos golpistas, Os Quatro Cavaleiros, os indicados ao Oscar Woody Harrelson e Jesse Eisenberg, como o mentalista Merrit McKinney e o ilusionista J. Daniel Atlas, mais os "emergentes" Dave Franco (o irmão sem-graça de James Franco) como o mágico de rua Jack Wilder e Isla Ficher como e artista da fuga Henley Reeves.
Além deles, ainda a dupla da trilogia do Cavaleiro das Trevas de Cristopher Nolan, Morgan Freeman, como o caçador de mágicos Thaddeus Bradley e Michael Caine como o milionário benfeitor financeiro do grupo, Arthur Tressler.
Vai dizer que não é um elencaço?
Se o filme fosse um "heist movie" minimamente movimentado e esperto o ingresso do cinema ou aluguel do DVD ou Blu-Ray estaria validado e seria zero a zero e bola ao centro.
Infelizmente, Truque de Mestre é só movimentado, mas chega a ser tacanho de tão óbvio e mal executado.
Os problemas começam pelos quatro personagens que deveriam ser os "protagonistas" do longa, no caso, os mágicos golpistas, que são acessórios óbvios que praticamente somem ao fim do primeiro ato do filme.
Estereótipos xaropes e desinteressantes, eles têm zero química (impressionante que só agora me dei conta de que Harrelson e Eisenberg haviam trabalhado juntos em Zumbilândia e dado show), zero carisma e zero background, e são eclipsados pela grandiloquência vazia de seus elaborados golpes e fugas espetaculosas.
Michael Caine ainda tem alguma dignidade como Arthur Tressler, mas pouco o que fazer em cena, e Morgan Freeman até arranca uns bons momentos de seu antipático personagem. Melhor sorte pra Ruffalo, competente a seu modo no papel de Rodhes e para Mélanie Laurent, que é uma graça.
Os dois até conseguem seus bons momentos, mas a verdade é que é impossível se salvar de um filme de golpe onde os protagonistas são insossos, os golpes não são tão interessantes, e as reviravoltas (incluindo aí a grande surpresa do fim do filme) são claras como água mineral Perrier já na metade do longa.
O exercício de pretensão iniciado com a arrogância de Jesse Eisenberg, Woody Harrelson e companhia no início do filme é ampliado com a execução pirotécnica dos golpes do quarteto ao longo da projeção, e encerrado com a grande revelação final, como quem diz "Veja, veja, nós somos as pessoas mais inteligentes da sala, rá, rá, rá!".
Mas não.
Pálido e sem graça se comparado a outros filmes de golpe como Onze Homens e Um Segredo, e de mágico, como O Grande Truque, e mesmo a O Ilusionista, Truque de Mestre parece um mágico iniciante, cumprindo agenda com truques de cartas, lenços e argolas enquanto está ansioso pra mostrar um gran finale que simplesmente não empolga porque era óbvio desde que subiu ao palco.
O pior de tudo?
Ali pela metade dos créditos há uma cena prometendo uma sequência.
Assista se estiver trancado em casa num domingo chuvoso. Ao menos é melhor que Faustão e Regina Casé.

"Quanto mais você olha, menos você vê."

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Resenha Cinema: O Hobbit - A Desolação de Smaug


Diria Tony Stark: É bom estar de volta.
E é mesmo. Voltar à Terra Média de Peter Jackson é sempre uma experiência pra lá de satisfatória. É garantia de diversão, de arrebatamento visual, de entretenimento de altíssima qualidade que não descuida de nenhum detalhezinho por menor que seja.
O Hobbit - Uma Jornada Inesperada foi um filmaço, facilmente um dos melhores de 2012, que foi um ano prenhe de grandes filmes, por uma simples razão:
A dobradinha Tolkien/Jackson.
O escritor britânico, professor de Oxford e o cineasta kiwi nasceram um para o outro.
Se a trilogia O Senhor dos Anéis fosse uma adaptação linha por linha dos livros, seria chata pra cacete (Eu sou fã dos livros, nerd de carteirinha, e acho que coisas como Tom Bombadil simplesmente não deviam existir), por outro lado, Peter Jackson já deixou claro que sem Tolkien como base, seu cinema não é a mesma coisa (que o digam King Kong e Um Olhar do Paraíso). Mas quando as palavras de Tolkien encontram o olhar de Jackson (e suas parceiras, Fran Walsh e Phillipa Boyens), maravilhas acontecem.
Maravilhas como A Desolação de Smaug.
A trama dá sequência aos fatos narrados em Uma Jornada Inesperada.
A companhia de anões de Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage), acompanhada pelo Hobbit gatuno Bilbo (Martin Freeman) e o mago cinzento Gandalf (Ian McKellen) segue seu caminho rumo à montanha solitária para reaver o reino de Erebor e seu tesouro usurpado pelo tenebroso dragão Smaug.
Em seu encalço está o orc Azog, o profanador (Manu Bennett), e sua corja de orcs matadores sedentos de sangue de anão, à sua frente, o mundo.
No caminho para seu destino, os heróis encontram estranhos como o troca-peles Beorn (mikael Persbrandt), precisam cruzar a Floresta das Trevas do rei Thranduil (Lee Pace), infestada de aranhas gigantes, o príncipe Legolas (Orlando Bloom) e a capitã da guarda, Taüriel (Evageline Lilly), o barqueiro Bard (Luke Evans), alguns são aliados, outros inimigos, alguns, não são uma coisa e nem a outra, mas a companhia precisa lidar com isso, e sem o seu mago, pois Gandalf parte com Radagast, o castanho (Sylvester McCoy) rumo a Dol-Guldur, onde um mal antigo parece se preparar para uma batalha. Tudo isso para ter a chance de estar na porta de Durin à última luz do outono, e ter a chance de retomar o reino sob a montanha das garras do dragão.
Espetacular.
Espetacular, espetacular, espetacular...
A Desolação de Smaug não tem a leveza de Uma Jornada Inesperada, também não é uma adaptação fiel com algumas liberdades criativas aqui e ali como fora seu antecessor.
Na verdade, comparado com o livro, há imeeeeeensas liberdades criativas em A Desolação... Da presença de Legolas e Taüriel (uma mistura de Arwen com Éowin, uma elfa guerreira cheia de atitude e opiniões e que não tem medo de pancadaria) que nem sequer existe nos livros, à importância dada ao Mestre da Cidade do Lago (Stephen Fry), passando pela trama paralela com Gandalf, separado da companhia de Thorin, são muitos os desvios de rota que Jackson e sua equipe (que ainda inclui Guillermo Del Toro, que participou do roteiro da adaptação) fazem com relação à obra original para tornar o filme um produto mais fantástico e vistoso.
Mas nada tema, a grande questão é que:
Funciona.
As liberdades criativas da produção somadas à mudança de tom da história, que ganha gravidade e urgência em detrimento do humor conforme Bilbo começa a sofrer a influência do Um Anel, Thorin passa a ser acometido pela doença do ouro que vitimou seu avô, e mesmo os elfos mostram facetas menos nobres do que estávamos habituados a ver no universo do filme, apenas tornam A Desolação de Smaug maior e melhor.
As sequências de ação são espetaculosas, e apenas aquela dos barris descendo o rio com anões, elfos, hobbits e orcs se engalfinhando já valeriam dois ingressos e justificariam a presença de Legolas no filme. Não bastasse isso, ainda há a ótima sequência com as aranhas gigantes (e uma boa sacada do roteiro pra justificar as bestas perversas falantes do livro), a tensa incursão de Gandalf em Dol-Guldur, e, claro, Smaug, fazendo justiça ao título de O Magnífico.
O maior e mais fantástico dragão a mostrar suas escamas, dentes e asas na história do cinema, a besta reptiliana dublada (e interpretada com a mesma tecnologia que deu vida a Gollum) pelo ótimo Benedict Cumberbatch, surge cheio de escárnio e ódio na tela, tão viva e real que chega a ser irritante.
A tecnologia dos 48 quadros por segundo já não faz mais estranhar, e novamente deixa os efeitos visuais ridiculamente verossímeis, o 3-D é bem utilizado, discreto e bonito, a trilha sonora é aquela beleza a que Howard Shore nos acostumou, e as interpretações são ótimas, com o show habitual de McKellen, mais a ternura bruta de Ken Stott como Balin (o avô que todo mundo queria ter), a estoicidade de Thorin, e a naturalidade de Freeman, que o torna um estranho no ninho completamente crível e simpático em meio à gravidade sagaz dos demais personagens.
Em suma, O Hobbit - A Desolação de Smaug é a quintessência da aventura de matiné, anabolizada por coração e tecnologia e, desde já, um dos melhores do ano.
Obrigatório.

"-Se realmente houver um dragão vivo lá embaixo...
-Sim?
-Tente não acordá-lo."

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Resenha Blu-Ray - O Cavaleiro Solitário


Quando foi anunciado que a adaptação da série de TV O Cavaleiro Solitário seria produzida por Jerry Bruckheimer, dirigida por Gore Verbinski e estrelada por Johnny Depp, ficou bem claro que a intenção de empreitada era repetir o sucesso de Piratas do Caribe, monstro gerado pela mesma trinca que rendeu três filmes derivados, bilhões de dólares, transformou Depp em astro e lhe rendeu até uma indicação ao Oscar.
Parte dos problemas de O Cavaleiro Solitário é que aparentemente, na tentativa de repetir o sucesso de Piratas do Caribe, o longa se vicia na fórmula da franquia bucaneira de uma forma quase obsessiva, e embora o grosso da audiência cinematográfica de hoje em dia não goste de pensar, acaba percebendo que está consumindo uma repetição em outra embalagem.
Na trama de O Cavaleiro Solitário corre o ano de 1869, no Texas a expansão ferroviária dos EUA promete unir os Estados Unidos de costa à costa, prometendo justiça e progresso a colonos e índios.
Latham Cole (Tom Wilkinson), funcionário da companhia ferroviária aguarda a chegada do trem que trará o infame Butch Cavendish (William Fichtner, irreconhecível), notório ladrão, assassino e canibal para a forca.
O mesmo trem que traz Cavendish também transporta outro prisioneiro ilustre, o índio comanche Tonto (Depp), e, no vagão dos passageiros, o advogado John Reid (Armie Hammer).
Contando com apoio externo, Cavendish empreende uma espetacular fuga, colocando o irmão de John, Dan Reid (James Badger Dale) no encalço do bandido.
Com a morte de um de seus delegados, John é tornado Ranger por seu irmão, e cavalga ao lado de Dan e seus homens em busca de Cavendish.
Durante a caçada, porém, o grupo é emboscado pelos bandidos, e todos são baleados e deixados para morrer.
Os Rangers são encontrados por Tonto, que enterra à todos, mas pela insistência de um misterioso cavalo branco, resgata John, e se prontifica a ajudá-lo a levar Cavendish à justiça.
Relutante, a princípio, John aceita a ajuda de Tonto, e a sugestão de usar uma máscara para manter em segredo sua identidade.
Cavalgando ao lado de seu estranho parceiro contra todos os obstáculos, John acaba por descobrir que Cavendish é apenas uma engrenagem em um mecanismo criminoso que se estende muito além dos bandoleiros ocultos nos territórios indígenas, e terá que abrir mão de muitas de suas noções de legalidade se quiser, de fato, fazer justiça.
Não chega a ser ruim, O Cavaleiro Solitário.
Entre as qualidades pode-se destacar o óbvio esmero da produção (O Cavaleiro Solitário custou mais de duzentos milhões de dólares pra ser realizado), as boas cenas de ação, o humor que, de fato, chega a arrancar algumas risadas, e o bom elenco, encabeçado por Depp e Hammer.
De pontos negativos, há a duração que não se justifica (são mais de duas horas e meia de filme que simplesmente não tem razão de ser tão longo), a quantidade de personagens secundários sem função alguma (Helena Bonham Carter e Barry Pepper ainda devem estar se perguntado qual era a função prática de sua Red Harrington e seu comandante Fuller no filme), a mocinha completamente insossa de Ruth Wilson (que pra piorar ainda é feinha), o fato de o filme flutuar entre três ou quatro vertentes do faroeste sem se decidir por nenhuma e, claro, a dinâmica entre Tonto e o cavaleiro solitário.
Tonto é exatamente o tipo de papel que Johnny Depp adora fazer. É um tipo tão excêntrico quanto Jack Sparow, e em alguns momentos parece quase um desenho animado, uma versão em carne e osso do cão Droopy, sereno, onipresente e implacável a seu modo. Isso é terrível para Armie Hammer, que vê seu John Reid/Cavaleiro Solitário ser reduzido à escada do índio Tonto o filme inteiro.
Ainda que se explique esse protagonismo do parceiro tanto pelo peso do estrelato de Depp face ao semi-anonimato de Hammer, e até mesmo dentro do roteiro do filme, (cuja história é narrada a uma menino por um índio Tonto ancião numa feira de variedades nos anos 1930), é até embaraçoso ver o herói do filme resmungando numa incômoda posição de alívio cômico por oitenta por cento do longa.
O filme tropeça o tempo todo, e só engrena, mesmo, é no final, quando ressoam com toda a pompa os acordes de William Tell's Overture, tema da série de TV em que o longa se baseia, e uma sequência de ação (uma das poucas do filme) absolutamente impossível envolvendo trens, cavalos, pistolas e murros toma forma na tela.
O bom desfecho, porém, não salva O Cavaleiro Solitário de ser um pálido subproduto de Piratas do Caribe, que fica na memória muito mais pelo que poderia ser do que pelo que efetivamente é.

"-Belo tiro!
-Era pra ser um tiro de alerta.
-Nesse caso, não tão bom."

Resenha Blu-Ray - Dose Dupla


Existem atores tão limitados em termos de talento dramático que é um milagre que consigam construir carreiras em Hollywood. Tome por exemplo Keanu Reeves e Mark Whalberg. Ambos são atores com uma única expressão facial (Reeves parece blasé e alheio o tempo todo, Whalberg está sempre confuso e irritado), mas que caem no gosto do grande público porque são sujeitos bonitos. A grande diferença entre Mark Whalberg e Keanu Reeves, é que Mark Whalberg é mais esperto na hora de escolher projetos e investir em produção, e Reeves é mais cool, fora isso, os dois são mestres na arte de não atuar.
Outro diferencial entre os dois, é que cada um encontrou um nicho em que se sentiu à vontade pra transitar, para Reeves foram os filmes de artes marciais, o ator estrelou a trilogia Matrix, dirigiu e estrelou O Homem de Tai-Chi, e está pra lançar 47 Ronin, todos filmes com temática oriental que envolvem pancadaria.
Enquanto Reeves virou lutador de kung-fu, Whalberg descobriu sua zona de conforto nos papéis cômicos.
Da ponta em Uma Noite Fora de Série a Ted, passando por Os Outros Caras e uma hilária esquete no SNL, Whalberg surpreendeu mostrando bom timming cômico e uma insuspeita habilidade de rir de si próprio, o que, por si só, já conta pontos em favor do astro. É justamente essa veia cômica que ajuda Whalberg a não sumir ao lado de Denzel Washington nesse Dose Dupla.
O filme do diretor islandês Baltasar Kormákur, um "buddy cop" oitentista perdido no século XXI é divertido, descomprometido, e descartável, e também seria um convite para Whalberg repetir o que acontecera a Ryan Reynolds em Protegendo o Inimigo e se transformar em capacho do talento e (principalmente) da presença de Washington, mas ao interpretar um tipo engraçado em face à estileira de Denzel, o ex-Marky Mark se salva, e consegue dividir a cena com o ator oscarizado sem traumas.
Na trama do filme, Washington é Bobby Trench, um agente do DEA infiltrado em um cartel de drogas na tentativa de prender o chefão do tráfico Papi Greco (Edward James Olmos), ele presta serviços a Greco junto com seu parceiro, Stig (Whalberg), para Bobby apenas um marginal de rua que se tornará dano colateral quando Greco cair.
A chance de derrubar o chefe do cartel surge quando Stig sugere a Bobby que eles roubem um pequeno banco numa cidadezinha do sul dos EUA, onde Greco deposita parte de seu dinheiro. Vendo no roubo uma chance de prender o traficante e Stig, Bobby topa, e avisa seu contato, a agente Deb (Paula Patton, lindona e aparecendo com pouco roupa) que executará o roubo.
Mas as coisas não saem conforme o planejado pelo policial, e, ao invés dos três milhões que eles imaginavam haver no cofre, há 43 milhões de dólares no banco. Além disso, Deb e os colegas de Bobby não aparecem como combinado para impedir a fuga, e, pra complicar ainda mais as coisas, ele descobre que Stig é, na verdade, um agente da Inteligência Naval dos EUA, que o baleia e foge com o dinheiro.
Como resultado do serviço, Trench e Stig se veem isolados de seus superiores em uma intrincada rede de corrupção que vai do cartel à CIA, e, sendo perseguidos por todos que querem colocar as mãos no dinheiro, os fugitivos não têm a quem recorrer, exceto um ao outro.
Vai dizer que o plot do filme não é totalmente oitentista?
Pois saiba que a execução é ainda mais.
Explosões, perseguições e tiroteios pra todo o lado, tudo isso entrecortado por participações de vilões que são completamente caricatos (James Marsden e Bill Paxton, canastras a morrer), discussões hilárias entre os mocinhos, e até peitinhos de fora (os belos peitos da Paula Patton).
O diretor Kormákur não tem lá grande mão pra ação, parece filmar as sequências mais agitadas com alguma vergonha e deixa tudo meio genérico, mas acerta a mão ao dar espaço pra Washington desfilar sua maneirice e pra Whalberg ser engraçado, assim Dose Dupla se salva de ser completamente medíocre, e se torna um programa bacana pra uma noite.
Assista sem compromisso e divirta-se.

"-O banco foi uma armação. Nós precisamos descobrir de quem era o dinheiro.
-Quê? Tipo, trabalhar juntos?
-Não, não é tipo trabalhar juntos.
-É!
-Não. Tipo, trabalhar na mesma redondeza.
-Juntos.
-No mesmo... Código de área.
-Juntos."

sábado, 7 de dezembro de 2013

Doce


O Eroir chamava a Magda de "doce", o tempo todo. Era a única forma como o Eroir se dirigia à Magda, e todo mundo achava lindo.
Era "doce" pra cá, "doce" pra lá, tudo era "doce".
As mulheres, em particular, achavam um amorzinho.
Viravam a cabeça pro lado e faziam "óóóóóóóóóinnnn..." à simples menção do tal do "doce" do Eroir, quando se dirigia à Magda. Depois de botar a cabeça de volta no ângulo certo e recuperar o timbre de adulto, elas lançavam olhares reprovadores aos próprios maridos ou namorados que se dirigiam à elas pelo nome ou com o famigerado freio de burro, "ô", recriminando-os de maneira silente por sua falta de dedicação, mimo e romantismo.
E o Eroir lá, na mais perfeita harmonia, referindo-se à Magda como "doce", o tempo todo.
As mulheres achavam bonitinho, romântico. Os homens se sentiam meios desconfortáveis. Estranhavam aquele tipo de tratamento fofo vinte e quatro horas por dia, sete dias na semana.
Até por que, a Magda era meio vacona, às vezes, especialmente no trato, ora, veja, para com o Eroir.
Não raro era grosseira, destemperada, algo vil para com todo mundo, mas com o Eroir era mais frequente.
Também não era exatamente um primor de figura. Poderia perfeitamente ver-se livre de uns vinte e cinco quilos que ninguém haveria de dar falta.
Inclusive era a justificativa que os galhofeiros de plantão usavam em suas alcovitices para justificar o fato de o "doce", nunca ser no diminutivo, porque uma mulher do tamanho de Magda não poderia, por justiça, ser um "docinho", e como "doção" seria um pastiche, Eroir ficava no "doce", mesmo.
Não que o Eroir fosse um Brad Pitt, não era, era um sujeito bastante comum, magro como um palito, cabelos castanhos muito lisos assentados sobre a cabeça, passava quase sempre despercebido, silencioso e diligente que era, mas, convencionava-se que poderia conseguir coisa melhor, ou, menos pior, vá lá, do que Magda.
Eroir, aliás, era assunto controverso entre os amigos do casal. Se as mulheres o achavam um querido com seu tratamento delicado para com sua parceira, não era menos verdade que alguns o acusavam de ser excessivamente banana, suportando cheio de mimos a má disposição da Magda.
Ninguém, claro, jamais externou tais pensamentos, ninguém queria se indispôr com o Eroir, ou magoá-lo, coitado, já que ele suportava, cheio de carinhos, aquela megera. Acabavam apenas observando de longe e tecendo aqueles comentários maldosos tão comuns ao ser humano.
O que ninguém, sabia, é que, muito discretamente, praticamente em segredo, como fazia quase tudo em sua vida, Eroir se tratava de uma doença que mantinha sob controle:
Era diabético.
De modo que ninguém sabia que o "doce", que usava pra se referir à Magda podia ser tanto uma autêntica demonstração de carinho, ou uma vivaz e sarcástica espezinhada.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Descanse em Paz, Mandela


O mundo perdeu ontem um homem que talvez tenha sido o maior luminar da determinação na luta pela igualdade e a democracia em nosso tempo.
Nelson Mandela faleceu aos 95 anos de idade em sua casa, em Joanesburgo, vítima de uma infecção pulmonar.
Que a vida do ex-ativista, ex-preso político, que após vinte e sete anos na prisão ganhou o prêmio Nobel da Paz e se tornou presidente da África do Sul liderando a Nação Arco-Íris rumo à uma democracia racial após anos de apartheid e o limiar de uma guerra civil sirva de inspiração a todos os políticos ao redor do mundo. Que todos os homens e mulheres com poder de decisão em suas mãos se espelhem no exemplo de Madiba, e entendam que política não precisa ser seara exclusiva de vagabundos mau-intencionados, interessados unicamente em si próprios.
Que a luz de Mandela e seus ideais permaneça, e ilumine todas as nações com seu discurso de tolerância, igualdade e harmonia, para que, quem sabe um dia, todos nós possamos nos orgulhar de ter tido um governante capaz de se equiparar a ele.

Rapidinhas do Capita


E saiu o trailer de O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro, a empolgante prévia, com pouco menos de dois minutos e meio, mostra o novo uniforme do herói, os novos vilões, Electro, Rhino e Duende Verde, e ainda acena com a criação do Sexteto Sinistro!



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Então, o que esperar do filme?
Na opinião desse nerd que vos fala, mais um filme maneiro do Homem-Aranha que não vai agradar cem por cento.
Explico:
Um dos principais, senão o principal dos problemas de se fazer um reboot, especialmente de uma franquia de sucesso tão recente quanto foi o Homem-Aranha de Sam Raimi, é que há a perda do impacto inicial.
Eu quase pulei de alegria no cinema vendo Homem-Aranha em 2002, e aquele embasbacamento do ineditismo jamais vai ser repetido, some-se a isso a nostalgia, que faz as coisas parecerem infinitamente melhores do que de fato eram, e pronto, temos a razão pela qual tanta gente torce o nariz pr'O Espetacular Homem-Aranha, aliás, nostalgia e embasbacamento inicial são as únicas explicações pra alguém preferir Tobey Maguire a Andrew Garfield no papel título.

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Mas voltando ao trailer, O Espetacular Homem-Aranha 2 parece seguir a cartilha do extinto desenho Spectacular Spider-Man, já havia, inclusive, acenado com essa inspiração no primeiro longa, com a Gwen nerd e estagiária do doutor Connors, e segue nessa toada nesse segundo filme, onde todos os vilões do cabeça de teia parecem ter em comum a Oscorp.
Como Spectacular Spider-Man foi, disparado, a melhor animação do Homem-Aranha e seu fim nunca foi bem assimilado pelos fãs, nenhum problema.
Os visuais dos vilões, que podem desagradar os xiitas, não me incomodou.
O Electro com o traje preto e a aparência "nuvem de tempestade" ficou ameaçador e vistoso, muito mais do que seria com uma malha colante verde e suspensórios de relâmpago amarelo.
O traje "mecha" de Rhino não é dos meus favoritos, mas tem precedente tanto na versão Ultimate quanto na cronologia tradicional da Marvel.
E o Duende Verde Harry Osborn, é discutível com a armadura verde metálica, mas espere um momento... Nas incensadas produções de Sam Raimi, o visual do(s) Duende(s) não era, também, discutível?
Enfim, com a promessa de ação incessante, grandes efeitos especiais e piadinhas do Homem-Aranha a Sony já garantiu dois ingressos meus, porque certamente verei o filme, e mais de uma vez.
Chega logo, 2014.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Quase Feliz


Ela estava deitada atravessada por cima dele, os dois formando um "X" sobre a cama.
Ele assistia TV, enquanto ela lia um grosso volume encadernado do Superman.
Ela fechou o encadernado após virar as duas ou três últimas páginas de capas alternativas, empurrou o livro pro lado e cruzou os braços sob o queixo. Sem se mover da posição em que estava, ainda na perpendicular sobre ele, encarou a janela e disse:
-Bem bom esse quadrinho, mesmo...
Ele, de olhos colados na TV, respondeu enquanto afagava de leve as nádegas dela:
-Achei que tu fosse gostar. Acho que é uma das minhas preferidas se não for a preferida...
-Tu sempre me fala daquele... - Ela hesitou. Virou a cabeça de modo a conseguir observá-lo com o rabo dos olhos. -Como chama?
Ele sorriu, ainda sem desviar os olhos do televisor:
-Assim fica difícil.
Ela suspirou:
-Ai... Um lance do Beethoven, ou do Mozart...
Ele franziu o cenho... Olhou pra cima. Teve um estalo.
-Ah! As Quatro Estações.
-Isso. As Quatro Estações... É Mozart ou Beethoven? - Ela inquiriu, mordendo o lábio inferior.
-É Vivaldi, eu acho... - Ele respondeu, incerto.
-Não... É Mozart. Tenho quase certeza que é Mozart. - Ela retrucou.
-Deve ser Mozart, então. - Ele aquiesceu, mais pra evitar o conflito do que por realmente concordar com ela.
Ficaram em silêncio, ela ainda sobre ele, as pernas esticadas bem pra fora da cama espaçosa, comprida que era, a claridade da TV tornando azul a fina penugem dourada que ela tinha sobre as nádegas. Estava nua, completamente, e ele vestia uma boxer cor de laranja com motivos de halloween.
Ela tomou fôlego:
-Tu me empresta?
-O quê? - Ele inquiriu.
-As Quatro Estações. - Ela respondeu.
-Empresto, claro. - Ele respondeu.
Continuaram em silêncio. Ela começou a se remexer, esticando os braços longos pra uma escrivaninha sob a janela do quarto. O movimento dela, totalmente nua, sobre ele, o deixou estranhamente envergonhado:
-Que é que tu tá fazendo, criaturinha?
-Quero pegar meu I-Pad... - Ela respondeu, espichando os braços e alcançando o aparelho dentro da capa de couro.
-Pra quê? - Ele perguntou, se encolhendo sob ela.
-Eu quero ver se As Quatro Estações é do Mozart ou do Beethoven...
-Não é de nenhum dos dois, é do Vivaldi. - Ele disse.
Ela largou o aparelho ao lado da cama, e se moveu languidamente por cima dele até estarem cara a cara:
-Ah, é? Então por que foi que, quando eu disse que era do Mozart o senhor concordou? - Ela perguntou agarrando ele pelos cabelos.
Ele fez uma careta, agarrou ela com firmeza pelos pulsos, livrando o cabelo de seus dedos finos, e respondeu:
-Porque tu pode não ser uma loira burra, mas certamente é uma loira teimosa.
Ela rilhou os dentes, franziu o nariz e imitou um som de rosnado, beijando-o na boca em seguida.
Ele correspondeu.
Ela continuou deitada sobre ele, mas se endireitou, deitando a cabeça sobre seu peito.
-Isso é uma ideia de felicidade perfeita? - Perguntou.
-Poderia ser, eu suponho... - Ele conjecturou. - É a tua? - Quis saber.
-É. - Ela respondeu.
Ele afagou os cabelos dela, fazendo rescindir o aroma cítrico que ela sempre trazia em si.
Ela ergueu os olhos, buscando os dele:
-E pra ti? É uma ideia de felicidade perfeita? - Perguntou.
Ele sorriu e a beijou sem dizer nada.
"Quase", pensou.
Acordou sozinho em casa, com As Quatro Estações sobre o peito, envergonhado da própria lascívia onírica.

Rapidinhas do Capita


Que decepção... Mais uma, na verdade.
Segundo a revista Variety, Gal Gadot estará em Batman Vs Superman no papel da Mulher-Maravilha.
A israelense desprovida de bunda ou seios que esteve na série Velozes & Furiosos teria batido a franco cambojana Elodie Yung e a ucraniana Olga Kurylenko na luta pelo papel.
Das três,Gadot era disparado a pior opção, mas após Ben Affleck ter batido Josh Brolin na corrida pelo manto do Batman não dá mais pra duvidar de nada. Ainda assim, me surpreende que escolhas óbvias como Megan Fox e Odette Annable não tenham sido nem mesmo cogitadas, já que o óbvio Henry Cavill foi tão bem no papel de Superman em Homem de Aço...

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Por falar em Gadot e Velozes & Furiosos, registro tardio da morte de Paul Walker.
O Brian O'Conner da série de carros envenenados transformada em série de "heist movies" morreu no final de semana em um controverso acidente de automóvel deixando vários (e principalmente várias) fãs inconsoláveis, uma ONG, a Reach Out Worldwide, envolvida em diversos projetos humanitários ao redor do globo, e um filme em produção órfão de sua co-estrela.
Velozes & Furiosos 7 pode ter que ser todo refeito devido ao fato de que muitas das cenas do ator ainda não haviam sido gravadas.
Ah, a Universal, estúdio do filme, prometeu que parte dos lucros do DVD e BR do filme serão destinadas à ROW, de Walker.

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Mais alguém contando os minutos pra estréia de O Hobbit - A Desolação de Smaug?

Ultimato


Quando a Amélia sentou na frente do Benito e disse, com todas as letras, que ou eles casavam, ou não tinha mais sexo, ele achou que fosse brincadeira.
Não podia ser verdade que ela o faria casar, ou então o privaria de tê-la em sua cama.
Não que o Benito fosse algum ninfomaníaco, tarado, ou que sofresse de priapismo, nada disso, ele era um sujeito bem tranquilo que tinha um apetite sexual bastante razoável e nada além disso. O Benito nem era desses caras que queria transar todo o dia. Não, pro Benito, quatro, cinco vezes na semana estava de bom tamanho.
Ótimo tamanho, na verdade.
Ele inclusive encontrara na Amélia sua parceira ideal, entre tantas outras coisas, também nas atividades de alcova.
A Amélia também era uma pessoa com apetite sexual razoável. Não era dessas moças tímidas que têm vergonha de dizer o que quer na cama. Não se furtava de pedir que o Benito fizesse isso ou aquilo da forma que ela preferia de modo que o Benito não quebrava a cabeça para tentar satisfazê-la, e julgava que, na maior parte das vezes, sucedia nisso.
A Amélia, inclusive fora um achado na vida do Benito.
Não apenas por ser bonita e descolada, mas especialmente por esse comportamento íntimo. Essa atitude de dizer o que queria e como queria entre quatro paredes.
Até conhecer a Amélia, o Benito estivera com outras mulheres, mas em todos os seus relacionamento experimentara percalços no quesito sexo.
Algumas pareciam ter vergonha de falar sobre sexo até mesmo enquanto faziam sexo. Outras, eram tão mais experientes do que Benito que pareciam apenas se conformar com o que ele fazia por conta e serem condescendentes para com ele acerca dos resultados, e outras ainda, pareciam encarar o sexo como um favor para ele, e o faziam de tão má vontade que ele simplesmente não queria mais fazer.
Essa série de eventos desafortunados nos relacionamentos de Benito o haviam tornado num sujeito que não colocava o sexo em segundo plano, nem em terceiro. O sexo, na vida do Benito, estava lá no sexto ou sétimo plano.
Mas as pessoas são adaptáveis, e o Benito não era diferente. Ele aprendeu a apreciar outras facetas dos relacionamentos, o passeio de mãos dadas, as conversas, os beijos, o sorvete de casquinha com a mesma colher...
Quando conheceu a Amélia, que tinha todos os predicados que uma moça precisava ter, era bonita, inteligente, meiga, engraçada, parceira pra todas as atividades, puxa, ele se encantou. Mas, ao mesmo tempo, conforme eles criavam intimidade e o Benito descobria que a Amélia além de tudo isso, também gostava de sexo, ele ficou meio sestroso...
Como já foi dito, não que ele não gostasse, mas a ideia de ter uma parceira que gostava e valorizava o ato, o deixavam um pouco apreensivo justamente porque, mesmo tendo alguma rodagem em termos de relacionamentos, em termos de sexo, sua experiência era quase nula.
A questão é que o Benito gostava demais da Amélia, e foi mascarando como pôde aquele nervosismo e aquela sensação de frio na espinha, e, quando as coisas finalmente se encaminharam e eles chegaram a se conhecer em sentido bíblico, tudo foi muito natural, muito bacana, e muito gostoso por causa de todas aquelas coisas que a Amélia fazia, como por exemplo, falar abertamente o que queria e de quê gostava.
As coisas, aliás, foram tão bem, que o Benito acabou se descobrindo como alguém que gostava da coisa. Gostava, mesmo. E não era raro ele se pegar fantasiando com a Amélia. Não era raro ele se flagrar lembrando com um sorriso idiota alguma alegoria que ambos haviam performado na noite anterior. Não era raro o Benito perceber que estava ansioso por chegar em casa e despir a Amélia.
Benito mudara completamente sua postura face aos relacionamentos. Totalmente. Ele podia dizer que se tornara outra pessoa muito além da intimidade.
Mais confiante, mais relaxado, mais seguro, e tudo aquilo, graças à cumplicidade que encontrara em Amélia.
E agora quilo. Ela aparecia na frente dele com um ultimato daqueles.
Não que fosse nenhum absurdo.
Amélia sempre fora uma moça religiosa, sua família toda o era.
Até era de se estranhar que Amélia fosse tão prafrentex em termos de sexo sendo conservadora como ela era em tantas outras frentes.
Ademais, ela já estava chegando aos trinta anos, idade que muitas moças consideram limite pra se encaminhar na vida em termos de relacionamento se esperarem ter filhos, e a Amélia queria ter filhos, além disso, ela e o Benito já estavam juntos fazia coisa de uns quatro anos, o que muitas pessoas também poderiam ver como um período limite pra uma relação ser definida meramente como um namoro.
Mas e o Benito?
O Benito estaria pronto pra dar esse passo?
Julgava que não. Era demasiado cedo pra ele. É fato sabido que homens amadurecem em marcha infinitamente mais lenta que as mulheres, com pouco mais de trinta anos Benito ainda sentia-se um jovem. Pra piorar, ele deixara de experimentar tanta coisa na vida enquanto crescia por conta de sua timidez e das responsabilidades que tivera que assumir por força das consequências que sentia-se um pouco aviltado de certas liberdades que vira seus amigos terem na mesma época, de modo que, pra ele, hoje era importante sentir-se assim, liberado de certas coisas.
Mas o que fazer?
Amélia estabelecera a condição. Na verdade, praticamente lhe impusera um ultimato. Logo a Benito, que não era homem de responder bem a ultimatos...
Como ele responderia a isso?
Diabos.
Nem precisava pensar muito. Responderia que sim. Que se casaria com ela.
E não apenas por causa do sexo.
Longe disso.
Por incontáveis outras coisas antes.
Pela forma como Amélia o fazia sentir. Por ele realmente acreditar que era correspondido em sua afeição. Por ter encontrado nela uma paz que nem sabia existir.
Maldita Amélia...