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sábado, 29 de junho de 2013

Resenha Cinema: O Homem de Aço


Superman - O Retorno, de 2006, foi um filme de bilheteria relativamente morna. Menos de 400 milhões de dólares para um filme que, entre produção, e marketing, consumira quase trezentos milhões, mais de trezentos, se considerarmos tentativas fracassadas que consumiram muita grana da Warner Bros. sem jamais ver a luz do dia, como a visão de Tim Burton para o personagem.
Essa falta de retorno, ou ao menos do retorno esperado, acabou engavetando o projeto que existia para uma sequência d'O Retorno, em 2009.
A questão é que, com a Marvel montando um rentabilíssimo universo cinematográfico à imagem e semelhança dos quadrinhos, conseguindo fazer dinheiro até com personagens difíceis como Thor e Capitão América, e com os Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan rendendo rios de dinheiro, e obtendo respostas positivas de público e crítica, a DC estava sentada em cima de uma mina de ouro, mas não sabia garimpá-la.
A primeira tentativa, aliás, foi um retumbante fiasco.
O Lanterna Verde de Martin Campbel e Ryan Reynolds naufragou bonito, mostrando que a DC/Warner não tinha a manha da Marvel pra usar personagens de segundo escalão no cinema, de modo que era preciso apostar nos pesos pesados.
Enquanto a DC fazia reuniões com seus principais roteiristas para tentar encontrar uma direção em que seguir com seu maior herói, Christopher Nolan terminou seu conto sobre o Batman com O Cavaleiro das Trevas Ressurge, e a DC logo pensou que ele poderia ter uma coisa interessante para dizer sobre o outro grandão da Diabólica Companhia.
Nolan ganhou o posto de produtor, e liberdade criativa para dar uma nova visão do Superman ao lado de seu parceiro de Batman, David Goyer, que ficou com os roteiros, enquanto o escalado para a direção foi Zack Snyder, de Watchmen e 300.
Parecia um bom time.
Escolhido para envergar a capa vermelha e o colante azul, surgiu Henry Cavill, de The Tudors, que chegou a ser testado quando da escolha de Brandon Routh em Superman - O Retorno.
Lois Lane ganhou o nariz pontudo e a cabeleira ruiva de Amy Adams, enquanto Laurence Fishburn seria Perry White. O longa flertou com Daniel Day-Lewis para o papel de Jor-El, mas quem ficou com o trabalho foi outro oscarizado: Russel Crowe.
Ayelet Zurer, daria feições a Lara Lor-Van, enquanto os pais terrenos do Homem do Amanhã, Jonathan e Martha Kent, seriam vividos por Kevin Costner e Diane Lane.
As pessoas se perguntavam, porém, quem seria o ator escalado para viver Lex Lut, ops, o vilão do longa.
Surpresa.
o bom Michael Shannon, de As Torres Gêmeas e O Abrigo viveria, não Luthor, mas o general Zod, vilão que garantiria a pancadaria pela qual todos os fãs ansiavam desde que Christopher Reeve saiu no tapa com Non, Ursa e Zod em Superman II - A Aventura continua.
A ele juntou-se Antje Traue, como Faora-Ul.
Com as peças dispostas no tabuleiro era oficial: Após um hiato de sete anos, o Superman retornaria à telona.
A despeito da desastrada estratégia da Warner, de atrasar a estreia brasileira do filme em quase um mês com relação à americana (14 de junho lá, 12 de julho, aqui...) por conta da Copa das Confederações, as sessões de pré-estreia, como a que eu peguei ontem, aliviaram a espera dos fãs.
Com O Homem de Aço conferido, posso dizer que, pra mim, é o segundo melhor filme de Superman já feito.
O Homem de Aço abre em Krypton, mundo moribundo devido à exploração energética do núcleo do planeta.
O cientista Jor-El (Russel Crowe, um dos melhores atores em atividade, brincando de atuar), antevendo a destruição de Krypton, pretende salvar seu filho e a herança de seu mundo enviando o recém nascido para outro planeta, onde ele poderá viver e crescer para dar sequência à linhagem de seu povo.
Seus esforços esbarram na teimosia do alto conselho de anciãos de Krypton, não convencidos da urgência do apelo de Jor-El, e da tentativa de golpe militar engendrada pelo general Zod (Shannon, ótimo.), que acredita nas previsões do cientista, embora tenha planos um pouco diferentes para impedir a extinção de sua raça.
Enquanto os militares se digladiam, Jor-El escapa, e rouba a matriz genética Kryptoniana, que é colocada junto de seu filho, Kal-El.
Auxiliado por sua esposa, Lara (Zurer, discreta e estilosa), Jor-El envia seu filho para a Terra, enquanto o golpe de Zod é contido pelo governo Kryptoniano, e o vilão e seus asseclas são condenados à Zona Fantasma, pouco antes de o núcleo de Krypton sucumbir e o planeta ser destruído.
O filme corta, então para um jovem Clark Kent (Cavill, muito bem), já adulto, pulando de emprego em emprego enquanto usa seus superpoderes em segredo para impedir catástrofes aqui e ali.
Enquanto corre o mundo em busca de uma resposta à pergunta que o persegue desde a infância (O filme é entrecortado por flashbacks que levam a audiência a revisitar momentos do crescimento de Clark, a descoberta de seus poderes, e como ele aprendeu a controlá-los), até descobrir uma antiga nave Kryptoniana no ártico, onde finalmente conhece sua herança.
A questão é que a nave descoberta por Clark, ao ser ativada, envia um sinal de alerta a Zod e os seus soldados, que foram libertados da Zona Fantasma após a destruição de Krypton e após 33 anos vagando pelo espaço à procura de colônias Kryptonianas, finalmente sabem onde estão Kal-El e a matriz genética de Krypton, trazendo o vilão diretamente para a Terra, onde Clark Kent, finalmente sabendo quem deve ser, terá que decidir como vai lidar com essa crise.
O Homem de Aço é ótimo.
O longa encontra o tom ao contar a história de um homem desorientado procurando por seu lugar no mundo, e do peso que aceitar esse lugar depositará sobre seus ombros.
O roteiro de Goyer e Nolan e a direção de Snyder, fugindo (ainda bem) do seu estilo habitual, cheio de slow motion, conseguem capturar a essência do Superman e movê-la para um mundo real bem ao gosto de Christopher Nolan, onde, mais do que nunca, um farol de moralidade é necessário, mas as escolhas difíceis estão em cada curva do caminho.
Henry Cavill mostra que pode ser esse farol.
O ator britânico se livra da maldição do Superman ao não tentar (e nem ser forçado a tentar) emular Christopher Reeve. Seu Superman/Kal-El/Clark Kent funciona em uma nota totalmente diferente da versão doçura/macheza de Reeve, mostrando um homem hesitante, confuso, mas cheio de boas intenções, encontrando seu extremo oposto no Zod de Michael Shannon, um homem de fibra inabalável que sabe exatamente o que tem que fazer para garantir a sobrevivência de sua raça não importa o preço.
Nessa relação de dualidade entre os antagonistas, pela orientação de Clark/Kal-El por seus dois pais, Jor-El e Jonathan Kent, descansa o ponto alto do filme, que tem lá suas falhas, como uma tendência à hiper exposição, um pouco de pressa no desfecho do primeiro ato, e uma certa insistência em enfiar Lois Lane no centro da ação o tempo todo, nada que atrapalhe o desenvolvimento da história, ou que impeça a audiência de aproveitar o filme, que ainda é uma fita de super-herói, e como tal, não fica devendo nada em termos de cenas de ação e sequências de luta devastadoras entre criaturas super-poderosas mais destrutivas que as forças da natureza.
Em suma? O filme funciona perfeitamente, alicerçando o caminho de um Superman que ainda não é o maior dos heróis, mas dá o primeiro passo para sê-lo. Que venham os outros.

"Você pode salvá-la. Você pode salvar a todos"

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Resenha Filme: Superman - O Retorno

Última parada da nossa viagem no tempo sobre os filmes do Superman no cinema. Agora é hora de ver como foi a revitalização do personagem e seu retorno ao cinema em 2006.


Muita água tinha rolado por baixo da ponte desde que Christopher Reeve fizera seu último voo sorridente sobre a atmosfera da Terra.
Ao menos quatro projetos já haviam sido cogitados e engavetados pela Warner Bros. desde que a empresa recuperou controle criativo sobre a franquia cinematográfica do Homem de Aço em 1993.
Tim Burton chegou a ser contratado para dirigir um roteiro escrito por Kevin Smith e chamou Nicolas Cage para o papel principal num quase filme que consumiu 30 milhões de dólares até ser engavetado de vez.
Outros projetos roteirizados por Akiva Goldsman, Andrew Kevin Walker e J. J. Abrams foram cogitados, atores como Jude Law, Brendan Fraser, Colin Farrel, Josh Hartnett, David Boreanaz, Ashton Kutcher, James Franco, Paul Walker, Johnny Depp e Will Smith foram considerados para o papel principal, enquanto a Warner considerava para a direção nomes como McG, Wolfgang Petersen, Brett Ratner, Michael Bay, Ralph Zondag, Martin Campbel, Shekhar Kapur, Robert Rodriguez, Simon West, Stephen Norrington e até Oliver Stone.
McG e Ratner estiveram perto de aceitar o projeto, que ao longo do processo de desenvolvimento, passando pelas mãos de diversos produtores, esteve à beira de ser uma sequência dos filmes anteriores, um reboot, uma adaptação da história A Morte do Superman, e até um crossover Superman x Batman com títulos como Superman Lives, Superman Flyby e Superman Reborn.
Nada disso, porém, saiu da zona das hipóstese.
Quem esteve muito perto de tirar o roteiro de J. J. Abrams, Superman Flyby, do papel, foi mesmo McG, que cogitava escalar um desconhecido para o papel central, e tinha em mente Selma Blair, Scarlett Johansson ou Beyoncé para o papel de Lois Lane, Shia LaBeuf como Jimmy Olsen e Johnny Depp como Lex Luthor.
O medo de McG de voar e a vontade da Warner de rodar o filme na Austrália para cortar custos, porém, acabaram mudando o rumo das coisas. O diretor de As Panteras foi afastado da cadeira do diretor enquanto a vaga era oferecida a Bryan Singer.
O diretor dos excelentes Os Suspeitos e O Aprendiz, e realizador dos ótimos X-Men e X-2 herdou o filme.
Desde o começo da divulgação de X-Men, Singer assumia publicamente ser um grande fã de Superman - O Filme, e admirador da fórmula de verossimilhança adotada por Dick Donner (marido da produtora Lauren Schuler-Donner, de seus X-Men) no filme do azulão de 1978. Com essas credenciais, Singer assumiu o novo Superman da Warner em julho de 2004, pondo fim a onze anos de idas e vindas do retorno do Superman à tela grande, e também a X-Men 3, que já estava em pré-produção, e acabou caindo no colo de Brett Ratner, que cometeu aquele horror que nós vimos na franquia dos mutantes.
Os trocentos roteiros que circularam pela Warner ao longo dos anos acabaram sendo descartados, e o script filmado era de Michael Dougherty, Dan Harris e do próprio Singer.
O elenco tinha Kevin Spacey como Lex Luthor, Kate Bosworth como Lois Lane, Frank Langella no papel de Perry White, Sam Huntington como Jimmy Olsen, e o desconhecido Brandon Routh interpretando Superman/Clark Kent.
Singer conseguiu permissão para usar arquivos de imagem do primeiro filme do Superman e teve Marlon Brando novamente como Jor-El, e usou a trilha original de John Williams no seu longa (o restante da partitura era de John Ottman).
Parecia não ter como dar errado. Um diretor claramente competente, apaixonado pelo material original, um elenco (que ainda tinha Parker Posey, Eva Marie Saint, James Marsden, Kal Penn e Tristan Lake Leabu) talentoso e promissor, e ótimos efeitos visuais só podia dar em coisa boa, não é? A própria Warner concordava, tanto que meses antes de lançar o filme, já anunciava uma sequência para o verão de 2009, tamanha era a confiança do estúdio no longa de Singer.
É... Bem...
Em junho de 2006, chegava aos cinemas o ambicioso Superman - O Retorno.
No longa, uma sequência direta ao Superman II (mais da versão de Donner do que da versão cinematográfica de Donner/Lester), Superman retorna à Terra após cinco anos de ausência explorando o espaço sideral em busca de sobreviventes de Krypton.
Após essa busca infrutífera, o homem de aço tenta retomar sua rotina. Ele consegue reassumir seus afazeres no Planeta Diário, e lá descobre que, no período em que esteve fora do planeta, Lois Lane seguiu com sua vida. A intrépida repórter agora é mãe de Jason (Tristan Laebu), seu filho com Richard White (Marsden), sobrinho de Perry.
Enquanto Clark tenta se habituar à essa nova realidade, Lex Luthor, livre após o Superman não comparecer para depôr em sua audiência, casou-se com uma velha podre de rica que acaba de morrer, deixando a maior mente criminosa do nosso tempo livre e cheio de recursos para levar a cabo seus planos pérfidos.
Enquanto o Superman revela ao Mundo seu retorno ao salvar Lois de um acidente aéreo envolvendo um ônibus espacial e um boeing (Uma versão anabolizada do resgate do helicóptero no filme de 78), Luthor e seus asseclas viajam à Fortaleza da Solidão, onde o vilão se apossa da avançadíssima tecnologia kryptoniana que lhe dará vantagem em sua guerra pessoal contra o Superman e o mundo que o herói jurou defender.
Bueno... Quem viu o filme sabe que, pra ruim, não serve. Singer é excelente em seu ofício, e está particularmente estiloso no comando de Superman - O Retorno, e seu inchadaço orçamento de quase 270 milhões de dólares.
O filme é uma obra prima em termos de fotografia, direção de arte, figurinos, e toda a parte técnica.
O roteiro e a história são uma homenagem velada aos filmes de Richard Donner e a um personagem que é o pai maior de todo um estilo.
O trabalho do elenco é bom, em especial de Kevin Spacey que acha um tom perfeito entre o sarcástico cômico e o maníaco perigoso para seu Luthor, enquanto Bosworth, apesar de chatinha, faz justiça à xaropice inerente de Lois. Langella e Huntington também se dão bem em seus White e Olsen, mas Superman - O Retorno esbarra em um problema que, não. Não é Brandon Routh.
O ator, bonito, alto e forte como exige o papel, não tem o carisma de Reeve, que conseguia expressar doçura e indestrutibilidade na mesma nota.
Ainda assim, isso não seria problema se a ideia de Singer não fosse, desde a escolha do ator para o papel, emular o Superman de Christopher Reeve.
Ainda que fisicamente Routh guarde alguma semelhança com o intérprete anterior do personagem (especialmente caracterizado como Clark Kent), quando se assiste ao filme, o que vemos é um ator tentando desesperadamente se passar por outro.
Junte-se a esse problema grave, o fato de o roteiro não ser exatamente original (O que eu falei sobre o acidente aéreo de Lois vale praticamente para o filme inteiro. Superman - O Retorno, é uma versão anabolizada de Superman - O filme.), ou particularmente empolgante como pediria um filme com o maior herói dos quadrinhos, além de algumas liberdades criativas de Singer para com a relação de Lois e Superman, e pronto...
A chiadeira dos fãs do herói, somada à resposta morna do público (que não fez coro com a crítica especializada, que elogiou bastante o longa), e a bilheteria de cerca de 391 milhões de dólares, uma boa quantia, mas pouco para um filme de custou mais de 250 milhões em tempos de Homem-Aranha chegando na marca dos oitocentos milhões mundo afora afetaram Superman - O Retorno, que colocou o homem de aço de volta na geladeira, mas não é assim para manter o maior super-herói da Terra longe dos olhos do público.
Hoje, 21:15 da noite, eu vou me sentar no assento J-11 da minha sala de cinema favorita, e conferir O Homem de Aço.
E amanhã eu conto pra todo mundo que tal é o filme. Para o alto, e avante.

"Você fará de minha força, a sua. Você verá minha vida através dos seus olhos, como sua vida será vista através dos meus. O filho se torna o pai, e o pai, se torna o filho."

Resenha Filme: Superman IV - Em Busca da Paz

Supermemorial. Tá chegando a hora. Hoje veremos como foi a quarta incursão do Superman à tela grande, a última antes do hiato de quase vinte anos do herói longe dos cinemas:


Em 1983, após a recepção morna de Superman III por público e crítica, e o fiasco de Supergirl (1984), Ilya Salkind, o grande entusiasta da cinessérie do Superman, achou que os filmes estrelados pelo escoteiro azulão haviam dado o que tinham pra dar (Aparentemente a mania de trilogias já tinha chegado ao seu ápice, e, vejam vocês, os terceiros filmes eram os piores, já naquela época...), e sua ideia de um quarto longa estava indo pra gaveta.
Foi quando entrou em cena a Cannon Films, produtora chefiada por Menahen Golan e Yoram Globus, papas dos filmes de baixo e médio orçamento que financiaram praticamente toda a filmografia setenta/oitentista de Chuck Norris (E que graças a Odin faliu antes de cometer um filme do Homem-Aranha para o qual já havia adquirido os direitos). A Cannon comprou os direitos dos Salkind para realizar uma nova aventura do pai dos super-heróis.
A primeira coisa que Golan & Globus fizeram foi convencer Christopher Reeve a usar novamente o colante azul-piscina.
O problema é que Reeve estava desgostoso com o resultado do terceiro longa, e mostrou-se relutante em aceitar o papel. Os novos produtores da franquia, então, propuseram que Reeve escrevesse o roteiro do filme (O que ele faria ao lado de Mark Rosenthal e Lawrence Konner), prometeram financiar um projeto escolhido pelo ator após a realização de Superman IV, e ainda aventaram a possibilidade de Reeve dirigir o Superman V, caso o quarto longa fosse um sucesso.
Dessa proposta irrecusável, mais a veia pacifista de Reeve, surgiu Superman IV - Em Busca da Paz, dirigido por Sidney J. Furie, da capenga série Águia de Aço, e co-estrelado por Gene Hackman (retornando ao papel de Lex Luthor), Margot Kidder (De volta como Lois Lane após ser castigada com uma participação de cinco minutos em Superman III por ter assumido o lado de Richard Donner na briga do diretor com os Salkind durante a gravação dos dois primeiros longas), Jackie Cooper (Perry Whyte), Mark McClure (Jimmy Olsen), e com os reforços de Jon Cryer (É, o Alan Harper de Two and a Half Man), como Lenny Luthor, sobrinho de Lex e Mariel Hemingway.
Na trama, após receber uma carta de um menino chamado Jeremy, preocupado com as tensões entre Estados Unidos e União Soviética muito perto de iniciar uma guerra nuclear, Superman viaja à Fortaleza da Solidão para procurar conselho de seus ancestrais kryptonianos acerca do que deve fazer. Aconselhado a não interferir e procurar um novo lar (Gente finíssima esses conselheiros kryptonianos mortos...), o Superman pede uma sugestão a Lois, e, após tomar sua decisão, o herói se pronuncia nas Nações Unidas, onde diz que irá livrar o planeta das armas atômicas.
O homem de aço inicia então uma sanha pacifista, e captura a maior parte das armas nucleares do planeta, junta todas em uma imensa rede na órbita da Terra, e as arremessa no Sol.
Enquanto isso, Lenny Luthor liberta seu tio da prisão, os dois viajam a Metrópolis, onde roubam de um museu um fio de cabelo do Superman. Desse fio de cabelo, Luthor cria uma matriz genética do último filho de Krypton, e a prende a um míssil nuclear prestes a ser testado pelos EUA. Assim que o míssil é disparado, o Superman o apanha, e arremessa no Sol junto com os demais (Superman, chato pra caramba, interceptando até míssil de testes...).
Da explosão do míssil na superfície do Sol, surge uma criatura super-humana, o Homem Nuclear (Mark Pillow), que imediatamente voa até a Terra para encontrar Luthor, a quem reconhece como seu pai.
Enquanto isso, no Planeta Diário, David Warfield, magnata dos tablóides, compra a maior parte das ações do Planeta, e demite Perry Whyte, contratando sua filha Lacy (Hemingway) para a posição de editora.
É quando o Homem-Nuclear ataca, e após uma violenta (não tanto) batalha, infecta o Superman com uma dose de radiação venenosa de suas garras (Sim, garras), deixando a Terra à mercê de Luthor e de sua tenebrosa criação.
Derrotado e doente, o Superman precisa encontrar uma forma de se recuperar e impedir que seu arqui-inimigo alcance a vitória.
Muito ruim é o mínimo que se pode falar desse Superman IV - Em Busca da Paz.
Direção porcaria, roteiro pouquíssimo inspirado, vilões meia-boca, elenco pagando as contas, (d)efeitos especiais vergonhosos criados a toque de caixa (o orçamento do filme foi cortado de US$35 milhões iniciais, para 17 milhões, pois a Cannon tinha cerca de 30 projetos em andamento no mesmo período, incluindo o filme do He-Man, Mestres do Universo, estrelado por Dolph Lundgren e Courtney Cox) numa produção tão a cara da filmografia de Golan & Globus que, em sua autobiografia, Reeve chegou a lamentar a falta de uma consideração especial da produtora para com Superman IV.
No fim das contas, a carência de investimento no filme é flagrante em cada cena (Até o poster do filme é mal-feito), e a paupérrima produção, que fez um resultado igualmente paupérrimo nas bilheterias, acabou enterrando o Homem de Aço nos cinemas até o boom das produções de heróis nos anos 2000, mas falaremos disso mais adiante.
Se há algo digno de nota em Superman IV, é que foi a última vez que Christopher Reeve, o intérprete definitivo do personagem, o sujeito que, ao lado de Richard Donner, convenceu o mundo que o homem podia voar, envergou a capa vermelha, e que, exceto por uma breve participação no seriado Smallville, encerrou a ligação do ator com o personagem.
Pena. A relação Superman/Reeve certamente merecia uma despedida com mais pompa.

"Eu só desejo que vocês pudessem ver a Terra da maneira como eu vejo. Pois quando você realmente olha pra ela, é apenas um mundo."

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Resenha Filme: Superman III

Mais um pouco de Superman, então, meninos e meninas? Hoje vamos relembrar a terceira incursão live action do último filho de Krypton aos cinemas nesse Superman III


1983 foi o ano em que o Superman saiu dos trilhos. Sim. Se o filme de Richard Donner de 1978 ainda hoje é cultuado como uma das melhores adaptações de super-heróis para o cinema em todos os tempos e a sequência, de 1980, tinha uma versão que era uma ótima sessão da tarde (A de Richard Lester, que chegou aos cinemas), e outra que era quase tão épica quanto o primeiro filme (A de Richard Donner), em 1983, Ilya Salkind, um dos produtores da franquia, tinha a ideia de transformar a série em algo quase tão grandioso quanto Star Wars, com escala cósmica e uma trama que teria como vilões Brainiac e Sr. Mxyzptlk, e apresentaria Kara Zor-El, a Supergirl.
As ideias de Salkind continham uma relação pai e filho entre Kara e Brainiac, além de um romance do Superman com a Supergirl (No filme eles não seriam primos.).
Pois se os Salkind haviam sido o diabo em pessoa nos dois primeiros filmes do Superman, em especial no segundo, as coisas foram um pouco diferentes nesse terceiro longa metragem.
Foi a Warner Bros. quem rejeitou o tratamento de história de Ilya Salkind e resolveu tomar outro rumo.
O roteiro, escrito por David e Leslie Newman, que haviam trabalhado no script dos dois filmes anteriores (E tido seu trabalho quase que inteiramente alterado por Richard Donner e Tom Mankiewikz) voltaram, e dessa vez encontraram em Richard Lester, voltando à cadeira de diretor após terminar o trabalho de Donner no segundo filme, o parceiro ideal para seu estilo de escrita, cheio de piadinhas e humor excessivo.
O filme ganhou um tom de comédia tão evidente, que o grande coadjuvante contratado para co-estrelar Superman III foi Richard Pryor.
Isso mesmo, o comediante Richard Pryor, parceiro recorrente de Gene Wilder em um monte de comédias bacanas, que era fã de Superman II, e acabou ganhando o segundo maior papel de Superman III, atrás apenas de Christopher Reeve, que voltou para o papel principal.
Na trama, enquanto Clark (Reeve) convencia Perry Whyte (Jackie Cooper) a deixá-lo viajar a Smallville para participar da reunião de sua classe no colégio, o inescrupuloso milionário Ross Webster (Robert Vaughn) encontrava em Gus Gorman (Pryor), um gênio da informática, a ferramenta perfeita para aumentar seu império industrial.
Utilizando os conhecimentos tecnológicos de Gorman, Webster planeja controlar o comércio de café e de petróleo mundo afora, seus planos maléficos, porém, esbarram no Superman, que frustra suas tentativas de destruir plantações de café colombianas e acabar com o suprimento de petróleo alterando as rotas dos navios petroleiros.
Com isso, Webster pede a Gorman que analise fragmentos de Kryptonita no espaço, de modo a reproduzir o minério em laboratório. O computador, porém, falha em identificar um elemento desconhecido da Kryptonita, que Gorman substitui por alcatrão.
Enquanto os vilões levam seus planos adiante, Clark volta a Smallville, onde reencontra sua namoradinha dos tempos de colégio, Lana Lang (Annette O'Toole, a Martha Kent do seriado Smallville!), agora uma mãe recém divorciada, com quem vai formando novos laços.
Gorman e Webster acabam sendo bem sucedidos em entregar a Kryptonita sintética a Superman, porém, ela não parece ter efeito algum sobre o herói, que parte após receber o presente de grego.
O que Gorman não sabe, é que a Kryptonita alterada quimicamente pelo alcatrão, ao invés de afetar o Superman fisicamente, o faz psicologicamente.
Aos poucos o herói vai se tornando mais egoísta, depressivo, e raivoso.
Enquanto o Superman embarca em uma jornada descendente rumo às trevas, Gorman e Webster começam a desenvolver um poderoso super computador que pode ajudar o vilão a dominar o mundo, a menos que o Superman consiga derrotar seus demônios internos e retorne para salvar o planeta.
Eu sei, escrito assim, especialmente esse finalzinho, parece até razoável. Mas acredite, eu dei uma enfeitada, não funciona.
Superman III é um filme feito no tom errado desde a cena de abertura, com os créditos aparecendo na tela durante uma sequência de humor non-sense, recheada com todos os clichês da comédia britânica sessentista, incluindo até um sujeito se afogando dentro do próprio carro.
O vilão de Robert Vaughn, praticamente um Lex Luhtor sem grife (Gene Hackman recusou-se a voltar ao papel após a demissão de Richard Donner) não convence, a quase onipresença de Pryor não acrescenta nada, exceto uma coleção de gags cômicas duvidosas, e se tem algo digno de nota no filme, é a boa caracterização de Reeve como o Superman sob os efeitos da Kryptonita sintética.
Sua versão malvada e egoísta do herói rende os melhores momentos do filme(Embora também aí haja uma série de piadinhas sem graça, como endireitar a Torre de Pizza e apagar a chama Olímpica).
No final das contas, Superman III fez até uma carreira decente nas bilheterias, faturando mais de setenta milhões de dólares, mas a resposta da crítica (assim como dos fãs do personagem) foi bastante negativa para com o filme, que talvez tenha sido a pior participação do Superman nas telonas.
Talvez, pois ainda havia mais por vir...

"Bem, eu espero que você não ache que eu vou salvá-la, porque eu não faço mais isso."

Inevitável


Daqui algum tempo eu vou escrever. Eu sei que vou. É inevitável. A pergunta é "o quê?", O quê eu vou escrever naquele e-mail?
"Oi, tudo bem? Espero que tu não tenha te casado...". Alguma coisa assim? Talvez eu abra com um soneto... Tudo escrito, não em vermelho, como de hábito, mas com verde, que é a cor da esperança... Na esperança de que ainda haja tempo de reparar o que provavelmente foi o maior erro da minha vida? Seria piegas e apelativo, muito certamente. Mas me parece que, pra pessoas apaixonadas... Pra pessoas que amam, o piegas, o apelativo, ao menos em determinados sentidos, é perdoável... Até necessário.
Eu provavelmente vou dizer a verdade... Talvez de maneira florida... Mas a verdade. Vou dizer, em outras palavras, que meu rancor é mais difícil de suplantar que aquele que tinha embaixo do palácio de Jabba... Que somou-se a isso a minha certeza inabalável de que tu teria pretendentes melhores. Que não fossem desagradar a tua família, que não te fizessem passar por apupos, apuros e nem perrengues. Que tivessem mais a oferecer do que retórica razoável, má aparência, passeios a pé, cinema na sexta e McDonald's durante a semana.
Vou dizer o quanto quis te encontrar ao acaso em cada passeio que fiz com o meu cachorro perto de onde tu mora e de onde eu acho que tu trabalha. Em como estive na frente do teu prédio com ele no final da tarde do dia em que tu me mandou aquele último e-mail, antes mesmo de lê-lo. E especular como teria sido se eu tivesse te encontrado chegando em casa como torci para que acontecesse tantas vezes.
Eu vou dizer que me lembro de tudo. Que nada sai da minha cabeça. Os maus momentos pelos quais te fiz passar, claro, mas também os bons. Que passamos juntos. As madrugadas em claro, que varamos conversando cada um na sua casa, cada um na sua cidade. A primeira vez que te vi, de salto altíssimo naquela calçada da Duque de Caxias. A primeira vez que andamos juntos, conversando. O primeiro beijo. A primeira vez que andamos de mãos dadas. A primeira vez que sentamos lado a lado no cinema. A primeira vez que dormimos abraçados, que também foi a primeira vez que eu quase morri de hipotermia... A primeira vez que jantamos juntos e, depois de beber todo o teu refrigerante, tu bebeu o meu. A primeira vez em que tu sussurrou meu nome em um gemido. A primeira vez em que eu entrei na tua casa, e que também foi a primeira vez em que eu quebrei uma lâmpada tua. A primeira vez em que eu te encontrei ao acaso de propósito no shopping, pois precisava de um abraço. A primeira vez em que eu soube que te amava, e que tu era o amor da minha vida, que foi a primeira vez em que um de nós pensou em desistir do outro...
Provavelmente será sobre isso que eu vou escrever no e-mail... De um jeito mais transado... Mais maneiro. Usando figuras de linguagem mais estilosas... Melhor trabalhadas... Vou dizer que lamento pelo tempo que perdemos. Que espero ser capaz de recuperá-lo contigo. Que tenho a esperança, talvez infundada, vá lá, de que tu ainda tenha um espaço no teu coração onde possa me receber... E vou terminar com um clichê... Alguma coisa pegajosa... Boba, até... Mas verdadeira. Algo como "Se tu pular, eu pulo.".
E todos os dias, mesmo sabendo a resposta, eu vou me perguntar se devo enviar esse e-mail, ou não...

terça-feira, 25 de junho de 2013

Epitáfio


Estavam sentados no bar de sempre, na mesa de sempre, enquanto o Everaldo tomava um chope e o Paulo Roberto uma Coca-Cola quando o Everaldo disse, casualmente, enquanto olhava de soslaio pra bunda bonita de uma morena que passava a seu lado:
-Gostaria de ter, escrito na porra da minha lápide, quando chegar o fim dessa vida de merda, a seguinte frase: Aqui Jaz Khaled Al Mansur, Herói da revolução.
O Paulo Roberto não riu, apenas desviou os olhos da TV e perguntou:
-Dessa revolução? - Apontava com o queixo para o aparelho, mostrando imagens da onda de protestos que se espalha pelo país.
Everaldo deu de ombros:
-Isso não é revolução porra nenhuma, Pê Erre... Isso aí é um bando de guri de apartamento criado a iogurte de morango querendo se aparecer...
-Aparecer. - Corrigiu Paulo Roberto.
-Dá na mesma, porra. É tudo um bando de universitário maconheiro que resolveu brigar por causa da passagem de ônibus. Isso começou como uma merda de uma manobra da "oposição". - Ele fez as aspas com os dedos.
-Por que "oposição"? - Perguntou o Paulo Roberto.
-Porque esses mesmos caras já foram situação e faziam exatamente a mesma coisa. E se ainda não foram, vão ser, Pê Erre. Essa merda fodida vai continuar igual, essa corja de filho da puta que comanda o Brasil a quinhentos anos vai continuar comandando a porra do país através de filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Olha os Magalhães da Bahia? São uma porra de dinastia, caralho.
-Então o teu ponto é que isso aí - Paulo Roberto apontou de novo com o queixo pro Televisor -Não é uma revolução?
-Não é. Tô te dizendo, não é. Na hora do vamos ver, essa fedelhada vai se cagar e sair fora. Ano que vem tem eleição, aí, algum mequetrefe filha da puta de um desses partidos que vêm ganhando sempre vai lá, faz um projeto de governo que vá ao encontro de algumas das reivindicações populares, tem Copa do Mundo, e todo mundo esquece a merda toda...
-Não acho que seja por aí. Ou ao menos espero que não seja... Mas então como é que tu vai se converter ao islamismo e ser herói da revolução, Khaled?
-Não vou. Só quero essa merda escrita na minha lápide.
-Bom, eu tenho que admitir que é um bom epitáfio, embora a ausência de uma revolução durante o teu período de vida deixe ela meio carente de credibilidade.
-Que se foda... E tu, Pê Erre? Como tu gostaria de ter teu epitáfio? - Quis saber o Everaldo, empilhando bolachas de chope.
-Sei lá... Paulo Roberto Grevski, 1980 à 2063, Saudades... - Respondeu Paulo Roberto com pouco caso.
-Vai tomar no teu cu com esse epitáfio de merda... Cadê a emoção, porra? - Repreendeu, Paulo Roberto.
-Vai ser emocionante pra quem sentir saudades minhas a ponto de escrever "saudade" na tumba, oras...
-Te foder, Pê Erre... Vai te foder... Quem te ama vai sentir saudades tuas independente de estar escrito na merda do túmulo, ou não caralho. Lápide tu deixa pra potesrtidade, quer dizer, posteridade, porra.
-Como assim, posteridade? Vou escrever uma mentira na minha tumba? - Inquiriu Paulo Roberto, incrédulo.
-Sim! Caralho, imagina que a foder alguém passando pelo teu túmulo e lendo "herói da revolução"? - Sugeriu Everaldo, empolgado.
-Mas é mentira! - Protestou Paulo Roberto, erguendo as mãos.
-Que se foda que é mentira. Que se foda. Vai lá... Sem amarras, o que tu queria que as pessoas lessem no teu túmulo? Que elas olhassem, vissem e dissessem "Pica no meu cu... Olha só..." e balançassem a cabeça com a boca virada pra baixo de admiração. - Encorajou Everaldo, ilustrando as expressões que narrava.
-Hmmm... Pô, Everaldo... Deixa ver... Olha, pra deixar as pessoas de queixo caído, acho que gostaria de algo tipo o símbolo da ordem jedi e o código, "Não há emoção, há paz..." e tal. Ou então "Aqui Jaz Paulo Roberto, morto ao salvar trinta e seis crianças órfãs de um incêndio"... Alguma coisa assim. - Ele disse, enquanto olhava ao longe. Mas aí parou, olhando pra mesa -Mas o que eu gostaria, mesmo de poder escrever no meu epitáfio seria "Aqui Jaz um Homem que jamais cometeu um engano". - Completou Paulo Roberto com um suspiro enquanto deixava os braços caírem sobre o colo.
Everaldo não disse nada. Também baixou os olhos. Ficaram em silêncio algum tempo, apenas o ruído da TV. Mas aí o Everaldo disse:
-Aqui Jaz Khaled Al Mansur, Herói da Revolução... Ou então "Última Enterrada de Dirk Hanger, Lenda Pornô"...
Aí Paulo Roberto riu, de sair Coca-Cola pelo nariz.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Símbolo


Existem poucos símbolos de decadência e desleixo mais gráficos do que uma pia cheia de louça suja.
As pessoas que admiram, ou não se importam, com uma pequena dose de desleixo poderão se sentir desconfortáveis sob tal alegação, mas sejam compreensivos, sim? Eu não consigo largar uma colher suja na pia sem voltar pra lavá-la segundos depois, então, louça suja transbordando da pia, realmente me incomoda. Não sei se me incomoda por mania de limpeza pura e simples, ou se incomoda porque cresci exposto à mídias que usam a pia transbordando de louça suja como símbolo de desleixo e decadência.
Não sou só eu. Ontem mesmo estava vendo Gênio Indomável na TV, e à certa altura, aparece o personagem de Robin Williams em casa, numa reflexão deprimida regada a uísque, e antes de a câmera chegar nele, está lá, ocupando toda a tela, aquela pia de cozinha, cheia de pratos, talheres e garrafas...
É assim que eu tenho visto minha vida ultimamente... Como uma pia cheia de louça suja. Pratos, tigelas, bandejas, copos, garfos, facas e colheres... Engorduradas, cheias de migalhas, marcas de dedos, manchas e restos. Tudo isso atirado sob gotas d'água e a promessa de uma limpeza que pode vir amanhã, ou pode não vir. E enquanto isso fica lá, sob o gotejar perene.
Desleixo... Decadência... Restos...

Resenha Blu-Ray: Meu Namorado É Um Zumbi


Sexta à noite em casa, nada o que fazer, pizza recém entregue, Coca-Cola geladinha... O que fazer? Um filminho é sempre uma boa pedida.
Como fã de filmes de zumbi, resolvi apostar num filme do gênero, ou mais ou menos do gênero, que me passou batido quando esteve nos cinemas:
Meu Namorado é um Zumbi.
Vou confessar que preconceituosamente torci muito o nariz pro filme por causa das óbvias semelhanças com outro romancezinho açucarado entre mocinhas complacentes e mortos-vivos (A Saga Prepúcio, digo, Crepúsculo), entretanto, vendo que no elenco havia alguns nomes conhecidos e promissores, além de os trailers darem a entender que o filme tinha uma inclinação maior pra comédia, me encorajaram a tentar.
Não me arrependi.
Meu Namorado é um Zumbi mostra o mundo já consumido por uma praga desmorta. As pessoas que não foram contaminadas vivem em cidades atrás de muros, cultivando o que podem, e fazendo pequenas incursões armadas à zona desmilitarizada para saquear farmácias e hospitais abandonados em busca de remédios.
Foras dos muros dessas pequenas comunidades, há apenas caos, destruição, e zumbis. Um desses zumbis é R (Nicholas Hoult, o Fera de X-Men - Primeira Classe), que vaga pelo aeroporto remoendo sua existência vazia de morto-vivo. Dividindo seus dias entre andar trôpego à esmo entre os outros desmortos, tentar adivinhar o que os outros zumbis faziam em vida, e sair à caça junto com os outros de sua espécia para saciar sua fome por carne humana.
Numa dessas caçadas por corpos quentes (que seria o titulo do filme em português...), R encontra Julie (A gatíssima Teresa Palmer, uma Kirsten Stewart 2.0 com mais expressões faciais), por quem imediatamente se encanta. O amor à primeira vista do zumbi só aumenta quando ele devora o cérebro de Perry (Dave Franco), namorado de Julie, e visualiza as memórias do rapaz a respeito da loirinha. R , então, salva Julie dos outros zumbis, e após o ataque, a leva consigo para o avião abandonado onde se refugia, guardando consigo coisas que o fazem lembrar de quando o mundo era vivo, prometendo mantê-la segura e levá-la de volta pra casa após alguns dias.
Nesse período, os dois constroem uma relação que muda a ambos, e pode mudar muitos mais, isso se os "ossudos", zumbis em nível avançado de decomposição que não guardam mais nenhuma lembrança de sua vida, e o coronel Grigio (John Malkovich, discreto), pai de Julie e líder militar que odeia todos os mortos-vivos, não os impedirem.
É engraçadinho o filme de Jonathan Levine, que adapta o livro de Isaac Marion. O roteiro, escrito pelo próprio Levine, não tenta reinventar a roda no tocante ao cânone zumbi estabelecido.
Está tudo lá. A fome insaciável, a dor de estar morto sendo amainada ao devorar as vítimas vivas, os cérebros dando relances de consciência aos mortos-vivos que seguem executando suas atividades de sempre de maneira mecânica... Tudo conforme já vimos naquelas fontes que vão de George Romero aos Zumbis Marvel passando pelos A Volta dos Mortos Vivos.
Além disso, ainda traça o tradicional paralelo antropológico entre os zumbis e as pessoas que não se permitem viver, e, claro, como não podia deixar de ser, já que trata-se de uma comédia-romântica, afinal de contas, mostrar que estamos todos mortos, até nos apaixonarmos.
Há a boa sacada de mostrar a história pelo ponto de vista do zumbi, o que rende os momentos mais engraçados do filme, já que R, embora parcialmente amnésico e com dificuldades pra articular palavras ainda mantém os pensamentos em ordem e tem uma visão hilária de sua condição.
Meu Namorado é um Zumbi acerta a muito bem a mão no primeiro ato do filme, e cai um pouco de qualidade no terceiro, nada que estrague a diversão, porém.
O elenco carismático (Que ainda inclui a engraçadinha/esquisita Aneleigh Tipton, Rob Corddry e Cory Hardrict), a direção e o roteiro honestos, e uma ótima trilha sonora complementam um programa pra amantes de comédias, histórias de amor, e filmes de zumbi. Bom programa.

"Meu Deus, esse encontro está péssimo... Eu quero morrer de novo."

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Resenha Filme: Superman II - A Aventura Continua

Bora continuar com a preparação para a estreia de O Homem de Aço, em 12 de julho. Hoje, seguindo com os reviews dos filmes anteriores do Homem do Amanhã, vamos relembrar a sequência de Superman (1978).


Superman foi um estrondoso sucesso de bilheteria. A aposta dos produtores do filme, Ilya e Alexander Salkind, de lançar o primeiro filme antes da conclusão das filmagens do segundo longa (O plano original era gravar os dois filmes simultaneamente, cortando gastos e evitando perder dinheiro caso o primeiro longa fracassasse nas telonas) deu certo, de modo que o segundo filme precisava ser concluído para chegar aos cinemas.
O problema é que o primeiro longa fora finalizado sob uma tensão mais forte que o próprio Superman entre o diretor Richard Donner e os produtores Salkind e Pierre Spengler.
A demissão de Spengler, aliás, era uma das exigências de Donner para retomar o trabalho, além de desejar maior controle criativo sobre a obra, poder de decisão sobre a edição final e o retorno de Marlon Brando, que devido a seus altíssimos rendimentos sobre a bilheteria, estava sendo cortado do filme pelos Salkind.
Foi em março de 1979 que os produtores optaram por demitir Donner, e substituí-lo por Richard Lester, diretor inglês, antigo colaborador (e credor) dos Salkind, e que chegou a ser contratado para fazer o meio-campo entre eles e Donner durante a conclusão das gravações do primeiro filme.
Agora, Richard Lester exigiu, para aceitar o trabalho, que no mínimo 51% de Superman II fosse trabalho seu. Com aproximadamente 80% do filme gravado, isso causou diversas regravações onde Lester imprimiu um pouco mais do seu estilo pessoal.
Além disso, cenas foram reescritas além de várias substituições na equipe criativa (Tom Mankiewicz, creditado no primeiro longa como consultor criativo após reescrever os roteiros de Mario Puzzo, saltou fora com Donner, além de Tom Baird, editor do primeiro longa e John Willians, compositor da espetacular trilha do filme original).
Lester abraçou o trabalho (segundo Donner, os Salkind prometeram finalmente pagar uma antiga dívida para com Lester se ele aceitasse o projeto), e tinha como principal função, filmar rápido e sem grandes custos, já que o orçamento o filme já havia sido estourado durante o trabalho de Donner.
Ainda assim, os roteiristas David e Leslie Newman e Robert Benton foram contratados novamente para reescrever as cenas que seriam gravadas por Lester, além do compositor Ken Thorne, para completar as lacunas da partitura de Willians.
As filmagens foram concluídas em dez de março de 1980, e o filme foi lançados nos EUA em 19 de junho de 1981.
Superman II - A Aventura Continua realmente continuava o primeiro longa, mas antes disso, mostrava em flashback o julgamento e condenação dos criminosos kryptonianos general Zod (Terence Stamp), Ursa (Sarah Douglas) e Non (Jack O'halloran), sentenciados à prisão perpétua na Zona Fantasma, mas não sem antes Zod prometer se vingar de Jor-El e seus descendentes.
A seguir o filme mostrava um grupo de terroristas atacando a torre Eiffel, em Paris com uma bomba de hidrogênio. Lois Lane (novamente Margot Kidder), presente no local para a cobertura do atentado, acaba em perigo, mas é salva por Superman (Christopher Reeve), que incapaz de impedir e explosão, joga a bomba no espaço sideral.
A energia liberada pela detonação da bomba liberta Zod, Non e Ursa, que acabam encontrando o rumo para a Terra, planeta que decidem colonizar após descobrirem que, em nossa atmosfera, possuem dons sobre-humanos.
Enquanto isso, Lois Lane confirma suas suspeitas e descobre a identidade secreta de Superman, e, apaixonado por ela, Kal-El renuncia a seus super-poderes em uma câmara molecular da Fortaleza da Solidão, tornando-se um homem comum.
Lois e Clark voltando à Metrópolis (sabe Deus como, já que estavam no Polo Norte e o Clark estava sem poderes), acabam descobrindo que Clark cometeu um terrível engano, pois Zod, Ursa e Non acabam de dominar os Estados Unidos, e diante de um apelo desesperado do presidente dos EUA, clamam pela presença do tal Superman.
E enquanto Kal-El luta para tentar recuperar seus poderes perdidos, Luthor, recém fugido da prisão, se alia aos criminosos kryptonianos para derrotar o Superman, que sem poderes e cercado por inimigos por todos os lados, pode não ter como vencer essa batalha.
O filme de Richard Lester é irregular. O diretor britânico com uma queda bastante clara pela comédia, não fez um trabalho dos mais inspirados remendando o filme de Richard Donner.
A versão lançada no cinema, e que volta e meia passava na sessão da tarde, era cheia de momentos de comédia camp, exatamente o tipo de coisa que Richard Donner lutou como pôde pra evitar no primeiro longa.
A sequência em que os vilões enfrentam o Superman em Metrópolis, por exemplo, é carregada de um pastelão que destoa do tom do primeiro longa, ainda assim, a quebradeira entre Superman e Zod, Ursa e Non é desses momentos de fazer fanboy suar de felicidade à despeito dos inúmeros furos do roteiro re-re-reescrito pelos Newmans que ainda funcionava se segurando no trabalho de Mankiewicz e Donner.
Um moleque que nunca berrou "Ajoelhe-se diante de Zod, filho de Jor-El" ou saltou de cima da mesa com uma toalha amarrada no pescoço, não teve infância.
Muito melhor foi a versão de Richard Donner, lançada em 2006, que, além de contar com a participação de Marlon Brando, tapava alguns buracos (Lois parece intrigada com a semelhança entre Clark e o Superman desde o início da trama, Perry Whyte aparece pedindo que Clark e Lois se passem por recém casados nas cataratas do Niágara, há uma referência bastante clara ao cristal que permite que Clark volte atrás na sua decisão de se tornar humano, por exemplo), era mais violenta, menos engraçadinha, e acima de tudo tinha mais cara de sequência do filme de 1978.
Essa versão pode ser encontrada em DVD e Blu-Ray, e vale muito a pena.
No final das contas, porém, tanto a ótima versão de Donner, quanto a versão nem tanto de Lester, podem ser classificadas como o último bom filme do Superman, que depois da sequência, não teria mais uma encarnação cinematográfica que lhe fizesse justiça, conforme veremos mais adiante...

"General, se importaria de vir pra fora?"

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Última Dança


Tocaram a campainha. Ele estava nos fundos. Ouviu e chegou a dar uma risada algo rancorosa, quase uma cuspida.
"Claro." Ele pensou. "É quase meio-dia. Meu horário de almoço vai ser comido por algum infeliz que vai entrar aqui e olhar tudo sem chegar nem perto de comprar nada... Vou mandar andar".
Andou a passos largos em direção à porta. Mas ao chegar lá, não se deparou com nenhum xarope de galochas, mas sim com uma forma esguia familiar, e uma cara brava que, sejamos francos, também era familiar àquela altura:
-Tá quase na hora do teu almoço, né?
Ele assentiu com a cabeça.
-Vou te esperar na frente da ACM, lá.
-E se estiver chovendo?
-Eu tenho sombrinha.
Ele sorriu. Esperou mais cinco minutos, correu ao mercado, comprou um pacote de biscoitos e foi encontrá-la em frente à ACM. Na pracinha. Ela estava de pé, diante da entrada da praça cercada. Uma chuva fina caía, mas ela estava com sua sombrinha fechada. Ele se aproximou olhando ela com os olhos semi-cerrados:
-Tu sabia que "sombrinha" é uma nomenclatura que tu só usa em dias de sol? Porque, se tu analisar friamente, essa pecinha de pano colorido envolvendo essas barbatanas não vai gerar nenhuma sombra de qualquer tamanho no clima de hoje...
Ela não sorriu:
-Eu não acredito que tu não me ligou.
-...Quando...?
-Dez dias. Foram dez dias e nenhuma notícia.
-Como assim?
-Tu me ligou na sexta um dia antes do aniversário da Lud pra dizer que não ia, e depois não ligou mais. Não me ligou, não mandou mensagem...
-Ué... Nem tu.
-Eu tava esperando tu mandar!
-E eu tava esperando tu mandar. Achei que tu estivesse brava, que tivesse ficado chateada e te dei um tempo pra absorver isso-
-E ia me ligar quando?
-Eu não ia! Tu me conhece, tu sabe que eu não telefono. Nem mandar mensagem eu mando. Eu achei que quando tu não estivesse mais brava tu entraria em contato!
-E se a única forma de eu não estar mais brava contigo fosse tu me mandando mensagem? Ou me ligando?
-...
-O que ia ter acontecido?
-... Eu não teria ficado sabendo e nem tu teria deixado de ficar brava comigo. Tá satisfeita?
Ela suspirou. Ergueu a sombrinha, a abriu. Começou a andar, então parou e olhou pra ele com uma expressão impaciente. Ele andou até o lado dela, e rumaram junto à uma lanchonete próxima.
-É muito difícil ser tua amiga, viu?
Ele não respondeu. Deu-se conta que estava fazendo a sua cara emburrada. Cenho franzido, e um princípio de bico nos lábios. Ela continuou:
-Passei no teu serviço sábado. Porque tu não abriu?
-Passei mal. Cheguei em casa quase de manhã, tive um vomitório... Deve ter sido um lanche suspeito que comi de madrugada... de qualquer jeito não fui. Fiquei em casa vomitando sábado quase inteiro.
-Eu não fiquei brava contigo... Fiquei só chateada.
-Não dá no mesmo?
-Não.
-Se tu diz...
-E no mais?
-Tudo na mesma.
Ele sabia do que ela estava falando, mas não deu corda.
-Tu sabe do que eu tô falando, Ned. Não me enrola...
-Eu lamento, Didi... Não tenho nenhuma boa notícia pra te dar. Aliás, eu encontrei, viu?
-O quê?
-O lugar onde tu leu tudo. Realmente, eu tinha a resposta o tempo todo...
-Desculpa não ter te contado onde era...
-Não te preocupa. Se ela quisesse que eu soubesse onde era teria me contado. Descobrindo sozinho ninguém me contou.
Ela sorriu passando a mão no ombro dele.
-Maior detetive da terra... - E cantarolou a musiquinha do Batman dos anos sessenta.
Ele riu:
-Do mundo, Didi. O Batman é o maior detetive do mundo. De qualquer forma, obrigado. É uma referência muito lisonjeira.
Entraram na lanchonete. Ela sentou no balcão, pediu uma vitamina de laranja e mamão. Ele pediu uma limonada amarela.
Ela se encurvou bastante, apoiou o queixo nos braços, cruzados sobre o balcão de fórmica preto, olhava pra ele:
-Tu leu tudo?
-Li.
-Foi ver como ela estava?
Ele olhou pra ela de um jeito que provavelmente teria sido ameaçador nos seus tempos de juventude. Hoje em dia era, no máximo, contrariado. Ela ergueu as sobrancelhas:
-Foi?
-Não, né? Claro que não... Mandei uma mensagem...
-Não ligou?
-Eu não v... Eu não vou ficar ligando a qualquer hora... Não sei os horários dela. Não sei que horas ela sai do serviço, que horas ela almoça. Não sei o que ela faz quando sai... Não sei mais nada. Não quero colocar ela em uma situação desconfortável. Mandei mensagem num horário em que achei que ela fosse estar trabalhando, e se ela pudesse me responder, responderia.
-E ela respondeu?
-Respondeu.
-Hm...
-"hum" o quê, alemoa?
-Sei lá... Teu tom... O que houve?
-Tu sabe, não sabe? Tu lê. Tu leu... Tu sabe o que houve.
-Eu sei...
-Então... Não precisa me ouvir externar, né?
-Não.
A vitamina dela chegou. A limonada dele, também. "Açúcar?" perguntou a senhora que servia. "Não, obrigado", ele respondeu. A loira a seu lado disse "Sim! Por favor", e quando a senhora gentil estendeu-lhe o açucareiro, daqueles de plástico com um furo em cima, de onde sai um rio de açúcar, ela disse "Obrigada", e despejou um monte de açúcar no copo rosa pink gigante.
Ele ficou olhando incrédulo:
-Tu tem vermes, né? Só pode...
Ela riu.
-Meu metabolismo não queima calorias, torra... Como é que tu está?
Ele estava pescando algumas sementes que boiavam na limonada com a colher, não levantou os olhos pra responder:
-Já vi dias melhores...
-Eu sei. Mas olha... Se ela não tem razão, tu deveria falar pra ela...
-Eu já falei. Falei antes. Ela chegou à uma conclusão diferente. Isso é com ela. Fugiu da minha alçada.
-Prova que ela tá errada...
-Eu queria que fosse assim. Queria mesmo. Queria que bastasse eu resolver. Mas não é. Tu me imagina dizendo que amo alguém?
Ela não respondeu. Baixou os olhos pra vitamina.
-Não - Disse, enquanto achava o canudo com os lábios.
-Eu disse pra ela. Tu me conhece, Didi. Sabe que eu não diria da boca pra fora. Eu disse que ela era o amor da minha vida. Tu sabe que eu também não diria isso da boca pra fora.
-Eu sei... Olha, eu sei, tá? Mas talvez tu pensasse que fosse na época, e depois viu que não.
Ele abriu a boca pra responder, mas ela o deteve e continuou:
-Não tô dizendo que é isso. Isso é o que ela pode estar pensando.
-Eu não posso me responsabilizar pelo que as pessoas interpretam de mim.
-Meu Deus do céu... Que pessoinha mais complicada que tu é, viu?
-Eu não sou uma pessoa fácil. Isso é público e notório, nunca fiz propaganda enganosa nesse sentido.
-Ela não tem razão? Tu não escolheu pensar só nas coisas ruins?
-Eu vou te dizer no que eu penso... Eu penso que ela é tudo o que eu sempre quis. Que ela e eu seríamos obrigados a ficar juntos em um mundo que fizesse o mínimo de sentido. Eu penso que ela foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, que ela seria a resposta as minhas preces se eu fizesse alguma. Eu penso no cheiro dela. No cheiro do cabelo dela. No sorriso dela e no modo como minha boca sempre ficava machucada depois que a gente se beijava muito tempo por causa dos dentes dela. Eu penso nas pantufas cor de rosa, penso em rendinhas, em cobertores vermelhos que estão se desfazendo, e em domingos à tardinha mandar mensagens pra ela dizendo que estou indo lá pra gente ver desenho. Eu penso em todos os filmes que a gente viu juntos, em todos os que deveríamos ver juntos, nas noites que não dormimos abraçados e especialmente naquelas em que dormimos. Eu penso em passeios de mãos dadas, sapatos de salto altíssimos, em levar ela pra passear na Praça da Matriz e mostrar o grifo em que eu gostava de montar quando era pequeno. Eu penso nela rindo de mim tirando a cebola do sanduíche do McDonald's, em como ela usa "obrigado" quando deveria usar "obrigada", e em como por conta disso, eu cheguei a formular uma teoria de que ela era transexual já que isso explicaria o fato de ela ser tão perfeitamente moleque e seria mais a cara da minha sorte. Eu pensei em dizer que fui de camiseta do Star Wars ver Star Trek com meus amigos conforme nós havíamos combinado, e que não foi a mesma coisa porque ela não estava lá. Que eu sinto saudades todos os dias. Que eu mantenho a mais firme inabalável e clara certeza de que ela é o amor da minha vida, e que se tem alguma coisa que eu lamento na nossa relação, é o fato de que eu não soube cuidar dela e nem ser uma presença positiva na vida dela. É nisso que eu penso.
-Ned... Ela é quem tem que decidir isso. E se ela não precisa de ninguém pra cuidar dela. Ela-
-Ela disse que eu perdi ela. E eu perdi. Eu fui rancoroso. Eu fui teimoso. Eu sou assim. Tu sabe... Rápido na ira, vagaroso no perdão...
-Tu não é... Tu tá te agarrando nisso porque tu acha que não é bom pra ela. Ela já disse que não, mas não adianta. Tu encafifa com as coisas e pronto...
-Mais um defeito pra lista. - Ele disse erguendo o copo num brinde amargo.
Ela ergueu as mãos como quem desiste e então as deixou caírem no balcão.
-Tu é quem sabe... Mas tem mais uma coisa que eu quero te dizer antes de fechar o assunto... Posso?
Ele assentiu com a cabeça de má vontade. Ela continuou:
-Ela tem medo de te ver casado, pai de filho por aí. Ela disse. Eu sei que tu não vai... A menos que alguma coisa muito espetacular aconteça, tipo a guria dos Transformers aparecer aqui querendo dar pra ti, e olhe lá... Mas e se o contrário acontecer? Ela é nova, bonita... Parece meio ingênua, mas isso se resolve com o tempo. Vai aparecer alguém, alguém que talvez não seja o amor da vida dela. Mas alguém disposto a tentar se enquadrar no papel.
-O que é que tem? Como eu vou me sentir? Destruído, demolido. Arrasado. É óbvio. Se isso acontecer...
-Não. Quando acontecer. Porque vai. Vai acontecer. É questão de matemática.
-Tá... E se é inevitável, qual o teu ponto?
-Se tu não vai fazer nada, então tu tem que deixar pra lá.
-Deixar pra lá...
-É. Deixar ela ir. Seguir adiante. Parar de escrever sobre vocês todos os dias.
-É minha forma de lidar com isso.
-Mas atrapalha ela. Não é justo com ela.
-...
-Tu sabe que eu tô certa.
-Provavelmente.
-E então?
-Tu tem razão. Eu vou parar. Ela vai pensar que eu não gosto mais dela...
-O que baseado no fato de tu acreditar tão firmemente que não é bom pra ela, se enquadra nos teus propósitos, não é?
-É... - Ele concordou de olhos baixos.
Ela estendeu o copázio após mexer a vitamina, ele ergueu seu copo de limonada.
-A que estamos brindando? - perguntou.
-A um novo começo. Pra ela... Ela merece.
-Ela merece. - Ele concordou.
-Ao amor da tua vida, Ned.
Bateram os copos.
-Eu ainda vou escrever sobre isso... Uma última vez.
-Eu sei. Pra deixar claro que tu ama ela.
-É. Eu amo ela. Com tudo o que eu tenho, e com o que eu não tenho, também. Amo demais. Ela é o amor da minha vida e sempre vai ser.
-Eu sei. E quando tu for escrever, fala que eu sou esguia. Adoro quando tu me descreve como tendo "formas esguias".
-É uma maneira de dizer que tu é uma magricela sem parecer ofensivo.
Os dois riram. Ela passou a mão no braço dele:
-Tu vai ficar bem?
Ele sorriu a segurando pela ponta do queixo e estalou-lhe um beijo na bochecha:
-Não.

Rapidinhas do Capita


Um minuto de silêncio pois deu-se a passagem de Tony Soprano.
James Gandolfini, o ator que interpretou o mafioso casca grossa na série Família Soprano morreu aos 51 anos de idade, na Itália, onde participaria de um festival.
Vencedor de três prêmios Emmy pelo seu trabalho na série, Gandolfini fizera diversos papéis coadjuvantes em filmes e tinha, engatilhadas, duas séries de TV para a mesma HBO de Família Soprano.
Segundo o site TMZ, Gandolfini morreu devido a um ataque cardíaco.
Quem lembra dele com o pesado sotaque estilo nú jézy quebrando tudo em Sopranos sentirá falta.

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E a gatinha Shaylene Woodley, de Os Descendentes, que interpretaria Mary Jane Watson em O Espetacular Homem-Aranha 2 foi limada da produção.
Calma, a ruiva não foi demitida, mas com a garantia de uma quadrilogia do cabeça de teia dada pela Sony, que já marcou a data de estreias dos outros dois filmes pra 2015 e 2018, Mark Webb deve ter achado que os dois ou três vilões do filme (Rino, Electro e Norman Osborn) e mais a possível Gata Negra, e Harry Osborn já tomariam tempo suficiente de tela, então, deixou a ruivinha pra mais adiante.
Se for pra evitar o que aconteceu com a Gwen e o Capitão Stacy em Homem-Aranha 3 de Sam Raimi, então, ótima sacada do Webb. Aliás, minha dica pro filme, que mencionem a MJ o filme inteiro, e ela apareça na última cena, se aparesentando pro Peter na porta da casa da tia May com o clássico "Face it, tiger...", isso se o cronograma de filmagens de Woodley, que vai estrelar o filhote de Jogos Vorazes Divergent, não impedi-la de dar as caras na produção aracnídea...

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E a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados (Cof,ninhodelarápios, cof, casadebandidos, cof, corjadesafados, cof, cof), encabeçada pelo pastor Marco Feliciano, do PSC paulista (Cof, cof, ladrãosafadoaproveitador, cof, cof), aprovou uma cura gay.
Na verdade, o que a comissão fez foi suspender uma decisão anterior que proíbe o tratamento do homossexualismo, ou homossexualidade, como preferem os politicamente corretos, de serem tratados como doentes.
Um amigo me perguntou:
-E como é que se cura um gay?
Eu respondi:
-Megan Fox peladinha.

Mas fora de brincadeira? Já passou da hora de o povo quebrar tudo no congresso.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sem Sentido


Discutiam qual era o melhor jogo de futebol, FIFA soccer, ou Pro-Evolution soccer.
O defensor do PES dizia:
-Quem não sabe jogar Pro-Evolution migra pro FIFA e aí para de apanhar. Por isso acha o jogo melhor.
O defensor de FIFA rebateu:
-Vai nessa. Jogamos Pro-Evolution agora, posso até perder, mas te garanto que não tomo um vareio, em compensação se tu for jogar FIFA comigo, eu pego o Sport Recife, te deixo pegar o Barcelona e ainda assim vou limpar o chão contigo.
-Que vai o quê... Isso é papinho de jogador de FIFA, tudo amarelão. Quem já jogou bola na vida prefere Pro-Evolution, é só ver.
-Sim, todo jogador de futebol frustrado prefere PES. É a única chance que os medíocres têm de se sentirem Pelé.
-Medíocre é quem gosta de joguinho de futebol sem drible. Sem emoção, onde tu faz gol do meio do campo...
-Ah, é. Muito melhor o jogo em que tu pode driblar todos os adversários dentro do campo e sair por abraço. E gol do meio de campo existe, viu, inteligente? Basta procurar no Youtube, já que tu não viu jogos de futebol o suficiente na tua vida pra se dar conta.
-Vem com esse papinho de defensor de FIFA pra cima de mim... "Nunca viu futebol", mi, mi, mi de quem não gosta de futebol de verdade...
-Não, não, eu entendo quem não curte FIFA, é um jogo difícil, mesmo. Não é pra todo mundo. Quem não manja simulador, quem prefere um joguinho mais levinho, sem pressão e tal, tá certo, tem que jogar Pro-Evolution, mesmo...
-Fã de gauchão tem mais é que jogar FIFA, mesmo, aquele monte de boneco mal-feito tocando bola, tocando bola, tocando bola...
-É, esperto é que curte aqueles robôs movidos a urânio enriquecido do Pro-Evolution, correm como se tivessem um míssil scud enterrado na bunda... Aí, apertou, puxa pro meio, aperta L-1 e sai pro abraço, pois é sempre gol...
-Pro-Evolution é muito mais jogo, fifeiro fica nesse papinho de simulador, simulador, e não sei o que lá, jogo tem a física toda zoada, cheio de bug, bota no youtube lá, bugs do FIFA que tu vê a porcaria que é esse teu jogo, aí...
-Tem bug em versão preliminar e em versão pirata de PC, velhinho. E é simulador, sim. E Pro-Evolution é jogo de guria. Minha namorada joga Pro-Evolution e quando eu malho o jogo e pergunto por que ela não joga FIFA ela me diz que não quer ser treinadora profissional, só jogar bola...
Deu-se conta... Ela não era mais sua namorada... E a discussão perdeu o sentido. Tudo perdeu o sentido.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Vandalismo Gratuito ou Necessário?


Em que se pese o lado negativo das manifestações populares que vêm crescendo pelo Brasil nos últimos meses (No caso o vandalismo marcado pelas pichações, depredações de comércios particulares, incêndio de ônibus e todos os aspectos mais nocivos amplamente divulgados pela grande mídia), há também que se concordar que o protesto pacífico simples não surte efeito algum.
Quantas vezes já vimos aquele grupo de manifestantes cândidos segurando faixas, soprando apitos, batendo tambores, gritando em mega fones e andando em passeatas pelas ruas da cidade até chegar diante de uma sede de poder local e estacionar lá por várias horas?
Muitas, todos nós sabemos. É a quintessência do ato público.
E todos sabemos que isso simplesmente não gera resultado algum.
A nossa classe política não podia ligar menos pros atos públicos e manifestações pacíficas. Todo mundo sabe como funciona (ou não funciona, ou funciona pra uma minoria) a política do Brasil, todo mundo sabe como é que são usadas as massas de manobra das facções políticas.
Então é bacana, sob certa ótica, ver uma manifestação política que, mesmo que tenha começado com claro viés político, sendo manobrada pra atacar a situação em nome da oposição, ganhou mais escopo, tornando-se a voz de um grupo maior, que almeja mais do que aqueles vinte centavos da passagem de ônibus ou incomodar quem venceu a última eleição.
O que era antes uma queixa de estudantes partidários da esquerda reconhecidamente resmungões, tomou corpo e se tornou a voz de todo o brasileiro que se sente aviltado de alguma forma.
O preço da passagem ainda incomoda, claro, mas também incomoda a corrupção. Incomodam os gastos desmedidos com a Copa do Mundo. Incomoda a falta de saúde, de segurança e de educação.
Então, que todos os que se sentem incomodados saiam à rua. Que façam barulho. Que não permitam que o nosso filhote tropical da Primavera Árabe acabe logo ali adiante. Porque a gente sabe como são as coisas... Daqui a pouco o pessoal cansa, as facções políticas daqui e dali fazem algum conchavo e chamam de volta pra dentro seus respectivos currais eleitorais, e acaba a organização, ou começa a Copa e a maioria esquece que não queria saber dessa bazófia toda... Pode ser. Na verdade é bem provável.
Ainda assim, o ponto aqui é:
Acho, sim, válido, sair quebrando coisas pela rua, se for pela razão correta e se as coisas quebradas forem as coisas certas.
Não há fundamento em sair destruindo comércios e moradias particulares que pertencem a pessoas que terão que pagar o prejuízo do próprio bolso. Isso é vandalismo puro, e quem comete tem mais é que levar um laço da polícia militar, mesmo.
Mas se a destruição for direcionada e der um recado, aí ela não é apenas válida, como é, no contexto político brasileiro, necessária.

Rapidinhas do Capita


Que a crise do cinema norte-americano é tenebrosa todo mundo já sabia. Crise criativa, que fique bem claro, porque grana lá ainda rola aos montes.
O que tem de remake e reboot de filme oitentista por sair não tá no mapa, e enquanto José Padilha finaliza seu Robocop, a Summit entertainement preparava um remake de Highlander. Isso, o Highlander do Christopher Lambert (que a gente não deve chamar de crísofer lambêrt, mas sim de crristofêrr lambér, já que é francês), guerreiro imortal, só pode haver um e tudo.
E o escolhido pro papel do escocês imortal Connor McLeod era Ryan Reynolds, que acabou pulando fora e deixando o filme carente de um protagonista.
Só o tempo dirá quem saiu ganhando mais.
Reynolds, que deixou de embarcar em um projeto caça-niqueis dos mais sem-vergonhas, ou o novo Highlander, que conseguiu se livrar de um canastra de marca maior.

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E não é que a Sony tá, mesmo levando fé no Homem-Aranha Andrew Garfield?
A sequência de O Espetacular Homem-Aranha, do ano passado, está com as gravações a todo o vapor, isso todo mundo já sabia. Que a Sony tinha em mente transformar o bom filme de Mark Webb em trilogia, também era bastante claro, mas agora a gigante japonesa do entretenimento deu mais um passo e garantiu Homens-Aranha até 2018.
Isso mesmo. O Espetacular Homem-Aranha vai ser uma quadrilogia.
Todo mundo começou a babar por um filme com o sexteto-sinistro, e confesso que, se fizerem direito, pode até funcionar, contanto que não inventem de colocar o Lagarto pra ajudar o Aranha a vencer seus seis inimigos.
Ah, e começam a especular que Felicity Jones, escalada pro segundo longa em um papel ainda secreto, poderia viver Felícia Hardy, a Gata Negra.

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E o J. J. Abrams ainda não procurou George Lucas pra falar sobre Star Wars Episódio VII, quem disse foi o próprio Lucas em entrevista ao Access Hollywood, isso prova que Abrams é u sujeito esperto.
Tudo o que se precisa saber sobre Star Wars está nos episódios IV, V e VI, a melhor maneira de estragar Star Wars é ouvindo o que George Lucas tem a dizer sobre a saga.
Como eu já disse e não me canso de repetir, George Lucas uma vez teve uma ideia brilhante chamada Star Wars. Assim que ganhou controle sobre ela, dedicou sua vida a destruí-la.

A Calculadora


O Natanael tava parado em frente à vitrina da loja de eletrônicos encarando, com olhos ávidos, uma calculadora dourada e preta, daquelas científicas movidas a energia solar.
Não era a primeira vez que Natanael encarava a vitrina da loja de eletrônicos e observava, desejoso, a calculadora em negro e dourado a qual apelidou de Prince, em homenagem a um artista dos anos oitenta que também se chamou Prince durante algum tempo, e quando veio fazer shows no Brasil exigiu que toda a sua parafernália fosse negra e dourada.
Então, o Natanael, que nem sequer era particularmente fã de Prince, mas lembrava de minúcias sem sentido, apelidou a calculadora com o antigo nome do artista, e todo o dia dava uma paradinha, fazendo chuva ou sol, frio ou calor, pra mirar o aparelho.
Era uma HP, bonitona. Case preto de couro com tampa rígida, zíper e o logo do fabricante em dourado, ao abri-lo, deparava-se com o painel dourado aplicado sobre a caixa negra, e as teclas de borracha em preto, azul e vermelho, e acima de tudo o display alongado com espaço para tantos dígitos quantos fossem necessários, e o painel solar, que alimentava a bateria interna do aparelho, garantindo que não fossem necessárias pilhas de nenhuma espécie, tampouco aquelas baterias de relógio em forma de moedas que nós nunca sabemos onde comprar.
Oh, sim... O Natanael adorava aquela calculadora. Imaginava-se saindo da loja com ela protegida dentro de uma caixa de papelão minimalista... Talvez toda preta, apenas com o logo do fabricante em um cantinho, dentro um estojo de plástico... Não! De isopor. Um estojo de isopor, mas não branco, de isopor azul. Protegendo o engenho de eventuais impactos, impactos que não aconteceria, cuidadoso que Natanael seria, carregando a caixa enrolada na sacola da loja sob o braço. E chegaria em casa, abriria a caixa com cuidado, usando um estilete para cortar a fita adesiva da tampa, e então puxaria com delicadeza o estojo de isopor azul, e dele sacaria o aparelho, envolto em sua capa de couro negra... Abriria o zíper, respiração trancada, e de lá sacaria o aparelho...
Nem era capaz de imaginar-se apertando o botão de ligar da calculadora. Aliás, seria ligar? Ou seria "on"? Quem sabe "power", ou ela ficava em stand-by e tinha aquele símbolo com um círculo e um tracinho? E pra desligar? Seria dar outro toque no botão de ligar ou teria um botão separado? Onde leria-se "off"? Natanael passava horas pensando na calculadora.
Via o preço, estava em conta, era uma boa calculadora científica, valia os R$149,90. Ele chegou a ver mais barata na internet, até por R$119,90, mas Natanael não confiava particularmente em compras pela web, e além disso, parte da graça da coisa, ao menos pra ele, era ir à loja, ver a demonstração do vendedor, esperar o pacote ser fechado, sair da loja, embrulho nos braços, levar o equipamento pra casa... E não tinha nada disso na internet... Não. O Natanael pagaria de bom grado esses quarenta reais de diferença para poder fazer tudo conforme idealizara.
Passou pela loja de eletrônicos e parou em frente à vitrina. Observou a calculadora com um sorriso. "Amanhã.", disse para si mesmo. "Amanhã tu vai ser minha...", chegou a erguer a mão pra tocar na vidraça, mas conteve-se. Pôs as mãos no bolso e seguiu seu caminho, antevendo o dia seguinte.
Naquela noite quase não dormiu de excitação, pensando na sua compra. Quando acordou, pela manhã, saltou da cama com um sorriso no rosto ao pensar na calculadora... Vestiu-se, lavou-se, e saiu. Foi pensando se deveria comprar sua calculadora na ida para o trabalho ou na volta... Seria melhor comprar na volta. Poderia ir tranquilo pra casa e se aclimatar ao aparelho novo. Se o pegasse agora, pela manhã, não conseguiria concentrar-se no trabalho... Mas ao mesmo tempo, a excitação e o nervosismo de esperar até o final do expediente para presentear-se também o impediriam de se concentrar no trabalho. Resolveu ir à loja a caminho do serviço. Tentaria concentrar-se em suas funções e manter-se tranquilo com a calculadora do lado. Era difícil, mas mais provável do que tentar se concentrar contando os minutos para sair do serviço.
Chegou à loja e deparou-se com um videogame portátil no lugar onde sua calculadora estivera nas últimas semanas. Entrou no estabelecimento com um buraco no meio do estômago. Dirigiu-se à vendedora perguntando pelo aparelho da vitrine, calculadora científica HP, preta e dourada, case de couro, e talicoisa...
-Ah, sim... Pois é, foi vendida ontem, ainda.
Foi a resposta da desalmada. Sem nem um "veja bem", sem sequer oferecer um copo d'água. Vendida. Natanael perdera a sua calculadora por apenas algumas horas.
Sentiu seu mundo ruir um pouco. Pensou no que ia fazer, em como superar aquilo...
Mais estranho que o peso da calculadora e da sua consequente perda na vida de Natanael, era o fato de que Natanael não trabalhava com cálculo, nem estava estudando nada que envolvesse matemática. Natanael nem sequer queria aquela calculadora. Mas ele precisava dela. Precisava dela pois, à certa altura de sua vida, percebeu que perdera o que tinha de mais importante, e a forma que achou de lidar com isso, foi desejando coisas.
As vezes as coisas mais inúteis, e as mais absurdas, tudo desejos pretextos para preencher o espaço deixado pelo que importava de verdade, e que ele não possuía mais.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Conjugação


"Tô aqui embaixo.", dizia a mensagem no display do celular. Ele encarou o aparelho por longos segundos, e não pôde conter o sorriso. "Tô aqui embaixo." era sempre prenúncio de sorriso de uma forma ou outra... Olhou pras letras pretas sobre a tela branca, treze letras, dois espaços, um ponto final... Trinta e dois toques na tela sensível do celular, se ele não errasse nenhuma letra e tivesse que compensar com toques adicionais... Não que ele escrevesse aquilo com frequência. Na verdade tinha aquela mensagem salva na memória do telefone. Bastava entrar ali e enviar. O remetente também estava salvo... Bastavam cinco toques na tela do telefone pra enviá-la e esperar que começasse... Uma pequena cadeia de eventos que sempre culminava com felicidade, leveza e riso.
E agora ali estava ele... Celular na mão, nervoso... Deveria mandar a mensagem? Melhor não. As coisas haviam mudado. Por mais bacana que fosse parecer, simplesmente mandar aquela mensagem e esperar o resultado, ele achou melhor não fazer isso... Poderia mandar algum texto mais elaborado que treze letras... Podia começar com um "oi, tudo bem?", ou "Queria te ver", ou "queria falar contigo"... "Queria", não. "Quero"... Melhor né? "Quero" é presente... "Queria" é pretérito. Pior ainda, é pretérito imperfeito. O pretérito dela e dele já era imperfeito que chegasse... "Quisera" era mais que perfeito, mas aí não se aplicava... Mais que perfeita era ela... Mais que perfeito, o "quisera", se aplicava ao futuro que ele quisera ao lado dela. Isso sim... Isso sim, era mais que perfeito. Mas aí não era pretérito. Não era pretérito porque essa vontade não tinha passado. Era prólogo. Era futuro. Não existe futuro mais que perfeito... Foda-se.
Eles inventariam um.
Eram bons nisso. Ela era melhor, claro, mas acabava contaminando ele com essa qualidade e ele ficava bom nas coisas, também.
Estava terminando de colocar os cadarços na chuteira amarela. Celular do lado.
"Quero te ver, falar contigo... Pode ser?", se a resposta fosse positiva escreveria: "Tô aqui embaixo"... Mas e se ela não estivesse em casa? E se estivesse na casa de uma amiga, ou de um amigo? Ela responderia "não tô em casa, pode ser depois?", e aí? O que ele diria?
"Sem problema. Me avisa quando tu chegar. Eu não vou à parte alguma.".
Poderia ser assim? Poderia ser fácil assim?
Passou um dia... Passaram dois. Estava matutando essa ideia. Estava ansioso, nervoso, excitado, tímido... Poderia ser tão fácil?
Voltar a ser feliz? Voltar a estar vivo. A ser metade de algo especial?
Sentado na sala de casa, tablet no colo, começou a procurar horários e salas de filmes em Porto Alegre com um em mente. Um em especial. E totalmente ao acaso, acabou encontrando outra coisa. Acabou encontrando uma ideia.
Uma ideia dela, a respeito dele. Deles.
Se em algum momento, ele fora uma presença positiva na vida dela. Se em algum ponto, ele fora sinônimo de conforto e acalento, se ele já fora um porto seguro, pra ela, já não era mais.
Ele nem sequer era alguém a quem ela recorreria em um momento de necessidade.
Em alguma curva do caminho tortuoso dos dois, ele tanto fez que conseguiu sumir da vida dela.
Ela disse "Ele me perdeu".
E estava errada. Está errada.
Está errada porque, como já disse Gandalf, o cinzento, nós sempre podemos voltar a encontrar as coisas que perdemos, mas não aquelas que abandonamos.
E em algum ponto, em meio à sua tristeza, mágoa e rancor excessivo, ele conseguiu abandoná-la... Inadvertidamente, sim, mas aceitando o risco ao tomar todas as decisões erradas.
Ao fazer isso, ao notar do que fora capaz de fazer com alguém que lhe era tão caro. Com alguém que lhe era tão especial, que amava tanto, ele percebeu o quanto era incompleto. O quanto estava quebrado.
E viu que não...
Não era tão fácil. E que se condenara a ter, como única coisa perfeita em sua vida, a conjugação do pretérito, e tudo o que quis... Mas não fez.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Resenha Filme: Superman (1978)

Hoje acontece, nos Estados Unidos, o lançamento de O Homem de Aço, filme que vai rebootar a origem do Superman nas telonas após um hiato de 7 anos do personagem longe dos cinemas.
Num pique de fanboy, eu, que cresci com toalhas amarradas no pescoço, assistindo aos filmes e desenhos animados, lendo os quadrinhos e brincando com os bonecos, pretendo fazer, no decorrer do mês que separa o lançamento norte-americano do filme do lançamento brasileiro, várias postagens em homenagem ao pai de todos os super-heróis.
Vamos começar, então, com o marco que fez muita gente, incluindo esse nerd que vos escreve, se apaixonar pelo personagem.


Em novembro de 1974, Ilya Salkind, seu pai Alexander Salkind e seu parceiro Pierre Spengler conseguiram, após uma complicada negociação, adquirir os direitos de produção para um filme com o mais icônico super-herói dos quadrinhos: O Superman.
O projeto, concebido por Salkind em 1973, viraria realidade após mais de um ano de negociações e preparações que contava até com a aprovação de uma pré-lista de nomes para o papel do herói (uma lista surreal que incluía nomes como Al Pacino, Dustin Hoffman, James Caan, Steve McQueen, Clint Eastwood e até o boxeador Muhammad Ali), e aprovação expressa de diálogos inteiros do personagem título pela editora DC Comics.
Porém, conseguir os direitos de filmagem era apenas o primeiro passo para levar o Superman além das páginas dos quadrinhos. O passo seguinte era conseguir uma história.
O roteirista originalmente contratado para escrever o filme, Alexander Bester, não era "famoso o bastante", segundo os produtores, que o substituíram contratando Mario Puzzo para a função, enquanto isso, uma lista de diretores tomava forma com gente do calibre de Steven Spielberg, George Lucas, Francis Ford Copolla, Willian Friedkin, Peter Yates e Sam Peckinpah (que saiu da disputa após sacar uma arma durante a reunião com os produtores).
Spielberg, preferido de Ilya, foi escanteado pois seu pai, Alexander, preferiu esperar pra ver como Tubarão se sairia nas bilheterias antes de oficializar o contrato.
O sucesso absurdo de Tubarão, fez Spielberg abrir mão de Superman para fazer Contatos Imediatos de 3° Grau, e quem acabou contratado para a direção foi Guy Hamilton, diretor de quatro filmes de 007 estrelados por Roger Moore.
Enquanto isso, Puzzo entregava um roteiro de 550 páginas para Superman e Superman II e Dustin Hoffman (inicialmente cotado para ser Superman) negava o papel de Lex Luthor.
A seguir, no início de 1975, Marlon Brando assinava um monstruoso contrato que, entre salário e porcentagem de bilheteria, somava 19 milhões de dólares para viver Jor-El, pouco depois Gene Hackman acertou para viver Luthor, enquanto os Salkind chegavam à conclusão de que o roteiro de Puzzo era muito bom e muito longo, e contratavam Robert Benton e David Newman pra encurtar as coisas.
Em 1976 o roteiro era finalmente apresentado, com 400 páginas para os dois filmes e cheio de gracinhas que incluíam até uma aparição de Kojak.
A pré-produção começou em Roma, com sets sendo construídos e testes de voo comendo grana da produção, e Marlon Brando descobrindo que não poderia entrar no país, pois tinha contra si uma ordem de prisão sob acusação de obscenidade sexual da época de O Último Tango em Paris, o que forçou a produção a se mudar para a Inglaterra, nos famosos Pinewood Studios e aí, novo problema, Guy Hamilton, diretor do filme não podia entrar na Inglaterra devido a problemas fiscais no país.
Os produtores, então, quase fecharam com Mark Robinson, de Terremoto, para comandar o filme, mas após assistirem A Profecia, tomaram sua decisão:
Era 1977 quando Richard Donner, diretor de A Profecia, foi contratado, pela bagatela de um milhão de dólares, pra ser o diretor do filme.
Donner entrou na produção chutando a porta. Um ano de trabalho dos produtores, diretores e até mesmo dos roteiristas anteriores foi pelo ralo, pois nada agradou a Donner, nem mesmo o imenso script de Puzzo, que segundo Donner, era muito bem escrito, mas ridiculamente longo, e cheio de um tom camp que não ia ao encontro do que ele queria para o personagem.
Tom Mankiewicz foi contratado para reescrever o filme, embora jamais tenha sido creditado como roteirista (seu nome constou na produção como consultor criativo).
Donner teria agora que escolher o ator que interpretaria o Superman (Além da lista inicial, o papel já havia sido oferecido a Robert Redford, que julgou-se famoso demais pro papel, Burt Reynolds, que também negou, Paul Newman, que negou os papéis de Superman, Luthor e Jor-El, e Sylvester Stallone que depois de Rocky estava louco pelo papel mas jamais foi procurado), e decidiu-se escolher um desconhecido para vestir o colante azul-piscina.
O diretor de elenco Lynn Stalmaster chegou a sugerir o desconhecido Christopher Reeve para o papel, mas Donner e os Salkind o acharam muito jovem e magrelo para o papel, que teve mais de 200 testes.
Gente como Neil Diamond, Arnold Schwarzenegger, Kris Kristofferson, Charles Bronson, Christopher Walken, Jon Voight e Nick Nolte (procurado por Donner e que afirmou que faria o filme se pudesse interpretar um Superman esquizofrênico) foram considerados e Patrick Wayne, filho de John Wayne, chegou a ser escalado, mas se afastou da produção quando seu pai adoeceu, até mesmo o dentista da esposa de Salkind foi testado porque ela o achava a cara do personagem dos quadrinhos.
Apenas em fevereiro de 77 Stalmaster conseguiu que Reeve fosse testado para o papel, e o ator assombrou Donner e os produtores com sua performance, sendo contratado por míseros 250 mil dólares.
Ao invés de usar um traje musculoso sob o colante, conforme foi sugerido, Reeve se aplicou em um severo regime de exercícios físicos estabelecido por David Prowse (isso mesmo, o Darth Vader), que chegou pedir o papel de Superman mas foi descartado por ser inglês.
O treinamento de "Darth" Prowse deu resultado, e Reeve foi de 85 a 106 quilos durante a pré-produção.
Entre março e maio de 77, mais uma batelada de testes, dessa vez para escolher a Lois Lane da vez.
Mais de cem atrizes foram testadas, incluindo Stockard Channing, de Grease - Nos Tempos da Brilhantina, as lindonas Anne Archer e Deborah Raffin, Lesley Ann Warren, e Margot Kidder, sugestão de Stallmaster, que acabou ficando com o papel que disputou até os acréscimos com Channing.
As filmagens em si foram tão complicadas quanto a pré-produção e a escolha de equipe e elenco.
Donner não se bicava com Spengler e os Salkind, que o atormentavam com cobranças frequentes sobre a agenda da produção e seu orçamento. A relação do diretor e dos produtores azedou tanto que Richard Lester, parceiro antigo dos Salkind foi contratado como co-produtor para fazer o meio-campo entre as partes que já não se falavam mais.
Com 80 % das filmagens de Superman II concluídas(Os dois filmes estavam sendo rodados simultaneamente), os produtores resolveram pedir que Donner se concentrasse em terminar logo o primeiro filme para que ele fosse lançado de uma vez.
Por mais estranho que pudesse ser pra um filme que sofreu tanto na pré-produção com idas e vindas, contratações e demissões e um set onde aparentemente todo mundo se odiava, Superman chegou aos cinemas em dezembro de 1978, e incrivelmente, tornou-se um sucesso estrondoso.
O longa de Richard Donner mostrava a destruição de Krypton, a chegada de Kal-El à Terra, sua adoção pelos Kent, a descoberta de sua herança Kryptoniana, a ida à Metrópolis e sua primeira altercação com a maior mente criminosa de nosso tempo: Lex Luthor.
O elenco era espetacular, funcionando à perfeição sob a batuta firme de Donner, que se abraçou à bandeira da verossimilhança pra escapar de armadilhas como a tele-série de Batman com Adam West.
Christopher Reeve emprestou uma nobreza insuspeita ao personagem, conseguindo envergar um uniforme que, em qualquer outro ator, seria ridículo, e torná-lo icônico.
Gene Hackman era um Luthor galhofeiro e megalomaníaco que sabia ser sinistro quando precisava, e Margot Kidder tinha atitude o suficiente pra fazer a gente esquecer que ela não era uma mocinha das mais bonitas.
Os efeitos especiais (hoje risíveis, mas espantosos para a época), a música de John Williams, que ainda hoje é sinônimo de Superman, se uniam para fazer fedelhos (como eu fui) perder o fôlego cada vez que os acordes da fanfarra que anunciava os feitos hercúleos do herói se faziam ouvir.
E a história, carregada de inocência, pureza e acima de tudo qualidade, fez surgir, de uma produção maluca e cheia de problemas, uma obra prima do cinema muito além dos super-heróis.
Um filme com as melhores qualidades de uma boa aventura, romance, vilões malvados, grandes efeitos visuais, tudo isso unido através da esperteza de Donner, que se isolou dos produtores do filme para fazer o longa que queria, e que foi o que funcionou.
Superman influenciou todas as melhores adaptações de quadrinhos que vieram depois (Os X-Men de Bryan Singer, os Homens-Aranha de Sam Raimi e até mesmo os Batmen de Christopher Nolan), tem lugar cativo no coração dos fãs de quadrinhos, e na lista de melhores adaptações de todos os tempos, além de deixar um par de sapatos muito grande pra ser preenchido por todas as adaptações do pai dos Super-Heróis que vieram e ainda virão...

"Eles poderiam ser um grande povo, Kal-El. Desejam ser. Só lhes falta a luz para mostrar o caminho. Por essa razão acima de tudo... Por sua capacidade para o bem. Eu lhes envio você. Meu único filho."

Top-10 Casa do Capita - Games de Super-heróis

Que os quadrinhos se tornaram, de certa forma, a salvação dos grandes estúdios de cinema nos últimos quinze anos, todo mundo já sabia. O que nem todo mundo sabe, é que antes de a celuloide investir pesado pra tirar seres super-poderosos das páginas dos gibis e transportá-los para as telonas, os pixels já faziam isso.
Essa lista vem, então, fazer justiça aos games que, muito antes de o Tobey Maguire vestir o colante do Homem-Aranha, ou do Robert Downey Jr. aparar a barba pra entrar na armadura do Homem-de-Ferro já tinham ajudado os heróis dos gibis a extrapolar a barreira do papel e da tinta em mais um infame top-10 Casa do Capita, desta vez dedicado a games de super-heróis.
Observações importantes:
Pra essa lista valem apenas games que sejam adaptações de quadrinhos, em especial de quadrinhos de super-heróis, logo ficam de fora games como os da série InFamous, por exemplo.
Considerando que alguns personagens tiveram mais sorte que outros, não restringi a lista a um único game de cada personagem, me interessei apenas pela qualidade e fator de diversão dos games.
Sem mais delongas, à lista:

10 - X-Men Origins - Wolverine (Raven Software, Activision, 2009)


Estranho caso de filme porcaria até a raiz da alma que gera um game bacana. Se o filme solo do Wolverine era um samba do mutante doido que chegava a dar náusea, o game acertou a mão ao misturar um jogo simples de plataforma 3-D com dois elementos chave da mitologia do mutante canadense: Seus poderes, e violência desenfreada.
É até meio sádico deixar Logan ser esfaqueado, queimado e baleado apenas para poder ver o fator de cura refazendo seu corpo retalhado antes de sair decepando membros e picotando torsos em um dos famigerados acessos de ira de James Howlett.
Isso, claro, não seguraria o game sozinho, mas o bom trabalho de dublagem encabeçado por Hugh Jackman, a diversão de liberar a fúria do mutante mais popular dos gibis, e a história, mais entranhada na raiz do quadrinho do que no filme, seguram o roldão.

9 - Batman Returns (Konami, 1993)


Eu contava moedinhas pra ir à locadora jogar Batman Returns no Super Nes junto com meu amigo André quando tínhamos uns dez, onze anos de idade.
Batman Returns era daqueles jogos de side scrolling tradicionais, em que tu vai andando e esmurrando os vilões que aparecem no caminho ao melhor estilo Final Fight ou Double Dragon, o diferencial além do game ser baseado no segundo filme do morcegão todo de preto interpretado por Michael Keaton, era a dificuldade.
Batman Returns era extremamente difícil, com poucas vidas pra gastar e inimigos apelativos que matavam com dois ou três golpes.
Me lembro da alegria desesperada de conseguir um password que dava dez vidas no começo do game. Única forma de quem não tinha videogame em casa, como eu, conseguir terminar aquela bagaça.

8 - Teenage Mutant Ninja Turtles IV - Turtles in Time (Konami, 1991)


Outro game de Super Nes, esse game das Tartarugas Ninja, quarto de uma série de jogos baseado no desenho animado dos quelônios marciais que era hit absoluto das manhãs da Xuxa, era bem melhor na versão arcade.
Outro game simples, estilo ande e espanque seus inimigos, Turtles in Time fazia Leonardo, Donatello, Rafael e Michelangelo vagarem por épocas distintas enfrentando os ninjas do Clã do Pé procurando pela repórter April O'Neil, sequestrada pelo Destruidor.
Jogar no fliperama com mais três amigos, cada um controlando uma tartaruga era a experiência mais próxima de ser um réptil mutante na vida real

7 - Spider-Man 2 (Treyarch, Ativision, 2004)


Estava entre esse game e o ótimo Spider-Man, de 2000, lançado pra Playstation e Nintendo 64, a inovação, porém, pendeu a balança pro lado desse Spider-Man 2.
Spider-Man 2 era um game que adaptava livremente o filme de mesmo título em 2004. Como a versão anterior, Spider-Man, de 2002, o game contava com dublagens dos atores envolvidos na produção, Tobey Maguire, Kirsten Dunst, e Alfred Molina, o vilão Doutor Octopus.
O diferencial de Spider-Man 2 com relação ao sucessor era que, pela primeira vez, o herói de cabeça de teia poderia se movimentar por um mundo livre, ao melhor estilo sandbox, sem ficar preso aos mapas restritivos de games anteriores.
Agora, se existe um herói feito para games de mundo livre, esse herói é o Homem-Aranha. E o game mostrou o quanto isso era verdadeiro ao dar para o escalador de paredes e cada um dos jogadores, um playground do tamanho de Nova York onde brincar.

6 - X-Men x Street Fighter (Capcom, 1996)


Não existia nenhum jogo de luta de super-heróis digno de nota até a Capcom investir pesado e misturar os mutantes mais famosos dos gibis com os lutadores de rua da franquia de luta mais cultuada dos games.
O resultado era filas homéricas em fliperamas por toda a parte e as inevitáveis rodinhas de discussão onde os gamers trocavam dicas e experiências sobre como vencer o ataque maluco do Wolverine. Além de tudo isso, deu origem aos games da série Marvel Vs Capcom, que ainda hoje geram ótimos frutos para os gamer que são amantes de uma boa pancadaria.
Se isso não é ser bem sucedido, então não sei mais o que é...

5 - The Incredible Hulk - Ultimate Destruction (Radical Entertainement, Sierra Entertainement, 2005)


The Incredible Hulk, que eu fritei de tanto jogar no Game Cube era um ótimo jogo. A mistura de mundo aberto ao estilo GTA com os poderes destrutivos do Golias Esmeralda garantiam horas de jogo em que qualquer fã de quadrinhos não se cansava de esmurrar, saltar, demolir e estraçalhar policiais, carros, tanques, helicópteros, robôs gigantes, e até edifícios inteiros.
Um sistema de jogo sem frescuras, bons gráficos, música e som honestos e uma história simples e eficiente ao evocar o cânone dos gibis, garantiam a qualidade de um game tão maneiro, que anos depois foi descaradamente copiado pela Sega ao desenvolver o game do filme O Incrível Hulk.

4 - X-Men: Legends (Raven Software, Activision, 2004)


"Sozinhos, vocês são poderosos, juntos, são lendas.". Essa era a frase de capa de X-Men Legends, o jogo que deu origem ao estilo RPG de ação em plataforma 3-D como os Marvel Ultimate Alliance da vida.
X-Men Legends ainda deixava cada um de nós ser o Professor Xavier e escolher a formação ideal de X-men para cada uma das missões, isso aliado a uma história com alto nível de imersão para qualquer leitor de quadrinhos e um respeito desgraçado para com o cânone mutante.
Quem nunca suou a camisa pra completar uma missão que ficou mais difícil do que poderia porque tu preferiu escolher teus mutantes favoritos ao invés dos mais aptos à tarefa que atire a primeira rajada ótica.

3 - Ultimate Spider-Man (Treyarch, Activision, 2005)


Se Spider-Man 2 era um ótimo jogo de mundo aberto estrelado por um personagem que nasceu pro sandbox, Ultimate Spider-Man ampliou o escopo da coisa de uma maneira fenomenal.
O game era baseado nos bem sucedidos quadrinhos de Michael Bendis e Mark Bagley, e tinha uma história escrita pelo roteirista e gráficos que emulavam à uma irritante perfeição, a arte do desenhista alemão.
Agora, muita gente acha que o problema de Bendis nos roteiros é a exposição excessiva e a ausência de ação. No videogame, a forma de Bendis contar histórias encontrou na urgência da pancadaria do game de ação o equilíbrio perfeito.
O jogo era excelente, e mesmo quem não era fã da versão ultimate do herói aracnídeo se divertia na hora de enfrentar vilões da forma como o Homem-Aranha faz nos quadrinhos, sem parar de se mexer, e atacando de maneira violenta depois de dar aquela volta no inimigo.
Juntava-se a isso um trabalho de dublagem acima da média, a possibilidade de jogar como Venom (adorado por legiões de fãs), além das participações especiais de personagens como Wolverine, Silver Sable e Nick Fury, e tá aí, o melhor jogo já estrelado pelo espetacular Homem-Aranha.


2 - Batman - Arkham Asylum (Rocksteady Studios, Warner Interactive, 2009)


Arkham Asylum foi o game que finalmente mostrou todas as qualidades do Batman fora das páginas dos quadrinhos.
Batman Arkham Asylum mostrava como funcionou o elaborado estratagema do Coringa para prender o Batman dentro do asilo Arkham durante uma rebelião regada a Veneno, e convidava o player a vestir o capuz do morcego e impedir o príncipe palhaço do crime de vencer o duelo.
Além de explorar todas as facetas do personagem, sua veia de detetive, de predador noturno, de lutador e de cientista, Arkham Asylum ainda tinha uma história digna dos melhores quadrinhos do morcegão, toneladas de referências a personagens dos gibis, uma atmosfera opressiva de survival horror, duelos que se tornam clássicos como a luta psicológica com o Espantalho, ou o jogo de gato e rato com o Crocodilo, de fazer o gamer suar frio, gráficos de primeiríssima linha, e a clássica dobradinha Kevin Conroy/Mark Hammil na dublagem do Batman e do Coringa.
Um sistema de jogo eficaz e simples o suficiente pra fazer qualquer piá tetudo de apartamento se sentir o próprio cavaleiro das trevas, e um único defeito:
Ser curto.

1 - Batman - Arkham City (Rocksteady Studios, Warner Interactive, 2011)


Arkham Asylum era um game quase perfeito, como eu disse ali em cima. Seu único defeito era a curta duração. Era jogo pra se acabar em uma semana e isso se tu não pudesse passar horas na frente do videogame.
Esse defeito foi remediado na sequência Batman - Arkham City.
Na ótima trama do jogo, uma porção de bairros antigos de Gotham foi murada, transformando-se em Arkham City. Uma prisão a céu aberto onde a bandidagem rasteira de Gotham cuidaria de seus próprios assuntos sem jamais se misturar com a boa gente da cidade.
Obviamente esse tipo de abordagem aos problemas de Gotham não agradava Bruce Wayne/Batman, que, ao erguer sua voz contra o projeto, era capturado em sua identidade civil e encarcerado pelo diretor de Arkham City, Hugo Strange, conhecedor da identidade secreta de Batman!
Daí pra frente começava uma longa noite de luta e investigação do Homem-Morcego para desvendar os mistérios por trás de Arkham City em uma intrincada trama cheia de ramificações que obrigava o player a se dividir em um punhado de objetivos diferentes e missões secundárias estreladas por inúmeros personagens dos quadrinhos e ainda tinha uma outra linha narrativa paralela estrelada pela Mulher-Gato.
Em uma palavra: Perfeito!