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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Rapidinhas do Capita


Ainda não havia chegado à conclusão se eram os outros que se preocupavam demais, ou se era ele que se preocupava de menos.
Pra ser bem franco, acreditava que era a segunda opção. Se preocupar de menos, se importar de menos, eram formas de se manter são. Lidar com os problemas a médio e longo prazo, jamais perder o sono, nem se descabelar. Eram escolhas conscientes. Absorver as pequenas tragédias e filtrá-las, não para extrair algo de bom, mas apenas para torná-las mais diluídas entre os demais fatos da vida, e matar no peito as grandes tragédias, e tocar pra frente.
Sempre funcionou assim.
Se organizar na medida do possível. Se preparar para o pior. Não agir de maneira impensada... Isso e mais a ataraxia cultivada com dedicação garantiam o sucesso da escolha pensada de não se importar demais.
O problema é que as pessoas que lhe eram caras nem sempre conseguiam viver dessa forma.Mesmo aquelas a quem ele aconselhava. E depois de o leite estar derramado de nada adianta perguntar "Eu não te avisei?", "Quando tu me disse que ia fazer A eu não te perguntei se tu não imaginava que podia acontecer B e tu ficar numa situação ruim, depois?".
Não... As pessoas normais, que se importam demais e que se preocupam demais, mas se preparam de menos não querem, e sejamos francos, nem precisam, ouvir reprimendas e "eu não disse?" depois de se meterem em apuros. O problema é que não querem ouvir nada. Nem mesmo um "Não se preocupe tanto. É só um percalço, vai se resolver.". É o problema das pessoas. A tragédia pessoal requer choro, vela e todo o drama que uma tragédia pede. É natural.
E para aqueles que não se preocupam nem se importam tanto, resta fazer o de sempre: Esperar que a solução, se houver, se apresente. E se resignar se não houver remédio.

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E olha só que maneiro/esquisito.
James Spader, que recentemente esteve no Lincoln de Steven Spielberg será o vilão Ultron em The Avengers - Age of Ultron.
O ator que se reveza entre trabalhos em filmes de Hollywood e séries de TV como Boston Legal e The Office foi contratado para interpretar o vilão.
Ainda não há informações se o trabalho contará com captura de performance (como Vin Diesel disse que interpretará Groot em Guardiões da Galáxia), se será apenas um trabalho de dublagem.

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Andei decidido a não ficar sofrendo de véspera com relação a nada, especialmente com relação a cinema.
Não me desesperei com o fato de Ben Affleck ser escolhido pra ser o Batman, por exemplo. Nem com o fato de que se especula que Ewan McGregor volte à franquia Star Wars como o fantasma da Força de Obi-Wan Kenobi (Até porque Alec Guiness já morreu).
Infelizmente as especulações do dia foram demais pro meu desapego.
Os rumores dão a notícia de que após Ryan Gosling recusar o papel do filho de Luke Skywalker no vindouro episódio VII, o ator que realizou testes para o personagem foi Alex Pettyfer.
Sim.
Alex Pettyfer de Magic Mike, A Fera e Alex Ryder Contra o Tempo...
Tudo bem que talento dramático jamais foi condição sine qua non pra estrelar um filme de Star Wars, mas quando Ryan Gosling, reconhecido por ser um intérprete com algum estofo e que sabe escolher seus projetos, rejeita um papel e ele é oferecido a um "ator" com os dotes dramáticos de uma alcachofra, talvez haja motivos para começar a temer a retomada da franquia.
Ah, a gatinha Rachel Hurd-Wood, do ótimo Peter Pan de 2003 e Perfume: A História de um Assassino também teria sido testada, ela estaria tentando o papel da filha de Han Solo e Leia Organa.

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Vi a Playboy da Nanda Costa, que causou uma estranha celeuma nas redes sociais, arrancando gritinhos histéricos de nojinho de muito homem(?) por aí.
Minha opinião pessoal?
Quem reclama da depilação íntima da Nanda Costa é muito guri de apartamento que só vê mulher pelada no X Vídeos.
Mulheres têm pelos, quem não tem pelo é criancinha.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Platônico


O que a Josi tinha de linda, tinha de antipática. O Edson, que não era dado a rompantes de paixonite por qualquer mulher linda que lhe cruzasse o caminho, acabou fisgado por ela.
Ao ver a Josi, linda de morrer, com seus cabelos pretos, pele morena, olhos castanho-esverdeados, lábios carnudos e nariz cheio de personalidade atrás do balcão da livraria, imediatamente se apaixonou por ela.
Não se pôs á observar-lhe os passos, não correu para a internet para descobrir as preferências dela nem nada do tipo.
Não era assim que funcionava o Edson. Nunca fora homem de desenvolver paixonites relâmpago.
O que ele desenvolveu não era nenhuma maluquice de psicopata sexual nem nada do tipo. Era apenas uma pura manifestação de carinho e talvez de carência. Ele se imaginava namorando a moça bonita em questão. Andando de mãos dadas com ela. Dividindo sorvete de casquinha na mesma colher... Esse tipo de amenidades.
Tímido e inexperiente que era, Edson não se pôs a cortejar a moça por quem se apaixonara. Tampouco a pensar obscenidades com ela... Não.
Ele era um homem modesto, de aspirações modestas. Ele simplesmente gostava de vê-la de vez em quando. Partilhar, ainda que brevemente, superficialmente, de sua presença.
Por isso começou a frequentar a livraria em que a Josi trabalhava. Era o máximo que poderia almejar de uma moça como aquela.
Olhando em perspectiva, todas as (poucas) moças por quem o Edson se apaixonara em sua vida, eram bonitas. Edson podia ser feio, bagunçado e desprovido de atrativos físicos, mas por Deus, ele tinha bom-gosto. E a Josiane era assim: Bonita.
Linda, até.
A questão é que, como toda a moça bonita, e consciente de sua beleza, a Josi era meio antipática.
A Josi dava "oi" na livraria como se estivesse fazendo um favor. Atendia com, na melhor das hipóteses, uma cordialidade distante. O Edson ás vezes se perguntava como é que a Josiane mantinha o emprego sendo tão fria com os fregueses. Mas deu-se conta que ele próprio era distante e frio com a maioria das pessoas. E, sendo uma pessoa com um mínimo de coerência, não cobraria dela o que era, ele próprio, incapaz de oferecer.
A questão é que a Josi era distante demais. Fria demais. Antipática demais. E, com o tempo, o Edson foi superando a paixonite.
Continuou frequentando a livraria mais por conveniência. Ficava perto de seu trabalho, bem no caminho que ele comumente fazia para voltar pra casa.
Deixou, porém, de se esforçar pra ser atendido pela Josiane. Fazia suas compras e tirava suas dúvidas com qualquer atendente que estivesse livre naquele momento.
Ainda achava Josi bonita, mas mesmo isso empalidecera.
Certa feita, porém, voltando pra casa do trabalho, foi surpreendido por uma torrencial chuva que o ensopou até os ossos.
Enquanto andava pela calçada, sentindo a água molhar-lhe até as roupas de baixo, olhando pra frente por detrás dos óculos embaçados, foi surpreendido por um "Oi" feminino bastante alto vindo de sob o toldo de uma farmácia próxima. Ao se virar em direção à pessoa que o cumprimentava, deparou-se com Josi.
Ela própria molhada, embora não tanto quanto ele, sorridente e viva. Muito diferente de quando estava na livraria.
Ele se virou, e incrédulo respondeu ao cumprimento com um sorriso e um aceno.
Ela acenou de volta e disse:
-Não vai se resfriar, hein?
Ele respondeu um inseguro "Nem tu.". E ela lhe deu uma piscadela.
Bastou.
A paixonite de Edson voltou renovada.
Não sabia porque a Josi era tão fria na livraria e tão calorosa fora dela. Nem tentou, de nenhuma forma, estreitar a relação. Em parte por conta da timidez. Em parte porque chegara à conclusão de que os amores platônicos verdadeiramente diligentes são os que reservam a menor cota de desapontamentos, e as mais doces recompensas.

Celeste


Quando o telefone dele tocou, e ele viu o nome do Diego no display, ele sabia que boa coisa não deveria ser.
Não que o Diego fosse má pessoa. Não era, longe disso. Diego era um cara legal, que exceto pelo apreço por drogas ilícitas e por chamar todo mundo de "carinha", era um sujeito daqueles que qualquer grupo deveria ter.
Era esforçado, diligente, boa praça, alegre... Um amigão. O problema é que, ás vezes, o Diego era proativo demais. E nessas ocasiões acabava arrumando sarna pra ele e para os outros coçarem, especialmente nos seus momentos de empreendedorismo exacerbado. Não era raro ele ter ideias geniais que acabavam com prejuízo de tempo, esforço e dinheiro. Por sorte, os prejuízos eram mínimos, já que as ideias brilhantes de Diego eram, em sua maioria, do tipo mirabolante, que tinham baixo custo e promessas de lucro abissal que, infelizmente, jamais se cumpriam.
De qualquer forma, quando o telefone tocou, e o nome do Diego surgiu no display do aparelho celular, ele chegou a pensar em não atender. Mas o Diego, como já foi dito, era um bom sujeito, e não merecia ficar pendurado. Então, ele respirou fundo, ergueu os olhos, e atendeu:
-Fala, Dieguito.
-E aí, amigão? Tudo na paz? - Perguntou, Diego, efusivo do outro lado da linha.
-Tudo joia. E tu? Na buena?
-Joinha, tudo bem, tudo muito bem...
-Legal...
-Mas então... Tu deve estar pensando porque eu te liguei, né?
-Me passou pela cabeça...
-Pois então... Lembra da Megan?
Ele chegou a preparar a língua pra perguntar "A Fox?", mas achou melhor não. Não gostava de falar ao telefone, e não queria alongar a conversa.
-Não... Não lembro. Que Megan?
-A minha amiga australiana... A que veio pra cá com mais uma ano passado e eu te falei que ia te chamar pra gente sair os quatro porque elas não falavam português e tu era quem eu conhecia que falava melhor inglês...
Ele lembrava. Confirmou:
-Ah... Lembro sim...
O tom de voz deve ter saído tão murcho quanto lhe foi a lembrança. A Megan era uma moça quase com altura igual à sua, cabelo loiro branco, de cintura/quadril quadradões e aquele tom de pele de quem passa a vida inteira embaixo de sol, meio um couro avermelhado... Obviamente a Megan não era o par de Diego. O par de Diego era Jenny, a amiga dela, com altura razoável, cabelos castanho-escuros e quadris arredondados muito mais convidativos. Desnecessário dizer que ele não teria aceitado o convite se ele tivesse, de fato, se confirmado.
-Bah, pela tua voz tu não curtiu, mesmo, a Megan... - declarou Diego do outro lado da linha.
-É... Ela não era exatamente meu tipo...
-Mas ela é loucona, cara! Depois que fuma um baseado e bebe duas cervejas aquela mina faz de tudo, bungee jump, sexo anal, rouba no mercado, faz ménage e acho que até gang bang...
-Ah, e como é que tu não me avisa antes? São exatamente as qualidades que eu procuro na futura mãe dos meus filhos...
Diego riu do outro lado da linha. Continuou:
-Tá, mas não é da Megan que eu quero falar. É de outra amiga minha. A Celeste.
-Hã. O que tem a Celeste?
-Seguinte, a Celeste é francesa, formada em História, veio morar aqui e achei que tu e ela podiam se conhecer...
-Cara, de onde é que tu tira esse monte de mulher estrangeira? É do facebook, isso?
-Não, a Celeste é amiga da minha guria. Elas se conheceram na Nova Zelândia. A Celeste é um amor, cara, e eu acho que ela e tu têm tudo a ver...
-Bah, Dieguito... Eu te agradeço a lembrança, mas eu não tô procurando namorada, nem uma foda avulsa com uma mina porra-louca que topa tudo depois de fumar maconha e beber um pouco... - Ele respondeu, franco.
Do outro lado da linha, o Diego fez um ruído, meio suspiro, meio rosnado, e continuou:
-Cara, conhece a mina. Não é pra ser tua namorada nem pra ser uma noite de sexo, é só uma guria com quem eu acho que tu vai se identificar. Ela mora aqui sozinha, só conhece a Carol, eu e mais meia dúzia de babacas da UFRGS, podia fazer bom uso de um amigo que nem tu. Um cara inteligente, sensível... Ela mora ali na Washington Luiz, a gente se pecha na frente da casa dela, a Carol, tu e eu, e vamos comer um sushi ali na Fernando Machado. Vocês conversam, se tu gostar dela vocês trocam telefones, ela pega teu face-
-Eu não tenho face...
-Ela pega teu e-mail. Teu telefone, o cartão da loja... Sei lá. Vocês trocam contato e podem virar bons amigos.
-Bah, Diego... Não sei...
-"Não sei", pra ti, é não. Amigão... Deixa eu colocar as coisas assim: Me faz esse favor. Ao menos tenta. Eu não aguento mais, a Celeste tá sempre comigo e a Carol. Se ela não começar a fazer amigos rápido, meu relacionamento vai virar um threesome sem sexo...
Como já foi dito, o Diego era um cara legal. O tipo de sujeito pra quem as pessoas se constrangem de negar um favor porque ele jamais nega nenhum. Maldito Diego.
Dois dias depois, lá estava ele, na esquina da Washington Luiz com a General Portinho, segurando o guarda-chuva com a mão esquerda enquanto com a mão direita, dura pelo frio, mexia no celular, tomado pela certeza de que estava atrasado.
Ligou pro Diego duas vezes na esperança de confirmar o endereço e o horário, mas o celular do amigo só dava caixa postal. Andou olhando atentamente a fachada dos prédios na esperança de que, ver o número que lhe fora dito dois dias antes, avivasse sua memória.
Enquanto andava olhando atento para o nome e o número dos edifícios, percebeu uma moça falando ao telefone sob a marquise diante de um deles. Ela desligou antes que ele chegasse perto o suficiente para ouvir o que ela dizia.
Ele se aproximou olhando o número do prédio, a moça ficou o observando, parecia desconfiada. Quando ele estava perto, olhando em vão o número do edifício, ela perguntou:
-Oi... Você é o amigo do Diego e da Carrol?
Ele assentiu, sem jeito, apenas balançando a cabeça. Ela estendeu a mão:
-Eu sou a Celeste.
Ele sorriu, se apresentou e cumprimentou-a com um aperto de mão. A moça era bonita. Pouco mais baixa que ele. Cabelo castanho aloirado, olhos claros... Verdes ou azuis? Ele não conseguiu identificar. Estava vestida de maneira simples, jeans, botas, um casaco de brim verde-militar, usava um cachecol branco e preto estilo boliviano, e tinha os cabelos presos no alto da cabeça sem grande esmero. A produção descolada dela o fez sentir-se aliviado. Ele estava usando agasalho de moletom e casaco de couro, tênis e jeans. Não se vestira para uma ocasião formal. Ela o olhou, apertando a boca e arregalando os olhos em uma expressão de desconforto:
-A Carrol me ligou. O Diego se sentiu mal e non vai poder vir... Ela se oferreceu prra vir e a gente sair junto, mas achei melhor non...
-É... - Ele concordou, também desconfortável. -Eles moram sozinhos... Vai que dá um negócio nele, ele precisa ir pro hospital e tá sozinho, né?
Ela arregalou mais os olhos. Eram verdes:
-Um negócio? Mas serrá que é ton sérrio?
Ele abanou as mãos diante de si:
-Não, não... Tava brincando, não deve ser nada. Só muita cachaça com mel de Morungava...
Ela sorriu:
-Ah, bon... Que medo...
Ficaram os dois parados em silêncio por breves instantes. Até que ela disse:
-Acho que o jantar fica prra outrra, non?
Ele não disse nada, apenas sorriu e maneou a cabeça. Ela esfregou as mãos e começou a andar em direção ao prédio, de costas:
-Bon, esperro que a gente consiga conversar em outrro dia, ahn? Prrazer de conhecer...
Ele ia virar e ir embora, mas, diabos, a moça deveria estar esperando o jantar. Ia ficar sozinha aquela noite. Já era tarde pra ela ir ao mercado e comprar alguma coisa... Resolveu ser cavalheiro, e dar aquela noite de folga pro traidor inescrupuloso do Diego. Abriu os braços, percebeu que estava gesticulando demais. Exagerando a expressão corporal. Parecia o Rocky Balboa ou o Keanu Reeves, ondulando o corpo e agitando as mãos...
-Olha... Eu... Eu não jantei ainda... A gente podia manter essa parte do plano, e jantar juntos. O que tu acha?
Ela mordeu o lábio inferior um segundo... Olhou pra ele com uma expressão que não deixava bem claro o que ela estava pensando. Podia ser "Esse sujeito é meio grande. Se for um maníaco eu não vou conseguir me defender sozinha", ou também "Ah, passar a noite comendo com um completo desconhecido, numa cidade estranha numa noite gelada e chuvosa...?". Sorriu e deu uma piscadela:
-Vou pegar un parapluie.
Ele ficou ali embaixo, pensando o que seria um parrapluí até ela voltar com uma sombrinha azul com bolinhas brancas. Ele perguntou o que ela queria comer. Ela disse que a "Carrol" e o Diego haviam falado a respeito de sushi, e que ela gostava bastante. Foram até a temakeria que Diego havia mencionado no telefonema. Durante o trajeto, feito a pé, ele fez algumas constatações a respeito de Celeste.
Ela era uma moça bonita. Um tanto magrinha, mas tinha um rosto muito bonito, lindo, mesmo.
Ao contrário do que ele, preconceituosamente imaginara, ela não fedia. Ao menos não à distância em que se encontravam, de uns quarenta e cinco centímetros.
Ela falava português muito bem. Morava no Brasil havia pouco mais de dois anos, e à exceção do charmoso sotaque e de uma ou outra palavra composta, como guarda-chuva, gírias e o fato de não ter decidido se usava "tu" ou "você", dominava o idioma.
Ela era formada em História, e, como ele, adorava antiguidade clássica. Também gostava muito da parte antropológica de História, que ele, francamente odiava. Ela era inteligente, muito. E era uma moça simpática, embora estivesse, obviamente desconfortável com a situação, ainda que não tão desconfortável quanto ele.
O desconforto só aumentou quando chegaram à temakeria.
Ele conhecia o lugar, mas não havia se dado conta de o quanto o ambiente de meia-luz e mesas pequenas e próximas parecia feito pra jantares românticos. Escolheram uma mesa de quatro lugares, e ficaram mais à vontade que estariam em uma micro mesa para casais.
Continuaram conversando, ela falava mais do que ele, e isso era normal. Ele era de poucas palavras, mesmo. Além do mais, ouvi-la falando com seu sotaque gostoso de desenho animado era aprazível.
De qualquer forma, ficou bastante claro ao longo do jantar, que ela e ele tinham quase nada em comum, exceto a História e o Dieguito.
Celeste era dessas cidadãs do Mundo. Viajava com frequência, aos vinte e oito anos morara na na Nova Zelândia e no Canadá, raramente ficando mais de um ano em cada país. Viajara à Índia, ao Peru, ao Reino Unido, República Tcheca, Bulgária, Argentina e praticamente toda a Europa ocidental. Não se via sossegando em parte alguma, ao menos não ainda. Quando estivesse com todos os diplomas que queria ter, pensava em voltar à França, mas não para morar em Lille, onde nascera, mas sim em Paris, pra ela, a verdadeira capital da Europa.
Ele preferia não falar muito de si, mas acabou contando o básico. Nerd declarado, cinéfilo inveterado, leitor ávido. Conhecera o Diego pois haviam trabalhado juntos. Nunca saíra do Brasil, achava Porto Alegre a capital do Mundo, e os únicos lugares que queria, mesmo, conhecer eram Nova York, San Diego em época de Comic-Con e o interior da Irlanda, de resto, passava bem sem.
As diferenças óbvias, porém, acabaram na música. Ela era fã dos Beatles. Como ele, achava que eles tinha criado o rock como o conhecíamos, e quando ele disse que Helter Skelter era o pai dos heavy metal, ela se iluminou em concordância de uma forma tão surpresa que ele foi obrigado a confessar que não inventara aquilo, mas que lera em algum lugar.
Daí a conversa seguiu para o heavy metal em geral, o desprezo de ambos pelo Slipknot, o Christopher Lee que é um autêntico metaleiro, mesmo com mais de 90 anos de idade, e filmes de horror da Hammer estrelados por Lee, como Drácula, e O Homem de Palha, culminando no absurdo remake dese último, estrelado por Nicolas Cage, onde o astro espanca mulheres de tudo quanto é jeito.
Riram bastante quando a conversa seguiu por esse curso. Quando pararam, já haviam comido e terminado as suas bebidas. Ele sorriu pra ela de seu lado da mesa. Em silêncio imaginou como era estranho estar sentado em um restaurante japonês com uma francesa autêntica.
Ela também sorriu. Disse o nome dele, com os erres saindo dobrados.
-Que foi? - Ele perguntou.
-Nada. - Ela respondeu. -Só gostei de dizer teu nome. É sonorro.
Ele riu.
-Não tanto quanto Celeste Ailly... Esse é um belo nome. Lembra paisagens outonais...
Ela ergueu as sobrancelhas fazendo uma falsa expressão de lisonja exagerada. Ele riu.
-Desculpe a pieguice. Não posso nem dizer que foi a bebida porque não bebo.
Ela, ainda sorrindo, pousou a mão sobre a dele por cima da mesa.
-Gostei de te conhecer.
Ele sentiu um gosto metálico na boca. Ficou sem expressão. Uma leveza súbita no estômago. Conhecia aquela sensação. Um pequeno acesso de pânico que já experimentara algumas vezes antes na vida. Conteve-o. Respirou fundo, acariciou a mão dela como se emaranha o cabelo de um moleque.
-Também gostei de te conhecer, mademoiselle.
Ela riu do francês sem-vergonha dele. Ele se justificou:
-Estudei francês dois anos. Quarta e quinta séries. Ensino fundamental, escola pública. Tenha um pouco de piedade.
-Ao menos tu non tentou falar anglais comigo. Fico com raiva...
Ela continuava segurando os dedos dele. Ela era tão branca quanto ele, quase um boneco de neve. Tinha dedos finos e unhas cortadas curtas, sem esmalte, só uma base incolor. Ele olhou o celular:
-Nossa, meia noite e vinte, já...
Ela fez cara de assustada:
-Tão tarde?
Ele pediu a conta, pagou no caixa. Ela quis dividir, ele pediu-lhe que não. Ela aceitou. Ainda chovia quando saíram, ela e ele andaram conversando sobre a arquitetura de Porto Alegre. Ele mencionou que era meio nova yorkina, ela riu. Ele disse que comprovaria do ângulo certo se voltassem a se ver. Ela aceitou o desafio. Ao chegarem diante do prédio dela, ela disse:
-Chegamos...
Ele sorriu.
-Vou guardar bem o número, agora. Lance de memória visual e tal... Aí, quando nos vermos de novo, não me perco.
-Boa ideia. - Ela aquiesceu. Enfiou a mão na bolsa, tirou as chaves, e olhou pra ele:
-Gostei de ter te conhecido. O Diego disse que tu erra muito gentil.
-O prazer foi todo meu, Celeste.
Ela se inclinou pra frente, e de supetão, o beijou. Colocou a mão em seu pescoço e, muito perto dele, com o peito encostado ao seu, de forma que ele podia sentir o cheiro dela, que era bastante agradável, um perfume floral levinho, ela disse:
-Tu non quer subir?
Ele congelou. Não estava habituado àquela qualidade de convite... Hesitou brevemente para responder, ela continuou:
-Agorra tu deve estar pensando que eu sou uma mulher da vida...
Ele riu:
-Não... Não tô pensando nada disso...
Ela continuou:
-Tá sim... Mas eu non faço isso semprre... Na verdade eu nunca faço essas coisas. Mas vejo as amigas da Carrol fazendo, e prra elas e ton naturral... Não querro que tu pense errado de mim...
Ele conhecia as amigas da Carol. Eram, mesmo, meninas "dadas". Sem grandes pudores. Encaravam sexo com a mesma naturalidade que a maioria dos homens, e faziam quando tinham vontade. Bem diferente dele, que era um rematado careta.
-Não. Não penso, não. Não penso, mesmo.
Ela se afastou alguns centímetros, de modo que aqueles olhos verdes muito claros ficaram a milímetros dele:
-Enton... Você non quer subir?
Ele sorriu, com uma das mãos na cintura dela e a outra no bolso.
-Olha... Eu quero. Quero muito. Subir contigo hoje seria uma realização pra mim. Seria meu Antes do Amanhecer particular.
Ela riu, francamente.
-Mas eu não posso. Eu tenho alguém na minha vida.
-Ah... Desculpa... Eu non sabia que tu erra noivo - Ela disse, fazendo confusão com as palavras enquanto se afastava.
Ele a tranquilizou:
-Não... Não te preocupa. Ela e eu não estamos exatamente juntos, mas... Eu tenho alguém. Tu não sabia. Não foi nada. Mas enfim... É isso. Eu tenho alguém, e não seria certo com ela e nem contigo. Então, eu vou ter que declinar.
Ela olhou pra ele com uma expressão intrigada:
-Tu tem alguém, mas vocês non eston juntos?
Ele balançou a cabeça positivamente.
Ela continuou:
-Enton... Tu tem alguém, ou é alguém que tem a você?
Ele juntou as sobrancelhas no alto, fazendo uma expressão de desentendido:
-Espero que os dois...
Ela passou a mão no rosto dele, e deu-lhe outro beijo, dessa vez um beijo no rosto, suave, deixando os lábios entreabertos colados na bochecha dele por algum tempo. Quando se afastou, ele ainda estava inebriado pelo perfume, os olhos e o sotaque. Ela lhe acariciou o peito e disse:
-Ainda assim gostei de te conhecer. E esperro que a gente se veja de novo.
-Eu também. - Ele respondeu, sorrindo.
Ela entrou no prédio, e antes de fechar a porta, lhe acenou com dois dedos dizendo:
-Ela é uma moça de sorte, ahn?
Ele pensou um segundo. Olhou pro chão, enfiou as duas mãos nos bolsos e respondeu convicto:
-Não... O sortudo sou eu.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Rapidinhas do Capita


O que eu quero é paz na Terra aos homens e mulheres de boa vontade, e um pouco de sossego aos de má vontade que nem eu. Quero invernos que durem nove meses e verões amenos de três. Quero pizza na sexta-feira, sushi no sábado, desenho animado no domingo e cinema duas vezes por semana. Quero virar a noite jogando videogame e conversando contigo. Quero livros cada vez melhores, gibis sensacionais e séries de TV divertidíssimas.
O que eu quero é distância da maioria das pessoas. Eu quero um pequeno perímetro ao meu redor. Não. Ao nosso. Quero, também, muita paciência porque se eu ganhar força mato um. O que eu quero é ter saúde de ferro, coração de ouro e bolas de aço. Quero que todo mundo esteja bem, e que quem não puder estar saiba lidar com isso.
O que eu quero é futebol bonito, Inter campeão da Libertadores, Arsenal campeão da Europa e Inter bi-mundial enquanto o grêminho assiste a tudo da série B.
O que eu quero é saber expressar o valor que tu tem pra mim. O tanto que a tua beleza externa e interna me balançam. A forma como tudo o que tu faz e diz tem impacto irremediável sobre quem eu sou.
O que eu quero é estar contigo, sem barreiras nem percalços. Conversar lanchando na praça de alimentação, cochichar assistindo filme no cinema, ver a tua calcinha jogando supertrunfo na sorveteria e tirar a tua calcinha jogando videogame no sofá.
O que eu quero é envelhecer do teu lado. Ter mais filhos que o capitão Von Trapp, netos e bisnetos. Organizar grandes almoços de família em que os convidados sempre acabarão por ouvir a história de como ficamos juntos.
O que eu quero é dormir sentindo o cheiro do teu cabelo no meu nariz, o cheiro do teu suor na minha cintura, as tuas costas no meu peito, tua mão, na minha e saber que o frio polar fora das cobertas nunca vai nos alcançar.

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Virgem santíssima... O excelente filme Os 12 Macacos, de Terry Gillian, uma das mais fodonas ficções científicas de viagem no tempo do cinema vai se tornar série.
Calma, respira, senta porque piora.
A série, que terá envolvimento dos produtores do longa original de 1995, Chuck Roven e Richard Suckle, será produzida pelo canal Syfy, antigo Sci-Fy, o que garante qualidade de produção nível Tornado Alienígena, Mega Piranha e Titanic 2 e Mega Shark vs. Giant Octopus...
Não vou nem dizer nada...

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Tinha falado recentemente da contagem regressiva para setembro, e o lançamento de FIFA 14 e Grand Theft Auto V.
Pois é, se no final de setembro saem essas duas belezuras, e outubro a pujança continua com Assassin's Creed IV - Black Flagg, sexto game da combalida franquia dos assassinos. Também tem a "prequência" de Batman Arkham Asylum e Arkham City, Batman - Arkham Origins, e o nova narrativa interativa sem game over da Quantic Dream, mesma desenvolvedora de Heavy Rain, Beyond: Two Souls.
Vai faltar dinheiro pra comprar e tempo pra jogar tudo...

Resenha Blu-Ray: O Incrível Mágico Burt Wonderstone


Foi ontem que aluguei num desses serviços de TV a cabo, o Blu-Ray de O Incrível Mágico Burt Wonderstone.
Acredito que Burt Wonderstone seja o trabalho mais recente de Steve Carell, comediante que esteve em O Âncora - A Lenda de Ron Burgundy, estrelou O Virgem de 40 Anos, Todo Poderoso 2, Jantar Para Idiotas, Amor a Toda Prova, Uma Noite Fora de Série, Agente 86 e The Office... Ou seja, o sujeito é um ótimo comediante.
Além disso, ainda esteve em dramédias indie como Pequena Miss Sunshine, Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada e Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo, mostrando que além de carisma e de saber fazer rir, ainda é um ator versátil e talentoso.
Além de Carell, o elenco de Burt Wonderstone ainda conta com Steve Buscemi, um dos atores mais subestimados de Hollywood, o excelente e oscarizado Alan Arkin, e Jim Carrey, outro astro da comédia acima de qualquer suspeita.
Posto isso, continua sem me entrar na cabeça como é que praticamente todos os filmes do infeliz do Adam Sandler passam pelos cinemas do Brasil, enquanto, pra ver uma comédia com Carell (E Will Ferrell, e Jack Black) temos que esperar até o filme alcançar o home-video.
OK, feito o desabafo, O Incrível Mágico Burt Wonderstone... O filme mostra o pequeno Albert, que, com onze anos de idade, é vítima dos valentões do colégio, até ganhar de presente de aniversário de sua mãe um kit de mágica de Rance Holloway (Arkin, impagável).
Encantado com a ideia de se tornar um mágico, o pequeno Burt começa a praticar os truques da caixa até conhecer o pequeno Anthony, moleque da sua idade, e juntos, começarem a desenvolver novos números além daqueles do kit.
Corta pra trinta anos mais tarde... Albert e Anthony agora são Burt Wonderstone (Steve Carell) e Anton Marvelton (Steve Buscemi), dois mágicos ao melhor estilo Sigfried e Roy, com os figurinos excessivos, seu próprio teatro e mise-en-scéne canastrão.
A anos abrigados sobre as asas de Doyg Munny (James Gandolfini), dono de cassinos de Las Vegas, os dois mágicos viram o dinheiro e o sucesso subirem à cabeça de Burt, que se tornou um sujeito desagradável e cheio de si, cada vez mais indiferente à qualidade de seu ato.
Pra piorar as coisas, surge Steve Grey (Carrey), mágico de rua que realiza números extremos (De chorar de rir) misturando ilusionismo e proezas de resistência à dor em meio à multidão.
Os feitos de Grey, forçam os mágicos veteranos a agirem para manter o interesse em seu ato, mas após Burt colocar a perder o novo número idealizado por Anton, a dupla se separa.
Sem o auxílio de Anton, Burt atinge o fundo do poço, de onde seu inflado ego pode não conseguir tirá-lo, mesmo com a ajuda de sua ex-assistente Jane (Olivia Wilde, brincando de ser linda) e de seu inspirador, Rance Holloway (Alan Arkin, sensacional), que precisam lembrar a Burt porque ele se tornou um mágico em primeiro lugar, e que, sem Anton e sua amizade mágica, ele simplesmente não está completo.
Deixando claro que O Incrível Mágico Burt Wonderstone não é o grande trabalho da carreira de nenhum dos envolvidos e que está dois anos atrasado com relação à abordagem do tema "mágica de palco tradicional da antiga x Mágicos de rua estilo Criss Angel", que já havia sido abordado de maneira divertida em um episódio da vigésima segunda temporada de Os Simpsons, ainda assim, Burt Wonderstone diverte.
Como já foi dito antes, o elenco é muito bom, Steve Carell tem tempo pra ser asqueroso, histérico e bom sujeito, Steve Buscemi é competente como de praxe, Alan Arkin é brilhante, Olivia Wilde é linda e doce sem ser songa-monga e Jim Carrey está hilário como o vilanesco Grey, com seus números de piñata humana, cartas ocultas em feridas abertas, dormir sobre brasas incandescentes e não piscar mesmo exposto a spray de pimenta.
Longe de ser um filmaço, ou A Comédia do Ano, Burt Wonderstone diverte dor uma hora e quarenta e garante muitas boas risadas e algumas gargalhadas sinceras. O que mais se pode esperar de uma comédia?

"-Agora, este é um clássico!
-Significa: Já foi feito."

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Amizade Colorida


Estavam o Paulo Roberto e o Everaldo no bar, sentados à sua mesa preferida. O Paulo Roberto tomava uma Coca-Cola e comia um sanduíche de salada de atum, enquanto o Everaldo tomava um chope e comia um pastel. Eles conversavam sobre uma descoberta que Everaldo fizera conversando com um amigo:
-Amizade colorida, Pê Erre. - Disse o Everaldo com um sorriso bem aberto, carregado de certa dose de escárnio.
-Quê? - Perguntou o Paulo Roberto, entortando a expressão facial de um jeito que não deixava claro se ele realmente não tinha entendido, ou se a ideia era abjeta demais para digerir.
-Amizade colorida, caralho... - Everaldo sustentou com naturalidade. E continuou:
-Amigos que fazem sexo. Não há aquela merda toda do compromisso. Ao menos não o compromisso tradicional de um relacionamento. Não existe aquela obrigação de lembrar dos aniversário, dormir abraçadinho, ligar no dia seguinte, conversar depois da foda... Tu pode te vestir, agradecer com um cumprimento tipo um soquinho no punho e te mandar...
-Isso não existe... - Disse o Paulo Roberto balançando a cabeça negativamente.
-Claro que existe. - Replicou o Everaldo. -E eu garanto, é saudável pra caralho... É só sexo. Não tem porque complicar as coisas. Ao invés de ficar, tu se masturbando na tua casa e uma amiga tua, na casa dela, vocês se encontram e fazem sexo. É como se vocês estivessem masturbando um ao outro, se isso deixa as coisas mais fáceis pra ti...
Não deixavam. O Paulo Roberto disse por que:
-Não... Eu não... Eu não masturbo minhas amigas, nem os meus amigos... Não é a mesma coisa...
-Porra, Pê Erre... Pra ti, ia ser a melhor coisa do mundo. Isso tira o peso de um relacionamento, saca? É amizade e sexo. Tu vai lá, encontra tua amiga, vocês conversam, tu pergunta se ela tá a fim... Ou liga pra ela, ou manda uma mensagem... Quer trepar? E vai lá, e trepa, e vocês continuam se dando bem depois... Tu, que te caga de medo de compromisso, ia se dar muito bem cultivando umas amizades coloridas...
-Epa, epa, epa... Quem disse que eu me borro de medo de compromisso? - Perguntou Paulo Roberto, se endireitando na cadeira.
-Eu tô dizendo, porra.
-De onde tu tirou isso?
-Ah, vai se foder, Pê Erre... Tu termina relacionamento em cima de relacionamento unicamente porque tem medo de compromisso... - Disse o Everaldo, com pouco caso, mordendo o pastel de calabresa.
-Não, não, não... Peraí, Everaldo. Não tem nada a ver com medo de compromisso...
O Everaldo mastigou, engoliu, bebeu um gole de chope e olhou muito sério pro amigo:
-Então me diz, caráleo. Por que é que teus relacionamentos terminam? O último, por exemplo?
O Paulo Roberto franziu o cenho olhando pro Everaldo. Ficou em silêncio um instante, olhando enviesado para o interlocutor. Por fim tomou fôlego:
-Não... Não vou entrar nessa. Tu tem razão, Everaldo. É uma ótima ideia. Teu amigo tá de parabéns, inclusive.
-Enfia a tua ironia no cu, Pê Erre...
Ficaram em silêncio. O Everaldo terminou o pastel, o chope, e pediu outro. O Paulo Roberto terminou o sanduíche, a Coca-Cola, e pediu outra.
O silêncio reinava, os dois olhando pra TV. O Everaldo bebeu um gole de chope e fez "Ah!". O Paulo Roberto olhou pra ele e disse:
-Tá. Terminou porque eu sou um idiota. Mas não. Eu não tenho medo de compromisso. Acho que todo o homem tem, mas eu, não. Eu curto compromisso. Gosto da ideia de ser de alguém e de considerar alguém minha. Eu acho que meu caso é mais grave. Eu tenho medo de estar feliz e de estar completo. Acho que foi por isso que meu último relacionamento acabou. Eu fiquei esperando algum deslize, mínimo que fosse, e desproporcionei a coisa toda. Aí eu fiquei como eu estou habituado. Triste, solitário, e infeliz.
O Everaldo continuou olhando pro Paulo Roberto com a mesma expressão. O Paulo Roberto continuou:
-E, não. Amizade colorida não funcionaria, pra mim. Eu gosto de sexo, claro. Mas sexo pra mim tem que ser a manifestação física de alguma coisa mais do que apenas vontade de se aliviar. Eu gosto de ficar abraçadinho depois. E durante. E antes. Gosto das preliminares. De conversar depois. Eu gosto de lembrar dos aniversários e de ser repreendido quando esqueço, mandar mensagens no dia seguinte, ligar, ou só ir encontrar a pessoa pra comer sorvete e falar besteira. E mesmo que eu falhe em fazer qualquer uma dessas coisas, ou todas elas, eu não consigo encontrar alguém, fazer sexo, e depois ir embora sem que essa pessoa signifique algo mais pra mim. Não rola. Então, amizade colorida, pra mim, está fora de cogitação, porque, pra eu chegar a querer fazer sexo com alguém, essa pessoa já tem que ser mais pra mim, do que apenas uma amiga.
Ficaram em silêncio, o Everaldo tomou fôlego pra falar, mas o Paulo Roberto interrompeu:
-E digo mais: Acho que esse teu amigo quer é comer a tua bunda.
-Vai te foder, vai Pê Erre?

Rapidinhas do Capita


Pois é, rapaz, quem diria, o Ben Affleck, que já foi Demolidor, George Reeves, o Superman dos anos cinquenta, e se tornou um grande diretor de cinema, será o novo Batman, progredindo de sua posição original como o Robin do Matt Damon.
O nome do ator foi oficializado pela Warner ontem, e recebeu elogios de Greg Silverman, presidente de produção da WB., que o taxou de "ator extraordinário", "cuja carreira sensacional é testamento de seu talento", e de Zack Snyder, diretor do filme, que declarou que Affleck "será um contraste interessante ao Superman de Henry Cavill" e que "tem as habilidades necessárias de atuação para dar uma interpretação cheia de nuances a um homem que é mais velho e sábio que Clark Kent e traz as cicatrizes de um veterano combatente do crime e ao mesmo tempo mostrar o charme do bilionário Bruce Wayne.". Ao menos entre os chefes Affleck está com muita moral (Seu bom relacionamento com a Warner não é segredo, Todos os filmes de Affleck como diretor, Medo da Verdade, Atração Perigosa e Argo são feitos pelo estúdio.
Ben Affleck, 41 anos, confirma a ideia de um Batman mais velho, aventada quando do anúncio do crossover na San Diego Comic-Con, feito através da leitura de um Ttrecho da graphic novel Batman - Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller.

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Mas foi anunciado, o nome de Affleck recebeu severas críticas dos fãs. Uma petição on-line com mais de 1500 assinaturas feita através do Change.Org exige a troca do ator escolhido para interpretar o homem morcego.
O abaixo-assinado diz que as capacidades dramáticas de Affleck não fazem jus ao personagem, que ele não tem a forma física correta nem é intimidador o suficiente, além de afirmar que seu Demolidor foi atroz, e que ele não é, nem de longe um astro de ação (E Christian Bale era?).
A enxurrada de críticas é nada comparado à que foi recebida pela Warner quando Michael Keaton foi escalado como Batman por Tim Burton em 1988.

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E fica a questão:
Que ator não seria avacalhado ao ser anunciado? Muita gente torceu o nariz para Christian Bale quando ele foi oficializado como Batman. Me lembro da quantidade de gente que quase chorou ao saber que Heath Ledger seria o Coringa...
Se o escolhido tivesse sido Josh Brolin ele seria muito velho. Se fosse Ryan Gosling, muito jovem. Se fosse Richard Armitage, muito britânico... Ben Affleck não seria minha primeira escolha para ser o Batman, na verdade, nem o imagino no papel, mas só vou poder me queixar depois de vê-lo como Homem-Morcego...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Rapidinhas do Capita


A notícia nem é nova, é de março, mas eu só fiquei sabendo hoje. Vale a menção.
Em Lansford, estado da Pensilvânia, nos EUA, a polícia atendeu ao pedido de socorro do jovem Eric Zuber.
Zuber estava refugiado em uma loja de conveniência, onde se escondia de...
Sua namorada.
Heather Hayes o atacou a mordidas, tapas, socos e torções de testículos após Eric passar dois dias jogando XBox com os amigos, negando-se a fazer sexo com ela.
Ao ser atacado, Eric fugiu de casa, escondendo-se na loja próxima, onde foi perseguido por Heather que foi atrás dele sem nem sequer vestir as calças.
Presa ainda sem calças, Heather responderá por agressão simples, assédio e atentado ao pudor.
Aí embaixo a foto da agressora:


Cada um, cada um (até porque o Eric Zuber também não é nenhum mister universo.), mas um Halo com os camaradas tem lá seu valor...

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Acordou em um lugar que não era seu apartamento. Nem conhecia aquele lugar. Teve certeza disso ao ver o abajur de oncinha sobre o criado mudo roxo ao abrir os olhos.
Sentiu a cabeça latejar denunciando a ressaca. Perguntou-se onde estava... O que acontecera.
O cheiro do ambiente não mentia, látex, lubrificante, suor rançoso... Houvera sexo naquele ambiente que, dada a quantidade de espelhos e pinturas eróticas nas paredes, era um motel do mais baixo cacife.
Imaginou, mais do que como fora parar ali, com quem...
Virou-se, muito lentamente, tomando cuidado com cada músculo para não fazer movimentos bruscos. A seu lado, jazia uma moça... Uma moça é bondade... Uma criatura.
Devia regular de idade com ele... Vinte e cinco, trinta anos... Mas era feia. Por Deus como era feia... O nariz, pontudo, virado para cima, os olhos caídos nos cantos, e sobre eles uma monocelha que era um bicho cabeludo daqueles as árvores. O cabelo encarapinhado tingido de loiro amassara de um lado, e espetara do outro deixando a figura com aparência de Vingador, do Caverna do Dragão, o cenário de horror era complementado pelos três queixos tremendo à cada respiração e o filete de baba que secara e esbranquiçara no canto da boca tingida de um batom rosa pink.
Se levantou com todo o cuidado, juntando as roupas do chão. Ao ouvir sua cúmplice de cama gemer e ressonar enquanto se virava, acelerou o processo, não fez questão de encontrar as meias, e vestiu as calças sem cuecas. Correu na ponta dos pés ao banheiro contíguo, e lavou o rosto e as mãos. Sentiu o chamado da natureza, amaldiçoando as dimensões reduzidas da própria bexiga, abriu o zíper para se aliviar. Enquanto pensava quanto iria custar sua noite amnésica de sexo naquele motel bagaceiro, encarou o próprio pênis. Fez uma careta e disse:
-Francamente, viu... Olha onde é que tu nos enfia...

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Fim de agosto de aproxima, e com ele a contagem regressiva para a chegada dos games mais esperados do ano.
Duvida? Em setembro serão lançados:
-Fifa 14
-Grand Theft Auto V
Duas certezas:
Ainda bem que sai meu abono do PIS-PASEP.
Adeus vida social, exceto pela PSN...

Mundo Alternativo


Ela estava abraçada nele, os dois jogados em cima do sofá. Ela estava usando a camiseta branca de Star Wars dele, e mais nada, ele estava usando cuecas pretas, mas, tímido que era, estava sob as cobertas, mesmo que não estivesse frio.
As roupas espalhadas em volta do sofá eram o testemunho do que eles haviam feito durante a hora e meia anterior, assim como a dor que ele sentia nos joelhos, e o sorriso idiota que se estampara em sua cara barbada. Ela estava com os braços ao redor do peito dele. Pequenina que era, não conseguia dar a volta. A cabeça dela repousava em seu peito amplo, e ele tinha o braço esquerdo ao redor do pescoço dela, e nessa posição, conseguia dar a volta por trás de sua cabeça e acariciar-lhe o cabelo. Na outra mão, talvez seu maior traço de masculinidade:
O controle remoto.
Ele olhava meio absorto para a parede atrás da TV, para a janela no meio daquela parede, para o infinito e além, absorto que estava na sensação de completude absoluta que sentia quando partilhava o tempo e o espaço com ela.
Imaginava como seriam as coisas se ele fosse uma pessoa mais normal. Sem o seu background de patadas da vida, sem a sua infância complicada em família, sem sua adolescência quase marginal, sem a oneração de todas as responsabilidades que aceitava assumir mesmo sabendo que não conseguiria dar conta... Imaginou como era bom estar perto dela, sentindo o toque de sua pele, massageando suas pernas, beijando-lhe as costas, sentindo nas narinas o rescindir de sua pele olorosa, vivendo na iminência de uma gargalhada fagueira, de uma conversa muito séria a respeito de coisas que não importam nem um pouco, ou de seu desejo absurdo por ela vencer-lhe a timidez e o transformar em uma devassa versão nerd de algum amante da literatura...
Ela, com as mãos miúdas aninhadas sob a cabeça, olhava para a TV atentamente. Respirou fundo franzindo o cenho, e disse:
-Sabe o que é que eu queria ter? Uma bexiga natatória...
Ele, sacado de seus devaneios, olhou pra ela erguendo uma sobrancelha:
-Uma bexiga natatória?
-É. - Ela confirmou. E olhando pra TV de novo, perguntou: -Tu sabe o que é?
-Sei. - Ele respondeu, procurando sem sucesso na TV um documentário sobre vida marinha que ela pudesse estar assistindo pra ter chegado àquela conclusão sobre o que queria ter. -É aquele órgão em forma de balão que os peixes ósseos têm. Serve pra eles poderem subir e descer dentro d'água...
Ela sorriu um sorriso iluminado olhando pra ele. Ele sempre achava graça do fato de ela ficar feliz por ele saber esse tipo de coisa sem serventia. Ela deitou a cabeça em seu peito de novo e continuou:
-É... Isso mesmo... Também chamam de vesícula gasosa, mas não é um nome tão maneiro quanto bexiga natatória. Eu queria ter uma... Aí eu ia poder nadar embaixo d'água, ir até bem fundo, e, quando ficasse sem fôlego, era só subir de volta bem rapidão, sem precisar bater pé nem dar braçada...
Ele pensou em dizer que ela não poderia ir até tão fundo. Que só poderia ir até certa profundidade, e então teria que voltar pois a pressão da água seria demasiada, e que era melhor ela não voltar à tona tão rapidão, ou sua bexiga natatória poderia rebentar, mas resolveu deixar de lado tais pormenores. No mundo proposto por ela essas regras não se aplicariam, ela desenvolveria uma vesícula gasosa, e poderia subir e descer bem rapidão dentro d'água, e quem sabe ele poderia desenvolver um órgão que o tornasse menos esquivo. Menos desconfiado e distante... E o permitisse aproveitar mais momentos como aquele.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Gentileza


Vinham conversando dentro do ônibus o Tenório e o Ronaldo. Os dois suados, fedidos, recém saídos de uma partida de futebol. Trajavam camiseta, calção, meiões e chuteiras de futebol society dentro do coletivo, um deles vestia uma jaqueta esportiva sobre a camisa, o outro, apenas uma mochila nas costas com suas "roupas civis" dentro.
O Tenório perguntou, casualmente:
-E aí? Que vai fazer agora?
O Ronaldo disse:
-Vou chegar em casa, tomar um banhão e sair com a patroinha, depois. Vamos ao cinema...
O Tenório balançou a cabeça casualmente, e então teve um estalo. Virou-se rápido e perguntou:
Me diz uma coisa... Quando vocês vão ao cinema, tu paga a conta, ela paga, ou vocês dividem?
O Ronaldo titubeou... Sabia a resposta, claro, mas já ouvira tantas críticas por conta dela. Sabia que responder a pergunta sempre gerava um debate:
-Eu pago...
-Sempre? - Quis saber o Tenório?
-Sim. - Confirmou o Ronaldo.
O Tenório ficou em silêncio, esperando o Ronaldo querer saber o porquê da pergunta, mas o Ronaldo se manteve firme e silente. O Tenório não se conteve:
-Eu te pergunto porque eu li um artigo sobre um estudo de uma universidade dos Estados Unidos... Universidade de Chapman, na Califórnia, eu acho... Ou alguma coisa assim... Que dizia que o cavalheirismo pode travar os ideais feministas de igualdade...
-É... É uma forma de ver as coisas. Eu discordo...
-Tá, mas digamos que a mulher ganhe mais que tu... Tu, ainda assim, pagaria a conta?
-Sim. Isso já me aconteceu, namorava uma menina que ganhava mais que eu, e eu é quem pagava a conta... - Respondeu o Ronaldo.
-E tu não se sentia um trouxa pagando a conta pra uma mina que tinha mais grana que tu?
O Ronaldo riu:
-Cara... Eu já fui chamado de trouxa por homens porque sempre pago a conta e de machista por mulheres pela mesma razão. Mas é uma questão de criação. Da maneira como eu fui criado, a mulher quando sai comigo pode sair sem bolsa. Pra mim, pela minha criação, é dever do homem prover. Mas eu também não vejo o ato de pagar a conta como demonstração única de cavalheirismo, abrir a porta, puxar a cadeira, oferecer a mão pra moça descer do carro, servir o copo dela, deixá-la passar na frente... Tudo isso é cavalheirismo...
O Tenório balançou a cabeça brevemente. Tomou fôlego após pensar um momento:
-Então é tipo charminho... Pra ganhar a mina, e tal?
O Ronaldo mexeu a mão, como que se defendendo da afirmação:
-Não... Nada a ver... Eu acho que cavalheirismo... Gentileza, civismo... Têm que ser coisas inatas, tá ligado? Eu faço porque é a minha forma de ser, não é por convenção social. Mesmo gente que, teoricamente, não mereceria cavalheirismo de minha parte, gente incapaz de retribuir educação, o receberia de mim, porque é o jeito que eu sou... A educação não é um lance que eu faça pros outros, é pra mim. Se uma mulher quiser me pagar uma conta, eu vou me sentir extremamente desconfortável... Pra mim não funciona.
O Tenório, porém, parecia não ter entendido:
-Mas e tu é rico, por acaso? Pra ficar bancando tudo?
O Ronaldo riu:
-Não... Claro que não sou rico. Tô aqui, andando de ônibus contigo. Sou proletário, blue-colar worker, pobre, mesmo. Mas é como eu te disse... É um lance de criação... E a mulher com quem eu me relaciono merece todas as demonstrações de dedicação, deferência e afeto...
O Tenório, ficando lívido, respondeu:
-Isso até tu descobrir que tá se esfalfando pra agradar a desgraçada e ela só sonha com um ricaço tarado que encha ela de presentes e faça ela assinar um contrato garantindo que vai dar o cu!
Silêncio dos passageiros mais próximos. Alguns olhares reprovadores pro Tenório, risadinhas nervosas do fundo do coletivo. O Ronaldo, olhando em volta, muito embaraçado perguntou:
-Cinquenta Tons de Cinza?
O Tenório gritou num sussurro:
-Filha da puta, lendo putaria nas minhas costas. Esses dias... - Olhou em volta, baixou mais a voz, aproximou-se do ouvido do Ronaldo:
-Esses dias me pediu pra amarrar as mãos dela pra trás...
O Ronaldo o deteve com um gesto, deu-lhe um tapinha nas costas:
Tudo bem... Vai passar...
O Tenório deitou a cabeça no ombro dele, e o Ronaldo não soube se foi um solavanco, ou se o seu amigo realmente soluçou.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Hora de Ser Um Mestre de Jogos Malvado


Quem joga RPG deve ter uma ideia bem clara de como é importante saber abraçar o espírito de uma história. Como RPGista de longa data, acostumado aos paranauês do jogo de interpretação de personagem, sempre achei que, saber abraçar o clima proposto pelo mestre, era condição sine qua non para que a trama da campanha ou da sessão, se desenrolasse a contento de todos.
O primeiro RPG que mestrei em sequência, por várias sessões, era, basicamente, uma comédia de ação. Quase um Máquina Mortífera de fantasia medieval. Foi a melhor solução que encontrei para tornar o jogo aprazível para os meus dois players, então.
Minha segunda campanha a se estender por um longo período, já era muito mais urgente. Era uma trama de fim de mundo repleta de reviravoltas e traições que tinha um clima muito mais sombrio, embora ainda houvesse espaço para um eventual alívio cômico daqui e dali. E funcionou porque todo o grupo abraçou a ideia e jogava com seriedade nos momentos que requeriam seriedade e com descontração nos momentos que permitiam descontração.
Talvez tenha sido uma feliz coincidência encontrar o grupo certo para dar vida à história que tinha imaginado, e a campanha, que se estendeu por mais de um ano, foi tão bem assimilada pelos jogadores, que hoje, mais de dez anos após o seu desfecho, ainda jogamos naquele mesmo universo, e com muitos dos mesmos jogadores e, salvo raras exceções, com os mesmos personagens.
Claro, houveram as pessoas que se mudaram, que perderam interesse pelo RPG de mesa, que cansaram de jogar a mesma coisa... Alguns saíram e depois retornaram, a mesa do RPG de tabuleiro é viva, e a campanha de RPG, também deve ser, estando aberta para eventuais alterações dentro e fora do jogo.
A questão é que certas mudanças acabam desviando o foco do que a campanha imaginada pelo mestre originalmente propunha.
Jogadores que entram não têm a mesma capacidade de abraçar o clima proposto pela premissa da história. Outros se incomodam demais com os eventos dentro do jogo, e vão relaxando na sua interpretação, tornando-se incapazes de agregar ao grupo de jogadores, e outros simplesmente não aguentam mais a falta de comprometimento de seus companheiros, tornando a mesa de jogo um espaço onde, se ainda há amizade e boas risadas, não existe mais o autêntico prazer de jogar uma partida de RPG.
Aí, o mestre se encontra em uma sinuca:
Terminar logo a campanha, levando o grupo ao desfecho prematuro porque eles foram incapazes de encontrá-lo da maneira como deveria ser, e talvez, sendo desonesto para com a história que imaginou?
Ou deixar as coisas seguirem seu curso, que os jogadores continuem jogando como vêm jogado nos últimos meses e permitir que todos os personagens morram uma morte horrível nas mãos do vilão?
A primeira alternativa é aceitável a partir do momento em que os personagens dos jogadores são heróis em seu mundo, e heróis devem vencer. Seria desonesto, eu concordo. Baseado na forma como o grupo age pode é totalmente incoerente e artificial que eles alcancem uma vitória que dependa minimamente de qualquer coisa além da força das armas, mas os mocinhos deveriam vencer...
A segunda alternativa é, no entanto, mais plausível. Da maneira como os jogadores e seus personagens se comportam já era para terem morrido, não fosse sorte e a qualidade de seus armamentos e equipamentos. A pior parte é a crença inabalável que eles têm de que ainda estão vivos por serem poderosos e invencíveis, quando, na verdade, é porque o vilão não os acha perigosos o suficiente para caçá-los de verdade.
Matar os jogadores seria o mais justo. Dar -lhes um tremendo choque de realidade que os faria encarar com um pouco mais de seriedade a próxima campanha se resolvessem continuar jogando.
Mas aí reside o perigo de que, jogadores de RPG, em geral, se apegam com grande fervor aos seus personagens.
Como explicar aos players que o personagem que morreu não era um amigo, um parente, mas apenas letras em uma folha de papel? Que a aventura pode ter terminado de certo ponto de vista mas estar apenas começando de outro? Como explicar que o fim dos personagens não foi uma punição, mas apenas consequência de uma porção de escolhas mal feitas?
Como mestre de jogos é importante saber responder a essas questões, especialmente, se, a cada sessão, tu tem mais certeza de que os personagens dos jogadores de seu grupo não vão ver o fim da guerra que lutam...

sábado, 17 de agosto de 2013

Litorânea


Quiosque na beira da praia. Frio uma barbaridade. Vento nordestão cortando. Ele se perguntando "O que foi, mesmo, que eu vim fazer aqui?"... Lembrou-se. Marcar presença. O problema de a casa de veraneio ser da família. Vez que outra o vivente tem que dar um pulo na casa pra deixar claro que sabe que ela está lá e que ele tem o direito de ir quando quiser. Mais ou menos como um cachorro dando aquele spray de urina em todas as árvores que outros cachorros já mijaram na redondeza.
Se arrependimento matasse... "Mas fazer o que, sozinho em Porto Alegre em um final de semana sem estreias de peso no cinema e nem programas com os amigos?", perguntou-se. Respondeu a si mesmo que ficar em casa, quieto, embaixo das cobertas vendo TV a cabo, lendo, jogando videogame e navegando na internet eram alternativas perfeitamente viáveis. Mas fazer o quê?
Fora vencido pela vontade de ver o oceano.
Encosta-se no balcão do quiosque, o único aberto na beira da praia naquela manhã e olha mar adentro.
Vira-se para o dono do quiosque, um baixinho que faz isso já deve ter mais de vinte anos. Pede um milho verde com bastante manteiga.
Manteiga é o caralho.
Todo mundo sabe que é margarina e daquela bem vagabunda que vem num balde e está escondida embaixo do balcão. Nem gosta de milho, apenas torce para que água quente que escorre do sabugo cozido aqueça-lhe as mãos frente à inclemência gélida do vento nordeste litorâneo.
Enquanto o dono do quiosque prepara seu milho, ele dá dois passos pra fora da estrutura. Pés descalços na beira da praia, a areia empurrada pelo vento açoita-lhe as canelas. Tem certeza absoluta de que quando Slattibartfast fez o litoral gaúcho já tinha construído todo o resto e estava de saco cheio de erigir fiordes na Noruega. Só isso explica uma costa tão sem graça quanto a do Rio Grande do Sul:
De um lado, uma extensa e reta faixa de areia. Sem pedras. Sem morros, montes, nem colinas. Plano como a bunda de uma gueixa.
Do outro, mar.
Não há como ser mais básico que isso. Parece até que o litoral do estado era feito pra ser um corredor do vento. Vento este que iria erodir as pedras do restante da costa brasileira. Isso mesmo. Catarinenses, cariocas, nordestinos, vocês têm que agradecer a nós, os gaúchos, pela beleza do seus litorais cheios de frescura. Nós ficamos aqui, aguentando o frio do vento nordeste, os argentinos, a areia fina que nos faz querer vir à beira do mar de botas e caneleiras para que vocês desfrutem de maravilhas naturais.
Nós somos o equivalente à Patrulha da Noite.
O dono do quiosque diz que o milho está pronto.
Aaaaaaaaaaaaah...
Quentinho, afinal... A água quente escorre pela folha que envolve o sabugo oferecendo um pouco de alívio ao frio. Deveria ter vindo de calças compridas. E um casaco sobre a jaqueta. E meias de lã e pantufas...
Uma moça entra no quiosque. Não é bonita, mas é atraente. Alta, esguia, cabelo curtinho. Segura um chapéu, calças compridas...uma camisa branca... Está claramente com frio dada a forma como seus mamilos estão evidentes sob o tecido.
Tenha decência, tarado. Pare de encarar os peitos da mulher. O dono do quiosque dá bom dia. Pergunta o que ela vai querer. Ela ri. "Um banho na panela do milho, pode ser?". Presença de espírito. Isso é legal numa mulher.
Ela pede uma caipirinha de vodca.
Mas que pinguça. São dez da manhã, não estamos na Sibéria pra escovar os dentes com vodka.
O atendente pergunta qual Vodca. As opções são Popokelvis e Natasha.
Ela tem cara de quem bebe Absolut, vai pedir Natasha, certo.
"Quanto é a Natasha?", ela pergunta.
Eu sabia.
"Treze pila.", responde o baixinho com cara de marisqueiro detrás do balcão. Ela faz cara de quem foi esfaqueada. "Bah... E de Popokelvis?", quer saber. "Oito pila", responde o baixinho, rindo. "Dá uma dessa, então.".
Errei... Ela encara Popokelvis. Uma mulher que encara Popokelvis é aventureira, sabe beber e não tem lá muito amor pelo fígado. Vou comer essa magrona, bravateia para si mesmo, em silêncio.
Vou convidá-la pra conhecer minha casa na praia:
"Tem pelo menos quatro cômodos lá onde eu nunca fiz sexo..." vou dizer, fazendo cara de Clark Gable.
E nem vou estar mentindo... Na adolescência fiz sexo na sala, e nos três quartos da casa. Nunca fiz sexo no banheiro, na cozinha e nem na despensa. Ah, nunca fiz sexo junto à churrasqueira, nem em nenhum dos quartos da garagem.
E a menos que masturbação conte, também nunca fiz sexo na garagem... Mas isso eu não vou dizer pra ela.
Se ela se der ao respeito vai me ignorar. Se ela for sanguínea, vai me dar um tabefe na cara e depois um beijo ávido e resfolegante. Se ela for uma pessoa normal apenas vai levantar e ir embora.
Rá... Uma pessoa normal jamais viria à praia em pleno inverno num sábado de manhã. Dá a primeira mordida no milho, a água que escorria dele esfriou, melhor comer. Limpa a boca engordurada da margarina com um guardanapo, a mulher recebe sua caipirinha de vodca Popokelvis. Olha pra ele, ergue o copo, e sorri. Ele sorri de volta e ergue o milho. Dá-se conta do ridículo de brindar com um milho ainda durante o brinde e ruboriza.
Ela continua sorrindo.
-Praia no inverno é foda, né?
Ele pensa em responder "Se fosse foda, era bom", mas a timidez o vence, acha que o comentário seria de baixo calão e apenas balança a cabeça.
Ela continua:
-Podia ter ficado em casa lendo embaixo das cobertas... Alugado um filminho...
Ele sorri. Engole o milho.
-Mas acabou aqui, na beira da praia...
-É... Bebendo vodca de manhã pra afugentar o frio do nordestão... - Ela respondeu rilhando os dentes e esfregando os braços num gesto de frio.
-Coisas que acontecem... O que houve? Precisava ver a casa? - Ele perguntou, amigável.
-Fui vencida pela vontade de ver o oceano... - Ela disse, olhando pra dentro do mar.
Ele ficou olhando pra ela. Corrigiu-se em pensamento:
Não ia comer aquela magrona. Ia casar com ela.

Supermercado


Dentro do supermercado, sexta-feira, seis e meia, sete da noite... Um fervo. Desconfortável, desagradável, mas não uma surpresa. É sabido, afinal...
Véspera do final de semana, horário em que a maioria das pessoas sai do trabalho, se fosse verão seria pior. Haveria gente fazendo compras para ir à praia. Estaria calor. Seria pior.
As filas são grandes. Tu olha para as prateleiras como se fossem vitrines. Interessadíssimo no preço da maionese Heinz. Ela nem é tão boa... Porque custa oito reais? O ketchup da mesma marca vale o preço, a maionese, não. Mesmo a mostarda é superestimada.
Que importa? Tu tem ketchup em casa...
Salsichas de frango? Quatro e noventa e nove... O preço é bom. Salsicha de frango é bom. Mas depois de uma overdose de salsicha de frango terminar em dois dias de cama existe trauma. Mesmo sabendo que basta não comer seis ou sete de uma só vez junto com o cachorro, tu escolhe o caminho da irracionalidade, e acha melhor ficar sem comer salsichas de frango por um tempo. Será que foi isso que te fez abandonar as salsichas de frango da outra vez?
Andando por entre as prateleiras, freezeres e gôndolas repletas de ofertas e inutilidades, é bacana deter-se, vez que outra, nas pessoas que passam.
Não no óbvio.
Não na moça loira de curva generosas que se agacha casualmente diante dos cereais tornando-me inadvertidamente íntimo tanto de seus seios fartos quanto de sua roupa íntima e mesmo de sua bunda.
Não... Essa qualquer um olharia.
Mesmo o senhor, já na casa dos setenta anos que anda arrastando os pés, apoiando-se no carrinho pelo mesmo corredor.
Interessante como algumas coisas vão se acabando... A juventude, a virilidade, mesmo a vergonha, mas o prazer de comer com os olhos permanece, agarrado feito um parasita mesmo a um homem cujos óculos fazem o telescópio espacial Hubble parecer uma luneta, e que tem liberdade para ir ao supermercado vestindo chinelos com meias, calças de moletom e camisa de flanela xadrez.
Ele literalmente devora a loira com os olhos. Poderia-se, erroneamente, tomar a sua olhada por desaprovação. Aquele é um homem que viu tempos mais pudicos, em que para ver a roupa íntima de uma mulher tu deveria conhecer a ela, os pais dela, e ao menos dois vizinhos. Mas não... A teoria da desaprovação não dura o tempo que o senhor, com cara de vovô que começa suas histórias com "no meu tempo", e que agarra um pacote de granola para manter sua flora intestinal em dia, observa de maneira ostensiva a mulher.
Ela vale a olhada. Uma mulher que consegue passar tanto tempo de cócoras na ponta dos pés é interessante mesmo se for um bagulho, mas com tudo no lugar como ela tem, e tais habilidades, resistência nos músculos das pernas e equilíbrio, é difícil não pensar em alegorias de alcova das mais pujantes.
A deusa da fertilidade loira se levanta, sorri para o velhinho, vira-se, faz cara feia pra mim. Eu olho pro velhinho, ele me dá uma piscadela e faz uma cara de assombro, com a boca apontando pra baixo e balança a cabeça positivamente.
Com a aprovação tácita do veterano, viro a cabeça e dou uma olhada no traseiro da moça em movimento. As calças de ginástica parecem ter sido costuradas com ela dentro. Bela figura.
Volto a olhar pro velhinho e repito sua expressão. Assombro. Positivo. Agora somos cúmplices.
Ele segue seu caminho, eu sigo o meu. Matando tempo pra que as filas diminuam. De que mais preciso?

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Rapidinhas do Capita


Ruim, mesmo, é não ter senso de humor. Não saber ser descolado, não saber ser descontraído.
Ser blasé é difícil quando tu te importa demais. Quando tu te importa demais, tem tendência levar tudo à ponta de faca. É chato. A gente acaba meio que nem o Dunga. O Dunga, treinador do Inter, ex-seleção brasileira. Ele se importa demais. Tem mágoa, é desconfiado... Provavelmente é um sujeito leve e divertido em certos círculos, mas onde se sente acuado passa por grosseiro e por amargo.
Tem gente que é assim. Não sabe levar as coisas na brincadeira. Até tem uma capacidade danada de ativar um modo Foda-se poderosíssimo que te faz ver o resto do mundo como se eles fossem cupins e tu fosse o Doutor Manhattan, mas em determinadas situações isso acaba sendo mais prejudicial que benfazejo justamente porque tu é desconfiado, e porque tu te importa
Essa combinação de desconfiado, sem senso de humor que se importa e é capaz de ativar um modo Foda-se potente igual o canhão de plasma de um Jaeger é extremamente complicada porque, quando a pessoa de quem tu gosta e com quem tu te importa te diz alguma coisa ou faz alguma coisa que te desagrada e mexe com o teu desconfiômetro, tu já vem com setecentas e setenta e sete pedras na mão, escudos defletores ativados e modo Foda-se carregando pronto para lançar aquele ataque preventivo de que a tua auto-estima surrada tanto se vale cada vez que tu te olha no espelho e lembra dela.
É difícil ser assim. É complicado. Pessoas assim não sabem dar o braço a torcer, se magoam de graça, ficam de mal por longos períodos e são capazes de limar uma pessoa de sua vida por completo não importa o quanto doa sem ouvir conselhos ou promessas...
São pessoas que vão acabar muito solitárias, agarradas à uma rotina de que talvez consigam colher alguma satisfação.
Ou não...

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Ótima notícia para fãs de quadrinhos. A série Planetary, um dos melhores quadrinhos publicados nos últimos anos, voltará a ser publicada no Brasil!
A partir do terceiro trimestre a espetaculosa série de Warren Ellis (Astonishing X-Men, Authority) e John Cassaday (Astonishing X-Men, Capitão-América) volta às bancas em forma de encadernados.
A Pixel Media, única editora a publicar todos os 27 capítulos da saga, mais o crossover com o Batman, vai relançar a série nos moldes dos lançamentos norte-americanos.
Quem sabe agora eu completo a minha coleção.

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-Aí ela me disse "Mas E.T., tu tem que ver que...-
-Peraí, peraí... Ela te chama de E.T.?
-Chama...
-E isso não te incomoda?
-Não... Por que?
-Sei lá... Parece meio pejorativo...
-Hmmm. Nunca tinha pensado por esse lado...

Mas mesmo depois de pensar, ele continuou não se importando. Tanto porque, baseado na mundaneidade da condição humana, no estado do planeta, na forma como as pessoas tratam-se umas às outras, era até elogioso ser considerado algo de outro mundo...
E também porque, quando ela dizia "E.T.", ele nunca pensava no E.T. do Steven Spielberg, nem nos robozinhos de O Milagre Veio do Espaço, mas no Klaatu e no Predador... Era até lisonjeiro...

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Casa do Capita - Filme Imaginário: O Cavaleiro das Trevas

Com a notícia de que a Warner planeja transformar a sequência de O Homem de Aço em um Batman v.s. Superman, e com o anúncio da empreitada sendo feito com a leitura de um trecho do quadrinho O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, não pude deixar de imaginar como seria se a Warner resolvesse adaptar, de verdade, essa que é uma das melhores histórias do morcegão em todos os tempos, e montei aquele que provavelmente é o maior clichê dos elencos imaginários nerds.
Pra brincar direito, temos que partir do princípio de que nenhum dos envolvidos nos filmes anteriores de Batman e Superman participariam desse projeto, então, por melhores que eles sejam, nada de Christian Bale, Michael Caine, Gary Oldman, nem nada do gênero.
Bueno, como sempre, se a ideia vingar, eu quero meu crédito de produtor.

O diretor de O Cavaleiro das Trevas seria Ridley Scott, o talentoso cineasta, que manja tudo de visual, e que é mais versátil que Bombril poderia estrear no mundo dos super-heróis cinematográficos em grande estilo numa trama que tem tudo a ver com ele.
O roteiro do filme adaptaria, claro, a história original do gibi. Bruce Wayne, aposentado a mais de uma década de sua vida-dupla como o vigilante Batman, vê à distância Gotham City ser engolida pela criminalidade bestial da gangue mutante.
Durante uma noite de tempestade, porém, Wayne é tomado por um violento acesso de nostalgia, e é arrancado de sua aposentadoria pela besta alada em seu interior, jogando a ira de Batman sobre a criminalidade rasteira de Gotham ao mesmo tempo em que desperta males a muito esquecidos pela cidade.
O elenco do filme seria composto por:

Bruce Wayne/Batman


Para interpretar o Bruce Wayne sexagenário, raivoso e sardônico de O Cavaleiro das Trevas, meu escolhido foi o ex-Magnum, Tom Selleck, que apesar de ser egresso de comédias mostra na série Blue Bloods que pode ser casca-grossa quando precisa.
O ator tem a aparência, a voz e tamanho certos, com seu metro e noventa e três de altura, é aquele tipo de coroa que parece capaz de machucar alguém mesmo sem ser uma montanha de músculos igual o Stallone.
O icônico bigode do ator também poderia dar as caras no começo do filme, até Bruce raspá-lo durante uma noite de sonambulismo.


Alfred


Todo mundo sabe que o Alfred é o coadjuvante mais importante das histórias do Batman. Apesar de ser escanteado em O Cavaleiro das Trevas, o mordomo da mansão Wayne ainda tem seus grandes momentos, e as tradas sarcásticas que o tornaram célebre.
Para interpretar o Alfred de um Bruce Wayne com mais de sessenta anos, o ator deveria ter ao menos oitenta.
Max Von Sydow tem 84, e talento de sobra pra espezinhar o cavaleiro das trevas com piadinhas a respeito de senhores da terceira idade com ilusões de juventude.


Coringa


Quando o Batman retorna após anos na aposentadoria, o Coringa desperta de seu torpor catatônico numa das mais bem sacadas demonstrações da profundidade da ligação do príncipe palhaço do crime com o cruzado encapuzado.
Para dar voz e corpo ao Coringa de O Cavaleiro das Trevas, minha ideia inicial era Nicolas Cage, mas a idade estava errada. Me veio à mente, então, Jeremy Irons.
O talentoso ator inglês com sua voz rascante e silhueta magra poderia dar vida a um das mais sádicas versões do Coringa.


Duas Caras


O primeiro vilão clássico a dar problema ao Batman após o morcego sair do estaleiro é Harvey Dent, o Duas Caras. O ex-promotor público paladino da justiça que se tornou um psicopata obcecado por dualidade após ter metade de seu rosto desfigurada por ácido pira na batatinha após ter seu rosto reconstruído através de cirurgias plásticas.
Nessa adaptação, Harvey poderia ganhar o rosto de Ed Harris. O ator oscarizado que já foi caubói e astronauta está devendo um papel de vilão melhor do que o de A Rocha, e o atormentado Duas Caras cairia como uma luva.


Líder Mutante


Mais uma criatura do que um homem, o líder da gangue mutante, com seus músculos imensos e tamanho descomunal até poderia ser criado em CGI, mas queremos a crueza de combates corpo a corpo com pancadas e hematomas que doam na platéia, então, que tal colocar um ator de verdade com um pouco de maquiagem para o papel?
Conan Stevens, que foi A Montanha que Cavalga Gregor Clegane na primeira temporada de Game of Thrones ficaria perfeito no papel. Com 2,13 metros de músculos e cara de poucos amigos, o departamento de maquiagem não precisaria de muito trabalho para torná-lo aterrorizante.


Carrie Kelley/Robin


A primeira Robin menina dos quadrinhos, Carrie Kelley é só uma pentelha, filha de dois maconheiros liberais (Frank Miller odeia liberais), que vê em Batman a figura de autoridade e paternidade que jamais encontrara antes em sua vida.
Fantasiada de Robin ela começa a fazer justiça à sua própria maneira até encontrar o Homem-Morcego e salvá-lo da morte.
A escolha óbvia para o papel era Chlöe Grace-Moretz, mas depois da Hit-Girl, a Robin seria um passo atrás. Melhor escalar uma desconhecida com potencial, como Bella Thorne.
A idade está certa, o visual, também, dá até pra vê-la de short verde e sapatinhos de Peter Pan.


Comissário James Gordon


Minha primeira escolha era Jeff Bridges, mas a idade estava errada. O intérprete precisava ser um pouco mais velho. Robert Redford, 76 anos, ganhou o papel. O ator, produtor, diretor e organizador de festivais só precisaria deixar crescer um bigodão e seria um tremendo Jim Gordon. Policial incansável, amigo de Batman e de Bruce Wayne, que, na hora em que aperta o sapato, pensa em Sarah, e torna todo o resto fácil.


Selina Kyle


A ex-Mulher-Gato, hoje uma cafetina dos ricos e famosos já foi linda, mas continua sendo uma coroa com encantos, capaz de arrancar um beijo do Batman, ou de mexer com os isntintos pervertidos do Coringa.
Sharon Stone já foi linda, mas ainda hoje é uma coroa interessante. O papel caberia bem à cruzada de pernas mais fodona do cinema.


Arqueiro Verde


O anarquista Oliver Queen, cheio de mágoas (extremamente justificadas) do Superman se tornou um velho maluco com um único pedido: "Quando chegar a hora, guarde um pedaço daquele escoteiro azulão pra mim. Pode ser pequeno.".
Quem melhor para interpretar velhos malucos do que Christopher Walken? Só de imaginá-lo disparando flechas com os dentes de ponta-cabeça numa escada de incêndio eu tenho vontade de levantar e aplaudir.


Ellen Yindel


A policial que assume o posto de James Gordon após ele ser aposentado pelo prefeito da cidade e dá ordem de prisão ao homem-morcego poderia ser vivida com folga por Jamie Lee Curtis.
A atriz que já foi gatíssima hoje é uma coroa estilosa, e que mostrou em Halloween e True Lies que aguenta um pouco de ação e correria.


Dr. Bartolomew Wolper


O psiquiatra liberal com pinta de maconheiro que garante que todos os criminosos loucos de Gotham City são vítimas do Batman poderia ser interpretado por David Cross. O ator de Arrested Development e Ano Um só precisaria de uma peruca afro-judaica pra ser o médico midiático que só dá bola fora.


Superman/Clark Kent


O Último Filho de Krypton, que se rendeu ao governo dos EUA e caçou seus próprios colegas de Liga da Justiça para garantir a paz talvez seja a grande antítese do Batman na história.
Apesar de envelhecer mais devagar que o morcegão, esse Superman é mais velho do que o que estamos habituados, e seria a chance perfeita de vermos Jon Hamm no papel que, para muitos, deveria ser seu.