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sábado, 30 de novembro de 2013

A Lição dos Dias Sombrios


Eram dias ruins, aqueles que o Laerte vivia.
O Laerte jamais fora homem de navegar em mar de rosas. Muito antes pelo contrário. A vida do Laerte, via de regra, sempre fora mais dada a caudalosos maremotos de agruras daqui e dali do que a placidez de águas calmas, mas ainda assim, o Laerte julgava que aprendera mais com os percalços do que teria aprendido com sossego.
Para o Laerte era justo pensar que, não fossem as mazelas que experimentara enquanto crescia, hoje ele não seria o homem que era, e, a despeito de ser um homem com seus defeitos (que, vá lá, não eram poucos), o Laerte supunha ser um bom homem.
Nem sempre fora assim.
Na infância Laerte era mimado, reclamão e mal-criado. Na adolescência fora briguento, preguiçoso, relapso e quase um marginal.
Hoje?
Hoje, seus maiores defeitos talvez fossem a rabugice, o transtorno anti-social, a teimosia e a tendência a levar as coisas à ponta de faca, o que, olhando em perspectiva, era um tremendo avanço, já que baseado em seu histórico enquanto tinha sua personalidade moldada, Laerte acreditava que poderia ter terminado muito, mas muito pior.
Era olhando para si mesmo e o processo de crescimento pelo qual passara que Laerte regozijava pelos obstáculos em seu caminho. Não tivesse vivenciado os problemas com alcoolismo de seu pai, as doenças e morte em sua família, os problemas financeiros, todos os pequenos desastres aos quais ele fora exposto enquanto definia quem seria quando fosse, de fato, uma pessoa completa, e talvez Laerte fosse incapaz de valorizar o que tinha, de saber o valor do trabalho, o valor das pessoas a quem amava, as pequenas conquistas.
Não houvesse experimentado privação e derrotas, e talvez, hoje, Laerte não fosse capaz de avaliar com justeza a eventual pujança e as eventuais vitórias, por pouco que durem ou por menores que sejam, então, sim, Laerte sentia-se grato por aquela eventual privação. Por aquelas pequenas derrotas.
Mesmo que na época ele fosse incapaz de entendê-las, haviam sido presentes, dádivas que o ajudaram a melhorar em cada âmbito de sua vida.
Laerte jamais acreditou em um Deus todo-poderosos e benevolente manipulando as esquinas da vida para levá-lo ao melhor caminho.
Não.
Laerte era um incréu, fora tornado incréu, também pela vida. E também por isso agradecia.
Se realizava uma boa ação, ou mantinha reta sua conduta, não era por medo do inferno ou por almejar lugar no céu, era por achar que era melhor tentar ser bom do que aceitar a própria torpeza.
E se estivesse errado e existisse um Deus e um Céu e tudo o mais, então sua conduta, talvez, tivesse mais valia, pois nada do que ele fazia era esperando recompensa ou temendo punição.
Era um bicho simples o Laerte.
De poucas, mas sinceras virtudes, e de vários, porém honestos defeitos. E tudo isso erigido sobre um começo de vida repleto de mazelas, .
Mazelas essas pelas quais Laerte sabia ser grato.
E era a isso que Laerte se agarrava, agora.
Ele olha em volta, respira fundo, e engole em seco, na esperança que amanhã, depois, depois ou daqui a algum tempo, ele seja capaz de enxergar a sabedoria a ser extraída desses dias sombrios.
Há alguma.
Tem que haver...

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Rapidinhas do Capita


Olha que maneiro o banner fotografado por um fã em um cinema de Las Vegas, nos EUA:


A arte mostra o Homem-Aranha (Andrew Garfield) cercado pelo Rhino (Paul Giamatti) e pelo Electro (Jamie Foxx), dois antagonistas que sabidamente estariam no filme, e, surpresa, pelo vilão Duende Verde.
Qual das versões, porém, não se sabe, tanto Harry quanto Norman Osborn estarão no filme, interpretados respectivamente por Dane DeHaan e Chris Cooper, então é possível que seja tanto um quanto o outro no planador da imagem.
O filme, alardeado pelo banner como "O início da maior das batalhas" estreia em 2 de maio do ano que vem, o primeiro trailer vai estar nos cinemas com O Hobbit.

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Após hiato de quase um ano desde Felino Selvagem Psicopata e Homicida, a editora Conrad lançou mais um número das aventuras de Calvin e Haroldo, obra-prima de Bill Waterson.
Existem Tesouros em Todo o Lugar, décimo volume da saga de Calvin, o mais adorável e filosófico moleque hiperativo de seis anos e seu fiel companheiro, o tigre de pelúcia Haroldo, que age como parceiro e consciência do fedelho.
O especial de 176 páginas em formato 30 x 23 cm. custa R$47,00, e vale cada centavo investido. É daqueles quadrinhos pra gente ter sempre à mão pra poder pegar e pelo menos dar uma passada de olhos na certeza de que vai abrir um sorriso, mesmo na pior das estações.

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E a Sony registrou dois domínios relacionados a um possível filme baseado no excelente game The Last of Us.
Os domínios thelasofus-movie.com e thelastofusmovie.net mostram que a empresa japonesa quer garantir os domínios eletrônicos, mas não garante que a produtora vá transformar o game em filme (e se levarmos em conta que a série Resident Evil é da Sony, talvez seja melhor que realmente não o faça.).
Se for rolar, obviamente Ellen Page e Josh Brolin tem que começar a limpar suas agendas, pois são escolhas óbvias para os papéis de Ellie e de Joel.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Crônicas do Observador


O calor era, disparado, a pior parte do dia até ali. Daquele dia em particular. Da vida, de modo geral, o calor provavelmente não estaria nem entre as três piores coisas. Sempre havia algo pior coaxando e pulsando feito um grande batráquio onde antes estivera o coração do Observador.
Andava pra casa, ansiando por tomar um banho frio, vestir roupas confortáveis e se esparramar sob o ventilador. Em seu caminho alternativo, parou à margem da avenida de mão dupla, seis pistas, tráfego frenético, e aguardou o sinal para atravessar.
Fustigado pelo sol inclemente, percebeu o carro que parou junto ao semáforo da avenida movimentada bem sob o viaduto. Acabou intrigado pelo movimento súbito dentro do automóvel e estacou parado enquanto os demais pedestres cruzavam a rua aproveitando o sinal de andar no farol.
Enquanto os automóveis aguardavam a luz verde, a porta do automóvel, um coupé prata de marca alemã, se abriu, e um cachorro médio, um óbvio vira-lata, desses com uma cara simpática, pelo baixo e cinzento que a gente sabe que não tem serventia exceto ser um fiel companheiro, desceu, ganhando o canteiro central.
Foi estranho perceber que após o cachorro descer, mais ninguém saiu do carro. Mais estranho ainda foi perceber que após o sinal abrir, o carro arrancou e seguiu o fluxo, deixando cão para trás.
O animal, de início, não pareceu confuso.
Andou pelo canteiro por alguns metros, e então parou, olhando em volta. Por aflitivos segundos ele ficou num vai, não vai, fazendo arriscadas menções de atravessar a rua em meio ao violento trânsito de veículos do meio da tarde. Seus instintos, porém, lhe foram de valia, e ele soube esperar até que o sinal voltasse a se fechar para cruzar a avenida em direção à uma das calçadas, felizmente a mais larga, onde há um espaço gramado em frente a algumas lojas.
Ali, o cão sentou-se sobre os quartos traseiros, e ficou observando o tráfego por longos minutos.
Quinze ou vinte.
Então deitou-se no gramado, e continuou vigilante, observando a rua na perspectiva de que, quem quer que o tivesse deixado lá, fosse voltar para apanhá-lo.
Isso não aconteceu, porém. Após algumas horas, o cão finalmente se levantou, e saiu andando na direção oposta à seguida pelo automóvel, irremediavelmente sozinho.
Não vamos entrar no mérito do abandono.
O Observador sabe que esse tipo de ação de inominável baixeza é uma ocorrência de certa regularidade. Infelizmente não começa época de veraneio sem que as redes de TV noticiem a quantidade alarmante de abandono de animais em estradas e avenidas.
Apesar de sentir o sapo em seu peito dolorido pelo cão, foi outra coisa que ocupou a mente do Observador.
É lugar comum dizer que em algum momento da vida, todos nós, ou ao menos a maioria, somos esse cachorro.
Que todos nós somos abandonados e descartados em algum ponto de nossa vida e que isso infelizmente é algo pelo qual temos que passar.
Menos óbvio e infinitamente pior, é saber que em algum ponto, todos nós, ou ao menos a maioria, também já foi o ser humano miserável dentro do carro.
E que isso também é algo pelo qual temos que passar, já que ser desprezível e vil e agir de acordo parece ser a faculdade fundamental da condição humana.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A Regeneração de Reinaldo


E o Reinaldo?
O Reinaldo havia decidido que seria outra pessoa. Não era época de ano-novo, ainda, quando as pessoas fazem suas resoluções para o novo período que se inicia, mas o Reinaldo achou que uns quarenta e três dias não seriam um mau período pra laboratório.
Se ele se tornaria outra pessoa, era importante que ele ele tivesse tempo pra se habituar a esse novo "eu" já que ele não era nenhum Doctor Who, então, pra poder começar 2014 abafando com sua nova personalidade, ele precisaria de um tempinho.
A ideia deixava Reinaldo mais e mais animado. Imagine só, que beleza, poder se repaginar assim? Retomar sua vida como uma folha em branco e escolher por sua própria conta, o texto que a preencheria? Imagine só, não ser um produto de seu ambiente, mas sim uma pessoa totalmente planejada, alguém único, novo e reluzente que obrigaria seu ambiente a reproduzi-lo e adequar-se à sua personalidade?
Uau...
Isso era algo espetaculoso. Talvez ele até escrevesse um livro a esse respeito em alguns anos. Um livro de auto-ajuda ensinando as pessoas como se transformarem naquilo que queriam ser ao invés de simplesmente se conformarem com o que a vida as havia feito se tornarem.
Não.
Não, não, não.
Esse negócio de escrever era coisa do velho Reinaldo. Esse novo Reinaldo não escreveria. O novo Reinaldo até achava maneiro esse lance de capitalizar em cima das coisas, mas sem muito planejamento. Sem longo prazo, sem pensar a respeito.
O velho Reinaldo pensava. O velho Reinaldo planejava. O velho Reinaldo tergiversava a respeito de tudo. E o que foi que o velho Reinaldo conseguiu?
Nada.
Só tristeza e comiserações.
"Comiserações", não... Palavras rebuscadas eram coisas do velho Reinaldo. O novo Reinaldo não diria "comiserações" e nem "rebuscadas", o novo Reinaldo se comunicaria quase que exclusivamente através de gírias e neologismos, de preferência simples e potencialmente ofensivos.
Sim.
O novo Reinaldo seria um escroto assumido. O velho Reinaldo fazia suas cagadas, e eram muitas, mas a imensa maioria delas era não-intencional, cagadas culposas, poder-se-ia dizer.
"Poder-se-ia" o caralho.
"Dá pra dizer".
Melhor...
O novo Reinaldo não cometeria cagadas culposas, o novo Reinaldo vai foder geral, basta ter a oportunidade. Deu bobeira, o novo Reinaldo te sacaneia. Tá todo mundo fodido na do novo Reinaldo. Tem que usar chuteira pra não escorregar na malandragem do novo Reinaldo. O novo Reinaldo é mau, pega um pega geral.
Mas e os velhos amigos do Reinaldo?
Digo, do velho Reinaldo?
São em sua imensa maioria pessoas boas, gente de boa índole. Não vão gostar de conviver com um tremendo mau-caráter igual o novo Reinaldo...
Bom, paciência, o novo Reinaldo terá seus próprios amigos, totalmente independente dos antigos círculos de amizade do velho Reinaldo. Os novos amigos desse novo Reinaldo serão todos potencialmente escrotos, terão, eles próprios, a faculdade de apunhalar pelas costas. Isso forçará o novo Reinaldo a se manter alerta. A ficar esperto.
O novo Reinaldo vai fazer sexo sem sentimento.
Fazer sexo é o cacete.
O novo Reinaldo vai trepar com elas tudo. Tipo ator pornô, gozada nas teta e pá... O novo Reinaldo vai participar de bacanais, ao menos uma vez por mês o novo Reinaldo vai acordar todo dolorido em meio a um tapete de seios e nádegas, vai se levantar, tomar banho e sair e aquela foda toda não terá significado nada pra ele exceto uma oportunidade de esvaziar o saco.
O novo Reinaldo vai se permitir odiar pessoas.
Mesmo aquelas que ele tenha amado em algum momento, quando era o velho Reinaldo.
O velho Reinaldo tinha disso. Ele amava pessoas.
O que isso trouxe de bom pro velho Reinaldo e pras pessoas que o velho Reinaldo ama?
Amava...
Porra nenhuma.
Talvez o ódio do novo Reinaldo seja infinitamente mais proveitoso para essas pessoas. Talvez as ensine alguma coisa, lhes dê algo sobre a qual edificar uma nova vida de conhecimento, felicidade e paz.
Não que o novo Reinaldo ligue pra isso. O novo Reinaldo quer mais é que essas pessoas se explodam. O novo Reinaldo é escroto assim, mesmo. Vai regular o que puder regular, vai colocar empecilhos a todas as realizações que qualquer pessoa puder ter por pura inveja, por puro despeito e ressentimento.
O velho Reinaldo, não. O velho Reinaldo apoiaria incondicionalmente qualquer oportunidade de crescimento e realização que alguém que lhe é caro pudesse alcançar. Daria a maior força, bastando, para isso, saber se era o que essa pessoa realmente queria e se era vantajoso pra ela, e se fosse, o Reinaldo não teria um "ai" pra dizer em contrário, não importaria o quê.
O velho Reinaldo não era perfeito, mas a imensa maioria do tempo era bem-intencionado. Era apaixonado. Tímido. Distraído. Propenso a se magoar...
O novo Reinaldo não seria assim. Seria assumidamente pérfido. Frio. Expansivo, focado, e não vai ligar pra porra nenhuma.
É.
O novo Reinaldo assume em primeiro de janeiro.
Prepare-se Mundo.
Até lá...
Bom, até lá as pessoas podem continuar contando com o velho Reinaldo. O novo Reinaldo não poderá alterar decisões tomadas pelo antecessor.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Resenha DVD: Depois da Terra


Ah, Hollywood... Essa terra de leite e mel, de astros e estrelas, de egos inflados e seitas alucinadas... Só mesmo Hollywood e esses elementos pra cometerem algo como Depois da Terra.
Co-escrito e dirigido por M. Night Shyamalan e estrelado por Will e Jaden Smith, Depois da Terra conta a história de Kitai Raige (Smith filho), um moleque de treze anos que sonha em seguir os passos do pai, Cypher (Smith pai), e se tornar um soldado.
Kitai e Cypher vivem em uma colônia de naves estelares chamada Nova Prime, onde os seres humanos vivem mil anos após o cataclismo que ocorreu na Terra após a humanidade ter esgotado os recursos naturais do planeta.
A vida em Nova Prime não é ruim, mas também não é nenhuma maravilha. Alienígenas chamados de Ursa constantemente atacam os terráqueos, e o fazem ao sentir o cheiro do medo de suas vítimas.
É nesse cenário que, após uma longa missão, o general Raige retorna à Nova Prime para passar algum tempo com sua família e ser um pai para seu filho com quem tem uma relação conflituosa por conta da distância e do autoritarismo do militar.
Por iniciativa de sua esposa, Faia (Sophie Okonedo), Cypher e Kitai acabam juntos em uma missão para passarem algum tempo juntos, mas uma chuva de meteoros derruba sua nave no lugar mais perigoso do universo:
A Terra.
Com Cypher ferido e incapaz de se mover na nave, cabe a Kitai embarcar em uma perigosa jornada por um ambiente totalmente hostil e enviar o sinal de socorro, para tanto, ele contará apenas com a própria astúcia, e os ensinamentos de seu pai, um mestre na técnica Fantasma de ocultar o medo para equilibrar a luta com os Ursa.
Que grande bosta...
Pelos envolvidos fica até difícil justificar a bomba de proporções cataclísmicas que o filme se tornou, sério.
Eu sou um fã de Shyamalan, mas francamente não me arrependo de não ter visto esse filme no cinema.
Nada funciona em Depois da Terra. A trama ameaça engendrar por uma mensagem de preservação ambiental, flerta com o drama familiar, promete suspense, aventura e ação, mas falha miseravelmente em cumprir qualquer uma das promessas. Shyamalan nem sequer consegue estabelecer um clima de tensão nas sequências que pedem tal artifício, e isso que tensão sempre foi meio que a especialidade do indiano.
No meio disso temos um Jaden Smith que simplesmente não tem cancha pra segurar um filme nas costas e na outra ponta um Will Smith completamente inexpressivo no que talvez seja o pior trabalho de sua carreira, talvez seja até o momento de o ator repensar seu método na hora de escolher seus trabalhos. É difícil acreditar que ele recusou o papel título em Django Livre e aceitou fazer essa bobagem que não é nada exceto um manifesto pró-cientologia (aliás, será que Smith e Tom Cruise, que estrelou o meia-boca Oblivion, também esse ano, não aprenderam com John Travolta e A Reconquista?) e, segundo o ator, uma forma de ensinar Jaden sobre como sobreviver em Hollywood...
Sério.
Ele escreveu e produziu um filme pra ensinar seu filho sobre superar às armadilhas da fama.
Enfim, esse não chega a ser o fator primordial pra porcaria que é Depois da Terra, a falta de um roteiro capaz de se sustentar em si próprio, de atuações que convençam, ou mesmo de uma atmosfera imersiva é que fazem o serviço. O egocentrismo de Smith só faz a gente ficar mais antipático ao longa, mas nesse caso, nem chega a ser injustiça.
Assista quando passar na TV.

"Cada decisão que você tomar será vida ou morte. Este é um planeta em quarentena classe 1. Tudo nesse planeta evoluiu para matar humanos."

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Resenha Blu-Ray: Antes da Meia-Noite


Era 1997, e eu tinha dezesseis anos, e vivia meu primeiro coração partido (ou talvez tenha sido o segundo, ou quem sabe o terceiro? Não sei, eu vivia de coração partido na adolescência), eu jogava futebol todo o tempo em que não estava na escola, e passava as madrugadas acordado, assistindo à TV (aberta, TV a cabo era luxo pra poucos naquela época) e desenhando ou jogando videogame.
Foi numa noite assim que eu pesquei, muito ao acaso, num Corujão da Globo, Antes do Amanhecer, de 1995, e imediatamente, me identifiquei com Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), o jovem americano e a jovem francesa que saltam do trem em Viena e vivem um romance glorioso e verborrágico que dura até a manhã seguinte quando se despediram com a promessa de reencontro dali a seis meses.
Era, como eu disse, a minha adolescência. Uma época de amores platônicos e longas conversas batendo perna pelas ruas, um período de descobertas que eram celebradas como as maiores do mundo e decepções que faziam parecer que era o fim dos tempos.
A vida era um pouco como Antes do Amanhecer quando eu era adolescente.
Em 2004 não consegui assistir Antes do Pôr-do-Sol no cinema, mas aluguei o filme assim que ele foi lançado em home video.
Na sequência, novamente estrelada por Hawke e Delpy, e novamente capitaneado por Richard Linklater, soubemos o que aconteceu seis meses após os eventos do primeiro filme, soubemos que Jesse e Celine haviam amadurecido, desenvolvido um certo cinismo face à vida, que eram mais malandros e espertos para com o mundo, mas que ainda se amavam e que tinham a chance de ficar juntos, conforme o final do filme, tão aberto quanto o do primeiro, sugeria, e de novo, a vida era um pouco como Antes do Pôr-do-Sol.
Mais dez anos se passaram e esse ano, quase de supetão, Jesse e Celine voltaram ao cinema.
A trinca formada pelo diretor Richard Linklater e pelos protagonistas Delpy e Hawke que são também roteiristas do filme, apresentaram o terceiro capítulo do que é, nas palavras de Hawke, a franquia menos rentável do cinema.
Jesse e Celine ficaram juntos, como não podia deixar de ser.
Os últimos nove anos trouxeram duas gêmeas, filhas do casal, mais dois livros para Jesse, e uma inevitável rotina.
Quando os reencontramos, Jesse acaba de deixar seu filho mais velho no aeroporto, para voltar a Chicago, onde vive com sua mãe.
Eles estão terminando um período de seis semanas na Grécia, a convite de Patrick (Walter Lassaly) um escritor amigo de Jesse que junta colegas em sua casa num cenário idílico ao sul do Peloponeso.
Lá, os dois amantes deveriam aproveitar sua última noite na Grécia em um programa romântico oferecido por um casal de amigos, mas o que deveria ser uma noite de paixão em um país pitoresco, se torna uma DR violenta, cheia de ressentimento e acusações.
Jesse quer se mudar para os EUA para estar perto do filho, Celine vê isso como uma ameaça à sua independência, já que tem a oferta de um emprego no governo francês, esse é o estopim para uma longa conversa onde nós ficamos sabendo de tudo o que aconteceu na vida do casal nesses últimos nove anos. Que Jesse ainda é basicamente um garotão crescido, incapaz de ajudar nas tarefas domésticas, que Celine se ressente do sucesso literário dele, que ele coloca as próprias necessidades e ânsias acima das dela, e que ela o culpa por ter se tornado uma mãe de família ao invés de uma cidadã do mundo respirando liberdade.
Enquanto eles trocam acusações, desqualificações e comentários mordazes, a audiência prende a respiração ao perceber que aquela pode ser a última vez em que veremos Jesse e Celine, e eles estarão brigando.
Brilhante.
Linklater, Delpy e Hawke montam um cenário que faz com que a audiência se sinta como um vouyeur tarado invadindo o quarto de um casal de verdade, tamanha a química dos protagonistas, tão boa que chega a ser excessiva.
Mais do que isso, eles evoluem a história de uma maneira crível e sólida, mostrando o que acontece após o "...e eles viveram felizes para sempre." com uma sinceridade ímpar.
Muito mais cáustico e amargurado do que os dois filmes anteriores, mas sem perder o bom humor e o sarcasmo inerentes, Antes da Meia-Noite poderia ser uma pá de cal sobre a série onde Jesse e Celine conversam sem parar, mas parafraseando, enquanto Jesse e Celine conversarem, sempre haverá esperança.
Pra assistir e re-assistir ao lado da pessoa amada toda a vez que ficar em dúvida quanto aos rumos da relação.

"-Eu ferrei a minha vida inteira por causa da forma como você canta."

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Resenha Cinema: O Conselheiro do Crime


Se fosse necessário sintetizar O Conselheiro do Crime em uma frase, essa frase bem poderia ser "Eu avisei...".
O longa metragem roteirizado pelo ótimo Cormac McCarthy e dirigido pelo acima da média Ridley Scott conta a história de "Counselor" (Michael Fassbender), o "conselheiro" do título, um advogado boa pinta com um gosto por coisas belas e caras, que empolgado com o estilo de vida luxuoso de seu amigo Reiner (Javier Bardem), decide tomar parte em um negócio milionário envolvendo drogas contrabandeadas do México para os EUA pelo cartel de Juárez, um dos mais violentos do mundo.
A despeito dos alertas de Reiner e do intermediário Westray (Brad Pitt), o conselheiro se mantém firme em sua decisão de participar de um golpe (e um golpe apenas), na certeza de que as advertências de seus amigos criminosos são excessivas, e de que os riscos valem a pena para garantir seu conforto e o de Laura (Penélope Cruz), a quem acaba de pedir em casamento.
Infelizmente para o conselheiro, o negócio no qual ele tomou parte falha miseravelmente e todos os alertas que ele recebeu de seus associados provam-se verdadeiros conforme as coisas degringolam por completo, lançando sua vida perfeita de sexo, drinques e viagens à Europa para comprar diamantes na privada, pois o Cartel demanda sangue.
Não é ruim, O Conselheiro do Crime, embora o filme obviamente seja mais um conto moral do que uma história.
É muito mais importante para o roteiro de Cormac McCarthy estabelecer a relação entre o ato ilícito e a punição que o segue do que as relações entre os personagens, ou mesmo entre os personagens e a audiência.
As conexões entre os protagonistas são todas rasas, meramente profissionais. "Se um amigo é alguém disposto a morrer por você, então você não tem amigos", é a tônica das relações existentes no longa, e, como o caminho do conselheiro fica óbvio desde o primeiro discurso do filme (e são váááááários discursos), não há muito a se fazer na cadeira do cinema exceto aguardar o desfecho trágico como se estivéssemos vendo um snuff movie e nos tornando cúmplices de assassinato, seguindo a lógica de Westray.
Essa falta de conexão entre os personagens e entre os personagens e a audiência talvez seja o ponto mais baixo de O Conselheiro do Crime, isso se formos capazes de relevar o fato de que é um thriller sem suspense, e mais os discursos cheios de floreios e rebuscamento que o protagonista ouve cada vez que pergunta a alguém o que deve fazer. Fassbender é talentoso e se esforça, mas a certa altura não dá mais pra aguentar o conselheiro sendo aconselhado e fazendo cara de desespero.
De pontos altos, há as atuações de Bardem, sólida como sempre apesar da função indecifrável de seu personagem ao roteiro, e de Cameron Diaz.
A ex-pantera, aliás, apesar de estar embarangando a olhos vistos conforme os anos passam demonstra talento na pele de Malkina, praticamente uma versão platinada, brega e sexy do Coringa, uma autêntica agente do caos no que talvez seja a melhor atuação da carreira da loira.
O Conselheiro do Crime não tem o brilho e o peso de outros policiais de fronteira como Onde os Fracos Não Têm Vez, baseado em um livro do próprio McCarthy, mas não chega a ser mau filme, sem mastigar a trama, ou tratar o espectador como idiota, o longa abraça um ritmo lento, quase monótono, um vocabulário rebuscado e cheio de metáforas, e estabelece o ensaio sobre desejo e ganância, onde os personagens ou a reação da audiência a eles simplesmente não importam, mas, se nada importa, então pra quê ver o filme?

"-Você sabe por que Jesus não nasceu no México?
-Por que?
-Porque não puderam encontrar três homens sábios e uma virgem."

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Quadrinhos: Planetary - Pelo Mundo


Tá aqui uma HQ que nunca recebeu o tratamento merecido no Brasil, ou, ao menos que jamais recebeu o tratamento merecido pelo tempo necessário no Brasil.
Planetary, talvez o maior trabalho da carreira de Warren Ellis é desses gibis pra ler de joelhos agradecendo aos deuses por nem tudo que saiu nos anos 2000 ser tão cínico e surtado quanto (As ótimas) Transmetropolitan ou Auhtority.
Na trama de Planetary, a organização título forma grupos de três super humanos que não são combatentes do mal, nem guardiões da Terra, mas arqueólogos.
Sim. Arqueólogos.
A equipe, auto-intitulada "Os Arqueólogos do Impossível", é formada por Elijah Snow, um homem de gelo de cem anos de idade, Jakita Wagner, uma mulher virtualmente indestrutível, capaz de chutar um rinoceronte sobre o Grand Canyon e O Baterista, um demente capaz de conversar com máquinas, juntos, eles são financiados pelo misteriosos "Quarto Homem de Planetary", um anônimo mais rico que Deus e que, segundo Jakita, pode ser tanto Adolph Hitler quanto Bill Gates.
Com todo o suporte da organização Planetary, Elijah, Jakita e o Batera devem vasculhar o planeta buscando pela História secreta do mundo, uma História repleta de passagens obscuras e estranhas, como supercomputadores criados por um grupo de heróis da década de 40, ilhas radioativas na Ásia repletas de carcaças de kaiju e espíritos de vingança.
Tudo familiar aos nerds de plantão, não é?
Exatamente.
Planetary é praticamente uma revisão do século XX nos quadrinhos e na cultura pop em geral. Todos os casos estudados pelo Planetary trazem um olhar sobre alguma faceta do entretenimento geek ao longo dos anos do século passado mostrando como seria se um grupo de super-seres modernosos da Wildstorm fossem descobrindo, um pedacinho por vez, o quebra cabeça dos gêneros de gibis do século XX (personagens da Marvel, da DC, dos quadrinhos pulp) habitando em segredo dentro de um mesmo mundo.
Warren Ellis escreveu um estudo sobre a nona arte em forma de uma genial história em quadrinhos brilhantemente ilustrada por John Cassaday (Da Surpreendentes X-Men de Joss Whedon), que presta homenagens à História, sem jamais perder de vista o foco em sua própria história.
No Brasil, essa joia passou pelas mãos de Pandora Books, Devir e Pixel Media, mas nenhuma das três editoras jamais concluiu a publicação das 27 edições de Planetary, agora a Panini promete remediar essa injustiça lançando quatro encadernados com cerca de 114 a 160 páginas por edição.
O primeiro volume, Pelo Mundo, Todo mostra a formação da atual versão da Planetary, e as primeiras missões de Snow com Jakita e O Baterista, é excelente e dá o tom da série que é mantido e só melhora nas edições por vir.
Quadrinho da melhor qualidade feito pra quem ama quadrinhos.
Capa em papel cartão, papel LWC no miolo e preço módico de R$ 21,90 só não é perfeito pois carece das notas que a Devir colocava no final dos volumes explicando algumas das referências mais obscuras das histórias da edição, ainda assim, é obrigatório na estante de qualquer nerd que se preze.

"-Eu tenho um emprego para você. Ele paga um milhão de dólares por ano pelo resto de sua vida, não importa por quanto tempo trabalhe para nós, não importa por quanto tempo sua vida ainda dure."

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Resenha Game: Call of Duty - Ghosts


Em algum momento teria que acontecer.
Até mesmo o pessoal da Activision, da Treyarch da Infinity Ward e da Raven sabia que isso inevitavelmente aconteceria.
Era líquido e certo que, em algum ponto, eles iriam errar a mão, ou então, acabariam por esgotar uma fórmula chupinhada à tamanha exaustão que simplesmente inventar um par de alegorias novas pro multi player online já não seria um atrativo tão espetaculoso, e um game da série Call of Duty simplesmente não seria tão legal.
Call of Duty - Ghosts, é esse game.
O modo campanha de CoD - Ghosts apresenta uma história totalmente independente dos demais games da franquia, em um futuro próximo, uma força militar conhecida como A Federação emerge da América do Sul levando caos aos quatro cantos do mundo e alterando a balança de poder do planeta.
Essa força destrutiva e perversa eventualmente rompe uma trégua com os EUA e, invade uma estação espacial tomando armamento orbital norte-americano conhecido como ODIN e lançando um ataque cinético contra os EUA.
O resultado da formidável ofensiva lança metade dos Estados Unidos de volta à idade das trevas, acabando com o domínio norte-americano.
Por dez anos as forças armadas dos EUA lutam contra invasões da Federação contando com a ajuda de um grupo de elite fodelão de quem todo mundo se caga de medo, os Ghosts.
Como jogador, tu está no comando de Logan, que junto com seu irmão Hesh, seu pai, Elias e o cachorro Riley, enfrenta as forças da Federação e se junta aos Ghosts para tentar impedir o colapso absoluto dos Estados Unidos.
Eu sei, eu sei, mas apesar de meio excessiva, a premissa não é ruim. Na verdade é até interessante, o roteiro de Stephen Gaghan (De Traffic, Garotas sem Rumo e Syriana - A Indústria do Petróleo) lembra um pouco uma mistura de Tom Clancy com Roland Emmerich (influência que fica óbvia nas absurdas cenas de destruição em massa), e na teoria, apresentaria uma interessante virada no gameplay habitual de CoD, afinal, ao invés de ser um soldado do exército mais bem-aparelhado do mundo, o jogador seria um guerrilheiro criativo e sinistro lutando nas trevas para tocar o horror nos inimigos.
Infelizmente isso não se comprova, o jogador ainda tem acesso às armas mais fodas, aos veículos mais sensacionais, à extrações aéreas de último minuto, e engenhocas de última geração que dão aquela mãozinha esperta quando o cinto aperta e a vergonha afrouxa.
As poucas novidades do single player resumem-se a uma sequência bacana (E curta) de tiroteio em gravidade zero, no espaço, uma ótima sequência que se passa toda embaixo d'água, e, a mais maneira (e mal-aproveitada) de todas, o cão Riley, que pode se arrastar pela grama e massacrar os inimigos ao pegá-los de surpresa e retalhar-lhes a jugular.


Infelizmente são poucas as missões em que o jogador pode controlar Riley, e elas são restritas a pontos específicos do game, que, a despeito da promessa de fodelança e criatividade, permanece sendo basicamente uma sequência de missões onde se seguem ordens.
Pra piorar, a jogabilidade parece ter regredido, lembrando muito mais Modern Warfare 1 do que Modern Warfare 3, os gráficos também não são, nem de longe os melhores da série, levam uma surra de MW3, dando a impressão de que, na ânsia por preparar as versões de PS4 e XONE, a desenvolvedora deu umas barrigadas enquanto acabava os games da geração atual, isso acaba sendo compensado, porém, com a criatividade dos cenários.
A ambientação de cenário destruído e Terra de Ninguém, de CoD - Ghosts é muito maneira. Claro, quem já jogou outros jogos da série já viu mil bases militares ocultas em montanhas nevadas e perdeu as contas de quantas cidades em ruínas já ajudou a destruir mais um pouco, ainda assim, trocar tiros com inimigos no interior de um estádio parcialmente demolido, em um subúrbio californiano sendo sugado por uma cratera ou em águas infestadas de tubarões é um respiro maneiro em termos de ambientação.
Óbvio que o fator diversão está todo lá. É preciso ser um coxinha sem espinha pra não se divertir jogando CoD, por mais que seja uma sucessão de repetições (Tu sabe, siga o líder de um objetivo ao próximo, fazendo o que te mandaram fazer), funcionou por cinco ou seis games e continua funcionando, embora o dèja-vú vá se tornando mais e mais forte a cada jogo.
O multi player tenta oferecer algum respiro com modos novos, nenhum particularmente memorável, embora o Infected seja bacana, com os players evitando se tornarem zumbis, e o Grind, que obriga o jogador a apanhar a identificação do alvo eliminado, o que desencoraja aquele seu amigo calhorda que se enfia num ninho de sniper e fica lá ferrando todo mundo, valham alguma coisa.
O Extinction é um jogo cooperativo onde se enfrenta aliens e é chato pra cacete.
Ah, tiro de minigun no pé.
Na versão nacional do game, é impossível jogar com a dublagem em inglês.
Uma lástima, já que o game original conta com vozes de Stephen Lang e Brandon Routh, e a versão nacional, única disponível no game, é um lixo, com vozes ruins e dublagem mal sincronizada. É demais sonhar com uma atualização que permita jogar o game com as vozes originais?
No fim das contas, Call of Duty - Ghosts é um game que padece da zona de conforto dos desenvolvedores, é mais do mesmo do início ao fim, menos mal que é mais de alguma coisa boa e comprovada, que ainda diverte. Fica de negativo a falha em oferecer aquela sensação de luta de guerrilha que foi prometida, mas enfim, vamos esperar que, na nova geração, Call of Duty tenha colhões pra inovar, por hora, feliz da franquia que, mesmo decepcionando, ainda consegue entregar um game bonito e divertido.

"Quando a areia e a poeira baixaram, apenas um dos inimigos havia sobrevivido. Ele foi encontrado vagando sem rumo no deserto, traumatizado. Ele alertava aos outros sobre uma força tão ameaçadora e imbatível, que apenas podia ser descrita como sobrenatural. Ele os chamava de Fantasmas..."

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Resenha Cinema: Capitão Phillips


Paul Greengrass, é muito bom cineasta. O britânico que botou a cara no mainstream com A Supremacia Bourne, de 2004, e de lá pra cá, fez Voo United 93, O Ultimato Bourne e Zona Verde andava parado desde o lançamento desse último, em 2010.
Confesso que andava com saudade da câmera tremida que nunca perde a ação do inglês de 58 anos, de modo que assim que estreou Capitão Phillips, na sexta-feira, eu já estava na ponta dos cascos pra ver o filme.
Dei um tempo no meu Call of Duty - Ghosts, e no meu Calvin & Haroldo e toquei pro cinema pra conferir o filme, adaptação do livro "A Captain's Duty - Somali Pirates, Navy SEALS, and Dangerous Days at Sea", de Richard Phillips, que, em 2009, teve seu navio cargueiro, o Maersk Alabama, sequestrado por piratas somalis na costa da África.
Capitão Phillips começa estabelecendo paradoxos entre seus protagonistas.
Richard Phillips (Tom Hanks) aparece em uma casa confortável nos subúrbios de uma cidade nos Estados Unidos preparando-se para sua viagem. O capitão responde e-mails, apanha a foto da família, dá uma olhada em mapas, guarda tudo na sua mochila e dirige com sua esposa até o aeroporto enquanto fala sobre as incertezas profissionais que o futuro reserva a seu filho mais novo se ele não começar a levar os estudos a sério.
Enquanto isso, em um barraco de papelão e telhas numa praia da Somália, Muse (Barkhad Abdi) é acordado por um moleque pois está começando a convocação de quem vai ao mar naquele dia. Muse apanha seu AK-47 e vai para a beira d'água escolher uma tripulação entre as dezenas de homens subnutridos dispostos a sequestrar um navio naquele dia.
Essas duas sequências de apresentação do início do longa, que estabelecem as personas de Phillips e Muse, e as diferenças entre as realidades distintas em que ambos existem dão a tônica do filme.
Enquanto Phillips transita em um mundo de controle, normas e paciência em que regula até a pausa do café de sua tripulação, Muse tenta conseguir um motor para seu bote de abordagem usando como argumento uma chave inglesa. Esses dois mundos tão diversos colidem quando Muse e outros três piratas estabelecem o Maersk Alabama como alvo e investem contra o navio subindo a bordo. Desse momento em diante, todo o libelo contra a globalização e o capitalismo caem para o segundo plano conforme a tensão domina o filme, que se torna um jogo de xadrez entre Phillips e Muse, que se veem como dois meros peões em um tabuleiro de proporções abissais quando o efeito dominó do sequestro coloca as forças armadas dos EUA em movimento.
É excelente.
Greengrass está em seu habitat natural quando conta histórias repletas de tensão e ação usando o cunho político como plano de fundo, e acerta a mão em Capitão Phillips ao contar uma história repleta de ameaça e violência sem esquecer do fator humano e das circunstâncias que levam as pessoas a determinados cursos de ação.
Quando Phillips diz que deve haver algo que um homem possa fazer além de ser pirata e pescar, e Muse responde que talvez seja o caso na América, mas não na Somália, nós acreditamos.
Muito dessa credibilidade vem do elenco, que poderia ser reduzido a dois nomes, Barkhad Abdi e Tom Hanks.
O ator somali que trabalhava como chofer e não tinha nenhuma experiência como ator até ganhar o papel no filme dá show. Com sua silhueta esquelética, dentes proeminentes e expressão amortecida o africano se estabelece com naturalidade como antítese dos gorduchos americanos da tripulação do Maersk, e uma surpreendente nêmese de Phillips, ao atuar de igual pra igual com um Tom Hanks na sua melhor forma em anos.
Hanks, aliás, deveria se envergonhar de fazer bobagens como Larry Crowne e O Código Da Vinci e se concentrar em ser o ator que ele pode ser, exatamente como faz ao longo de Capitão Phillips, em especial nos quinze minutos finais, quando literalmente some dentro do desespero da situação em que seu personagem se encontra.
Em suma, puta filme, assista no cinema.

"-Ouçam todos. Nós fomos abordados por piratas armados. Se eles os encontrarem, lembrem-se, vocês conhecem esse navio, eles, não. Fiquem juntos e tudo dará certo. Boa sorte."

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Resenha Cinema: Os Suspeitos


Quarta de noite, sabendo que não existe necessidade de secar o co-irmão em partidas decisivas, resolvi ir ao cinema. Entre pegar uma pré-estréia de Capitão Phillips ou assistir de novo a Thor - O Mundo Sombrio, encontro uma sessão desse Os Suspeitos dando mole no Cinemark.
Fã de filmes de Hugh Jackman e de Jake Gyllenhaal, bora tocar pro cinema e conferir o longa.
Os Suspeitos (Prisoners "prisioneiros", no original, que faz muito mais sentido) mostra Keller Dover (Jackman), um carpinteiro de Boston que leva uma vida pacata ao lado da esposa Grace (Maria Bello, acabada), do filho Ralph (Dylan Minnete) e da filhinha Anna (Erin Gerasimovich).
Durante um antar de ação de graças na casa onde vivem seus amigos, Franklin e Nancy Birch (Terrence Howard e Viola Davis) e suas duas filhas, Eliza e Joy (Zoe Soul e Kyla Simmons), as filhas mais jovens das duas famílias desaparecem.
A única pista do paradeiro de Anna e Joy é um velho trailer que estava estacionado na rua mais cedo.
A polícia é imediatamente acionada e começa a investigar o caso, e em poucas horas o detetive Loki (Gyllenhaal) prende o dono do trailer, Alex Jones (Paul Dano), mas sem provas é forçado a liberá-lo.
Conforme Loki começa a seguir múltiplas pistas, literalmente batendo à porta de todos os criminosos sexuais da região, Keller percebe o tempo correndo, e vendo a possibilidade de encontrar Anna cada vez mais remota, decide que precisa agir se não quiser perder sua filha, e para tê-la de volta, vai fazer o que for necessário, mesmo que seja uma atrocidade.
É ótimo, daqueles filmes de revirar o estômago.
O roteiro de Aaron Guzikowski, o mesmo escritor responsável pela porcaria Contrabando, é tenso tanto psicológica quanto fisicamente, e a direção de Denis Villeneuve aproveita tudo o que o texto tem de melhor dando vazão a seus elementos sob uma atmosfera opressiva e cinzenta digna de um tenso faroeste urbano.
As duas horas e meia de filme se justificam, desenvolvem os personagens centrais, Keller e Loki, com mais afinco, o que não é nenhuma injustiça, os personagens são trabalhos soberbos de Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal, dos melhores das carreiras de ambos, mas não tiram as luzes de quem tem a oferecer, e Terrence Howard, Paul Dano, Viola Davis e Maria Bello, têm muito a oferecer no desenrolar da história.
Além de saber aproveitar os personagens e seus dilemas, a parte investigativa da trama é sólida, com pistas encontradas em cada ponto da trajetória de Loki, obrigando o espectador a ficar na ponta da cadeira e roendo as unhas conforme são encontradas.
O elenco de vencedores e indicados ao Oscar por todos os lados (que conta ainda com a ótima Melissa Leo) segura a peteca com louvor em uma trama onde a investigação prende a atenção, mas onde seu efeito sobre os investigadores é o prato principal.
Obrigatório, corra pra ver no cinema.

"-Reze pelo melhor. Prepare-se para o pior."

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Voto de Confiança


É medo.
Sempre foi.
Sempre, sem exceção.
Medo puro. Em estado bruto. Amarelo feito o anel do Sinestro.
Por mais que doa admitir, essa era a explicação o tempo todo. Medo.
Claro, não havia sido desde o início. No início era pura vontade. Entusiasmo. Empolgação. Era tudo de bom. Tudo de melhor. Mas a certa altura, deixou de ser só isso. Surgiram os percalços, e a desconfiança apareceu.
Por que?
Porque é uma coisa muito grave dizer que se ama alguém.
Muito, muito grave.
Tu dá um tipo de poder à pessoa que ouve isso, que é... Olha, é sobrenatural.
Tu dá à essa pessoa uma carta branca pra te magoar. O botão vermelho pra destruir a tua vida. E, meu Deus, talvez essa pessoa jamais faça isso. Talvez essa pessoa não esteja remotamente interessada em acabar com a tua vida, mas ainda assim, ela pode.
Então, dizer "eu te amo" é um voto de confiança ímpar.
E se a pessoa que se torna fiadora de voto tão sério, mesmo que inadvertidamente, trair essa confiança, mesmo se por acidente, mesmo se com a melhor das intenções, coisas podem se quebrar pelo caminho.
"Trair a confiança", soa grave, parece crime hediondo premeditado.
Não.
Não é assim.
Pode ser uma bobagem. Um escorregão. Uma atitude mal pensada. E é assim de parte à parte. Não é uma bobagem como andar paquerando por aí. Não era ser paquerada, também. Quando se confia em uma pessoa pra ser fiadora de tuas afeições, se confia nela o suficiente pra acreditar que, se o pior acontecer, e as disposições dela mudarem, ela terá consideração o suficiente pra te contar.
Isso é bobagem. Acontece.
A quebra de confiança de verdade, é quando uma pessoa que tem o poder de te magoar, acaba te magoando, e te magoando de novo.
E mesmo que tu saiba que ela não tem intenção, que nunca foi o que ela queria, tu te pega refugando.
Tu te flagra desconfiado.
Com medo.
E aí tu começa a andar pra trás. Com medo de se ferir, tu se afasta. Tu anda pra trás, mesmo querendo andar pra frente.
É um lance de auto-preservação, saca?
Porque , por mais frio que esteja, é instintivo tirar a mão de perto do fogo quando a dor da queimadura ainda está fresca na memória.
Não é rancor.
Não é tristeza e tristeza, apenas.
É medo. Sempre foi.
Sempre, sem exceção.
Medo puro. Em estado bruto. Amarelo feito o anel do Sinestro.
Medo de estar fazendo de menos. Medo de estar fazendo demais. Medo de não ser o suficiente.
Só medo.
Medo de ouvir que em certas ocasiões tu precisaria estar à porta de quem tu ama, e ao responder que a tua necessidade, eventualmente seria exatamente o oposto, destruir algo.
Medo de, ao ser tu mesmo, causar mais mal do que bem.
Medo de não saber amar direito.
Medo de ser o responsável pela própria tragédia...
Medo.
Medo, apenas.
Medo puro. Em estado bruto. Amarelo feito o anel do Sinestro.
E mais nada.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Resenha Cinema: Thor - O Mundo Sombrio


Thor, de 2011, era um filme de origem bastante satisfatório.
O longa dirigido por Kenneth Branagh e estrelado por Chris Hemsworth, Natalie Portman, Anthony Hopkins e Tom Hiddleston era divertido, bem-intencionado e honesto, e embora sofresse de um problema recorrente aos filmes da Marvel, a pressa em fazer a história caber em duas horas de projeção, ou menos, funcionava a contento. Era, afinal, a fase um do Universo Marvel Cinemático, e parecia que, depois de Homem de Ferro, o importante era apresentar os personagens e preparar o terreno para Os Vingadores.
Ainda assim, Thor, que custou 150 milhões de dólares, faturou quase 450 milhões, e depois do estrondoso sucesso de Os Vingadores, era óbvio que o Deus do Trovão retornaria.
Quando as notícias sobre Thor 2 começaram a surgir, a melhor de todas era o nome do diretor, Alan Taylor.
O cineasta, cheio de trabalhos para a TV no currículo, tinha um trunfo de abrir sorriso de fanboy:
Era um dos diretores de Game of Thrones, da HBO.
Se Kenneth Branagh prometia por conta da formação Shakespeariana, todo mundo ficava meio assim de ver o britânico no comando de uma adaptação de gibi, com Taylor, porém, a promessa era um realizador acostumado a adaptações regadas a sangue, ação e drama. Ele podia ser o sujeito que deixaria Thor menos dourado e lustroso do que fora o primeiro filme.
O elenco principal do primeiro longa voltou, inteiro. Inclusive com a gatinha Kat Dennings como a enjoadinha Darcy Lewis, e Stellan Skarsgaard como o doutor Eric Selvig, o núcleo asgardiano, também. Rene Russo como Frigga, Idris Elba como Heimdall, Ray Stevenson como Volstagg, Tadanobu Asano no papel de Hogun, e Zachary Levy substituindo Josh Dallas como Fandral, além da gatíssima Jamie Alexander como Sif.
A eles juntaram-se Christopher Eccleston, de Cova Rasa, que seria o senhor dos elfos negros, Malekith, o maldito, e Adewale Akinnuoye-Agbaje, o ator de nome impronunciável de Lost viveria Algrim, o maior guerreiro do povo de Svartalfheim.
O lance, então, era esperar o lançamento do longa, que, como de praxe pros estúdios Marvel, estrearia no Brasil antes dos EUA.
Sexta conferi o longa, e posso dizer, sem medo de errar, que Thor - O Mundo Sombrio é divertidíssimo.
No longa, após os eventos de Os Vingadores, Loki é aprisionado por Odin em uma masmorra onde deverá permanecer pelo resto da eternidade como punição por seus crimes em Thor e Os Vingadores.
Enquanto isso, Thor viaja pelos nove reinos consertando a bagunça que a destruição da Bifrost causou e devolvendo a ordem de Asgard aos mundos da Yggdrasil entre uma batalha e outra.
Ao mesmo tempo, na Terra, Jane Foster e Darcy Lewis, dando sequência a seu trabalho em Londres, encontram anomalias dimensionais relacionadas às pontes Einstein-Rose que elas vinham estudando. Tragada por uma dessas anomalias, Jane inadvertidamente penetra em um cofre secreto asgardiano em uma dimensão paralela, onde é exposta ao Éter, a arma primordial dos elfos negros.
O contato de Jane com a substância desperta os remanescentes do povo de Svartalfheim, hibernando a milênios após sua última derrota nas mãos de Bor, pai de Odin.
Liderados por Malekith, o maldito, e por Algrim, seu braço direito, os Elfos Negros viajam pelo espaço procurando por Jane, que acometida pela influência do Éter é levada a Asgard por Thor, e a presença da jovem atrai Malekith e seu séquito ao Reino Eterno, onde mesmo o poder dos deuses nórdicos pode ser insuficiente para deter os elfos negros e impedi-los de devolver o universo às trevas, o que leva Thor a firmar uma frágil aliança com seu meio-irmão Loki, e tentar levar a guerra ao reino dos elfos negros e derrotá-los lá, em uma aposta arriscada que pode custar todo o universo.
Divertidíssimo é pouco para definir Thor - O Mundo Sombrio.
O longa se encontra em termos de tom e ritmo, há drama, ação e humor, e nada se sobrepõe. As piadas são engraçadas, mas não cortam o clima do drama, que é tocante, e que não se sobrepõe à ação, que empolga.
A espantosa e colorida mistura de referências e estilos do filme, com elfos negros que viajam pelo espaço em naves furtivas e disparam armas laser enfrentando deuses nórdicos com espadas e martelos mágicos que viajam por dimensões gélidas com monstros gigantes e vêm à Terra onde encontram cientistas e astrofísicos tentando explicar a tecnologia/magia dos nove reinos é de encher os olhos.
Alan Taylor e os roteiristas Christopher Yost, Christopher Markus, Stephen McFeely, Don Payne e Robert Rodat criam um universo surtado (no bom sentido) para Thor e os deuses nórdicos trafegarem sem contradizerem o universo estabelecido no restante do Universo Cinemático do Marvel Studios.
Pra melhorar, alia-se a essa ambientação monstruosa e à uma história que, mesmo com eventuais furos, é bem construída o bastante pra prender a audiência na cadeira, um elenco acima da média.
Chris Hemsworth melhorou com relação ao primeiro Thor, e com mais tempo em parece mais solto no papel de Thor, Natalie Portman mantém sua boa média, e Anthony Hopkins segue cheio de presença na pele de Odin. Malekith e Algrim não são exatamente papéis que tenham espaço para Eccleston e Agbaje mostrarem dotes artísticos, mas quem liga quando Tom Hiddleston está no filme?
O ator inglês rouba todas as suas cenas, tem as melhores frases de efeito, parece se divertir mais que todo mundo, e se não saísse de cena de vez em quando, não apareceria mais ninguém.
Corrigindo erros do primeiro longa e aumentando exponencialmente o escopo da ação, Thor - O Mundo Sombrio mostra que nem só de Homem de Ferro e Vingadores vivem os estúdios Marvel, e que a fase 2 da casa das ideias nas telonas tem cartuchos pra queimar que vão muito além de preparar o terreno para Os Vingadores 2.
Fique até o final dos créditos. Há duas cenas bônus, a primeira delas preparando o terreno para Guardiões da Galáxia.

"-Você deve estar muito desesperado para vir a mim em busca de ajuda.
-Saiba que se você me trair, eu o matarei.
-Quando começamos?"

Quadrinhos: Kick-Ass 2


Foi na sexta-feira, depois de já ter assistido à adaptação cinematográfica, que finalmente encontrei o encadernado Kick-Ass 2, de Mark Millar e John Romita Jr. pra vender.
Após o sucesso de Kick-Ass, de 2008, que recebeu críticas muito positivas e gerou um longa metragem cinematográfico de sucesso em 2010, era óbvio que Mark Millar, que não dá ponto sem nó, estava louco pra dar sequência ao final aberto da sua mini-série.
Essa Kick-Ass 2, dá sequência tanto ao quadrinho de 2008 quanto à mini-intermediária, Hit-Girl, ambas já publicadas no Brasil e comentadas aqui na Casa do Capita.
Em Kick-Ass 2, Dave Lizewski toca seu treinamento com Mindy Macready visando se tornar um vigilante mais eficaz enquanto Chris Genovese, o ex-Red Mist, após se cansar de ser explorado por charlatões que prometiam ser capazes de torná-lo um Batman do mal, resolve usar a grana de sua família para contratar capangas especializados que possam cometer atrocidades em seu nome buscando vingança contra Kick-Ass e a Hit-Girl, responsáveis pela morte de seu pai.
Infelizmente para Dave, Mindy é forçada por seu padrasto, Marcus, e pela saúde mental debilitada de sua mãe, a colocar de lado toda e qualquer relação com sua vida de vigilante, incluindo aí os treinamentos de Dave, que se vê novamente por conta própria.
Pelo manos até contatar o Doutor Gravidade na internet, e se unir a ele e outros super-heróis da vida real, o Coronel Estrelas e o Tenente Listras, a dupla Lembrem-se de Tommy, o Batalheiro, a Night Bitch, e o Homem-Inseto e formar a Justiça Eterna, o primeiro super-grupo do mundo.
O problema é que, conforme os atos da Justiça Eterna escalam de dar sopa aos pobres e apanhar ladrões de bolsa nas ruas para fechar prostíbulos e atacar a máfia, o mesmo ocorre com Chris Genovese, que abandona a identidade de Red Mist para se tornar o Motherfucker, e aliado aos seus supervilões, o Tumor, Genghis-Carnage, e Mãe-Rússia, e literalmente toca o horror tanto para atrair a atenção de Kick-Ass e Hit-Girl, quanto para conspurcar o sonho de super-heróis da vida real.
Os atos odiosos do Motherfucker fazem com que a polícia feche o cerco contra todos os mascarados, incluindo Kick-Ass e seus colegas de Justiça Eterna, que precisam lidar tanto com as forças da lei quanto com a Liga do Mal, que coloca os super-heróis na alça de mira.
Nessa situação desesperadora, a Hit-Girl pode ser a grande trunfo dos super-heróis, mas presa à sua promessa ela permanece se abstendo da vida heroica, o que pode significar o fim da iniciativa heroica da vida-real.
Comparado ao filme ao qual deu origem, Kick-Ass 2 é bastante fiel, em geral, o longa metragem tratou apenas de reduzir o banho de sangue e amainar a crueldade do Motherfucker fazendo algumas piadas com situações que, no quadrinho, ficam mais brutais.
Mark Millar não tem lá muita noção de limite em Kick-Ass e Hit-Girl, que são quadrinhos quase gore, tamanha a quantidade de sangue, tripas e gosma que mostram, esse, porém, não chega a ser o verdadeiro problema do quadrinho.
Enquanto no filme o diretor e roteirista Jeff Wadlow deu um tapinha aqui e ali para mostrar uma trama onde os personagens amadureciam e enfrentavam novos problemas além da identidade secreta (Talvez um recurso obrigatório, já que Chloe Moretz já se tornou uma adolescente e Aaron Johnson não tem mais tanta cara de menino), no quadrinho tudo gira em torno unicamente da vingança de Motherfucker e de como Dave e seus novos colegas lidam com ela.
Some um pouco daquela sensação da empolgação de ser um super-herói de verdade, e surge um grande acerto de contas que é praticamente uma briga de gangues, dando a sensação de que Kick-Ass 2 foi escrita às pressas para que o filme pudesse ser produzido e Millar enchesse os bolsos de dinheiro.
O roteiro do escocês é cheio de vícios, e embora seja divertido em certos pontos, em outros é simplesmente maçante. Os desenhos de John Romita Jr. seguem ótimos, exalando movimento em cada quadro, a arte-final de Tom Palmer é muito boa, e as cores de Dean White, apesar de meio escurecidas, dão o recado.
Em suma Kick-Ass 2 não é boa como o original, e certamente não encosta no filme, bem superior, apesar disso, tem um final sombro interessante, que deixa a porta aberta pra uma terceira parte que pode se justificar se der origem a um filme tão bacana quanto Kick Ass 2.
O encadernado de capa dura com verniz localizado, papel esperto no miolo e duzentas e doze páginas custa R$56,00, e só vale o investimento se tu for um fã muito declarado.

"-Senhoras e senhores, obrigada pelo apoio, foi uma honra servi-los"

Paz


Foram os estertores de morte do cachorro...
Foi aquele som, entre um latido e um ganido, alto, repleto de desespero e dor... Foi aquilo. Foi o som de uma criatura que era toda pelo, dente e entusiasmo, e que subitamente se viu parcialmente esmagada sob a borracha rude do pneu de um carro qualquer, e não tinha nenhuma compreensão do que estava acontecendo, exceto da dor, e por isso berrava em um lamento tão alto que ecoou pelas ruas adjacentes do Centro.
Foi aquele som.
A situação daquele pobre animal, que poderia ter sido o melhor amigo de alguém, mas que agora estava ali, jazendo numa poça de seu próprio sangue, sentido o cheiro das próprias entranhas no asfalto, e sem saber como ou por que aquilo acontecia, gritava.
Aquele som, a situação daquele cachorro, foi aquilo que o despedaçou.
Foi aquilo que o fez correr para o banheiro, fechar a porta e cobrir a boca em pânico. E ainda que ele lutasse para evitar, fez com que lágrimas lhe escorressem olhos abaixo a ponto de ensopar-lhe a barba.
Sentado no chão, com as costas apoiadas na porta fechada, ele segurava o rosto ordenando a si mesmo que parasse de chorar, mas era inútil. Mesmo lá ele podia ouvir o cachorro agonizando.
Agarrou os cabelos da lateral da cabeça, e os puxou com força, alguns se arrebentaram, outros foram arrancados junto à raiz, doeu, fez sua respiração se tornar mais profunda e pesada, mas não o fez parar de chorar.
-Para... Para de chorar...
Não parou. As lágrimas seguiam vertendo. A respiração ameaçava virar um soluço, os olhos doíam, e o nariz ardia.
O cachorro continuava ladrando, alto, compassado, carregado de angústia. Ele pensou em se levantar e ir até lá fora ver, mas faltou-lhe coragem. Amaldiçoou a própria covardia. Descobriu a boca, ainda chorava.
-Para de chorar. - Ordenou.
Não parou. Segurou o rosto entre as mãos.
Ainda chorava.
-Tu tá sozinho... Para.
Ouvia o cão.
As coisas se empilhavam.
Doença, morte, tudo, ele estava sozinho.
Quase pôde ver o médico com uma das mãos no bolso enquanto, com a outra, alisava seu jaleco.
"Quem mexer no meu jaleco leva um peteleco"...
Não, o médico jamais dissera aquilo. Falara em tumor. Falara em quimioterapia e em radioterapia.
O cão de novo.
O ganido tornou-se um uivo.
Aquele som arrancou-lhe a alma.
Partiu-lhe o coração.
-Para de chorar. - Ordenou de novo. E de novo.
-Para. - Desferiu um tapa no próprio rosto.
-Para de chorar.
Outro tapa.
-Para.
Mais um.
-Para.
De novo.
-Ela disse que tava pronta pra seguir em frente e seguiu, desgraçado.
Novo tapa.
-Para... de... chorar...
Cobriu os ouvidos com as mãos, fechou os olhos com força. As lágrimas se acumularam dentro das pálpebras, fazendo seus olhos arderem.
-Para de chorar.
O cão silenciou. Ele ergueu os olhos dentro do banheiro, e descobriu os ouvidos, percebendo o silêncio... Havia acabado. Tudo estava acabado. Sentiu algum alívio. Aquilo era paz?
Talvez fosse... A paz de um túmulo, afinal de contas, ainda era paz.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Rapidinhas do Capita


Em entrevista ao The Big Issue, George Romero, papa absoluto do movimento zumbi, sintetizou em uma frase tudo o que me faz ser o único fã de zumbis que despreza The Walking Dead.
Segundo o diretor, que afirmou ter negado um convite para dirigir um episódio da série, o programa hit de público é "Uma novela com zumbis ocasionais".
Baseado no que eu vi do programa, e admito que não foi muito, pois achei chato demais, concordo com o mítico cineasta.

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Mas eita... A lutadora de MMA Jessica Eye, da divisão feminina do UFC, a mesma organização de Anderson Silva, Georges St. Pierre, Quinton Jackson e afins declarou em entrevista que não consegue namorado, e que está "solteira e cem por cento com tesão faz um longo tempo".
Jessica, dona de um cartel de 11 vitórias e uma derrota no UFC, declarou que enfrenta escassez de homens dispostos o suficiente para namorar uma lutadora.
"Os meninos têm medo de mim. Acho que sou muito confiante para eles", revelou a lutadora, que continuou dizendo que não vai sair com qualquer um apenas por necessidade.
O que eu posso dizer?
Se pudesse, casava com a Jessica Eye agora, sem pensar duas vezes por mais que houvesse o risco de toda a DR terminar em olho roxo, e por mais que fosse a típica relação em que o homem tem a última palavra sendo "Sim, senhora" ou "Não me bata mais!".
Imagina, uma moça bonita, gostosa e que pode te defender numa briga? Deve ser o mais próximo que uma pessoa de verdade pode chegar de namorar a Hit Girl.



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Surgiu uma imagem promocional de Guardiões da Galáxia novinha em folha. Na arte Drax, o destruidor aparece com as feições de Dave Bautista, e Gamora tem a cara de Zoe Saldaña.
No longa escrito e dirigido por James Gunn que estréia em agosto do ano que vem, conheceremos Peter Quill, o Senhor das Estrelas, filho de um alienígena e uma terráqeua que se torna o líder da tropa, que conta ainda com o alienígena planta Groot (interpretado por Vin Diesel) e Rocket Racoon (dublado por Bradley Cooper).