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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Afundar com o Barco


Que Lástima... Não me ocorre outra forma de expressar minha tristeza com o anúncio do fim do Orkut, a rede social que foi febre entre brasileiros e indianos encontrando o ápice de sua popularidade entre 2005 e 2008, teve uma sobrevida em 2010, e vinha cambaleando apoiada em alguns fiéis seguidores desde então...
A casa azul e rosa, praticamente entregue as traças após a popularização do Facebook já vivia seus estertores tinha algum tempo. Estranhamente os maiores atrativos do Orkut, os fóruns de discussão, só melhoraram conforme a rede social claudicava.
A debandada da maioria das pessoas para a rede social de Mark Zuckerberg tornou o Orkut uma rede social quase marginal, repleta de saudosistas e gente mais alternativa, uma espécie de resistência que continuava postando comentários em tópicos que encerravam acaloradas discussões que geralmente acabavam em xingamento à mãe de alguém e muitas risadas ao invés das curtidas nas alterações de status dos miguxos, fotos de pratos de comida e frases definitivas de para-choque de caminhão.
Oh, não... O Orkut pós Facebook tornou-se um espaço apenas para os fortes e os sem-noção.
Se a Sknynet desse início a seus planos de domínio global hoje, desencadeando o Dia do Julgamento e a Era das Máquinas, John Connor não postaria isso no Facebook, ele certamente abriria um tópico no Orkut pra ter certeza de que a mensagem alcançaria apenas aqueles que fossem dignos de fazer parte da resistência humana.
Ainda acessado por meia dúzia de nerds malucos de comunidades ligadas a quadrinhos, e especialmente aos fanáticos e fanáticas por futebol (a comunidade do Internacional segue bastante movimentada, por exemplo, com dezenas de tópicos sendo abertos diariamente no fórum e participação ativa de centenas de membros, números que se multiplicam em dias de jogos do colorado.), o Orkut seguia seu caminho.
Infelizmente esses números não devem ser suficientes para sensibilizar o Google ou justificar a manutenção do site.
Nos anos que se passaram desde o advento do Orkut, a rede social "só para convidados" viram em seus tópicos a aurora de amizades duradouras, o florescer de romances que geralmente surgiram após aquele tradicionalíssimo "gostei do teu perfil, posso adicionar?", ao qual se seguiam alguns dias de trova via scrapbook e finalmente a hora da verdade, quando se pedia o MSN da pessoa. Amores verdadeiros, fraternais ou não, têm suas raízes enterradas profundamente nas paredes hoje empoeiradas de comunidades jogadas às moscas e em depoimentos carregados de sentimentos em páginas de perfil que quase ninguém mais lê, e agora, todos esses momentos vão se perder no tempo, como lágrimas na chuva...
Uma fonte quase inesgotável de cultura inútil, informações de fontes duvidosas e muitas risadas, o Orkut vai ser assassinado pelo Google em 30 de setembro de 2014, deixando uma legião de órfãos que, no futuro, dirão aos incrédulos que, na melhor tradição de um verdadeiro capitão, afundaram com o navio.
O Orkut está morto.
Vida longa ao Orkut.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Resenha Cinema: Vizinhos


Seth Rogen é um ator extremamente limitado. Em todos os seus filmes ele faz o mesmo papel do maconheiro bacana e desajeitado de aparência mediana que é essencialmente um cara de bom coração.
Um amigo me perguntou uma vez como é que o Seth Rogen não cansava de fazer sempre a mesma coisa.
Tá brincando?
Eu entendo Seth Rogen. Quisera eu que me pagassem pra interpretar eu mesmo em filmes e ainda contracenar com mulheres que sempre são areia demais pro meu caminhãozinho. Tá certo ele. Conseguiu se transformar de coadjuvante mudo em O Âncora - A Lenda de Ron Burgundy em um sujeito com estofo cinematográfico suficiente pra cometer coisas como O Besouro Verde, e não passar um ano sem emplacar algum sucesso de bilheteria, como esse Vizinhos, que com um modesto orçamento de 18 milhões de dólares já faturou quase 240 milhões em bilheterias.
Na trama do longa Rogen é Mack Radner, um jovem pai de família que acabou de comprar uma casa para viver com sua esposa Kelly (A bonitona Rose Byrne) e a filha Stella (as fofíssimas gêmeas Elise e Zoey Vargas). Tudo parece tranquilo na vida do casal, até que a casa ao lado é ocupada por uma fraternidade universitária, os Delta Psi Beta, liderados por Teddy (Zac Efron) e Pete (Dave Franco).
Inicialmente tentando parecer descolados e desencanados, os Radner conversam amigavelmente com os universitários da casa ao lado, pedindo que mantenham a música baixa, pedido encarado com naturalidade por Teddy e Pete, que prometem manter as coisas em um patamar aceitável e pedem apenas uma coisa:
Que Mack sempre fale com eles antes, e não chame a polícia.
Com o pacto firmado, os vizinhos selam a paz e até participam de uma festa da rapaziada da casa ao lado (Uma das melhores sequências do filme), mas isso não dura.
Após algumas noites com a música ao lado acordando a bebê e os pedidos de silêncio sendo ignorados pelos Delta Psi, Mack quebra sua promessa e chama a polícia.
Isso desencadeia um festival de peças por parte dos membros da fraternidade (lixo no pátio, churrasco à favor do vento, festas de Robert de Niro, tudo muito barulhento e sem nem sombra da cortesia inicial.).
Enfurecidos com a falta de consideração dos fraternos, ignorados pela polícia, pela associação do bairro e pela universidade dos Delta Psi, Mack e Kelly resolvem contra-atacar, iniciando uma guerra entre vizinhos que rapidamente escala muito além de uma mera implicância conforme as táticas usadas por ambas as partes se tornam mais pesadas (e hilárias).
Vamos aos fatos:
Sim. É engraçado.
É virtualmente impossível assistir uma comédia de uma hora e meia com o Seth Rogen sem rir um pouco. Algumas das piadas do roteiro de Andrew Cohen e Brendan O'Brien são muito boas, Rose Byrne é bonita sem deixar de ser muito engraçada quando a situação permite e ainda tira proveito de um insuspeito sotaque australiano (oculto em todos os outros filmes que vi com ela...) e entra na brincadeira tanto na hora do humor ofensivo com leite materno empedrado, quanto do humor bobo como a (ótima) imitação de Anne Hathaway. Zac Efron já havia provado que, mesmo com suas limitações, consegue ser engraçado, e Dave Franco não é nenhum iniciante em termos de fazer rir.
Mas não, nem tudo funciona.
Como o elenco, em sua maioria, carece de talento, e o filme é uma longa tiração de sarro em cima das desavenças entre vizinhos baseado em referências, há coisas que simplesmente começam a chatear à certa altura.
Também é difícil se relacionar com personagens tão destrambelhados em certos aspectos e tão coxinha em outros, ou ligar pra qualquer acontecimento quando, no final das contas, tudo se resolve com um abraço.
Outro problema, esse exclusivo da versão brasileira, é a bobagem de ficar mascarando palavrões nas legendas dos filmes. Se a censura é dezesseis anos e na tela estamos vendo piadas com picas de borracha de tamanhos variados, tetas, vômito e peido, porque nas legendas "dick" se torna "pênis", "cunt" vira "filha da mãe" e "asshole" se traduz "babaca"?
É irritante e idiota.
De qualquer forma, a despeito de eventuais excessos e de algumas piadas sem graça, o filme não é essa bomba que alguns alardearam na internet e funciona, mas acaba dando a impressão de que se tornará uma ótima sessão de DVD muito mais do que uma daquelas comédias obrigatórias de chorar de rir.
Assista se a única alternativa for Transcendence...

"-Saia daqui. Você é brilhante. No futuro pode ser tipo, o presidente da ONU, ou algo assim
-A ONU não tem um presidente.
-Tá vendo? Você é tão inteligente! Você sabe essas merdas...

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Resenha Cinema: Como Treinar o Seu Dragão 2


Vou reiterar algo que já disse aqui várias vezes:
Não sou fã de animações.
Não sou, mesmo. Nunca fui. Sempre achei desenhos animados algo aborrecidos, em especial os de longa metragem. Entre um live action e uma animação, fico com a primeira opção sem pensar duas vezes. Nunca fui fã das animações épicas da Disney, por exemplo... Embora entendesse o hype por trás de longas como A Bela e a Fera e O Rei Leão, no geral, as animações me passavam batidas. Durante muito tempo, as únicas de que gostava eram Akira, e O Fantasma do Futuro (Argh, título nacional de Ghost in the Shell).
Mas as animações melhoraram muito com o passar dos anos. Vimos Shrek perverter as regras dos contos de fadas em dois filmes divertidíssimos e dois mais ou menos, conhecemos o improvável herói Po, em Kung Fu Panda, o ótimo faroeste camaleônico Rango, vimos cineastas consagrados como Robert Zemeckis se arriscar nas animações com captura de performance em O Expresso Polar, A Lenda de Beowulf e Os Fantasmas de Scrooge, e, claro, vimos a Pixar Animation chutar as portas do cinema de animação com pérolas como a trilogia Toy Story, Monstros S. A., Os Incríveis, Procurando Nemo, Wall-E e a melhor animação jamais lançada: Up - Altas Aventuras.
Mas a verdade é que, mesmo reconhecendo o valor de todos os filmes mencionados (e tendo me debulhado em lágrimas assistindo Up), eu já tinha escolhido meu favorito.
Como Treinar o Seu Dragão, da Dreamworks (mesmo estúdio de Shrek, Kung Fu Panda e Madagascar) é a animação de que eu mais gosto, de longe.
Talvez seja porque, essencialmente, eu sou um guri, e guris adoram dragões e vikings, ou talvez seja porque é difícil não se envolver com a história de Soluço e Banguela, os dois párias, o primeiro um adolescente tímido socialmente excluído, o segundo um dragão deficiente, que encontram um no outro a possibilidade de estarem completos (Banguela não pode voar sem Soluço, e o moleque vê nas asas do dragão sua chance de ir além das rochas de Berk, onde é incapaz de se encaixar) e precisam lutar unidos para parar uma guerra ancestral.
Sim... Como Treinar seu Dragão tinha coração, alma e bolas (ou vai me dizer que a sequência final, com a luta dos cavaleiros de dragões contra a tenebrosa rainha do ninho não é uma tremenda sequência de ação?), e se encerrava perfeitamente em si mesmo. Tinha um final conclusivo e absolutamente satisfatório que não requeria nenhuma continuação. Mas qual é?
Como a Dreamworks desperdiçaria o sucesso de Como Treinar o Seu Dragão, que colocou nomes como Fúria da Noite, Verme de Fogo, e Terror Terrível nos vocabulários de crianças pelo mundo afora?
Certo que não, então, 4 anos após o lançamento do primeiro filme, Soluço, Banguela, Astrid, Estoico e todos os demais estão de volta.
Como Treinar o Seu Dragão 2 mostra a nova Berk. Se antigamente o vilarejo era um pedaço de rocha no meio do mar sempre pronto para enfrentar os temíveis dragões que surgiam, hoje é uma idílica ilha escandinava onde cavaleiros de dragões passam seus dias disputando corridas e tentando encaçapar impassíveis ovelhas no novo esporte favorito dos vikings.
Enquanto Astrid, Perna-de-Peixe, Melequento, Cabeçaquente e Cabeçadura se divertem sob as vistas de Estoico, Bocão e o resto da tribo, Soluço viaja montado em seu fúria da noite, Banguela (O dragão mais amigável do cinema, unindo o estilo dos répteis mitológicos com a graça de um gato e a inteligência e lealdade de um cachorro), conhecendo e mapeando novos territórios, expandindo as fronteiras do conhecimento dos vikings e evitando a todo o custo fazer o que seu pai lhe pede:
Assumir o comando de Berk.
É num desses voos solitários que Soluço encontra o caçador de dragões Eret, e descobre que existe tanto um homem chamado Drago SangueBravo que planeja construir um exército de dragões, quanto um misterioso cavaleiro de dragões que liberta as criaturas.
Determinado a descobrir tudo a respeito desse protetor misterioso, e a fazer a paz com Drago, Soluço ignora os avisos de Estoico, e parte em uma viagem que o levará a descobrir coisas inéditas a respeito de seu passado, e o colocará em uma batalha para manter a paz.
É bacana.
Como Treinar o Seu Dragão 2 dá um passo adiante em todos os quesitos técnicos do longa anterior. A computação gráfica avançadíssima aliada ao design cartunesco dos personagens torna as sequências aéreas do longa um deleite visual. Existem cenas com centenas de dragões de cores e formas variadas tomando a tela voando uns pela frente dos outros em um banquete de cores e formas para ser saboreado com os olhos. Os personagens seguem divertidos e cativantes como eram no primeiro longa, e as adições de Valka, Eret e do vilão Drago são OK.
O filme acerta ao mostrar amadurecimento e evolução de todos os personagens, Soluço deixou de ser um adolescente retraído e se tornou um jovem rebelde e introspectivo, Estoico é mais compreensivo e terno, mas permanece um líder guerreiro viking, e até surge um "quadrilátero amoroso" entre Perna-de-peixe, Melequento e Cabeçaquente que só tem olhos para Aret.
As sequências de voo são impressionantes ora pela beleza, ora pela tensão e dinamismo, a trilha sonora é ótima, as sequências de ação continuam muito boas, os momentos ternos funcionam, e os engraçados, também.
Mas nem tudo são flores.
Obviamente o filme carece do impacto do primeiro, existem algumas soluções um tanto quanto discutíveis no roteiro, e o confronto final, no clímax do filme, se estende além do devido e não encosta na batalha que encerrava o primeiro longa em termos de arrebatamento visual e urgência.
Outra razão para queixa, é a incapacidade das salas de exibir o filme com som original em pelo menos um horário do dia.
Por mais que seja uma animação com público alvo majoritariamente infantil (a criançada, aliás, está de parabéns, todos os pequerruchos que estavam na sessão que eu assisti ficaram quietinhos o filme inteiro ao contrário de alguns boçais que são incapazes de calar a boca por duas horas) não faria mal poder conferir as vozes originais em inglês. Por mais que a dublagem em português seja boa, acima da média do padrão atual, bem inferior ao dos anos 80/90 eu me ressinto de não ter nenhuma sala exibindo o longa com as ótimas dublagens de Jay Baruchel, America Ferrera, Gerard Buttler, Kirsten Wiig, Craig Fergusson, Cate Blanchett, Kit Harrington e Djimon Hounsou).
Apesar dessas falhas, o filme funciona. É honesto para consigo mesmo, divertido, bonito e esperto, jogando várias alterações promissoras nos próximos (e inevitáveis) filmes da franquia.
Com personagens maneiros, sequências de ação divertidas, momentos de ternura genuína e gargalhadas autênticas, Como Treinar o Seu Dragão 2 vale demais a pena.
Assista no cinema, o 3-D não chega a empolgar.

"Esta é Berk. A vida aqui é incrível. Dragões costumavam ser um probleminha, mas agora todos eles vivem aqui."

sábado, 21 de junho de 2014

Rapidinhas do Capita


Ela disse que achava legal o cabelo assim, bagunçado. Apontou pra camiseta dele e disse que não se importava com o lance nerd, que até achava bacana.
Ele pensou em fazer um pequeno tratado verbal dizendo que hoje era fácil ser nerd, mas que quando ele era moleque havia sido muito marginalizado, inclusive tendo que manter sua nerdice "no armário" e jogar futebol e ir à festas e essas paradas pra evitar o bullying, mas resolveu ficar quieto quando se flagrou do "até".
Ela continuou dizendo que achava legal barba e que ele era bem alto. Ela achava legal o homem ser assim, mais alto que a mulher.
Ele pensou em observar que isso era conveniente já que ela não devia ter nem um metro e sessenta, mas resolveu ficar quieto.
Ela bocejou, olhou em volta e perguntou se ele gostava de Velvet Underground. Ele não tinha certeza do que era Velvet Underground, ficou na dúvida se era uma banda ou um filme, e ficou com vergonha de admitir que não sabia o que era. Disse que não era "um grande fã", sorriu. Ela ergueu as sobrancelhas como quem entende, e perguntou de que música ele gostava (era uma banda...), ele disse que gostava de Johnny Cash. Ela retorquiu que Johnny Cash não era música de nerd. Ele ficou em dúvida se perguntava, ou não, o que seria "música de nerd", mas concluiu que se ela cantarolasse o tema de abertura de algum anime, ele ia ser grosseiro e não ia conseguir comer ela, então ficou na sua.
Conversaram mais algum tempo, e eventualmente ele acabou comendo ela. O sexo foi legal. Ele fez o melhor que podia, e ela disse que gozou duas vezes, ele não acreditou no segundo orgasmo, mas sentiu o primeiro na língua.
Antes de sair da casa dela ele perguntou, meio sem jeito, se ela queria manter contato. Ela sorriu e eles trocaram telefones e tudo, ele disse que era tímido demais pra ligar, mas que se ela quisesse ver um filme ou alguma coisa, era só ligar pra ele. Ela sorriu e disse que com certeza ia ligar! Assim, com ponto de exclamação no final. Mas não ligou. Aí ele teve certeza de que o segundo orgasmo tinha sido mentira.

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-E aí? Curtindo a Copa?
-Bons jogos... Andamos tendo uns bons jogos...
-E a festa? Tá gostando da festa?
-Não fui à nenhuma festa...
-A festa dos visitantes! Os estrangeiros andando pela rua! O intercâmbio cultural!
-Vi seis franceses na Lima e Silva domingo, Um deles tava sendo amparado por outros dois enquanto vomitava, e um quarto, bebendo Kaiser, ergueu a cabeça quando umas gurias passaram do outro lado da rua, e gritou "Gôstosá! Fucê é gôstosá!". Na quarta, vi uma australiana linda perto de casa. Linda mesmo. Alta, cabelão encaracolado castanho-avermelhado, cheia de sardas, quadris redondos e cintura fina, não consegui olhar os olhos dela, porém, ela vinha encarando o chão, evitando contato visual com o mundo. Provavelmente já ouvira todo o tipo de abordagem de todo o tipo de homem e estava sem ânimo pra aguentar mais disso. Esse foi o único intercâmbio cultural que eu notei, além do turista porto-riquenho espancado no Harmonia e do Chileno assaltado perto da Arena da OAS.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Resenha Cinema: No Limite do Amanhã


Eu vou confessar que estava um pouco ressabiado em assistir No Limite do Amanhã, mais recente empreitada do astro/galã/produtor/maluco/cientologista Tom Cruise.
Apesar de achar Cruise um ator com recurso, e essencialmente curtir o tipo de cinema que ele faz, tenho que dizer que não fiquei impressionado com o último sci-fi do ator, o mediano Oblivion, de modo que estava mais interessado em esperar por outra bobagem divertida como Missão: Impossível ou um bom thriller ao estilo Operação Valquíria.
Mas acabou que no meio da semana, sem que houvessem estreado Vizinhos ou Como Treinar seu Dragão 2, eu me vi sem lá muitas opções, de modo que acabei no cinema para encarar o longa metragem estrelado por Cruise e Emily Blunt.
O resultado?
No Limite do Amanhã abre com um recorte de trechos de noticiários que rapidamente ilustram uma invasão alienígena. A raça extraterrestre conhecida como Mímicos (Que parecem polvos metálicos estilo os sentinelas de Matrix, mas depois de cheirar cocaína e tomar redbull) chega à Terra em um asteroide que cai em Hamburgo e imediatamente começa a sobrepujar a raça humana, matando milhares e avançando pelos territórios da Europa em direção à Ásia e à América.
Para a humanidade tentar equilibrar o confronto com esses inimigos ferozes, cientistas elaboram um exoesqueleto balístico chamado de "Jaqueta", que não parece estar funcionando lá muito bem, até que, na batalha de Verdum, a sargento Rita Vrataski (Emily Blunt, bonita e durona estilo Ripley) mata milhares de Mímicos em combate, garantindo a vitória e se tornando a garota-propaganda dos esforços de guerra, sendo apelidada de Anjo de Verdum, e "Full Metal Bitch".
Encorajados por essa vitória, a coalizão terráquea planeja um ataque maciço à Europa na esperança de retomar o continente antes que os alienígenas cheguem à Grã Bretanha, é pouco antes desse ataque que conhecemos William Cage (Tom Cruise, comprometido como sempre), ex-publicitário transformado em relações públicas do exército, após chantagear um oficial superior na tentativa de evitar o front, ele acaba rebaixado e colocado na linha de frente do combate no Pelotão J liderado pelo sargento Farell (Bill Paxton, hilário).
Completamente incompetente em combate, Cage entra no campo de batalha durante uma emboscada Mímica sem saber nem mesmo destravar o armamento de seu exotraje, numa ótima sequência de batalha.
Infelizmente, inepto e apavorado como ele só, Cage acaba morrendo no campo poucos minutos após o desembarque, mas, devido a um misterioso loop temporal, ele desperta no dia anterior ao combate que tomou sua vida!
Cage revive o mesmo dias vez após vez, sempre morrendo em combate, incapaz de convencer qualquer pessoa de sua condição.
Eventualmente ele encontra Rita Vrataski durante a contenda, e com a ajuda dela, Cage continua a reviver o dia de sua morte repetidas vezes, sendo morto novamente de formas diversas e constantes, mas a cada uma delas se tornando um pouco menos inútil, aprendendo novas formas de sobrevivência e refinando suas técnicas de combate para tentar se tornar o trunfo necessário para a vitória humana na guerra.
É muito bom.
O filme tem algumas reviravoltas e detalhes que eu obviamente mantive em segredo no resumo acima pra não estragar a surpresa de ninguém, inclusive porque esses "twists" na trama são parte da graça e estão muito bem amarrados no roteiro de Chritopher McQuarrie e John e Jez Butterworth (baseado no romance All You Need is Kill, de Hiroshi Sakurazaka), e eu sei, que a primeira vista, poderia-se sintetizar No Limite do Amanhã como uma mistura de Feitiço do Tempo com Tropas Estelares, mas acredite, é exatamente isso, e não tem nada de errado com a referência.
No Limite do Amanhã tem vários acertos, da bela fotografia aos ótimos efeitos visuais, passando pela direção competente de Doug Liman (Deixando pra trás porcarias como Sr. e Sra. Smith e Jumper), mas talvez o principal seja o fato de não se levar excessivamente a sério, e assumir sua condição de matiné descompromissada sem perder a esperteza.
Outro trunfo do filme está no bom elenco (que tem Brendan Gleeson e Noah Taylor) e no personagem de Tom Cruise.
Seu William Cage foge do estilo exterminador sorridente habitual do ator. Sai a coragem fria e estoica, o físico prodigioso, e entra um covarde egoísta e cagalhão que só faz bobagem na primeira vez em que pisa num campo de batalha e que frequentemente caga tudo, se machuca e morre quando tenta alguma inovação em seus dias repetidos, numa inversão interessante do script, o papel de super guerreiro fodelão cabe a Emily Blunt, que manda muito bem, obrigado.
Esse frescor e o espaço para essa veia cômica pouco explorada do ator (que encontrou seu ápice em Trovão Tropical, mas também apareceu em Jerry Maguire e Rock of Ages, todas interpretações acima da média de Cruise) já valeriam o ingresso, mas felizmente o roteiro e a direção ajudam, e o garoto-propaganda da Cientologia não precisa carregar o filme nas costas.
Com belas cenas de batalha, tensas, sujas e bagunçadas (que contrastam com o estilo videogame do morra e tente de novo, especialmente nas primeiras, quando Cage está em pânico quase todo o tempo), um roteiro que não trata a plateia como imbecil, No Limite do Amanhã merecia melhor sorte nas bilheterias, se segura bonito sem querer virar franquia, e faz um belo trabalho ao entreter por 113 minutos que jamais parecem perdidos.
Assista no cinema, vale horrores a pena.

"-Eu não sou um soldado.
-Claro que não. Você é uma arma!"

terça-feira, 17 de junho de 2014

Rapidinhas do Capita


Final de Temporada de Game of Thrones

E terminou a quarta temporada de Game of Thrones, adaptação televisiva da série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin.
Houveram alguns momentos bastante memoráveis na temporada que se encerrou domingo, provavelmente o julgamento por combate de Tyrion Lannister (Peter Dinklage), com a luta entre seu campeão, Oberyn Martell (Pedro Pascal), a Víbora Vermelha e Gregor Clegane (Julius Bjornsson, terceiro intérprete do personagem, após Conan Stevens e Ian Whyte), A Montanha que Cavalga foi o ápice da série nesse ano 4, mas não foi o único.
A batalha da Patrulha da Noite contra os selvagens de Mance Rayder foi muito bem intencionada, ainda que tenha carecido da grandiosidade do evento no livro, mesmo assim, foi menos brochante do que a Batalha do água Negra (originalmente uma guerra entre dois numerosos exércitos, e na série ficou parecendo uma briga de bar), mas nem tudo foram rosas, porém.
À medida em que a história se desenrola, a série vai tomando um rumo cada vez mais afastado dos livros. Mortes como a de Jojen Reed (Thomas Brodie Sangster), Grenn (Mark Stanley) e Pyp (Josef Altin), são claramente tentativas de reduzir o número de coadjuvantes da série já que, se for seguir os acontecimentos do livro, a próxima temporada terá diversos novos personagens.
Pior do que isso, alguns eventos e personagens interessantes dos livros foram simplesmente ignorados na atual temporada. Nada do sujeito conhecido como Mãos Frias. Nem sinal de Lady Coração de Pedra. Brienne matando o Cão de Caça? Foi-se por terra todo o mistério sobre a origem de Sor Robert Strong, e, talvez o maior equívoco do episódio:
Onde foi parar a conversa de Jaime e Tyrion sobre o destino de Tysha?
Pra quem não lembra, Tysha foi a jovem com quem Tyrion casou em segredo na juventude. Nos livros, após ajudar Tyrion a fugir, Jaime faz uma revelação bombástica a respeito de Tysha, e é essa revelação que faz com que o Duende vá aos aposentos de seu pai, e encontre Shae.
Bueno... Sem essa revelação, então porque diabos do inferno Tyrion foi até o quarto de Tywin? Se ele queria se vingar de alguém, era muito mais lógico que fosse atrás de Cersei, que tem tentado matá-lo desde a primeira temporada...
De qualquer forma, o saldo final da temporada não foi negativo, muito antes pelo contrário, mas devo dizer que, pra mim, a cada ano que passa, os livros se tornam melhores do que o programa. Duvida?
Leia e tire a prova.

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E olha só que maluquice. Foi confirmado que Jason Momoa será o intérprete de Aquaman no vindouro Batman v Superman - Dawn of Justice, filme que unirá Superman, Batman e apresentará a Mulher-Maravilha além de preparar o terreno para o filme da Liga da Justiça.
Momoa, (que na minha opinião tem muito mais pinta de Lobo e até de Caçador de Marte) se junta a Henry Cavill (Superman), Ben Affleck (Batman), Gal Gadot (Mulher Maravilha), Ray Fisher (Ciborgue), Jesse Eisenberg (Lex Luthor) e Jeremy Irons (Alfred) no longa metragem que deve ser lançado em maio de 2016.

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E Harrison Ford, o Homem mais próximo de Deus, que recentemente fraturou o tornozelo nas gravações de Star Wars - Episódio VII, pode ficar oito semanas fora das filmagens do longa de J. J. Abrams.
Apesar da ausência do ator septuagenário, as filmagens devem seguir conforme o cronograma.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Resenha blu-ray: Hércules


Eu estava indo muito bem esse ano. Até semana passada, o pior filme que eu havia assistido em 2014 havia sido RoboCop, que nem era tão horrível, era "apenas" ruim demais. Mas eu me enveredei por um mal caminho nas locadoras da região, e tanto por teimosia quanto por curiosidade mórbida, assisti a uma quantidade nada desprezível de filmes abaixo da crítica.
Um deles, talvez o pior de todos, é esse Hércules, também chamado de A Lenda de Hércules e Hércules - O Início da Lenda.
O longa metragem dirigido por Renny Harlin (o mesmo de Duro de Matar 2 e A Ilha da Garganta Cortada) conta a história de Hércules a partir do mito grego de Heracles, e não da perspectiva romana, mais tradicional na cultura pop.
Na trama, o conquistador grego Anfitrião (Scott Adkins) se torna rei, sua sede de poder, porém, não é aplacada com o trono, e ele segue sua trilha sangrenta de conquistas para desgosto de sua esposa Alcmena (Roxanne McKee).
Assolada pela tirania de seu marido, Alcmena reza aos deuses para que eles ponham fim aos planos maquiavélicos de Anfitrião.
Hera responde à prece de Alcmena, e permite que Zeus dê um filho à rainha mortal. Esse filho será chamado Hércules, e irá encerrar o reinado sangrento de Anfitrião.
Durante uma noite, raios e relâmpagos cortam os céus, e Alcmena, em seu leito, é fecundada pelo deus dos deuses.
Quando o bebê nasce, Anfitrião o batiza Alcides, e, sabendo que não é seu filho, diz que ele jamais será páreo para o irmão mais velho, Íficles (Liam Garrigan).
Os anos passam, e surge Alcides crescido na forma de Kellan Lutz (da Saga Crepúsculo, o que diz tudo o que precisamos saber sobre sua capacidade de atuar), ele é um jovem príncipe parrudo, apaixonado por Hebe (Gaia Weiss), princesa de Creta.
Anfitrião, porém, deseja que Hebe se case com seu primogênito Íficles, o que lhe garantiria controle sobre Creta.
Os dois jovens enamorados tentam fugir para viver seu amor longe de todos, mas acabam capturados.
Alcides, então, é enviado com uma legião de soldados de Anfitrião em uma missão suicida no Egito, onde deveria morrer. Entretanto, ele e seu capitão Sotiris (Liam McIntyre, de Spartacus) sobrevivem, são vendidos como escravos e gladiadores até retornarem à Grécia, onde Alcides adota o nome de Hércules, e maquina como recuperar Hebe, até descobrir sua verdadeira origem, e ver-se obrigado a escolher entre seus desejos humanos românticos, e suas obrigações divinas, uma trilha que o colocará em rota de colisão com seu pai adotivo, e o tornarão o maior herói de toda a Grécia!
Horrível.
Não tem absolutamente NADA de bom em Hércules. As atuações são canhestras, e nem a presença de alguns nomes conhecidos como Rade Seberdzija (Quíron) e Johnathon Schaech (Tarak) amenizam a sensação de estar assistindo teatro amador.
Os efeitos especiais são risíveis, e algumas sequências com CGI, como a luta com o leão de Neméia, são particularmente constrangedoras.
Poderiam se salvar as sequências de luta, afinal, há um bom número delas, mas não. São todas repetitivas e chatas, usando slow motion suficiente pra fazer Zack Snyder ficar com sono.
O roteiro de Sean Hood, Daniel Giat, Giulio Steve e do próprio Harlin estupra o mito grego original, tem mais buracos que uma estrada vicinal do interior do Brasil, e diálogos que são de corar de vergonha tornando Hércules um programa dos mais indigestos que não consegue nem sequer ser engraçado em sua ruindade.
Só assista se a alternativa for ter os dois olhos arrancados das órbitas com uma colher suja de sal. OS DOIS! Se for um olho só, ainda pode valer a pena...


"Pai! Eu acredito em você!"

Resenha DVD: Pompeia


Existem filmes que antes de assistir a gente já sabe que vão ser ruins, mas assiste assim mesmo, na esperança de transformá-lo em um guilty pleasure, aquelas coisas que a gente faz mesmo sabendo que estão erradas simplesmente porque é divertido fazer.
O cinema é repleto de guilty pleasures, filmes que são descarada e declaradamente ruins, mas que as pessoas assistem porque, na hora em que se desliga o cérebro e aumenta o nível de suspensão de descrença ao máximo, são divertidos o suficiente para valer o preço do ingresso ou da locação.
Foi pensando exclusivamente nesse tipo de filme que eu aluguei Pompeia, filme do diretor Paul W. S. Anderson, o mesmo da série Resident Evil e de Os Três Mosqueteiros que conta a história de Milo (Kit Harrington, o Jon Snow de Game of Thrones), um escravo celta cujo povo foi massacrado por uma legião de romanos comandados pelo general Corvus (Kiefer Sutherland) quando ele era apenas uma criança.
Milo sobrevive ao massacre fingindo-se de morto, mas pouco depois é capturado por viajantes que o tornam um escravo.
Anos depois, ele se torna um gladiador que, por sua perícia em combate é levado a Pompeia, onde grandes jogos estão prestes a acontecer.
Lá, ele conhece Cassia (Emily Browning, que apesar de gostosinha em Beleza Adormecida e Sucker Punch está meio esquisita), jovem filha do burguês Severus (Jared Harris), que planeja reformar toda a cidade com o apoio de Corvus, agora um influente senador romano.
Corvus, um tremendo escroto, planeja oferecer seu apoio aos projetos de Severus mas apenas em troca da mão de Cassia, a quem conheceu enquanto a moça viveu em Roma.
Conforme decorrem as festividades, se aproxima o momento em que Cassia será jurada a Corvus e Milo deverá enfrentar o grande campeão Atticus (o impronunciável Adwale Akinnuouye-Agbaje), que luta por sua liberdade após anos na arena, mas ao mesmo tempo em que os jovens começam a nutrir sentimentos um pelo outro, o monte Vesúvio entra em erupção, colocando o gladiador em uma luta desesperada contra o tempo para escapar do destino reservado a ele na arena e salvar sua amada conforme o Vulcão destrói Pompeia.
Óbvio que um filme com essa premissa não seria grande coisa, mas eu esperava ao menos uma hora e meia de diversão descerebrada, algo como os filmes-catástrofe de Roland Emmerich (que são tremendos guilty pleasures, diga-se), uma montanha-russa de espetaculosa falta de compromisso e destruição gratuita, porém Pompeia falha em oferecer isso.
A inspiração mais óbvia a Pompeia não é 2012, mas Gladiador. Na verdade, poderia-se sintetizar o longa de W. S. Anderson como "Gladiador em meio a um vulcão".
Está lá a história de vingança do escravo tornado lutador de arena, o negro que se torna amigo do protagonista e deseja reencontrar sua família, a sequência na arena onde os gladiadores alteram o desfecho de uma batalha histórica a ser reproduzida, o vilão romano que é constrangido pelo povo e não mostra o polegar virado pra baixo... Mas tudo de forma mais leviana, bobinha...
Aliás, Pompeia é todo assim. Rapidinho, ligeiro, rasteiro.
O amor puro surge do nada, a amizade sincera também, os arrependimentos dos personagens secundários são igualmente bobocas de forma que o filme passa os dois primeiros atos se arrastando de maneira previsível e sonolenta...
Quando o vulcão, que deveria ser a estrela do filme, resolve explodir, o espetáculo visual não justifica a espera.
O Vesúvio destruidor do longa não lambe as botas da devastação de um 2012, por exemplo.
Chuvinha de cinzas daqui e dali, rochas em chamas voando pra cá, um tsunamizinho acolá, e nada que gere assombro ou impacto visual.
Entre a história de amor bobinha, a trama de vingança morna e o desfecho anti-climático, Pompeia falha miseravelmente ao prometer um filme catástrofe situado na antiguidade clássica e entregar um Gladiador genérico sem o talento de Ridley Scott, Russel Crowe ou Joaquin Phoenix.
Se estiver muito curioso, aguente um pouquinho e espere passar na TV a cabo. Não vale a locação.

"-São os deuses. Eles têm um plano para todos nós.
-Talvez. Eu vi o homem que matou minha família. Talvez os deuses tenham me poupado por uma razão..."

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Legado


Minha amiga chegou em mim na segunda-feira, me abraçou forte e disse:
-Lamento pela tua perda.
Levei uma fração de segundo pra entender. Mas assim que entendi, agradeci:
-Ah, tá. Obrigado, obrigado...
E passei a mão nas costas dela dando o sinal de quê podia parar de me abraçar.
Ela fez cara de escandalizada e me perguntou se eu não estava arrasado.
Disse que não. Que lamentava, mas arrasado eu não estava.
Ela fez uma expressão desapontada e recriminadora e estalou um "tsc" com a língua no céu da boca.
Minha amiga se referia ao Fernandão, cuja morte trágica e prematura na madrugada do último sábado pegou de supetão à toda a Nação Alvirrubra. Ela, assim como a imensa maioria da Nação Colorada, sentiu um gigantesco pesar com a passagem de Fernandão, que com apenas 36 anos e preparando-se para iniciar uma carreira como comentarista no canal pago SPORTV, teve sua vida abreviada por um acidente de helicóptero após um final de semana de pescaria com amigos no interior de Goiás.
Vou confessar que eu não tinha o Fernandão como um ídolo pessoal.
Respeito a História maiúscula que ele escreveu no Internacional, respeito e reconheço o papel de protagonista que ele exerceu nas grandes conquistas do Colorado nos anos 2000, respeito sua liderança e entendo a idolatria que milhões de colorados lhe devotam, mas, pessoalmente, não partilho de tal idolatria.
Fernandão foi, sim, um de meus favoritos no time do Internacional entre 2005 e 2008, assim como foram Iarley, Rafael Sóbis, Bolívar, Índio, Tinga e Fabiano Eller.
Na verdade, olhando em perspectiva, houveram passagens dos últimos anos que fizeram com que Fernandão perdesse um pouco do status de ídolo no que me concerne, e já repito, que essa é uma posição absolutamente pessoal de um colorado apaixonado com uma noção de idolatria extremamente séria e restritiva onde, posso, de supetão, arrolar um único nome: O de Paulo Roberto Falcão.
Não vou enumerar os episódios que geraram minhas restrições quanto a Fernandão, não como pessoa ou profissional, mas como ídolo colorado. Seria injusto, deselegante, até covarde, mas sei fazê-lo pois, em meu papel de torcedor Colorado, fiquei magoado com elas.
Na esteira da abrupta morte desse ex-jogador, dirigente e treinador do Inter, que se dizia abertamente um torcedor Colorado, tais pequenezas perderam a razão de ser.
Fernandão não se tornou meu ídolo após a morte, não sou hipócrita, mas é um baluarte de uma das décadas mais vencedoras do maior clube do Sul do Mundo, e agora, um dos astros que cintilam num céu sempre azul, olhando do alto pela torcida do clube do povo do Rio Grande do Sul.
Que os jogadores das gerações futuras respeitem seu legado, e se esforcem até a última gota de suor para repetir suas numerosas glórias.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

O Everest do Aberval


O Aberval, aos quarenta e nove anos de idade, viu-se desempregado pela primeira vez desde a adolescência.
Fora chamado no RH da Chevalier, rede de lojas de roupas masculinas onde trabalhara por vinte e um anos, e informado que, por conta da crise, compras pela internet, concorrência com a China e talicoisa, a empresa estava precisando reduzir seus quadros, e que a nova meta era ter empregados com pouco tempo de casa, aumentar a rotatividade, e não sei o quê, lá...
Receberia uma indenização razoável, afinal de contas, vinte e um anos não são pouca coisa, e já no dia seguinte, estaria liberado após assinar a papelada da rescisão.
Após receber condolências e tapinhas nas costas de seus colegas, Aberval trabalhou até as seis horas da tarde como fizera por anos a fio, e apenas seis e um, levantou-se de sua cadeira e foi bater o ponto antes de ir ao banheiro.
Aberval era assim. Contrito.
Homem conservador, sério, quase retrógrado. Amara apenas uma mulher na vida, sua esposa, Abigail, com quem se casara aos dezoito anos de idade e a quem perdera por conta de um câncer após mais de vinte anos juntos.
Jamais achou correto ou necessário casar-se novamente.
Experimentara a plenitude de uma relação com Abigail, com quem infelizmente não pudera constituir família, mas, com o mundo do jeito que estava, e ela tendo morrido tão cedo, talvez fosse melhor não ter havido crianças.
Se antes de Abigail morrer, Aberval já era um funcionário modelo na empresa onde trabalhava, uma rede de lojas de roupas masculinas que gozava de certo prestígio, depois de perder a esposa, Aberval se dedicara com ainda mais afinco ao trabalho, fazendo horas extras, desenvolvendo projetos, e galgando os mais altos degraus que poderia alcançar.
Havia feito de quase tudo na empresa desde que começara lá, aos vinte e sete anos. Começou como vendedor, depois gerente, aí, gerente geral, e supervisor regional, até ser promovido a supervisor geral, respondendo apenas ao fundador da rede, doutor Abílio, e seus dois filhos imbecis, Gustavo e Felipe.
Tinha certeza, o Aberval, de que sua demissão passava pelos dois, já que ele e o doutor Abílio eram muito chegados.
Infelizmente o tempo passou, e o doutor Abílio tornara-se um distinto cavalheiro em idade provecta, experimentando lapsos mais e mais frequentes de memória, o que deixou o caminho livre para os "irmãos Crápula" tomarem as rédeas da empresa.
Enfim... Não havia mais o que fazer, Aberval estava na rua.
Chegou a pensar em deixar assim. Em ficar desempregado. Estava com quase cinquenta anos, tinha algum dinheiro guardado, uma previdência privada interessante e agora a indenização pela demissão. Era possível viver dignamente com aquilo. Quiçá até mesmo com algum conforto.
Mas Aberval não era homem de rolar pro lado e morrer numa gaiola por mais confortável que fosse. Mas não, mesmo...
Aberval fora primeiro lugar no tiro de guerra na época do quartel, havia sido patrão de CTG, era eleitor hipotético do Bolsonaro, era um profissional modelo. Um homem com tais credenciais jamais se mixaria pra um solavanco da vida.
Não... Aberval seguiria em frente.
Na manhã seguinte, após assinar os documentos da demissão e se despedir dos colegas apanhou um jornal e se pôs a procurar nos classificados.
Marcou uma dúzia de anúncios e se pôs a fazer as ligações e marcar entrevistas.
As coisas estavam difíceis. Por mais que houvessem empregos disponíveis, a maioria dos empregadores parecia reticente em dar a vaga a um homem de mais de quarenta e cinco anos com longa experiência e que costumava receber salários bem mais altos do que os que estavam sendo oferecidos.
Aberval sabia que seu salário anterior e suas credenciais eram assustadoras para a maioria dos empregadores, mas estava disposto a receber menos e colocar sua larga experiência a serviço de uma nova empresa. Quem sabe passar os próximos dez, quinze anos galgando novamente degrau a degrau até o topo como fizera em seu último emprego?
Era um desafio e desafios eram aquilo de que Aberval precisava para se manter vivo e inteiro.
Após oito entrevistas que terminaram com frases vazias ditas como paliativo ao "tu não serve" que ficava implícito nas caretas dos entrevistadores, Aberval conheceu Cíntia.
Cíntia era uma moça de trinta e poucos anos, usava óculos com grossos aros verde-escuros que contrastavam com seu cabelo roxo e suas roupas coloridas. Ela era dona de uma loja de moda jovem que acabara de abrir uma filial, estava enlouquecendo porque embora tivesse noções bastante elogiáveis de moda e estilo, era quase analfabeta pra "esses troços" de administração.
As credenciais de Aberval a impressionaram positivamente, mas o visual de Aberval a impressionara negativamente, e ela foi muito franca ao explanar.
Falou:
-Olha, eu gostei do teu currículo, seu Aberval, mas tipo, tu parece meu vô, tá ligado? Eu nem conseguiria te chamar pelo primeiro nome sem colocar um "seu" na frente, manja? E eu não sei como é que o senhor iria se ambientar com as nossas lojas e nosso tipo de público. Então, por mais que me doa, porque eu tô assim, do-en-te, atrás de alguém que faça o que parece que o senhor faz, eu vou ter que deixar passar. Lamento...
O Aberval, porém, não se fez de rogado. Sabia que podia ajudar a Cíntia e trabalhar para fazê-la ser proprietária de uma rede de moda jovem de respeito. Fez uma proposta:
-Escuta, e se a gente fizer uma experiência? Eu trabalho numa das tuas lojas um mês, como vendedor, estoquista, o que for, e tu vê se funciona. Se ao final de um mês tu não tiver gostado, ou achar que não deu certo, tu me paga um salário e eu sigo meu caminho.
A Cíntia balançou. Mordeu o lábio rebocado de batom encarnado, fechou um olho cheio de sombra verde, e aí estendeu a mãozinha branca e delicada com as unhas pintadas de amarelo e roxo e disse:
-Feito.
No outro dia, Aberval estava trabalhando como vendedor na DeRraMe, escrito assim, mesmo, uma loja de moda jovem, casual, alternativa e cheia de raipe, fosse isso o quê fosse, de acordo com o que lhe dissera Cíntia um dia antes.
A loja, um espaço com paredes de tijolo a vista entrecortado por pedaços de reboco aqui e ali, manequins usando máscaras de monstros e roupas coloridas e cheias de mensagens irônicas, calças com o fundilho quase nos joelhos, e sapatos mais coloridos que a camisa do Veranópolis parecia exatamente o tipo de coisa que fazia a cabeça dessa geração de imbecis que dominava o mundo.
O gerente, Willas, parecia o filho de uma girafa com uma arara, quase dois metros, magro que nem um caniço, e com o cabelo tingido de verde amarelo e vermelho. Cumprimentou o Aberval com entusiasmo, lhe mostrou a loja toda falando com um sotaque amolecido, típico do Bom Fim, ao terminar as explicações, olhou pro Aberval, de cima abaixo e disse:
-Olha... Boa parte do nosso público é GLS...
-Não tenho partido político definido. - Respondeu o Aberval, dando a conversa por encerrada e indo tratar do trabalho.
Quando descobriu de que se tratava o tal do lance de ser GLS, o Aberval tomou um susto e ficou sem ação.
Estava atendendo dois rapazes que entraram de mãos dadas na loja, passou os primeiro minutos torcendo pra um deles ser cego, mas quando se beijaram suas esperanças escorreram pelor ralo.
Era estranho pro Aberval estar em meio àquele tipo de comportamento. Por mais que se esforçasse, não conseguia achar normal. As meninas beijando o pescoço uma da outra. Os rapazes trocando carícias, até as conversas de seus novos colegas, contando suas peripécias homossexuais. Tudo aquilo fazia o mundo do Aberval abalar.
Mas ele resolveu perseverar.
Tentou encarar o mundo GLS no qual se vira subitamente incluído como a revolução informática anos antes. No começo, era incapaz de entender como funcionava um computador, mas, com esforço e dedicação, Aberval dominou a máquina e a tornou parte de seu dia a dia, hoje, usava um computador com destreza e desenvoltura.
Iria absorver e filtrar os comportamentos que lhe pareciam estranhos, e deixar por essas.
O mês foi transcorrendo, semana após semana, e o Aberval lá, firmão. Aguentando no osso a proximidade com aquela gente, pra ele, tão estranha.
Volta e meia tinha ânsias de sair correndo da loja, ou, de correr alguém. Mas suportava, fechava os olhos, pensava nos seus objetivos, e seguia. Trocava informações profissionais valiosas com Willas e os demais colegas da loja, os ajudando com sua vasta experiência no setor, e vendo-se, até surpreso, ser aceito como uma valiosa parte da equipe.
Até que entrou na loja aquele sujeito.
Já de alguma idade, cabelos obviamente embranquecendo mas cobertos por uma generosa camada de tinta borgonha. Físico de besouro, com tronco amplo e redondo de barril e braços e pernas finos. A cara era macilenta e carregava a expressão de susto perene de quem fez aplicações de botox.
Usava uma calça cargo verde água, tênis amarelos, uma camiseta de manga longa vermelho-vivo e uma echarpe prateada em volta do pescoço. Aproximou-se andando de maneira afetada, e quando falou com Aberval, o surpreendeu com o sotaque carregado do interior do estado.
Aberval percebia nos trejeitos que o sujeito não era apenas gay, mas um afetado e efeminado de marca maior. Desmunhecando visivelmente a cada passo que dava.
Aberval pensou em passar o atendimento a um dos colegas, mas deteve-se. Aquela era uma prova de fogo. Não era uma pessoa homossexual na sua. Não... Era uma vasta bichona escandalosa e purpurinada.
Era um Everest particular que o Aberval deveria escalar sem oxigênio, pela face norte, no inverno se quisesse continuar trabalhando.
Aberval foi solícito. Ignorou as piadinhas de duplo sentido. A voz macia e nasalada, a chatice quase malcriada de alguém que torcia o nariz pra tudo.
Aberval ia filtrando o que o desagradava e concentrando-se em fazer bem seu trabalho.
Encontrou um par de calças e uma blusa que caíram no gosto do boiola, e encaminhou-se para o caixa na certeza de ter suplantado seu Everest profissional.
Com a venda quase concretizada, já na hora de passar o cartão, Aberval, distraidamente, num gesto quase inconsciente de polidez comercial, perguntou:
-Tens um sotaque pesado. És de onde?
O sujeito abaixou o óculos escuro, equilibrando-o na ponta do nariz, ergueu a sobrancelha cheio de charme e disse, pousando a mão na mão de Aberval:
"Sou de São Sebastião do cá ípsilon." e deu uma risadinha.
Aí, não teve jeito. O Aberval se botou nele e só parou de bater no vivente quando vieram três pra separar.
Por mais contrito, profissional e diligente que um homem fosse, tudo tinha limite...

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Resenha DVD: Questão de Tempo


E se tu pudesse voltar no tempo?
Se pudesse reviver momentos chave da tua vida, retocá-los, refazê-los, ou simplesmente aproveitá-los mais uma vez, sem compromisso. Só de curtição?
Parece brilhante, não é?
Pois é exatamente o que Tim (Domhnall Greeson) descobre, quando, após uma festa de ano novo, seu pai (Bill Nighy) lhe explica que os homens de sua família, têm o dom de viajar de volta ao passado.
É tremendamente simples. Basta se entocar em um lugar escuro e isolado, como um armário, cerrar os punhos, e pensar no momento que deseja revisitar.
Voilá.
O viajante do tempo retorna ao passado e tem a chance de refazer seu passado conforme desejar.
Para Tim, um jovem de 21 anos esquisito, magrelo e ruivo, essa extraordinária habilidade é a chance perfeita de encontrar aquilo que mais deseja:
O amor.
E embora suas habilidades de viajante do tempo não sirvam para conquistar a deliciosa Charlotte (Margot Robbie, de O Lobo de Wall Street), amiga de sua irmã Kit Kat (Lydia Wilson), ao menos lhe permitem consertar eventuais papelões a que ele se sujeite ao tentar fazê-lo.
Quando deixa a casa dos pais e vai para Londres trabalhar como advogado ele conhece a adorável Mary (Rachel McAdams, nerd e adorável como nunca antes), e imediatamente percebe que ela é o amor de sua vida.
Infelizmente, ao voltar no tempo e salvar seu amigo Harry (Tom Hollander) do fracasso profissional, ele acaba gerando uma linha de tempo onde os dois não se conhecem.
Tim, porém, é pertinaz, e através de suas habilidades, consegue ordenar as coisas de modo a que ele e Mary se apaixonem.
E aí, começa a verdadeira beleza de Questão de Tempo.
Se o pôster, o trailer e o nome do diretor/roteirista Richard Curtis (o mesmo escritor de Quatro Casamentos e Um Funeral, Um Lugar Chamado Nothing Hill e Simplesmente Amor) nos leva a crêr que estamos vendo um "boy meets girls" clássico com um temperinho diferente por conta das viagens no tempo dos Lake, a partir do segundo ato, quando Tim age ao contrário do que qualquer homem agiria em uma comédia romântica comum, nós descobrimos, o que, de fato, é Questão de Tempo:
Uma linda obra sobre o amor entre pai e filho.
A partir do momento em que entendemos isso, é difícil parar de chorar enquanto assistimos ao terceiro ato do filme. Cada cena, cada quadro, cada ida e volta no tempo é um mar de lágrimas como eu não derramava desde os minutos finais de Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (E eu me debulhei em lágrimas naquele filme como se fosse uma adolescente gordinha deprimida), e não é porque Questão de Tempo se torne um filme dramático, ou excessivamente feliz, é apenas pela epifania de perceber que estamos diante de uma lição sobre aproveitar o máximo possível o tempo com aqueles que amamos, pois, no final das contas, esses são os momentos que sempre iremos querer reviver de novo e de novo.
Ao disfarçar seu filme de pai e filho como uma comédia romântica britânica com todos os elementos da cartilha "Richard Curtisiana" (Está tudo lá, o protagonista masculino tímido com quem todos podemos nos identificar, o amigo porra-louca, a irmã espevitada, a adorável estrangeira por quem todos nos apaixonamos, o sujeito mais velho que é o nosso pai/avô/tio preferido, todos orbitando Londres e arredores numa vida de classe média/alta onde as pessoas podem se dar ao luxo de permitir que os problemas do coração sejam os mais graves e imediatos da vida), Curtis nos enfia no núcleo familiar de Tim de uma maneira tão completa que nós ansiamos por mais tempo com cada um deles, com a mãe que começa uma conversa perguntando "quais são seus defeitos?" ao tio D, tão maluco e desligado quanto adorável em sua tolice, a irmã maluca, os amigos inapropriados... Com o roteiro mais doce do mundo, direção tranquila, e um trabalho de elenco absolutamente fabuloso em sua fofura, com destaque especial para Domhnall Gleeson, Tom Hollander e especialmente para Bill Nighy, senhor absoluto do filme, Questão de tempo "ruleia".
Se eu pudesse voltar no tempo, é possível que eu tivesse feito escolhas diferentes aqui e ali. Feito melhor papel em momentos em que fui particularmente escroto. Talvez ganhado um pouco mais de dinheiro... Mas aprendi a minha lição.
Basicamente, passaria mais tempo com as pessoas que amo. Que amei.
E teria visto Questão de Tempo no cinema.
Duas vezes.
Ou três.
Assista. É excelente.

"-O que você achou dela?
-Eu já gosto mais dela do que de você."

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Resenha DVD: Frankenstein - Entre Anjos e Demônios.


Eu acreditava que após Batman - O Cavaleiro das Trevas, a carreira de Aaron Eckhart iria decolar. Seu retrato do promotor público Harvey Dent, indo da luminosa interpretação do cavaleiro branco de Gotham até o inferno da desfigurada e torturada figura do Duas Caras era um dos pontos altos num filme repleto de picos.
Mas, após Batman, Eckhart fez Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles, O Amor Acontece e Invasão a Casa Branca, nenhum deles filmes nem mesmo razoavelmente memoráveis.
Mas aí, quando parecia que a coisa estava meia-boca, Eckhart aparece como astro desse Frankenstein - Entre Anjos e Demônios, filme baseado no quadrinho I Frankenstein, da Dark Horse (Editora que mais havia transformado gibis em cinema até a Marvel enlouquecer no começo dos anos 2000).
O longa metragem mostra o monstro de Frankenstein (Eckhart), logo após matar a noiva de seu criador, o doutor Victor Von Frankenstein (Aden Young), ser perseguido pelo mesmo, e vê-lo morrer.
Ao voltar à Alemanha para enterrar o corpo de seu "pai", a criatura é atacada por um grupo de homens que se revelam demônios, e salvo por gárgulas (é, eu sei...).
Levado à presença de Leonore (Miranda Otto, a Éowin de O Senhor dos Anéis), senhora dos gárgulas, ele descobre que essas criaturas a quem tomamos por meros adereços são, na verdade, seres angelicais, enviados à Terra para proteger a humanidade dos demônios que aqui habitam disfarçados de gente.
Ela oferece a ele guarida, proteção, e um nome: Adam.
O Monstro aceita o nome, armas sagradas que podem ferir os demônios, mas segue seu caminho solitário, vagando pelo mundo por duzentos anos, caçando os demônios na perspectiva de descobrir o que eles querem com ele.
O que Adam não sabe, é que ele, e a forma como foi criado, são o pino mestre do nefasto plano de Naberius (Bill Nighy), príncipe demoníaco, para dar um passo adiante nas pesquisas de reanimação da Dra. Terra (O pitéu Yvonne Strahovski), que, a exemplo de Adam, não sabe que seus experimentos serão usados para criar um exército de demônios, varrer os gárgulas, e gerar um inferno na Terra.
Frankenstein - Entre Anjos e Demônios é uma salada tão indigesta que é até difícil reconhecer todos os ingredientes.
Meio Anjos da Noite (referência mais óbvia, já que além de toda a atmosfera, a luta entre grupos rivais de seres sobrenaturais escondidos da humanidade ainda estão lá os produtores do filme e Bill Nighy interpretando uma variação do vampiro Viktor da série de vampiros e lobisomens), com ecos de Van Helsing, Blade e até Crepúsculo, o filme consegue arrancar as características originais da criatura de Frankenstein que todo mundo conhece, e torná-lo um personagem menos humano e interessante.
Ao mesmo tempo em que a aparência agigantada, com dificuldade para andar e falar é subsituída por um corpo sarado, cicatrizes mais amenas, trajes descolados e super força, todas as questões existenciais que atribulavam a vida artificial do monstro vão por água abaixo em nome de uma atitude ranheta de herói relutante e desconfiado de todo mundo.
Nem mesmo as frequentes cenas de ação, que envolvem perseguições, pancadarias e combates aéreos impedem o filme de ser maçante e chato, ou escondem os problemas de um roteiro cheio de buracos.
O diretor Stuart Beattie (Também um dos responsáveis pelo arremedo de roteiro) parece preocupadíssimo em criar um espetáculo visual com chamas rodopiando pelo ar, gárgulas voando ao redor de torres góticas, derrubando prédios e mostrando elaboradas sequências de luta com bastões, mas esquece de contar uma história que justifique a sequência que o fim do filme alardeia na forma do vilão secundário que foge e da promessa do herói de que protegerá a humanidade quando as forças do mal retornarem.
Em suma:
Tudo de ruim.
Deixe juntar poeira na prateleira da locadora.

"-Eu sou uma dúzia de pedaços de oito cadáveres diferentes. Eu sou um monstro.
-Você só é um monstro quando se comporta como um."

Resenha DVD: Operação Sombra - Jack Ryan


Todo mundo que gosta de cinema de espionagem sabe quem é Jack Ryan, embora ele não seja necessariamente a mesma pessoa pra todo mundo.
Pra algumas pessoas ele pode ser o Alec Baldwin coadjuvante do Sean Connery em Caçada ao Outubro Vermelho, pra outras pode ser o herói xaropão interpretado por Ben Affleck em A Soma de Todos os Medos, mas, pra maioria dos fãs, é o consultor da CIA interpretado por Harrison Ford em Jogos Patrióticos e Perigo Real e Imediato.
Claro que os mais nerds ou aqueles que curtem romances de espionagem sabem que Jack Ryan é bem mais do que isso na literatura, onde chegou a ser diretor adjunto da CIA e duas vezes presidente dos EUA, infelizmente, o cinema parece querer sempre rejuvenescer Ryan, originalmente um sujeito nascido nos anos cinquenta e que envelheceu nos livros (seu filho, Jack Jr. inclusive estrela seu próprio livro, The Teeth of the Tiger), e após Ben Affleck interpretar o personagem no nada memorável A Soma de Todos os Medos, Ryan rejuvenesceu outra vez para ganhar a cara de Chris Pyne, o capitão Kirk da nova Enterprise.
Operação Sombra começa com um jovem Jack Ryan estudando na Universidade de Economia de Londres, sendo arrancado do que parece uma vida mansa pelos atentados de 11 de setembro de 2001.
Três anos mais tarde ele é um fuzileiro servindo no Afeganistão, e sobrevivendo à uma queda de helicóptero com graves ferimentos nas costas.
De volta aos EUA, ele faz fisioterapia, conhece a residente de medicina Cathy Muller (Keira Knightley, delicinha), e tenta se reabilitar para voltar a andar.
É quando ele conhece Thomas Harper (Kevin Costner, bem no papel), operativo fodelão da CIA que lhe oferece um emprego como consultor, trabalhando como um agente infiltrado da agência de inteligência americana em Wall Street, analisando padrões financeiros que possam prever e evitar novos atentados em solo americano.
Ryan aceita o emprego. Ele e Cathy vivem juntos, com o segredo da verdadeira natureza de seu trabalho criando volta e meia uma barreira na relação, mas eles vão levando, até Jack descobrir que a empresa do industrial russo Viktor Cherevin (Kenneth Branagh, diretor do filme) tem números um tanto suspeitos.
Enviado contra sua vontade à Rússia para investigar Cherevin, Ryan acaba descobrindo uma trama que promete lançar os EUA à uma segunda Grande Depressão, na esteira de um novo ataque terrorista de proporções catastróficas.
É bacana o novo filme de Jack Ryan. Olhando ele no todo, é certamente superior ao A Soma de Todos os Medos, embora fique devendo aos demais filmes do personagem, mas funciona como um bom entretenimento, e um razoável "Jack Ryan Begins".
Pyne mantém os mesmos trejeitos de seus outros filmes, Keira Knightley é um amorzinho, tão doce que a gente até perdoa o sotaque americano dela ser esquisito. Melhor sorte com sotaques tem Kenneth Branagh, que faz o vilão russo Cherevin ser mais do que apenas um malvadão com delírios de destruição, e Kevin Costner cai bem no papel do mentor Thomas Harper.
Com o elenco funcionando, uma trama que garante alguns momentos de tensão, boas sequências de ação e direção serena de Branagh, bem a vontade com blockbusters após Thor, Jack Ryan - Operação Sombra é um bom programa pra uma tarde/noite chuvosa.
Vale a locação.

"Você não é mais apenas um analista. Agora é um operativo."