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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Pontos de Vista


O Fabiano estava distraído diante do freezer dos sorvetes no corredor dos congelados do super-mercado. Não conseguia se decidir se estava em dúvida sobre qual sorvete escolher, entre um sabor novo de floresta negra e o sorbet de limão que comprava sempre, ou se estava apenas aproveitando o ar glacial que saia de dentro do aparelho naquela tarde escaldante de primavera quando os termômetros marcavam mais de 35 graus centígrados na rua, e as calçadas poderiam ser usadas como frigideira.
Resolveu que precisava fechar a porta do freezer e ir cuidar da vida. Não queria, afinal de contas, ser arrastado pra fora do mercado por um segurança após meia hora derretendo os sorvetes da loja.
Apanhou o sorbet, jogou dentro do cestinho, e virou sobre os calcanhares.
Deu de cara com uma moça alta, cabelo castanho claro cortado estilo chanel, ombros largos, quase largos demais, mas apenas quase.
Era bonita à seu modo. Uma beleza não óbvia.
O nariz fosse dois milímetros mais longos, e ela seria nariguda. o queixo meio centímetro mais comprido, queixuda, os ombros um centímetro mais largos, a Rebeca Gusmão.
Mas ela tivera sorte, e todas essas medidas extras caíram-lhe o quadril, a deixando bastante desejável.
Ele levou uma fração de segundo pra pensar nisso, e, após essa fração de segundo, ela abriu um sorriso que o deixou absolutamente sem jeito.
-Fabiano?
Ela perguntou, sorriso aberto.
-Hã... É...
Confirmou Fabiano, sem muita certeza, não de que era o Fabiano, mas se a conhecia.
-Sou eu! - Disse ela abrindo os braços, como se isso removesse toda a névoa que cercava sua identidade. -Juliana!
-Ah... Juliana... - Disse o Fabiano, ainda sem ideia de quem era ela.
Ela jogou a cabeça pra trás, revirando os olhos num gesto de impaciência:
-Fitipaldi... - Disse. E mexeu o braço como se empurrasse um carrinho de brinquedo pelo ar fazendo "vuóóóóóóóóóóóm..." com a boca.
Ele entendeu.
Juliana Fitipaldi fora sua colega no ensino médio. Toda a vez que um professor dizia seu nome completo durante a chamada, seus colegas, Fabiano incluso, imitavam o barulho de carros de Fórmula 1.
Juliana e Fabiano jamais haviam sido próximos. Ela sentava no fundão da sala, andava com tipos a quem Fabiano desprezava de maneira veemente pela falta de compromisso com os estudos. Eram um bando de desajustados de boutique, que tinham os estudos pagos pelos pais e desdenhavam do trabalho dos professores.
Fabiano, que suava para pagar pelos próprios estudos, inclusive em trabalhos braçais, achava aquele povo do fundão abjeto. E, se eles tivessem a decência de frequentar as aulas de educação física, ele certamente teria tentado quebrar algumas pernas no tempo que estudou com eles.
Juliana Fitipaldi era algo como a musa daquela turma do fundo.
Ela própria uma filha de família abastada (embora sem nenhum parentesco com a dinastia Fittipaldi do automobilismo) que desdenhava dos professores e dos colegas mais aplicados, tinha no rosto uma expressão de diva de antigamente, como se visse o mundo como um lugar enfadonho do qual queria ir embora logo.
Sequer se dignava a rir ou reclamar da brincadeira do ruído de motores à menção de seu sobrenome, quando muito balançava a cabeça como se visse naquilo uma demonstração comezinha de reconhecimento por parte de inferiores.
Ao menos era assim que Fabiano via a coisa toda.
Estranhou.
Como já lhe passara pela cabeça, jamais fora amigo de Juliana.
Jamais fizera um trabalho com ela, jamais trocara duas palavras com ela, na verdade.
Conhecia seu nome porque ele era motivo de uma das brincadeiras escolares mais divertidas em que tomara parte, inclusive sendo elogiada por seu professor preferido como uma brincadeira saudável, divertida e bem coordenada, e também, claro, porque era difícil não perceber aquela mulherona atraente de mais de 1,80m de altura.
Mas como Juliana sabia o nome dele?
-Claro! - Disse ele, torcendo para que aquela reminiscência não tivesse durado no mundo real tanto quanto durara dentro de sua cabeça. - Juliana Fitipaldi... Tudo bem contigo?
-Tudo - Ela respondeu, dobrando o tronco e suspirando em sinal de alívio. -Fiquei com medo de tu não lembrar e eu fazer papel de idiota.
-Não, não... Imagina. Como é que eu ia esquecer da Juliana Fitipaldi... - Ele disse, tentando ser agradável. E completou:
-Vuóóóóóóm...
Ela riu.
-Que brincadeira boba... Mas eu gostava, sabe?
"Não parecia." ele pensou. Mas ao invés disso disse:
-Sim... O professor Alexandre achava bacana. Uma vez disse que a nossa turma era a preferida dele por causa das nossas brincadeiras bem coordenadas. Que nem aquela do lenço, lembra?
Alexandre, professor de História, dava aula com um lenço na mão. Suava em profusão enquanto fazia seu show diante dos alunos, de modo que, a cada duas palavras, tateava a própria testa com o lenço. Certo dia, todos os alunos apanharam pedaços de papel, e começaram a mimetizá-lo toda a vez que ele secava a testa. A brincadeira não fora ideia de Fabiano, mas de seu colega Vinícius, mas Fabiano espalhou a ideia garantindo que todos participassem da inocente pegadinha que arrancou gargalhadas do professor.
Juliana, porém, não lembrava:
-Guri, nem me lembro quem era Alexandre, imagina brincadeira de lenço...
"Isso não me surpreende.", Fabiano pensou. Mas ao invés disso falou:
-Fiquei surpreso de tu lembrar de mim...
Ela fez uma expressão de enfaro que a tornou extremamente repelente por um breve instante, mas amainou as feições quando disse:
-Ah, é... Até parece que alguma das gurias da turma iria te esquecer...
Ele, francamente não entendeu. Na verdade, entendeu o que ela havia dito, e o que queria dizer, mas não como aquela sentença e o sentido nela imbuído eram referentes a ele próprio. Externou sua confusão em busca de respostas:
-Como assim?
-Ah, tá... Até parece... Tu era o sonho de consumo de todas as gurias da turma... - Disse Juliana, dando uma piscadela.
-Eu era? - Duvidou.
-Claro, né, Fabiano. Tu era bonito, tinha umas coxas muito gostosas, tirava as melhores notas da turma, jogava bola, lutava boxe, guri sério, falava bem... Todas as gurias eram loucas por ti. A Ariana chegou a fazer aposta que ficaria contigo antes do fim do ano...
-Hã? A Ariana Dal'Acoletta? - Perguntou Fabiano, chocado. Ariana Dal'Acoletta era uma loiríssima menina de corpo mignon exceto por um avantajado par de seios que lhe valeu o nada lisonjeiro apelido de "tetas no palito". Era muito bonita de rosto, e, á despeito da desproporção de seus generosíssimos atributos mamários que a deixavam com pinta de estrela pornô e a faziam ser uma das preferidas nas fantasias dos guris, era uma moça séria.
-Sim. - Confirmou Juliana. - Ela era taradinha por ti, mas aí tu apareceu namorando aquela deusa do pré-vestibular...
Fabiano lembrava disso com certo orgulho. A deusa em questão era Helena, uma morena com todos os atributos de uma modelo de passarela. Era linda. Morena, alta, coberta de sardas, longos cabelos negros como a asa da graúna, virava pescoços por onde passava, e, por um desses acasos do destino, tinha amigos em comum com Fabiano, de quem era vizinha. Fora o namoro mais longo da vida de Fabiano. Mais de três anos...
-Sim... A Helena...
-É - Confirmou Juliana. -Até o nome da desgraçada era bonito...
Fabiano sorriu. Juliana continuou:
-Mas vai dizer que tu não sabia? As gurias tavam sempre sussurrando quando tu passava, quando tu falava...
Fabiano lembrava. Ele achava o cúmulo da falta de educação ficarem falando dele quando passava. Tinha certeza de que debochavam dele pelo fato de ser um nerd introvertido e pobre.
-Eu... Eu não percebi... - Simplificou.
-É... Olha, posso ser franca contigo? - Perguntou Juliana, pousando a mão no braço de Fabiano e deixando claro que não esperaria permissão verbal dele para ser franca efetivamente:
-Eu te achava um gato, mas te achava meio nojentão.
-Nojentão? - Ele perguntou, francamente surpreso.
-É - Ela confirmou. -Tu olhava pra todo mundo de cima... Meio condescendente. Tinha só dois ou três guris com quem tu falava, os outros tinham um pouco raiva de ti, ou inveja, sei lá... Porque, sabe, tu olhava pras gurias como se elas fossem todas uns lixos...Acho que isso também ajudou elas a gamarem, mulher gosta de ser desprezada... Ainda mais pelo galã popular... Tri high school americano, né?
Fabiano estava perplexo.
Como é que as pessoas podiam vê-lo como um "galã popular" estilo rei do baile? Ele era um nerd ensimesmado que lia gibis e ia ao cinema ver as versões remasterizadas de Star Wars... Sim, ele amava jogar futebol, ele chegou a treinar boxe por um tempo para não ser um completo clichê de nerd ensimesmado, e namorava a guria mais bonita da rua (e tinha muito orgulho disso), mas ele estava longe de ser um desses playboyzinhos engomados que se prestam ao papel de "gato da turma", sequer era bonito segundo os próprios padrões.
De fato sua disposição com relação ao mundo era defensiva, mas não superior. Fabiano apenas reagia ao que acreditava ver, e, de seus colegas, o que via era um bando de fedelhos ricos e mimados que o desprezavam.
Não disse nada. Tentava digerir o que Juliana Fitipaldi acabara de lhe dizer. Foi ela quem falou:
-E tu? Casou com a Helena?
-Não... Não. Nós terminamos quando eu ainda tava na faculdade... - Disse Fabiano, ainda concatenando as ideias.
-Entendi. Achei que à essa altura vocês iam estar casados, com três filhos lindos de cabelo pretíssimo e pele branquíssima viajando pra Europa nas férias escolares. - Ela disse, aludindo ao fato de Fabiano ser professor e Helena turismóloga.
-Não... - Ele sorriu. -Não juntos, pelo menos.
-Olha, eu tenho que ir - Ela disse. -Eu tenho três pestes pra cuidar e eles saem da aula daqui a pouco. - Se inclinou pra frente, fazendo hesitante menção de dar-lhe um abraço.
Fabiano, em outros tempo, teria estendido a mão. Acenado. Qualquer coisa para não ter contato físico com Juliana Fitipaldi e sua cara de enfaro para com o mundo. Mas haviam sido alguns minutos de descobertas. Abriu os braços e a acolheu. Ela lhe deu um beijinho em cada bochecha e se despediu dizendo "tudo de bom", e Fabiano nem sequer fez troça mental da despedida.
Olhou para o próprio cesto de compras. O sorbet de limão já devia ter começado a derreter. Abriu a porta do freezer para trocá-lo por uma embalagem que não houvesse sido exposta a tanto tempo sem refrigeração. Apanhou o pote verde de outro sorvete idêntico, mas o colocou de volta no freezer, pegando um pote de floresta negra.
Talvez, pensou, fosse melhor experimentar novos pontos de vista com mais frequência.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O Futuro da Marvel no Cinema


E a Marvel chutou o pau da barraca e anunciou, ontem, todos os nove filmes que irão compôr a Fase 3 do estúdio no cinema.
Além dos já esperados Capitão América 3 - Guerra Civil, Guardiões da Galáxia 2 e Doutor Estranho (ainda sem oficialização do protagonista), o estúdio confirmou Thor 3 - Ragnarok, Inumanos, Capitã Marvel, além de um surpreendentemente avançado Pantera Negra, com arte conceitual maneira do uniforme e protagonista contratado:



Chadwick Boseman, de 42 - A História de Uma Lenda, viverá T'Challa, príncipe da nação fictícia de Wakanda, um império tecnológico erigido no seio da África graças à exploração do Vibranium (metal que absorve ondas de choque e que compõe a liga do escudo do Capitão América).
Doutor Estranho segue sem protagonista oficial, Benedict Cumberbatch é favorito, mas ainda não assinou contrato e as negociações seguem.
Capitã Marvel deve ter como protagonista a versão Carol Denvers da heroína, e não tem diretor ou protagonista definidos, assim como Inumanos.
Mas, talvez o grande barato do anúncio, foi a confirmação de que Vingadores 3 se chamará Infinity War, e será dividido em dois filmes numa apresentação que contou com teaser de Thanos (a ser vivido por Josh Brolin) com a Manopla do Infinito.


O calendário oficial do estúdio para os próximos anos, incluindo os filmes da fase dois que ainda não foram lançados, ficou assim:

Vingadores - A Era de Ultron - 1° de maio de 2015
Homem Formiga - 17 de julho de 2015 (Confesso que fiquei em dúvida se Homem Formiga ainda faz parte da fase dois ou é o primeiro filme da fase três...)
Capitão América: Guerra Civil - 6 de maio de 2016
Doutor Estranho - 4 de novembro de 2016
Guardiões da Galáxia 2 - 5 de Maio de 2017
Thor 3: Ragnarok - 28 de julho de 2017
Pantera Negra - 3 de novembro de 2017
Capitã Marvel - 6 de julho de 2018
Inumanos - 2 de novembro de 2018
Avengers: Infinity War - Parte I - 4 de maio de 2018
Avengers: Infinity War - Parte II - 3 de maio de 2019

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De lambuja, vamos dar uma olhada na versão espichada do trailer de Os Vingadores 2 exibida no intervalo do episódio dessa semana de Marvel's Agents of SHIELD, que inclui a cena da festinha dos heróis na torre Stark:




Confesso que gostei bem mais dessa versão do que daquela divulgada na semana passada, embora ainda ache o trailer demasiadamente semelhante à prévia do primeiro longa dos heróis mais poderosos da Terra...

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Bueno, o gordo calendário de lançamentos da Marvel deixa bem claro que o estúdio está pouco se lixando pro Universo Cinematográfico DC, que já arregou ao tirar Batman V Superman da competição direta com Capitão América 3 antes mesmo de a Marvel divulgar que o longa seria meio que Capitão América x Homem de Ferro.
Com seu caminho devidamente pavimentado, capaz de fazer sucesso com coisas como os desconhecidos Guardiões da Galáxia, achando o rumo na TV com seus agentes da SHIELD e garantindo que as vindouras séries de Demolidor, Jessica Jones, Punho de Ferro e Luke Cage se passarão todas no mesmo universo, a Casa das (más) Ideias segue firme e forte na dianteira da exploração super-heroica nas telonas.
Acenando com decisões corajosas como a retratação da Guerra Civil nas telonas, a Marvel mostra que não pretende se sentar confortavelmente em cima do status quo, e volta e meia vai dar uma sacudida nos alicerces de seu universo cinemático indo muito além dos crossovers (como Guardiões e Vingadores, já meio implícito na presença de Thanos e das joias do Infinito em Vingadores 3) no futuro próximo, no que promete ser uma leva de filmes com potencial dramático bem maior do que foi o caso na Fase 1.
Resta saber se estúdio conseguirá equilibrar os elementos dos novos filmes tão bem quanto fez em Capitão América - O Soldado Invernal, e que impacto (se algum) o lançamento dos filmes da DC terá sobre as futuras produções da Marvel.
Prepare a Pipoca.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Rapidinhas do Capita


E após flertar com Vigo Mortensen, Joaquin Phoenix e Ewan McGregor parece que a Marvel voltou lá ao início e estaria em negociações bastante avançadas para ter Benedict Cumberbatch no papel principal do longa metragem do Doutor Estranho, que vem sendo falado a bastante tempo e foi inclusive mencionado em Capitão América - O Soldado Invernal.
Nos quadrinhos Stephen Strange é um bem sucedido e arrogante neurocirurgião que sofre um grave acidente automobilístico que acaba com os movimentos de suas mãos.
Após gastar toda a sua fortuna tentando recuperar o controle de suas mãos, Strange toma conhecimento de uma ordem de místicos no Tibete, e parte para lá em busca de uma cura, mas, ao invés disso, encontra o treinamento que o tornará o Mago Supremo da Terra, defensor da humanidade contra os ataques de forças sombrias e secretas para as quais a maioria de nós é cego.
Devo dizer que, se for confirmada, e escalação de Cumberbatch perde unicamente para Phoenix na comparação com os demais cotados.
O britânico que dá voz e movimentos ao dragão Smaug e ao Necromante em O Hobbit - A Desolação de Smaug, e vive uma das melhores versões de Sherlock Holmes na badalada série Sherlock da BBC tem tudo para emplacar no papel do mais poderoso místico da Marvel, e estar em Os Vingadores 3, que, especula-se, terá o Capitão América (ou um Capitão América) liderando uma equipe de Vingadores alternativos, todos oriundos de filmes da fase 3 da Marvel, entre os quais, o Homem-Formiga de Paul Rudd, e o Doutor Estranho.
Doutor Estranho será dirigido por Scott Derrickson, com roteiro de John Spaiths, e deve chegar aos cinemas em agosto de 2016.



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E o túmulo (ou melhor, mausoléu) da família Wayne deu as caras no set de Batman v Superman - Dawn of Justice:


Batman v Superman - Dawn of Justice estréia em maio de 2016, e, além de Henry Cavill novamente interpretando Superman e Ben Affleck no papel de Batman, terá ainda Gal Gadot como Mulher-Maravilha, Jason Momoa no papel de Aquaman e Ray Fisher vivendo o Ciborgue no pontapé inicial para que a DC tenha seu universo cinematográfico nos moldes do criado pela Marvel.

Resenha Cinema: O Apocalipse


Anda difícil, mesmo para os fãs mais dedicados, defender Nicolas Cage.
O astro de filmes como Feitiço da Lua, A Outra Face, Adaptação e tantos outros grandes filmes anda numa draga tão danada que dá a impressão de estar escolhendo, de propósito, apenas filmes ruins pra fazer.
Para cada World Trade Center são dois O Sacrifício, para cada Vício Frenético, são meia dúzia de O Vidente, Perigo em Bangkok e O Pacto, para cada Joe são dois Motoqueiro Fantasma, Caça às Bruxas e Fúria Sobre Rodas, Reféns, O Pacto, O Resgate... São tantas escolhas ruins, mas muito, muito ruins, que os filmes razoáveis de Cage no caminho, como Presságio, Os Croods, Kick-Ass, Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança e Sangue na Neve são eclipsados, e ele só é lembrado pelas porcarias que faz recentemente, pois as faz em grande quantidade. Esse ano de 2014, mesmo, se encerrará com nada mais nada menos que quatro filmes estrelados por Cage, nenhum deles parecendo valer a película em que foram filmados.
Além de Fúria, The Outcast e Dying of the Light, o outro filme de Cage na temporada é esse O Apocalipse.
O Apocalipse, é uma refilmagem do Deixados para Trás original (pérola dos tele-filmes evangélicos que recheiam as tardes da TV a cabo, todos estrelados pelo astro "Newborn Christian" Kirk Cameron.), um filme religioso a respeito do Arrebatamento, o momento em que Deus, antevendo o início das atribulações que levarão ao juízo final, surrupiará da Terra as pessoas boas e inocentes, que serão levadas para o Paraíso, onde assistirão de camarote ao fim do mundo.
Na trama conhecemos o piloto comercia Rayford Steele (Cage), um homem que vive uma crise com a esposa Irene (A Lorraine McFly Lea Thompson).
Irene é uma mulher excessivamente devotada à religião, e com isso, afastou de si seu marido, e também a filha mais velha Chloe (Cassi Thomson).
No dia de seu aniversário, Rayford mente e deixa a família pois planeja passar a noite com a comissária de bordo Hattie (A lindona Nicky Whelan), e acaba descoberto por Chloe, que, desapontada e frustrada, volta para casa e discute com a mãe.
Abalada, ela vai passear com o irmão mais novo enquanto seu pai decola rumo à Inglaterra, é durante o voo e o passeio de Chloe, que um misterioso evento faz com que milhões de pessoas desapareçam instantaneamente, como se tivessem sido vaporizadas, deixando para trás suas roupas, jóias e perguntas sem resposta.
Para onde foram?
Enquanto Chloe vaga a esmo por uma cidade entregue ao desespero procurando por sua mãe e irmão, no ar, Rayford precisa lidar com o caos que se instaura quando parte dos passageiros e tripulação somem sem explicação, e os que restam exigem respostas, contando apenas com ajuda de Hattie e do repórter investigativo Buck Williams (o sumido Chad Michael Murray, de One Tree Hill).
É podre.
Meu Deus, que filme podre.
Entre o roteiro tendencioso, simplista e repleto de clichês mau utilizados, o elenco mau dirigido que se divide entre o semi-amador, o canhestro e o preguiçoso, e a mensagem absolutamente manipuladora fica até difícil achar o que é pior em O Apocalipse.
É óbvio que se esperava manipulação e clichês em um filme evangélico, mas é necessário estar com um dos hemisférios do cérebro desativado para gostar de alguma coisa em O Apocalipse.
Os personagens rasos e unidimensionais são todos estereótipos religiosos num festival de preconceito e obviedade que fica evidente na lista de "deixados pra trás" no avião de Rayford:
O homem de negócios escroto que só quer saber de lucro, a viciada, a aproveitadora, o adúltero, o apostador compulsivo, são todos escrotos e não merecedores do paraíso. A eles junta-se o incréu e o muçulmano, dois caras que parecem boa gente, mas que escolheram não acreditar em Deus, ou acreditar no Deus "errado", então, que fiquem e lidem com o fim dos tempos, e isso só na primeira classe.
Se a linha narrativa dentro do avião, encabeçada pelo protagonista já é ruim o que dizer da ação paralela estrelada pela filha do capitão Steele?
A mocinha vagante Chloe é tão irritante e despropositada que dá vontade de parar de ver o filme quando ela aparece, e a interpretação estilo peça escolar de Cassi Thomson não ajuda em nada.
O Apocalipse pega fácil o posto de fundo do poço na carreira de Nicolas Cage, que só vai conseguir ir mais fundo se estrelar a sequência que o filme sugere no final.
Veredicto?
Não assista a menos que esteja sob a mira de uma arma ou te ofereçam uma som vultuosa de dinheiro.

"Não posso deixar essas pessoas morrerem sem terem chance de reparar seus erros"

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Resenha DVD: Hércules


E quem diria, 2014 foi ano de Hércules nas telonas. Não uma, mas duas produções com o mais famoso semi-deus da mitologia grega chegaram aos cinemas nesse ano, a primeira, que nos Estados Unidos se chamava Hércules - A Lenda Começa, dirigida por Renny Harlin e estrelada por Kellan Lutz, é tão ruim, mas tão ruim, que dá vontade de ser cego quando tu assiste.
Com um concorrente tão desgraçadamente desqualificado, ficava fácil para o outro Hércules, dirigido por Brett Ratner e estrelado por Dwayne The Rock Johnson, ser o melhor filme de Hércules do ano, o problema é que o filme, que adapta o quadrinho Hércules - As Guerras Trácias, de Steve Moore, não vai muito além disso.
Hércules mostra o herói título vivendo uma vida errante pela Grécia trabalhando como mercenário.
O conhecido guerreiro com fama de semi-deus invencível forjou uma reputação tão poderosa para si, que em muitas ocasiões sequer precisa desembainhar sua clava para vencer uma batalha, mas, quando o combate é necessário, Hércules não está sozinho.
Ao lado de seu sobrinho, o contador de histórias Iolaus (Reece Ritchie), do vidente Amphiaraus (Ian McShane), da amazona Atalanta (a bonitona Ingrid Bolsø Berdal), do guerreiro espartano Autolycus (Rufus Sewell, irreconhecível sem o olho caído nem o habitual papel de vilão) e do selvagem Tydeos (Aksel Hennie), Hércules, que é assombrado por seu passado nebuloso, vem juntando uma pequena fortuna ao vender sua espada, quase o suficiente para abandonar a vida de soldado e ir viver o resto de seus dias em solidão, afastado de tudo e de todos.
O serviço que pode ajudar o guerreiro a completar sua conta e ter o suficiente para reiniciar sua vida surge quando Ergenia (Rebecca Ferguson) surge em seu caminho.
Ergenia é herdeira da Trácia, uma região assolada por uma guerra civil.
O lorde local, Cotys (John Hurt) tem visto seu povo ser massacrado pelo perverso Rhesus (Tobias Santelmann), e, conforme seu exército é reduzido, o poder do revolucionário cresce, ameaçando os camponeses.
Hércules e seus homens aceitam um generoso pagamento para, não apenas lutar lado a lado com os homens de Cotys, mas também para treiná-los, tornando-os uma poderosa tropa guerreira.
Porém, conforme a guerra se desenrola, e o treinamento de Hércules e seus companheiros, além da habilidade em combate dos próprios, faz virar a balança do conflito, o herói percebe que, talvez, tenha assumido o lado errado nesse conflito, uma percepção que o fará vasculhar sua consciência, e o colocará em uma trilha que pode significar tanto seu fim, quanto o primeiro passo para tornar sua lenda real.
Então...
Como eu disse, o Hércules do The Rock não tinha a mais difícil das missões no tocante a superar o Hércules de Kellan Lutz (que inclusive é espezinhado com uma piadinha lá pela metade do filme), entretanto, o filme de Brett Ratner é igual ao resto da filmografia do diretor de X-Men 3 e Dragão Vermelho, absolutamente genérico e vazio.
A produção é caprichada, os efeitos visuais bacanas, as cenas de luta movimentadas e bem construídas (tudo bem ao estilo censura livre), o elenco é maneiro, The Rock é carismático, e o filme até tem seus bons momentos, mas falta muito para Hércules ser mais do que apenas mais uma sessão de cinema descerebrada.
Em especial, falta desenvolvimento aos personagens, a superficialidade de todo mundo no filme é flagrante, e a direção de atores de Ratner não ajuda.
Mesmo com bons intérpretes no elenco de apoio (que ainda inclui Joseph Fiennes e Peter Mullan) e um protagonista maneiro, com o físico perfeito para o papel, os personagens são unidimensionais e desinteressantes.
O conflito de Hércules não tem estofo nos atributos dramáticos limitados do astro Dwayne Johnson, que constantemente é eclipsado por seus colegas mais talentosos, em especial Ian McShane, tremendo ladrão de cena, e o sempre ótimo John Hurt, tudo isso somado à algumas ideias muito idiotas (como os armamentos de se abrem, e as lâminas automáticas nas carruagens dos heróis) e uma trilha sonora genérica de dar dó, e as boas ideias do quadrinho de Moore (em especial o viés realista pelo qual são mostrados os feitos do herói, então narrados de maneira florida por seu sobrinho) são sugadas para um espiral de estilismos vazios num espetáculo visual que é insípido a maior parte do tempo.
Uma pena, The Rock poderia ser o Hércules de uma geração, mas precisaria de um filme bem superior para isso, no fim das contas, seu Hércules é apenas OK.
Vale a locação se tu é um fã declarado de The Rock, outrossim, espere passar na TV a cabo.

"-Não importa quão longe você vá, um homem não pode escapar de seu destino. Quem é você? Um assassino? Um mercenário que vira as costas aos inocentes? Nós acreditamos em você. Temos fé em você. Lembre-se dos feitos que você realizou, os trabalhos que superou! Você é apenas a lenda ou é a verdade por trás da lenda? Agora diga-me, quem é você?
-Eu, sou HÉRCULES!"

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Trailer de Vingadores: Era de Ultron

E a Hidra passou a perna na Marvel (pelo menos foi o que o estúdio deu a entender em seu twitter) e botou na rede o trailer de Vingadores 2: A Era de Ultron!
Confira a prévia de pouco mais de dois minutos abaixo:



E aí? Vou confessar que me desapontou um pouco. Eu achei parecido demais com o trailer do primeiro filme, e só valeu, mesmo, pela presença do Ultron.
A dublagem de James Spader e aquele olhar psicopata do robô no fim da prévia ficaram do caralho. A, a luta entre Hulk e Homem de Ferro Hulk Buster promete...


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Resenha Cinema: O Juiz


Os tempos mudaram da década de setenta/oitenta pra cá. Foi-se o tempo em que interpretar um super-herói na tela meio que acabava com a carreira de um ator, ou o deixava irremediavelmente marcado como aconteceu com Christopher Reeve. Hoje em dia Hugh Jackman é indicado ao Oscar com Os Miseráveis, Christian Bale vence o Oscar com O Vencedor, atores habituados a ótimas críticas, com prêmios e indicações na bagagem como Andrew Garfield anseiam pelo collant de seu herói de infância... Ser super-herói no cinema deixou de ser um peso.
Os papéis icônicos em geral.
Daniel Craig aceitou ser James Bond com medo de não conseguir mais fazer outro papel, temor que se mostrou infundado. Foi-se o tempo em que Star Wars acabava com a carreira de Mark Hamill e Carrie Fisher.
Prova cabal disso é que Robert Downey Jr., o ator que ajudou a colocar o primeiro tijolo no império cinematográfico que hoje permite à Marvel enxotar Batman e Superman da sua data de estréia nos EUA, pode se dar ao luxo de ser astro de uma franquia sem nada a ver com a Marvel em seu divertidíssimo Sherlock Holmes, fazer comédias como Um Parto de Viagem e Trovão Tropical, se aventurar em dramas como O Solista e esse O Juiz.
O longa dirigido por David Dobkin, mesmo das comédias Bater ou Correr em Londres, Penetras Bons de Bico e Eu Queria Ter Sua Vida, O Juiz conta a história de Henry (Hank) Palmer, advogado de uma grande firma de Chicago habituado a grandes casos que rendem rios do dinheiro de réus extremamente ricos e culpados.
Hank é o anti-Atticus Finch, um advogado ardiloso e manipulador que não liga pra quê crime seu cliente cometeu, contanto que ele possa pagar seus honorários. Mas, o sucesso de Hank na vida profissional destoa de seu casamento fracassado. Entre a esposa que o traiu e a família que deixou pra trás em Indiana, a única coisa boa na vida pessoal de Henry é a filha Lauren (Emma Tremblay), e, não bastasse tudo isso, Henry descobre que sua mãe morreu em sua cidade natal, Carlinville.
Ao chegar à cidade para o funeral Henry se reencontra com seus irmãos Dale (Jeremy Strong), e Glen (Vincent D'onofrio), e com seu pai, o juiz Joseph Palmer (Robert Duvall), uma instituição local, juiz da cidade pelos últimos 42 anos, homem de moral ilibada, respeitado pela sua forma reta e direta de fazer justiça.
Hank e seu pai, não se dão bem. Mal falam um com o outro e fica claro que existem rios de mágoa de parte à parte.
Após pequenos atritos entre ambos, Henry está pronto para retornar à Chicago quando Joseph é acusado de homicídio.
Agora, cabe a Hank usar os talentos que seu pai despreza para tentar livrá-lo da cadeia, em um processo que forçará o advogado a um reencontro com o passado que ele tentou enterrar atrás de si, e uma reaproximação com todas as coisas que deixou para trás, inclusive o seu amor da adolescência, Samantha (Vera Farmiga), sua família e o acidente que a alterou para sempre.
Pela premissa fica bem claro que tipo de filme é O Juiz.
E é exatamente isso. Um drama bastante convencional, previsível, até, de reencontro com o passado e reconciliação da família disfuncional. Todos os ingredientes estão lá, o pai austero, mãe conciliadora que se vai, o irmão deficiente mental e o irmão que podia ter sido grande mas não foi... É tudo bem formulaico no roteiro de Nick Schenk, Bill Dubuque e do próprio Dobkin, que demonstra que não é um diretor capaz de pegar um roteiro comum e transformá-lo em algo mais.
Por sorte, Dobkin conta com o elenco acima da média pra levar a trama adiante.
Downey Jr. alcançou um patamar que lhe permite carregar um longa metragem nas costas, some-se a isso um monstro do porte de Robert Duvall, extremamente confortável em um papel que lhe cai sob medida, e as interações de ambos já valem o ingresso.
Outro ponto positivo é que Dobkin, egresso de comédias, sabe usar o bom timming cômico de seus atores pra impedir que o filme caia no dramalhão puro e simples (A sequência da escolha do júri, por exemplo, é hilária).
Se conforme a história caminha chegando mais perto do julgamento as coisas escapam um pouco dos trilhos, o elenco (que ainda conta do Dax Shepard, Dennis O'Hare e Billy Bob Thorton) já ganhou a audiência, e segura a peteca, de modo que fica mais fácil suportar a turbulência.
No final das contas, O Juiz está longe de ser mau filme. Ainda que não tenha nenhuma novidade a oferecer, o longa de Dobkin se equilibra bem antre a comédia e o drama, e está muito bem amparado nos ombros dos atores, e isso, por si só, já torna a ida ao cinema bastante agradável.
Assista na telona, vale a pena.

"Todos querem Atticus Finch até ter uma prostituta morta na banheira."

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Resenha DVD: O Que Fazer?


Eu confesso que não vinha acompanhando com grande entusiasmo a carreira de Robin Williams antes da morte do ator alguns meses atrás.
Pra ser cem por cento honesto, nunca tive lá muita paciência com o Robin Williams como comediante.
Filmes como Surpresa em Dobro e Licença Para Casar passam longe do meu tipo preferido de cinema, e os dramas do ator andavam bastante repetitivos e irrelevantes, uma absoluta pena, pois Robin Williams fez coisas excelentes entre os anos oitenta e noventa, e é co-estrela de um dos meus filmes preferidos em todos os tempos, O Pescador de Ilusões, além de dar show em Gênio Indomável, Bom Dia Vietnã e Sociedade dos Poetas Mortos entre outros.
Não foi por causa da morte do ator que eu aluguei O Que Fazer? no sábado.
A verdade é que eu estava com bastante vontade de ver o filme desde que li a primeira notícia a respeito algum tempo atrás, mas demorei a encontrar o longa na locadora até porque eu procurava por um título que se aproximasse mais do The Angriest Man in Brooklyn original... De qualquer forma, um elenco com Peter Dinklage, Melissa Leo, e o pitéu Mila Kunis merecia uma olhada, e foi isso que eu fiz.
No longa conhecemos Henry Altmann (Williams), logo de início sabemos que ele era um homem muito feliz em seu casamento com Bette (Melissa Leo) quando os filhos dos dois eram crianças, mas, passados vinte e cinco anos desde então, Henry mudou.
Uma tragédia em sua vida o tornou um homem amargo, irritadiço e briguento, insuportável de conviver, que transforma tudo em confronto e afasta todas as pessoas que se aproximam dele.
Não é mais senão acaso que faz o caminho de Henry se cruzar com o da doutora Sharon Gill (Kunis), uma médica deprimida, viciada em analgésicos que se ressente mais da morte do gato suicida do que dos pacientes com quem pode passar, no máximo, quinze minutos, e tem um caso extra-conjugal com um colega mais velho, o médico habitual de Henry, a quem ela está cobrindo na tarde fatídica que abre o longa.
Durante uma consulta que, claro, se transforma em uma briga, Henry ouve de Sharon que tem um aneurisma no tronco cerebral.
Henry quer saber quanto tempo de vida lhe resta. Ele ofende Sharon e a pressiona até que ela, frustrada, lhe diz que ele tem 90 minutos.
Inicialmente Henry não acredita no prognóstico, mas e se for verdade?
E se o tempo de vida que lhe resta for, de fato, uma hora e meia? O que fazer nesse tempo?
A resposta para Henry torna-se óbvia. Se reconciliar com sua família. A esposa com quem não conversa, e o filho Tommy (Hamish Linklater) com quem brigou anos atrás, os amigos antigos com quem perdeu contato, e até mesmo o irmão e sócio Aaron (Dinklage) com quem não tem tido a melhor das relações.
Mas enquanto é perseguido por Sharon e corre contra o tempo para fazer essas emendas, Henry descobre que não é tão fácil pedir desculpas às pessoas que feriu, e que, uma hora e meia, pode não ser tempo suficiente para reparar anos de mau comportamento, ao menos não sem ajuda.
O Que Fazer? é bastante previsível, o longa do diretor Phil Alden Robinson, o mesmo de Campo dos Sonhos e A Soma de Todos os Medos não é capaz de encontrar nenhuma gota de sutileza para contar sua história, que vai se entregando a cada passo do caminho de Henry e Sharon.
Robin Williams até se esforça, especialmente quando vive seu personagem na forma rabugenta e raivosa, mas está longe de sua melhor forma, Mila Kunis, que é a produtora do longa, também não acha o tom e as motivações da personagem não convencem, Melissa Leo e Peter Dinklage são acima da média, mas mesmo eles não conseguem ir muito adiante com seus personagens que não têm tempo para se desenvolver.
Com tantos defeitos, o roteiro de Daniel Taplitz (que adapta o filme israelense The 92 Minutes of Mr. Baum) não decola, e, ainda que consiga um ou outro bom momento, se torna uma nota menor na carreira de todos os envolvidos.
Uma pena, pois havia mais potencial.

"Raiva é a única coisa que me restou. Raiva é meu refúgio, é meu escudo. Raiva é meu direito!"

sábado, 18 de outubro de 2014

Resenha DVD: Chef


Eu sempre gostei dos filmes do Jon Favreau como diretor. Se Crime Desorganizado era apenas OK, Um Duende em Nova York é, fácil, meu filme natalino preferido junto com O Grinch. Logo depois ele faria Zathura - Uma Aventura Espacial, um filme surpreendentemente bacana considerando que era uma "continuação espacial" de Jumanji, e depois Homem de Ferro, talvez o filme que ajudou a Marvel a reger com mão de ferro o mundo dos super-heróis no cinema.
Parecia uma grande carreira surgindo.
Homem de Ferro 2 não resiste muito bem a duas ou três assistidas, mas ainda assim, foi um tremendo hit e faturou uma nota, e aí veio o grande tombo de Favreau: Cowboys & Aliens.
O faroeste Sci-fi que parecia sonho de nerd realizado e que tinha tudo pra ser duas horas de diversão ao melhor estilo matiné acabou sendo um filme chato pra doer, não deu a resposta que se esperava na bilheteria e deixou a impressão de que, talvez, Favreau não fosse essa Coca-Cola toda.
O diretor foi produzir e atuar em Homem de Ferro 3, dirigiu alguns episódios de séries como The Office e o piloto da versão televisiva de Um Grande Garoto, e, resolveu dar uma escapulida dos filmes de efeitos visuais e grandes orçamentos e escrever, dirigir e estrelar um road movie culinário, o Chef, que eu tive vontade de assistir no cinema um ou dois meses atrás, mas acabei achando em DVD na locadora, ontem.
No filme Favreau é Carl Casper, chef de cozinha em um bem sucedido restaurante em Los Angeles. A despeito de amar o que faz, Carl não está inteiramente satisfeito com sua vida.
Ele abriu mão da criatividade em nome da segurança, trabalhando no mesmo cardápio ao longo de uma década conforme a comida de sempre garante o sucesso financeiro de seu patrão, o restauranteur Riva (Dustin Hoffman).
Não bastasse isso, Carl separou-se da esposa Inez (Sofia Vergara), uma bem sucedida promotora de eventos e tem tido cada vez menos contato com o filho Percy (Emjay Anthony), que está numa idade em que anseia pela atenção do pai ausente, de modo que o trabalho na cozinha que divide com os amigos Martin (John Leguizamo) e Tony (Bobby Cannavale), além de sua cúmplice relação com a recepcionista Molly (Scarlett Johansson), têm sido a sua menina dos olhos.
Quando o restaurante de Carl vai receber a visita do famoso crítico gastronômico Ramsey Michel (Oliver Platt), Carl se empolga na confecção de um novo menu, mas é dissuadido por Riva, que o faz cozinhar as coisas de sempre.
O resultado é uma crítica dura que logo escalona para uma guerra de insultos via Twitter, e um desafio de Casper à Michel que termina com o chef demitido e incapaz de encontrar um novo emprego.
Financeiramente quebrado e com sua carreira arruinada, Carl decide aceitar o conselho pouco ortodoxo da ex-esposa, e investir seu tempo em um "food truck", um restaurante móvel onde ele poderá reencontrar o prazer de cozinhar.
Carl viaja com a ex-esposa e o filho para Miami, e lá, através de Marvin (ponta de um hilário Robert Downey Jr.), o ex-marido de Inez, Carl consegue o veículo (quase) perfeito para a empreitada, e com a ajuda do filho e de Martin, coloca seu sonho na estrada redescobrindo, não apenas o prazer de cozinhar, mas também o prazer de estar com sua família.
Longe de ser um filme perfeito, Chef é uma experiência divertida.
Embora sofra de alguns problemas de desenvolvimento (como a confusa relação de Carl com a ex-esposa, por exemplo), Chef dá seu recado de maneira leve e saborosa.
Apostando certo no clima de road movie, sem descambar pro piegas ao explorar a relação de Carl com o filho, nem deixando que presença de astros e estrelas em papéis pequenos deixasse o longa com cara de "ação entre amigos", Favreau cria um filme gostoso de assistir, e que passa rápido em seus 115 minutos onde equilibra momentos tocantes e algumas gargalhadas sinceras, ingredientes que funcionam em qualquer menu.
Vale demais a locação.

"Que tal se eu te cozinhar alguma coisa?"

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Pra Não Desmoronar


Entraram no apartamento, ela, depois ele. Ela, vestida com uma saia curta e solta, azul-marinho com estampa floral e um casaquinho branco de lã sobre uma regata, também branca, tirou os tênis all-star usando apenas os pés, e abriu a geladeira sem pegar nada, apenas se apoiou na porta e inclinou o tronco esguio pra dentro do refrigerador, suspirando alto:
-Aaaaaaaaaaah... Que calorão nessa rua, Deus o livre...
Ele, sorrindo diante da visão, perguntou:
-Onde eu deixo essas sacolas?
-Qualquer lugar... - Ela respondeu com pouco caso, enquanto enfiava a cabeça dentro do freezer fazendo graça num óbvio hipérbole do calor, ainda perfeitamente suportável àquela altura do ano.
-Eu te falei que tu tava louca de andar de casaco... - Ele disse enquanto largava as sacolas de compras sobre o balcão de mármore branco rachado da pia.
-Não é casaco. - Ela protestou, fechando a porta da geladeira e tirando a peça. -É um casaquinho. E quado eu saí de manhã não tava tão quente...
-Se tu usasse bolsa que nem uma mulher normal, tu poderia ter guardado teu casaquinho na bolsa... - Ele aferiu enquanto tirava as coisas dela de dentro da sacola.
-Se tu fosse um cavalheiro, tu teria te oferecido pra levar meu casaquinho nessa tua mochilona. - Ela retorquiu.
Ele ergueu a sobrancelha:
-É justamente por eu ser um cavalheiro que eu não me ofereci pra levar teu casaco na mochila. Minha mochila tá imunda. E fedendo. Ontem tomei chuva com ela. Só vou poder lavar no final de semana. - Ele explicou.
-Eu tava brincando. - Ela disse. -Se tem uma coisa nessa vida de que ninguém pode te acusar, é de não ser cavalheiro.
-Deve ser a única... - Ele constatou olhando pra ela de canto.
Ela sorriu, inclinou-se pra frente mas ele a evitou.
-Que foi? - Ela perguntou, surpresa enquanto estacava. -Eu não ia...-
-Eu sei... Eu sei. - Ele disse, virando de costas para o balcão e se apoiando nele com as mãos espalmadas pra baixo. Fechou os olhos:
-Eu não achei que tu fosse... Eu só... Sabe aqueles momentos em que tu pensa que, se alguém te tocar, tu vai te debulhar em lágrimas que nem uma guriazinha?
Ela parou na frente dele. O espaço exíguo da cozinha dela forçando uma aproximação que não o deixava confortável. Apoiou-se, da mesma forma que ele, na mesinha de fórmica amarela que havia entre a geladeira e a máquina de lavar:
-O que houve, Ned?
-Eu não sei pra onde essas coisas vão. - Ele disse, apontando as compras que acabara de tirar de dentro das sacolas. Frutas, leite, iogurte, maionese, massa, uma lasanha congelada, peito de peru, queijo, requeijão, uma garrafa de dois litros de Pepsi...
-Fala comigo... - Ela suplicou.
-Tu esqueceu o pão. - Ele balbuciou, tentando distraí-la.
-Esqueci o pão! - Ela disse, fazendo cara de triste diante das compras.
-Acontece. - Ele disse, olhando pras compras, mas vendo através delas, muito longe. Lá longe...
Saiu de seu mini-transe e viu que ela o encarava sorrindo triste.
-Bueno... O leite, o iogurte e os frios vão pra geladeira... As frutas, também? - Ele perguntou, começando a apanhar as coisas.
-Sim. - Ela respondeu, ainda com o sorriso, enquanto apanhava o refrigerante e a lasanha e os recolhia ao freezer.
Tudo guardado, ele passou as mãos nas pernas e disse que ia indo.
-Peraí. - Ela disse, detendo-o. Eu quero te mostrar uma coisa. Correu até a sala e voltou com um molho de chaves na mão.
-Uh, chaves! - Ele disse, fingindo empolgação.
-Cala a boca, palhaço, não é isso. - Ela o repreendeu, rindo. -Vem comigo.
O pegou pela mão e o conduziu pra fora do apartamento. Andaram até o fim do corredor, pararam junto à uma grade que impedia o acesso à escada a partir daquele andar. Ela apanhou o molho de chaves, e testou uma antes de acertar a segunda, que entrou na fechadura e liberou-lhes a passagem.
Subiram a escada, com ela à frente. Ele, atrás dela, perguntou:
-Estamos indo pro teu laboratório, doutora Von Frankenstein?
Ela fez um "shhh!" alto, que o levou a crer que eles não tinham permissão para estar ali. Ela se deteve diante de uma porta enferrujada de metal, e ali, acertou a chave de primeira, abrindo a porta e lhe mostrando o terraço do prédio.
Não era particularmente impressionante dali. Uma lage surrada, fustigada por toda a sorte de intempérie, e cercada por três paredes bem mais altas, visto que, tanto o prédio à direta quanto o prédio à esquerda e mais o prédio ao fundo, eram pelo menos meia dúzia de andares mais altos.
Ele externou seu desapontamento:
-Uau... Com certeza é um quarto com pé direito beeeeeeeeem alto...
Ainda alongava o "e", quando ela o pegou pelas orelhas e o virou, de modo a fazê-lo ver o que ela, de fato, queria mostrar. A vista para a frente.
Da sacada do apartamento dela se via bastante céu, já que o prédio da frente tinha um andar a menos. Mas a vista ficava obstruída por conta do que, eles supunham, fosse a sala de máquinas do elevador do edifício, que também tinha o pé direito pouco mais alto, de modo que, o grande barato da vista da sacada, era a rua Duque, e o fato de ter sol uma boa parte do dia.
Mas de onde estavam agora, no terraço, o prédio da frente não obstruía nada. E eles podiam ver os morros à caminho da Zona Sul, o parque do Marinha, o Beira-Rio, a usina do gasômetro, além de uma grande quantidade do Guaíba.
O sol estava se pondo, e uma iluminação dourada e laranja tomava conta do céu à direita, e ia se tornando rosa e então púrpura conforme se voltavam à esquerda num espetáculo de cor tão bonito que eles podiam até esquecer do barulho e da poluição que se erguiam do tráfego cinco andares abaixo.
-E aí? - Ela perguntou. Valeu a pena?
Ele sorriu olhando adiante.
-Valeu, alemoa. Obrigado.
Ele limpou os olhos, que se encheram d'água, e ela se aproximou dele já se desculpando:
-Olha... Não me leva a mal... Mas se tu quiser te debulhar em lágrimas, esse é um bom momento.
E o abraçou forte. De maneira fraternal. Como ele não era abraçado havia tanto tempo que nem se lembrava. E ele chegou a soluçar pensando no quanto precisava daquilo, mas foi só. À exceção de uma lágrima que lhe escorreu de cada olho, ele não se desmanchou chorando como temia que pudesse acontecer, e aquele abraço somado àquele pôr-do-sol que tinham por perto, o ajudaram a aguentar o que fora um dia e uma noite particularmente infernais. E talvez fossem mantê-lo inteiro por mais algum tempo.
Àquela altura da vida, com tudo o que vinha acontecendo, talvez fosse o máximo que ele pudesse esperar. E ele estava verdadeiramente agradecido.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Resenha Game: Terra-Média: Sombra de Mordor


Pra ser cem por cento honesto, eu vinha ignorando solenemente todas as notícias referentes à Terra Média: Sombra de Mordor desde que o game começou a ser anunciado em novembro do ano passado.
Pode parecer estranho pra um nerd convicto ignorar qualquer coisa relacionada ao universo d'O Senhor dos Anéis, mas a verdade é que, pelo título, eu tinha a impressão de que Terra Média: Sombra de Mordor era um RPG ou um game de estratégia, e eu não jogo RPGs eletrônicos e nem jogos de estratégia.
Não tenho paciência para nenhum dos dois tipos. A simples ideia dos combates divididos por turno dos RPGs e games de estratégia de computadores e consoles me causa bocejos, eu curto a urgência do combate em tempo real, RPG, pra mim, tem obrigatoriamente que envolver uma mesa cercada de nerds repleta de dados poliédricos e fichas de papel.
Era por isso que não fazia nem ideia de que se tratava Sombra de Mordor.
Mas a verdade é que tendo recém comprado um Playstation 4 e sendo proprietário de apenas três jogos, na semana passada eu já estava a dois passos de desenvolver urticária, tamanha minha vontade de variar além de FIFA, Injustice e The Last of Us Remastered.
Os games que eu realmente queria jogar quado comprei o PS4, Uncharted: A Thief's End, Batman: Arkham Knight, Assassin's Creed Unity e a sequência de The Last of Us, ainda demorariam um pouco a ser lançados, e eu me via flertando com Sherlock Holmes - Crime and Punishment quando resolvi dar uma espiada nas notícias a respeito de Sombra de Mordor e ao descobrir que, apesar de possuir algumas características de RPG o game era mais um RPA (ou Role-Playing Action, mais ou menos ao estilo Zelda), fui fisgado.
É exatamente o tipo de jogo de que eu mais gosto, de modo que as aventuras do detetive mais famoso da literatura acabaram sendo deixadas pro mês que vem, e eu fui passar um final de semana em Mordor.
No game o jogador já começa como o falecido guardião do Portão Negro de Mordor, Talion, em um estado fantasmagórico semelhante ao dos espectros do Um Anel relembrando os eventos de seu assassinato, quando um grande contingente de Uruks ataca de surpresa os gondorianos encarregados de defender o Morannon.
Talion tenta defender sua esposa Loreth e seu filho Dirhael, mas os dois são mortos diante dele pela trinca de vilões do game, três capitães de Sauron, númenórianos negros de lealdade inabalável e poder imenso que preparam Mordor para o retorno de seu mestre em um horripilante assassinato ritual.
Talion é degolado logo após ver a morte de sua esposa e filho, os três são sacrificados para invocar o espírito de Celebrimbor, o artífice élfico responsável pela confecção dos anéis de poder de Sauron.
O espectro de Celebrimbor, porém, sofre de amnésia devido ao seu estado de espectro, e ao invés de atender ao chamado da Mão Negra de Sauron, se une a Talion, trazendo-o de volta ao mundo dos vivos.
Celebrimbor e Talion se fundem parcialmente, de modo a ajudarem um ao outro. Talion ajudará o espectro élfico a descobrir sua verdadeira identidade, e Celebimbror ajudará o guardião a vingar sua família.
Assim, os dois começam a vagar por Mordor, então repleta de assentamentos Orcs e de refugiados de Gondor, visando juntar peças para desvelar o passado esquecido de Celebrimbor e também, levar a vingança do guardião à Mão de Sauron, uma trilha que faz com que seus caminhos se cruzem com Orcs que desejam aumentar seus rankings nas forças de Mordor, como o hilário Rathbag, renegados como o desertor Hirgon, e criaturas a muito esquecidas como o esquivo Gollum...
É um baita jogo.
Se graficamente Terra-Média: Sombra de Mordor não chega a ser nenhum prodígio (embora seja muito, muito bonito), tem uma jogabilidade esperta unindo a liberdade do sandbox com um sistema de combate bacanudo, seguindo o modelo de contra-golpes da série Batman Arkham, e várias características de RPG (como as árvores de melhoria, que podem ser usadas tanto para ampliar a capacidade de Talion, quanto as de Celembrimbor), num mundo aberto com um mapa enorme, repleto de itens a serem encontrados e atividades secundárias muito além da história principal, tudo isso escorado na robustez da criação de J. R. R. Tokien (embora cheio de liberdades criativas que farão fãs xiitas se morderem e odiarem o game) e explorando um hiato pronto para ser preenchido entre O Hobbit e O Senhor dos Anéis.
Com um visual bacana, seguindo o modelo de Terra-Média estabelecido pela Weta Workshop de Peter Jackson, Sombra de Mordor dá ao jogador a possibilidade de vivenciar o poder de um guerreiro fodelão ao melhor estilo de Legolas, Aragorn ou Gimli, mas sem remover da equação a possibilidade de derrota, levando o game muito além do mero esmaga-botões.
Duas características em particular são muito maneiras, a primeira é a hierarquia de inimigos, muito bem sacada, tornando cada combate diferente do anterior, algo muito bem vindo à medida em que os combates são um dos pontos mais altos do game e seria um pecado se eles fossem cansativos ou repetitivos.
O sistema de hierarquia faz com que uruks sejam promovidos conforme o jogador elimina capitães e chefes-de-guerra, esses inimigos são dinâmicos e têm características singulares entre si, com fraquezas e pontos-fortes distintos, fazendo com que nem todos possam ser mortos da mesma maneira, algo que torna alguns combates verdadeiros quebra-cabeças e exercícios de paciência.
A outra boa sacada é o sistema "nêmese", que faz com que o resultado dos combates tenha sempre consequências futuras, com inimigos vencidos que retornam em busca de vingança com suas carrancas cobertas de cicatrizes, e inimigos que eventualmente derrotam Talion, sendo promovidos e tirando uma onda do herói quando vocês se reencontram.
Esse talvez seja o grande diferencial de Terra-Média: Sombra de Mordor, se a história em si não tem lá grandes novidades, sendo apenas um bom jogo de aventura, a produtora Monolith tirou de letra os aspectos mais livres do Sandbox, levando o game a outro patamar na hora de preencher o mapa com atividades secundárias extremamente bem sacadas (além dos chefes guerreiros, capitães e hordas errantes de orcs e uruks, há a possibilidade de caçar e domar criaturas e procurar por relíquias) que garantem diversão muito além das cerca de doze horas de jogo para concluir a história principal escrita por Christian Cantamessa, o mesmo que escreveu o espetacular Red Dead Redemption.
O game, como praticamente todos da atual geração, pode ser jogado dublado em português, a dublagem é OK, melhor do que as atrozes versões brasileiras de The Last of Us e Call of Duty Ghosts, mas inferior à de Batman - Arkham Origins e Injustice: Gods Among Us, eu preferi jogar em inglês, mesmo, já que, na verão original, Talion é dublado por Troy Baker, o Joel de The Last of Us, e a Mão Negra de Sauron tem voz de Nolan North, o papa das vozes de games, responsável, entre outras, pela inspiradíssima dublagem de Nathan Drake na série Uncharted.
Com jogabilidade esperta, capaz de unir um sistema de combate ágil e eficiente com um modo de progressão que atinge, não apenas ao protagonista, mas aos seus inimigos, em um jogo bonito, divertido, e bem-intencionado, a Warner Interactive mostra que pegou o espírito da coisa com sua série Batman Arkham, e que agora pode tirar outros coelhos da cartola.

"-Nem todo o vagante é vadio."

sábado, 11 de outubro de 2014

O Homem Que Podia Voar


Hoje é o aniversário de dez anos da morte de Christopher Reeve, o ator a interpretar de maneira mais icônica a um super-herói em qualquer mídia além das páginas dos quadrinhos.
Em 1978, o gigante gentil de 1,93 metro envergou o colante azul e a capa vermelha ajudando a transformar Superman - o filme em um estrondoso sucesso, e inserindo-se de maneira indelével no imaginário coletivo como a personificação definitiva do Superman, feito que realizou de maneira tão eficiente que tornou difícil para a audiência acreditar em qualquer outro ator com o uniforme.
Reeve viveria o Superman em quatro filmes, cuja qualidade decairia a cada capítulo.
Ainda assim, manteve seu prestígio junto aos fãs do herói inabalado, chegando a encontrar dificuldade para convencer em outros trabalhos.
A veia heroica de Reeve, porém, não se restringiu ao cinema e à cinessérie do Superman. Em 1995, após um sério acidente de equitação, o ator viu-se tetraplégico devido à uma grave lesão cervical.
Confinado à uma cadeira de rodas, ele seguiu trabalhando como ator e diretor além de liderar uma campanha em nome da liberação das pesquisas com células-tronco para auxiliar vítimas de paralisia.
Christopher Reeve morreria em 10 de outubro de 2004, vitimado por uma grave infecção, mas o legado do sujeito que convenceu o mundo que um homem podia voar, viverá para sempre.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Os Idiotas e Os Apaixonados


O Eduardo saiu de casa todo perfumado, de banho tomado, cabelo penteado, e roupa alinhada que parecia que ia fazer exame de fezes.
Andou esbaforido o meio quarteirão que o separava de seu destino, diante do qual parou e respirou fundo.
Ele parou em frente ao caixa do mercadinho onde a Daniela trabalhava. Era o caixa 3, dos quatro do mini-Mercado Silva, que pertencia ao seu Oliveira, que o comprara da viúva do falecido Silva anos antes.
O mercadinho do seu Oliveira era a tábua de salvação do bairro já que os hiper e super-mercados mais próximos ficavam à uma distância considerável dali, de modo que, sempre que alguém precisava, de última hora, de azeite, ovos, um molho, pão ou detergente, corria até o mini-Mercado Silva, fazia suas compras, e saía amaldiçoando o seu Oliveira pelos seus preços exorbitantes.
Eduardo nem tinha conta de quantas vezes entrara no mercadinho do seu Oliveira pra comprar bolacha recheada, salgadinho, refrigerante e chiclete, mas sabia exatamente quantas vezes tinha ido até lá apenas para ver a Daniela:
Mais de trezentas.
No último ano, haviam sido precisamente trezentas e setenta e três vezes. Mais de uma por dia.
O Eduardo se apaixonou pela Daniela à primeira vista. Perdidamente. Foi só colocar os olhos em cima da beleza de Daniela, de sua pele cor de canela, de seus longos e encaracolados cabelos negros, de seus olhos brejeiros, de suas coxas firmes, seus seios e quadris generosos, seus braços torneados e ombros delicados... Eduardo se apaixonou por ela na primeira vez em que passou um pacote de Trakinas de morango e uma garrafa de Sprite no caixa, e ela, ao lhe devolver o troco, disse que adorava aquele biscoito, e deu-lhe uma piscada cúmplice.
Se apaixonou mais ainda ao ouvir sua voz rouca. Foi edificando seu amor secreto a cada passada no mercadinho. A cada breve comentário dela a respeito de suas compras, ou a respeito de qualquer assunto por comezinho que fosse. A cada ocasião em que podia ver seu sorriso franco e aberto, e vê-la cantando sem som, apenas mexendo os lábios, qualquer pagode que tocasse de um carro que passava, ou do celular de algum cliente.
E o Eduardo, que nem gostava de pagode, após um ano de ensaio, tomou coragem, e foi ao mercadinho do seu Oliveira disposto a se declarar à Daniela sem nenhuma pista que indicasse que era retribuído em suas afeições, mas repleto de uma coragem que acomete apenas aos idiotas e aos apaixonados que, na maior parte das vezes, são a mesma coisa.
Parou diante do caixa da Daniela, que o olhou e ergueu as sobrancelhas e abriu a expressão num sorriso admirado com a caprichada produção do Eduardo, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, o Eduardo, tão afinado quanto podia, o que não era lá muita coisa, começou a entoar:
-Daniela, minha Dani, minha Dani, Daniela, Daniela é rainha, a minha rainha é ela...
Arrancando risos de alguns clientes, assobios estridentes e exclamações de incentivos de outros.
A Daniela fechou a expressão, e disse, em voz baixa, mas decidida:
-Pára.
O Eduardo pensou em dizer algo, chegou a abrir a boca e tomar fôlego, mas Daniela reforçou:
-Pára, por favor.
E o Eduardo parou, murchando como uma flor arrancada do chão e largada ao sol. Começou a se dirigir a saída enquanto sentia-se enrubescer, enquanto sentia-se encolher sob o peso da própria insignificância. Eduardo secretamente sempre soube que a Daniela era areia demais para seu modesto caminhãozinho, mas nutria a esperança de que ela fosse capaz de ver além de sua aparência mediana, que ela fosse capaz de ver que ali, naquele magricela de cabelo castanho e bochechas vermelhas, havia um homem devotado, que se esforçaria ao máximo de sua capacidade para fazer feliz à uma bela mulher que fosse generosa o suficiente para dar-lhe uma chance. Que seria sempre fiel, e sempre grato por poder partilhar a vida ao lado de um alguém tão linda e cheia de vida como Daniela.
Deu dois passos para fora e ouviu atrás de si:
-Psiu?
Virou-se, incrédulo, e viu Daniela, muito séria:
-O seu Oliveira não gosta. - Deu um sorriso contido e completou -Eu saio às sete. Aí tu continua. - E concluiu com uma piscada cúmplice.
Sim... A coragem de Eduardo era do tipo que apenas possuem os idiotas e os apaixonados. Mas não é também, justamente a esses dois grupos que se destinam os mais improváveis triunfos, glórias e sucessos?

Conjectura


A Janaína tinha cheiro de corpo feminino suado. Não era dessas mulheres perfumadas, depiladas, de pele alva, lisa e impecável.
Não.
Janaína era esguia além da conta. Magra de ter o peito ossudo, onde podia-se vislumbrar as costelas. Era morena, pois gostava de estar ao ar-livre, sob o sol, tendo sua pele tostada aos poucos conforme se aproximava janeiro, exposição ao sol que lhe cobria a tez de sardas e sinais.
Tinha mais pelos nos braços do que muitos homens de idade semelhante, e não era vaidosa a ponto de depilá-los ou descolori-los, deixava-os in-natura, como testemunho de seu temperamento explosivo e arredio.
Era, também, testemunho de um pouco de preguiça.
Já lhe bastava ter de depilar as axilas, já que era uma devotada fã de blusas regata, e as pernas, já que gostava da companhia de homens e sabia que eles não respondiam bem a pelos nas pernas femininas.
Janaína se vestia pensando apenas em funcionalidade, calças largas e leves, que não faziam maravilhas por seu quadril estreito, blusas soltas e sem mangas que lhe davam liberdade de movimento e frescor, sandálias macias que lhe arejavam os pés...
Não era vaidosa, Janaína.
O fosse, não cortaria o cabelo em estilo "joãozinho", curto como o de um moleque, nem encararia o mundo desmuniciada de um batom ou rímel.
Mas Janaína não fazia nada disso.
Janaína não pensava em comprar uma bolsa da Prada, mas sim uma mochila da Deuter, pois era mais importante para ela ter uma estrutura confortável às costas quando fosse caminhar no mato com 60 litros de material de camping pendendo-lhe nos ombros magros do que desfilar com uma bolsa da moda.
Para Janaína, bastava uma dessas sacolas ecológicas de tecido cru para andar na cidade fazendo as vezes de bolsa. Qualidade e tecnologia, ela queria em seu saco de dormir, em seu isolante térmico, em sua mochila de viagem... Era assim a Janaína, que não se considerava hippie, mas sabia que o era.
E por isso mesmo, foi tanto mais estranho que o Eliezer tenha se sentido tão atraído por ela logo à primeira vista dentro daquela loja de bolsas e mochilas esportivas no Centro da cidade.
O Eliezer não era um hippie em potencial. Não. Nunca foi chegado no estilo de vida livre. Não gostava nem mesmo de estar ao ar-livre. Quando ia acampar e lhe perguntavam do que precisava dizia "Minha casa".
Era cria da cidade, o Eliezer.
Um desses sujeitos de físico meia-boca, em constante luta contra a balança e a própria gula, que volta e meia conquistava vitórias épicas contra o próprio corpo mas logo relaxava e recuperava os quilos extras, Eliezer era a figura do sujeito da cidade.
Um filho do seu tempo, da frente do computador, do videogame, da TV a cabo e do smartphone.
Tinha a aparência mediana de quem não liga para a própria aparência escondendo o fato de que, se não se preocupasse com a própria aparência, estaria aquém do mediano.
A barba por fazer era regiamente aparada para dar-lhe um ar de quem não havia se barbeado. O cabelo despenteado era cuidadosamente produzido na frente do espelho, e o jeans velho era de grife, e custava mais caro por já vir velho da loja. Eram vaidades a que o Eliezer, um sujeito feio, precisava se sujeitar de modo a não sumir na multidão, e volta e meia funcionavam. O Eliezer, um sujeito feio, namorava com frequência, inclusive algumas meninas que não eram feias.
O Eliezer tinha um tipo muito específico de mulher ideal:
A inalcançável.
O Eliezer sempre queria estar com a menina de 1,75m, 54 Kgs, loira, olhos azuis, seios tamanho 46, pinta de miss e pés lindos, mas, por sorte, tinha um radar ajustável à própria aparência. Não era um lunático.
Tinha um papo relativamente interessante, fingia ser um bom ouvinte, era educado e expansivo, de modo que era capaz de se movimentar com algum êxito entre as representantes do sexo oposto. Jamais ficara com a loira idílica de suas idealizações, mas encontrara ao menos uma daquelas qualidades em várias das mulheres que fizeram parte de sua vida.
Uma ou outra media 1,75m, algumas pesavam 54 Kgs, algumas eram loiras, outras tinham pés lindos, ou olhos azuis, várias tinham seios tamanho 46, e pelo menos uma tinha pinta de miss.
Eliezer gostava de peles lisinhas e perfumadas, tinha, inclusive suas preferências com relação ao tipo de perfume que queria sentir no pescoço de uma mulher, de modo que, a primeira coisa que o chamou a atenção quando parou a cerca de dois passos da Janaína dentro da loja onde ambos esperavam atendimento, foi justamente o cheiro dela.
Aquele cheiro de corpo suado. Mas não era ruim. Era um cheiro algo cru... Mas não tinha nada de ruim.
Ao olhar para Janaína, o Eliezer, tendo-a de frente, fitou-lhe o peito em busca dos seios, mas os seios dela eram quase nulos de tão pequenos. Ao invés de seios ele vislumbrou os ossos do peito de Janaína sob a sua pele bronzeada e, ao contrário do que supunha, isso não o repeliu. Pelo contrário. Ele achou bonito o corpo magro de Janaína sob sua blusa preta sem mangas. Notou que sob a blusa, ela não usava um sutiã, mas sim a parte de cima de um biquíni. Em plena Porto Alegre. Em pleno outubro... Não conseguiu evitar imaginar se sob a calça cargo larga ela usava calcinhas ou a parte de baixo do biquíni? Ou talvez uma cuequinha feminina? Não... Aquela mulher não parecia o tipo que ia à uma loja de lingerie descolada comprar uma cueca feminina. Ela parecia mais capaz de andar por aí com uma lingerie da vovó ou sem lingerie alguma.
Esse pensamente excitou Eliezer, que àquela altura já olhava para Janaína com outros olhos.
Seu rosto bonito e lavado, parecia mais atraente e enigmático do que o de qualquer cocota pós-púbere rebocada de blush e batom que ele secara em danceterias, seu cabelo preto cortado curto parecia mais macio e brilhante do que as madeixas loiras de qualquer modelo de comercial de cerveja, e suas mãos pequenas de unhas curtas pintadas de maneira apressada de um vermelho cereja na ponta de seus braços finos e repletos de finos pelos negros pareciam mais tentadoras do que as de qualquer massagista de clínica masculina.
"O quê é isso?", pensou. "O quê é que eu estou fazendo?", perguntou-se. Ela não era, nem de longe, o tipo de mulher que Eliezer vislumbrava em seus sonhos quando pensava na mulher ideal, e ainda assim, aquela magricela com "bicho-grilo" escrito em cada parte do corpo, subitamente parecia a mãe que ele sempre quis para os seus filhos.
Percebeu que não tirava os olhos dela, e, viu que ela o olhava de volta. Sorriu meio sem graça pela gafe, e, para sua surpresa, Janaína sorriu de volta.
Tinha um sorriso lindo. Branco de dentes quadrados que lhe iluminava o rosto deixando-a mais bonita do que qualquer maquiagem poderia sonhar em fazer.
Eliezer estava aturdido pela revelação súbita de seu interesse por uma mulher tão diferente de tudo o que ele considerava importante na aparência de uma mulher, pensou em dizer alguma coisa, mas as palavras lhe faltaram. Sempre tinha alguma frase feita na ponta da língua pra qualquer mulher que lhe cruzasse o caminho, mas viu-se mudo diante de Janaína, que logo foi aliciada por um vendedor enquanto um segundo levava Eliezer para outro canto da loja à medida em que Janaína e ele procuravam por coisas absolutamente diferentes. Ela, por grandes mochilas de viagem, ele, por uma mochila média para usar no dia-a-dia.
Eliezer escolheu o mais rápido que pôde, mas ainda assim demorou, pois muitas eram as opções que o vendedor tinha para oferecer. Quando se dirigiu ao caixa, ainda pôde vislumbrar Janaína saindo pela porta com uma grade mochila vermelha e cinza nas costas. Não era o tipo de mulher que carregava as compras em sacolas plásticas.
Após pagar a conta e sair com sua mochila nova, Eliezer olhou para os dois lados tentando enxergar Janaína ao longe.
Voltou para perguntar se o operador de caixa tinha o nome da moça que saíra logo antes. Mas ela pagara em dinheiro vivo e não quis nota fiscal.
Eliezer sorriu "típico dela", pensou, ainda que não soubesse nada dela, exceto o que pudera deduzir ao vê-la, parada de pé na loja.
Supôs, corretamente, que ela era uma amante de atividades ao ar-livre. Que deveria beber e eventualmente até usar drogas ilícitas de maneira recreativa. Que devia ser de acordar cedo. De dormir fora de hora quando a a oportunidade se oferecesse. Que provavelmente fosse vegetariana, e que ainda fosse amiga de ex-namorados que eram completos idiotas.
E concluiu que, entre uma mulher como ela, e um homem como ele, as coisas jamais dariam certo.
Mas não pôde deixar de conjecturar, ainda que brevemente, que perdera o amor de sua vida.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Não Se Vá, Homem-Aranha


A Sony pictures, detentora dos direitos do Homem-Aranha no cinema, parece ter perdido de vez a mão com relação aos filmes do herói.
Após refazer O Espetacular Homem-Aranha, removendo Mary Jane (Shailene Woodley) da história, cortando parte considerável da participação de Felícia Hardy (Felicity Jones), e obrigando Mark Web a praticamente refazer o filme na edição, a empresa que já havia demonstrado sua falta de tato ao pesar a mão no trágico Homem-Aranha 3 quando forçou Sam Raimi a incluir o Venom no filme, e o demitiu durante a pré-produção de Homem-Aranha 4, quando o cineasta relutava em acrescentar o Carnificina à trama admitiu não saber o que fazer com a franquia.
Ou, pelo menos é o que ficou implícito após alguns rumores darem conta de que o filme derivado do Sexteto Sinistro, que seria uma prévia a O Espetacular Homem-Aranha 3, poderia tornar-se um novo filme de origem, onde um novo Homem-Aranha uniria forças aos vilões para enfrentar uma ameaça ainda maior.
Ou seja, a Sony gostaria de pegar o que é seu grande acerto com o reboot, a escalação de Andrew Garfield no papel principal, e jogar isso no lixo em nome de um reinício da série.
Francamente... Por mais que eu goste da ideia de o Homem-Aranha reverter de volta à Marvel, e entender que a melhor maneira de isso vir a acontecer fosse com a Sony acabando com o personagem nos cinemas como a Universal fez com o Hulk e a Fox com o Demolidor, acho um desperdício o que a Sony ameaça fazer com o cabeça de teia.
Ao invés de aproveitar a resolução dos problemas mais indigestos de O Espetacular Homem-Aranha em O Espetacular Homem-Aranha 2, que termina acenando praticamente com uma tela em branco para o personagem, e dar sequência à ótima encarnação de Andrew Garfield no papel de Peter Parker/Homem-Aranha, que esmerilhou a interpretação autista de Maguire quando usou o uniforme colante, o estúdio vai jogar tudo pra cima e fazer um re-reboot para tentar capitalizar mais uns trocados com o sobrinho preferido da tia May, chupando até a última gota possível da popularidade do herói, para então engavetá-lo por um tempo ao primeiro sinal de prejuízo, e deixá-lo guardado até que a Marvel possa resgatá-lo e, quem sabe, aproveitá-lo em um dos filmes da fase 5 ou 6 do estúdio de Os Vingadores...
Claro, estou conjecturando à distância com base unicamente em um rumor qualquer da internet, mas a verdade é que após todas as metidas de pés pelas mãos do estúdio, com a resposta morna da crítica e com a legião de haters que, antes mesmo de ver o filme, já elencava dezenas de razões para odiá-lo (com todas sendo apenas camuflagem para o desespero de um inexplicável fã-clube de Maguire) foi praticamente um milagre que O Espetacular Homem-Aranha 2 fosse um filme tão capaz de dialogar com os fãs do personagem (e capaz de ultrapassar os 700 milhões de dólares só em bilheterias), e isso se deve, em grande parte, a Andrew Garfield, um ator que ama e entende o personagem, e sua pegada precisa na hora de viver o herói mais famoso da Marvel. E, como fã do Homem-Aranha, me dói um pouco ver isso ser jogado pela janela.
A Sony poderia tentar lembrar que, grandes poderes trazem grandes responsabilidades.

Resenha DVD: A Grande Escolha


Quer realizar um filme tendo como protagonista um sujeito com certa persona cinematográfica, ator reconhecidamente talentoso e carismático que pode não estar na sua melhor fase da carreira?
Faça um bangue-bangue ou um drama esportivo. Esse tipo de filme tem uma porcentagem considerável de chance de atrair Kevin Costner.
O ator/diretor que está desde Waterworld tentando tentando voltar à constelação de astros de primeira grandeza de Hollywood (e que esteve perto de conseguir isso justamente com um western, o ótimo Pacto de Justiça, alguns anos atrás) parece incapaz de resistir ao papel de caubói e o de atleta, e, à medida em que a idade começa a pesar e ele não seria mais crível em um uniforme esportivo (a menos que voltasse ao golfe de O Jogo da Paixão), Kevin não desiste,mas se vê obrigado a mudar de estância.
A Grande Escolha, dirigido por Ivan Reitman, ex papa das comédias de efeitos especiais oitentistas que vinha sendo eclipsado pelo talentoso filho Jason, mostra Costner no papel de Sonny Weaver Jr., gerente da equipe dos Cleveland Browns, um time médio da Liga Nacional de Futebol americano (NFL na sigla em inglês).
As coisas não andam lá muito boas para Sonny, que está tendo um daqueles cinematográficos dias infernais.
Pra começar, sua namorada, Ali (A gatona Jennifer Garner), lhe avisa que está grávida. O namoro de Ali e Sonny é algo secreto já que ambos trabalham juntos nos Browns, time que o pai de Sonny, o senhor Sonny Waever Sr., morto duas semanas atrás, dirigiu com sucesso até ser demitido pelo próprio filho na temporada anterior.
Não bastasse tudo isso, essa é a manhã do Draft Day, a noite em que as equipes da NFL escolhem entre os prospectos das universidades os jovens jogadores que comporão seus times na temporada numa espécie de leilão, e Sonny é pressionado por seu chefe, o dono do time Anthony Molina (Frank Langella), a realizar uma contratação de impacto, algo de que a equipe precisa pra sobreviver à temporada.
No ano em questão, Sonny e seus Browns têm a prerrogativa da sétima escolha da noite, o quê, baseado nas estatísticas, provavelmente permitirá que ele escolha entre o linebacker Vontae Mack (Chadwick Boseman, de 42 - A História de uma Lenda), e o runnigback com recentes problemas legais Ray Jennings, filho da ex-estrela dos Browns
Earl Jennings (Terry Crews), a questão é que, para engorssar a trama, na mesma manhã, o gerente dos Seattle Seahawks, Tom Michaels (Patrick St. Esprit), liga para Sonny oferecendo uma proposta aparentemente irrecusável:
Trocar a sua escolha, a primeira da noite, pelas primeiras escolhas de Sonny nas próximas três temporadas. Pode não parecer justo, mas a prerrogativa da primeira escolha possibilitaria a Sonny escolher o garoto de ouro do draft em questão, o quarter back de Winscosin Bo Callahan (Josh Pence), em quem todas as equipes estão de olho.
Pressionado, o executivo acaba cedendo, e, se faz a felicidade de seu patrão, colegas e dos torcedores, gera a ira do treinador da equipe, Penn (Denis Leary), e do seu quarter back atual, Brian Drew (o sumido superboy Tom Welling), que esteve machucado na temporada anterior e estava ansioso para provar seu valor no ano por começar, além de suas próprias dúvidas, já que Callahan não era a primeira escolha de Sonny.
Para piorar, enquanto começa a vasculhar o passado de Callahan para descobrir porque o Seahawks estão abrindo mão do menino prodígio, é pressionado de todos os lados e luta contra as próprias convicções, Sonny ainda precisa lidar com sua mãe manipuladora (Ellen Burstyn), com sua ex-esposa enxerida (Rosana Arquette), e um estagiário novato.
Não chega a ser um mau filme, mas A Grande Escolha tem dois defeitos capitais:
O primeiro, é ser excessivamente fechado no mundo do futebol americano para atrair uma audiência que não se interesse pelo assunto. Repleto de referências a grandes astros do passado do esporte como Joe Montana, Dan Marino, e a dinastia Manning, episódios específicos de Super Bowls da década de oitenta, e todo o universo da NFL (incluindo participações especiais de comentaristas e narradores que são "famosos quem?" pra maioria do público), A Grande Escolha já começa afugentando uma boa parte da audiência.
Some-se a isso o segundo defeito, o fato de absolutamente nenhum dos personagens ser vagamente crível (são todos completos estereótipos. O linebacker sem papas na língua, o chefão que mete pressão, a namorada que ralou para conseguir seu lugar ao sol e o coloca em risco ao se relacionar com o colega, a mãe manipuladora, a ex-mulher nojenta, o prodígio que pode não ser o que se espera...), todos praticamente etiquetados de tão unidimensionais, e o longa se perde.
Mesmo com os truques visuais usados por Reitman, como as telas divididas em telefonemas que se sobrepõe e se misturam durante as conversas, o relógio contando as horas até o draft, e as belas tomadas aéreas decoradas com o logo dos times cada vez que uma nova cidade e uma nova equipe são apresentadas, o filme não vai atrair aos não-fãs/não-iniciados no mundo do futebol americano, o que é uma pena, pois, se o trabalho dos roteiristas Scott Rothmann e Rajiv Joseph fosse mais competente, com a boa mão de Reitman e o trabalho aplicado de um elenco acima da média, A Grande Escolha tinha tudo pra decolar, sem isso, se tornou um filme de nicho, e olhe lá.

"-Como é que pode o prêmio definitivo do esporte mais macho já criado ser uma joia?"

Resenha Cinema: Mesmo Se Nada Der Certo


Poucas coisas gritam "Indie" mais alto do que dramédias românticas musicais estreladas por Keira Knightley e Mark Ruffalo e dirigidas por John Carney, do Indie até a medula Apenas Uma Vez.
O trailer de Mesmo Se Nada Der Certo (cujo título original que aparece no início do filme é Can a Song Save Your Life?, "uma canção pode salvar sua vida?", mas tem o título original registrado no IMDB como Begin Again "começar de novo"), também era terrivelmente indie, mostrando participações de Cee-Lo Green, de Mos Def e do Maroon 5 Adam Levine no que parecia uma versão mais descolada de Letra e Música, mas ei, quem é que não gosta de uma dramédia indie estrelada pelo delicinha Keira Knightley de quando em quando?
Bora lá conferir a inglesinha cantando com o auxílio do auto tune, que é, de fato, a primeira coisa que vemos no filme.
Keira é Gretta, ela está sentada em uma bar de música ao vivo qualquer em Nova York, e é convencida por seu amigo Steve (James Corden), que está no palco, a subir e cantar uma de suas canções.
A baladinha, "para todos os que já se sentiram sozinhos na cidade", não chega a ofender, e ajuda que Keira seja uma graça com suas caras e bocas na sua performance.
Corta para a manhã do mesmo dia.
Dan (Mark Ruffalo), acorda as sete da manhã, ele está um trapo, parece ter enchido a cara na noite anterior. Ele pensa em se barbear, mas desiste e volta pra cama. Sai horas mais tarde após apanhar um pacote repleto de CDs demo, Dan é um produtor musical que não anda lá num momento muito positivo da vida. Pra piorar, todos os CDs parecem a mesma coisa, algo entre pop e hip-hop sem alma, personalidade ou qualidade.
Ele apanha a filha com quem não sabe se comunicar Violet (uma insuspeita gostosa Hailee Steinfeld que, acabo de descobrir, tem apenas dezessete anos, então esqueçam a parte do "gostosa") na escola, e vai à uma reunião com seu sócio Saul (Mos Def), na gravadora que os dois fundaram juntos. A reunião termina com Dan demitido.
Após encher a cara por toda a parte, pensando em se suicidar, Dan acaba em um bar qualquer para beber sua última dose de uísque, quando ouve a canção de Gretta no palco.
Desse encontro fortuito, surge uma parceria que pode salvar a ambos a medida em que descobrimos que Dan não superou a separação da ex-esposa Miriam (Catherine Keener), e que Gretta era namorada de parceira musical de Dave Kohl (Adam Levine), que após sentir a fama tremer sob seus pés, trocou Gretta por uma produtora qualquer da gravadora com quem acabara de assinar, deixando a jovem sozinha e de coração partido na grande maçã.
Essa é a premissa nada original de Mesmo Se Nada Der Certo, mas não tema. A despeito do início, o desenrolar do longa trata de afastar essa impressão.
A exemplo de Apenas Uma Vez, Mesmo Se Nada Der Certo não é um romancezinho típico, mas sim um longa sobre o efeito da música na vida dos protagonistas, com boas canções do próprio Carney, ex baixista do The Frames, e boas atuações do casal protagonista, em especial Knightley, Mesmo Se Nada Der Certo segura a onda com a fofura, boas canções, e intercalando momentos divertidos com algumas cenas realmente tocantes (a melhor talvez seja quando Gretta ouve uma canção do namorado, e imediatamente sabe que ele a escreveu pensando em outra mulher), misturando o início agridoce a um segundo ato genuinamente divertido, e um desfecho absolutamente desalinhado com o que se esperaria do filme, deixando de lado os clichês mais recorrentes do gênero.
Nessa toada, Carney e seu elenco obtém sucesso ao contar sua história através de dois personagens desenvolvidos de maneira absolutamente crível, com quem todos podem se relacionar, e de quem é fácil gostar.
O que mais se pode pedir de um filme?
Assista, no cinema ou em DVD, vale absolutamente a pena.

"-Eu não estava tentando te reconquistar, estava tentando te mandar à merda."

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Resenha Cinema: Garota Exemplar


Antes mesmo de assistir Garota Exemplar, já havia duas coisas que se podia dizer a respeito do filme. Primeiro, que não seria ruim. Filmes assinados por David Fincher nunca são. Mesmo seus piores filmes, como o chatinho Quarto do Pânico e o desnecessário Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres, valem a pena assistir, afinal, o sujeito nos deu Zodíaco, Se7en e Clube da Luta, então, ele merece a deferência, e tem crédito.
A segunda coisa que se podia dizer de Garota Exemplar antes de ver o filme, é que o longa tinha o que é, fácil, o melhor trailer de um longa metragem nos últimos anos. Se duvida, dê uma olhada antes de continuar lendo essa resenha:



Agora, isso é um trailer, meus amigos... Eu nem precisaria tê-lo assistido cinco ou seis vezes no cinema nos últimos tempos para ficar babando pra assistir ao filme, uma teria bastado, e, diga-se de passagem, a vontade de assistir a Garota Exemplar, é totalmente justificada na medida em que o filme em si, é infinitamente melhor do que o genial trailer ali em cima sugere.
No longa, com roteiro adaptado do best seller de Gillian Flynn pela própria, conhecemos Nick Dunne (Ben Affleck, muito bem, crescendo exponencialmente como ator para o alívio dos fãs do Batman), um ex-jornalista, agora professor de redação criativa em uma modesta universidade do Missouri e dono de um bar chamado O Bar, que dirige com sua irmã Margo (Carrie Coon, de The Leftovers). Na manhã de seu aniversário de cinco anos de casamento com Amy (Rosamund Pike, um capítulo à parte), Nick chega em casa e descobre o que parece uma possível cena de crime. A sala de estar apresenta sinais de luta e Amy desapareceu. Preocupado, Nick imediatamente chama a polícia, e, dado cenário, a detetive Rhonda Boney (a eterna coadjuvante da coadjuvante Kim Dickens, ótima, devorando o papel com vontade) e o policial Jim Gilpin (o sumido Patrick Fugit, de Quase Famosos) imediatamente passam a tratar o fato como um desaparecimento.
Conforme as investigações transcorrem e o caso se torna um circo midiático, detalhes da vida aparentemente perfeita do casal começam a ser sistematicamente derrubados, o que transforma Nick no principal suspeito do crime.
Enquanto tenta provar sua inocência com a justiça e o escrutínio público o apontando como o assassino da própria esposa, Nick passa a perceber um padrão que sugere que pode haver muito mais por trás do sumiço de Amy do que ele inicialmente acreditava.
Com certeza um dos melhores filmes do ano até aqui, pegando parelho com O Grande Hotel Budapeste e Inside Llewin Davis, Garota Exemplar é David Fincher no que pode ser sua melhor forma desde Clube da Luta, entretenimento do bom, com cérebro e fígado aos borbotões.
Se a premissa sugere um daqueles tradicionais filmes "noir suburbano" que se tornaram moda nos últimos anos, a execução de Fincher é precisa na hora de olhar a trama com algum cinismo, sem deixar, no entanto, que ela se torne uma paródia ou mesmo uma desconstrução típica de um gênero de filme. Garota Exemplar é tão bem arquitetado e cheio de reviravoltas, que passa tranquilamente por três ou quatro tipos de filme em sua projeção de pouco menos de duas horas e meia que jamais cansam.
Com uma fotografia propositadamente estática, que não muda de cor para sugerir nada à audiência, Fincher conduz o público por uma trama que está sempre um passo à nossa frente usando a narração em off de Amy (cheia de ácidas verdades inconvenientes no melhor estilo do narrador sem nome de Edward Norton em Clube da Luta, como a lista de coisas que a "namorada legal" deve fazer, incluindo comer pizza fria e continuar magra, beber cerveja no gargalo vendo filmes do Adam Sandler e muito, muito sexo oral.) para nos colocar a par do que realmente aconteceu (ou não) no passado do casal protagonista.
Bem amparado no trabalho de um aplicado Affleck, da surpreendente Dickens, da competente Carrie Coon e ainda de Tyler Perry (o advogado mezzo Johnnie Cochran de Nick, Tanner Bolt) e Neil Patrick Harris (interpretando uma variação mais séria e sem bigode de seu personagem em Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola), o filme pertence, mesmo, é a Rosamund Pike.
A linda loira, com sua beleza fria e distante, consegue passar uma aura etérea que a torna inatingível mesmo quando ela está por perto, como se ela morasse dentro de um globo de neve. A diferença gritante entre sua beleza aristocrática e o jeitão proletário de Affleck são um aditivo aos atritos do casal e testemunho do talento de Fincher ao escalar seu elenco e contar sua história, e isso, somado à atuação precisa da linda atriz inglesa que se despe de sua vaidade em mais de uma cena, e consegue ser mais atraente quando sua personagem deveria ser mais repulsiva, são o lastro do que torna Garota Exemplar o baita filme que é.
Corra para o cinema e assista. É obrigatório para quem gosta de thrillers, dramas, mistérios, reviravoltas, grandes atuações e diretores que brincam de fazer filme.

"O que você está pensando? O que você está sentindo? O que foi que nós fizemos um ao outro? O que nós vamos fazer?"