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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Pontos Altos


Ele saiu do serviço e deparou-se com ela sentada na mureta ao redor da árvore em frente ao prédio.
Vestia uma regata amarelo bem claro, uma calça jeans e chinelos Havaianas dourados. Se levantou, ligeira, e correu até ele o abraçando:
-O que é que tu faz de preto no ano-novo, criatura? - Repreendeu-o.
Ele riu.
-Ainda não é ano-novo, mulher, é ano velho. Bem velho, já estamos no tricentésimo sexagésimo quinto dia...
Ela sorriu e lhe estalou um beijo na bochecha barbada.
-Vim te convidar pra almoçar comigo. - Ela disse. -Entro em férias na segunda, então hoje de tarde tô indo pra "two-brothers" e só volto em fevereiro.
Ele sorriu de volta e a pegou pela mão, aceitando o convite.
Andaram conversando pela Fernando Machado até ela virar Lima e Silva, então, viraram a esquina com a República em direção ao parque da Redenção e entraram num Subway. Havia algumas pessoas na fila, e eles pararam aguardando sua vez.
-Que tu vai pedir? - Ela perguntou, olhando os adesivos colados ao vidro do balcão e os menus luminosos no alto da parede. -Teu sanduíche assinatura, o... como é que tu chama?
-O Ernest Hemingway. - Ele respondeu.
Ela riu.
-Ernest Hemingway? Por que?
-Porque ele é macho, repleto de conteúdo e sucumbe ante o peso da própria genialidade. - Ele respondeu com uma expressão séria e solene.
Ela gargalhou e pediu que ele repassasse o Ernest Hemingway. Ele riu enquanto descrevia o sanduíche de almôndegas com recheio em dobro e bacon extra, queijo suíço duplo e salada de picles e tomate mais molho parmesão, chipotle e maionese num generoso pão três queijos de trinta centímetros.
Ela estava olhando pro infinito como se estivesse imaginando o sanduíche dele.
-Parece gostoso... Mas porque tu diz que ele sucumbe ante o peso da própria genialidade?
-Porque eu nunca consegui comer um sanduíche Ernest Hemingway que não se desmanchasse em pedaços depois de duas ou três mordidas... - Ele confessou, triste.
Ela começou a rir.
-Acho que vou deixar o frango Teriyaki de lado e pedir um dos teus... Mas uma versão menos repleta de conteúdo... - Ela conjecturou.
-Ou menos macho... - Ele sugeriu.
-Ou isso... Um Hemingway Jr.?
-Não... Um F. Scott Fitzgerald...
Os dois riram.
Ela pediu o tal F. Scott Fitzgerald. Um sanduíche de almôndega de quinze centímetros turbinado com um pouco de bacon e que repetia todos os ingredientes do Hemingway, mas trocava o chipotle por honey mustard e acrescentava rúcula e pepino à salada dentro do pão de três queijos.
Sentaram-se juntos à mesa na calçada, e comeram.
Como era esperado, o Fitzgerald era ótimo, mas menos másculo que o Hemingway que, de fato, sucumbiu ante o peso de seu conteúdo excessivo.
Ela, sorrindo, perguntou-lhe:
-Resoluções de ano-novo?
Ele engoliu o sanduíche que mastigava, bebeu um gole de refrigerante, e respondeu:
-Vou me dedicar à academia, e, no segundo semestre, voltar a estudar.
-Muito bem! - Ela disse, sorrindo surpresa.
-Obrigado, obrigado. - Ele disse, fazendo um pequeno gesto de arco como quem aceita aplausos. -E tu? - Perguntou. -Alguma resolução?
-Sim. Vou me dedicar mais a mim. Não vou enlouquecer no trabalho, vou fazer coisas que eu gosto sem me estressar com as expectativas dos outros.
-Bom pra ti. Muito bem.
Os dois comeram mais um pouco. E ela resolveu continuar com a conversa:
-E o ano? Como tu classifica?
Ele bebeu mais um gole de refrigerante e disse:
-Não foi perda total... Teve seus bons momentos mas, no geral, é possível que tenha sido o pior ano da minha vida adulta, parelho com 2010.
-Nossa... Tanto assim? - Ela perguntou, fazendo cara de aflita.
-Sim... - Ele confirmou. -Não horrível a ponto de eu não querer mais viver nem nada do tipo. Não posso me queixar de tudo... Mas no geral, foi mais pra menos do que pra mais. Teve muita coisa ruim. - Ele tentou explicar.
-Entendo... - Ela disse.
Ficou em silêncio algum tempo.
Ele terminou de comer metade do seu Hemingway, então, embrulhou a outra metade em torno do guardanapo sujo de molho, terminou seu copo de Fanta, e disse:
-Tu foi um dos pontos altos, alemoa. Obrigado por ser minha amiga.
Ela sorriu dando uma piscadela:
-Não posso me privar de manter algum tipo de relação com um homem que batiza sanduíches com nomes de escritores da Geração Perdida.
Ele sorriu de volta:
-Uma hora dessas te faço uma batida Gertrude Stein.
E pegou a mão dela por cima da mesa.
-Eu fui um dos pontos altos, tu disse... - Ela começou. -Significa que há outros?
Ele sorriu pra ela e confirmou:
-Não muitos... Mas alguns.
-Feliz ano-novo, Ned.
-Feliz ano-novo, alemoa.

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E a todos os leitores da Casa do Capita, um feliz 2015.
Ano que vem tem mais.

Top 10 - Cinema 2014

Não faltaram filmes bacanas nos cinemas nesse ano de Nosso Senhor de 2014. E isso não se deve unicamente ao fato de muito filme da temporada das premiações de 2013 ter desembarcado aqui apenas em fins de janeiro e fevereiro, provavelmente a época do ano em que tivemos mais filmes bons em cartaz simultaneamente.
Não.
O ano de 2014 pode não ter sido tão generoso em termos de bons filmes quanto foi 2012, por exemplo, mas ainda assim, não faltaram filmes para preencher mais um infame top-10 Casa do Capita, dedicado àqueles que, na preferência pessoal deste humilde escriba, foram os melhores filmes de 2014.
Vamos à lista.

10 - O Espetacular Homem-Aranha 2


Digam o que quiserem, eu sei que o melhor filme de super-herói do ano foi Capitão América - O Soldado Invernal, seguido de perto por X-Men - Dias de um Futuro Esquecido, e que o mais hypado foi o divertidíssimo Guardiões da Galáxia, mas que se foda:
Meu preferido no ano foi O Espetacular Homem-Aranha 2 porque, ainda que, enquanto filme, ele seja certamente o que tem mais defeitos, onde me interessa, no personagem central, ele é o melhor, disparado.
Não existiu jamais um Homem-Aranha mais crível do que o interpretado por Andrew Garfield nesse filme. Ele retrata tudo o que me parece essencial no personagem, todas as características que me fizeram amar os gibis do cabeça de teia desde antes de eu aprender a ler.
O conflito humano de desejar uma boa vida mas saber que os poderes trouxeram responsabilidades, o brilhantismo, as piadas, a agilidade física e mental, e, claro, o melhor romance de super-herói jamais retratado no cinema, tudo isso eclipsa, em meu coração, as coisas que não funcionaram (e eu sei que várias não funcionaram).
Por ter me mostrado a alma do meu super-herói preferido num filme colorido, movimentado e divertido, o Homem-Aranha está na lista.


9 - Amantes Eternos


O romance secular de Eve (Uma impressionante Tilda Swinton) e Adam (Tom Hiddleston, excelente) é mais uma bem sucedida experiência de Jim Jarmusch.
O diretor usa os vampiros enfarados da mundaneidade humana para lançar um olhar crítico, melancólico e irônico sobre a sociedade moderna num saboroso prato de atmosfera gótica.
Adam, cansado do mundo, planeja o suicídio, sua amada Eve, viaja de Tânger a Detroit para lembrá-lo que vale a pena viver. Juntos, eles contemplam a transitoriedade da obra humana, fazem troça do progresso, amaldiçoam a estupidez de nossa espécie, e relembram os bons tempos em que bastava jogar os cadáveres drenados no rio.
Com atuações simplesmente soberbas do casal protagonista e participações inspiradas de Mia Wasikowska e John Hurt, Amantes Eternos é o melhor romance de vampiro desde Drácula de Bram Stoker, só que muito, muito mais cool...

8 - Ela


O longa metragem romântico/futurista de Spike Jonze consegue a proeza de deixar bem claro o quanto é estranho que um sujeito se apaixone por um aplicativo, mas é hábil suficiente para que a audiência nem ligue pra isso enquanto torce para Theodore, um homem alquebrado por um divórcio da mulher que julgava ser seu grande amor, e Samantha, um sistema operacional baseado em inteligência artificial, ficarem juntos.
Ajuda o fato de Theodore ser Joaquin Phoenix, um ator de grosso calibre no auge da sua habilidade, e Samantha ter a voz rouca de Scarlett Johansson sussurrando no ouvido da audiência o tempo inteiro, e ajuda Spike Jonze ser um tremendo contador de histórias estranhas que sabem ser cativantes, e não estar contando a história de um maluco que se apaixonou por seu laptop, mas sim a de um sujeito aprendendo a se reconectar à humanidade.

7 - O Abutre


Louis Bloom é um óbvio vilão. Desde o primeiro momento em que o vemos roubando arame de cerca para vender por trocados nós já sabemos que ele é um psicopata.
Talvez a grande piada do ótimo filme de Dan Gilroy seja o fato de este sujeito amoral e pérfido de discurso corporativo na ponta da língua se encaixar tão bem no mundo das notícias, que nós nos pegamos, eventualmente, torcendo para ele se dar bem.
Repleto de pontos em comum com filmes como Rede de Intrigas e O Rei da Comédia, ambientado em uma Los Angeles noturna caótica que parece ter sido arrancada de Colateral e aperfeiçoada, O Abutre alude a vários outros filmes, e ainda assim sucede em criar seu próprio monstro.
Ponto para Jake Gyllenhaal, que tornou um sociopata demente e desprovido de emoções um personagem que a audiência não é capaz de odiar totalmente, e que ao final do filme diz, com um sorriso no rosto "Seu lunático filho da puta..." balançando a cabeça em sinal de aprovação.


6 - Interestelar


Barbada na lista, a melhor ficção científica do ano é outra obra do acima da média Christopher Nolan. O diretor pode ter irritado astrofísicos e chatos de carteirinha, mas aqueles que estavam interessados em um filmaço, todo emoção e imaginação, não tiveram queixas, e aproveitaram uma das melhores sessões de cinema do ano.
A história do astronauta Cooper (um maduro Matthew McConaughey) e de sua missão para deixar um planeta Terra fadado a morrer para explorar os confins do universo passando através de um buraco de minhoca em busca de uma nova casa para a humanidade é um longa sobre família na melhor tradição de Contatos Imediatos do Terceiro Grau.
Com show de McConaughey (três grandes trabalhos no mesmo ano... Três! Dá pra acreditar?) e de Jessica Chastain, repleto de grandes sacadas, os melhores robôs do cinema em anos, roteiro amarradinho de Christopher e Jonathan Nolan, e o brilhante trabalho de design de produção que se tornaram marca registrada do diretor, Interestelar é uma tremenda viagem intergaláctica.

5 - O Lobo de Wall Street


Ora, vamos... Quem é que não deu risada com o ambíguo conto (a)moral de Jordan Belfort, um Leonardo diCaprio no auge da sua forma, contado pelas mãos sempre competentíssimas de Martin Scorsese, o diretor que se recusa a ser alcançado pelo tempo, e segue lançando, a cada ano, um novo filmaço?
Tudo bem que, baseado em toda a diversão auto-indulgente ao extremo dos investidores liderados pelo alcoólatra, cocainômano, ladrão e traíra Belfort fica até difícil aprender alguma lição com o filme, mas ainda assim, o final melancólico do ex-bilionário que perde toda a sua fortuna para o FBI e a própria ganância não deixa de ver uma versão anabolizada e sem medo da farra de Wall Street, por exemplo...
E pra quem acha que isso não é o suficiente, ainda temos Margot Robbie peladinha, Matthew McConaughey fazendo uma hilária ponta como o primeiro chefe de Jordan Belfort, um executivo com gosto pela invocação de espíritos da floresta, e Jonah Hill, arrebentando como o surtado sócio de Jordan, Donnie Azof, e, claro, a cena em que Jordan, turbinado por "ludes", tenta entrar em sua Lamborghini sem nenhum controle motor sobre o próprio corpo.
Brilhante.

4 - O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos


O pior dos seis filmes baseados na obra de J. R. R. Tolkien a chegarem aos cinemas.
O que isso significa?
Que ainda é muito acima da média, e um divertidíssimo exemplar de cinemão pipoca da melhor qualidade. O fim da saga de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) e sua aventura junto a Gandalf o Cinzento (Ian McKellen) e a companhia de anões de Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage) não sucumbiu ao gosto de Peter Jackson pelo espetáculo.
Foi anabolizada por ele.
Nas mãos do diretor kiwi, O Hobbit deixou de ser uma pequena aventura infantil de conto de fadas ambientada na Terra-Média e se tornou um grave ensaio à Guerra do Anel, saíram os animais falantes e a comédia ingênua do primeiro livro de Tolkien e entraram a gravidade e a aventura ininterrupta da trilogia que o consagrou.
E daí que Legolas não estava lá? Orlando Bloom tem cenas de ação de fazer neguinho trancar a respiração e aplaudir.
E daí que Azog o Profano mal e mal é mencionado nos apêndices? O orc pálido é assustador e um vilão de mão cheia.
OK, Taüriel e sua relação com Killi talvez incomodem um pouco, mas que se dane, o resto do pacote compensa, e O Hobbit é uma grande despedida para a Terra-Média que todos nós aprendemos a amar.

3 - Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum


O perfeitamente executado filme dos Cohen começa pelo personagem título.
O brilhante Llewyn Davis é um típico looser Coheniano, tão irritante quanto magnético, seu próprio pior inimigo, auto-indulgente e desprovido de auto-crítica minimamente profunda que vaga pelo Village de Nova York dos anos sessenta durante um inverno congelante (que parece ainda mais gélido graças à ótima fotografia de Bruno Delbonnel) procurando um canto pra dormir enquanto tenta emplacar na música folk após o suicídio de seu parceiro.
Nós acompanhamos Llewyn durante uma semana particularmente desgraçada de sua vida quando tudo parece dar errado ao mesmo tempo, com uma gravidez inesperada, passeios com um gato cor de laranja, uma viagem com dois parceiros excêntricos, e "nãos" sucessivos jogados em sua cara de todos os lados.
Essa história de fracassos múltiplos é embalada pela genial trilha sonora de T-Bone Burnett, construída na medida para ter músicas excelentes como a deliciosamente mórbida The Death of Queen Jane e melodias absolutamente cretinas como a quase retardada Please Mr. Kennedy, todas, no entanto, capazes de grudar no ouvido, e ajudar Inside Llwewyn Davis a permanecer na cabeça da audiência como um dos melhores filmes de 2014 quase um ano após termos assistido.

2 - Garota Exemplar


David Fincher deve ter enchido os escritórios de advogados de divórcio ao redor do mundo, e ter cancelado ao menos dois ou três casamentos que já estavam marcados há algum tempo.
A adaptação do livro best seller de Gillian Flynn é um suspense elaborado e conduzido à perfeição sob a lente de um Fincher que mostra que é capaz de lançar sua visão distorcida e divertida sobre qualquer tema.
A história de amor de Nick e Amy Dunne, e de como essa história se transforma numa tremenda conspiração criminosa regada a despeito e mágoa talvez seja o melhor trabalho de Fincher desde o brilhante Clube da Luta. Edificado sobre uma ótima performance de Affleck e uma assustadora atuação de Rosamund Pike, por quem Fincher teve que bater o pé junto ao estúdio, Garota Exemplar é um thriller tão competente que pode se dar ao luxo de entregar sua grande reviravolta ainda na metade sem fazer com que a audiência pare de roer as unhas e antecipe, de fôlego preso, o que virá a seguir.

1 - O Grande Hotel Budapeste


Não teve pra ninguém.
Wes Anderson conseguiu arrancar gargalhadas e marejar os olhos de toda uma audiência que ficou interessadíssima em conhecer a Zubrowka, fictícia nação da Europa oriental onde situa-se o Grande Hotel Budapeste.
Nem fãs moderados de Anderson podem negar a delícia da história de monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes), orgulhoso concierge do hotel título, sempre ansioso por agradar abastadas viúvas cheias de amor para dar, pinturas renascentistas de valor inestimável, fascistas tenebrosos com suas camisas pretas, capangas de soco inglês em punho, romances juvenis cobertos de açúcar e merengue, arrojadas fugas da prisão e perseguições de esqui em altíssima velocidade.
A trama que começa em um livro antigo, parte para dentro de um documentário caseiro, e então para as lembranças d'O Autor (Tom Wilkinson/Jude Law) e da semana que passou junto ao senhor Moustafa (F. Murray Abraham) no então dilapidado Hotel, lhe contando a adorável história de amizade entre monsieur Gustave e o jovem mensageiro Zero (Tony Revolori) é tudo o que a obra de Anderson tem de melhor.
Do numeroso elenco aos enquadramentos assinatura do diretor, tudo amparado sobre os ombros de Monsieur Gustave, o nosso prestativo herói banhado em Eau de Panache em sua impecável casaca púrpura, papel no qual Ralph Fiennes dá show, brincando de atuar em uma interpretação digna de prêmio, ingredientes misturados na medida certinha para o nosso melhor do ano.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Resenha Cinema: O Abutre


Não é difícil adivinhar porque Jake Gyllenhaal quis produzir O Abutre, debute na direção do roteirista da série Bourne, Dan Gilroy.
Em apenas alguns segundos, logo que somos apresentados ao protagonista Louis Bloom, já sacamos que Gyllenhaal está cravando os dentes num dos melhores personagens de sua carreira, um daqueles que, mesmo que não o indique a prêmios e honrarias, servirá pra lembrar ao mundo que Gyllenhaal, mais do que grandes olhos azuis e um abdômen sarado, é um baita ator.
Bloom é um golpista. Um sujeito notívago que passa as madrugadas andando por Los Angeles com seu Toyota caindo aos pedaços roubando metal que vende para comerciantes de sucata por trocados.
Mais do que isso, nós também ficamos sabendo, de imediato, que Bloom é um sujeito perigoso quando está acuado, e que seus sorrisos estilo meme não são confiáveis. Não é por mais senão acaso que Louis testemunha um grave acidente de carro que é coberto de maneira impactante por uma equipe jornalística freelancer.
De imediato Louis descobre algo que pode amar fazer, e no que pode ser bom.
Dando seu jeito, Louis compra uma câmera e um scanner da polícia, e começa a patrulhar as ruas em busca de notícias que possam ser vendidas. Seu primeiro caso, uma tentativa de roubo e tiroteio que termina com um idoso gravemente ferido, é filmado quase dentro das feridas da vítima, e vendida ao Canal 6, da produtora Nina Romina (Rene Russo), uma executiva jornalística que luta para manter seu emprego.
É ela quem explica a Louis o que funciona e o que não funciona no jornalismo policial, dando um retrato brilhante e tremendamente cínico do que vende na mídia norte-americana:
Crimes dos guetos chegando aos subúrbios, vítimas brancas e bem de vida cujos algozes são pobres ou minorias, "Pense em nosso noticiário como uma mulher gritando pela rua com a garganta cortada".
Lou aprende rápido a máxima do cinegrafista concorrente Joe Lodder (Bill Paxton), "se sangra, vende".
contratando o jovem Rick (Riz Ahmed) como assistente para um "estágio não remunerado", Louis passa a vagar pelas madrugadas de Los Angeles munido de sua câmera captando em filme todas as tragédias que encontra, e logo está cruzando a linha entre testemunha e participante, conforme percebe que, mais sangue, renderá mais dinheiro.
Desprovido de qualquer moral ou decência, Louis segue seu inexorável caminho rumo ao que considera grandeza, e o faz escalando aqueles que se põe em seu caminho, com uma firmeza de propósito tão inabalável que sua visão de mundo não tarda em infectar seus associados mais próximos enquanto começa a montar um perigoso tabuleiro para chegar onde deseja.
O filme é excelente.
Usando e abusando da brilhante cinematografia de Robert Elswit, Dan Gilroy consegue misturar uma estética de filme policial de fazer Michael Mann ficar com inveja e a sátira ao melhor estilo Rede de Intrigas em um longa de comédia (sim, mais do que um suspense ou um filme policial, O Abutre é uma tremenda comédia de humor negro) galgado em um personagem e um ator que encontrou o tom ideal para dar-lhe vida.
Gyllenhaal está brilhante no papel de Bloom, um eloquente subproduto do discurso corporativo dos EUA que parece repetir mantras de sucesso colarinho branco como se houvesse passado por uma lavagem cerebral que tornou seu sistema de valores algo absolutamente corrompido.
completamente incapaz de qualquer empatia, o personagem mantém seu rosto sem expressão e o tom de voz calmo quando faz ameaças veladas como "Eu queria te agarrar pelas orelhas e gritar na sua cara que não estou interessado, caralho" e "E se meu problema não for não entender as pessoas, mas não gostar delas?), mas abre sorrisos que parecem smiles de SMS após algum percalço forçá-lo a demonstrar alguma humanidade. Com um visual feito sob medida para torná-lo repelente (O cabelo com comprimento indefinido e uma magreza que o deixa meio corcunda, mas não esquelético), Gyllenhaal comanda o show amparado por Rene Russo no melhor papel de sua carreira em muuuuuito tempo, e Riz Ahmed, dono do que talvez seja o único personagem com quem a audiência consiga se identificar (ainda que não muito...).
Com maturidade e disposição, Gyllenhaal consegue fazer com que a audiência torça por um personagem que rasteja por um vácuo moral fazendo tudo o que há de reprovável e até de perverso, porque, se ele parar de se dar bem, o filme termina, e nós nos pegamos desejando ver até onde Bloom está disposto a ir para alcançar o sucesso.
Um dos melhores do ano. Assista no cinema.

"Quem sou eu? Eu sou um cara que trabalha duro. Eu traço metas altas e já me disseram que sou persistente."

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Resenha Cinema: Êxodo - Deuses e Reis


Chega a ser engraçado pensar que, em pleno 2014, nessa era de ouro de super-heróis e triângulos amorosos adolescentes, tenhamos visto não apenas um, mas dois filmes bíblicos na melhor tradição do cinemão de antigamente...
Mais cedo no ano tivemos o Noé de Darren Aronofsky, um filme cheio de ideias e intenções que, ainda que não fosse perfeito em sua execução, ao menos tentava inovar ao apontar uma abordagem diferente ao mito da arca de Noé, e, agora, nos acréscimos do segundo tempo do ano, chega aos cinemas esse Êxodo - Deuses e Reis de Ridley Scott.
Com uma trama muito familiar, que já teve ao menos uma versão definitiva (Os Dez Mandamentos, com Charlton Heston e Yul Brynner) que está na memória de todo mundo, a história da saída dos escravos hebreus do Egito rumo à Terra Prometida era um prato cheio para um diretor com o calibre de Scott, um cineasta conhecido e reconhecido por sua capacidade de elaborar espetáculos visuais grandiloquentes de derrubar queixo.
Na trama conhecemos Moisés (Christian Bale) e Ramsés (Joel Edgerton), primos criados como irmãos pelo faraó Seti (John Turturro), monarca do Egito.
Enquanto Ramsés é um playboy cheio de si, Moisés é um general capaz e diligente, um líder hábil e formidável em quem Seti percebe maior capacidade de governar do que no próprio filho.
Entretanto, quando vem à luz a verdade sobre Moisés, na verdade um hebreu adotado pela irmã do Faraó, Ramsés exila o primo adotivo, que vaga pelo deserto indo além do mar vermelho onde recomeça sua vida como um pastor ao lado da esposa Zipporah (A lindona María Valverde).
Após nove anos de vida simples, enquanto Moisés cuida de sua esposa e filho, Ramsés transforma Mênfis em um inacabável e superpopuloso canteiro de obras, erguendo monumentos em honra ao próprio poder e exterminando os escravos hebreus cujos corpos alimentam grandes fogueiras que ardem dia e noite.
É nesse momento que Moisés é procurado por Deus, que cansado dos abusos aos quais o povo hebreu é submetido há 400 anos, decide que é hora de deixar seu povo partir do Egito.
O Too-Poderoso ordena a Moisés que parta de volta a Mênfis e demande junto a Ramsés a libertação dos escravos.
Moisés, inicialmente reluta em assumir a missão que lhe é dada, mas logo percebe que não pode fugir de seu destino, e parte para o Egito, onde reencontra Ramsés e inicia uma guerrilha contra seu antigo irmão-de-armas, dando origem a uma guerra santa sem precedentes!
Ainda que tenha algumas escolhas bastante discutíveis tanto em termos de elenco (Joel Edgerton, por exemplo, com seus olhos azuis e cara preparada de gringo, precisa de muito mais do que um bronzeado pra parecer egípcio no papel que foi oferecido a Javier Bardem e Oscar Isaac) quanto de espetáculo visual (senti falta da imagem do mar repartido em dois que já havíamos visto em Os Dez Mandamentos e O Príncipe do Egito), Êxodo não é totalmente carente de acertos.
John Turturro não vai mal como o faraó Seti, Christian Bale é sempre um ator competente, e Ben Kingsley é muito acima da média, conseguindo tirar leite de pedra mesmo com pouquíssimo tempo de tela (Kingsley aparece pouco, mas Sigorney Weaver, no papel da esposa do Faraó, aparece menos ainda...).
Além dos bons valores no quesito atuação e da óbvia grandiloquência visual que se espera de qualquer épico de Ridley Scott, existe uma interessante sugestão de ironia tanto na relação dos hebreus com os egípcios (no início de sua luta contra o faraó, Moisés e seus homens são verdadeiros terroristas, praticando atos de guerrilha contra o poder estabelecido, mais ou menos como os palestinos fazem hoje, em Israel), quanto na relação de Moisés com Deus.
Deus é retratado como um menino. Um moleque em seus dez, doze anos, num interessante retrato do irascível, vingativo e impaciente Javé do Velho Testamento.
Infelizmente essas boas sacadas não salvam o filme de seus erros.
O roteiro de Adam Cooper, Bill Collage, Jeffrey Caine e Steven Zaillian sofre do mal de todos os blockbusters que apareceram nas telonas nos últimos anos:
A aposta no espetáculo sobrepõe o desenvolvimento dos personagens.
Aliando isso à insegurança de atores como Joel Edgerton, que não consegue encontrar o tom para seu Ramsés mesmo com seu figurino cheio de ouro, plumas e paetês, sendo incapaz de chegar ao nível de extravagância do faraó de Brynner, por exemplo, perdendo-se em um personagem escrito para ser dúbio em seus sentimentos com relação a Moisés, mas torna-se um personagem hesitante e indefinido, e Aaron Paul, que quase entra mudo e sai calado, passando a maior parte do tempo fazendo cara de apavorado, Êxodo não é ruim, mas resulta em um filme insuficiente para suas pretensões, que não recheia a contento o esmero da produção, o elenco estrelado, a longa duração de duas horas e meia e o absolutamente desnecessário 3-D.
Vale a visita ao cinema pelo escopo da produção, mas ainda não é o filme que vai tirar Scott de sua longa sequência de filmes aquém dos melhores momentos de sua obra.

"-Lembre-se disso. Eu estou preparado para lutar. Pela eternidade."

sábado, 27 de dezembro de 2014

Top 10 Negativo: Cinema 2014

E chegou o momento que é, ao mesmo tempo, um dos mais indigestos e um dos mais divertidos do ano:
A hora de repassar as piores porcarias que ganharam as salas de cinema, as locadoras e até a programação da TV a cabo neste ano de nosso senhor de 2014.
O trabalho de seleção é complicado, para cada bom filme que surge nas telonas e telinhas do Brasil saem pelo menos dez outros filmes que não valem a película em que foram filmados, nem todos nos interessam, porém.
Pra figurar no top 10 negativo, o ideal é que o filme não seja uma porcaria declarada como Machete Mata, por exemplo...
Um pouco de hype, e aquela qualidade da porcaria que não se percebe como porcaria são sempre bem vindos.
Vamos à lista, então:

10 - Transformers - A Era da Extinção


A cada Transformers que passa fica mais claro que Michael Bay deveria ter largado o osso ainda antes de Transformers - A Vingança dos Fallen.
O segundo filme da "quadrilogia" já era apenas histeria mas ainda era assistível e acenava com alguma evolução dos personagens, do terceiro em diante parece que cada filme é uma mistura de sequência com reboot com mais personagens humanos desinteressantes roubando a atenção dos robôs que são, afinal de contas, o que nós pagamos pra ver.
Nesse A Era da Extinção, o samba do robô gigante doido continua com uma trama chata e idiota que envolve um Mark Wahlberg cientista (pfff...), robôs dinossauro e Nicola Peltz, que não engraxa os scarpins da Rosie Huntington-Whiteley, imagine, então, da Megan Fox, numa sequência de cenas de ação confusas e borradas que não deixam a audiência entender o que está havendo pra conduzir uma história pela qual ninguém se interessa...

9 - Sabotagem


O longa de David Ayer estrelado por Arnold Schwarzenegger podia ser um filme policial digno.
Não o é.
Forçado pelo estúdio a reduzir o tempo de projeção e encaixar algumas cenas de ação que fizessem justiça ao nome do astro austríaco, David Ayer entregou um filme longo, apressado e mal ajambrado com elenco excessivamente numeroso, que já começa confuso, e só se enrola conforme caminha para um final totalmente insatisfatório.

8 - Transcendence - A Revolução


Martin Pfister fez uma interessante carreira como diretor de fotografia. Parceiro habitual de Christopher Nolan, o novato conseguiu reunir um time de respeito para su primeir trabalho na cadeira de diretor.
Morgan Freeman, Rebecca Hall, Cillian Murphy, Paul Bettany e Johnny Depp estão lá, perfilados para contar a história do cientista que morre para ser ressuscitado como uma inteligência artificial que adquire mais e mais poderes conforme evolui transcendendo o próprio conceito de vida!
Pretensioso, chato e desnecessário, Transcendence deve colocar Pfister de volta na carreira de cinematógrafo por mais algum tempo, quem sabe após meditar um pouco entre filtros de luz ele descobre onde errou e faz um filme que não cause bocejos.

7 - 13° Distrito - Brick Mansions


Além de ter ceifado a vida de um sujeito boa pinta e boa gente, o acidente fatal que vitimou Paul Walker também fez com que esse filme porcaria chegasse às salas de cinema no Brasil.
Não fosse a tragédia de Walker, e esse descartável remake da fita de ação francesa de mesmo título teria sido lançada direto em DVD e olhe lá.
No longa Walker é Damien Collier, especialista em infiltrações de alto risco que é escalado para entrar no bairro dominado pelo crime de Detroit e resgatar uma bomba atômica em poder do chefão do crime Tremaine Alexander (RZA) com a ajuda do fora-da-lei de bom coração Lino (David Belle, co-estrela da versão francesa, aqui, dublado por Vin Diesel).
Porcaria é pouco.
Com atuações canhestras, sequências de ação apenas OK, e um final extremamente indulgente para com o traficante de RZA, 13° Distrito - Brick Mansions consegue ser pior que a sequência do original francês.

6 - O Apocalipse


Nicolas Cage está falido. Ele levou um golpe milionário do contador e a sua situação ficou tão apertada que ele teve até que vender parte de sua coleção de gibis. Quem coleciona gibis sabe o tipo de dor que Nick sentiu tendo que fazer isso.
Pior do que vender sua coleção de gibis foi ser obrigado a aceitar qualquer proposta de emprego.
Após três anos, já não sei se essa desculpa se aplica, pois não há crise financeira que explique o ator indicado ao Oscar aceitar aparecer em coisas como esse O Apocalipse, remake de um filme evangélico porqueira chamado "Left Behind", em que Cage é o marido infiel de uma crente boazinha (Lea Thompson), e após o início do arrebatamento, quando Deus recolhe os bons para o Céu de modo a poupá-los da atribulação do apocalipse, se vê abandonado na Terra junto com a filha rebelde (Cassi Thomson) enquanto pilota um avião de Nova York para Londres, uma viagem da qual pode não conseguir voltar sem ajuda!
Nada funciona no filme, e o talentoso Nic Cage mostra, outra vez, que não tem nenhum critério compreensível na hora de escolher seus trabalhos, exceto o tamanho do pagamento.

5 - Pompéia


Paul W. S. Anderson é um mistério pra mim. Eu não consigo entender como é que as pessoas continuam assistindo aos filmes dele no cinema.
Alguém deve assistir aos filmes dele no cinema, outrossim os estúdios não continuariam financiando seus devaneios tridimensionais desprovidos de alma.
Filmes como o sofrível Os Três Mosqueteiros, a desgraçada série Resident Evil e este Pompéia, que tenta emular uma mistura de Titanic com Roland Emmerich ao mostrar a história de amor proibido entre um escravo gladiador (Kit Harrington, de Game of Thrones) e uma nobre romana (Emily Browning) que é pano de fundo para uma trama de vingança em meio à derradeira erupção do monte vesúvio que culminou na devastação da cidade de Pompéia.
Lixo puro, o longa de Anderson é tão chato que nem os efeitos visuais e a histeria da tragédia natural o tornam divertido.
A única ansiedade que o filme gera é a esperança de que acabe logo.

4 - Frankenstein - Entre Anjos e Demônios


Filhote de Crepúsculo e precursor de Drácula - A História Nunca Contada este Frankenstein - Entre Anjos e Demônios é uma bomba sem precedentes que coloca a criatura de Victor Von Frankenstein como um herói relutante e desconfiado pego no meio de uma guerra milenar entre demônios das profundezas do inferno e uma raça de anjos gárgulas que protegem a humanidade em segredo.
Tiro no pé de Aaron Eckhart, o filme não decola, tem cenas de ação sonolentas, emula o visual de Anjos da Noite e ainda torna o clássico monstro da literatura um galã renitente chamado Adam.
Desperdício do talento de Bill Nighy e da beleza de Ivonne Strahovski, pra ser ruim, precisaria melhorar, e bastante.

3 - RoboCop


RoboCop, de Paul Verhoeven simplesmente não precisava de um remake.
Assista ao filme hoje de noite e é fácil de perceber que, se os efeitos visuais envelheceram bastante, a trama do longa continua sendo incrivelmente atual, e preocupantemente profética.
Talvez o fato de o grosso da audiência de hoje ser idiota como aquela retratada no longa metragem original seja a principal razão para diluir tudo o que existe de grave e verdadeiro no brutal filme de 1987.
Na trama de 2014 o detetive Alex Murphy é transformado em uma mistura de homem e máquina após um atentado criminoso para burlar a lei que proíbe o uso de drones em solo americano.
Servindo apenas para dar rosto à máquina de patrulhar as ruas da OCP, Murphy tenta desesperadamente sobrepujar a programação de modo a encontrar os homens que tentaram matá-lo.
Cheio de ideias válidas que são absolutamente ignoradas na execução do filme, sem cenas de ação minimamente interessantes, e com atores operando em piloto-automático, o novo RoboCop é uma tremenda bomba que existe apenas para prestar um desserviço ao sensacional filme original.


2 - Hércules - A Lenda Começa


Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! Que filme horrível!!!
O Hércules do diretor Reny Harlin é tão, mas tão, mas tão ruim que eu confesso que ele só não está em primeiro lugar nessa lista porque o investimento no longa foi obviamente abaixo de zero.
Defeitos especiais de fazer inveja às produções do canal Sci-Fi, atuações absolutamente constrangedoras de um elenco encabeçado por Kellan Lutz, que tem talento dramático inversamente proporcional ao tamanho de seus bíceps avantajados, e esse Hércules - A Lenda Começa é tão ruim que vira até motivo de chacota no Hércules de Dwayne Johnson, que está longe de ser uma maravilha.
A história do príncipe Alcides, filho adotivo do malvado rei Anfitrião e de como ele aceita seu papel de semi-deus para reencontrar o amor é tão tenebrosamente mal escrita, dirigida e atuada que chega a ser risível.
Eu já disse e repito:
Assista apenas se a alternativa for ter os olhos arrancados das órbitas com uma colher suja de sal.

1 - 300 - A Ascensão do Império


Foi fácil escolher o pior do ano.
Cheio de hype, com um trailer embalado por uma ótima música, alardeando o retorno dos guerreiros gregos de vontade pétrea que sacolejaram o cinema com seus cuecões de couro e a tecnologia da previsão do tempo em 2006, 300 - A Ascensão do Império tinha tudo pra ser, pelo menos, um filme divertido.
O 300 original havia sido, afinal de contas. O longa de Zack Snyder baseado na HQ de Frank Miller baseada no filme Os 300 de Esparta podia ter todos os defeitos do mundo, mas era divertido.
A sequência, porém, demorou séculos a ganhar corpo, e quando ganhou, a única coisa que se salva no longa é justamente o corpaço de Eva Green e seus seios épicos, de resto, é tudo descartável, mal ajambrado, mal feito e chato no filme que se passa antes, durante e após os eventos do original.
Escrito e produzido por Zack Snyder, A Ascensão do Império fez os fãs de Batman e Superman sentirem um calafrio na espinha, e torcerem para que Snyder estivesse dormindo ou ocupado escrevendo Batman v Superman enquanto defecou o script do longa dirigido de maneira canhestra por Noam Murro.
Conseguindo a proeza de, não apenas não ter nada de bom, mas ainda contradizer fatos do filme anterior, 300 - A Ascensão do Império figura com justiça no topo deste ranking.
Lembre-se de passar longe, ou assistir apenas por curiosidade mórbida.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Rapidinhas do Capita


Mais uma da recente safra de e-mails hackeados da Sony:
Drew Goddard, escolhido para dirigir o (completamente imbecil) filme do Sexteto Sinistro que poderia ser, tanto uma sequência, quanto um spin-off quanto um re-reboot do Homem-Aranha no cinema, em troca de e-mails com Amy Pascal, presidente do estúdio, declara que o Sexteto Sinistro seria o Sex Pistols da Marvel (em alusão ao fato de o Homem-Aranha ser Os Beatles), que o filme do vilão seria muito maior do que Dr. Estranho (que a Marvel lançará em novembro de 2016), e que a grande estrela do seu filme seria o Homem Areia, que deveria ser interpretado por Tom Hardy (o que já não deve mais acontecer já que Hardy fechou com a DC para integrar o Esquadrão Suicida), que, no clímax do filme, se transformaria em um monstro do tamanho de um arranha-céu e destruiria Londres (?) numa sequência que Goddard compara a Godzilla.
...
Sério?
É essa a ideia de um grande filme de Drew Goddard?
Tudo bem, baseado no estúpido O Segredo da Cabana é complicado apurar que tipo de diretor Goddard é, mas, sério... A ideia de final apoteótico do sujeito é um Homem-Areia gigante destruindo Londres?
Alguém deveria avisar Goddard que, em Homem-Aranha 3 a audiência viu um Homem Areia gigante, e, até onde me lembro, ninguém ficou impressionado com aquela reciclagem de O Retorno da Múmia...

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Esse desespero da Sony para transformar o Homem-Aranha em uma franquia com seu próprio "universo" é perfeitamente compreensível do ponto de vista financeiro, mas totalmente injustificada do ponto de vista criativo.
Quem é que quer ver um filme com super-vilões no papel principal? Contra quem eles lutariam? Qual seria o objetivo deles?
Nada disso faz sentido a ponto de dar lastro à produção de um filme.
Até mesmo anti-heróis consagrados já se provaram um desafio indigesto no tocante a adaptações de quadrinhos:
O Justiceiro não emplacou após três filmes, o Wolverine só funciona à contento nos filmes de X-Men dirigidos por Bryan Singer, sendo um fiasco nos seus filmes solo...
Apanhar vilões ou coadjuvantes e tentar aplicá-los em um filme solo tornando-os estrelas é complicadíssimo.
Até mesmo a Gata Negra, personagem carismática que flutua entre o bem e o mal e poderia justificar um filme solo seria uma aposta arriscada à medida em que sofre do mesmo problema de qualquer outro. Todos esses personagens funcionam de uma maneira e uma maneira apenas:
Orbitando o Homem-Aranha.

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A Sony taxa O Espetacular Homem-Aranha 2 de fracasso porque o filme não alcançou um bilhão de dólares na bilheteria, e porque foi a pior bilheteria de filmes de super-herói em 2014 (O cabeça de teia fez pouco menos de 709 milhões no mundo, atrás de Capitão-América, 714, X-Men 746 e Guardiões da Galáxia, 772 milhões.), a diferença de valores entre os filmes está longe de ser oceânica, e o Homem-Aranha foi o personagem que mais sofreu com as críticas que, no geral, picharam o filme de maneira impiedosa.
Os executivos da Sony parecem não perceber que os U$ 708,0982,323,00 não são um fracasso, mas sim, o extremo oposto.
Após a recepção morna do primeiro filme e as críticas absolutamente destrutivas do segundo, alcançar essa marca foi testemunho do poder do personagem junto ao público.
Esse era o momento de a Sony ver o que há de errado com esses filmes (a trama focada nos pais de Peter, por exemplo) e o que há de certo (Andrew Garfield, o romance entre Peter e Gwen, a relação dele com a tia May e o tio Ben genial de Martin Sheen) e faxinar o roteiro para fazer uma terceira parte tão boa quanto os fãs merecem.
O potencial está todo lá, basta abrir mão da histeria e da pirotecnia gratuita (o Sexteto Sinistro do Homem Areia gigante destruindo Londres parece o quê?) e se concentrar no que interessa:
Peter Parker, poder e responsabilidade...
Deu certo com Sam Raimi, deu certo com Stan Lee, Steve Ditko, Roy Thomas e John Romita, e dará certo com Andrew Garfield.
Não tem mistério...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Top 10 Casa do Capita: Filmes Natalinos

Ah, o Natal... Essa época mágica em que a caridade e a fraternidade ganham os corações dos homens levando alegria e solidariedade à todas as pessoas... Pena que não é bem assim que funciona...
De qualquer forma, é a minha época favorita do ano, eu adoro a troca de presentes, o clima festivo, as comidas, e, claro, os filmes que ajudam a criar essa atmosfera gloriosa de confraternização entre os homens.
Para celebrar mais um feriado, que tal outro infame top-10 Casa do Capita, dedicado àqueles que são, na opinião desse humilde escriba, os melhores filmes natalinos do cinema?
Com desejos de um FELIZ NATAL PRA TODOS, à lista:

10 - Esqueceram de Mim (Chris Columbus, 1990)


O estrondoso sucesso do ano de 1990 que lançou a meteórica carreira de Macaulay Culkin era uma fofa história infantil de Natal.
O pequeno Kevin (Culkin), esquecido em casa por sua família durante os feriados de final de ano, acreditava que havia feito seus pais, tios e primos desaparecerem com um desejo de Natal, e curtia às ganhas a liberdade de estar sozinho em casa, pelo menos até os dois ladrões trapalhões interpretador por Joe Pesci e Daniel Stern começarem a tentar invadir a residência do moleque.
Repleto de uma ingenuidade que, hoje em dia, torna o filme quase idiota, Esqueceram de mim rendeu três sequências, e alavancou a carreira de Chris Columbus, diretor do filme que, anos mais tarde, estaria à frente de Harry Potter & a Pedra Filosofal.

"Eu fiz minha família desaparecer! ... Eu fiz minha família desaparecer...?"

9 - Duro de Matar (John McTiernan, 1988)


Como assim, Duro de Matar não é um filme de Natal?
O filme é puro Natal, motherfucker. Os terroristas/ladrões de Hans Grüber (Alan Rickman) invadiam o Nakatomi Plaza em plena festa de fim de ano da firma, acendendo o estopim para o que se tornaria o mais sensacional filme de ação jamais feito.
John McLane (Bruce Willis) de pés descalços, inferiorizado em número e poder de fogo precisa contar com sua astúcia para manter os reféns vivos, impedir Grüber e sua trupe de escaparem com milhões de dólares em títulos ao portador, e salvar o Natal.

"Agora eu tenho uma metralhadora, ho, ho, ho"

8 - Batman - O Retorno (Tim Burton, 1992)


Como assim, Batman - O Retorno não é um filme de Natal?
A segunda incursão de Tim Burton à lenda do cavaleiro das trevas (e que era o melhor filme do morcegão até Batman Begins) é uma sombria trama de Natal, em que Oswald C. Cobblepot, o Pinguim (Danny DeVitto) é manipulado pelo corrupto industrial Max Shreck (Christopher Walken) para tomar Gotham City, enquanto Selina Kyle, a Mulher-Gato (Michelle Pfeiffer), planeja a própria vingança tornando a cidade uma praça de guerra a menos que o Batman (Michael Keaton) possa impedir.

"-Um beijo embaixo do visgo. Visgo pode ser fatal se ingerido, sabia?
-Um beijo pode ser ainda mais mortal... Se você for sincera."

7 - Milagre na Rua 34/De Ilusão Também se Vive (Les Mayfield, 1994/George Seaton, 1947)


Escolha a versão que quiser, pois qualquer uma das duas é um clássico absoluto e atemporal do Natal.
A história da pequena Susan Walker (Mara Wilson/Natalie Wood) que aos seis anos de idade não acredita em Natal e muda de opinião ao conhecer um Papai Noel de loja de departamentos (Edmund Gwenn/Richard Attenborough) que a convence da verdade por trás do feriado até ser internado como louco por acreditar ser o verdadeiro Bom Velhinho, algo que mantém até mesmo no tribunal, é uma daquelas fitas que deveria repetir anualmente na época das festas, mas que, como todos os clássicos de Natal, anda meio esquecida. Uma pena.
Com atuações especiais, particularmente dos Papais Noéis Gwenn e Attenborough, Milagre na Rua 34 é uma experiência emocionante, feita sob medida pra embalar o dia 25 de dezembro.

"Oh, o Natal não é apenas um dia, é um estado de espírito... E é isso que tem mudado. Por isso eu estou feliz por estar aqui, talvez eu possa fazer algo a respeito."

6 - O Estranho Mundo de Jack (Henry Selick, 1993)


Jack Skellington (Chris Sarandon), é o rei de Halloween Town está cansado. Após anos e anos e anos de Dia das Bruxas, Jack não aguenta mais o tédio da festa.
É durante essa crise que ele acidentalmente esbarra com a Christmas Town, e aprende o conceito de Natal.
Maravilhado com quela nova e estranha festividade, Jack retorna à sua cidade para convencer morcegos, vampiros, zumbis e fantasmas a ajudá-lo a recriar o novo feriado, cujo conceito Jack não entendeu lá muito bem...
O musical animado de Henry Selick, produzido e co-escrito por Tim Burton (erroneamente creditado como diretor do filme por todo mundo, incluindo por mim) é uma deliciosa fábula sombria (ah, vá?) sobre sonhos e sobre a grama do vizinho sempre parecer mais verde, um dos grandes filmes da carreira do diretor, e um divertidíssimo clássico natalino.

"Só porque eu não vi, não eur dizer que eu não acredite."

5 - O Conto de Natal dos Muppets (Brian Henson, 1992)


Existem tantas versões de Um Conto de Natal de Dickens, que é até difícil contabilizar todas.
A mais recente, de Robert Zemeckis estrelada por Jim Carrey e Gary Oldman é, provavelmente, a mais fiel e a melhor produzida, entretanto, a minha favorita, é essa, estrelada por Michael Caine como Ebenezer Scrooge, e com os Muppets interpretando os demais papéis (Caco como Bob Cratchitt, Piggy como Emily Cratchit, Gonzo como o próprio Charles Dickens, narrador do conto...).
A visão de Brian Henson do Conto de Natal mistura o drama e a ternura da história original de Dickens com o humor anárquico dos Muppets em uma deliciosa comédia de Natal que merecia ser mais assistida, além do mais, Michael Caine, contracenando com marionetes, cantando e entregando o que talvez ainda seja o melhor Scrooge do cinema, é coisa sublime demais pra ser escanteada.

"-Por que você duvida de seus sentidos?
-Porque qualquer coisinha pode afetá-los. Uma pequena desordem estomacal pode torná-los traiçoeiros. Você pode ser um pouco de carne mal digerida, uma bolha de mostarda, um naco de queijo. Sim. Há mais "molho" do que "morto", sobre você.
-"Mais molho do que morto"?
-Que trocadilho terrível. De onde você tira essas piadas?
-Deixe a comédia para os ursos, Ebenezer."

4 - Simplesmente Amor (Richard Curtis, 2003)


Mais do que "A comédia romântica definitiva", o filme de Richard Curtis, mesmo criador de Quatro Casamentos e um Funeral e Um Lugar Chamado Nothing Hill, é uma divertida e adorável história de Natal.
Conforme a época das festas se aproxima a vida de todos os inúmeros personagens do filme convertem em direção aos seus sonhos e desejos de amor, seja romântico ou familiar, rumo à uma apoteótica noite de Natal.
Repleto de humanidade, sátira e até algumas lágrimas, a história dos personagens mantém a gente fixado na tela torcendo para que cada um deles consiga o que quer:
Simplesmente amor.

"-Nós precisamos da Kate, precisamos do Leo. E precisamos deles agora."

3 - Um Duende em Nova York (John Favreau, 2003)


A história de Buddy (Will Ferrell), um bebê abandonado em um orfanato que acaba caindo no saco de brinquedos do Papai Noel e sendo levado acidentalmente para o Pólo Norte onde é criado pelos elfos até se tornar adulto, descobrir que é humano, e ir à Nova York procurar seu pai, Walter Hobbs (James Caan), um tremendo escroto sem coração que está na lista dos malvados é divertidíssima, tocante e natalina até não poder mais.
Filme que deu o pontapé inicial da carreira de Will Ferrell fora do Saturday Night Live é daqueles pra ter o DVD separado na estante pra colocar pra rodar todo o dia 24 de dezembro e dar umas boas risadas em clima de bom velhinho.

"-Por que você está sorrindo assim?
-Eu só gosto de sorrir. Sorriso é meu favorito."

2 - A Felicidade Não se Compra (Frank Capra, 1946)


George Bailey (James Stewart) é um homem generoso e diligente, porém, após seu tio perder 8 mil dólares cruciais para sua empresa, a única coisa que impede o pérfido magnata Sr. Potter de tomar o controle de toda a cidade de Bedford Falls, George percebe que será responsabilizado pelo desvio, e preso.
Acreditando que sua esposa e filhos estariam melhores se ele estivesse morto, George se prepara para cometer suicídio na véspera do Natal, mas é impedido pela visita do anjo Clarence (Henry Travers), que o leva por uma jornada no que seria o mundo se George jamais tivesse existido.
Clássico natalino máximo, o longa de Frank Capra foi indicado a 5 Oscar, e é um dos filmes que uma pessoa que gosta de cinema não deveria passar a vida sem assistir pelo menos uma vez.

"-Você percebe, George, você teve uma vida realmente maravilhosa. Você não vê que jogá-la fora seria um tremendo erro?"

1 - O Grinch (Ron Howard, 2000)


Não tem pra ninguém. A história de como o tenebroso Grinch (Jim Carrey) odeia o Natal, feriado preferido de Quemlândia, e planeja destruir a festa para todos os quens até ter seu coração tocado pela pequena Betty-Lou Quem (Taylor Momsen) é o mais maneiro e tocante de todos os clássicos de Natal.
A medonha criatura verde e peluda interpretada por um Carrey irreconhecível graças à maquiagem brilhante de Rick Baker é o protagonista do meu clássico natalino preferido, filme que, esta noite, eu certamente irei estar assistindo enquanto devoro um grande pássaro de Natal, e espero o momento de trocar os presentes.

"O Grinch não era legal. Era um bicho muito grande, muito verde, muito feio e muito mau...""

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Rapidinhas do Capita


Atenção, Cumberbithes, o diretor Darrick Robertson postou na sua conta do Twitter uma arte de Benedict Cumberbatch em Dr. Estranho, filme que integrará a Fase 3 da Marvel no cinema junto com Pantera Negra, Capitã Marvel e Capitão América - Guerra Civil entre outros.
Sem mais delongas, Benedict Cumberbatch como Stephen Strange:

Do cacete, hein?
A arte promocional já dá uma ideia do tipo de visual que podemos esperar do filme e das dimensões paralelas com cara de viagem de LSD que o bom doutor deve visitar.
Nos quadrinhos, Stephen Strange é um médico arrogante que, após perder os movimentos das mãos em um acidente de automóvel vaga pelo mundo tentando desesperadamente encontrar uma forma de se recuperar.
Em suas viagens ele encontra um ancião que o inicia no mundo da magia, e após um árduo treinamento, ele se torna um prolífico praticante das artes místicas e o Mago Supremo da Terra.
Doutor Estranho tem lançamento previsto para 4 de novembro de 2016.

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E continuam a todo o vapor os boatos sobre a parceria entre a Sony e a Marvel para compartilhar o Homem-Aranha no cinema.
Uma nova leva de rumores e e-mails vazados durante a crise Coréia do Norte x Sony Pictures, a Marvel gostaria de ter o cabeça de teia em Capitão América 3 - Guerra Civil, e, para isso, a Sony financiaria 25% do orçamento do filme, em contrapartida, a Marvel financiaria um quarto do valor dos custos do próximo filme solo do aracnídeo.
O acordo também apresenta a possibilidade de a Sony poder utilizar até dois personagens importantes do universo cinemático Marvel em seus filmes e ter acesso aos acontecimentos de Guerra Civil nos futuros filmes do Homem-Aranha.
A Sony também gostaria de aprovar o uniforme do Homem-Aranha, sua importância na trama e o ator que interpretará o personagem (a Marvel gostaria de ter um adolescente no papel, o que deixaria Andrew Garfield de fora).
O favorito para dirigir o primeiro filme solo deste novo Homem-Aranha seria Drew Goddard, anteriormente escalado para escrever e dirigir o absolutamente ridículo, desnecessário e estúpido filme do Sexteto Sinistro.

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Será uma pena se Andrew Garfiel realmente ficar de fora da franquia. O ator é, disparado, a melhor encarnação do Homem-Aranha fora dos quadrinhos, e merecia um filme à altura da sua interpretação para o personagem.
Ainda mais lamentável do que a ausência de Garfield, mazela que poderia ser sanada pela escolha de um substituto igualmente talentoso e familiar com o personagem, é o temor de que os estúdios Marvel façam com o Homem-Aranha do cinema e mesma coisa que a editora Marvel faz com o Homem-Aranha nos quadrinhos:
Nos últimos anos é difícil encontrar um quadrinho do Homem-Aranha em que ele não seja enxovalhado, derrotado, espancado, reduzido a alívio cômico ou escada pra praticamente todos os outros personagens.
Ver no cinema o Homem-Aranha dependente de Prozac que se tornou habitual nos quadrinhos da editora nos últimos anos seria extremamente aborrecido a essas alturas do campeonato.
Em um mundo ideal o Homem-Aranha de Andrew Garfield seria incorporado aos filmes da Marvel na cena pós-créditos de Vingadores - Era de Ultron, sendo cooptado pelo Capitão-América ou pelo Homem-de-Ferro ou ambos, com os eventos de O Espetacular Homem-Aranha e O Espetacular Homem-Aranha 2 sendo mencionados como a razão para ele ser procurado...
Enfim, o negócio é esperar pra ver, e torcer pra que o Homem-Aranha da Marvel/Sony faça justiça à história do personagem nos quadrinhos.

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Se tu também acha que Andrew Garfiels deveria continuar no papel principal da franquia aracnídea e aparecer no universo cinemático Marvel, assine a petição on-line.
Ela já conta com quase 20 mil assinaturas, e pode ser vista aqui:
https://www.change.org/p/keep-andrew-garfield-as-spider-man-don-t-replace-andrew-garfield-as-spider-man

sábado, 20 de dezembro de 2014

Resenha Blu-Ray - No Olho do Tornado


Eu me lembro de, ao ver o primeiro trailer de No Olho do Tornado, com o vendaval erguendo aos céus aviões em um aeroporto, eu pensei numa tagline pro filme. Era:
"Twister 2: Porque vacas já não são o bastante!"
Obviamente não fui ver No Olho do Tornado no cinema, mas não foi por falta de curiosidade. O cinema catástrofe, afinal de contas, sempre rendeu, ao menos, sessões de cinema divertidas. O já mencionado Twister, 2012, O Dia Depois de Amanhã... Ainda que nenhum deles fosse lá uma grande obra do cinema, eram fitas divertidas, emulando uma montanha-russa visual, que certamente serviam pra preencher uma hora e meia de pipoca na sala de cinema.
Foi pensando justamente nisso que eu aluguei No Olho do Tornado... Não esperando um grande filme, mas alguma coisa movimentada pra preencher uma hora e meia de uma noite modorrenta de sexta-feira a ser passada em casa.
Na fita de Steven Quale, ex-diretor de segunda unidade de James Cameron em Titanic e Avatar, e diretor de Premonição 5, o meio-oeste dos EUA são castigados por uma série de tornados.
As poderosas manifestações da força da natureza destroem automóveis, caminhões, casas, edifícios, aviões, arranca tudo em seu caminho, mas parece ser insuficiente para impedir o vice-diretor da escola municipal da pequena Silverton, Gary Morris (O Thorin Escudo de Carvalho Richard Armitage) de encontrar seu filho Donnie (Max Deacon), preso em uma fábrica de papel abandonada com sua namoradinha Kaitlyn (Alycia Debnam Carey).
Ao mesmo tempo em que Gary e seu filho mais novo, Trey (Nathan Kress) tentam alcançar Donnie, uma equipe de caçadores de tempestades encabeçada por Pete (Matt Walsh) e Allison (Sarah Wayne Callies), persegue a tormenta num último esforço para filmar um documentário sobre tornados que está prestes a perder seu financiamento se não conseguir algo grande para vender.
Para sua sorte, a pequena Silverton está no caminho do que promete se tornar o maior e mais tenebroso fenômeno natural da história da humanidade, o tornado f5 que a humanidade jamais viu.
Embora tenha algumas ideias interessantes, em especial a necessidade da geração atual de filmar, fotografar e compartilhar tudo (retratada de maneira particularmente irritante nos caipiras absolutamente idiotas que querem alcançar milhões de visualizações de seus vídeos no Youtube), seja para a posteridade na forma dos vídeos de cápsula do tempo que Donnie filma para seu pai, seja para informação e lucro, como faz Pete e sua equipe, seja pelo prazer de se tornar viral na internet, como fazem os caipiras, e tenha efeitos visuais OK, e até alguns momentos de genuína tensão, existe um problema gravíssimo em No Olho do Tornado:
Praticamente não há história.
O fiapo de narrativa do filme é apenas uma justificativa para colocar os personagens No Olho do Tornado (hue, hue, hue, hue...), até aí tudo bem, mas aí vem o segundo problema:
Os personagens são todos muito chatos e subdesenvolvidos.
O professor inexorável de Armitage, a mãe solteira cheia de compaixão que tenta vencer num mundo de homens de Callies, os filhos, um bom-moço que se ferra ao tentar ser rebelde e o rebelde que reslove ficar ao lado do pai... É tudo tão chato e tão vazio que não existe lastro para a audiência se preocupar se esse povo todo sobreviverá à tormenta, ou não.
No fim das contas os tubos de vento que varrem a estrutura da cidade acabam sendo muito mais interessantes do que as personagens que fogem deles (ou os perseguem), e um filme sem personagens não funciona nem com toda a boa vontade (e todo o CGI) do mundo...
Espere passar na TV a cabo.

"Este é o maior tornado que eu já vi."

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O Apelo dos Bad Boys


A Geraldine encostada no balcão da danceteria, tentava ser notada pela garçonete que àquela altura já parecia a estar ignorando de propósito.
Estava com o corpo esguio todo suado, a blusa de lurex branca colada no corpo, e as calças jeans ensopadas entre as coxas finas.
Era um dia quente, muito quente, e ter se acabado na pista de dança não o havia refrescado, mas, que diabos, Geraldine precisava daquilo. Precisava sair à noite com as colegas do trabalho sem nenhuma pretensão exceto se divertir, dançar, tomar uns drinques coloridos com nomes cretinos e dançar mais um pouco até a musculatura das pernas reclamar da carga excessiva e ela poder ir pra casa dormir.
Agora, tentava desesperadamente conseguir um kir royal, mas após quase cinco minutos sem ter sido sequer notada pela menina atrás do balcão, já não tinha certeza se ainda queria.
Esbravejava mentalmente contra a garçonete/bartender quando sentiu duas mãos a enlaçarem pela cintura, ouviu e sentiu na orelha o sujeito pedindo "desculpas" e "licença" enquanto esfregava a pélvis contra seu traseiro.
Bufou com a invasão de seu espaço pessoal.
Não tinha certeza de se o espaço atrás de si era tão exíguo que demandasse tal contato, mas ainda que o fosse, não lhe agradava ser encoxada por um completo estranho fosse no trem, fosse contra o balcão do bar.
Olhou para trás fazendo cara de brava, constatou que o espaço atrás de si era, de fato, exíguo, mas não soube julgar se justificava a esfregada que levara na bunda. O sujeito se perfilou à ela, e sorriu:
-Esse bar é um prodígio de arquitetura. Fica espremido entre a cabine de som do palco e os banheiros. É feito pra dar errado...
Ela não sorriu de volta, mas concordou.
De fato a arquitetura do bar não fora lá muito bem pensada. O balcão do bar, em si, parecia ter sido feito propositadamente, de forma a obrigar as pessoas a se amontoarem umas por cima das outras. A construção da cabine de som de onde um técnico podia, tanto comandar a iluminação do palco durante shows ao vivo quanto alimentar a danceteria com som extraído de toca-discos e CD-players era posterior ao resto da construção, e deixara o espaço diante do balcão ainda menor e, pior de tudo, afastado quase três metros da saída do ar-condicionado mais próxima, de modo que, o balcão onde as pessoas iam buscar por refresco, hidratação e coragem líquida era, de longe, o espaço mais desconfortável da danceteria toda.
O rapaz da encochada chamou a moça que servia os drinques e entregava bebidas atrás do balcão, ela conversava com duas outras clientes que, pelo grau de intimidade, pareciam ser habitués do local.
A garçonete/bartender nem sequer se dignou a olhar pra ele, fazer um gesto, nada. Ignorou solenemente seus "moça. Ô, moça".
Geraldine olhou pra ele com uma cara onde se lia "Já tentei isso.", e falou:
-Essa aí veio bater papo. Tá atendendo só os amigos.
O rapaz, então, espichou a mão pra dentro do balcão e começou a mexer nas coisas. Diante da intrusão, a atendente se desviou da conversa com os amigos, e se aproximou de onde ele e Geraldine estavam para censurá-lo:
-Tu não pode mexer aí!
Ele sorriu de maneira cínica e respondeu:
-Achei que era self-service.
Muito a contragosto a atendente perguntou:
-O que tu quer?
O rapaz, então, estendeu as mãos indicando a Geraldine, que surpresa, levou um momento para concatenar e pedir seu kir royal, que foi preparado sem muito cuidado ou esmero, mas ao menos não ganhou uma cusparada no lugar da cereja.
Assim que Geraldine recebeu em mãos o seu drinque, o rapaz pediu, para si, uma água com gás, e um suco em lata "para o caso de não conseguir voltar a falar com a bartender ainda hoje", justificou com uma piscadela.
A Geraldine estendeu a mão pra agradecer pela ajuda, o rapaz prendeu a lata de suco sob o braço com o qual segurava a água e retribuiu a cumprimentando:
-Posso perguntar teu nome? - Ele quis saber?
A Geraldine fechou um olho numa careta e disse:
-Hã... Olha... Melhor não... Eu vim com umas amigas e não quero deixar elas sozinhas mais tempo...
A desculpa era esfarrapada, mas ele entendeu. Fez sinal de que entendia, desejou-lhe boa noite e saiu.
A Geraldine ficou olhando o sujeito desaparecer em meio à multidão e suspirou como quem diz "paciência...". A verdade é que o cara não era feio. Era mais alto que ela, não era gordo, tinha um cabelo bacana meio desgrenhado, ficava bem de jaqueta de couro e tinha iniciativa e atitude pra superar obstáculos como uma atendente de bar xarope... Mas não era o que a Geraldine precisava naquele momento. Ela estava numas em que se bastava. E não era um sujeito, no máximo engraçadinho num bar que a tiraria de seu momento auto-suficiente, não é?
Pensava nisso quando um sujeito atrás dela disse:
-Fez bem, moça. Aquele cara não é do bem.
A Geraldine virou, não por ter dado ouvidos ao estranho, um sujeito barbudo de cabelo comprido, com figura sólida como uma bigorna e uma expressão amigável.
-Como é? - Ela perguntou.
-O cara que foi embora. - O estranho barbudo respondeu. E continuou:
-Ele não é flor que se cheire. É brigão. Amigo dos tipos errados... Posa de bom moço mas é uma raposa. Tu faz bem em ficar longe desse cara.
A Geraldine não saberia explicar por que, mas, de repente, o tal sujeito se tornara atraente. Sua gentileza ao deixá-la fazer o pedido, a forma polida como a tratara quando ela o dispensou, até a sua encoxada, máscula, mas delicada quando se esgueirou por trás dela no bar... Por alguma razão, saber que ele era um mau rapaz, e ainda assim a tratara com tanta gentileza, fez com que Geraldine repensasse sua impressão inicial...
Geraldine olhou com pouco caso para o barbudo, e, sem dizer nada, foi atrás do carinha do bar, que, ela descobriria ainda naquela noite, enquanto conversavam por horas, chamava-se Álvaro, e era, de fato, um bom sujeito.
O que ela só descobriria bem mais tarde, quando já engatava o que se tornaria uma relação longa e feliz com Álvaro, é que o barbudo no bar chamava-se Renato, e era amigo de longa data de Álvaro, com quem firmara esse pacto de, sempre que um levasse um fora, o outro tentaria remendar com a história do "estranho perigoso", que, por alguma razão que apenas a razão feminina conhece, sempre funcionava.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Parabéns, Colorados


Neste mesmo dia, oito anos atrás, o Internacional foi a Yokohama, no Japão para enfrentar o grande bicho-papão do futebol da época:
O poderoso Barcelona de Valdés, Rafa Márquez, Deco, Iniesta ,Puyol e Ronaldinho.
O esquadrão de estrelas internacionais de Frank Rijkaard era uma sensação tão grande no futebol da época que havia piadas dizendo que a saída de bola já seria dada com os catalães vencendo o jogo por 2 x 0.
O retrospecto dentro da Copa de Mundo de Clubes também assustava: Enquanto o Inter havia suado pra vencer o modesto Al-Ahly do Egito por 2 x 1, enquanto o Barça havia patrolado o América do México por sonoros 4 x 0 num jogo em que o time azul e grená havia até tirado o pé do acelerador à certa altura.
Mas o Internacional não entrou em campo para uma guerra.
Não entrou em campo como um David prestes a enfrentar um Golias.
Não precisou fazer epopeia na partida para vencer.
Precisou apenas de organização, aplicação e camisa.
O time de Abel Braga, formado por Clemer, Ceará, índio, Fabiano Eller, Rubens Cardoso, Edinho, Wellington Monteiro, Alex, Fernandão, Iarley e Alexandre Pato (Mais as entradas de Vargas, Luiz Adriano e Adriano Gabiru) não foi um time de "guerreiros", mas de estrategistas, homens com uma missão e uma missão, apenas: Impedir o Barcelona de jogar.
E assim foi feito. O Inter não levou gol do time que goleava todos os adversários, que daria saída na bola vencendo por 2 x 0, 3 x 0 ou até 5 x 0 para alguns...
Com a liderança de Clemer, Fernandão e Iarley, o talento de Alexandre Pato, Alex e Luiz Adriano, a força e a aplicação de índio, Eller e Ceará, e a estrela de Adriano Gabiru, o Internacional pintou o mundo de vermelho, e tornou o 17 de dezembro a efeméride máxima no congestionado calendário de conquistas dos Colorados de todas as plagas.
Parabéns, povo vermelho.
Vamos repetir a dose em 2015.

Rapidinhas do Capita



E quanto ao filme de Sandman?
O melhor quadrinho jamais lançado que está pra virar filme pelas mãos de Joseph Gordon-Levitt e David S. Goyer já tem uma versão de roteiro que não é a final mas que teria agradado bastante ao estúdio.
Enquanto uma nova versão do roteiro está cozinhando e deve ficar pronta antes do natal, Neil Gaiman, o autor da série, diz quem são seus favoritos ao papel.
Para o escritor inglês, qualquer um com sotaque britânico e boas maçãs do rosto poderia ser Morpheus do Sonhar. Alguns anos atrás, teria sido Johnny Depp, agora cosiderado muito velho por Gaiman, que ainda fala de Benedict Cumberbatch, que deve ficar de fora por causa de seu recente compromisso com a Marvel para viver o Doutor Estranho, e de Tom Hiddleston, o Loki de Thor.
Baseado no visual de Hiddleston em Amantes Eternos é fácil saber porque ele entrou na lista de Gaiman.
Difícil é conseguir Hiddleston, que segue sob contrato com a Marvel e estará em Vingadores - Era de Ultron e provavelmente em Thor - Ragnarok, para estrelar um filme da DC.


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E o elenco de Esquadrão Suicida continua a aumentar.
rumores dão conta de que Viola Davis fechou para o papel de Amanda Waller, a idealizadora do time de supervilões da DC, que troca o perdão de suas penas por missões quase impossíveis.
A atriz indicada ao Oscar por duas vezes se junta a Will Smith (Pistoleiro), Jared Leto (Coringa), Margot Robbie (Arlequina), Jay Courtney (Capitão Bumerangue), Tom Hardy (Ricky Flagg) e Cara Delevigne (Enchantress).
Esquadrão Suicida será dirigido por David Ayer, o mesmo de Corações de Ferro e Sabotagem.
Davis não é fisicamente parecida com a Amanda Waller dos quadrinhos. Nos gibis, Waller é uma coroa gorducha, de modo que Octavia Spencer, o outro nome cotado para o papel (junto com Oprah Winfrey) era mais o estilo.
Ainda assim, nos quadrinhos o Pistoleiro é branco e o Coringa não é um galã, então, quem liga?

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E enquanto a base de dados hackeada da Sony dá dicas de que a Fox pretende realizar um crossover dos X-Men com o Quarteto Fantástico, Hugh Jackman, o Woverine do universo mutante do cinema dá dicas de que não pretende largar as garras tão cedo.
O ator australiano falou em entrevista que ainda não se sabe tudo o que pode acontecer em X-Men - Apocalipse, mas que existe a possibilidade de integrar todo o universo X incluindo o terceiro filme solo do mutante canadense.
Após ver Jackman sendo o Wolverine de novo em X-Men - Dias de um Futuro Esquecido, só posso torcer para que David James Kelly, roteirista de Wolverine 3 pegue umas dicas com Bryan Singer.
É impressionante que após sete filmes (fora a ponta em X-Men - Primeira Classe) o único diretor que entende o personagem ainda seja Singer.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Rapidinhas do Capita


O Giordano, má pessoa, mau marido, mau amante, resolveu brincar com a esposa. Mandou-lhe pelo celular uma mensagem que dizia:
"Que tu achas de aparecer aqui no escritório ao meio-dia e almoçar uma piroca bem dura?"
Riu sozinho imaginando a cara da Conceição lendo a mensagem, mas também animou-se a ponto de ir lavar as partes íntimas no banheiro da repartição.
A resposta dela, quando chegou era:
"Não sei... Tem algum homem aí contigo?"
Divorciaram-se.

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A Fabíola comprou um presente de Natal pro Antenor, um perfume que ela gostava muito, colocou em um embrulho junto com alguns chocolates, e anexou um cartão que dizia que ele era o amor da vida dela. Que ele era tudo o que ela sempre quisera em um homem. Que ela mal podia esperar pra eles passarem o resto da vida juntinhos, experimentado, a cada dia, uma felicidade nova.
Na véspera do Natal, a Fabíola entregou o presente ao Antenor, que abriu o embrulho e cheirou o perfume dizendo que era ótimo.
Sua expressão, porém, mudou enquanto ele lia o cartão, e o Antenor passou a noite toda parecendo distante.
Na manhã do dia 26, o Antenor marcou um almoço com a Fabíola, e eles romperam o noivado. A Fabíola nunca entendeu por que, mas acreditou que o Antenor tivesse medo de compromisso.
Não era verdade.
O Antenor andava até bem animado com a ideia de passar o resto da vida com a Fabíola. O problema foi o cartão.
O Antenor achou aquele papo de ser tudo o que a Fabíola queria em um homem, o lance da felicidade nova a cada dia e tal, era muita pressão.
Ele não se sentia capaz de proporcionar uma felicidade nova diária pra alguém. O que afugentou o Antenor da vida da Fabíola foi a expectativa.
O Antenor se pelava de medo de não atender às expectativas dos outros.

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O que fez a Dulce casar com o Godofredo não foi a beleza.
O Godofredo era feio.
Tampouco o dinheiro.
Godofredo era pobre.
Nem a inteligência, foi.
O Godofredo era um sujeito de inteligência medíocre no máximo.
Não...
O que fez a Dulce casar com o Godofredo, amá-lo, honrá-lo e cuidar dele, foi o fato de, na primeira noite em que fizeram sexo, após o ato, que se deu na casa dele, o Godofredo se espichou na cama, passou o braço por trás do pescoço da Dulce, a puxando pra perto de si, ligou a TV com o controle remoto, e o ofereceu à Dulce, que ficou alguns instante olhando pra ele sem entender.
Quando ele disse:
-Escolhe aí um programa pra gente ver.
Ela soube:
Aquele era o tipo de ato de desprendimento que só seria visto no homem com quem ela envelheceria.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Resenha Cinema: O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos


Era óbvio que eu e todos os seres baseados em carbono que se interessam minimamente por cinema espetáculo estavam roendo as unhas para ver O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos.
Mesmo com grupos de fãs detratando o filme de todas as formas possíveis, fazendo queixas do excesso de CGI e telas verdes, da grandiloquência de tornar um livro de leitura relativamente ligeira em um épico dividido em três pedaços, da excessiva vontade de ligar toda e qualquer ponta possível à Trilogia O Senhor dos Anéis (todas queixas que, à bem da verdade, têm fundamento...), a verdade é que, em matéria de cinemão espetaculoso, poucas coisas recentes haviam sido tão divertidas e tinham o lastro de O Hobbit.
A diversão fica por conta da megalomania de Peter Jackson e sua mão especial para desenvolver sequências de ação improváveis e gloriosas, o lastro, claro, é a Terra-Média de Tolkien, um lugar criado em uma escala tão espetacular de detalhes que já se tornou familiar aos fãs de sua obra, que rapidamente conseguem reconhecer lugares e criaturas da literatura.
A combinação dessas duas facetas foi o que tornou O Senhor dos Anéis uma trilogia cinematográfica tão especial, e era o que havia impedido Uma Jornada Inesperada e A Desolação de Smaug de se tornarem meros supérfluos:
Era uma chance de retornar à Terra-Média com Peter Jackson como guia, e depois de O Senhor dos Anéis, essa não é uma chance que se desperdiça.
Mas a verdade é que, mesmo eu, um fã comedido de O Hobbit na literatura, me perguntava se, três filmes não era demais... E temia que A Batalha dos Cinco Exércitos fosse ter que encher muita linguiça para justificar suas duas horas e meia de projeção...
Ledo e Ivo engano...
A Batalha dos Cinco Exércitos começa com Smaug, o Magnífico (Benedict Cumberbatch) devastando a Cidade de Esgaroth, conforme havia prometido a Thorin e sua companhia.
O terrível dragão, aparentemente indestrutível, lança sua ira chamejante sobre a Cidade do Lago, e enquanto as pessoas tentam fugir, o arqueiro Bard (Luke Evans) tenta escapar da prisão para proteger sua família, amparada por Tauriël (Evangeline Lilly), Kili (Aidan Turner), Fili (Dean O'Gorman), Bofur (James Nesbitt) e Oin (John Callen).
Ao mesmo tempo, Gandalf (Ian McKellen) está aprisionado em Dol Guldur, enfraquecido após ser confrontado com o Necromante, na verdade um disfarce de Sauron, e prestes a ser executado, até a chegada do Conselho Branco, formado por Galadriel (Cate Blanchett), Elrond (Hugo Weaving) e Saruman, (Christopher Lee), além de Radagast (Sylvester McCoy).
Não bastasse tudo isso, Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage) parece cada vez mais sucumbir ante a doença do ouro de Erebor, tornando-se paranoico e irascível, incapaz de confiar mesmo em seus aliados mais chegados como Balin (Ken Stott) e Dwallin (Graham McTavish), uma situação que se complica com a chegada do exército élfico da Floresta das Trevas liderado pelo rei Thranduil (Lee Pace), num tabuleiro preparado para um conflito que Bilbo (Martin Freeman) sente que só poderá ser resolvido de uma forma.
Mas poderá Bilbo colocar seu plano em prática antes da chegada de Azog, o profano (Manu Bennett) e seu exército de orcs?
Quando O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos estava prestes a iniciar sua batalha título, eu confesso que, até ali, estava achando o filme o pior dos seis da franquia baseada na obra de J. R. R Tolkien.
Isso porque algumas resoluções haviam sido alcançadas de maneira demasiado rápida, havia CGI demais em algumas cenas, e nem todo ele funcionava a contento (a tropa de elfos da floresta perfilados sob Thranduil, por exemplo, todos com o mesmo rosto, parecendo fugitivos do museu de cera da madame Tussaud...), e os personagens surgiam e desapareciam rapidamente, parecendo que tinham vindo apenas dar um recado...
Mas aí, acertadamente, O Hobbit deixa de ser sobre Dol-Guldur, sobre o Conselho Branco, e volta a ser sobre Bilbo Bolseiro, sobre Thorin Escudo-de-Carvalho, sobre ganância, redenção, aprendizado e amizades verdadeiras, e ainda que a veia de showman de Peter Jackson continue pulsando desesperadamente, quem liga, já que as sequências de ação na tela são de encher os olhos?
Da sequência inicial em Esgaroth, com a luta entre Bard e Smaug até o derradeiro confronto entre Thorin e Azog, tudo funciona no longa metragem de uma forma ou outra.
Se há espaço em excesso para o Legolas de Orlando Bloom, que nem está nos livros, se justifica quando suas sequências de ação são as mais sensacionais do filme, se a Batalha dos Cinco Exércitos se torna uma batalha dos oito ou nove exércitos, quanto mais, melhor, se algumas relações incomodam pelo artificialismo, como a de Tauriël e Kili, compensa-se em outras, como as que Thorin tem com Bilbo, Dwalin e Balin, todas transparecendo genuína amizade...
A pirotecnia de Peter Jackson chega a parecer fora de controle em alguns momentos, O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos é de longe o momento em que o roteiro do diretor (com suas associadas Fran Walsh, Phillipa Boyens além de Guillermo Del Toro) mais se distancia dos escritos originais de Tolkien, mas as personagens do escritor são muito bem construídas, e quando a estória inevitavelmente retorna para seus protagonistas, as coisas voltam aos eixos sem que nenhum gosto amargo fique na boca.
Com algumas belas atuações, sequências de ação sensacionais, momentos de tensão de deixar neguinho na ponta da cadeira e algumas cenas verdadeiramente tocantes, capazes de trazerem lágrimas aos olhos da nerdalhada, O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos talvez não seja o melhor filme do ano, talvez ainda seja o mais fraco dos seis filmes de O Senhor dos Anéis, mas ainda é acima da média, cinemão-pipoca da melhor qualidade.
Assista no cinema.
A despedida da Terra-Média merece pompa e circunstância.

"Vocês me seguiriam uma última vez?"