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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Top 10 - Cinema 2015

O ano de 2015 não foi, nem de longe, generoso como 2014 e especialmente 2013, na quantidade de bons filmes que chegaram aos cineplexes brasileiros.
Com cada vez menos locadoras operando, e os cinemas forçados a encherem suas salas de comédias brasileiras com elenco de globais, ficou particularmente difícil assistir a todos os filmes que eu queria ter visto sem fazer downloads ilegais, de modo que, pela primeira vez em anos, tive dificuldade para encontrar dez filmes que fizessem justiça à lista.
Ainda assim, aqui está mais um infame top 10 Casa do Capita, dedicado aos melhores filmes de 2015:

10 - Noite sem Fim


O ótimo policial estrelado por Liam Neeson, Joel Kinnaman e Ed Harris ganhou um lugar no pé da lista em grande parte devido à ausência de grandes filmes nos cinemas ao longo do ano, é verdade. Não é menos verdade, porém, que o longa de Jaume Collet-Serra foi uma das mais surpreendentemente aprazíveis experiências cinematográficas que tive esse ano.
Com um Liam Neeson deixando meio de escanteio sua veia de one-man-army e se aprofundando no estilo William Munny de ser, a história de camaradagem e vingança entre mafiosos irlandeses de Nova York é um desses filmes que merecem ser assistidos, e fazem a gente se arrepender de não ter ido ao cinema conferir.
Fica a lição: Liam Neeson não faz duas porcarias no mesmo ano.

9 - Missão: Impossível - Nação Secreta


Digam o que quiserem de Missão: Impossível, eu provavelmente concordarei com tudo, mas há uma coisa que não se pode deixar de dizer:
Por Deus, que filmes divertidos.
A cinessérie iniciada por Cruise no distante ano de 1996 envelheceu tão bem quanto seu acrobático protagonista, encontrando o equilíbrio entre a trama de espionagem clássica do primeiro segmento e a pirotecnia francamente descerebrada do segundo para encarreirar ótimas matinés de ação/espionagem em sequência.
Em um ano em que James Bond não segurou o roldão e os homens da U.N.C.L.E. não convenceram, Ethan Hunt e sua equipe garantiram a honra do gênero com mais uma bem sucedida incursão da MIF nas telonas para se opor ao Sindicato, a nação secreta de espiões que tenta desestabilizar o mundo livre.

8 - Vício Inerente


A história de detetive lisérgica de Paul Thomas Anderson estrelada por um Joaquin Phoenix no auge de sua forma adapta de maneira absurdamente competente a obra de Thomas Pynchon.
Diferente de qualquer outro filme noir que tu tenha assistido na vida, o longa de PTA tem um grande elenco e uma trama que parece desconexa para deixar a audiência no mesmo barco que Doc Sportello (Phoenix), um detetive/médico/hippie constantemente chapado que investiga três casos ao mesmo tempo enquanto lida com o policial Christian 'Big Foot' Bjornsen (Josh Brolin) e as lembranças de sua namorada desaparecida Shasta (uma hipnótica Katherine Waterston). Se "ovos se quebram, chocolate derrete e vidro estilhaça" pois é da natureza das coisas se deteriorar, Vício Inerente é uma grata exceção à regra.

7 - Sicario - Terra de Ninguém


A tensa história policial de Dennis Villeneuve começa com extrema categoria na hora de criar uma atmosfera com a agente do FBI Kate Macer (Emily Blunt) e equipe encontrando uma sinistro cemitério improvisado emparedado em uma casa num subúrbio do Arizona. Daí pra frente, Kate é arrastada pelo agente Matt Graver e seu associado, o consultor Alejandro (Benício Del Toro), cada vez mais profundamente para dentro do sombrio mundo dos cartéis de drogas numa inquietante jornada por um terreno sem preto ou branco, mas extensa e indefinidamente cinza, onde a única alternativa à justiça de verdade é escolher o menor de dois males, uma tarefa que pesa na consciência, e deixa as mãos irremediavelmente sujas.

6 - Ponte dos Espiões


Steven Spielberg volta à carga e à lista de melhores do ano com a história de como, durante a Guerra Fria, o advogado Jim Donovan (Tom Hanks) é escalado para defender o espião soviético Rudolph Abel (Mark Rylance) no que deveria ser um julgamento de faz-de-conta para dar a impressão de processo legal sério ao mundo.
Donovan, porém, se recusa a fingir, e vai até onde a lei permite e além para salvar a vida de seu cliente, uma decisão que se prova acertada quando um piloto americano é capturado em espaço aéreo soviético, e Donovan deve viajar à Alemanha Oriental para negociar a troca de Rudolph pelo rapaz, uma trama que se complica quando um estudante americano capturado pelos alemãs surge na equação.
Brilhante trabalho de elenco (destaque para Hanks e Rylance), parte técnica acima da média e um inesperado casamento redondinho entre a veia solene de Spielberg e o escárnio dos irmãos Cohen, roteiristas do longa, no que é o melhor trabalho recente de Spielberg, um cineasta fundamental do Século XX, e um dos melhores filmes do ano.

5 - Whiplash: Em Busca da Perfeição


Tecnicamente um longa de 2014, eu sei, mas a história do jovem baterista de jazz Andrew Neimann (Miles Teller, ótimo) e seu professor, o tirânico Terrence Fletcher (J.K. Simmons, genial) só estreou no Brasil em janeiro desse ano, e após doze meses, ainda é um dos melhores filmes de 2015.
O longa de Damien Chazelle é econômico em quase tudo: Duração, tempo de filmagem, orçamento, mas esbanja talento de elenco e equipe, qualidade e uma surpreendente tensão ao opôr o jovem estudante de música que almeja se tornar um virtuose e o professor com níveis de exigência estratosféricos que não quer deixar o próximo virtuose se perder por falta de incentivo mesmo que isso signifique literalmente arrancar sangue de seus pupilos num crescendo de tensão que explode na brilhante sequência final.
Bravo!

4 - Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força


Aposta fácil. Depois dos trailers com Han Solo proclamando que ele e Chewie haviam voltado pra casa, todo mundo sabia que O Despertar da Força seria um filmão.
E foi. Voltar àquela galáxia bem, bem distante conduzido por J.J. Abrams para reencontrar Han Solo (Harrison Ford), Chewbacca (Peter Mayhem), Leia Organa (Carrie Fisher), Luke Skywalker (Mark Hammil), a Força, os Jedi, a Millenium Falcon, os caças TIE, e as X-Wing e conhecer uma nova geração de heróis com Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega) e Poe Dameron (Oscar Isaac) além de novos vilões como Kylo Ren (Adam Driver), capitã Phasma (Gwendolyne Christie), general Hux (Domhnall Gleeson) e o supremo líder Snoke (Andy Serkis) foi um deleite.
A galáxia continua menor que o bairro onde tu cresceu, os engenheiros imperiais ainda são péssimos e o serviço de inteligência dos heróis ainda é um lixo, mas quem liga?
Esses são os elementos que tornaram Star Wars uma peça indelével da identidade cultural contemporânea, e quando eles se juntam para contar uma história empolgante e adorável, quem é que vai se queixar de coincidências fortuitas?
Que a Força esteja conosco. Ano que vem tem mais.

3 - Divertida Mente


A mais recente empreitada da Pixar é o ápice da Pixar, perfilando-se aos brilhantes Wall-E e UP - Altas Aventuras como os pontos culminantes da brilhante filmografia do estúdio.
Na trama co-dirigida por Pete Docter e Ronnie DelCarmen a história das emoções da menina Riley, de onze anos, entrando em polvorosa quando a guria se muda com a família do interior de Minnesota para São Francisco é um desses deleites que o estúdio fundado por Steve Jobs consegue criar fazendo parecer a coisa mais fácil do mundo.
A jornada de Tristeza e Alegria para voltarem à cabine de comando da mente de Riley é uma figura de linguagem apropriada para (entre outras coisas) um longa que faz a audiência rir e chorar de maneira tão imediatamente alternada.
Como aprendemos com a história de Riley e suas emoções, que também incluem Nojinho, Medo e Raiva, a tristeza é uma parte importante da vida, e quem não derrama lágrimas eventuais, não vai saber valorizar os sorrisos.
Obra prima.

2 - Perdido em Marte


Eu sou fã de Ridley Scott e não é de hoje. O diretor alcunhado de "homem do visual" por conta de sua capacidade ímpar de criar imagens que ficam marcadas na memória da audiência e filmes que poderiam ser mudos por conta de sua capacidade de contar histórias de maneira gráfica, porém, vinha claudicando.
Seus trabalhos recentes eram muito menos do que a grife Ridley Scott deveria ser, e seu último filme realmente acima de qualquer suspeita, era O Gângster.
Scott precisou sair do planeta Terra para voltar a contar uma grande história, mas não precisou de xenomorfos nem de nenhuma espécie de monstro espacial, apenas contar a empolgante jornada de sobrevivência do astronauta Mark Whatney (Matt Damon), e sua luta para suportar as mais adversas condições do sistema solar para se tornar, meio aos trancos e barrancos, o primeiro colonizador humano em outro planeta após ser erroneamente dado como morto, e deixado pra trás por sua equipe após uma missão de exploração em Marte dar errado.
Exibindo uma veia nerd insuspeita, Damon toma conta da tela enquanto a audiência se junta ao resto da equipe da Ares III e à NASA em suas desesperadas tentativas de trazer o "marciano" de volta pra casa, num excelente retorno de Scott à velha forma, com a melhor ficção científica do ano.

1 - Mad Max: Estrada da Fúria


Testemunhe-me, desafia o garoto de guerra Nux (Nicholas Hoult) numa frase que poderia muito bem ser dita por George Miller, o idealizador de Mad Max: Estrada da Fúria.
O retorno do diretor australiano ao futuro distópico onde não existe lei, exceto a do mais forte, e onde a gasolina e a água são as molas que mantém homens deformados física e mentalmente em movimento não poderia ter sido melhor.
Max Rockatanski voltou, agora com a cara e a econômica voz de Tom Hardy, apropriando-se sem cerimônia do papel de Mel Gibson, ele tem seu caminho cruzado pela tribo de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne) e por sua guerreira renegada Imperator Furiosa (Charlize Theron), que trai seu líder para salvar as cinco esposas do vilão e tirá-las da Cidadela onde vivem.
O ato de rebeldia de Furiosa dá início à uma violenta caçada humana que se estende pelo deserto sem fim onde a ação se passa, dando a Miller carta branca para criar um espetáculo de tensão em alta octanagem alicerçado em personagens perturbados e vivos e uma parte técnica sublime, com direção de arte, design de som, música e fotografia sensacionais.
Mad Max: Estrada da Fúria é um filme de arte de ação. Um longa de macho feminista. Uma obra prima em meio à uma franquia. Um trabalho de gênio que deveria viver tunado e cromado por toda a eternidade, e o indiscutível melhor filme de 2015.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Top 10 Negativo - Cinema 2015

Vou confessar pra vocês que eu me divirto muito mais escrevendo sobre filmes ruins do que assistindo a eles, e me entristece sobremaneira que, em 2015, eu tenha visto muito mais maus filmes do que bons.
Se em anos anteriores eu precisei fazer menções honrosas a filmes que acabaram ficando de fora do top-10 cinematográfico, nesse ano, estou correndo contra o relógio pra fechar dez filmes que mereçam figurar na lista (e ainda sem uma lista que eu olhe e diga "é essa.").
Entretanto, a lista de filmes ruins está tão complicada quanto, pois está difícil achar apenas dez pra elencar.
Este 2015 foi um ano prenhe de filmes ruins, ou que não foram isso tudo.
Tome Vingadores - Era de Ultron, por exemplo. Longe de ser um mau filme, mas praticamente à mesma distância de figurar num top-10. O modesto Homem-Formiga me cativou muito mais do que a segunda aventura dos heróis mais poderosos da Terra. E isso que estamos falando de filmes que apenas não foram tão bons quanto poderiam ser, e as decepções desastrosas? E os filmes que nos fizeram querer arrancar os olhos ou exigir reembolso do cinema e um pedido de desculpas por escrito do diretor?
Houveram muitos desses no ano que passou, e é aos dez mais desgraçados que a lista a seguir se dedica.
Passe longe desses filmes. Fique longe do cinema, desvie-se deles na locadora, e se estiverem passando na TV, leia um livro ou assista ao Medalhão Persa. Qualquer coisa é melhor.

10 - Homem Irracional


Quando Woody Allen acerta, ele faz filmes intimistas, inteligentes e divertidos. Quando erra, ele comete atrocidades como este Homem Irracional.
Talvez o pior filme do octogenário cineasta norte-americano, o longa estrelado por Joaquin Phoenix, Emma Stone (nova musa de Allen) e Parker Posey é tão desgraçadamente mal escrito que deixa o bom elenco de mãos atadas, incapaz de trabalhar com o texto pífio sobre um professor universitário de filosofia depressivo que reencontra o prazer de viver em um assassinato.
Chato, arrastado, com personagens rasos com quem a audiência é incapaz de se importar, Homem Irracional vai ser sempre a munição de quem não gosta de Allen em discussões com fãs do diretor de Annie Hall, Manhattan, Match Point e Tudo Pode dar Certo.

9 - Sob o Mesmo Céu


2015 foi um ano ruim para o cinema em geral, e para Emma Stone em particular. A minha eterna Gwen Stacy naufragou duplamente ao embarcar em duas inesperadas canoas furadas. Se era difícil predizer que Homem Irracional seria a bomba que foi com um diretor/roteirista como Allen e um protagonista como Joaquin Phoenix, podemos dizer exatamente a mesma coisa sobre Sob o Mesmo Céu.
Quem poderia esperar que um longa escrito e dirigido por Cameron Crowe e estrelado por Bradley Cooper fosse ser uma experiência tão insatisfatória?
E foi.
A comédia romântica tem um roteiro insosso, personagens absolutamente inócuos e jamais decola ou faz sentido, resultando em um produto tão mal acabado que parece alguém tentando fazer um pastiche dos filmes de Crowe.

8 - Jurassic World


Mas como? O filme foi uma das maiores bilheterias de 2015, sucesso absoluto de público e a crítica não vilipendiou o longa!
É, ainda assim, poucos filmes me desapontaram mais do que a revisita à Ilha Nublar e ao parque temático engendrado por John Hammond em 1993.
É difícil pra mim ter qualquer simpatia por um longa que é pouco mais que um remake anabolizado de um filme que eu amei, e que se apóia unicamente na habilidade de seus heróis de fazerem cagadas sucessivas. Não há sequer a persona sabotadora de Dennis Nedri colocando todos em perigo em nome do lucro como no longa original, mas apenas a capacidade do herói do filme de agir feito um imbecil dez em dez vezes.
Quando a mola propulsora de um filme é a burrice de seus superficiais protagonistas, estamos certamente diante de um longa que eu não consigo achar bom, não importa quantos dinossauros famintos apareçam na tela.

7 - As Bem Armadas


A premissa sugere Thelma & Louise encontra Um Parto de Viagem. O longa estrelado por Reese Whiterspoon e Sofía Vergara sugere que tu desligue o DVD e vá dormir mais cedo.
A comédia de poucas e recicladas piadas é um desses filmes que deveria ter chegado aqui direto em DVD e olhe lá, mas acabou ganhando a deferência de uma (curtíssima) passagem pelos cinemas apenas porque Whiterspoon é um nome e um rosto reconhecido.
Trocando-se a vencedora do Oscar por qualquer outra atriz de formato e tamanho iguais, As Bem Armadas seria um desses filmes perdidos nas tardes da TV a cabo, e estaria em seu lugar de direito.

6 - Terremoto - A Falha de San Andreas


Filme catástrofe onde um heroico pai de família move céus e terras para chegar à filha em perigo em meio a um desastre de proporções bíblicas.
Todos nós já vimos esse filme e a versão de Roland Emmerich era mais divertida.
Desperdício de dinheiro, do talento de Paul Giamatti, de três grandes pares de seios (Alexandra Daddario, Carla Giggino e The Rock) e de duas horas da vida do incauto que, assim como eu, foi levado a crer que o filme seria ao menos bacana, Terremoto - A Falha de San Andreas é um desses lamentáveis produtos pós Independence Day, onde um diretor mequetrefe e um roteirista preguiçoso acham que destruir o mundo em 3-D é um filme.
Vai rechear as tardes do canal Space ao lado de pérolas de Chuck Norris e Steven Seagal em pouco tempo.

5 - O Destino de Júpiter


Os fãs de Matrix acharam que seria uma volta dos irmãos Wachowski à ficção científica e, por consequência, aos bons filmes. O Destino de Júpiter tinha cara e ferramentas de uma ópera espacial que misturaria contos de fadas e ação de qualidade em uma embalagem com a qualidade cool que só Lana e Andy Wachowski sabem fazer, certo?
Não.
O Destino de Júpiter não acha o tom, é chato, histérico e mal ajambrado. Mila Kunis faz Neo parecer Laurence Olivier, caine, o personagem de Channing Tatum é um lobisboy/anjo/guerreiro-de-patins que pede por piadas que jamais chegam e Eddie Redmayne atua em modelo Nicolas Cage, sem jamais acertar a modulação de voz, sempre gritando ou cochichando e é o único que se salva já que parece o único que não está levando aquela bazófia toda a sério.
Sem encontrar lastro para a megalomania, O Destino de Júpiter é absolutamente esquecível, e não chega nem a ser desapontador já que ninguém em sã consciência esperava nada do filme.

4 - CHAPPiE


CHAPPiE tinha um potencial do caralho. O retorno do diretor sul-africano Neil Blomkamp à seara das ficções científicas do gueto na história do robô-policial agraciado com uma inteligência artificial por seu criador tinha tudo pra ser Um Robô em Curto-Circuito com mais coração, mais cérebro e mais consciência social, e uma volta do criador de Distrito 9 à sua melhor forma.
Mas aí, Blomkamp pareceu escrever o roteiro em papel higiênico usado, esqueceu de criar um vilão decente para Hugh Jackman, chamou dois punk-rappers atrozes para os papéis principais do filme e cometeu um longa cheio de boas ideias porcamente desenvolvidas resultando em um produto que desaponta tanto pelo que é, quanto pelo que poderia ter sido.

3 -Pixels


Outro filme que poderia ter sido muito mais do que é... Pixels tinha tudo para ser uma divertida matiné cheia de reminiscências para velhacos que cresceram frequentando fliperamas oitentistas. Uma mistura de O Milagre Veio do Espaço com Independence Day regado a nostalgia de Atari.
Infelizmente Adam Sandler meteu aquela cara de ovo na empreitada e Pixels virou mais um daqueles filmes onde o pseudo-comediante emprega seus amigos em uma trama pra ele ser o sujeito que sempre se dá bem.
Dirigido por um esforçado Chris Columbus que caprichou nos efeitos visuais e até chamou Peter Dinklage pra tentar dar algum estofo dramático ao longa, Pixels esbarrou no roteiro escrito a giz de cera pelos colaboradores habituais de Sandler, Timothy Dowling e Tim Herlihy, e o que poderia ter sido um programa divertido se tornou um daqueles filmes que fazem a gente conferir a duração aproximada atrás da caixa do DVD pra ver se falta muito pra acabar o martírio.

2 - Quarteto Fantástico


Quando o diretor do longa e o estúdio trocam farpas via veículos de imprensa antes, durante e depois do lançamento do filme, é sinal de que alguma coisa deu muito errado.
Não precisava ser gênio, porém, pra saber que Quarteto Fantástico, reboot da Primeira Família da Marvel aos cinemas após os filmes de Tim Story em 2005 e 2007 não estava no caminho certo já no embrião da produção.
Desde a escalação do elenco e da contratação de Josh Trank para conduzir o longa era visível que as ideias da Fox, de Trank e dos fãs eram absolutamente dissonantes.
O que poderia ser uma boa ficção científica de super-herói acabou se tornando um produto irregular, um monstro de Frankenstein de três filmes diferentes costurados um no outro sem jamais encontrar um tom ou contar uma história consistente. Uma pena, pois algumas ideias dos dois primeiros atos do longa acenavam com um digno reinício, que acabou relegado à uma promessa jamais cumprida, e um dos grandes fracassos do ano.

1 - The Ridiculous Six


Aposta fácil.
Todo mundo que passou pelo calvário de assistir The Ridiculous Six sabia que o longa de Adam Sandler (duplamente agraciado nesta relação de filmes ruins) para o Netflix não ficaria de fora de nenhuma lista de piores do ano.
A tenebrosa comédia (?) sobre seis meio-irmãos filhos de um pistoleiro que são unidos pelo irmão Tommy Faca-Branca (um Adam Sandler no ápice de sua ruindade) para resgatar o pai sequestrado não faz rir, não faz sorrir, ofende mulheres, índios, amantes de faroestes e de comédias e de qualquer coisa em que toque.
Mais uma empreitada de Sandler para chamar seus amigos para um filme muito mais do que para contar uma história, The Ridiculous Six é a epítome da filmografia de Sandler, o engraçadinho sem graça que adora tirar sarro de todo mundo enquanto posa de pica das galáxias.
Campeão inconteste de um ano repleto de filmes abaixo da média.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Resenha Cinema: Macbeth: Ambição e Guerra


Eu vou confessar que, por mais que reconheça a grandeza dos escritos de Shakespeare, eu sou um tanto quanto reservado com relação à linguagem.
Estamos falando de peças escritas no século XVII, e na maioria das ocasiões, quando as obras do bardo imortal são revisitadas, parece que tudo é passível de alteração, as ambientações físicas, o período temporal ocupado pela obra, até o gênero dos personagens (Helen Mirren interpretou em, A Tempestade, um Próspero que era uma Próspera), tudo pode variar. Romeu + Julieta de Baz Luhrmann ganhou o pano de fundo de uma guerra de gangues em Los Angeles, o Coriolano de Ralph Fiennes era uma guerra lutada nos balcãs com fuzis AK-47, o Ricardo III de Ian McKellen era um ditador da década de 30... As peças de Shakespeare têm uma qualidade atemporal, suas tramas, em inúmeros casos, permanecem interessantes e relevantes mesmo se transportadas para outros períodos históricos, então, por que o texto falado pelos personagens nunca é tão atualizado quanto os demais elementos?
Porque Shakespeare é justamente a respeito da linguagem.
Todos os atores e diretores são atraídos, muito mais do que pelas tragédias ou comédias do dramaturgo, pelo seu diálogo empolado. Particularmente em seu idioma de origem.
Shakespeare é pra ser interpretado e visto, em inglês.
Tendo isso em mente, o Macbeth engendrado por Justin Kurzel é bem "roots" apesar de algumas liberdades criativas. Além de manter inalterada a linguagem original, a ambientação física e temporal da tragédia se mantém, e este Macbeth se passa na Escócia medieval.
Macbeth (Michael Fassbender) é um thane (um tipo de barão) escocês que luta em um fronte em desvantagem contra um traidor, Macdonwald, que junto a forças da Noruega e Irlanda, lidera um golpe contra o rei Duncan (David Thewlis).
A despeito da desvantagem, Macbeth obtém vitória, rasgando Macdonwald do umbigo ao queixo.
Enquanto celebra a custosa vitória junto a seu amigo Banquo (Paddy Considine), Macbeth recebe a visita de quatro (e não três) bruxas.
Os entes sobrenaturais surgem dizendo a Macbeth que ele será rei da Escócia, e que Banquo jamais sentará no trono, mas será o pai de gerações de reis por vir.
Chegando a Glamis, Macbeth conta de seu encontro com as bruxas à sua esposa, lady Macbeth (Marion Cotillard), que imediatamente passa a atiçar o marido para que acelere a profecia fazendo o que quer que seja necessário para alcançar a coroa, inclusive assassinar seu soberano.
O plano de lady Macbeth funciona, e após matar Duncan e afugentar seu filho mais novo, Malcolm (Jack Reynor) que se torna o principal suspeito do crime, o thane de Glamis e Cowdor é coroado o rei da Escócia.
Entretanto, alcançar o trono não acaba com os problemas de Macbeth.
Ele segue sendo acossado pelas visões das bruxas do campo de batalha, que o viram ser rei, mas lhe dera uma coroa e cetro estéreis, dizendo-lhe que sentar-se-ia no trono, mas que quem daria origem à linhagens de reis, seria Banquo.
O general e amigo de Macbeth, então, torna-se alvo da ambiciosa sanha assassina do rei, e não apenas ele, mas também seu filho, Fleance.
Cada vez mais assombrado pelos fantasmas de seus próprios atos vis, não tarda para Macbeth se tornar alvo das suspeitas do leal thane de Fife, McDuff (Sean Harris), empurrando o rei e sua rainha mais e mais para dentro do abismo em uma sucessão de atos nefastos que só podem terminar em tragédia.
É bacana.
O diretor Justin Kurzel utiliza alguns truques interessantes para tornar seu Macbeth um produto visualmente atrativo. Cenas de batalhas são filmadas em câmera ultra-lenta, com respingos de sangue e nacos de terra voando pelo ar como flocos de neve em um cenário que o cinematógrafo Adam Arkaphaw torna ora amarelo pútrido, ora vermelho sangue.
O sangue, por sinal, é quase um personagem.
Ele escorre, respinga e goteja de feridas, fazendo a tragédia Shakespeariana encontrar Game oh Thrones conforme espadas e adagas entram e saem de feridas que vertem sangue grosso e escuro.
Esses pequenos truques acabam mascarando um problema com a adaptação de Jacob Koskoff, Todd Louiso e Michael Lesslie, o roteiro um tanto quanto brusco da obra.
A "Scottish Play" é a mais curta das peças de Shakespeare, e a forma como o roteiro a aborda torna o desenrolar dos eventos algo truncado já que a trama do longa se desenrola em menos de duas horas.
Por sorte, há o elenco.
Fassbender é um sujeito habituado a interpretar personagens instáveis, assombrados e atormentados. A loucura assassina de Macbeth não é nada que o ator não possa descascar com graça, tornando a figura esguia e estilosa do guerreiro escocês uma persona claramente degradada e explosiva, que mesmo tentando ser afável é ameaçadora.
Marion Cotillard é outra que tira de letra. Sua lady Macbeth é menos insana do que outras versões, muito mais contida, e talvez por isso mesmo, mais perigosa.
Sua cara de esfinge, com seus olhos enormes e tom de voz baixo é, a seu modo, tão ameaçadora quanto os arroubos sangrentos de Macbeth.
Os arroubos, por sinal, se restringem ao campo de batalha.
De modo geral, este Macbeth é menos teatral do que outras versões. Os monólogos se dão de maneira mais intimista, sussurrados ou falados sem exagero em cenários como uma pequena capela, ou num quarto de dormir.
Uma das mais repetidas falas de Shakespeare, "a vida é uma história contada por um tolo, cheia de som e fúria e vazia de significado" não é bradada cheia de... bom, som ou fúria... Mas dita de maneira resignada pelo protagonista em um momento de contida tristeza.
Esses pequenos detalhes, esses pequenos acertos na hora de arriscar uma abordagem distinta a um texto de quatrocentos anos, reinterpretando cenas chave, ajudam o Macbeth de Kurzel a se sustentar e se destacar, superando os eventuais percalços da adaptação, e lançando mão de soluções engenhosas para tanto.
Infelizmente, adaptações shakespearianas continuam não sendo produto para todos os públicos, mas para quem faz parte desse público, ou gostaria de dar uma chance ao bardo imortal, este Macbeth é uma ótima pedida.

"Dia tão belo e tão vil eu jamais vi."

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Rapidinhas do Capita


É isso aí, Cumberbitches, a revista norte-americana Entertainmente Weekly publicou em sua capa a primeira foto oficial de Benedict Cumberbatch como o Doutor Estranho, confira o visual do Mago Supremo do universo Marvel:


Maneiro, né?

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Em entrevista à publicação, Cumberbatch falou a respeito da parte física do papel:
"Era tipo, OK, eu tenho que fazer essas poses, esses feitiços, essas invocações de runas, tudo o que ele faz, fisicamente. Eu acho que vai haver uma enorme especulação e intriga a respeito da posição dos dedos, se deveriam estar aqui ao nvés de ali, ou lá. E eu ainda estou trabalhando nisso. Ainda não gravamos nenhuma dessas cenas. Eu me sentia realmente embaraçado, mas no final, foi ótimo. É como qualquer coisa, você só tem que experimentar."

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Dirigido por Scott Derrickson e roteirizado por Jon Spaiths, Doutor Estranho ainda tem no elenco Chiwetel Ejiofor, como Barão Mordo, Tilda Swinton como O Ancião, além de Rachel McAdams, Michael Stuhlbarg, Scott Adkins, Amy Landecker e Madds Mikelsen.
O longa, que contará a história de Stephen Strange, um arrogante neurocirurgião que, após sofrer um acidente de carro que lhe custa o uso das mãos, vaga o mundo à procura de uma cura e encontra o obscuro mundo da magia está agendado pela Marvel para novembro do ano que vem.

Segundo Natal


Teve um natal no dia 25, e hoje tem outro:
No dia 28 de dezembro, no ano de Nosso Senhor de 1922, nascia Stanley Martin Lieber, mais conhecido como Stan Lee.
O sujeito que ao lado de Jack Kirby, Steve Ditko e um punhado de outros visionários edificou o Universo Marvel ao criar praticamente todos os maiores heróis e super-grupos da Casa das Ideias nos anos sessenta.
Stan "The Man" Lee foi o precursor de personagens mais humanos e complexos nos quadrinhos, além do conceito de universo compartilhado, e foi com Lee como timoneiro, capitaneando uma das mais sensacionais gerações de criadores da história dos quadrinhos, que a Marvel rompeu barreiras, indo de uma mera divisão infanto-juvenil de publicações, até uma gigante multimídia, enquanto moldava os sonhos de toda uma geração de nerds que encontravam, nas páginas dos quadrinhos idealizados por Lee e equipe, um mundo mais aprazível do que o nosso.
Todos saúdem Stan Lee.

sábado, 26 de dezembro de 2015

O segundo trailer de Deadpool

E conforme prometido após semanas de posteres teasers, a Fox divulgou o segundo trailer de Deadpool, filme solo do personagem apresentado em X-Men Origens: Wolverine (e devidamente esculhambado pelo personagem em um dos teasers).
Na prévia de pouco menos de três minutos vemos o mercenário desbocado tocando o horror na bandidagem enquanto explica porque este não é um filme de super-herói tradicional.
Com participação de Colossus o trailer mostra ação sangrenta, bastante violência, e uma surpreendente boca-suja do personagem principal.
Confira:


Dirigido por Tim Miller, com roteiro de Paul Wernick e Rheet Reese o longa estréia em fevereiro de 2016, e tem no elenco Morena Baccarin, Ed Skrein, T. J. Miller, Gina Carano, Briana Hildebrand e Ryan Reynolds, reprisando o papel de Deadpool.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Um Bom Natal


Ele saiu da academia, colocando os fones de ouvido do rádio do celular estrategicamente sintonizado em uma rádio AM e ajeitando as alças da mochila. Suava feito um cavalo, a camiseta ensopada, suor escorrendo até pelos braços, sentiu o abafamento da rua em contraste com o ambiente do ar-condicionado dentro da academia. Chegou a fechar um olho. Ao olhar para a frente, surpresa:
Deparou-se com ela sentada em um banquinho no bar do outro lado da rua sorvendo uma Soda Limonada. Ela sorria e acenou pra ele, que retribuindo o sorriso, atravessou para encontrá-la. Ela se levantou pronta para abraçá-lo, mas ele a deteve:
-Não faz isso, eu tô fedendo... - Alertou.
-Não me importa. - Ela disse. -Tô precisando de um abraço.
O enlaçou com os braços finos, sem ligar para a roupa molhada que o envolvia. Ele, desconfortável com a própria descompostura, correspondeu de maneira tímida ao amplexo.
-Que tu tá fazendo por aqui? - Ele perguntou como se para criar um pouco mais de espaço entre os dois.
-Te esperando, né, animal? - Ela respondeu, arrancando-lhe risadas.
Riu junto.
-Tu tá indo pra casa? - Perguntou.
-Não. Bom, tô, mas tenho que passar no mercado, antes. - Ele respondeu, tentando desencorajá-la a acompanhá-lo. Uma das coisas que mais desgostava na vida era quando as pessoas alteravam seu caminho a troco de nada, mas ela disse:
-Eu vou contigo.
Saíram andando juntos pela José do Patrocínio, lado a lado.
-Que tu anda fazendo? - Ela quis saber.
-Ah... O de sempre. - Ele disse. -Nada de novo...
-Nada mesmo? - Ela quis saber.
Ele a olhou de esguelha.
-Não... - Disse.
Ela insistiu:
-Tu sumiu... - Ela disse. -Achei que tu estivesse... - Ele a interrompeu:
-Não. Foi um evento isolado que não significou nada.
Ela fez um ruído indefinido que continha, ao fundo, uma nota de desaprovação. Ou talvez fosse apenas sua consciência pesada.
-E tu? - Ele perguntou. -Que tu anda fazendo?
-Só trabalhando. - Ela disse. -Ah... Comecei a frequentar uma sociedade espírita ali no centro... Tem uns encontros três vezes na semana. A gente estuda, conversa...
-Vê gente morta... - Ele interrompeu, escarnecendo.
-É. Eu sei que tu não acredita. - Ela disse, sorrindo. -Mas me faz bem. Eu gosto de ter uma muleta.
-Sabe... É uma coisa que eu não entendo... Tu é uma guria inteligente. Esclarecida. Lê pra caramba, sabe das coisas... Tu mesma admite que essa baboseira é uma muleta... Se tu sabe que é uma muleta, isso não significa que tu sabe que não é real? E se é o caso, então pra que ir?
Ele se exasperou levemente, como sempre acontecia quando falava de religião. Sentiu a modulação de voz se perder por alguns segundos. la continuava tranquila.
-Eu não sei "que não é real" - ela corrigiu. -Só não sei se é, ou não. E nesse caso, gosto de arriscar. É que nem a parábola do ladrão e do padre que tu me contou que leu no Homem-Aranha...
-É do cavaleiro e do monge. E eu li no Demolidor... - Ele corrigiu.
-Isso. - Ela assentiu. -Ou As Aventuras de Pi... Eu prefiro a versão com o tigre.
Ele sorriu pra ela, que sorriu de volta fazendo uma careta:
-Não seja condescendente comigo, Ned. - Ela o repreendeu. -Com esse sorriso de "Pobre-loira-burra" pra cima de mim, Senhor humanista secular que não acredita em nada.
Ele riu alto.
-Mas quem disse que eu não acredito em nada? - Ele inquiriu.
-Tu! - Ela respondeu, acusadora.
-Não... - Ele corrigiu. -Eu acredito. Acredito em um campo de energia viva que vive ao nosso redor e dentro de nós.
Ela ergueu as sobrancelhas finas olhando pra ele e esperando a punch-line.
-E o que é isso? - Perguntou, mais para acelerar o processo do que por realmente querer saber.
-A Força. É o que dá a um Jedi o seu poder. - Ele respondeu, solene.
-Vai te catar. - Ela disse, batendo com a mão no ar como que afastando a ideia.
-Eu acho a tua falta de fé perturbadora. - Ele respondeu, rindo.
-Por falar nisso, tu já foi ver? - Ela perguntou.
-Fui. - Ele respondeu, satisfeito. -Vestido de Jedi e tudo.
-Ah, não acredito. - Ela riu.
Ele sacou o telefone celular do bolso da mochila, abriu o álbum de fotos e exibiu uma delas, onde usava um traje negro de Jedi com direito a casaco longo, túnica com Obi e Tabbards, botas de cano longo e um reluzente sabre de luz verde diante do enorme letreiro do filme no cinema.
Ela riu.
-Meu Deus do céu, guri...
-Eu não queimo cartucho, alemoa. Era Star Wars. Se era pra eu me fantasiar pra ir ao cinema ver um filme, ou era Star Wars, ou era Homem-Aranha.
Ela ainda olhava a foto.
-Tu até que ficou bonitão de Jedi... - Disse. -Mas podia ter tirado os óculos, né?
-É. - Ele concordou. -Mas não me lembrei. Acho até que, pra algumas fotos eu tirei...
-"Algumas"? Quantas fotos tu tirou?
-Na verdade eu não tirei nenhuma, mas eu e um sujeito vestido de Kylo Ren éramos abordados constantemente por gente querendo tirar foto.
Ela gargalhou.
-Só imagino tu, a timidez em pessoa, sendo abordado por estranhos no shopping pra tirar foto.
-Que nada. - Ele disse. -Entrei no personagem. O mestre Jedi Rody-Wan Kenobi tira foto com todo mundo.
-Quem? Mestre Jedi o quê? - Ela perguntou, rindo muito.
-O meu Jedi favorito é o Obi-Wan Kenobi... Mas eu tava vestido de Luke Skywalker, e um piazito na fila do cinema me disse que eu era o Qui-Gon Jinn, então eu nem sei... Tu foi ver? - Perguntou.
-Não... Eu só vejo esses filmes contigo. Não sou fanática que nem tu... - Ela respondeu devolvendo o celular.
-Não sou fanático... - Ele corrigiu. -Sou devoto. A gente pode ir ver um dia desses. Tô querendo ver em I-Max, mas tá difícil conseguir ingresso.
-Quantas vezes tu já viu? - Ela perguntou, fazendo uma careta de espanto.
-Só uma. - Ele a tranquilizou. -Mas planejo ver ao menos mais duas.
Ela sorriu. Chegaram ao mercado, ele fez suas compras, e depois ela até o ajudou a carregar algumas sacolas já que uma das coisas que ele fora comprar era um saco de dez quilos de ração pra cachorro.
-Como é que tu ia carregar isso tudo se eu não estivesse junto? - Ela perguntou, esbaforida.
-Eu possuo a energia que ata a galáxia unida, tu acha que eu não me viraria com vinte e poucos quilos de compras?
Riram, suando e arfando as duas quadras que separavam o mercado da casa dele. Ao chegarem ao portão do prédio, ele falou:
-Tu quer esperar um minutinho? Eu largo essas coisas lá em cima e te levo em casa...
-Não... Não. Pode ir fazer tuas coisas. Eu volto sozinha.
-Tá começando a chuviscar. - Ele alertou mostrando o chão salpicado d'água.
-Eu vi. - Ela disse. -Mais um motivo pra tu não ir comigo. Vai tomar teu banho, eu pego um táxi.
-Em Porto Alegre? Às seis da tarde? Num dia 23 de dezembro e com chuva? Tu nunca vai pegar um táxi. - Ele replicou.
Ela riu.
-Ou um ônibus. Eu decido no caminho até a Praia de Belas.
-Tu que sabe. - Ele disse, sentindo a raiva por um daqueles momentos ser a exata razão para ele detestar quando alguém saía do caminho só para acompanhá-lo. -Vem aqui, então. Me dá um abraço de feliz natal.
Ela protestou:
-A gente não pode se ver amanhã?
-Amanhã vai chover torrencialmente. - Ele disse.
-Como tu sabe? - Ela perguntou, olhando pro céu.
-A Força me provém com insights do futuro, mulher ignorante. - Ele disse, estendendo a mão espalmada para a frente, de leve.
Ela deu uma palmada na mão dele que riu:
-O aplicativo meteorológico do meu celular nunca erra. Vai chover amanhã.
Ela suspirou e deu um passo à frente. O abraçou com vontade. Ele retribuiu dessa vez, a abraçando com força, e dando-lhe um beijo estalado no rosto, que ela devolveu.
-Tu tá salgado. -Disse.
Ele riu que sabia.
Ficaram assim alguns momentos, e então ela se desprendeu dele, que a liberou.
-Me passa aquela foto de Jedi por whats. - Ela pediu.
-Pra quê? - Ele perguntou? -Pra tu caçoar de mim com teus namoradinhos descolados? - Ele perguntou, fazendo uma cara feia.
-Não. - Ela respondeu. -Pra que quando eu me perguntar "Por que foi mesmo que a gente terminou?", eu olhe pra foto e diga "Ah, é. Foi por coisas como essa.".
Ele caiu na gargalhada.
-Tá, depois eu te mando. - Prometeu, virando as costas, chave em punho para abrir o portão.
Atrás dele, ela o chamou:
-Ned.
Ele virou, e ela mandou um beijo infantil, uma coisa que fazia quando eles namoravam.
-Feliz natal, mestre Rody-Wan.
-Feliz natal, alemoa. - Ele respondeu.
-Amanhã eu te ligo. - ela disse. -E me manda a foto. - reforçou.
-Mandarei. - Ele disse, a olhando partir, desviando das poças e encolhendo o pescoço conforme era açoitada pelos pingos da chuva fina.
Aquele seria, afinal de contas, um bom natal.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Resenha Filme: O Expresso do Amanhã


A adaptação da graphic novel francesa La Transperceneige pelas mãos do diretor sul-coreano Joon Ho Bong, de O Hospedeiro é um desses filmes que sofreram por conta do estúdio.
Harvey Weinstein, o distribuidor do longa, aparentemente ficou insatisfeito com o corte final do filme, com pouco mais de duas horas, e insistiu para que vinte minutos do longa fossem cortados antes do lançamento. Ho Bong, por sua vez, ficou insatisfeito de ter sua obra aleijada na sala de edição. A queda de braço terminou com o longa sendo lançado em sua versão completa, mas em "circuito reduzido". Pronto para ser visto desde 2014, O Expresso do Amanhã pingou por festivais ao longo daquele ano, e só chegou a circuito comercial no Brasil, em fins de agosto desse ano, em poucas salas e em horários impossíveis pra qualquer pessoa que trabalhe assistir.
Por sorte, o Netflix tá aí pra dar aquela mão amiga aos amantes de filmes, e desde a semana passada, o longa consta na lista de opções do serviço de streaming.
Em O Expresso do Amanhã, no ano de 2014 a humanidade tentou resolver o problema do aquecimento global da maneira mais fácil. Dispersando um químico congelante na atmosfera da Terra em uma tentativa de reduzir as temperaturas de volta a níveis aceitáveis.
O tiro saiu miseravelmente pela culatra, mergulhando o planeta Terra de volta à era do gelo, e extinguindo toda a vida.
A exceção ficou por conta de um único lugar.
Um poderoso trem autossustentável desenvolvido pelo industrial Wilford (o sempre excelente Ed Harris), que jamais precisa parar em um circuito perene ao redor do mundo, livre das mazelas do clima inclemente lá fora.
Agora, dezessete anos depois, em 2031, os remanescentes da raça humana vivem dentro do trem de Wilford. Nos carros da frente, os endinheirados que vivem com conforto e comida de sobra, aproveitando piscinas térmicas, danceterias e cabeleireiros, enquanto nos vagões do fundo, os pobres procriam em cima da própria sujeira, vestidos como mendigos enquanto se alimentam exclusivamente de barras de proteína cuja receita é particularmente indigesta.
Nesse cenário, Curtis Everett (Chris Evans) surge como um líder do povo dos vagões do fundo. Ele e seu amigo Edgar (Jamie Bell) seguem Gilliam (John Hurt), o ancião que acredita que o povo deve ascender aos carros dianteiros, nem que seja à força.
Conforme os abusos das autoridades do trem se tornam mais insuportáveis, com a tomada dos filhos de Tanya (Octavia Spencer) e de Andrew (Ewen Bemner), e castigos físicos degradantes impostos pela ministra Mason (uma irreconhecível Tilda Swinton) a hora de agir chega.
A chave para a revolução, literalmente, é o especialista em segurança Namgoong Minsoo (Kang-Ho Song, de O Hospedeiro). Minsoo foi um dos engenheiros responsáveis pelo projeto do sistema de segurança do trem, até se viciar em drogas e ser colocado em prisão criogênica dentro do trem junto com sua filha Yona (Ah-Sung Ko).
Com Minsoo ao seu lado, Curtis começa a violenta tomada do trem, e a tortuosa jornada rumo à locomotiva que controla o destino de toda a humanidade.
O Expresso do Amanhã divide um senso visual bastante claro com os longas de ficção de Terry Gilliam (talvez o personagem de Hurt seja uma homenagem?). Enquanto assistia ao filme, eu me lembrei de O Teorema Zero, de O Pescador de Ilusões e de Brazil - O Filme, por conta do visual da produção, sim, mas também da história e da caracterização dos personagens.
Bong, no entanto, não se esforça para copiar o ex-Monty Python, ainda que se inspire nele, e consegue imprimir suas próprias marcas no longa, repetindo sua forma de desvirtuar premissas ordinárias em experiências surpreendentes como fez em O Hospedeiro. Junto com o co-roteirista Kelly Masterson, Bong consegue superar até mesmo as óbvias limitações visuais e dramáticas de um longa sobre oprimidos andando por dentro de um trem bem comprido.
Visualmente, as limitações são superadas graças tanto ao cenário desolado visto através das janelas, mostrando aviões caídos, navios tombados no seco e cadáveres congelados a apenas centenas de metros de onde saltaram do trem, mas também a inventivos vagões da composição, como o gigantesco carro aquário, ou a já mencionada danceteria.
Dramaticamente, o longa parece não se ressentir da falta de espaço, criando inventivas sequências de ação como a luta dentro do túnel, que começa vista em primeira pessoa através de óculos de visão noturna, e termina iluminada por tochas, ou a sequência dos ovos na sala de aula de uma perturbada professorinha (Alisson Pill). Não obstante, há ainda espaço para humor desconfortável, e até mesmo para drama autêntico, graças ao talento do elenco, capaz de transformar falas que, sem contexto, pareceriam um pastiche, em algo realmente perturbador, e, claro, graças ao diretor que consegue que a audiência se importe com tais personagens quando eles entregam tais falas, e que sejamos tomados por uma sensação mista de triunfo e pavor quando o filme termina.
O Expresso do Amanhã merecia mais deferência do distribuidor. Melhor sorte nas bilheterias. Melhores horários nos cinemas brasileiros... Mas mesmo sem nada disso, ainda é um ótimo filme, e um ótimo programa, que merece platéia.
Assista. Vale demais a pena.

"Você já esteve nas seções da cauda? Você faz alguma ideia do que aconteceu lá? Quando subimos a bordo? Foi o caos. É, nós não congelamos até a morte, mas não tivemos tempo de ficar gratos. Os soldados de Wilford chegaram e tomaram tudo. Mil pessoas dentro de uma caixa de ferro. Sem comida, sem água... Depois de um mês nós comemos os fracos... Você sabe o que eu odeio em mim? Eu sei o sabor da carne humana. E sei que bebês têm sabor melhor..."

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Tanto Quanto


A Marilene, trinta e poucos, loira, bonita, bem maquiada e bem vestida, sentada na mesa da praça de alimentação do shopping diante dos restos de um Mclanche Feliz mexia o pé num ritmo frenético que, acompanhado do tec-tec que o sapato fazia ao bater em seu calcanhar, era testemunho irretocável de sua impaciência.
Do outro lado da mesa o Maurício, trinta e tantos, moreno, aparência mediana, vestindo camiseta e jeans, sorria feito um guri bobo enquanto abria a base do sabre-de-luz de brinquedo e colocava novas pilhas.
A Marilene até fechou um olho antevendo o "prrwow" de quando a lâmina de LEDs fosse acionada.
O prrwow veio... Crianças de mesas próximas olharam pro Maurício com os olhos brilhando, ele continuava sorrindo.
Um menino mais desprendido se aproximou. Perguntou se era a espada do Star Wars, cheio de intimidade. O Maurício confirmou. Perguntou se o moleque queria brandir a arma. Ele inclusive usou essa palavra mesmo. "Brandir".
O guri talvez não tenha entendido o significado do verbo, mas certamente entendeu o gesto que o Maurício fez, desligando o aparelho e oferecendo o cabo do brinquedo.
O moleque apanhou o objeto, o ligou e ficou olhando a lâmina luminosa fazendo "hoooom", maravilhado.
"Maneiro", disse. O Maurício falou "É uma arma mais elegante. Para tempos mais civilizados.".
A Marilene se perguntou de onde ele tirava essas coisas.
O guri devolveu o brinquedo do Maurício, que desligou e ligou um par de vezes. Ficou remexendo o negócio pra lá e pra cá, recebendo, vez que outra, o sorriso cúmplice de algum outro marmanjo que passava. Chegou a bater a espada na mesa e sorriu ao ouvi-la emitir um "Tczhack" alto, como o ruído de um cabo de aço eletrificado estalando.
Virou pra Marilene, sorrindo enquanto se preparava para guardar o aparelho de volta na caixa e disse a mesma coisa que dissera o gurizinho momentos antes.
"Maneiro.".
A Marilene entortou a boca de desgosto.
Falando sério. Já tinha visto o filme, pela segunda vez, diga-se de passagem, entendia a importância que aquilo tudo tinha pro Maurício, e, pelo que ela percebera, pra dezenas de outras pessoas, tinha até uns caras fantasiados na fila do cinema, pelo amor de deus...
Agora essa. O Maurício, dois dias depois da tal da pré-estréia que não podia esperar, fazia ela voltar ao cinema pra ver o mesmo filme de novo, e, tão empolgado, passava numa loja de brinquedos e gastava mil reais numa espadinha de plástico e alumínio que acendia luzinhas.
Que ninguém a entendesse errado.
A Marilene amava o Maurício. Não tivesse certeza de que era ele o homem de sua vida ela nem ligaria onde ele torrava seu suado dinheiro e se ele parecia ter idade mental de onze anos. Mas se ela planejava uma vida ao lado daquela criatura, talvez fosse melhor que ele não fosse tão constantemente subjugado por seus delírios juvenis.
Ela suportava o videogame, os quadrinhos e a literatura infanto-juvenil, suportava as idas apressadas ao cinema a cada novo longa de super-herói, mas brincar de espadinha de laser no shopping era um pouco demais.
Como a bateção com o sapato no calcanhar não surtisse efeito, a Marilene suspirou alto e falou:
-Maurício... Não tá um pouco demais esse amor todo por Star Wars?
O Maurício, sorridente a princípio, percebeu na cara da Marilene o desagrado, e quando falou, estava muito sério:
-Tem poucas coisas nessa vida que eu amo tanto quanto Star Wars.
E ligou o sabre que iluminou seu rosto, ainda sério, de azul.
Aí, apareceu mais um gurizinho que pediu pra pegar a espada, e o rosto do Maurício se abrandou e ele deixou o moleque brincar um pouco dizendo "Aventura? Excitação? Essas coisas buscar um Jedi não deve.".
E a Marilene achou melhor não falar nada. Se o Maurício, de fato, era o homem de sua vida, era melhor ela aprender a conviver com as eventuais excentricidades dele do que aprender que ela não era uma das poucas coisas nessa vida que ele amava tanto quanto Star Wars.
Fingiu um sorriso quando o gurizinho foi embora, mas por dentro amaldiçoou George Lucas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Rapidinhas do Capita


Batman VS. Superman - A Origem da Justiça só estréia em março do ano que vem, mas os bilhetes pro filme já estão em pré-venda na Alemanha, onde a duração do filme parece ter sido revelada.
Segundo o site de venda de ingressos, o longa que reunirá o cruzado encapuzado e o homem do amanhã terá duração de duas horas e trinta e um minutos.
É apenas oito minutos a mais do que os 143 minutos de O Homem de Aço, fato que já levantou as orelhas de fãs desesperados pra saber como vão condensar Batman e seu elenco de apoio, mais Superman e seu elenco de apoio, mais Mulher-Maravilha, Flash, Ciborgue, Aquaman Lex Luthor e Apocalipse em duas horas e meia de projeção.
O longa que dará o pontapé inicial ao universo compartilhado DC, levando ao filme da Liga da Justiça, é dirigido por Zack Snyder com roteiro de Chris Terrio e estréia em 24 de março do ano que vem.

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E Tom Hardy fez beiço e sentiu na carteira os atrasos nas filmagens de O Regresso. O longa de Alejandro Gonzáles Iñarritu estrelado por Leonardo DiCaprio sofreu diversos atrasos em sua produção devido ao clima inclemente das locações.
Com a extensão das filmagens, Tom Hardy foi obrigado a abandonar a produção de Esquadrão Suicida, onde interpretaria o personagem Rick Flagg, que acabou com Joel Kinnaman.
O filme de vingança de Iñarritu estréia nesta sexta-feira nos EUA, no Brasil, apenas em 4 de fevereiro, que é para podermos assistir Até que a Sorte nos Separe 3 e Bem Casados no cinema.
Enquanto isso, Esquadrão Suicida, filme sobre o grupo de supervilões da DC que aceitam missões suicidas em troca do perdão de suas penas, escrito e dirigido por David Ayer, estréia em 4 de agosto.

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E, no lugar mais apropriado da Terra (ou de sua órbita), vai ter uma das sessões mais maneiras de Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força.
Os astronautas Tim Peake, Timothy Kopra e Yuri Malenchenko tinham um projetor e uma tela à bordo de seu foguete, e vão chegar à Estação Espacial Internacional onde uma cópia de O Despertar da Força os estará aguardando.
Ver Star Wars no espaço...
Nada mau.

Revendo Star Wars: Episódio VII


Acho que nenhum fã de loga data que se preze vai assistir O Despertar da Força apenas uma vez, e a maioria vai, da mesma maneira que eu, assistir mais de duas.
O Despertar da Força já destruiu recordes no mundo todo, e, tivesse estreado na China simultaneamente com os demais mercados, já poderia ser a maior abertura da história do cinema. A crítica tem sido, em geral, positiva, e os fãs obviamente gostaram.
Mas a pergunta é:
Star Wars - O Despertar da Força, é tudo o que estão dizendo?
Para responder essa pergunta, a partir daqui haverão muitos e muitos e muitos spoilers do filme, então, permaneça longe dessa zona se ainda não tiver assistido ao longa.

Ainda aqui?
OK.

Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força é excelente. Mas não. Não é perfeito. É difícil fazer um julgamento definitivo de um longa que, muito mais do que os Episódio I e IV é descaradamente um primeiro capítulo.
Se Uma Nova Esperança se segurava tranquilamente como um filme isolado, que poderia ser assistido por um espectador que nunca mais veria Star Wars de novo com a certeza de ter visto um longa com começo, meio e fim, algo que se repetia, em menor escala, com A Ameaça Fantasma, não se pode dizer o mesmo de O Despertar da Força.
O longa de J.J. Abrams é um óbvio primeiro filme de uma trilogia, e todas as suas resoluções são parciais. Enquanto os episódios VIII e IX não forem lançados, fica difícil de decidir, ao menos pra mim, se O Despertar da Força é essa Coca-Cola toda, ou não.
Isso por si só, já depõe levemente contra o novo longa. Muitas coisas ficam no ar, com muitas situações carecendo de maior desenvolvimento e mais explicações.
Talvez o personagem que mais se ressente desse desenvolvimento sonegado seja o vilão Kylo Ren.
O personagem de Adam Driver não é Darth Vader. Ainda que toda a sua figura evoque essa aura, com sua altura, a máscara, a roupa negra, o timbre de voz grave abafado pelo elmo, os poderes impressionantes da Força, Ren não convence apesar do óbvio talento de seu intérprete.
O filho de Han Solo e Leia Organa, Ben Solo (ou Organa-Solo? Ou Skywalker-Solo?), é um personagem dividido, segundo ele próprio. Constantemente açoitado pela sedução da luz.
Será essa a razão para seus poderes, tão impressionantes no início do filme, parando disparos de rifle blaster em pleno ar e invadindo a mente dos rebeldes da Resistência como se fosse um passeio no parque, falharem tão miseravelmente na hora do vamos ver?
Ren não consegue invadir a mente de Rey, que, OK, é dito ser "mais poderosa na Força do que ela mesma sabe", mas que não dispõe, até onde sabemos, de treinamento algum.
Ela não apenas não permite que Kylo Ren leia sua mente, como lê a do vilão, que fica desmoralizado e vai correndo contar tudo pro Supremo Líder Snoke.
Tudo bem, vamos dar um crédito à Rey e à Força.
Falamos mais disso ali adiante...
Então, OK, vamos dar crédito à Rey, e supôr que, enquanto receptáculo do Força, ela seja usada pelo poder, e não o contrário.
É uma explicação.
E quanto a Finn?
O Stormtrooper que trabalhava no setor sanitário da base Starkiller certamente é treinado em combate. Ele sabe atirar e tudo mais...
Mas como é que ele consegue enfrentar Kylo Ren em um duelo de sabres-de-luz?
Quer dizer... Ren foi treinado por Luke, depois por Snoke, era de se esperar que ele soubesse esgrimar.
Rey obviamente tem noções muito boas de luta com armas de haste, já que aparece se defendendo com um bastão em Jakku, o que dá a dica de que aquela é sua arma de escolha, mas Finn deixa bem claro que nem considera o sabre-de-luz uma arma, e ainda assim, dá um suadouro em Ren, que só consegue vencê-lo trapaceando.
Mesmo se levando em conta que Kylo Ren estava ferido por um tiro da violenta balestra de Chewbacca e talvez abalado por ter acabado de assassinar o próprio pai (eu disse que essa era uma violenta zona de spoilers), a impressão que eu tive ao final do longa, é que Snoke ou Luke foram muito reticentes com o treinamento de Ren, e que se ele enfrentasse um Obi-Wan Kenobi no auge da forma, O Despertar da Força seria um filme de 14 segundos.
E Rey?
Rey é outra personagem que carece de explicações, mas, talvez por ter mais tempo de tela do que Ren, e termos mais insights de seus passado, ela se ressinta um pouco menos da falta de informação.
A personagem de Daisy Ridley, uma órfã abandonada em Jakku onde espera pacientemente pelo retorno de sua família, aparece como uma tradicional ingênua heroica, e logo deixa claro que tem poderes da Força ainda maiores do que os de Kylo Ren.
Uma das hipóteses é que a menina talvez seja o receptáculo escolhido pelo lado luminoso para se opôr ao lado sombrio e trazer equilíbrio à Força (pelo que deu pra entender, o placar estava 2 x 1 para o lado malvado, já que eram Snoke e Ren contra o exilado Skywalker), então, talvez a Força enquanto energia viva tenha ampliado os poderes de Rey além da própria compreensão da menina (que tem o insight de usar os truques mentais e tudo mais aparentemente sem jamais ter treinado...) de modo a usá-la para esse fim.
A questão, se for esse o caso, é porque a Rey?
Ao final do longa Luke parece reconhecê-la. Talvez seja apenas o reconhecimento de um dos Jedi mais poderosos de todos os tempos à uma outra usuária da Força.
Mas pode ser mais.
Na literatura, um dos filhos de Han e Leia, Jacen, é seduzido pelo lado sombrio tornando-se Darth Caedus. Ele eventualmente é derrotado por sua irmã gêmea, Jaina.
Talvez o conflito seja repetido nos novos filmes mas, ao invés de uma irmã, com uma prima antagonizando o ex-Jedi.
Nesse caso, Rey seria filha de Luke, escondida em Jakku para manter-se protegida de seu primo malvado e do Supremo Líder Snoke.
Faria sentido (algum sentido, afinal. Eu não sei, se eu fosse me exilar naquele adorável planeta paradisíaco onde Luke está no fim do filme, eu poderia levar minha filha comigo ao invés de abandoná-la à própria sorte num deserto, mas vai saber...).
Curiosamente, Ben, o nome verdadeiro de Kylo Ren, na literatura era o nome do filho de Luke com Mara Jade Skywalker, em homenagem ao velho mestre do Jedi.
Os problemas de O Despertar da Força, porém, não acabam aí.
A Base Starkiller é um depoimento à duas incompetências de gravíssima ordem:
Primeiro, ao setor de inteligência da Resistência.
Como é que o principal (único?) inimigo dos caras constrói uma arma abissal em um planeta e eles não ficam sabendo até um sistema planetário inteiro (que não, não é Coruscant, isso é dito no filme, é o sistema Hosnian) ser obliterado? O que é que a general Leia Organa estava fazendo enquanto o general Hux apagava sóis pra municiar um canhão interplanetário?
Segundo, o setor de engenharia da Primeira Ordem.
Esses caras não aprenderam nada com a Estrela da Morte I e a Estrela da Morte II? Será que eles são incapazes de construir uma arma definitiva que não exploda em milhões de pedaços se for atingida por alguns tiros de X-Wing? Ao menos dessa vez tinha uma grande tampa blindada ao invés de uma janela que podia ser acessada por um torpedo de prótons...
Por falar na base Starkiller, é interessante pensar que ela é dez vezes maior do que a Estrela da Morte, e, ainda assim, durante sua invasão, Han, Chewie e Finn simplesmente esbarram com a Rey lá dentro como se estivesse na feira.
Por falar em Han e na base Starkiller, é lá onde se dá a morte do contrabandista.
O salafrário mais maneiro da galáxia é assassinado pelo próprio filho ao tentar conversar com ele e convencê-lo a retornar ao lado da luz (numa prova cabal de que é sempre fatal ouvir a opinião da esposa a respeito da criação dos filhos.).
É difícil ter uma opinião racional sobre a morte do personagem de Harrison Ford.
Han Solo sempre foi um dos meus personagens preferidos. Vê-lo morrer nas mãos de um vilão claudicante como Kylo Ren parece em O Despertar da Força, de maneira absolutamente idiota, é, pra mim, fã de Han Solo, um desserviço.
Eu até posso entender que a morte de Han serve para completar o trajeto de Ren rumo à escuridão (além de sanar um desejo histórico de Ford, que quer Han morto desde O Império Contra-Ataca, ou tu acha que o final com o personagem congelado em carbonita é por acaso?), mas ainda assim, eu não gostei.
Dá a impressão de um passo dado na direção de ocupar o espaço dos velhos personagens com os novos, o que não é lá muito lisonjeiro. Mas o resultado disso, como tudo mais em O Despertar da Força, nós provavelmente só veremos de fato em Episódio VIII, ou IX.
Até lá, o longa de Abrams está na quarta colocação entre meus favoritos da série. A frente dos episódios I, II e III, mas certamente bem, bem distante, de IV, V e VI.



sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Resenha Cinema: Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força


Pra muita gente é uma espera que se arrasta desde 2005. Pra outros tantos, é uma espera que se arrasta desde 1983. Depende, claro, de o quanto tu gosta de Star Wars, do teu ponto de vista, e de o quanto as "prequências" engendradas por George Lucas a partir de 1999 foram satisfatórias (ou insatisfatórias...).
Desde que a Disney comprou a Lucasfilm e anunciou uma nova trilogia (além de diversos derivados), todos ficaram em compasso de espera, aguardando ansiosamente por dezembro de 2015, quando o filme seria lançado.
Meses de tensão e catarse quando cada nova imagem e cada novo vídeo eram jogadom na internet lançando uma pequena luz sobre a produção que, na melhor tradição dos longas de J.J. Abrams era envolta em mistério, e ontem, pós essa longa espera, finalmente, era hora de voltar ao cinema e assistir Star Wars novamente.
Conforme o tapete de letras que sobre pela tela nos diz logo de cara, a vitória de Luke, Leia e Han ao final de O Retorno de Jedi não significou paz na galáxia.
Das cinzas do antigo Império de Palpatine, surgiu a Primeira Ordem, um grupo militar organizado à imagem e semelhança do Império sob o comando do Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), do general Hux (Domhnall Gleeson) e de Kylo Ren (Adam Driver).
Opondo-se à Primeira Ordem existe a Resistência, uma organização que segue os moldes da Aliança Rebelde, lutando extra-oficialmente em uma guerra que se estende por anos, desde que Luke Skywalker (Mark Hamill) se retirou em um exílio secreto após sua tentativa de treinar uma nova geração de Jedi terminar de forma trágica.
Quando o filme começa, estamos no planeta Jakku, para onde a general Organa (Carrie Fisher) enviou seu melhor piloto, Poe Dameron (Oscar Isaac) em busca do que pode ser a salvação da Resistência:
A localização de Skywalker.
Dameron obtém um mapa de Lor San Tekka (Max Von Sidow), e o esconde em seu dróide BB-8 após um ataque da Primeira Ordem acabar com sua captura e o completo genocídio dos aldeões sob ordens de Ren.
Enquanto Dameron é levado à bordo da nave de Ren para ser interrogado, BB-8 se afasta o máximo que pode do conflito, perdendo-se no interminável deserto do planeta.
Surge Rey (Daisy Ridley).
Uma sucateira que vaga pelo deserto procurando peças que possam ser vendidas a Unkar Plutt (Simon Pegg) em troca de comida.
Rey e BB-8 eventualmente se encontram e o dróide convence a garota a ajudá-lo a chegar ao entreposto Niima, onde Poe Dameron deveria estar.
Mas Poe segue preso em poder de Ren, que extraiu de sua mente a localização do mapa e já iniciou uma busca por BB-8 em Jakku.
O que a Primeira Ordem não sabe é que o stormtrooper FN2187 (John Boyega) está disposto a tudo para desertar. Inclusive ajudar na fuga de Dameron.
Os dois fazem uma arrojada escapada em um Tie-Fighter, mas são avariados e caem em Jakku, onde FN2187, rebatizado Finn por Dameron, perde seu companheiro após o pouso forçado.
Após vagar horas pelo deserto, ele chega ao entreposto Niima, bem a tempo de encontrar Rey e BB-8 e se envolver em uma nova fuga quando os stormtroopers reconhecem o dróide a quem Rey e Finn acompanham.
Incapazes de lutar contra as forças da Primeira Ordem, o trio precisa fugir, e acaba conseguindo isso ao embarcar numa velha espaçonave. Casualmente, a lata velha mais rápida da galáxia.
A movimentação da Millenium Falcon eventualmente atrai a atenção de seu antigo dono, Han Solo (Harrison Ford)e seu co-piloto Chewbacca (Peter Mayhew)Juntos, os quatro precisarão trabalhar juntos para levar BB-8 até a resistência, uma tarefa que se torna mais e mais complicada à medida em que a Primeira Ordem está disposta a tudo para impedir este reencontro, inclusive usar de maneira indiscriminada sua nova arma definitiva:
A base Starkiller.
Um poderoso engenho construído ao redor de um planeta vivo que apaga sóis para destruir sistemas planetários inteiros.
É muito bacana.
O Despertar da Força tem tudo o que nos habituamos a ver em Star Wars. O admirável universo habitado por criaturas bizarras, heróis ingênuos e vilões desprezíveis. A sensação de "futuro desgastado" dos filmes originais está lá, tão palpável quanto nos anos setenta/oitenta, graças à decisão de J.J. Abrams de apostar em efeitos práticos, fantasias, máscaras e cenários, ao invés de computação gráfica em cada frame conforme ocorreu nos episódios I, II e III.
Claro, há muita computação gráfica, as batalhas aéreas, por exemplo, são todas geradas por computador, e são excelentes. Há apenas uma luta no espaço, as demais são todas batalhas travadas dentro da atmosfera de planetas, a batalha em Takodana é espetacular, e ali vemos toda a perícia de Poe Dameron, uma mistura de Han Solo, Luke Skywalker e Wedge Antilles no tocante a pilotagem.
Toda a pirotecnia do CGI porém, não tira a alma do filme. O Despertar da Força é escrito por Michael Andt e o veterano da série Lawrence Kasdan (o mesmo dos episódios V e VI), que conseguem equilibrar espetáculo e personagens vivos.
Rey e Finn, personagens centrais do filme, ganham personalidades arquetípicas conforme pede a cartilha de Star Wars, mas têm camadas que permitem que eles sejam mais do que meros arquétipos.
O diretor também acerta a mão ao emular de maneira bastante óbvia a atmosfera e a trama de Uma Nova Esperança em tudo, desde a mensagem secreta escondida no dróide em um planeta desértico que acaba nas mãos de uma pessoa jovem ingênua e corajosa, passando pelo personagem mais velho e experiente que guia o novo grupo de heróis, e o temível vilão que tem uma história familiar intrincada, passa por uma crise de identidade e serve a um mestre que é verdadeiramente podre até a raiz da alma.
Mais do que isso, há referências visuais óbvias à batalha de Yavin, à caverna de Dagobah, à Hoth, Tatooine e Endor. Maz Kanata (Lupita Nyongo) ecoa como Yoda em sua sabedoria milenar, e o nazismo visual do Império alcança seu ápice quando, antes de usar a estação Starkiller, o general Hux se dirige às tropas da Primeira Ordem em formações que emulam descaradamente os discursos inflamados de Hitler, com direito a saudações de mão e flâmulas escarlates.
Em meio aos novos personagens, surgem os antigos, Han, Leia, Chewie, R2-D2 (Kenny Baker), C-3PO (Anthony Daniels), almirante Ackbar (Tim Rose/Erik Bauersfeld), para fazer o obrigatório fan-service, que inclui referências à trilogia original (Que a Força esteja com você, Eu tenho um mau pressentimento sobre isso, ou a volta de Kessel em menos de doze (e não quatorze) parsec.).
Equilibrando-se bem entre todos os elementos obrigatórios de Star Wars, de sua galáxia pequena o suficiente para todo mundo se cruzar por acaso como se morasse em André da Rocha, a comédia, o melodrama, a tensão, as risadas e lágrimas, a aventura e o misticismo, Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força é uma excelente volta da franquia à sua melhor forma.
Não é perfeito. Não é melhor do que os filmes originais. Mas respira. Vive. E diverte.
Que venha o episódio VIII.

"-É verdade. Tudo. O lado sombrio. Os Jedi. É tudo real."



quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Rapidinhas do Capita


Feliz aniversário, torcida Colorada. Hoje é 17 de dezembro, e há exatos nove anos, a essa hora, já havíamos pintado o mundo de vermelho após derrotar o Barcelona por 1 x 0 com gol de Adriano Gabiru.
O Internacional de Clemer, Ceará, Índio Fabiano Eller e Rubens Cardoso; Edinho, Wellington Monteiro, Fernandão, Alex; Alexandre Pato e Yarlei, de Marcelo Boeck, Renan, Elder Granja, de Vargas, Luís Adriano, Gabirú, Perdigão, Abel Braga, Paulo Paixão e Fernando Carvalho que foi ao Japão e voltou coroado como o maior do mundo em um ano mágico, que mostrou a todo o planeta o que a torcida colorada já sabia:
Papai é o maior.

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Uma ordem judicial tinha bloqueado o uso do aplicativo trocador de mensagens whatsapp por 48 horas a partir da meia-noite de ontem.
Eu, particularmente, comemorei.
Ultimamente é impossível ir ao cinema sem um retardado do teu lado ou na tua frente passar o filme inteiro trocando mensagens pelo whatsapp.
Embora ainda fosse ser necessário suportar os debiloides que falam durante o filme, uma parcela dos retardados seria suprimida por dois dias de paz parcial nas salas de cinema, e, com sorte, algumas dessas pessoas cometeriam suicídio por não poder trocar mensagens instantâneas "de grátis".
Infelizmente uma segunda decisão judicial derrubou a liminar de ontem, e a paz acabou.
Comemorem imbecis, vocês recuperaram o direito de viver com suas fuças enfiadas dentro do celular, o que, claro, têm todo o direito de fazer, mas não deveriam fazer no cinema.

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Assisti ontem, totalmente por acaso, ao trailer de Até que a Sorte nos Separe 3, com o ex-obeso, agora apenas gordo, Leandro Hassum.
A prévia, na verdade um spot de TV pescado na TV a cabo, me fez desejar ardentemente que todos os cineastas brasileiros seguissem o exemplo de Guilherme Fontes e escondessem seus filmes por 20 anos.

Resenha Filme: Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith


Era hora de fechar o círculo.
Em 1977 nós havíamos conhecido uma galáxia bem, bem distante, onde um pérfido império dominava com mão de ferro sendo desafiado por um grupo de rebeldes que, não fosse por uma princesa, um contrabandista e um jovem fazendeiro jamais teriam obtido a vitória sobre uma força quase infinita comandada por um lorde negro de grande poder.
Agora, era hora de ver como um menino de Tatooine que crescera para se tornar um jovem e apaixonado Jedi, despencara até as profundezas do lado sombrio da Força, tornando-se Darth Vader.
A Vingança dos Sith abria com uma batalha espacial. De um lado, a frota da república, reforçada pelo mestre Jedi Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e seu amigo o cavaleiro Jedi Anakin Skywalker (Hayden Christensen), cuja missão era invadir o cruzador do líder separatista Conde Dooku (Christopher Lee), e resgatar o chanceler Palpatine (Ian McDiarmid), sequestrado em Coruscant em uma audaciosa ação do general Grievous.
As Guerras Clônicas já se estendem há três anos, e essa operação pode começar a sedimentar o fim da guerra.
Os Jedi conseguem, sem grandes problemas, acessar a torre de observação da espaçonave, e confrontar os vilões. Obi-Wan é nocauteado por Tyranus, mas Anakin consegue derrotar o sith em um duelo mano a mano, e sob os olhos atentos de Palpatine, o mata a sangue frio ante o encorajamento do Chanceler.
Grievous porém, escapa, prolongando a guerra, enquanto Anakin, Obi-Wan e Palpatine são obrigados a fazer um pouso de emergência com o cruzador arruinado em Coruscant.
Ao se reunir com Padmé, com quem se casou em segredo, Anakin descobre que ela está grávida. Inicialmente feliz com a notícia, o jovem Jedi logo começa a ter pesadelos premonitórios onde vê sua amada morrendo ao dar à luz.
Se o flerte com o lado sombrio já não era suficiente, então, de nada ajuda quando Palpatine indica Anakin para um lugar no Conselho Jedi, causando indignação entre os mestres, que oferecem o assento a Ani, mas não o tornam mestre.
Ao invés disso, Mace Windu (Samuel L. Jackson) pede a Obi-Wan que Anakin observe Palpatine, e seus recorrentes pedidos por mais poderes emergenciais.
Anakin, acossado por suas visões recorrentes da morte de Padmé, desgostoso com o Conselho Jedi que não confia plenamente nele, e embriagado pela adulação insidiosa de Palpatine, não tarde em revelar ao chanceler o pedido do Conselho.
Enquanto Obi-Wan é designado para viajar à Utapau à procura de Grievous, e Yoda parte para Kashyyk para dar suporta ao fronte wookie, Anakin é surpreendido pela notícia de que Palpatine é, na verdade, o lorde negro de Sith, Darth Sidious.
Se inicialmente Anakin tenta fazer o que é certo, reportando sua descoberta a Mace Windu, o jovem Jedi logo sucumbe ao medo, quando Palpatine, após ser derrotado por Windu em um combate que custa a vida de três outros mestres Jedi, garante ao rapaz que apenas ele pode ajudar Skywalker a salvar Padmé.
Anakin, em desespero, ataca Windu à traição, deixando o mestre Jedi à mercê de Sidious, que o mata, e acolhe seu novo discípulo, a quem nomeia Darth Vader.
Enquanto isso, em Utapau, Obi-Wan confronta o general Grievous, e derrota o ciborgue em combate singular (Como Obi-Wan vence todas as brigas que luta sozinho, só posso supôr que Anakin atrapalha ele...), apenas para, em seguida, ser atacado pelos clones ao lado que quem lutava.
Era a Ordem 66, o expurgo Jedi. Uma sugestão aplicada aos soldados clones, e comandada por Palpatine para que, à sua ordem, eles exterminassem os Jedi.
Um a um, os guerreiros que por mais de mil gerações defenderam a paz e ajustiça na galáxia tombaram ante a traição de Sidious.
Mas alguns escaparam, entre eles, Obi-Wan e Yoda.
Enquanto Palpatine enviava Anakin para pôr fim à guerra matando os líderes separatistas no planeta vulcânico Mustafar, Obi-Wan e Yoda descobriam a profundidade real da traição de Anakin ao ver as gravações do ex-Jedi exterminando as crianças aprendizes no templo da Ordem.
Com a ajuda do senador Bail Organa de Alderaan (Jimmy Smits), os dois mestres Jedi formulam um plano. Enquanto Obi-Wan irá deter Anakin, Yoda irá até o Senado para confrontar Sidious.
Enquanto Palpatine declara o golpe Jedi contra a República e a fundação do novíssimo Império galáctico, Obi-Wan procura Padmé perguntando sobre o paradeiro de Anakin, e conta a ela sobre o declínio do Jedi ao lado sombrio.
Em desespero, Padmé parte para encontrar Anakin sem saber que Obi-Wan está oculto em sua nave. Ao chegar lá, ela confronta o pai de seus filhos sobre sua traição, ao ver Obi-Wan, Anakin estrangula Padmé, que cai inconsciente.
Enquanto Anakin e Obi-Wan começam seu duelo definitivo em Mustafar, Yoda e Palpatine lutam no senado em Coruscant.
Enquanto a luta entre o mestre Jedi e o lorde Sith termina sem um vencedor, e com Palpatine fugindo, Obi-Wan desmembra Anakin e o deixa para perecer queimado em um rio de lava após derrotá-lo.
Mas Anakin sobrevive. Encontrado a tempo por Palpatine, e reconstruído com partes cibernéticas e um traje com suporte vital, ele finalmente se torna Darth Vader. E ao questionar Palpatine a respeito de Padmé, e descobrir que, em sua raiva, a teria matado, ele finalmente mergulha na escuridão do lado sombrio.
Enquanto isso, Yoda e Obi-Wan conseguem fazer o parto dos bebês gêmeos de Padmé antes que ela morra. Eles decidem separar as crianças para salvaguardá-las. Enquanto a menina, Leia, é adotada por Bail Organa, Obi-Wan leva o menino, Luke, a Tatooine, onde ele será criado por seus tios emprestados, Owen e Beru, sob a vigília do mestre Jedi, até que a oportunidade para voltar a desafiar o Império se apresente outra vez.
Como nos dois prequels anteriores, A Vingança dos Sith escorrega em diálogos mal-escritos e atuações preguiçosas e/ou ruins. George Lucas se ressentiu nos três filmes da falta de Lawrence Kazdan, e deixou bem claro que, se é um gênio na hora de montar e povoar um universo e edificar efeitos visuais, era um completo imbecil na hora de escrever duas linhas de diálogo quem fazê-las soarem como uma palestra ou um pastiche.
Por sorte, a Vingança dos Sith tem tantas sequências de ação e traça tantos paralelos com os filmes originais, em especial Uma Nova Esperança e O Retorno de Jedi, que fica quase impossível não se divertir com o filme e seus intermináveis duelos de sabre de luz.
Ainda que não seja comparável aos melhores filmes da franquia, em especial O Império Contra-Ataca, A Vingança dos Sith consegue superar seus problemas de roteiro e se perfilar a Uma Nova Esperança em termos de qualidade, e faz com que assistir aos prequels, não seja uma completa perda de tempo.

"-Você era o escolhido! Você deveria trazer equilíbrio à Força. Não jogá-la nas trevas!"

Resenha Filme: Star Wars: Episódio II - O Ataque dos Clones


Após o balde de água fria que fora A Ameaça Fantasma, começou a surgir a expectativa do que poderia sair do Episódio II.
No início de Uma Nova Esperança, Leia, em sua mensagem a Obi-Wan, falava a respeito das Guerras Clônicas, onde o velho Jedi teria servido ao pai da princesa. Assim, todos esperavam que o filme fosse abarcar esse conflito legendário.
Não foi bem o que aconteceu.
Star Wars: Episódio II - O Ataque dos Clones se passava 10 anos após os eventos de A Ameaça Fantasma. Obi-Wan (novamente Ewan Mcgregor) era um mestre Jedi, e Anakin (Hayden Christensen) era seu aprendiz padawan, a República Galáctica encontrava-se à beira da guerra civil com inúmeros sistemas planetários prontos para deixar a República em um movimento separatista.
Em meio à tensão resultante do ganho de força do movimento separatista, Padmé Amidala (Natalie Portman), agora uma senadora de Naboo, sofre um atentado do qual escapa por um triz. Com isso, Anakin é designado para protegê-la, enquanto Obi-Wan precisa partir em uma investigação própria para descobrir a origem das tentativas de matar a senadora.
Enquanto Anakin e Padmé viajam à Naboo para ocultar a senadora, Obi-Wan viaja até o planeta Kamino, lar dos maiores clonadores da galáxia, onde descobre que o mestre Jedi Sifo-Dyas encomendou, anos antes, um exército de clones para atender à república.
A base para o exército clone é o caçador de recompensas mandaloriano Jango Fett, casualmente o responsável por uma das mais recentes tentativas de matar Padmé.
Após uma breve luta com Obi-Wan, Jango foge, mas é perseguido pelo mestre Jedi até o planeta Geonosis.
Ao mesmo tempo, a proximidade constante reacende o amor juvenil de Anakin por Padmé. Não bastasse isso, o jovem e poderoso padawan é assombrado por pesadelos precognitivos que revelam sua mãe, Shmi, em grande perigo.
Incapaz de resistir aos sonhos premonitórios e a seu desejo por Padmé, Anakin parte, acompanhado da senadora, para Tatooine, onde pretende salvar sua mãe de qualquer que seja o doloroso destino ao qual ela está entregue.
Em Geonosis é revelado a Obi-Wan que o líder separatista é o Jedi renegado conde Dooku, ou, Darth Tyranus (Christopher Lee). Dooku trama ao lado do vice-rei da federação de comércio Nute Gunray para criar um novo e poderosíssimo exército dróide para colocar a República de joelhos.
Antevendo sua captura, Obi-Wan transmite as informações a Anakin, para que ele as repasse ao Conselho Jedi em Coruscant.
Anakin, porém, está em Tatooine, onde descobre que sua mãe foi libertada, e casou-se com um fazendeiro chamado Clieg Lars, com quem se casou até ser sequestrada pelos caçadores Tusken.
Anakin não demora a encontrar sua mãe sob o jugo do Povo da Areia, e a vê morrer em seus braços, enfraquecida após padecer nas mãos dos selvagens. Enfurecido, Anakin mata todos os membros da tribo até a última criança.
Após receber a mensagem de Obi-Wan e retransmiti-la ao conselho, Anakin e Padmé resolvem ir a Geonosis eles mesmos, para resgatar o mestre Jedi.
O plano falha, e logo os três estão amarrados a postes em uma arena onde terão de enfrentar bizarras criaturas para deleite dos separatistas e da população de alienígenas insetóides do planeta.
Isso leva a uma violenta batalha campal entre o infinito exército separatista e a ordem Jedi, uma batalha que culmina no duelo entre Obi-Wan e Anakin contra Tyranus, e escala para Tyranus contra Yoda.
Ao final do filme, os Jedi só escapam com vida da batalha graças à intervenção dos clones, que chegam no último instante para dar suporte aos mantenedores da paz e justiça, e dão início às Guerras Clônicas.
A ação de Episódio II era, sem sombra de dúvida, mais afiada do que a do filme anterior. O filme era repleto de batalhas e confrontos por todos os lados, mas isso não mascarou novos problemas com o roteiro.
O longa novamente dirigido e escrito por George Lucas se ressentia de diálogos melhor construídos. Os personagens cuspiam suas falas, invariavelmente expositivas, como se o longa fosse um manual de conspiração. A exceção cabia a Anakin e Padmé, não pelo talento dramático de Hayden Christensen (ele era péssimo.) e Natalie Portman, mas sim porque os diálogos dos dois consistiam apenas em vomitar todos os clichês possíveis e imagináveis para um romance proibido.
A trilha do casal, Across the Stars, composta por John Williams, porém, era linda, e dizia muito mais sobre amor do que as palavras de Lucas poderiam fazer.
Talvez parte do problema tenha sido a forma de Lucas para dirigir o filme. Quase inteiramente gravado sobre telas verdes, em muitas ocasiões havia apenas um ator sendo filmado num quarto azul, onde depois era inserido um cenário, iluminação e até coadjuvantes gerados inteiramente por computador.
A despeito de escantear quase por completo Jar Jar Binks, e entregar o papel de alívio cômico de volta à dobradinha C3-PO e R2-D2, alguns cenários inspirados, como o planeta dos clonadores Kamino, o filme ficou por aí. Não havia nem sequer uma sequência de esgrima de luz memorável como o clímax do filme anterior, e Star Wars: Episódio II - O Ataque dos Clones se mostrou um projeto que faria mais uma fortuna, claro, mas que despertou sentimentos divididos na audiência e na crítica, que em geral, o considerou apenas mediano.
Um espetáculo cheio de som e fúria, significando nada.

"-Iniciada, a Guerra dos Clones está."