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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Sinergia


Engraçado como o atual pensamento da Marvel/Sony no que tange ao Homem-Aranha nos cinemas se aproxima do desejo dos fãs (Ao menos de alguns fãs, no mínimo de um, no caso, eu).
Quando da saída de Sam Raimi, Tobey Maguire e companhia limitada da série cinematográfica do Homem-Aranha em meados de 2010, nos fóruns de discussão do extinto Orkut, eu sempre defendi a ideia de um Homem-Aranha adolescente, interpretado por um ator adolescente. Um guri de quinze anos que assinasse um contrato para diversos filmes (à época eu sempre citava o caso do Harry Potter Daniel Redcliff), de modo que parte da audiência pudesse crescer com o personagem enquanto outra parte pudesse acompanhar seu amadurecimento para se tornar o maior super-herói da Marvel.
Quando escolheram Andrew Garfield, eu imediatamente chiei por causa da sua idade (27 anos, à época), mas acabei me rendendo à interpretação excepcional do ator.
Outra coisa que eu sempre defendi, e nesse caso eu era uma voz algo dissonante, é que o uniforme do Homem-Aranha se parecesse com algo que um guri pudesse fazer em casa. Que pudéssemos vê-lo comprando colante, furando os dedos com a agulha, imaginando como fazer as lentes da roupa funcionarem, esse tipo de coisa.
Bem, após o conluio Marvel/Sony estabelecer que o Aranha deles deveria ser um adolescente e contratar Tom Holland, de 19 anos para interpretar um Peter Parker de 15 ou 16 anos, li que, segundo o Latino Review, fontes da produção informaram que o uniforme do Homem-Aranha em Guerra Civil deverá ser uma versão bem caseira do traje, com coisas como óculos de aviação/natação ao invés de lentes na máscara, e luvas sem dedos nas mãos e pés, além de uma combinação de vermelho com preto ao invés de azul (que, diga-se de passagem, eram as cores originais imaginadas para o traje. O azul era efeito de iluminação no negro, mas acabou consagrado).
Em que se pese que O Espetacular Homem-Aranha já tinha mostrado Peter fazendo seu traje de spandex, cortando lentes de óculos e usando tênis como fôrma para suas botas, a ideia ainda é legal. Mas será que o uniforme precisa ser tão caseiro?
Quer dizer, qualquer nerd consegue fazer um traje de Homem-Aranha basicamente igual o dos quadrinhos em casa hoje em dia. Com lentes, luvas e tudo mais.
A menos que a ideia seja fazer o Aranha parecer bem amador frente aos trajes dos outros heróis de Guerra Civil, não há razão para que o traje seja tão caseiro assim.
Ah, sabem outra coisa que eu gostaria de ver em um filme do Aranha?
Já fazei dessa em redes sociais e talvez, por aqui, também.
O fluido de teia.
Todo mundo justifica as malditas teias orgânicas com o argumento de quê um moleque do ensino médio não conseguiria desenvolver esse espetacular adesivo que nem a 3M consegue fazer...
Esse argumento ignora que Peter é um dos gênios da Marvel, OK, mas, pra situar as coisas um pouco mais pé no chão (e pé-rapado), e se o adesivo fosse algo em que Peter estivesse trabalhando há um bom tempo, como um projeto para conseguir uma bolsa de estudos na U.E.S., mas que não estivesse funcionando porque, apesar de todos os seus esforços, a maldita cola se dissolvesse depois de uma hora?
Então, a teia artificial do cabeça-de-teia deixa de ser uma ideia "genial demais para um adolescente" e passa a ser mais uma manifestação do azar do Parker, já que é uma brilhante criação científica sem grande aplicação prática no mundo real devido à sua baixa duração.
Mas enfim... Apenas uma ideia. Vai que alguém da Marvel está lendo, ou se manifesta aquele evento de sinergia em que várias pessoas têm a mesma ideia quase que simultaneamente no mundo... Mas se o Kevin Fiege quiser deixar uns trocados no meu bolso eu não fico triste.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

O Ultimato


A Mariana chegou no restaurante e avistou o Lourenço sentado na mesa "deles". Namoravam a pouco mais de quatro meses. O primeiro encontro dos dois havia sido naquele restaurante, e haviam sentado naquela mesa. O Loureço achou que deu sorte. Não entendia como uma moça bonita como a Mariana poderia ter dado trela pra ele. Deu um jeito de, ao menos uma vez a cada duas semanas, ir ao restaurante e sentar naquela mesma mesa. O Lourenço curtia essas coisas, de ser freguês. Ter familiaridade com os donos dos restaurantes, de poder chegar a um lugar, chamar o garçom pelo nome, e pedir "o de sempre".
A Mariana não curtia tanto quanto ele, mas não se importava, embora, de vez em quando, ao perguntar o que fariam à noite e o Lourenço responder "Vamos no nosso restaurante?", ele tivesse a nítida impressão de que ela estava revirando os olhos ao dizer "OK.".
Aquele dia não fora assim.
O Lourenço não falara pessoalmente com a Mariana, fora por telefone. Ela quem ligou. O Lourenço era cuca-fresca. Tranquilo. Conseguia perfeitamente passar dois ou três dias sem falar com a Mariana sem pensar que a relação dos dois chegara a um fim trágico.
Ela, não.
A Mariana parecia ter uma necessidade quase patológica de falar com o Lourenço todos os dias. Passava um pedaço da tarde enviando mensagens de texto e WhatsApp pra ele, ligava pra ele na hora do almoço, quando saía do trabalho e ao chegar em casa. De vez em quando ficava andando mensagens até dormir.
O Lourenço não sem importava. Respondia. Conversava, ás vezes estava distraído com alguma coisa em casa, vendo TV, jogando videogame ou lendo, e respondia distraidamente e economicamente à conversa da Mari, que ficava rabugenta, e dizia que ele estava monossilábico e era melhor desligar.
De qualquer forma, o Lourenço, como já foi dito, era cuca-fresca. Bicho da paz, não se incomodava, não ficava bravo, ofendido e nem se sentindo sufocado.
Na verdade, ele tinha bastante certeza de que aquela vontade de ser presente na vida dele, era uma forma de a Mari demonstrar seu apreço. E como apreço não é coisa que se encontre em qualquer esquina, ele valorizava isso. Então, quando a Mari perguntou o que eles fariam naquela noite, ele sugeriu o restaurante "deles" e a ouvir bufar um aborrecido "tá", do outro lado da linha, ele não ficou chateado. Apenas riu e perguntou a que horas.
A Mari tinha um compromisso com uma amiga. Era perto do restaurante, e ele sugeriu que se encontrassem lá.
E, na hora combinada, com poucos minutos de atraso, ele a viu adentrar o restaurante.
Sorriu e acenou pra ela, fez sinal pra garçonete que trouxe o guaraná Antárctica Zero que ela tomava sempre, e levantou-se para beijá-la antes de ela sentar.
Ela correspondeu a tudo de maneira séria e ligeira. Como se estivesse absorta em pensamentos. Àquela altura, ele já a conhecia bem o suficiente para saber quando ela estava ansiosa com alguma coisa, e esperava que ela já o conhecesse bem o suficiente para saber que ele não perguntaria mais de uma vez se havia alguma coisa errada.
Sorriu casual e perguntou:
-E aí? udo bem?
Ela, ajeitando os pertences dentro da bola sem olhar pra ele, um gesto que ele achava muito, muito feio, respondeu:
-Tudo.
-Como foi o passeio com a Jurema? - Ele quis saber, amigável.
-Não foi passeio - Ela respondeu, ainda olhando pra dentro da bolsa. -Eu só passei na casa dela. Tava precisando conversar.
"E o que é que nós vamos fazer enquanto a comida não chega?" ele quis perguntar, mas não externou.
-Hum... - Respondeu num suspiro enquanto bebia um gole da sua Fanta laranja. Ela continuou por mais algum tempo remexendo em seus pertences, de modo que ele apanhou o telefone do bolso, quase ao acaso, e ativou o ícone dos e-mails. Ela parou o que estava fazendo e olhou pra ele:
-Recebendo mensagem?
-Não. Ele respondeu casual. Só olhando os e-mails.
-Ah. - Ela disse, pousando as mãos sobre a mesa dando a entender que queria conversar e ele não largava o telefone.
Ele guardou o aparelho de volta no bolso do jeans.
-Então...? - Perguntou. -Como foi teu dia?
Ela chegou a abrir a boca pra falar, mas parou. Olhou em volta, então juntou as mãos sobre a mesa e disse ao Lourenço:
-Olha... Eu pensei bastante sobre uma coisa... E hoje, falando com a Jurema, eu acho que tenho razão. Ao menos ela me deu razão. Olha, Lourenço, a gente tá junto já há um tempo... Eu te conheço já tem uma cara, a gente já sabe da vida um do outro, se conhece... E eu tô num momento da minha vida em que não posso ficar marcando passo. Não posso ficar perdendo tempo. Investindo numa relação que não vai à parte alguma. Eu já tô com trinta e cinco anos, e eu sei o que eu quero da minha vida. Então... Olha... Se tu quiser fazer isso comigo, seguir esse caminho junto comigo, eu tô aqui. Afinzona. Super preparada. Mas se não... Se tu não tem certeza, se tu não sabe... Eu não sei se eu tenho tempo pra te esperar decidir. Eu gosto demais de ti. Eu te amo. E quero que isso continue. Mas... Olha... Isso pode ser definido de apenas uma forma: Ou a gente dá um passo adiante, se ajeita, vê um futuro juntos e se casa, ou então a gente se separa e cada um segue com a sua vida.
O Lourenço não esperava por aquela.
Claro, ele sabia que sete em dez mulheres quer se casar antes dos quarenta, e que das outras três, duas estão mentindo pra si mesmas ou pra quem perguntou. Mas como a Mari ainda não tinha nem os trinta e cinco que acabara de mencionar, mas sim trinta e quatro, ele supôs que tivessem ao menos mais uns cinco anos pra se decidir.
Tudo bem, ele também não estava ficando nem um pouco mais novo, é verdade, mas também não se preocupava tanto com isso. Era partidário de que a vida começava aos quarenta. Ou ao menos a vida adulta.
Ele não gostava de mudanças abruptas, não gostava de se sentir pressionado, era dado a ficar na defensiva quando recebia ultimatos e quando estava na defensiva, tinha tendência a gir de maneira impulsiva e agressiva.
Ainda assim, era a Mariana. E ele gostava dela.
O Lourenço pensou muito, em quanto se importava com a Mari. Em quanto apreciava a companhia dela. Pensou no sexo que faziam, na cumplicidade que compartilhavam, nas coisas que gostava dela, nos pequenos hábitos irritantes que ela cultivava e com os quais ele aprendera a conviver de maneira amigável.
Pensou nas risadas que compartilharam, nos passeios de mãos dadas, nos momentos cálidos em que a teve ao seu lado.
E se decidiu.
Olhou pra ela de maneira cândida e perguntou:
-Eu preciso te responder agora ou pode ser depois da janta?
Ela, muito séria, respondeu:
-Eu prefiro que seja agora.
-Então nos separamos e seguimos cada um o seu rumo. - Ele respondeu, erguendo o braço pro André, garçom que sempre os atendia, e cancelando o combinado de salmão.
Por várias semanas o "É sério?" da Mari ecoou em sua mente, e ele se perguntou se não tomara a decisão errada. Mas estava jogando Batman Arkham Knight, e as sucessivas reviravoltas do jogo logo esfriaram essa memória em sua mente.
Claro...
Com o tempo aquele sentimento regressaria. Talvez mais tênue, mas de maneira indelével gravado à fogo em seu coração.
Mas enfim... Uncharted 4 tava quase saindo.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Função Prática


Estavam os dois sentados à mesma mesa, do mesmo bar, om as mesmas bolachas de chope empilhadas entre um e outro.
Diante do Everaldo assomava um copo tulipa meio bebido, e ao menos três pilhas de bolachas de papelão com tamanhos variados, como se ele fosse um jogador de pôquer que ia muito bem naquela noite.
Diante do Paulo Roberto, uma garrafa de Coca-Cola 600 Ml., um cesto de aipim frito pela metade, e o telefone celular.
Ali pelas tantas, o Everaldo quebrou o silêncio:
-Estagnados, Pê Erre. Estamos estagnados...
O Paulo Roberto, que olhava o noticiário de longe, lendo as legendas do closed caption, encarou o amigo de esguelha e concordou:
-Pois é... Mas vamos tentar melhorar. Tô começando a pensar em voltar a estudar. Tentar um concurso...
-Não, caralho... Não nós tu e eu - Corrigiu Everaldo. -Nós a humanidade, Pê Erre. Estagnados. Paramos de evoluir, manja? A humanidade desistiu, Pê Erre. É uma porra de um empreendimento fodido. Fadado ao fracasso. Chegamos até o ápice, manja? A porra do ponto culminante. E agora, agora fodeu. Agora é só porra da ladeira abaixo, e azar é do goleiro, manja? Acabou, Pê Erre. Foi pro saco. Já era.
-Hmmm... Mas se chegamos ao ponto culminante... Então não deveríamos estar perfeitos? Quer dizer... Paramos de evoluir porque não tem mais o que melhorar? - Conjecturou Paulo Roberto brevemente, para então erguer as mãos e dizer: -Em teoria, claro.
O Everaldo bufou:
-Não, né, Pê Erre? Não chegamos à porra da perfeição. Só chegamos onde dava pra chegar, caralho. O melhor que deu pra fazer. É que em tu chegar em casa varado de fome e só ter duas salsichas na geladeira e um miojo no armário. Aí tu prepara aquela engronha e quando tu come esperando o pior, até que a merda não ficou ruim. E tu come feliz da vida. A humanidade é isso. Um miojo com salsicha bem feitinho. Mas pra chegar a um churrasco, a um estrogonofe, a um filé... Vai uma distância. Uma puta de uma distância.
O Paulo Roberto bicou seu refrigerante de cola, pensativo.
-Bueno... Então, se foi o melhor que dava pra fazer, por que o lamento? É o máximo, né? Tem que se contentar. Ficar feliz de ter dado pra chegar até aqui...
-Tomar no cu, Pê Erre. Quê ficar feliz? Quê ficar feliz? Ficar feliz porque tem mais de uma porra de uma célula? Ficar feliz porque deu pra sair da água? Porque deu pra desenvolver perna? Pra puta que pariu, Pê Erre. Pra puta que pariu. - Exasperou-se Everaldo. E continuou:
-Essa porra chegou no ponto máximo, e continua devendo. Continua devendo. Estamos aí, cheios de defeitos, cheios de coisa inútil... Cabelo na bunda, Pê Erre... Pra quê que serve cabelo na bunda? Qual a serventia dessa porra exceto dificultar na hora de limpar o botão depois de dar uma cagada? Cabelo no saco. Pelo na porra do corpo inteiro. Pra que é que serve? A gente tem uns verões filhos da puta de tão quentes. Um calor do caralho. Pra quê ter perna, braço, peito e cu cabeludo nesses calorões da porra? Ah, tu vai me dizer "mas no inverno tem uns dias bem frios". Verdade. Tem meia dúzia de dia frio no inverno. E me responde... Essas porras desses cabelos te aquecem no inverno? Tem algum daqueles dias filhos de um cão, com temperatura de cinco graus, úmido, nublado, em que tu sai de casa e pensa "Ah, coisa boa que eu tenho pelo nas canelas, nos antebraços, no saco e na bunda, senão eu ia estar com frio..."? Claro que não, ô caralho. Claro que não. Essa merda toda não é mais útil que uma porra de cauda residual. É atavismo. Ter cabelo no corpo é atavismo pra caralho, e todo mundo tem, que se não tivesse a indústria da depilação feminina não faturava milhões com Vit, Nudity e cera quente e o caralho a quatro pra mulherada esconder os bigodes, as pernas, os sovacos peludos e a porra toda. Essa merda prova que a gente parou de evoluir e não foi porque chegamos ao melhor que dava pra chegar. Foi por preguiça, mesmo.
O Paulo Roberto abanou a mão, como que afastando a declaração do amigo pra longe da mesa:
-Mas existem pencas de teorias de porquê nós temos pelos no corpo, Everaldo... Desde proteção contra a fricção, pra evitar assaduras e alergias no sovaco e na virilha, até depósitos de feromônios pra atrair o sexo oposto...
-Pra puta que te pariu, Pê Erre... Pra puta que te pariu... Eu tô te explicando por a mais bê que essa merda de ter cabelo no corpo é prova de que a gente parou de evoluir antes da hora... E digo mais! Digo mais! Te dou outra: Unha no pé! - Disse, triunfante, apontando para os próprios pés com uma das mãos e erguendo o indicador da outra ao lado da cabeça como quem diz "eureka".
O Paulo Roberto ficou olhando pra ele.
-Como assim?
-Pra que é que serve essa merda? Unha nos pés? Porque é que a gente tem essa porra? Pra que é que serve uma merda dessas?
-Pra coçar o calcanhar quando a gente tá deitado...? - Arriscou Paulo Roberto.
-Pra puta que te pariu, Pê Erre. Pra puta que te pariu. Hoje em dia neguinho dorme de tênis. Tu se coça em qualquer coisa. Até no colchão. Dedo nos pés, beleza. A gente entende. É importante pra se equilibrar. Se a gente tivesse o pé igual os da Mônica e do Cascão, não ia conseguir andar direito e nem ficar de pé... Mas e unha? Pra quê que serve unha na ponta das merdas dos dedos dos pés? Tu já viu uma unha de dedo mingo de pé? Tu já viu o tamanho dessa merda? Por que é que essa bostinha tá lá? Só pra dar trabalho. Só pra ter aquela porra lá pra tu cortar duas vezes por mês, pra juntar sujeira. Pra ter fungo. Te digo mais - Lançou, desafiador. -Se tu me disser uma função prática pra unha do pé, eu passo um mês sem beber!
O Paulo Roberto matutou brevemente. Então ergueu as sobrancelhas e disse, sorrindo:
-Tu tá no quarto... Do teu lado, aquela moça bonita, magrinha, branquinha, olhos verdes, cabelo castanho, deitada de barriga pra cima vendo TV. Pijama dos Looney Tunes, com o pernalonga desenhado na barriga, calças listradas de branco e rosa. Ela mexe o cabelo chanel escorrido da frente do rosto, e sorri pra ti. Tu sorri de volta, e dá um beijo nela. Tu percebe, por causa do ângulo e da diferença de altura entre vocês, que quando tu beija ela, ela mexe os dedos dos pés. Nos dedos dos pés, ela tem unhas bem pequenininhas, quase pontinhos, de tão pequenas, ainda que o pé dela seja um pé normal, tamanho 36, e os dedos tenham tamanhos normais pra um pé 36. Mas as unhas são bem pequenininhas. E elas estão pintadas com esmero, tudo certinho, de um lilás claro, quase imperceptível com a iluminação azulada da TV no quarto, mas apenas quase. E o movimento que ela faz, apertando os dedinhos pés quando vocês se beijam, vira quase um balé com a pintura das unhas dela dançando na iluminação irregular da televisão. E é o mesmo movimento que ela faz com os dedos dos pés oprimidos contra a tua panturrilha quando tu está por cima dela, beijando ela nos lábios e no pescoço.
O Paulo Roberto silenciou de súbito. Bebeu um gole de Coca, e comeu um aipim. Ato contínuo, o Everaldo repetiu o gesto, mordendo um aipim. Pegou o copo tulipa para beber um gole de chope, mas deteve-se. Ergueu o braço e suspirou alto:
-Miguelito, me traz uma porra dessa que o Pê Erre tá tomando.

sábado, 18 de julho de 2015

Resenha Cinema: Um Pouco de Caos


Eis um filme sobre um tema que, francamente, eu não achei que veria no cinema.
Jardinagem no Século XVII.
A (muito) grosso modo, essa poderia ser a síntese de Um Pouco de Caos, segunda incursão do ator Allan Rickman (de Duro de Matar, Simplesmente Amor e Harry Potter) na direção, contando uma pequena história de amor que tem como plano de fundo a construção dos jardins de Versalhes durante o reinado de Luís XIV em 1682.
Sejamos francos.
Ninguém iria ver esse filme no cinema. A menos que houvesse algum grande atrativo oculto nessa premissa sonolenta.
Por sorte há.
A protagonista do longa de Rickman é Kate Winslet, uma atriz anos-luz acima da média, e, de quebra, bonita e gostosona. Ajuda, também, o elenco ainda contar com Rickman, um ator de calibre, e Stanley Tucci, outro sujeito acima da média.
Eles se juntam a Winslet para contar a história de Madame Sabine de Barra (Kate), uma jardineira que acaba contratada para construir um dos elementos do jardim do palácio de Versalhes sob a orientação de mestre André Le Notre (O ator belga Matthias Schoenaerts), renomado paisagista da corte de Luís XIV (Allan Rickman).
Vista com desconfiança pelos demais paisagistas por ser uma mulher solteira trabalhando para si própria, madame de Barra enfrenta diversas adversidades conforme tenta consolidar sua visão.
Ao mesmo tempo, sua competência e tenacidade, atraem a curiosidade dos membros da corte do rei, enquanto uma crescente atração surge entre ela e mestre Le Notre.
Mas enquanto o paisagista real é casado com uma mulher adúltera e manipuladora (Helen McCrory), cheia de contatos na corte, Sabine tem um passado traumático que a assombra, fatos que mantém os sentimentos de ambos em segundo plano enquanto eles trabalham para trazer o paraíso à Terra e realizar os desejos do rei.
Sendo cem por cento franco, Um Pouco de Caos é tão chato quanto um filme sobre jardinagem na corte do rei Luís VIV poderia ser.
Falta um pouco de conflito à fita de Alan Rickman, e o roteiro, de autoria do próprio mais Jeremy Brock e Alison Deegan, não chega a ser um exemplo de coesão, ainda assim, o filme tem momentos agradáveis.
A manhã que Sabine passa com o rei, tomando-o por um colega jardineiro ao encontrá-lo sem peruca descansando nos jardins, é bastante simpática, e todas as sequências com Stanley Tucci, interpretando Filipe, duque de Orleans, irmão do rei, um pederasta festivo e afetado, são ótimas, com o ator roubando a cena.
Apesar de Matthias Schoenaerts interpretar um tipo calado e introspectivo, quase reticente, não se pode negar a química entre ele e Kate Winslet (mas fala serio, a Kate exala sensualidade, quem é que não tem química com aquela mulher?), de modo que por mais xarope e bobinho que o romance dos dois eventualmente se torne, a tensão entre os dois convence.
Com uma produção de época convincente, fotografia bonita, e belos figurinos, momentos genuinamente engraçados, mais ao menos três boas atuações (Winslet, Rickman e Tucci), Um Pouco de Caos não é, nem de longe, a tragédia que poderia ser, mas certamente não é filme pra toda a audiência.
Vá ver se for fã de Kate Winslet, romances antigos, ou jardinagem.

"-A senhora acredita em ordem no paisagismo?
-Eu a admiro..."

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Rapidinhas do Capita


E olha só que maneira a foto que a Entertainment Weekly divulgou do set de X-Men - Apocalipse:


Na imagem podemos ver o visual moicano da Tempestade (a gatinha Alexandra Shipp), além de Oscar Isaac caracterizado como o vilão azul Apocalipse, o mutante mais velho do mundo, e a gostosérrima Olivia Munn como Psylocke, com um uniforme que parece ter sido trazido direto dos quadrinhos.

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Além dessa foto maneira, temos a capa do semanário, estampada com Psylocke, Apocalipse e o novo visual do Magneto Michael Fassbender (talvez numa vibe de Cavaleiro do Apocalipse?).


Novamente dirigido por Bryan Singer X-Men - Apocalipse estréia em 27 de maio de 2016. O elenco conta ainda com Sophie Turner como Jean Grey, Tye Sheridan como Scott Summers, Lana Condor como Jubileu e Kody Smith-McFee como Noturno.
Michael Fassbender, James McAvoy, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Evan Peters retornam como Magneto, Charles Xavier, Mística, Fera e Mercúrio.
O filme se passará em 1983.

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E novidades sobre o novo Homem-Aranha.
Depois de ser aventado que a tia May do Peter Parker de Tom Holland pode ser a tetéia Marisa Tomei, num estranho caso de tia May Button, cada vez mais jovem (e bonita), parece que a Sony e os estúdios Marvel estão em vias de fechar com os roteiristas Jonathan M. Goldstein e John Francis Daley para escrever o script do filme.
Egressos de comédias como O Incrível Mágico Burt Wonderstone, Quero Matar Meu Chefe e o remake de Férias Frustradas, Daley e Goldstein têm a cara dos roteiristas-fantoche que a Marvel adora usar em seus longas.
O novo Homem-Aranha ganhará filme solo em julho de 2017, e será dirigido por Jon Watts, antes disso, o herói de abeça de teia deverá ser visto em Capitão América - Guerra Civil.

Resenha Cinema: Homem-Formiga


A Marvel não descobriu apenas um filão quando lançou, no distante ano de Nosso Senhor de 2008, Homem de Ferro e O Incrível Hulk.
Mais do que um rentável universo cinematográfico (ou cinemático, como o estúdio/editora chama) compartilhado por super-heróis, a Marvel descobriu uma forma de fazer filmes, contando suas histórias de maneira leve, divertida e descompromissada, mas mantendo um mundo coeso onde todos os super-heróis podem conviver.
Se essa fórmula nem sempre funciona (Homem de Ferro 2, Homem de Ferro Três, o primeiro Thor, e Vingadores - Era de Ultron são todos filmes que não suportam um escrutínio mais crítico), mas que, ainda assim, rende uma ótima grana ao estúdio, e financia voos mais altos e projetos mais audaciosos.
O Guardiões da Galáxia, por exemplo, era uma aposta de altíssimo risco, ninguém conhecia nenhum dos personagens do filme, ainda assim, o longa fez uma bela carreira nas bilheterias, e rendeu uma sequência.
As apostas mais certas voltaram a seguir com o segundo Vingadores, e então, nova aposta:
O Homem-Formiga.
O Homem-Formiga é um herói semi-desconhecido. Essa semana, conversando com minha mãe, ela queria saber se esse Homem-Formiga realmente existia, eu confirmei e ela me disse "Então é novo.".
Não é. O Homem-Formiga original, Hank Pym, é um personagem longevo, membro fundador d'os Vingadores, publicado pela primeira vez edição número 27 da revista Tales of Astonish de janeiro de 1962, está no top 8 da lista de gênios do Universo Marvel dos quadrinhos (Acredite, há muitos gênios no universo Marvel, pegar top-20 é um lance grande), e é um personagem profundo, com problemas bastante humanos, incluindo problemas domésticos (ele desceu a mão na esposa, Janet Van Dyne, a Vespa).
Por alguma razão, o Homem-Formiga jamais teve Aquela grande fase dos quadrinhos. Jamais teve seu gibi mensal assumido por algum escritor talentoso o suficiente para tornar seu quadrinho interessantíssimo ainda que apenas por algumas edições, de modo que sempre ficou ali no segundo escalão da Marvel, trocando de nome (Jaqueta Amarela, Gigante, Golias...) como um herói importante e respeitado mas, vá lá... Sem muitos atrativos.
Mas o segundo escalão da Marvel não é pouco. Era o reino do Homem de Ferro até bem pouco tempo atrás, e ainda assim, a Marvel transformou o Vingador Dourado em um hit, Guardiões da Galáxia eram algo entre terceiro e quarto escalão, e lá estavam eles arrecadando 700 milhões de dólares ano passado.
Por que diabos o Homem Formiga não podia ser o próximo super-herói a saltar de divisão?
Os astros pareciam alinhados.
A Marvel queria fazer o filme, e o diretor contratado para o projeto era ninguém menos que Edgar Wright, diretor britânico responsável por Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Grosso, Scott Pilgrim Contra o Mundo e Heróis de Ressaca.
Sujeito reconhecidamente talentoso, gozando de imenso prestígio junto à nerdalhada, tornou Homem-Formiga um dos filmes mais antecipados da Casa das Ideias.
Michael Douglas foi contratado para viver Hank Pym, o que deixou todo mundo com a certeza de que ele não seria o herói principal do filme, já que o ator tem 71 anos. O peso de ser o Homem-Formiga de Homem-Formiga recaiu sobre Paul Rudd, ator egresso de Friends, onde interpretava Mike Hannigan, namorado de Phoebe, e das comédias de Judd Appatow. A eles se juntaram Evangeline Lilly, Corey Stoll, Michael Peña, Bobby Canavalle e Judy Greer. O tabuleiro estava montado e era só esperar seis meses pra ver o que viria até que...
Edgar Wright saiu do projeto.
As famigeradas "diferenças criativas" que já haviam tirado uma penca de diretores de projetos da Marvel deu as caras de novo, e o Homem-Formiga ficou à deriva.
O timoneiro escalado para assumir a brinca não era dos mais animadores:
Peyton Reed.
Diretor egresso de comédias como Teenagers - As Apimentadas, Abaixo o Amor e Sim, Senhor, Reed não era dos nomes no topo da lista de ninguém pra dirigir um filme de super-herói, de modo que as desconfianças apenas aumentaram.
Elenco de comédia, diretor de comédia, num filme de super-herói de segundo escalão de um estúdio que enfia comédia em tudo...?
Era esperar pra ver.
Ontem eu vi.
Homem-Formiga abre com um flashback.
É 1989, e a SHIELD, dirigida por Howard Stark (John Slattery), Peggy Carter (Haley Atwell) e Mitchell Carson (Martin Donovan) recebe a visita de um furioso Hank Pym (Michael Douglas). O cientista está fulo com a ideia de a agência estar tentando replicar sua fórmula, e, pelo que considera uma traição da grossa, ele se demite da Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão.
Corta para os dias atuais.
Scott Lang (Paul Rudd), acaba de cumprir sua pena por roubo e é libertado. Tudo o que ele deseja é recolocar sua vida nos eixos, conseguir um emprego e se dedicar a reconstruir sua relação com a filha, Cassie.
Mas a vida é difícil para um ex-condenado, de modo que mesmo com um mestrado em engenharia elétrica, Scott só consegue um emprego em uma sorveteria, e ainda assim, apenas escondendo sua ficha criminal.
Sem emprego, Scott não pode pagar a pensão de Cassie, e sem nenhuma perspectiva, morando de favor na casa do amigo Luis (Michael Peña) é impedido pela ex-esposa Maggie (Judy Greer) e pelo novo marido dela, o policial Paxton (Bobby Canavalle), de ver Cassie até colocar a vida nos eixos.
Sem alternativas, Scott acaba aceitando a dica de Luis para realizar um assalto na casa de um ricaço.
Ao aceitar o serviço, Scott acaba, sem saber, se colocando exatamente onde Hank Pym o queria. Em posição de se tornar pivô no plano de Hank para impedir os planos de seu ex-pupilo, Darren Cross (Stoll) de transformar sua tecnologia de miniaturização em uma arma que, em mãos erradas, pode transformar o mundo em caos.
Para impedir os planos nefastos de Cross, Pym precisa da ajuda de Scott e da filha Hope (Evangeline Lilly) para realizar um roubo impossível.
Uma empreitada que ainda envolverá os comparsas de Scott e Luis, Kurt (David Dastmalchian) e Dave (O rapper T. I.), e até o Vingador Falcão (Anthony Mckie).
E não é que funciona?
Homem-Formiga, como todos os filmes da Marvel, é uma comédia de ação.
Quem espera outra coisa dos filmes do estúdio, lamento informar, é burro. Todos os filmes de heróis da Casa das Ideias são assim, a fórmula funciona financeiramente e não vai parar de ser repetida até parar de dar dinheiro.
O diferencial de Homem-Formiga com relação aos outros longas talvez seja a qualidade das piadas (melhores do que na maioria dos outros filmes-gibi da Casa das Ideias), e o timming cômico do elenco, formado por comediantes de origem, e ao menos um ator bem acima da média (Douglas).
A decisão de criar uma relação mestre/pupilo entre Pym e Lang funciona, o personagem mais velho demonstra um temperamento explosivo e difícil que ecoa bem nos problemas do Homem-Formiga dos gibis, e também é evidenciado pela relação problemática entre Hank e Hope.
Paul Rudd manda bem em seu primeiro papel heroico, equilibrando a comédia por vezes rasgada de sua atuação com alguns momentos mais comedidos.
A comédia rasgada, aliás, fica particularmente engraçada quando T.I., Dastmalchian e especialmente Michael Peña estão em cena. O trio é muito engraçado.
O vilão, como de hábito, talvez seja o ponto fraco do filme. Corey Stoll (que roubou a cena como Ernest Hemingway em Meia-Noite em Paris) tenta, faz caretas, fica com os olhos rasos d'água e olhar insano, mas a Marvel no cinema teve de bons vilões apenas os primeiros (O Obadiah Stane de Jeff Bridges, o General Ross de William Hurt e o Loki de Tom Hiddleston), e de resto, os antagonistas são todos bem fraquinhos.
Mas não há apenas comédia em Homem-Formiga, as cenas de ação são boas, e a brincadeira com a proporção quando o herói está em sua forma miniatura é muito bem utilizada.
Entre erros e acertos, Homem-Formiga funciona muito bem, obrigado.
Estabelece a ponte entre o herói em miniatura e Os Vingadores, projeta a Vespa, e até dá pistas sobre o Homem-Aranha da Marvel (Tem um herói que pula, que se balança e escala paredes diz alguém à certa altura.), há duas cenas pós-créditos e a segunda delas faz referência direta a Capitão América - Guerra Civil, mas mesmo sem tudo isso, o longa do pequeno herói da Marvel ainda valeria a visita ao cinema. O 3-D é completamente desnecessário.

"-Meus dias de arrombar lugares e roubar merdas acabaram!O que você precisa que eu faça?
-Eu quero que você arrombe um lugar e roube umas merdas."

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Engano...?


Não foi à primeira vista.
À primeira vista, assim que ela entrou, ele a achou bonita.
Nem atraente. Bonita, apenas.
Ela era. Estatura média, pele branquinha, cabelos castanho-escuros bem lisinhos cortados em estilo chanel, mal e mal cobrindo as orelhas. Era magrinha, tão magrinha que seria o tipo de menina a quem sua avó se referiria como "cavaquinho", e, vestida toda de preto, parecia ainda mais miudinha.
Calçava sapatos rasteiros, calças jeans, e uma blusa de manga longa, tudo preto, sobre o conjunto, usava uma grande pashmina cinza.
Se não tivesse visto Rachel se dirigir à uma pashmina como "pashmina" em um episódio de Friends, provavelmente teria chamado a peça de "um pala curto". Mas enfim, aprendera alguma coisa vendo TV, a despeito do que lhe dissera um tio em certa ocasião.
Ela entrou e ele viu de imediato que era bonita. Rosto lavado, pleno sábado de manhã, sem um pingo de maquiagem, e bonita.
Olhos verdes.
Muito verdes.
Amigável, querida demais pra ser atraente, ao menos assim à primeira vista. Ela olhou em volta, o encarou e sorriu:
-Talvez tu possa me ajudar...
Foi à primeira ouvida.
A voz dela. Rouca, um timbre agradável, mas rouca. Ele sempre tivera um fraco por mulheres de voz rouca. A atriz Maria Zilda, na infância, a deputada Maria do Rosário, na adolescência, sua primeira namorada, também, bonita, de voz rouca... Ele tinha isso: Uma propensão à queda por mulheres roucas. E essa, além de bonita, amigável, educada, discreta... Ainda rouca.
De súbito ela foi de bonitinha, cavaquinho, carinha lavada, a extremamente atraente.
De 0 a cem em cinco palavras.
"Claro", ele sorriu de volta, da maneira menos assustadora que sabia. Falaram por algum tempo, ele, impressionado com a amabilidade dela. Com a beleza de seu sorriso, e com a forma como a voz rouca lhe cabia tão bem.
Ela foi embora, sorrindo, e prometendo retornar.
E, de fato, ela retornou. Na segunda feita seguinte.
Novamente vestida de maneira sóbria, sorridente, bonita, e com a vozinha.
Chamava-se Bruna.
Era arquiteta, procurava por artifícios alternativos para fazer a decoração de um escritório. Achava que o equipamento de alpinismo daria um visual singular à sua composição.
Com a certeza de que era daquilo que ela precisava, mas sem uma noção concreta das características do material que desejava, suas visitas foram tornando-se frequentes ao longo daquela semana.
E a cada visita, conversavam mais, se conheciam, e em dado momento, já riam juntos como se fossem velhos amigos.
Ele nunca imaginou que cinco dias seriam suficientes para se apaixonar por alguém, mas, que diabos, aconteceu.
Ele se flagrou apaixonado, inapelável e perdidamente apaixonado por ela. Por suas roupas despojadas, seu sorriso meigo, sua total ausência de maquiagem e até sua inseparável garrafa d'água.
Como era de seu feitio, não supunha que fosse recíproco. Na vida, raramente vira um sorriso assim da sorte, de modo que imaginou que tudo fosse estar na esfera do platônico de onde, pra ser bem franco, àquela altura achava que os amores ideais não deveriam sair.
Ele se alimentaria de migalhas da presença dela. De drops de sua beleza pálida e seus olhos verdes. De gotas de sua vozinha rouca.
Imaginou o que faria quando ela concluísse a decoração. Como seguiria seus dias sabendo que ela não voltaria mais?
O que devia fazer? Talvez pedir um cartão? Contatá-la para pedir a ela que orçasse uma repaginada em sua casa, ou na loja, ou no escritório?
Ou, mandar a cautela lá pra casa do capita, os escrúpulos ao inferno, e chamá-la para sair...
Um programa simples... Cinema e jantar... Nada demais.
O que de pior poderia ocorrer? Ouvir ela responder "não"?
A vida estava sempre lhe dizendo "não", ele próprio era um sujeito de "nãos", por vezes peremptórios, entenderia se ela lhe dissesse que não. Que não queria, não estava interessada, não tinha tempo, ou qualquer negativa que fosse...
Resolveu arriscar.
Não podia conviver com mais um "se". A História, afinal, só amava aos vencedores, e só vence aquele que tenta. Ficou repassando toda essa ladainha enquanto esperava que ela aparecesse.
Levou dois dias. Dois dias que se arrastaram para a Bruna voltar a aparecer. Foi de repente, em meio a uma manhã chuvosa, lá estava ela, sorridente à porta, com uma sombrinha vermelha brilhante em punho.
Ele se levantou para atendê-la com o estômago leve. Andou até a porta medindo cada passo. Pensando no que fazer. No que dizer. Em como abordar seu convite. Deveria conversar com ela normalmente enquanto ela estivesse lá e só revelar suas intenções ao final? Quando ela se preparasse para ir embora?
"-Bom, obrigada, vou indo..."
"-Olha, desculpe a ousadia...". Ainda se dizia "Desculpe a ousadia?"...
"-Bruna... Olha só... Tu quer fazer alguma coisa um dia desses? De repente ir ao cinema, sair pra jantar...?". Normal demais. Não tinha os ingredientes de tragédia que polvilhavam sua vida inteira... E, pra piorar, era algo morno. Tornava muito mais fácil dizer não do que algo mais drástico e dramático.
Como se revelar logo de cara, de supetão, sem pudores e sem cuspe?
"-Bom dia..."
"-Te amo."
Essa sim. Essa era a receita perfeita da tragédia.
Os passos haviam acabado. Ali estava ele, frente a frente com ela, sorrindo feito um idiota, ela sorrindo de volta enquanto chacoalhava a sombrinha.
Articulou:
-Oi... Que chuvarada, né?
Ela pendeu a cabeça pro lado, sorrindo:
-Nem me fala. Acabei de me livrar de uma gripe e agora essa chuvarada. Haja saúde...
Ele ficou olhando pra ela com uma expressão indefinida. O que é que estava errado?
A roupa despojada estava ali... Calça cargo bege, camisa branca e casaco de lã vermelho-escuro. Um lenço escuro segurando-lhe estrategicamente os cabelos finos, sapatos pretos de sola alta, a sombrinha uma declaração de estilo, estava tudo lá. O rostinho branco lavado, os olhos verdes, o sorriso doce... A única coisa que faltava... A voz.
Ela não tinha mais aquele agradável timbre rouco.
Tudo fez sentido.
A indefectível garrafa de água não era uma ode às benesses da hidratação. Era um paliativo à rouquidão proveniente de uma gripe.
Ele abriu a porta. Ela entrou, esticou-se para dar-lhe um beijo no rosto. Conversaram, ele, chocado com a voz dela.
Que não... Não era feia. Nem perto disso. Era uma voz perfeitamente normal, que cabia certinho na boca de uma menina com a aparência da Bruna. Mas não era aquela vozinha.
Ele se deu conta, enquanto falava com ela mostrando cordas e cordames com seus respectivos laudos de resistência e certificados de excelência internacionais, de que a Bruna volta e meia tocava nele.
Em sua mão. Em sua perna, em seu braço... Se perguntou se aquilo era de antes ou se começara agora. Foi estranho ver-se, de repente, livre da inebriação que a presença dela lhe causava antes.
Após cerca de 45 minutos, a Bruna se levantou dizendo que precisava ir. Ele sorriu, já tendo desistido da iniciativa de chamá-la para sair, e levantou-se para levá-la até a porta. Quando chegaram lá, ela lhe beijou o rosto novamente, e quando se preparava para abrir a sombrinha, deteve-se.
Virou e disse:
-Olha... A minha firma tá inaugurando um restaurante, amanhã. Tem um coquetel de inauguração e tal, fechado, só pra convidados... Achei que, se tu tivesse tempo, podia aparecer lá pra dar uma olhada no meu trabalho. De repente te ajuda a visualizar melhor essas maluquices que eu falo, e tu pode me ajudar a "realizar minha visão" que nem tu diz.
Ele ficou olhando pra ela uma fração de segundo. Pensando no que faria se ela tivesse dito exatamente aquelas mesma palavras antes de curar o resfriado. Ela continuou:
-Bom... Eu tenho que ir de qualquer forma. Tem trabalho meu lá... Se tu quiser aparecer... Eu ia gostar... Bastante.
Entregou um cartão pra ele.
-Aí tem o endereço do evento. E atrás o meu celular... Qualquer coisa liga.
Sorriu.
-Eu... Eu te mando uma mensagem pra confirmar. - Ele sorriu de volta ao perceber que ainda não havia falado nada além de sons indefinidos de "Aaah" e "Hum".
-Pensa bem. - Ela disse, dando uma piscadela, abrindo o guarda-chuva vermelho, e ganhando a rua chuvosa.
Ele fechou a porta. Andou até o escritório, e ficou encarando o cartão. Riu ao pensar em como era bom não tê-la pedido em casamento enquanto estava rouca. Conjecturou que o fato de aquele encantamento todo ter se dissipado seria até positivo para um relacionamento. Se perguntou se havia alguma criatura mais cheia de dúvidas e manias do que ele próprio na Terra. E por fim, inquiriu-se:
Ligava, ou não ligava...?

terça-feira, 14 de julho de 2015

Rapidinhas do Capita


E a prévia de Esquadrão Suicida que foi mostrada no final de semana na Comic Con ganhou as redes. Veja a prévia de pouco mais de três minutos do longa sobre o time de supervilões da DC que aceita missões suicidas em troca do perdão de suas penas:



Maneiro. Particularmente fiquei surpreso com a elegância da prévia, considerando-se o diretor David Ayer, de modo geral, um sujeito de mão meio pesada cuja presença na cadeira do diretor me fazia duvidar do potencial do longa.
Ainda assim, por mais que Will Smith seja o astro do filme, e o Coringa de Jared Leto pareça promissor apesar do visual equivocado, a dona do filme é a delícia Margot Robbie.
Pela madrugada, que coisinha mais linda.

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Viola Davis parece interessante em sua interpretação de Amanda Waller, Superman é mencionado um par de vezes e o Batman pode ser visto no clipe caindo em cima do inexplicável carrão roxo do Coringa, que, como era esperado, rouba a cena quando dá as caras no finalzinho prometendo que não vai matar, apenas machucar muito, algum infeliz.

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A expressão corporal e a voz do príncipe palhaço do crime estão muito acertadas, o que só me leva a lamentar ainda mais a presença absolutamente desnecessária das tatuagens espalhadas pelo corpo do vilão.
Resta torcer para que elas não sejam apenas uma forma pueril de afirmação visual, mas tenham algum tipo de contexto.
A todas essas, o filme que eu estava com muita vontade de ver a despeito de David Ayer, só se tornou mais atraente, embora ainda seja, em grande parte, por causa das coxas da Margot Robbie.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Top-10 Casa do Capita: Filmes de Rock

Hoje é 13 de julho, dia do rock, bebê!
Se há um ritmo musical que mereça uma efeméride, é o rock'n roll. Mais do que um ritmo musical, um estilo de vida, o rock se multiplicou, deu dezenas de crias, fabricou centenas de ídolos, viu várias épocas e estilos, e rendeu milhares de histórias, algumas das quais viraram filmes.
E é nesse pique que surge mais um infame top-10 casa do Capita, dedicado aos filmes mais rock"n roll do cinema!
À lista, baby:

10 - The Wonders - O Sonho Não Acabou (Tom Hanks, 1996)


A história dos Oneders, bandinha de colégio que encontra o rumo do sucesso quando o baterista original quebra o braço e o substituto Guy (Tom Everett Scott) acrescenta uma batida rápida de rock na balada romântica "That Thing You Do", tornando a música uma febre no ano de 1964.
O fofo filme dirigido por Tom Hanks mostra a meteórica trajetória da banda de um sucesso só, que como tantas outras, nasceu e morreu pegando carona no sucesso da Beatlemania.

9 - A Fera do Rock (Jim McBride, 1989)


Boa fita biográfica, A Fera do Rock tem um aplicado Dennis Quaid dando vida a Jerry Lee Lewis, um dos melhores e mais controversos músicos dos anos cinquenta.
O cantor e pianista famoso pelo sucesso Great Balls of Fire era um tremendo arranjador de bolo que tinha problemas com álcool, mulheres e chegou a se casar com a prima de treze anos (interpretada pelo então pitéuzinho Winona Ryder).
Se tem imagem mais rock'n roll que Lewis de terno vermelho agredindo um piano em chamas, eu ainda não vi.

8 - Johnny & June (James Mangold, 2005)


A ótima fita biográfica sobre Johnny Cash (interpretado brilhantemente por Joaquin Phoenix, indicado ao Oscar) é um apanhado de grandes canções e atuações (que incluem a vencedora do Oscar Reese Whiterspoon como June Carter) contando a história do homem de preto que, por mais que fosse um cantor de country, viveu uma vida cem por cento rock'n roll.
Sob a lente do diretor James Mangold conhecemos um homem atribulado, cheio de vícios e fraquezas, que tinha apenas duas certezas na vida: A música e June.
Excelente.

7 - La Bamba (Luis Valdez, 1987)


O debut de Lou Diamond-Phillips foi no papel de Richie Valens, o jovem prodígio do rock que destruiu as paradas de sucesso com La Bamba no fim da década de 50.
O longa conta a trajetória do moleque desde seu trabalho em fazendas, até sua ascensão ao estrelado passando pela relação complicada com o irmão mais velho Bob, até sua morte prematura aos dezessete anos, em um acidente de avião que também matou Buddy Holly.
A primeira vez que dancei com uma guria, foi ao som de Donna. Clássico absoluto.

6 - The Commitments - Loucos Pela Fama (Alan Parker, 1991)


A história de Jimmy Rabitte (Robert Arkins) para formar "A Banda que Trabalha Mais Duro no Mundo", The Commitments, e levar soul ao povo da Irlanda poderia ser apenas mais uma fita clichê sobre a ascensão e queda de uma banda, mas graças a um elenco formado quase que inteiramente por desconhecidos que sumiram em seus papéis e ao diretor Alan Parker, o longa se tornou uma referência em termos de musicais, além de ter dado origem a uma grande banda na vida real.

5 - Escola de Rock (Richard Linklater, 2005)


A contagiante comédia musical surgida de uma insuspeita trinca formada pelo diretor Rihard Linklater, o roteirista Mike White, e o astro Jack Black é dessas coisas que sempre que está passando na TV, vale parar pra assistir.
O roqueiro frustrado e falido Dewey Finn passa-se por professor substituto para pagar o aluguel, no colégio Horace Green, descobre o talento musical de seus alunos da quinta série, e resolve transformá-los em seu grupo de rock para vencer o concurso Batalha das Bandas.
Com uma trilha sonora épica, incluindo canções de The Doors, The Clash, Led Zeppelin, The Who, David Bowie e AC/DC, o longa ainda acerta na escolha do elenco infantil, todos músicos de verdade, que no final do filme fazem um espetáculo de acompanhar de air guitar em punho.

4 - Quase Famosos (Cameron Crowe, 2000)


O grande filme da carreira de Cameron Crowe, Quase Famosos mostra o moleque de 15 anos William Miller (Patrick Fugit), que consegue ser contratado pela revista Rolling Stone para cobrir a turnê da banda Stillwater, um amálgama de grandes bandas de rock dos anos setenta que Crowe (que conforme o protagonista falsificou sua entrada no mundo do jornalismo para trabalhar na afamada revista) costumava cobrir.
Uma perfeta mistura de comédia e drama embalada por grandes canções e com grandes atuações de um elenco que incluía Phillip Seymour Hoffman, Billy Crudup, Frances McDormant e uma deliciosa Kate Hudson, faturou um Oscar de melhor roteiro, e ganhou cadeira catina na lista de preferidos de muita gente.

3 - Isto É Spinal Tap (Rob Reiner, 1984)


O documentário falso sobre a famosa banda de heavy metal inglesa Spinal Tap e seu tour pelos Estados Unidos em uma tentativa de ter um grande retorno aos holofotes é dessas coisas obrigatórias.
A egocêntrica banda inglesa formada por três roqueiros que estão longe de ser das criaturas mais brilhantes do mundo (Christopher Guest, Michael McKean e Harry Shearer) é acompanhada pelo amigo e cineasta Marty DiBergi (o diretor do longa, Rob Reiner) em sua turnê americana, e filmados o tempo todo.
Os roqueiros brigam, se desentendem e mergulham rumo à crise enquanto realizam suas gloriosas apresentações num show de comédia e rock'n roll inspiradíssimo por um elenco que improvisou e escreveu muito do próprio material.
Clássico cult máximo, Isso É Spinal Tap se tornou um dos mais divertidos retratos do pedestal de pretensão dos heróis do rock.
Obrigatório.

2 - Prisioneiro do Rock and Roll (Richard Thorpe, 1957)


O rei do Rock, Elvis Presley, estrelou impressionantes 30 filmes entre o fim da década de 50 e a metade dos anos 60, nenhum deles porém, foi tão importante quanto Prisioneiro do Rock and Roll (Jailhouse Rock, no original).
Na fita, Elvis interpreta o jovem Vince Everett, cumprindo um ano de prisão por homicídio culposo. Na penitenciária, ele conhece um ex-cantor de música country que lhe ensina tudo sobre o negócio da música.
Decidido a se tornar um artista ao sair da prisão, Vince é derrubado pelos donos de gravadoras e empresários até decidir começar seu próprio selo, mas ao alcançar o sucesso e a fama, sua ganância e rebeldia podem fazê-lo esquecer daqueles que o ajudaram a chegar onde chegou.
Se Elvis fez mais de trinta filmes em pouco menos de dez anos, isso certamente não advoga em favor da qualidade das fitas. Prisioneiro do Rock and Roll é uma das raras exceções desse balaio, com um diretor de verdade oferecendo ao rei a possibilidade de interpretar um herói rebelde e falho.
Pelo valor histórico do filme, merece demais ser assistido.

1 - Os Reis do Ié-ié-ié (Richard Lester, 1964)


Assim como Prisioneiro do Rock and Roll, Os Reis do Ié-ié-ié não é, nem de longe um grande filme. O longa dirigido pelo britânico Richard Lester, que cometeu a metade ruim de Superman II - A Aventura Continua e Superman III, é apenas um caça-níqueis sem-vergonha feito para faturar em cima da Beatlemania quando da chegada dos rapazes de Liverpool aos Estados Unidos, quando se tornariam o fenômeno mundial que se tornaram em 64.
Mas ainda assim, a despretensiosa comédia estrelando os Fab Four como eles próprios, tinha lá seu charme.
O longa acompanhava um "dia normal" na vida dos rapazes, quando eles viajavam de trem de Liverpool a Londres, onde participariam de um programa de TV. Durante a viagem, passavam por diversas desventuras que iam das confusões em que se metia o avô de Paul, que os acompanhava na viagem, o assédios das tietes, e o sumiço de Ringo, que quase colocava o show do quarteto a perder.
A matinê absolutamente banal é um deleite de se assistir em grande parte por conta dos Beatles, interpretando divertidas versões de si próprios (Ringo avoado, John espertinho...), em um filme que, por mais banal que fosse, gerou o mesmo impacto que praticamente tudo o que os Beatles fizeram gerou, influenciando gerações de roqueiros, atores de cinema, comediantes e até desenhos animados.
Obrigatório para fãs de rock de qualquer idade.

Trailer 2 de Batman vs Superman: A Origem da Justiça

Agora sim, estamos conversando:
Quase simultaneamente ao painel do longa de atira a primeira pedra no universo cinematográfico compartilhado da DC, o segundo trailer de Batman vs Superman: A Origem da Justiça caiu na rede, inclusive com versão legendada.
A prévia estendida de pouco mais de três minutos e meio mostra várias cenas inéditas, incluindo as primeiras cenas da Mulher-Ma"g"ravilha em ação.
Veja:



Bastante superior à primeira prévia, esse segundo trailer dá diversas dicas a respeito do que esperar do filme, incluindo uma enormidade de pistas sobre a trama do longa metragem que unirá dois dos três super-heróis mais famosos dos quadrinhos.

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O trailer abre com o Superman (Henry Cavill) chegando à uma audiência do senado norte-americano sobre os eventos de O Homem de Aço que devastaram Metrópolis, lá, o herói é hostilizado por parte da população, embora ao longo da prévia, ele também seja mostrado recebendo o carinho, as súplicas e até a veneração de parte da população, salvando pessoas de incêndios, enchentes e explosões.
O herói parece incerto a respeito de seu papel no mundo, sendo lembrado por Lois (Amy Adams) de que ele significa esperança para muita gente, e sendo aconselhado por Martha Kent (Diane Lane), a fazer o que quiser, salvar o mundo, ou não, pois não deve nada à Terra.
A coisa parece mudar de figura quando o trailer aventa que Clark Kent está investigando o Batman, a quem se refere como "um reino de terror de um homem só", e é aconselhado por Perry White (Laurence Fishburne) a deixar isso pra lá.
Bruce Wayne (Ben Affleck) é apresentado em Metrópolis, numa cena de O Homem de Aço, durante a luta entre Superman e Zod, a inserção inicial do personagem termina com a revelação de que um dos (trocentos) prédios destruídos, pertencia às empresas Wayne.
Um recorte de jornal com a notícia sobre a devastação da torre Wayne rabiscado com os dizeres "você deixou sua família morrer", deixa o bilionário puto da vida enquanto Alfred (Jeremy Irons) diz seu texto do trailer anterior sobre bons homens tornando-se cruéis.
Surge Lex Luthor (Jesse Eisenberg).
O vilão recebe a senadora (Holly Hunter) que chefia a investigação sobre os eventos de Metrópolis, fala sobre demônios que vêm do céu, e parece receber acesso ao cadáver preservado de Zod enquanto um Superman enfurecido se ajoelha diante do seu arqui-inimigo.
O Batsinal é ativado e o pau canta, inclusive com a Mulher-Maravilha (Gal Gadot) caindo na porrada.

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O trailer é cheio de pistas, insinuações e easter eggs, há um uniforme de Robin pichado com a inscrição "Hahaha, a piada é por sua conta, Batman", aludindo à Morte na Família, a saga onde o Coringa assassina o Robin Jason Todd.


Temos um breve vislumbre de uma ruína que pode ser a mansão Wayne abandonada, Batman e Mulher-Maravilha trocam olhares em suas identidades civis, aventando a possibilidades de que eles talvez já se conheçam, Luthor parece conhecer os efeitos da Kryptonita sobre o Superman (Quem sabe os descubra estudando o cadáver de Zod?), e a impressão de que o vilão careca está manipulando os dois heróis é bastante palpável.
Deve haver ao menos um flashback contando a origem do Batman (com Jeffrey Dean Morgan interpretando Thomas Wayne), e o Alfred de Jeremy Irons talvez seja "muito mais do que apenas um mordomo" de acordo com a declaração do ator britânico, porque simplesmente não é um mordomo?
Ainda resta saber de onde vêm o exército de soldados com insígnias do Superman no braço (um apoio do "aliado" Luthor para ajudar o Superman?), quanto tempo o maior detetive do mundo levará para perceber quem é o vilão da história, e qual o papel da princesa Diana na história?
Enquanto o filme não sai, vamos torcer para que o ótimo trailer não seja um engodo como as ótimas prévias de Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado e Lanterna Verde.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Rapidinhas do Capita:


E depois de anunciar Joe Bernthal como Frank Castle, o Justiceiro na segunda temporada da excepcional série do Demolidor do Netflix, a produção do seriado juntou um novo nome ao elenco da série, já que Elektra Natchios também está chegando a Hell's Kitchen:


A escolhida para dar vida à ninja assassina grega mais atraente dos quadrinhos foi a atriz francesa Elodie Yung, que pôde ser vista recentemente em G.I. Joe: Retaliação, no papel de Jynx.


A atriz de ascendência franco cambojana que chegou a estar ligada ao papel de Mulher-Maravilha no início da seleção que culminou com Gal Gadot vestindo o top vermelho e dourado tem o tipo de rosto anguloso e formas esguias perfeitas para dar vida à matadora criada por Frank Miller, e no filme meia boca dos comandos em ação deixou duas coisas bem claras:
Sabe chutar bundas, e fica muito bem de vermelho.


A segunda temporada de Demolidor deve estrear em abril de 2016.

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E enquanto a segunda temporada da série do Demo dá seus primeiros passos com Matt e Foggy andando calmamente pelas ruas de Nova York, A.K.A. Jessica Jones está a todo o vapor.
As filmagens da temporada também ocorrem em Nova York, e a série, com os mesmos treze episódios de Demolidor, deve estrear ainda no segundo semestre.
A.K.A. Jessica Jones conta a história de uma ex-super-heroína de carreira curta que, após uma tragédia, abandona a capa, passando a ganhar a vida como detetive particular.
A personagem título será vivida por Krysten Ritter, de Breaking Bad.


Além de Ritter, o elenco conta ainda com Mike Colter como Luke Cage, e eu realmente torço para que em algum momento ele apareça vestindo uma camisa de seda amarela e uma tiara:


Além de Carrie-Anne Moss como Harper, e o ex-Doutor Who, David Tennant, como Jebediah Killgrave, o Homem Púrpura:


A.K.A. Jessica Jones fará a ponte entre a série do Demolidor e a de Punho de Ferro, que seguirá para a série solo de Luke Cage. Após as primeiras temporadas de todos os programas, haverá Os Defensores, juntando todos os heróis (e eu adoraria que o Homem-Aranha estivesse inserido aqui, e não em Os Vingadores...).

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Resenha DVD: Um Momento Pode Mudar Tudo


Já há algum tempo comenta-se sobre a produção de uma versão norte americana do filme francês Intocáveis, estrelado por François Cluzet e Omar Sy. Assim que essa notícia foi divulgada, imaginei uma versão hollywoodiana do longa estrelada por Bill Murray e Queen Latifah, dirigida por Shawn Levy, e esse era o cenário menos pior que eu podia imaginar pro remake.
Abro falando disso por que, assim que vi o primeiro trailer de Um Momento Pode Mudar Tudo, achei que estivesse diante da versão falada em inglês de Intocáveis.
Lá estavam os opostos completos, a pessoa endinheirada, formal e cheia de regras presa à uma cadeira de rodas, e sua cuidadora, à revelia da vontade de seus entes queridos, uma duranga irresponsável e inexperiente, mas cheia de joy de vivre, e a inevitável conexão entre esses dois opostos mudando as vidas de ambos para melhor...
Mas não.
Um Momento Pode Mudar Tudo não era um remake de Intocáveis. Na verdade, o longa dirigido por George C. Wolfe, tem uma qualidade algo genérica de drama feito para a TV. Fosse um telefilme evangélico estrelado por Kirk Cameron cheio de menções à bíblia, eu não teria me surpreendido. Fosse uma sessão da tarde cheia de atores desconhecidos, absolutamente genérica, e eu não teria me surpreendido.
O que me surpreendeu foi ver Hillary Swank estrelando o longa.
Ora vamos, se Hillary Swank nunca se tornou uma super-estrela de Hollywood (talvez por não ser exatamente bonita. Todo mundo deve lembrar daquele clássico episódio de The Office em que os funcionários da Dundler Mifflin não conseguem decidir se a atriz é atraente, ou não), não é de graça que a guria tem dois Oscars na estante de casa. Jamais faltou talento para a estrela de Meninos Não Choram e Menina de Ouro, mas talvez tenha faltado parcimônia na hora de escolher seus projetos.
E o início de Um Momento Pode Mudar Tudo, dá a impressão de que esse é mais um projeto mal escolhido da talentosa Hillary.
O longa abre com Kate (Swank) e seu marido Evan (Josh Duhamel) fazendo um amorzinho gostoso no chuveiro no dia do aniversário de 35 anos da moça.
O casal, obviamente bem-sucedido financeiramente, vivendo em uma estilosa casa, preparando coquetéis com canapés de vieiras e fazendo recitais de piano para os amigos, até que, durante sua performance, ela é incapaz de acertar as teclas com a categoria habitual. Sua mão treme, e ela parece perceber que há algo de errado.
Corta para um ano e meio mais tarde.
Kate está bastante debilitada. Incapaz de tomar banho sozinha, de se locomover sem auxílio, e até de se vestir sem ajuda.
Evan descobre que ela demitiu sua enfermeira por "fazê-la se sentir uma paciente", e vai entrevistar uma possível substituta.
Surge Bec (Emmy Rossum), universitária porra-louca, bebe, fuma, usa drogas, irresponsável tem um caso com um professor casado, trepa com desconhecidos de quem tenta se livrar na manhã seguinte enquanto gargareja Listerine saindo de casa vestida como uma grunge que não sabe que os anos noventa acabaram.
Bec, seme xperiência relevante com pacientes de doenças degenerativas, chega atrasada pra entrevista de emprego, é pega fumando pelo patrão em potencial, não sabe usar um liquidificador e nem uma tábua de corte. Faz comentários inapropriados sobre a xpectativa de vida de uma paciente com ELS, e derruba Kate dentro da privada para cair na gargalhada.
Esse primeiro ato do longa é conduzido de maneira tão atabalhoada, que, confesso, quase desisti do filme.
Não há nenhuma razão plausível para Bec continuar no emprego depois de um primeiro dia tão merda. Existem, suponho, centenas de não-enfermeiras com algum senso de responsabilidade e humanidade, e que sabem que se deve fechar o liquidificador antes de ligá-lo.
Mas, por alguma razão, Bec é mantida no trabalho, chegando atrasada todos os dias, e mostrando-se absolutamente inapta para realizar qualquer tarefa, ou até mesmo se relacionar com Kate. Ao menos até Kate descobrir que Evan está tendo um caso, se separar do marido, e Bec se tornar a única pessoa em sua vida.
A partir daí, a cuidadora improvável se torna uma personagem manos bosta (embora ainda bastante bosta), e a relação entre as duas floresce de maneira mais crível, e até doce, enquanto Bec ajuda Kate a se soltar e aproveitar as pequenas coisas, e Kate supre a jovem com um senso de constância e responsabilidade.
A qualidade das atuações varia bastante entre os personagens e seus intérpretes.
Hillary Swank, claro, está ótima. Ainda que tenha seus arroubos de sofrimento hospitalar, ela dá show ao mostrar sofrimento quando se percebe incapaz de apertar a mão de alguém, ou quando a vestem de xadrez à revelia de sua vontade.
Emmy Possum é uma gracinha, coisa mais querida, mas sua personagem é mal-escrita demais para gerar a empatia que o filme pede.
Muito mais crível em sua falibilidade é o marido vivido por Duhamel (que se esforça), enquanto o Sr. Cara Legal Will vivido por Jason Ritter é carente de amor-próprio e auto-respeito pra ser levado a sério. Melhor sorte para Ernie Hudson e Loretta Devine, que interpretam um casal que também convive com ELS de maneira adorável.
O elenco ainda conta com uma ponta de Marcia Gay-Harden, especializando-se em papéis de megeras, Frances Fisher, Ed Begley Jr., Julian McMahon e Ali Larter.
Em suma, Um Momento Pode Mudar Tudo é um produto descartável, com um começo que carece de sutileza, personagens com níveis heterogêneos demais de profundidade, um roteiro irregular Jordan Roberts e Shana Feste, e uma direção ineficiente de George C. Wolfe.
Por sorte, o segundo e o terceiro atos do filme, mais uma química razoável entre a ótima Hillary Swank e a delicinha Emmy Possum, seguram a onda, garantindo que o filme não seja perda total.
Assista se A Teoria de Tudo não estiver disponível na locadora.

"-Por que é que nós queremos aqueles que não nos veem, ao invés daqueles que veem?"

quinta-feira, 2 de julho de 2015

O Pacote Completo


Não houve palavra alguma. Nada.
Estavam de frente um para o outro, ele despido com a calça ainda presa a um de seus tornozelos, ela com o vestido reduzido a um laço em volta da cintura e sandálias de salto alto, ajoelhados sobre o colchão se beijando.
O pau dele roçava-lhe entre as pernas, e, de súbito, ele a segurou pela cintura e a virou de costas para si, colocando-a de quatro.
Colocou a mão esquerda espalmada sobre a bunda dela, empinada para cima, e com a direita, direcionou-se para dentro dela, molhada, ensopada, para recebê-lo em seu calor.
Agarrou-lhe a cintura com as duas mãos, uma de cada lado, e se pôs a mover o quadril.
Já haviam feito sexo antes, em várias posições. Inclusive de quatro, mas ali, naquele momento, algo estava diferente.
Uma sensação de urgência sugerida pelas roupas ainda presas aos corpos dos dois, que suavam e arfavam.
Havia algo ali que o fez perceber-se, literalmente, inapelavelmente, comendo a mulher a quem amava.
Não fazendo amor, fazendo sexo, ou transando.
No ato de colocá-la de costas e começar a penetrá-la com vontade e em silêncio, o sexo bonito e cúmplice que eles já haviam feito, ganhou um tempero animalesco que ainda não havia sido experimentado por ele.
Agora ali estava ele, agarrado à cintura miúda dela, sentindo o perfume gostoso que ela sempre usava se desvanecer em meio ao cheiro salgado de algo que não podia ser descrito em outra palavra que não uma deliciosa trepada.
Ela, tão tímida e delicada, ajeitava maliciosa as coxas firmes para se empinar mais, deixando as nádegas entreabertas de modo que ele podia ver seu pau entrando e saindo de dentro dela enquanto a segurava pela cintura com uma das mãos e pelo ombro com a outra para chegar mais fundo e meter mais forte.
Sentia a pele dela suando sob sua mão, a maciez quente de sua bucetinha de veludo ao redor do pau duro.
Estava na iminência de gozar, mas havia durado tão pouco.
Eles que eram tão das preliminares, bó, haviam começado a foder com sofreguidão quase de pronto ainda no sofá, mal haviam ficado brevemente com ele por cima na cama.
Foi fazendo movimentos mais lentos até parar por completo.
Ela olhou para trás, confusa.
-Precisamos parar, meu amor. - Ele disse. -Tô quase gozando. - Confessou.
Ela, a exemplo do que ele havia feito ao virá-la de quatro, também não disse palavra. Grunhiu brevemente, e se pôs a rebolar o quadril empinado de encontro ao púbis dele, contra seu pau duro dentro dela.
Ele perdeu a vergonha e o escrúpulo. Segurou-a com firmeza pela cintura e meteu com vontade. Não precisou de muito tempo. Cinco minutos, talvez menos, e explodiu em gozo dentro dela. Sentindo a viscosidade da própria porra se misturar à sua farta lubrificação natural.
Não conseguiu nem tombar para o lado. Caiu sobre os joelhos, arrancando o satisfeito pau de dentro dela.
Ela se ajoelhou, deliciosa, sentando-se sobre as pernas, com a bundinha virada pra ele, e enquanto desenrolava o vestido da cintura, o olhou, e sorriu o sorriso mais doce do mundo.
"Fodeu.", pensou ele, imaginando se alguém já se sentira tão enternecido após uma trepada com tanto tesão. "É o pacote completo.".

Ainda Assim...


Acorda de madrugada. A garganta dói.
Arranha tanto que parece as paredes da casa do Wolverine. Tem a sensação de que a mucosa do céu da boca descolou. Também dói. Tenta suspirar, mas o ar não passa pelas narinas. Óbvio que o céu da boca dói. O nariz tampado o obrigou a respirar pela boca. Imagina se os vizinhos do quarto andar ouviram seus roncos. Supõe que sim.
Senta na cama. A barriga reclama. Não é fome. É dor muscular. Decorrente da tosse. Calça as pantufas para ir ao banheiro, esbarra na banqueta coberta de lenços de papel ranhentos amassados. Anda até o banheiro. Cada passo reverbera na cabeça.
Nevralgia da grossa.
Abre a porta do banheiro, o ar que encana da janela basculante parece importado sem escalas de Hoth, o planeta de gelo de Star Wars.
"Está tão frio assim ou estou com febre?".
Vai fazer xixi. Tem a impressão de que o castraram durante o sono, de tão encolhido que está o pênis.
"Estou com febre.".
Olha pra baixo enquanto a urina sai do acanhado membro.
"Definitivamente com febre.".
Dá descarga, lava as mãos. A água o açoita gélida. Bochecha um bocado de água para aliviar a dor no céu da boca. Tiritando de frio.
Seca as mãos. Apaga a luz. Fecha a porta. Corre pro quarto.
Esbarra no banquinho, derrubando mais lenços amassados. Pinga um par de gostas nasais em cada narina, assoa o nariz com vontade. Tira as pantufas, ajeita as meias. Deita, se cobre ligeiro, abafado até o pescoço.
Antes de adormecer de novo pensa:
"Ainda assim... Mil vezes melhor do que o verão.".

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Resenha Game: Batman - Arkham Knight


Se existe um lugar onde os fãs do Batman de qualquer corrente podem se sentir à vontade para amar seu personagem sem encontrar qualquer tipo de mazela, esse lugar é a série de games Arkham.
Ao menos os capítulos desenvolvidos pela Rocksteady, Arkham Asylum e Arkham City, já que o prequel da Warner Montreal, Arkham Origins, não chegou a ser unanimidade como seus predecessores.
O estúdio inglês, aliado ao gênio criativo de Paul Dini, um dos grandes escritores de super-heróis da DC contemporânea, criaram um retrato do Batman à prova de fãs chatos.
Como o leitor deve saber, existem inúmeros fãs chatos do Batman.
Existem as pessoas que preferem essa ou aquela interpretação do homem morcego, e que torcem o nariz para as demais.
Existem os que não gostam do Batman falastrão de Frank Miller, os que odeiam George Clooney, Val Kilmer e Joel Schumacher pelo que eles fizeram ao Batman, aqueles que tem a cara de Adam West em um alvo de dardos na porta do banheiro e aqueles que se ouvirem falar sobre "a maldição do morcego" de Allan Grant, mais uma vez, vão perder as estribeiras. Existem, pasmem, até os caras que avacalham os Batman de Christian Bale e Christopher Nolan por ser "pouco Batman".
Há fãs de todos os tipos, mas nenhum deles têm do que se queixar com relação ao Batman da série Arkham.
O homem morcego engendrado pela equipe criativa do game é a quintessência do que o Batman deveria ser, é simplesmente perfeito. A combinação equilibrada dos talentos dedutivos, do artista marcial, da utilização dos gadgets, à aplicação de ciência embaladas num traje de morcego com o vozeirão de Kevin Conroy é Batman no pico do que significa ser Batman.
Isso havia ficado muito claro em Arkham Asylum e Arkham City, e teve seus relances no bom Arkham Origins, e explicava a ausência de unhas nas mãos dos nerds conforme se aproximava a data de lançamento (adiada duas vezes) de Batman - Arkham Knight, prometido último capítulo da série, que elevaria a fórmula "Batman enfrenta uma noite tenebrosa" à enésima potência quando toda a cidade de Gotham é feita refém pelos inimigos do morcego.
Passou-se um ano desde que as muralhas de Arkham City foram derrubadas. O crime caiu a índices baixos como nunca antes vistos, e toda a cidade mergulhou em um inesperado mar de tranquilidade.
Mas isso não dura.
O Espantalho, Jonathan Crane, às vésperas do feriado de Halloween, comete um hediondo atentado na cidade, e promete que é apenas uma gota no oceano. O vilão planeja detonar uma bomba com a mais nova e poderosa versão do seu gás do medo na cidade de Gotham.
As autoridades agem rápido, evacuando mais de seis milhões de pessoas em vinte e quatro horas, deixando na cidade apenas policiais, bombeiros, criminosos, e o Batman.
O herói inicia sua jornada rumo ao inferno engendrado pelo Espantalho, que não está agindo sozinho em sua empreitada nefasta.
O vilão uniu forças com o Pinguim, Duas Caras, e um novo antagonista, um misterioso líder militar conhecido apenas como Arkham Knight. Um mercenário de passado sombrio que traz seu exército particular à cidade de Gotham para destruir o Homem Morcego de uma vez por todas.
Como desgraça pouca é bobagem, o maior detetive do mundo ainda precisa lidar com o retorno de um vingativo Charada, constantes aparições de uma criatura conhecida como morcego-humano, incêndios criminosos perpetrados pelo Vaga-Lume, o desejo de vingança de Harley Quinn, além de um sem número de atentados, sequestros, e participações de criminosos diversos que se aproveitam da Terra de Ninguém em que Gotham se tornou para realizar suas atividades sem a intervenção do lei.
Para suportar a violenta onda de crimes em uma cidade do tamanho de Gotham, o cruzado encapuzado precisa utilizar em sua totalidade o seu arsenal de tecnologia, que inclui todos os aparelhos vistos nos games anteriores, mais algumas novidades como o sintetizador de voz, o auxílio da Mulher-Gato, do Robin, e de Asa Noturna, mais o apoio logístico e técnico da Oráculo Barbara Gordon, Alfred, e Lucius Fox, além do que prometia ser a grande novidade do game:
O novo Batmóvel, uma versão revista e remodelada do bólido visto brevemente no início de Arkham Asylum.
Com esse auxílio, Batman precisará enfrentar a mais longa de todas as noites, conforme luta contra os monstros que planejam destruir seu mundo, e contra os seus próprios demônios pessoais, espreitando nos mais obscuros recantos de sua mente, uma batalha que pode custar a vida do guardião de Gotham City.
Espetacular.
Como eu disse lá em cima, há muito pouco do que se queixar na série Batman Arkham, e o escopo de Arkham Knight, é uma soma de tudo o que havia de bom nos outros games e ainda mais.
A história, escrita por Sefton Hill e Martin Lancaster com apoio de Geoff Johns não fica muito atrás do que Paul Dini criou para os outros games da franquia, com um sentido de urgência palpável que aumenta a cada minuto conforme as reviravoltas na trama se empilham. Arkham Knight é uma tremenda história de Batman, em vários aspectos, superior e até mais corajosa do que muita coisa feita nos quadrinhos e no cinema com o herói, e uma sequência diretíssima dos games anteriores (de todos eles).
A mecânica de combate baseada em contra-ataque do game foi melhorada, permitindo ao homem morcego enfrentar até cinquenta inimigos ao mesmo tempo. Essas lutas inacreditavelmente lotadas, acontecem sem que haja queda na taxa de frames do jogo. Uma variedade maior de tipos de inimigos foi colocada nos mapas, capangas de escudo, eletrificados, armados e médicos que recuperam antagonistas nocauteados, tornando os desafios de predador mais... Bom... Desafiadores.
A presença da Mulher-Gato, Robin e Asa Noturna também adicionam um interessante elemento ao combate, a luta em parceria.
Quando um aliado está no campo de batalha com o Batman, com um botão, o player pode alternar o controle entre o morcego e um dos seus sidekicks, num balé que geralmente resulta em nocautes em dupla que são muito bonitos e parecem ter sido arrancadas das páginas dos quadrinhos.
Mais prática, outra novidade, os Fear Multi Takedown Moves, permitem ao Homem Morcego cair matando em cima de até 5 inimigos armados sem sofrer nenhum arranhão, oferecendo uma série de novas ferramentas para instilar o terror no coração da bandidagem.
Mas e a grande novidade do game? E o Batmóvel?
Bueno... Confesso que temia um pouco pelo excesso de holofote sobre o mais icônico carro da cultura pop.
Assim como deve ter acontecido com várias outras pessoas, eu fiquei receoso de que Batman - Arkham Knight fosse se tornar Batmobile: Arkham Knight.
E de certo modo, é o que acontece.
O poderoso "tanque de bilhão de dólares" (visivelmente inspirado no Batmóvel de Batman: O Cavaleiro das Trevas, tanto o quadrinho quanto o filme, inclusive com ecos da Bat-Pod) propelido por foguete, capaz de arrancar árvores, postes e colunas de seu caminho sem reduzir a velocidade, de esmerilhar a fachada de edifícios como se nada estivesse acontecendo e de reduzir carros e até tanques inimigos à sucata em uma batida está presente em quase metade do jogo. Mais do que isso, o batcarro se torna uma das principais ferramentes para resolver puzzles, e um elemento fundamental para transitar entre as três ilhas do imenso mapa de Gotham (cinco vezes maior do que o mapa de Arkham City e sem nenhum sistema de viagem rápida), e para os combates entre tanques (?).
Sim. Tu leu certo:
Combate entre tanques.
Veja, Gotham foi sitiada pelas forças do Arkham Knight, um líder militar fodelão, e o espaço nas ruas é partilhado por policiais, bandidos, e pela milícia do Knight, formada principalmente por pequenos tanques de combate remotos.
Esses veículos militares não-tripulados são a principal oposição nas ruas (que, diga-se de passagem, jamais estiveram tão vivas e cheias de gente), e um prato cheio para o modo de combate do Batmóvel.
Com o toque de um botão, o carro altera sua configuração, tornando-se um tanque de guerra armado com metralhadoras e um canhão de 60 mm. capaz de demolir a blindagem leve dos tanques inimigos. Mais do que isso, nesta configuração, o veículo se torna mais lento, mas muito mais manobrável, sendo capaz de rodar em todas as direções, se esquivar de projéteis inimigos e alcançar áreas que pareciam inacessíveis.
Além disso, o veículo é equipado com um lançador de arpéu e cabo de aço, tornando-o capaz até mesmo de escalar paredes.
O Batmóvel é a principal novidade do game, mas ao mesmo tempo, provavelmente seu maior defeito.
Por mais divertido que seja arrasar tudo em seu caminho pilotando o tanque de corrida do Batman, o veículo é extremamente contraditório para com o tipo de Batman predador sombrio que vemos em todo o resto do jogo (e nos games anteriores). Mais do que isso, o veículo blindado pessoal armado até os dentes explodindo tanques inimigos e destroçando carros e prédios, por mais "não letal" que seja, parece ferir os princípios do homem que odeia armas de fogo, aqueles "objetos idiotas e covardes".
Por sorte, esse estranhamento e o excesso de uso do Batmóvel são diluídos na diversão de uma história imersiva e de dezenas de missões secundárias, em sua maioria, excelentes enquanto percorremos um mundo aberto gigantesco.
Os gráficos são um disparate, pela primeira vez desde que comprei o PS4, tive a sensação inequívoca de estar jogando um game da nova geração. Texturas, profundidades, movimento, efeitos de luz, tudo é perfeito graficamente falando em Arkham Knight dos arranha-céus ladeados por estátuas abissais e luzes de neon, ao modo como o vento infla a capa do Batman quando ele plana, ou a forma como as gotas de chuva escorrem pelo capuz.
O trabalho de dublagem, encabeçado pelo Batman definitivo Kevin Conroy, mais papas como Troy Baker e Nolan North, além do (regente Denethor) John Noble, soa bem demais aos ouvidos, tanto que nem me atrevi a ver a versão em português (Acertadamente conduzida por dubladores profissionais, como Ettori Zuim e Manolo Rey, sem extravagâncias como Roger e Pitty.).
Se Arkham Knight realmente for o jogo derradeiro da Rocksetady a frente da Bat-franquia, será motivo para luto, mas ao mesmo tempo, a série termina com pompa e circunstância, num jogo excepcionalmente escrito e executado à perfeição.
Um experimento em larguíssima escala, tanto em termos de tamanho, quanto de possibilidades de gameplay, quanto de quantidade de personagens e coragem na hora de explorar os aspectos mais sombrios da psiquê do herói, e aprofundar de maneira jamais vista sua relação com seu arqui-inimigo.
Não é apenas bom. É obrigatório.

"A profecia se cumpriu. Gotham queima."