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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Resenha Cinema: Sicario - Terra de Ninguém


A sequência de abertura de Sicario - Terra de Ninguém, já deixa bem claro como será o resto do longa.
O recado é dado pelo diretor Denis Villeneuve, de Incêndios, Os Suspeitos e O Homem Duplicado, com uma sequência de ação, onde a agente do FBI Kate Macer (Emily Blunt) e sua equipe, invadem uma casa no subúrbio de Chandler, no Arizona á procura de uma vítima de um sequestro. A ação crua que se segue não resulta na libertação de um refém, mas leva à descoberta de um defunto emparedado na casa, e uma breve investigação, logo apresenta dezenas de cadáveres ocultos nas paredes da residência.
Enquanto a equipe de Kate e a polícia local periciam a casa, uma bomba explode, matando dois agentes e deixando claro que a violência dos cartéis de Juarez, México, cruzou a fronteira.
A tenacidade e liderança de Kate chamam a atenção de um esforço inter-agências, e ela é pessoalmente escolhida por um funcionário do Departamento de Justiça (ou seria da CIA?) chamado Matt Graver (Josh Brolin).
Matt convida Kate a participar da força-tarefa que sairá no encalço dos responsáveis pela morte dos agentes, e ela, contrariando os avisos de seus chefe Dave Jennings (Victor Garber), mergulha de cabeça na possibilidade de encontrar os responsáveis pela armadilha.
Kate segue Matt e seu misterioso companheiro Alejandro (Benicio Del Toro) aguardam Kate em uma base aérea, de onde ela acredita estar indo para El Paso, no Texas, mas na verdade ela e a equipe estão cruzando a fronteira rumo a Juarez, território dos cartéis, para apreender um chefão do tráfico, e levá-lo aos EUA.
Essa sequência, sozinha, já vale o ingresso de Sicario. Após apanhar o pacote, o comboio é forçado a parar na fronteira entre México e Estados Unidos, cada carro ao redor dos SUVs pretos do DEA e da Força Delta são soldados do tráfico em potencial. A tensão escala em um ritmo vertiginoso, e culmina com um tiroteio cru e brutal, que contraria tudo o que Kate sabe a respeito de procedimentos para confrontação armada em meio a civis.
Questionando toda a natureza da operação na qual se envolveu, Kate logo descobre que já se aprofundou demais no mundo de Matt e Alejandro para sair, ainda mais a partir do momento em que se tornou, ela própria, um alvo para os traficantes.
Mais do que isso, a agente percebe que, saltar do barco, a deixaria sem entender o verdadeiro propósito da operação em que se envolveu.
Cabe a Kate dançar conforme a música, e com seu parceiro Reggie (Daniel Kuluyya), tentar sobreviver ao arriscado movimento vindouro.
Ótimo filme.
Denis Villeneuve manja do riscado. O diretor de Incêndios e Os Suspeitos já tinha deixado bem claro no longa estrelado por Hugh Jackman que sabe como conduzir um thriller e criar uma atmosfera de tensão.
Ainda que o roteiro de Taylor Sheridan tenha alguns equívocos no tocante ao desenvolvimento da protagonista (Kate não tem, na verdade, nenhuma espécie de crescimento ao longo da história) e problemas de ritmo (o segundo ato se arrasta como uma lesma), o filme se sustenta graças à tensão palpável de certas cenas.
Tudo o que acontece na sequência da fronteira, por exemplo, tem uma construção brilhante de atmosfera em detalhes que vão dos corpos dependurados nas ruas à constante expressão de confusão de Kate, tudo amparado pela edição de Joe Walker e a fotografia esperta de Roger Deakins.
Além da parte técnica acima da média, há um excelente trabalho de elenco. Emily Blunt manda bem, se a ideia do roteiro é demonstrar uma personagem central humana, forte e frágil na mesma nota, envolvida em um jogo além de sua compreensão, e ainda assim, disposta a seguir as regras e permanecer em paz com sua consciência, essa personagem só não se torna enfadonha porque a atriz britânica lhe dá lastro.
Josh Brolin também está ótimo. Ainda que abaixo do seu trabalho como o policial Bigfoot Christensen em Vício Inerente, o agente Matt Graver dá o recado como o grande escroto que sabe infinitamente mais do que quer compartilhar, e parece sentir prazer em conduzir os outros pelo escuro aos tropeços.
Ainda assim, por melhores que estejam Blunt e Brolin, o dono do filme é Benicio Del Toro.
O ator porto-riquenho entrega sua melhor atuação em anos. Alejandro é uma presença magnética na tela, e seus gestos econômicos e tom de voz murmurante característicos do ator deixam claro que há algo prestes a explodir no personagem que, ao final do longa, tem seu verdadeiro propósito explicado, e mostra que a audiência esteve olhando a história pelo prisma errado todo o tempo. Nesse momento, Sicario retoma o ritmo apresentado no primeiro ato, e se torna um ótimo filme. Um filme sobre a constante ameaça de explosões de violência, e sobre escolher o menor de dois males.
Vale muito a ida ao cinema.

"-Você está me perguntando como um relógio funciona. Por enquanto, apenas olhe a hora."

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Resenha Blu-Ray: A Dama Dourada


Se houveram filmes esse ano que eu simplesmente não tive vontade de assistir no cinema (Terremoto: A Falha de San Andreas e Jurassic World, por exemplo), houveram outros que eu estava com bastante vontade de ver na tela grande, mas não consegui devido ao circuito restrito em que foram lançados.
Nesse segundo grupo, encontra-se esse A Dama Dourada, que eu não pude ver no cinema, mas acabei encontrando ontem no Netflix.
A Dama Dourada narra a história de Maria Altmann (Helen Mirren), uma refugiada austríaca do Holocausto que, aos oitenta e dois anos de idade, descobre, em uma carta da irmã recém falecida, que possui propriedade sobre pinturas de Gustav Klimt, incluindo a "Mona Lisa da Áustria", Retrato de Adele Bloch-Bauer, referido apenas como "A Dama Dourada" do título.
O quadro, um retrato encomendado da tia de Maria, Adele, por seu tio, tornou-se, mais de cinquenta anos após o Holocausto, uma das grandes atrações do Museu Belvedere, em Viena.
Tentando reaver não apenas o que ela julga ser sua posse, mas também alguma medida de justiça frente à humilhação, perseguição, morte e roubo perpetrados pelos nazistas na Áustria durante a Segunda Guerra, Maria recorre a Randol Schoenberg (Ryan Reynolds).
Schoenberg, um jovem advogado de ascendência austríaca, sem nenhuma experiência em restituição, recém começando em um emprego numa grande firma de direito após quase falir tentando abrir o próprio escritório concorda em "dar uma olhada" no caso de Maria. Inicialmente sem grandes expectativas com relação ao caso, Randol se empolga conforme descobre o valor das pinturas em questão, estimadas em mais de cem milhões de dólares, e aceita ajudar a senhora Altmann a tentar recuperar sua herança.
Ao chegar à Áustria, porém, os dois descobrem que a restituição de obras de arte em geral, é mais complicada do que imaginavam, e a de uma pintura popular como O Retrato de Adele Bloch-Bauer, considerado um tesouro nacional na Áustria, pode ser ainda mais.
Conforme vão vendo sucessivos obstáculos se interporem em seu caminho, Maria e "Randy" recebem ajuda do jornalista austríaco Hubertus Czernin (Daniel Brühl), talvez a única pessoa na Áustria inclinada a ajudar a octogenária judia.
É graças a Hubertus que Randy e Maria conseguem acessar arquivos que embasam a pretensão de posse da refugiada, mas após uma curta deliberação, a comissão de restituição nega o pedido de Maria, a aconselhando a deixar pra lá, ou ir à corte, um empreendimento legal incrivelmente custoso nos tribunais austríacos.
Se m alternativas, os dois decidem ir embora, mas não sem antes prestar seus respeitos no memorial do Holocausto, onde Randy finalmente percebe que há mais em jogo no caso de Maria do que apenas o dinheiro que ela poderia ganhar com as pinturas.
De volta aos EUA, o advogado encontra precedentes para acionar o governo da Áustria em tribunais norte-americanos, levando o caso até a suprema corte, enquanto os austríacos criam obstáculo sobre obstáculo para atrasar o processo na esperança de quê Maria morra antes do julgamento da última instância.
Com isso em mente, Randy se vê sem alternativa, exceto levar o caso à uma mediação em território austríaco, mas será que Maria terá disposição para retornar à Áustria uma vez mais, revivendo todas as amargas memórias da ocupação nazista?
E se ela não tiver essa força, o que acontecerá a Randy, que arriscou sua carreira e o sustento de sua família em nome do caso?
O longa de Simon Curtis (o mesmo de Sete Dias Com Marilyn) tinha um grande potencial, contando uma história sobre uma das facetas menos exploradas da Segunda Guerra Mundial (ou "menos bem" exploradas), o grande saque promovido pelos nazistas nas nações ocupadas pelo terceiro reich. Conforme o recordatório no final de A Dama Dourada nos lembra, mais de cem mil obras de arte roubadas pelos nazistas durante o conflito, permanecem fora das mãos de seus verdadeiros donos.
Infelizmente, a exemplo de Caçadores de Obras Primas, outro filme com o mesmo viés, A Dama Dourada também falha em se tornar um grande filme, a despeito de ter uma grande história pra contar e uma grande protagonista, uma Helen Mirren na ponta dos cascos.
O roteiro de Alexi Kaye Campbell abusa de dois expedientes, o sentimentalismo e flashbacks, e diminui o filme. Só não diminui mais porque nos referidos flashbacks, a Dama Dourada encontra sua outra atuação acima da média, quando Tatiana Maslany dá vida à versão jovem de Maria, incorporando com estilo os trejeitos o sotaque e o timbre de Mirren, e com muito mais sorte que Reynolds, que, apesar do esforço, falha em manter o ritmo de Mirren, assim como quase todo o restante do elenco que inclui uma acabada Katie Holmes, Max Irons, Charles Dance, a Faora Ul de O Homem de Aço Antje Traue, Elizabeth McGovern e mais Jonathan Pryce (esse, sim, roubando a breve cena em que aparece).
Apesar de seus problemas, porém (que ainda incluem a caracterização demasiado vilanesca das autoridades Austríacas), A Dama Dourada tem mais sorte do que o totalmente equivocado Caçadores de Obras Primas, conseguindo criar um filme mais agradável, e que, ainda que raso, tem seus bons momentos ao produzir uma dinâmica interessante entre os protagonistas a despeito do abismo de estofo dramático entre eles.
Com enxutos 109 minutos, e disponível no Netflix, não há razão para não se assistir A Dama Dourada.

"-Na primeira vez, eu vim por mim mesma. Agora, eu vim por ele."

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Rapidinhas do Capita


E a revista Empire desse mês saiu com capa e recheio dedicados a Esquadrão Suicida, filme baseado na série de quadrinhos da DC sobre super-vilões utilizados em missões suicidas pelo governo dos EUA em troca do perdão de suas penas.
A capa estampa a versão Jared Leto do Coringa, o Príncipe Palhaço do Crime, revelando ainda mais tatuagens no corpo do vilão, e acrescentando ao menos o sobretudo roxo ao visual absolutamente excessivo e equivocado do personagem:


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O miolo da publicação trouxe novas fotos do longa, incluindo imagens da doutora Harleen Quinzel (Margot Robbie) antes de sua transformação em Arlequina.


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Esquadrão Suicida, dirigido por David Ayer, estréia em agosto de 2016. Além de Leto e Robbie, o elenco ainda conta com Will Smith (Pistoleiro), Karen Fukuhara (Katana), Joel Kinnaman (Rick Flagg), Adam Beach (Amarra), Cara Delevigne (Magia), Jay Courtney (Capitão Bumerangue), Adewale Akinnuoye-Agbaje (Crocodilo), Jay Hernández (El Diablo), Viola Davies, como Amanda Waller e Scott Eastwood, em papel não confirmado, mais participação especial de Ben Affleck, no papel do Batman.

Resenha DVD: Terremoto - A Falha de San Andreas


2015 vem sendo um ano atípico pra mim, em termos de cinema. Se no ano passado eu andei sem paciência para ver filmes nas estreias e pré-estreias, esse ano, andei sem paciência para ir ao cinema... Acho que foi uma combinação de fatores... Um pouco da minha habitual amargura somada à dificuldade de se assistir um filme sem ouvir conversas paralelas de idiotas mal-educados ou ser perturbado pelo celular de um débil-mental incapaz de desgrudar os olhos do próprio celular, mais a qualidade duvidosa das produções de grande orçamento recentes, fizeram de 2015 o ano em que eu provavelmente menos fui ao cinema na última década, com uma média de duas idas à sala escura por mês.
Nesse final de semana, resolvi remediar isso, assistindo alguns dos filmes que deixei passar na telona. Os dois escolhidos foram Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, uma tremenda decepção, especialmente em se considerando o hype e a bilheteria do filme, e o outro esse Terremoto - A Falha de San Andreas, estrelado por Dwayne The Rock Johnson.
No longa conhecemos o piloto de resgate do corpo de bombeiros de Los Angeles Ray Gaines (The Rock), um perito com histórico de voo no Afeganistão que já somou um sem-número de resgates civis e militares em sua bem-sucedida carreira.
Em sua vida pessoal, porém, Ray não é tão bem-sucedido. Após a morte de sua filha mais velha, Mallory, Ray se afastou da esposa Emma (a jeitosa Carla Gugino), mas tenta manter contato com a filha mais nova, Blake (A deliciosa Alexandra Daddario), prestes a entrar na faculdade.
Enquanto Ray descobre que sua esposa está prestes a se mudar para a casa do namorado ricaço Daniel (Ioan Gruffudd), o sismólogo Lawrence Hayes (um subaproveitado Paul Giamatti) e seu colega Kim (Will Yun Lee) descobrem uma tecnologia de monitoramento sísmico capaz de prever terremotos de grande magnitude, uma descoberta que vem bem a calhar já que um terremoto destrói a represa Hoover, prenunciando um evento cataclísmico que irá mexer com toda a falha de San Andreas, colocando em perigo toda a califórnia.
Quando a primeira onda de devastação atinge Los Angeles com o maior sismo já ocorrido na cidade, Lawrence avisa à população que se prepare, pois o evento que ocorrerá em São Francisco, para onde Blake viajou com Daniel, poderá ser o maior terremoto já registrado na História da humanidade.
Sem pensar duas vezes, Ray pega o helicóptero do resgate de Los Angeles, e parte para São Francisco com Emma para resgatar Blake (privando a população da cidade que paga seu salário de um importante recurso em um momento de crise, mas ei, é o The Rock), precisando enfrentar todos os obstáculos de um estado destruído pelas forças da natureza.
Enquanto Blake, junto com os irmãos Ben (Hugo Johnstone-Burt) e Ollie (Art Parkinson), tenta chegar ao ponto de encontro com Ray enquanto a cidade literalmente desmorona ao redor dos três.
Terremoto - A Falha de San Andreas é um filme que me despertou sentimentos de alegria e tristeza. Eu fiquei alegre por não ter desperdiçado o dinheiro de um ingresso de cinema vendo essa porcaria, mas triste por ter pago a locação.
Diser que o filme é um clichê não faria justiça ao longa de Brad Peyton (dos insossos Como Cães e Gatos 2: A Vingança de Kitty Galores, e Viagem 2: A Ilha Misteriosa). O filme, escrito por Carlton Cuse, Andre Fabrizio e Jeremy Passmore é uma sequência de clichês repetidos e requentados que se empilham com tanta desfaçatez que fica simplesmente impossível levar o filme a sério.
Toda a cartilha do filme catástrofe é seguida à risca:
Pai heroico e infalível com passado doloroso:
Confere.
Casal afastado se reaproximando na tragédia:
Tá lá.
Garota incrivelmente gostosa, mas engenhosa perdendo roupas conforme o filme anda:
OK (muito OK, diga-se de passagem).
Covardão safado deixando um dos personagens centrais na mão:
Check.
Moleque espertinho sempre com uma observação engraçadinha na ponta da língua:
Tem.
Rapaz boa-pinta de coração puro e cheio de boa vontade, mas incapaz de superar o prodígio físico do pai super-protetor:
Sim.
Cientista brilhante com uma descoberta salvadora:
Claro.
E se tu for lembrando de outros personagens e situações que sempre se encontra nesse tipo de filme, pode apostar, elas estão presentes em Terremoto - A Falha de San Andreas.
Nem mesmo a imensa sequência de cenas de destruição massiva e impiedosa impressionam. Tudo o que acontece em Terremoto já foi visto em O Dia Depois de Amanhã ou 2012. Todas as cenas parecem cópias de algo que Roland Emmerich já fez. Mesmo o carisma de The Rock se torna inócuo, já que, a maior parte do tempo, a situação em que se encontram Blake, Ben e Ollie é mais cabeluda do que a experimentada por Ray e Emma, de modo que o filme é um grande equívoco.
Talvez, na tela grande de um cinema I-Max ou 3-D, Terremoto: A Falha de San Andreas tenha sido uma montanha-russa divertida e barulhenta. Assistindo em casa, o filme perde o que talvez fosse seu único trunfo, e se torna apenas mais um filme desastre cheio de efeitos visuais para os quais ninguém mais liga, e atuações modestas de um elenco sem grandes luzes.
Absolutamente dispensável.

"-O que vai acontecer em São Francisco é um monstro muito maior..."

sábado, 24 de outubro de 2015

Resenha DVD: Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros


Eu fui uma daquelas crianças que, em 1993, foi ao cinema assistir Jurassic Park, de Steven Spielberg, quatro vezes (bendita a minha vó, que tinha paciência pra me levar no cinema repetidas vezes pra assistir O Exterminador do Futuro 2, RoboCop 2, As Tartarugas Ninja 2...), e depois gastou o VHS do filme, aquele cuja caixa preta imitava um fóssil escavado na pedra.
Eu comprei livros de dinossauros, revistas de dinossauros que vinham em fascículos semanais e montavam um esqueleto de dinossauro que brilhava no escuro, dinossauros de borracha, e fiz velociraptores de massa de modelar com olhos de contas de um colar que eu arrebentei intencionalmente com único intento que meus raptores tivessem olhos mais expressivos (desculpe, mãe).
Eu joguei Geleca (um primo ancestral da Amoeba que se encontra nas lojas de brinquedos hoje em dia) escura na cara da minha irmã imitando o dilofossauro, e andei pelo corredor da escola com os braços encolhidos como se fosse um Tiranossauro Rex, eu cheguei a ficar rouco aperfeiçoando minha imitação do rugido do rei dos dinossauros.
Mas os anos se passaram. Em 1997 fui assistir Jurassic Park: O Mundo Perdido no cinema, e talvez seja o filme de Steven Spielberg do qual eu menos gosto. Em 2001, fui ao cinema ver Jurassic Park III, e vou confessar que, apesar dos pesares (e eram vários pesares) o filme não me ofendeu, mas também não chegou nem perto de me deslumbrar da maneira que o original havia feito.
Após a desastrada incursão do doutor Alan Grant e da família Kirby pela Ilha Sorna, eu achei que os dinossauros redivivos de Michael Crichton já haviam dado o que tinham pra dar.
Mas ei!
Estamos naquela fase da crise criativa, e tudo mais. Uma franquia conhecida é sempre mais atraente para os grandes estúdios e Jurassic Park é uma marca que obviamente não seria desperdiçada pela Universal, de modo que nesse ano de 2015, os dinossauros (tu nunca, mas nunca mesmo, me ouvirá falando "dino".) voltaram.
Jurassic World mostra o sonho de John Hammond realizado. A Ilha Nublar, na Costa Rica, abriga o parque Jurássico, chamado Jurassic World em respeito às vítimas do parque original (ainda que o logotipo seja o mesmo e, o nome, bastante semelhante a despeito de a maioria dos dinossauros que estrelam o longa serem do período Cretáceo).
O Jurassic Worl é um empreendimento extremamente bem sucedido, operando há mais de dez anos sem nenhum tipo de incidente. A petfarm de bichos pré-históricos recebe mais de vinte mil visitantes por dia, e fatura milhões para seu idealizador, o oitavo homem mais rico do mundo, o bilionário indiano Masrani (Irrfan Khan).
Sob a supervisão da executiva Claire (Bryce Dallas-Howard, reavivando a minha paixonite por ela dos tempos de A Vila), o parque segue funcionando e procurando novas maneiras de atrair turistas e investidores.
Além de seguir procurando por espécies para recriar e agregar ao catálogo do parque, os engenheiros genéticos da InGen, chefiados pelo doutor Henry Wu (B. D. Wong) procuram por novidades. Coisas maiores, mais ferozes, com mais dentes.
É desse objetivo que surge o Indominous Rex, uma super-espécie de dinossauro híbrido sendo experimentada para reaquecer o interesse dos visitantes.
No final de semana em que recebe patrocinadores em potencial, apresenta o Indominous Rex para o chefe e tem seus sobrinhos Grey (Ty Simpkins) e Zach (Nick Robinson) no parque, Claire precisa lidar com uma catastrófica quebra na segurança do parque, quando o super-carnívoro híbrido escapa do confinamento e se mostra terrivelmente mais inteligente do que o esperado, deixando um rastro de destruição e morte pelo parque, e colocando a vida de todos na ilha em perigo enquanto procura por seu lugar na cadeia alimentar.
Com a Ilha Nublar e o Jurassic World indo para o inferno, Claire é obrigada a juntar forças com Owen (Chris Pratt), ex-fuzileiro naval convertido em tratador de velociraptores para salvar seus sobrinhos, perdidos no parque, bem como os milhares de visitantes em perigo conforme o sistema de segurança do Jurassic World despenca como um castelo de cartas, para o nefasto representante da InGen, Hoskins (Vincent D'Onofrio, o Dennis Nedri da vez), uma oportunidade única de testar as feras do parque como armas biológicas.
Jurassic World não é um filme, é uma montanha-russa.
Ainda que seja divertido e excitante em diversos momentos, com algumas sacadas bastante interessantes (O mosassauro devorando um grande tubarão branco num espetáculo com cara de Seaworld, fazendo referência, talvez, a Jurassic World abocanhando o que foi o primeiro blockbuster de verão do cinema: Tubarão, de Steven Spielberg? Os pterodáctilos atacando as pessoas no centro de compras do resort, uma alusão a Os Pássaros? O passeio por cenários do primeiro longa, ou o padoque do T-Rex, feito à imagem e semelhança do cenário da memorável sequência do T-Rex em Jurassic Park...), é impressionante como Jurassic World consegue fazer esses pequenos acertos e a escala de aventura se perderem em uma história que só anda porque os personagens fazem coisas estúpidas em sequência.
Tome o evento catalisador do filme: A fuga do Indominous Rex.
Ela só se dá porque os personagens centrais, em especial o herói do filme, agem como completos amadores jogando com a própria segurança e as normas de qualquer zoológico do mundo.
O herói do filme, por sinal, um Chris Pratt despido de todo o carisma e malemolência de Guardiões da Galáxia, tornado em um "badass" que dispara tantas frases de efeito quanto tiros de seu inútil rifle, é um personagem tão porcamente escrito quanto a mocinha.
Uma Bryce Dallas-Howard reduzida a um figurino de mulher de negócios que inclui um salto alto que parece feito sob medida para a piada dos "sapatos ridículos", mas que, no final das contas, é quem salva os sobrinhos, e o próprio herói no clímax do longa, apenas para encontrar a "redenção" por não ter filhos e priorizar a carreira em detrimento de relações pessoais.
Com personagens tão rasos quanto estereotipados, o que também vale para os irmãos, (um adolescente que só quer saber de meninas, mas também encontra seu momento ao cuidar do irmão mais novo, um fanático por dinossauros como Joseph Mazzelo do filme original) o técnico de informática que resolve ficar para trás (Jake Johnson) e o amigo estrangeiro do herói (Omar Sy), fica quase impossível ligar se alguém vai ser comido pelos dinossauros, ou não. Na verdade, nós até torcemos para alguém ser comido e termos uma surpresa em meio à mesmice de perseguições e desencontros.
Mesmo as estrelas genuínas do longa, os dinossauros, acabam gerando sentimentos dúbios. A audiência é levada a vê-los como a ameaça do filme, mas também, como criaturas que foram retiradas de seu ambiente e trazidas a um mundo absolutamente estranho, onde estão apenas seguindo seus instintos, então como lidar com o fato de que elas são exterminadas ao longo das duas horas de projeção pelos mocinhos?
Com um roteiro escrito a oito mãos por Rick Jaffa, Amanda Silver, Derek Connolly e mais o diretor Colin Trevorrow, e incapaz de se sustentar sem a burrice dos personagens, Jurassic World faz justiça a seu nome de parque temático, pois é isso que o longa é de fato:
Um passeio pelo legado de um grande filme de 1993. Não merecia estar em salas de cinema, mas sim em Orlando, na Flórida.
Assista se estiver apenas em busca de um par de horas de diversão descerebrada e barulhenta.

"-Essa gente não aprende..."

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Resenha Cinema: Ponte dos Espiões


Desde os anos setenta, Steven Spielberg vem edificando seu status como um dos mais importantes cineastas de Hollywood. A guinada de diretor de blockbusters para realizador "sério" (que aconteceu em A Cor Púrpura, de 85) apenas reforçou o papel de Spielberg como um dos diretores fundamentais do cinema contemporâneo.
Em Ponte dos Espiões, Spielberg se reúne com Tom Hanks e coloca outro tijolo nessa magnífica construção que é sua carreira. Novamente, na pilha dos acertos.
No longa, escrito por Matt Charman, Joel e Ethan Coen, conhecemos Rudolph Abel (Mark Rylance), um espião soviético preso pelo FBI.
O ano é 1957, e corre a Guerra Fria, o perigo comunista é tema de conversas e debates, e as crianças aprendem na escola a se agachar e esconder para sobreviver a um eventual ataque termonuclear soviético.
Abel se recusa a cooperar com as autoridades norte-americanas, e se prepara para encarar um julgamento que pode levá-lo à cadeira elétrica.
Surge Jim Donovan (Tom Hanks).
Donovan é sócio de uma grande firma de direito no Brooklyn, em Nova York. Ele é bom no que faz, e vem trabalhando com seguradoras nos últimos anos embora tenha experiência com direito criminal, incluindo o tribunal de Nuremberg, pós Segunda-Guerra. É por essa experiência que Jim é convocado pelo governo dos EUA para defender Rudolph Abel em seu processo.
Inicialmente relutante, Jim acaba aquiescendo ao pedido de seu chefe Thomas Waters (o veterano Alan Alda), e se apresenta para o trabalho.
Se originalmente tudo o que o governo norte-americano queria era dar a impressão de um processo legal pleno para Abel, um teatrinho para mostrar ao mundo, eles logo percebem que escolheram a pessoa errada para o protagonizar a farsa.
Jim não poupa esforços na tentativa de montar a defesa de Abel, invocando a constituição federal para tornar a busca no apartamento do espião ilegal, e argumentando que, politicamente, executá-lo seria um péssimo negócio para os Estados Unidos, tendo em vista que, na eventualidade de um espião americano ser capturado em território soviético, Abel se tornaria uma inestimável moeda de troca.
Mais do que isso, Jim luta pela vida de Abel, chegando a fazer uma apelação à Suprema Corte, porque entende que o agente é um bom homem.
Abel cumpria ordens com diligência, negou-se a mudar de lado com honradez, jamais traiu seu país... Que tipo de mensagem executar esse homem enviaria ao mundo?
Como o espectador fica sabendo em paralelo ao caso de Abel e Jim, um piloto americano a bordo de um avião U-2 é abatido e capturado em território soviético.
O jovem Francis Gary Powers (Austin Stowell) não é assumido como espião pelos EUA, assim como Abel não é assumido como espião (e sequer cidadão) pela URSS, ainda assim, uma troca é sugerida.
Após seus esforços para evitar a execução de Abel terem sido bem sucedidos, Jim é convidado pelo Departamento de Estado dos EUA a intermediar o diálogo com os soviéticos. Para o departamento é importante tanto que Jim não seja um agente do governo, quanto que ele não tenha nenhuma experiência em espionagem.
Jim, é claro, aceita a missão, e parte para Berlim Oriental para tratar com os russos. Não tarda, porém, para a trama se complicar quando um estudante de economia norte-americano é preso ao tentar passar de Berlim Oriental para Berlim Ocidental, e o governo da Alemanha Comunista passa a ver a detenção do jovem como uma oportunidade para ser oficialmente reconhecido como uma potência pelos EUA, ao mesmo tempo em que cairia nas graças da URSS ao recuperar um espião soviético em troca de um jovem estudante de Yale.
Acossado pela CIA, pela KGB, e pela polícia de fronteira da Alemanha Oriental, em um ambiente absolutamente hostil, Jim precisa resolver o que fazer na tentativa de trazer os dois americanos para casa, e devolver Abel ao seu país.
Um tema recorrente na filmografia de Spielberg, o "sujeito comum" sendo apresentado à uma situação extrema, e a enfrentando (Inclusive, esse é basicamente o tema no primeiro filme de Spielberg, Encurralado) permeia esse Ponte dos Espiões, e é novamente muito bem utilizado.
Para Spielberg, um herói não precisa usar capa e ter super-poderes, muito antes pelo contrário, para o realizador de E.T., o verdadeiro herói é o camarada comum que não se acovarda diante da dificuldade, e, ainda que não busque os grandes feitos, não perde a oportunidade de realizá-los.
Nesse papel, Tom Hanks mostra que não perdeu o jeito. Um dos melhores atores de sua geração, ele coloca a preguiça de lado e tem uma excepcional atuação, equilibrando a grandeza que alguns momentos do longa demandam, sem deixar de demonstrar a fragilidade e a dúvida que inevitavelmente atacariam uma pessoa de verdade diante de uma situação tão delicada.
O Jim Donovan de Spielberg e Hanks é o sujeito que não tem pudores em dizer ao chefe da KGB que um acordo só vai acontecer de uma determinada forma, mas também é o cara que tem seu casaco roubado sem reagir, e se resfria por andar desagasalhado no inverno alemão.
Esse equilíbrio entre o herói idealizado e o homem de carne e osso é mostrado de maneira sutil, mas eficiente na primeira tomada do filme, quando o espião Abel é apresentado de costas, mas vemos tanto seu reflexo no espelho, quanto o auto-retrato que ele pinta. O espião, por sinal, merece aplausos. O impassível personagem criado por Mark Rylance é excepcional. De palavras e gestos econômicos, ele é o sujeito que, da mesma forma que Donovan, se recusa a escolher a saída fácil, consegue ver o quadro completo, e se reconhece no advogado o suficiente para confiar nele.
Com a fotografia sempre excepcional de Janusz Kaminski (tornando a paleta de cores do longa ao mesmo tempo verossímil e cinemática), uma trilha sonora eficiente e discreta de Thomas Newman (O filme segue por quase meia hora sem nenhuma trilha, e quando começa, é com muita parcimônia, apenas em momentos chave.), uma edição espertíssima de Michael Kahn, e um trabalho de primeiríssima linha de um elenco que conta ainda com Amy Adams, Jesse Plemons, Scott Shepherd, Dakin Matthews, Peter McRobbie, Will Rogers, Mikhail Goreyov e Sebastian Koch, Ponte dos Espiões é mais um triunfo de Spielberg, e, facilmente, um dos melhores filmes do ano.

"-Você não parece alarmado.
-Isso ajudaria?"

Queijo


O telefone tocou, era 1979, dos Smashing Pumpkins.
-Alô... Sim, é el.. Ah, oi, Francilene. Esqueci o quê? Ah... Onde? Sim, eu sei que na tua casa, mas onde, em que cômodo... Ah... Na sala, é? Mas na sala ou na cozinha? Hmmm... Bem no meio do caminho. Não... Não, não precisa. É, ás vezes eu saio sem, mesmo. É, criar o bicho solto. Não tava preocupado, não... Capaz, guria. Não precisa. Tu não é minha esposa pra lavar minhas cuecas. Digo mais, ninguém precisa lavar minhas cuecas. Eu sou um homem adulto, lavo minhas próprias cuecas. Não te preocupa que eu passo aí e pego elas. ... Ah, sei lá. Na próxima vez que eu for aí. Não... Não hoje. É, eu tenho compromisso já. Não pode ser... Quê? Que vagabunda, Francilene? Como é que- Hã? Mas como é que eu vou saber de qual vagabunda tu tá faland-... Não, não... Nada disso. Foi um erro honesto. Não foi "qual" porque são várias. Não. Não coloque palavras na minha boca, Francilene... Eu falei "qual", mas não nesse sentido. Eu disse "qual" porque não sei a quem tu te referia. Tu tens o péssimo hábito de te referir de maneira pejorativa a todas as mulheres do meu convívio... Não. Não mesmo. Não são todas vagabundas, não, senhora. Não, senhora. Minhas amigas. E digo mais- E digo mais! A senhora também é uma mulher do meu convívio. É, tu mesmo. Tu é vagabunda? Não, né? Então, o que te faz pensar que as outras todas são? Não são. Aliás, porque a gente tá tendo essa conversa? Tu não é minha namorada, Francilene. Tu não é. E não é por falta de tentativa de minha par-De minha parte, sim, senhora. De minha parte, sim. Eu que tomei a iniciativa, não? Eu que fui falar contigo. Como é que não foi de minha parte... Há? Meu comportamento? O que é que tem o meu comportamento, Francilene? "Meu tipo"? A que tipo tu te refere? Cavalheiro? Educado? Porque é o único "tipo" no qual eu me encaixo, madame. É... Ah, é? Pois eu te digo porque é que tu tem essa impressão: É porque tu só anda com maloqueiro. Pronto, falei. É isso aí, mesmo. Anda só com maloqueiro, por isso um comportamento mais refinado te parece coisa de pegador. É... É, não tem nada de err-Não, não mesmo. Não tem nada de errado com o meu comportamento, é com o comportamento dos... Eu não- Eu não sei com que tipo de pessoa tu costumava andar, mas eu sou um gentleman, e isso pode te soar como um... Gentleman... É uma expressão em inglês pra se referir... Em inglês... Pra se referir a... Cala a boca, mulher, Ouve. É uma expressão pra se referir a um homem gentil, pombas. É... E eu sei lá porque em inglês? Porque não tem símile em português... Tradução... Sim... "Homem gentil" é uma boa tradução. Tá, Francilene, tu que sabe. Não. Eu não... Não posso hoje, já te disse. É, tenho compromisso. Não... É com uns amigos. Não, não tem nada de "amiga", Fracilene, uns amigos, mesmo. Olha... Fran-Francilele... Francilene! Tu que... Olha, tu que sabe, tá? Faz o que tu quiser. Eu não vou... Ué, quer jogar fora, joga. Eu não vou morrer por causa de uma cueca. Pode jogar fora. Quê? Fedendo? Não tava fedendo, nada, não seja mentirosa. Despeito é uma coisa muit- Quê? Cheiro de quê? O que é isso? Não, nunca ouvi falar em "queijo de pica"... Hã? Não, sua... Não, sua mula... Que nojo, viu? Francamente... O nome disso é esmegma, e eu te garanto que não, eu não tenho. Meus hábitos de higiene são muito rígi... Ah, é? Pois se eu tenho, fique a senhora sabendo que é uma porcalhona, pois comeu tudo, ontem. Rá, rá. É, isso aí, se tu só entende baixaria, eu me comunico de maneira que tu entenda. E te digo mais, essa cueca tá limpíssima, tu poderia usar como guardanapo pra comer, pra coar café, mas pode jogar fora, joga fora e aproveita e joga meu telefone junto, mula.
Desligou o telefone, abriu o whatsapp, e verificou as mensagens. Estava tudo em cima com a Fernanda, para aquele dia. Abriu outra conversa, com Luciana, e mandou a mensagem: "Lu, abriu minha agenda pra quarta que vem, quer fazer alguma coisa?".
A resposta veio poucos minutos depois, dizendo que sim, ela queria fazer alguma coisa.
Viktor sorriu, gostava da Francilene, morena jeitosa que, entre quatro paredes, topava qualquer parada. Mas não tinha tempo pra mulheres possessivas. Melhor deixar a fila andar. Guardou o telefone de volta no bolso e continuou olhando para o tráfego. De súbito, discretamente, conferiu a própria genitália. Constatou satisfeito que estava tudo muito limpo.
Não custava conferir.

Viktor de SanMartin, o higiênico, preferia não dar chance pro azar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Marty e Doc Chegaram!


Um salve para Marty McFly, que deve estar desembarcando por aqui em alguns minutos. Por aqui, claro, quero dizer em 21 de outubro 2015.
Em De Volta Para o Futuro: Parte 2, Marty, e o doutor Emmett Brown viajam de 1985 até 2015 para impedir que Marty Jr. seja preso em um esquema arranjado por Griff, o neto de Biff Tannem.
Imaginem o desapontamento de Marty e do Dr. Brown se o único carro voador do planeta for justamente o DeLorean vindo de 1985?
É difícil não parar pra pensar qual foi o evento catastrófico que alterou a linha do tempo do 2015 de De Volta Para o Futuro: Parte 2 para esse 2015 que nós temos aqui. Quem será que entrou de penetra na máquina do tempo mais estilosa da cultura pop e matou algum visionário, roubou algum livro, ou impediu um evento fortuito de se concretizar?
Eu não sei... Mas deve ter sido alguma coisa grave.
Alguém deveria voltar até 1985, ou 1955 e impedir o que quer que tenha sido... O pior é imaginar que a essa hora, em alguma outra linha de tempo, eu estou dando banda com o braço pra fora de um carro voador.
Ainda hoje falava com meu chefe. O futuro, pra mim, só vai ter chegado quando houver carros voadores. Tablet, skate flutuante, videogame que se joga sem as mãos, auto-atendimento, TVs de tela plana... Isso tudo é bobagem. Carros voadores já!
Marty e o Dr. Brown não podem se decepcionar ao chegar aqui!

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O lançamento de De Volta Para o Futuro, completa 30 anos em 2015.
O longa surgiu de uma visita do roteirista Bob Gale à casa de seus pais em St. Louis, quando ele descobriu que seu pai fora presidente da sua turma de formandos.
Gale pensou no presidente da sua própria turma de formandos, u sujeito com quem ele nada tinha em comum, e imaginou se se ele e seu pai teriam sido amigos se tivessem frequentado a escola juntos.
Da viagem de Gale surgiu um conceito que o roteirista levou ao seu parceiro de trabalho Robert Zemeckis, que acrescentou a ideia de uma mãe que jurava jamais ter beijado um rapaz na escola, mas, na verdade, era bastante "aventureira".
Os dois levaram o projeto à Columbia Pictures em 1980, e em setembro daquele ano, fecharam um acordo de desenvolvimento.
Em seus estágios iniciais, a máquina do tempo foi retratada como uma geladeira, e era necessária a força de uma explosão nuclear para fazê-la funcionar. Nessa versão, Marty utilizava uma explosão atômica no campo de testes de Nevada para voltar pra casa. Á certa altura, Zemeckis temeu que crianças se trancassem dentro de geladeiras após ver o filme, e descobriu que era mais conveniente se a máquina do tempo fosse móvel.
O DeLorean foi escolhido como a base da máquina porque seu design futurista dava lastro à piada dios fazendeiros confundindo o carro com um disco-voador. Além disso, o climax original, com a explosão nuclear, foi considerado demasiado caro pelos executivos da Universal, e simplificado. Curiosamente, Steven Spielberg usou o o trecho com a explosão atômica e a geladeira em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal.
Zemeckis e Gale encontraram dificuldade para criar uma amizade factível entre Marty e o Dr. Brown, e só resolveram a questão ao conceber o amplificador gigante.
Outro problema inicialmente insolúvel, era a paixão Edipiana reversa entre Lorraine e Marty, para esse problema, a solução foi a frase "It's like I'm kissing my brother." (É como se eu estivesse beijando meu irmão). Outro causo interessante é a proveniência do nome do vilão do filme, Biff Tannem, batizado em "homenagem" a Ned Tanem, executivo da Universal que era agressivo com Zemeckis e Gale durante a produção de Frebre de Juventude.
Embora o roteiro de De Volta Para o Futuro tenha sido concluído em fevereiro de 81 (grande época...), ele foi colocado de lado pela Columbia.
O estúdio teria achado que era bacana, agradável e caloroso, mas não sexual o suficiente. Gale e Zemeckis foram aconselhados a oferecer o longa à Disney, mas os dois resolveram percorrer os grandes estúdios e ver se alguém se interessava, sem sucesso. Todos os grandes estúdios torceram o nariz para De Volta Para o Futuro durante os quatro anos seguintes, enquanto o roteiro foi reescrito duas vezes.
Era o início dos anos oitenta, e quem viveu aquela época lembra que todas as comédias juvenis eram extremamente sexuais, como Picardias Estudantis, Porky's e Férias do Barulho, de modo que o longa era rejeitado por ser demasiado leve. Com isso em mente, Zemeckis e Gale resolveram levá-lo à Disney, para ouvir que "uma mãe se apaixonando pelo próprio filho não era apropriado para um filme familiar sob o selo Disney.".
A produção do longa foi colocada em espera, e Zemeckis foi dirigir Tudo Por Uma Esmeralda, que fez sucesso o suficiente para tornar o diretor um nome capaz de levar o projeto adiante.
Quando Steven Spielberg foi apresentado ao roteiro, tornando-se produtor executivo do longa, as coisas finalmente começaram a andar, e o projeto se abancou na Universal, onde o executivo Sidney Sheinberg deu vários pitacos no roteiro. Alguns bons, como mudar o nome da mãe de Marty de Meg, para Lorraine, mudar o título do cientista de professor Brown, para Doc Brown, e trocar o animal de estimação de Doc de um chimpanzé, para um cachorro (um ótima ideia, diga-se de passagem), outros, nem tanto, como mudar o nome do filme de De Volta Para o Futuro para "Spaceman From Pluto" (algo como O Alienígena de Plutão).
Sheinberg não só acreditava que nenhum filme com "Future" no título jamais faria sucesso, como também parecia obcecado com Plutão. Ele queria que Marty se apresentasse como "Darth Vader, do planeta Plutão" (Ao invés de "planet Vulcan", a seu pai, quando, disfarçado de alien, o forçava a chamar Lorraine para sair, e que o quadrinho lido pelo filho do fazendeiro fosse intitulado "Spaceman From Pluto" (ao invés de "Space Zombies From Pluto"). A predileção de Sheinberg com Plutão só desvaneceu após Spileberg, a pedido de Zemeckis, o convencer de que as pessoas da produção achavam que o lance de Plutão era uma piada, e que ninguém estava levando aquele papo a sério.
Com tudo no lugar, começou a escolha do elenco. O favorito de Zemeckis para o papel de protagonista sempre havia sido Michael J. Fox, mas o ator estava comprometido com a série de TV Caras e Caretas, cuja produtora não se sentia à vontade em liberá-lo para um projeto paralelo.
Com o filme agendado para lançamento em maio de 1985, já corria o ano de 84 quando a equipe descobriu que Fox não seria liberado para o projeto, obrigando-os a agir rápido em busca de um substituto.
Estavam no páreo C. Thomas Howell e Eric Stoltz, que ficou com o papel por sua impressionante interpretação em Marcas do Destino.
Após quatro semanas de filmagem, o ator estava sendo demitido. Ainda que refilmar as cenas já feitas com Stoltz fosse adicionar três milhões de dólares ao orçamento (de dezessete milhões), Zemeckis e Spielberg concordaram que Stoltz simplesmente não era o sujeito certo para o papel.
A atuação do ruivíssimo ator foi considerada excessivamente séria e dramática. Pra piorar, Stoltz não convencia tocando guitarra e muito menos andando de skate, duas coisas que Michael J. Fox conseguia fazer.
A agenda de Fox tinha espaço em janeiro de 85, e após um acordo com o produtor de Caras e Caretas, onde ficou estabelecido que em caso de conflito de datas, a prioridade seria do seriado, Marty McFly ganhou sua cara definitiva.
Christopher Lloyd foi a segunda escolha da equipe de produção para o papel de Doc Brown, originalmente oferecido a John Lithgow, e chegou a recusar o papel, mudando de ideia após ler o roteiro e por insistência de sua esposa.
Lloyd improvisou algumas de suas cenas inspirando-se em Albert Einstein e no regente Leopold Stokowski. Sua proverbial corcunda surgiu por necessidade. Com 1,85cm de altura, Lloyd precisava se curvar para caber nos mesmos quadros que Michael J. Fox e seu 1,67cm.
Lea Thompson ficou com o papel de Lorraine McFly ainda na época da escalação de Stoltz como protagonista, por conta de sua atuação em Vida Selvagem, onde contracenou com o ator, e acabou sendo mantida a despeito da troca de ator. Crispin Glover, ganhou o papel de George McFly, e segundo Zemeckis, improvisou muitos dos maneirismos nerds de George, infelizmente, por conta de desavenças contratuais (que levaram a um processo), Glover atuou apenas no primeiro longa, sendo substituído por Jeffrey Weissman nas sequências, o que também ocorreu com Claudia Wells, intérprete de Jennifer, namorada de Marty, que abandonou a produção por problemas familiares, sendo substituída na segunda e terceira parte por Elizabeth Shue.
Outra substituição aconteceu no papel do vilão. O Biff Tannem original seria J. J. Cohen, que acabou se tornando baixo para se impôr fisicamente contra Eric Stoltz. Ele foi relegado ao papel do capanga Skinhead, enquanto Thomas F. Wilson fez história ao criar um dos tipos mais escrotos da história da cultura pop.
O longa foi filmado ao longo de cem dias durante o ano de 1985, numa agenda insana para Michael J. Fox que filmava Caras e Caretas durante o dia, e De Volta Para o Futuro durante a noite e finais de semana. A fotografia principal terminou em 20 de abril de 1985, e a data de lançamento foi adiada de maio para agosto do mesmo ano.
Após extremamente bem sucedidas exibições-teste, o longa teve a data de estréia novamente alterada, o fanático por Plutão Sidney Sheinberg estabeleceu o dia 3 de Julho como a data de abertura do longa, deixando um período, hoje, impensável para pós-produção de um blockbuster.
Enquanto Alan Silvestri (que sugeriu Huey Lewis and The News para a canção do longa), parceiro de Zemeckis em Tudo por Uma Esmeralda, começava a trabalhar na partitura do longa (a pedido de Zemeckis "grandiosa e épica" para impressionar ao produtor Spileberg, que não gostava da trilha de Tudo Por Uma Esmeralda), apenas duas semanas antes da primeira exibição, dois editores foram destacados para cortar o filme, Arthur Schmidt e Harry Keramidas, enquanto várias equipes de editores de som trabalhavam em turnos de 24 horas.
Apenas oito minutos foram cortados, incluindo uma cena em que Marty vê Lorraine colando em uma prova, George preso em uma cabine telefônica antes de resgatar Lorraine das garras de Biff, e muito da imitação de Darth Vader de Marty no quarto de George. Zemeckis quase cortou a antológica cena em que Marty canta Johnny B. Goode, por sentir que ela não fazia a história avançar, mas devido à ótima recepção da sequência nas sessões-teste, resolveu mantê-la. A Industrial Light & Magic trabalhou nas (meras) 32 cenas com efeitos visuais, que só satisfizeram Zemeckis e Gale plenamente uma semana antes do lançamento do longa.
Toda a espera/correria e os desencontros se provaram válidos.
De Volta Para o Futuro foi a quarta maior abertura do ano, e a maior bilheteria de 1985, venceu diversas premiações, e gerou duas continuações de extremo sucesso, tornando-se, fácil, uma das três melhores trilogias da história do cinema, e uma das mais maneiras mitologias da cultura pop.

"Grande Scott!"

Resenha DVD: A Espiã Que Sabia de Menos


Escrevi, um tempo atrás, que havia perdido a pena da Melissa McCarthy após ver Tammy, empreendimento da atriz gorducha onde ela deixara claro que não tinha lá muito auto-respeito e nem pudores em explorar a própria faceta da gorda sem-noção em nome de fazer uns trocados e umas risadas. Estive em vias de recuperar, se não a pena, o respeito por ela após ver Um Santo Vizinho, onde McCarthy faz um trabalho respeitavelmente comedido no papel da mãe solteira que é obrigada a apelar para o vizinho insuportável vivido por Bill Murray para não deixar o filho à mercê de seus horários de trabalho deveras puxados.
Na madrugada passada, assisti a esse A Espiã Que Sabia de Menos, onde McCarthy se reúne ao diretor Paul Feig, com quem trabalhou em Missão Madrinha de Casamento e As Bem Armadas, e que tenta acrescentar a faceta de heroína de ação ao repertório da comediante.
No longa conhecemos o agente Bradley Fine (Jude Law), típico gentleman spy da CIA, sempre envolvido em missões de altíssimo risco que incluem tiroteios, lutas corpo-a-corpo e flerte descarado com belas mulheres além do convívio constante com a morte e, o que poucos sabem, a voz da analista da agência Susan Cooper (McCarthy), em seu ouvido dando-lhe o walk-through em cada um de seus trabalhos.
Após uma falha levar à morte do negociante de armas Tihomir Boyanov, que planeja vender um artefato nuclear ao terrorista checheno Solsa Dudaev (Richard Brake), Bradley é enviado no encalço da filha do contrabandista, Rayna (A bonitona Rose Byrne), única fonte capaz de confirmar a localização da bomba, mas é surpreendido pela vilã, e morto.
Além disso, Rayna deixa claro que conhece as identidades dos agentes top da CIA, e promete matar qualquer um que se aproximar dela e tentar impedi-la de concretizar a negociação.
Sem nenhum agente de campo para enviar no encalço de Zayna, a chefe da CIA Elaine Crocker (Alisson Janney) aceita o risco de enviar a novata Susan na missão, contrariando a veemente oposição do agente Rick Ford (Jason Statham), que à revelia das ordens da chefe, resolve seguir Susan pela Europa, enquanto ela, com a ajuda da colega analista Nancy Artingstall (Miranda Hart), acompanha os passos de Zayna, se atolando cada vez mais fundo em uma missão muito além do que ela se julgava capaz de encarar.
Então... Como todos os filmes protagonizados pela Melissa McCarthy, A Espiã Que Sabia de Menos também tem seus momentos de fazer rir. É virtualmente impossível assistir duas horas de um filme do Paul Feig e não esboçar ao menos um sorriso, a menos que tu esteja muito de mal com a vida ou seja muito chato.
Ainda assim, A Espiã Que Sabia de Menos tem ao menos um problema grave:
A história é basicamente uma cópia feminista do subestimado Agente 86, com Steve Carell e Anne Hathaway. Estão lá os agentes de campo top expostos, o analista indo pro campo, o artefato nuclear nas mãos de uma organização criminosa...
Outro problema é que, ainda que seja uma comédia rasgada, volta e meia o longa acena com um ensaio de verdadeira sensação de perigo e suspense, e nesses momentos, por mais que a tua suspensão de descrença esteja em dia, fica difícil engolir todas as habilidades da rechonchuda Melissa McCarthy, fazendo o filme se perder um pouco na mensagem "girl power".
Excetuando-se essas questões, o longa consegue divertir.
Jude Law está bem como o agente Fine, a altona e desengonçada Miranda Hart tem seus momentos como a altona e desengonçada Nancy Artingtall e Jason Statham está hilário no papel do histérico Rick Ford, especialmente quando começa a declamar todas as situações extremas em que já esteve, brincando de maneira impiedosa com a própria imagem de action hero.
Além deles, Peter Serafinowicz arranca algumas risadas como o contato italiano de Susan, agente Aldo, enquanto Bobby Cannavale, Morena Baccarin e a lindaça Nargis Fakhri, pouco aparecem. O fogo é centrado, mesmo, em McCarthy, e Byrne, e na relação entre as duas, cada uma a seu modo, mulheres tentando vencer em um mundo de homens. Se é bacana ver uma comédia besteirol tentar se elevar com uma mensagem de fundo como essa, ao mesmo tempo, não deixa de ser brochante que isso ainda precise ser feito, e da forma como é no filme de Feig.
A Agente 99 de Anne Hathaway, e a Viúva Negra de Scarlett Johansson já haviam conseguido dar esse recado de maneira mais sutil. Ainda assim, se tu só quer matar duas horas e dar umas risadas, A Espiã Que Sabia de Menos é uma boa pedida. Não valia um ingresso de cinema, mas certamente vale a locação.

"-Você realmente acha que está pronta para o campo? Uma vez eu usei desfibriladores em mim mesmo. Coloquei cacos de vidro na porra do meu olho. Saltei de um arranha-céu usando apenas um casaco como pára-quedas e quebrei as duas pernas na aterrissagem; Ainda tive que fingir que estava em uma porra de número do Cirque du Soleil! Eu engoli microships e caguei microships suficientes para construir um computador. Este braço foi arrancado completamente, e reimplantado com essa porra de braço.
-Eu não sei se isso é possível... Quero dizer medicamente...
-Durante uma ameaça de assassinato, eu apareci convincentemente diante do congresso como Barack Obama.
-Pintado de preto? Isso é inapropriado.
-Eu vi a mulher que eu amo ser arremessada de um avião e atropelada por outro avião em pleno ar. Eu dirigi um carro pra fora da rodovia para cima de um trem enquanto pegava fogo. Não o carro, eu, estava pegando fogo.
-Jesus, você é intenso."

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O Novo Trailer de Star Wars: O Despertar da Força

E conforme prometido pela Disney, ontem foi publicado online o novo trailer de Star Wars: O Despertar da Força, primeiro capítulo de uma nova trilogia que expandirá a histórica contada nos episódios I a VI, e nas animações sobre as Guerras Clônicas:



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A Prévia de pouco mais de dois minutos é repleta de insinuações a respeito do que ocorreu após o fim da guerra civil entre a Aliança Rebelde e o Império Galáctico, a principal delas sugere que a presença de Darth Sidious, Darth Vader, Obi-Wan Kenobi e Luke Skywalker foi sendo suprimida ou esquecida, e que 50 anos depois do Expurgo Jedi e 30 anos após a destruição da Segunda Estrela da Morte, as pessoas tomam A Força por uma lenda.
Finn (John Boyega), parece ser o Jedi da vez (ou ao menos é o que sugerem o pôster oficial e a cena do trailer onde ele encara Kyo Ren), mas será que isso não é despiste?
E quanto a Rey (Daisy Ridley)? O primeiro teaser sugeria que ela poderia até mesmo ter algum parentesco com Luke, e depois, ela foi sendo eclipsada por Finn, não seria ela, na verdade, aquela que despertará com a Força?
Pouco se vê da Primeira Ordem, braço armado do restolho do Império original, apenas um breve vislumbre da capitã Phasma (Gwendolyne Christie) e seus stormtroopers, mas Kylo Ren (Adam Driver) está bem ocupado na prévia, ele aparece idolatrando o capacete derretido de Darth Vader, disparando o que parece ser uma terceira Estrela da Morte e até mesmo torturando Poe Dameron (Oscar Isaac).
Como é praze em filmes de J. J. Abrams, só saberemos de fato a história completa quando o filme for lançado, em 17 de dezembro.

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E o pôster nacional do filme, sem Luke Skywalker:

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Resenha DVD: Promessas de Guerra


Eu sempre fico com o pé atrás quando vejo astros de Hollywood fazendo a transição de atores para diretores de cinema. Sou um pouco preconceituoso com os atores que se aventuram atrás das câmeras, ainda que vários bons diretores tenham surgido justamente assim, que o digam Ron Howard, Ben Affleck e, claro, Clint Eastwood.
Ontem assisti a primeira incursão de Russel Crowe à direção, este Promessas de Guerra (The Water Diviner, no original), onde o astro de Gladiador, Uma Mente Brilhante e Los Angeles: Cidade Proibida interpreta um pai à procura de seus filhos desaparecidos na campanha de Galípoli, na Turquia, uma das mais trágicas da Primeira Guerra Mundial, contando mais de cento e cinquenta mil mortes entre abril de 1915 e janeiro de 1916.
Crowe interpreta Joshua Connor, um fazendeiro australiano e "adivinho d'água", que perdeu os três filhos na Batalha de Galípoli.
O homem capaz de encontrar água no subsolo da árida planície australiana vive em sua modesta fazenda ao lado da esposa Eliza (Jacqeline McKenzie), que jamais se recuperou da perda dos meninos.
Em seu frágil estado mental, ela segue pedindo que Joshua leia histórias para os três aos pés de suas camas feitas com os pijamas esmeradamente dobrados esperam por seus donos.
Quando Eliza comete suicídio, Joshua resolve ir à Turquia para reclamar os corpos de seus três filhos e enterrá-los ao lado da mãe.
Começa a luta de Connor para, após vencer a longa jornada da Austrália à Turquia, tentar chegar aos campos de batalha de Galípoli e procurar pelos restos mortais de seus filhos em meio à milhares de outros jovens mortos durante a campanha, uma empreitada que não é vista com bons olhos pelo exército britânico, gerenciando uma região transformada em um barril de pólvora por conta de seu valor estratégico.
Em sua jornada, o caminho de Joshua se cruza com o do tenente-coronel Hughes (Jay Courtney), encarregado das buscas pelos restos mortais dos soldados de Galípoli, do sargento Jemal (Cem Yilmaz) e do major Hasan (o ótimo Yilmaz Erdogan), militares otomanos incumbidos de auxiliar na procura.
Conforme cruza a Turquia, Joshua também conhece o menino Orhan (Dylan Georgiades) e sua mãe, a inicialmente antipática Ayshe (a linda Olga Kurylenko), que partilham com ele o histórico de perdas durante a guerra.
Promessas de Guerra é uma boa história. Um drama de guerra que se equilibra com uma história de aventura graças à presença marcante de Crowe, um ator muito acima da média com estofo e carisma para segurar um filme nas costas (e utilizado sem nem um pingo de constrangimento pelo Crowe diretor).
Infelizmente, fica evidente que o Crowe diretor precisava de um pouco mais de cancha antes de abraçar um projeto do tamanho de Promessas de Guerra.
O roteiro de Andrew Knight e Andrew Anastasios por vezes perde o rumo, sendo incapaz de se decidir entre um drama enlutado e um libelo anti-guerra, e uma aventura empolgante passada em um país exótico, uma dicotomia partilhada por seu protagonista, que lamenta ter enchido a cabeça dos filhos com bobagens heroicas sobre Deus, rei e pátria, mas não titubeia em sair na porrada com o cunhado abusivo de Ayshe, por exemplo.
Fosse um diretor mais experiente, talvez Crowe tivesse malandragem para escolher uma abordagem em detrimento da outra, ou, ao menos assumir a ironia decorrente, como não é o caso, Promessas de Guerra patina um pouco sem decidir que tipo de filme quer ser.
Outro ponto que causa algum desconforto, ao menos nesse cético que voz escreve, é o elemento de sobrenatural presente no roteiro.
O protagonista conseguir encontrar água no deserto, ou os restos mortais de seus filhos no campo de batalha, ainda passa, mas os sonhos que ele tem, quase como vislumbres Jedi do futuro, são um pouco excessivos, outra coisa que um cineasta mais experiente poderia ter evitado nem que fosse na sala de edição (A edição, aliás, é o ponto baico na parte técnica do filme. Trabalho bem meia-boca de Matt Villa), nada, porém, que estrague o filme.
Promessas de Guerra ainda é um ótimo programa, com bela fotografia do oscarizado Andrew Lesnie (seu último trabalho, ele faleceu em abril), música discreta de David Hirschfelder e apesar dos eventuais furos no roteiro, é uma bonita e tocante história história, contada por um bom elenco, e um diretor que, em seu primeiro trabalho, não manda nada mal.
Assista. Vale horrores a locação.

"-Por que mudar tudo por causa de um pai que não consegue sossegar?
-Porque ele é o único pai que veio procurar."

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Resenha Cinema: Pan


Eu não vou começar outra resenha falando a respeito de crise criativa em Hollywood, sobre a obsessão com franquias, reboots e sequências, e sobre como é mais fácil apostar em uma marca conhecida do que apresentar um projeto saído do zero.
Desculpem, eu menti. "Faço isso, ás vezes."
É impossível falar de Pan (No Brasil transformado em Peter Pan, porque apenas metade de uma marca conhecida pode não ser o suficiente para levar completos imbecis ao cinema) sem mencionar todas essas questões.
O filme de Joe Wright (diretor dos filmes baseados em obras de Jane Austen estrelados por Keira Knightley) é um desses projetos feitos clara e exclusivamente pra espremer um pouco mais de suco de uma história conhecida. Um Peter Pan begins, uma possibilidade de levar a audiência a reencontrar personagens e lugares conhecidos contando uma nova história, acrescentando elementos e surpresas, ainda que, no processo, descaracterize e contrarie a história no qual se baseia.
Mas estou colocando o carro na frente dos bois.
Pan, é um bom filme.
A história abre com uma ágil jovem (Amanda Seyfried) abandonando um bebê às portas de um orfanato em Londres. Ela coloca uma carta em seu cobertor e um colar com uma flauta de pan (Arrá, entenderam? Entenderam?) em seu pescoço, e parte fazendo-lhe juras de amor.
Doze anos se passam, e durante a Segunda Guerra, Peter (agora o jovem Levi Miller) ainda está no orfanato esperando por sua mãe, mas não só isso. Ao lado do amigo Nibs (Lewis McDougall) ele se envolve em diversas enrascadas por conta de seu perfil rebelde e aventureiro. Sua principal atividade é desafiar a malvada diretora da instituição, a madre Barnabas (Kathy Burke).
Durante uma expedição aos aposentos da madre, Peter e Nibs descobrem, além de comida e dobrões de ouro escondidos, a carta de Mary, que o disléxico Peter é incapaz de ler sem ajuda.
Pegos no flagra e punidos, os meninos se preparam para dormir conjecturando que os dobrões de ouro de Barnabas provém da venda de órfãos para casais do Canadá quando as luzes se apagam e meninos começam a ser abduzidos de suas camas por piratas em cordas!
Peter e Nibs são capturados e levados á bordo de um galeão voador onde os piratas prendem os jovens em porões e os levam embora.
Nibs consegue saltar de volta para o teto do orfanato, mas Peter, que ironicamente tem medo de altura, permanece no navio, e é levado à Terra do Nunca.
Lá, ele e outros órfãos são perfilados a mineradores que trabalham escavando túneis de pedra em busca de um raro mineral chamado Pixum para o pirata Barba Negra (Hugh Jackman).
Trabalhando nas minas, Peter conhece James Gancho (Garrett Hedlund), outro escravo de Barba Negra. É com a ajuda de Gancho que Peter escapa das minas após Barba Negra descobrir que o menino pode voar, e lhe contar a respeito da profecia que diz que um menino voador lideraria um levante contra o senhor de todos os piratas.
Fugindo com Gancho e mais o aparvalhado Smiegel (Adil Akhtar), Peter acaba sendo encontrado pela princesa Tigrinha (Rooney Mara), e lá, descobre que é filho de uma humana com o príncipe das fadas, e que seu destino é destruir Barba Negra.
Mas será que o jovem Peter está à altura de tal tarefa? Será que ele é capaz de encontrar a força interior para cumprir a profecia e impedir que Barba Negra destrua o reino oculto das fadas e proteger a Terra do Nunca?
Como eu disse lá no início, Pan é bacana.
O filme tem uma das melhores produções de arte que eu vi esse ano. O visual, ainda que algo reciclado, é muito bonito, os efeitos visuais são caprichados e o elenco manda bem.
Hugh Jackman faz um tremendo trabalho como o malvado Barba Negra, cheio de presença e malícia, Rooney Mara está uma graça como a princesa Tigrinha, e o jovem Levi Miller não faz feio, enquanto Garrett Hedlund cria um jovem James Gancho que ecoa como Han Solo (Aliás, tudo no roteiro de Jason Fuchs ecoa como alguma outra coisa, Avatar, Star Wars, Piratas do Caribe... ).
O longa tem diversas sequências interessantes, das perseguições entre galeões voadores a cenas de lutas com espadas, além das ótimas cenas em que os piratas e os mineiros cantam hinos do rock durante os trabalhos forçados (somos apresentados às minas de Pixum ao som de Smells Like a Teen Spirit, do Nirvana, e as sessões de punição de Barba Negra são embaladas por Blitzkrieg Bop, dos Ramones).
Ainda assim, por mais divertido e bem montado que seja, Pan não parece um prelúdio de Peter Pan. Eu teria gostado muito mais do filme se ele fosse a sua própria história. Alguns elementos simplesmente não encaixam com o que conhecemos do universo da Terra do Nunca, dando a impressão de que para Pan chegar lá, precisaria se tornar (adivinhe) uma franquia, uma ideia idiota já que o protagonista Levi Miller já está com treze anos, e ao contrário de Harry Potter, Peter Pan não cresce.
Além do mais, o Peter Pan de Levi Miller, embora seja um personagem bastante interessante, com todas as ferramentas de um herói mirim, não lembra em nada o Peter Pan original.
Falta ao mocinho a arrogância juvenil e o garbo cheio de si que, por exemplo, Jeremy Sumpter esbanjou no excelente Peter Pan de 2003.
Ainda que tenha todos esses defeitos, Pan é um filme bacana, um espetáculo divertido e mesmo que não faça ninguém bater palmas pra Sininho e dizer "eu acredito", vale a ida ao cinema.

"-Nós seremos amigos pra sempre, não é, Gancho?
-Para todo o sempre, Peter. O que poderia dar errado?"

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Top-10 Casa do Capita: Os Melhores Professores do Cinema

Hoje, dia 15 de outubro, é dia do professor. E nada mais justo do que uma singela homenagem a esses profissionais que, todos os dias, têm de lidar com uma turba de completos imbecis nas salas de aula, à medida em que as novas gerações são cada vez menos dotadas intelectualmente do que a anterior, em um país que acha que ser grosso, estúpido, ignorante e mal-educado é bonito.
Deixando de lado a amargura, a decepção e a misantropia, bora pra mais um infame top-10 Casa do Capita, dedicado aos personagens de celuloide que são aqueles professores que todos nós gostaríamos de ter tido numa sala de aula de verdade.

10 - Dewey Finn (Escola de Rock, Richard Linklater, 2003)


Dewey Finn (Jack Black) é um roqueiro fracassado. Seu amor pela música, purismo e excesso de auto-confiança o tornaram um estorvo para sua banda, que o chutou. Acossado pela namorada do amigo com quem divide um apartamento para pagar sua metade do aluguel, Dewey está prestes a ser expulso de casa quando resolve assumir, na surdina e sem nenhuma qualificação, uma vaga de professor temporário oferecida ao seu colega. Ao chegar ao colégio Horace Green, Dewey percebe que as crianças a quem finge lecionar podem ser muito mais do que apenas um ligeiro desafogo financeiro. Os talentosos moleques, se bem orientados, podem se tornar sua nova banda!
Ainda que seus motivos sejam bastante egoístas, qualquer um capaz de enxergar o talento de jovens musicistas em formação e transformá-los em uma banda de rock de verdade merece o seu crédito de professor, especialmente quando o sujeito é um incontrolável Jack Black distribuindo impagáveis lições sobre a história do Rock'n roll.

9 - Freddy Shoop (Curso de Férias, Carl Reiner, 1987)


O professor de educação física Freddy Shoop (Mark Harmon) está tão ansioso pelas férias quanto seus alunos. Ele literalmente conta os segundos para se ver livre de suas obrigações e poder curtir férias no Havaí com sua namorada. Infelizmente, para Shoop, o professor de inglês do curso de verão ganha na loteria e se demite, deixando um buraco na grade que precisa ser preenchido. Sobra para Freddy a obrigação de fazer uma classe de rejeitados, cabeças-duras e miolo-moles passar em um exame de inglês básico.
Outro exemplo de professor que inicialmente direcionado por seus próprios motivos (Shoop só encara o desafio por medo de perder a estabilidade), Freddy Shoop acaba se afeiçoando aos seus alunos, e realmente os ensinando usando métodos alternativos que incluem saídas de campo, filmes não convencionais (como O Massacre da Serra Elétrica) e até realizar trocas de favores por estudos de seus alunos, que eventualmente, apresentam melhor verdadeira em seus desempenhos acadêmicos.

8 - Senhor Miyagi (Karatê Kid, John G. Avildsen, 1984)


Daniel Larusso se muda de Nova Jérsei para a Califórnia com sua mãe, e não tarda a perceber que é difícil se enturmar com a turma de fortões das praias locais. Perseguido pelos valentões lutadores de caratê liderados pelo bully-chefe Johnny, Daniel descobre que sua única chance de acabar com o tormento é contra-atacar, mas de quê forma?
É quando surge o jardineiro Sr. Miyagi (Pat Morita, indicado ao Oscar), que não apenas derrota a meia-dúzia de adolescentes que atacam Daniel, mas também se prontifica a ensiná-lo a lutar o verdadeiro caratê.
Ainda que, a princípio, Daniel não seja capaz de entender as lições não-convencionais de Miyagi, ele logo percebe que coisas mundanas como encerar à direita, encerar à esquerda e pintar a cerca podem se tornar inestimáveis treinos de artes marciais.

7 - Dr. Henry Jones Jr. (Os Caçadores da Arca Perdida, Steven Spielberg, 1981)


Arqueólogo, professor e aventureiro, Indiana Jones (Harrison Ford) enfrenta uma corrida contra as forças de Adolf Hitler e seu rival Rene Belloq tentando impedi-los de encontrar a Arca da Aliança e usar seu poder como uma arma.
Ainda que os vislumbres de Indy na sala de aula sejam breves, é inegável que seus alunos o levam a sério, dispondo-se a se amontoarem à porta de seu escritório em busca de respostas às suas perguntas.
O conhecimento enciclopédico do Dr. Jones a respeito de línguas e culturas extintas e sua inteligência aguçada para resolver enigmas certamente o tornariam um tremendo docente, e sua experiência pessoal sem dúvida renderia aulas sensacionais.
Não bastasse tudo isso, qualquer professor que usa seu tempo livre para resgatar relíquias perdidas, enfrentar os nazistas e salvar o mundo é um professor cujas aulas valeriam a presença.

6 - Katherine Watson (O Sorriso de Mona Lisa, Mike Newell, 2003)


Nos anos 50, a recém formada professora Katherine Ann Watson (Julia Roberts) começa seu trabalho como professora de História da arte na conservadora Academia Wellesley. Seu amor por seu trabalho apenas se equipara a seu amor por suas estudantes, garotas que parecem estar apenas matando tempo até encontrar o homem certo e se casarem. Conforme Katherine cria um indelével laço com suas alunas, ela não consegue deixar de pensar que as meninas estão desperdiçando seu verdadeiro potencial.
A feminista e modernosa (especialmente para os anos 50) senhorita Watson luta para ensinar à suas alunas uma lição que vai muito além da arte, a de quê casamento e carreira, não são mutuamente excludentes.

5 - Charles Xavier (X-Men, Bryan Singer, 2000)


Em um futuro não muito distante, humanos e mutantes temem uns aos outros, criando uma tensão racial com terrível potencial para a guerra. Nesse cenário, Magneto, um poderoso terrorista mutante líder da Irmandade, planeja um atentado sem precedentes. Opondo-se a Magneto, estão os X-Men, jovens mutantes que além de super-heróis, são professores no Instituto Xavier Para Jovens Super-Dotados, uma instituição idealizada pelo professor Charles Xavier (Patrick Stewart) que serve de abrigo e escola para jovens mutantes perseguidos por um mundo que os teme e odeia.
O Professor X promove os direitos dos mutantes, é uma das maiores mentes e um dos grandes visionários do universo Marvel, e um incansável promotor da paz. Precisa de alguma outra razão para ele estar nessa lista?

4 - John Keating (Sociedade dos Poetas Mortos, Peter Weir, 1989)


O terrivelmente tímido Todd Anderson é enviado ao mesmo internato onde seu irmão mais velho obteve grande sucesso acadêmico. Seu colega de quarto, Neil, um rapaz popular e brilhante, vive à sombra dos desígnios de seu pai austero, junto a outros colegas, os dois conhecem o professor Kating (Robin Williams), novo professor de inglês, que lhes fala a respeito da Sociedade dos Poetas Mortos, e os encoraja a enfrentar o status quo no qual todos se veem presos. Cada um a seu modo, os alunos de Keating seguem seus conselhos, e mudam suas vidas.
O extrovertido Keating é o tipo de professor que apenas alunos idiotas não gostariam de ter. O sujeito que sobe na mesa, rasga capítulos inteiros de livros, e encoraja seus alunos a aprenderem mais do que as aulas oferecem é um professor de que todas as escolas do mundo poderiam se valer.

3 - Joe Clark (Meu Mestre, Minha Vida, John G. Avildsen, 1989)


O tirânico e não-ortodoxo professor Joe Clark (Morgan Freeman, vencedor do Los Angeles Film Critics Association Award e do Image Award de melhor ator) retorna à antiga escola de onde fora demitido anos antes para encontrá-la muito diferente do idílico espaço de estudos de onde saíra, transformada em um antro de abuso de drogas, violência de gangues e desespero de excluídos urbanos. Determinado a mudar o panorama da instituição, Joe resolve melhorar a escola custe o que custar, doa a quem doer.
Eventualmente, seus bem-sucedidos esforços, galgados em métodos controversos (que incluíram a expulsão de trezentos alunos) o colocam em rota de colisão com as autoridades educacionais que ameaçam desfazer todo o seu trabalho.
Joe Clark pode parecer um tremendo cuzão. Azedo, tirânico e enxerido, mas era exatamente o que o colégio Eastside precisava. Um sujeito disposto a fazer o que fosse necessário para devolver à instituição seu verdadeiro propósito, o de ensinar.

2 - Louanne Johnson (Mentes Perigosas, John N. Smith, 1995)


Ex-fuzileira naval, Louanne Johnson (Michelle Pfeiffer, deslumbrante) acaba de se divorciar do marido. Sem muita ideia do que fazer, consegue um emprego temporário como professora de inglês, realizando um sonho antigo.
O colégio onde ela passa a lecionar, porém, localiza-se em uma parte pobre da cidade, sendo frequentado por alunos negros e latinos da periferia, jovens em situação de risco que não estão interessadas em literatura, e não lhe oferecem a melhor das recepções.
Mas Louanne é uma militar, uma batalhadora, e não tarda a apostar em métodos alternativos de ensino, usando caratê e letras de Bob Dylan para ensinar inglês e literatura, além de ganhar sua atenção e sua confiança.
Talvez o melhor filme estilo "professor x alunos durões", Mentes Perigosas consegue esse posto graças à Michelle Pfeiffer, que mesmo linda de morrer convence como alguém que não se entrega, e faz das tripas coração para realizar o sonho de ensinar. A professora de inglês que nunca desiste de nenhum aluno, que encara tudo sozinha matando no peito, e que repensa suas decisões sobre abandonar o ensino porque os alunos lhe "deram doces e chamaram de luz" é o sonho de consumo de qualquer instituição de ensino.

1 - Glenn Holland (Mr. Holland - Adorável Professor, Stephen Herek, 1995)


Glenn Holland (Richard Dreyfuss) é um músico, compositor frustrado que resolve aceitar um emprego de professor de música no colégio local para pagar o aluguel do apartamento onde vive com a esposa e, no tempo livre, se dedicar ao seu verdadeiro objetivo: Compôr a grande ópera americana.
Conforme os anos passam, Holland vai descobrindo que a vida não leva em consideração os seus planos, e eventualmente percebe que dividir a sua contagiante paixão pela música com as centenas de crianças que cruzam seu caminho, pode ser uma forma de deixar uma marca ainda mais profunda no mundo do que seria compôr uma grande sinfonia.
Eu sou um fã declarado de histórias de redenção, e a forma como Glenn Holland vai de professor desinteressado e mecânico à mestre apaixonado e dedicado a seus alunos, é tocante demais para eu deixá-lo de fora do topo da lista. Que algumas das palavras da ex-aluna, Gertrude Lang expliquem porque Glenn Holland ganhou essa deferência de um nerd que, só de ler o texto, ficou de olhos marejados:
"Não há uma vida nesta sala que o senhor não tenha tocado, e cada um de nós é uma pessoa melhor por sua causa. Nós somos sua sinfonia, Sr. Holland. Nós somos as melodias e as notas de sua obra. Nós somos a música de sua vida.".

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

One and Only...?


Os dois deitados na cama, ela, de pijama. Um mini-short mini-blusa do Mickey. Ele, de calça jeans, camiseta, meias. Até de óculos ele estava, tinha apenas tirado os tênis para deitar na cama junto com ela e assistir TV. Viam um programa qualquer de embates culinários no TLC, ela adorava aqueles programas, ele preferia estar vendo um noticiário, mas não ligava. Ela parecia estar se divertindo às ganhas com a dona de casa que desafiava chefs profissionais para embates culinários.
Lá fora, a chuva caía caudalosa, mia-se perfeitamente e imensa quantidade de pingos pela janela, divisáveis graças à iluminação pública amarela.
-Benzadeus... - Ele disse após um trovão rimbombar quase fazendo o prédio tremer uma fração de segundo após um relâmpago estalar no prédio ao lado. -Eu não devia ter acreditado em ti, alemoa. Essa chuva nunca mais vai parar.
-Larga mão de ser dramático, homem... - Ela o recriminou. -Daqui a pouco volta.
-Não. - Ele disse, apontando a mão espalmada pra fora da janela dela. -Olha pra isso. Tá com cara de que vai se espichar por quarenta dias e quarenta noites. Bora construir uma arca.
Ela riu e disse:
-Olha, a mulher vai disputar com bolinhos de lagosta, agora.
Ele balançou a cabeça negativamente e continuou olhando pela janela quando, de súbito, um estrondo se fez ouvir e a luz foi cortada.
Da janela ele podia ver que a falta de luz se estendia por quarteirões e mais quarteirões até onde a vista alcançava.
-Era só o que faltava... - Ele resmungou.
-Calma que já volta. - Ela disse, batendo com a mão espalmada na cama, para que ele voltasse a deitar ao seu lado. -Dez minutinhos. - Completou.
Como não fosse capaz de enxergar nada, ele seguiu o conselho dela, e deitou.
Mas os dez minutos passaram até virarem vinte, e os vinte se tornaram trinta, e antes que virassem quarenta, ela disse:
-Tá demorando, né?
-Um pouco. - Ele concordou. Ela continuou:
-Talvez seja algum defeito mais grave.
-Acho que estourou um transformador. - Ele disse. -Aquele estrondo antes de faltar luz pode ser por causa disso. Se bobear, a gente passa a madrugada inteira sem luz.
-É melhor tu não voltar pra casa nesse breu. Fica aqui, é mais seguro. - Ela disse.
Ele concordou. Não era nem tanto pelo escuro, era pela chuva. O dilúvio que não parecia cessar jamais. Ela seguiu:
-É pena a gente ter ficado sem nada pra fazer... Sem luz, sem internet... Eu posso colocar ao menos uma musiquinha no celular pra gente ficar ouvindo, peraí.
Ela catou o grande telefone celular branco, e tamborilou a tela de toque até que os primeiros acordes de By Your Side, a versão maneira dos Beachwood Sparks, se fez ouvir.
Ele respirou ofegante e se ajeitou na cama.
-É essa a música que tu disse que é a mais sexy de todas, né? - Perguntou.
-Não... - Ele corrigiu. -Eu disse que me remete à situações sensuais... Não que a música em si seja...
-Hmmm... - Ela compreendeu. -Bom... Eu achei sexy.
Silêncio. Ela suspirou.
-Ai... Nós dois aqui no escuro, nada pra fazer...
-É. - Ele concordou, incerto.
-Dá uma ideia de alguma coisa pra matar o tédio... - Ela pediu. -O que duas pessoas poderiam fazer nesse escuro em cima de uma cama?
Ele riu:
-Jogar Stop.
Ela riu, também.
-Seu pudico.
Ficaram os dois deitados, rindo, ouvindo o som da chuva e olhando pela janela, único ponto discernível na completa penumbra. Ele pegou a mão dela. Quase por reflexo. Ela correspondeu.
A música ainda tocava.
-Dia da criança tá aí. - Ela disse, casual. -O que tu quer de presente?
Ele riu.
-Já sou grande. Não ganho presente de dia da criança.
-Ai, que homem sério. - Ela disse, escarnecendo.
-Sabe que quando eu era pequeno ficava horrorizado imaginando o dia em que eu fosse ser adulto demais pra ganhar um presente de dia da criança... Mas o processo foi muito mais orgânico do que eu poderia imaginar...
Ficaram em silêncio por algum tempo.
-Tu acha que a criança que tu foi, estaria satisfeita com o adulto que tu é? - Ela perguntou enquanto se erguia deslizando por cima dele até star apoiada em seu peito.
-Eu acho que sim. Ao menos da minha grande força física. Tu tá com o cotovelo no meu externo e eu até consigo respirar.
Ela riu e tirou o braço de cima da boca do estômago dele, ajeitando-se.
-Sério, trouxa. - Ela mordeu a maçã do rosto dele em represália.
-Ai!... - Ele protestou, tentando retribuir a mordida, mas incapaz de se movimentar livremente devido ao corpo dela por cima do seu:
-Eu não sei... - Disse. -Acho que um pouco... Eu ficaria triste por não ter me tornado piloto de Formula 1, ou Jedi...
Ela riu:
-Ayrton Senna e Luke Skywalker eram teus ídolos profissionais?
-Na verdade Nelson Piquet e Obi-Wan Kenobi... - Ele corrigiu. -Mas tirando isso... O lance da profissão, eu acho que sim. No plano geral, eu sou quem eu gostaria de ser, eu tento agir corretamente, tenho um cachorro, namorei só mulheres bonitas... Claro, olhando em perspectiva, eu imaginava que aos trinta e poucos eu já estaria casado, teria um filho... Mas na época era difícil imaginar as conjunturas econômicas de hoje em dia... Além do mais, muitas das coisas que eu idealizava então, eram frutos de opiniões que mudaram com o tempo, de crenças que eu tinha na época, e hoje não tenho mais.
-Por exemplo? - Ela perguntou.
-Eu acreditava em Deus, por exemplo... Hoje eu sou um ateu de quatro costados. Eu achava que era impossível uma pessoa viver sem família, hoje eu não vejo mais as coisas dessa forma. Eu achava cabelo comprido e barba coisas muito feias...
Ela cofiou a barba dele, que replicou:
-É... Opiniões mudam. E tu? Aquela alemoazinha ranhenta de frufru de balé cor de rosa se orgulharia de ti?
-Não. - Ela disse, seca. Tão secamente que ele até riu. Ela tentou se sustentar séria, mas não conseguiu. Riu, também.
-Por que? - Ele quis saber.
-Ah... Por um monte de coisas, Ned... Eu nem sei por onde começar... No campo profissional, eu não sou uma princesa, eu não sou vocalista da minha própria banda, e nem sou médica... - Ela resmungou. -Eu não viajei o mundo inteiro, não namorei com o McGuyver, com o Axl Rose e nem com o Hugh Grant, eu não moro numa casa com sete cachorros sheep dog e um basset, eu não tenho minha própria linha de sapatos e nem uma bolsa de cada uma das cores do arco-íris.
-E nem é a primeira-bailarina do Bolshoi. - Ele lembrou.
-Ainda mais essa. - Ela concordou.
-Além disso, estou com trinta e um anos anos e não me casei com o amor da minha vida.
Ele sorriu.
-Sabe que uma das minhas visões de mundo que mudou é a de que nós temos apenas um amor da nossa vida. - Disse, acariciando a mão dela. -Hoje em dia, eu acredito que nós podemos ter vários, dependendo da fase da vida. Um pra cada fase. Um pra cada idade. É muito injusto pensar que só existe uma pessoa que te completa e te faz feliz e pra quem tu nasceu e que nasceu pra ti. Tu encontrou uma que era tudo isso, mas algo deu errado e não foi pra frente, tu vai bater um pouco de cabeça, desperdiçar um pouco de tempo, mas eventualmente, tu vai encontrar outra pessoa que preenche os requisitos, e vai ser feliz com ela, tu não acha?
Ela ficou em silêncio, brevemente, e então, se ergueu de modo que a cabeça dela estivesse entre ele e a janela:
-Não. Não acho. Não é assim, Ned. Eu sei porque tu tá falando isso. Mas não é assim que funciona.
Ele riu.
-Olha que eu acho que é...
-Não. Não é. Tu até pode te enganar e achar que alguém era o amor da tua vida. Mas o amor da tua vida é um só. Um único e solitário. Tudo bem. Tu pode te apaixonar por várias pessoas ao longo da vida, ter uma porrada de relacionamentos legais, amar de verdade, várias pessoas. Mas O Amor da tua vida, com letras maiúsculas, é um só. Um. Só. - Ela declarou, séria, como quem estabelece uma regra.
Ele acariciou o rosto dela, que continuou:
-Talvez haja o acaso de tu não ser o amor da vida da pessoa que é o amor da tua vida... E isso é muito triste, mas sei lá... Pode acontecer. Mas não vai nessa de quê todo o amor é especial e maravilhoso, porque não é. Se fosse, a gente não andava se enrabando a vida inteira atrás do amor perfeito, e nem sofrendo que nem cachorro. Se tu tinha um amor pra vida inteira, e logo depois que ele termina tu tá em outro, é ou porque o anterior não era "pra toda a vida" ou porque tu tem merda na cabeça.
Ele riu fazendo uma careta de surpresa. Ela riu, também.
-Desculpa. Mas é.
Ele a puxou pra si, e a beijou de leve nos lábios. Ela retribuiu e deitou a cabeça em seu peito.
A luz da sala se acendeu, e a TV zuniu ao ser religada enquanto a iluminação amarela das lâmpadas da rua tingiu o teto do quarto de laranja.
-A luz voltou. - Ela disse num resmungo, com a bochecha prensada contra o peito dele.
-Eu sei. - Ele disse. Olhos fechados.
-Fica aí, hoje. - Ela pediu.
-Eu fico. - Ele aquiesceu. -
Oh when you're cold
I'll be there
To hold you tight to me
Oh when your alone
I'l be there by your side baby