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domingo, 29 de novembro de 2015

Resenha Cinema: Pegando Fogo


Foi-se o tempo em que Bradley Cooper era o vilão nojentão de Penetras Bons de Bico, ou o advogado de defesa pusilânime de algum spin-off de Lei & Ordem. O sujeito despontou das comédias em direção ao estrelato em grande parte graças a Se Beber Não Case, em parte à uma parceria com David O. Russel, mas especialmente à uma maturidade muito clara na hora de escolher seus projetos e, claro, seu inegável talento.
Cooper cresceu muito desde os tempos de coadjuvante de Jim Carrey, e suas três indicações ao Oscar são testemunho desse crescimento. Se ele foi eclipsado por Jennifer Lawrence em O Lado Bom da Vida e por Christian Bale em Trapaça (ainda assim, duas ótimas atuações de Cooper.), não se pode negar que ele carregou Sniper Americano nas costas sem suar.
Essa capacidade de suportar um filme inteiro está bastante clara em Pegando Fogo, mais recente filme estrelado por Cooper, uma dramédia de chef, ou, como gostam de referir os críticos estrangeiros, um "food porn".
O diretor John Wells, produtor televisivo de longa data (produziu e dirigiu episódios de uma favorita particular minha, E.R.) e cineasta ocasional com ótimas passagens como o ótimo Álbum de Família é quem conduz a história de Adam Jones (Cooper).
Jones é um ex-chef de cozinha top de linha, do tipo que altera seu cardápio de sucesso inteiro sem pensar duas vezes e que não quer que as pessoas sentem em seu restaurante para comer, quer que elas se sentem à mesa e babem de antecipação. Dono de duas estrelas do cobiçado guia Michelin, Jones aprontou tudo o que podia e não podia nos seus anos de glória. Acabou viciado em drogas, alcoólatra e envolvido com as mulheres erradas, perdeu tudo, e exilou-se em Nova Orleans, onde se impôs uma pena curiosa:
Abrir um milhão de ostras em um restaurante qualquer.
Quando o filme começa, acompanhamos, com a narração do próprio Jones, seu último dia de "reclusão".
Assim que abre a milionésima ostra, o ex-chef a come, apanha sua jaqueta e abandona o emprego para, no instante seguinte estar em Londres.
Rapidamente, Adam restabelece sua antiga network, primeiro, no hotel de seu ex-colega Tony (Daniel Brühl). Adam chega ao hotel avisando a Tony que será o chef de seu restaurante, e que deseja sua terceira estrela Michelin.
Tony, conhecendo o passado de Adam, o rejeita de imediato, e o expulsa do hotel. Para seu azar, porém, Adam encontra a crítica gastronômica Simone Forth (Uma Thurman), que vai ao restaurante de Tony tornando Adam imprescindível.
A despeito do tamanho de Londres, Adam não consegue montar sua equipe de cozinha sem esbarrar em velhos conhecidos, como o sous-chef Michel (Omar Sy), com quem Adam partilha um passado conturbado. Ainda assim, ele encontra o jovem David (Sam Keelley), o ex-colega Max (Riccardo Scamarcio), e a promissora Helene (Sienna Miller).
Em pouco tempo, todos eles trabalham sob as ordens de Adam na cozinha do restaurante de Tony, tentando ajudar o conturbado Adam a alcançar seu objetivo, a sonhada terceira estrela.
Mas será que é realmente disso o que Adam precisa?
Como dito lá no início, Pegando Fogo é um testemunho da habilidade de Cooper de segurar um filme nas costas.
Por mais que o longa não seja ruim (e ele não é), pode-se imaginar que não seria um filme lançado em cinemas sem o nome e a cara de Cooper estampados no pôster.
Por sorte, o galã já cresceu o suficiente para aguentar o tranco, e Pegando fogo é seu show.
Cooper faz sua melhor imitação de Gordon Ramsey, mas garante que a interpretação não seja apenas isso. Ele torna Adam errático, estabanado, frágil dependendo da situação. Por mais clichê que algumas situações no roteiro de Steve Knight e Michael Kalesniko sejam (a mãe solteira que não se sobra, o chef rival...), Cooper e o resto do elenco, que conta ainda com Matthew Rhys, Alicia Vikander e Emma Thompson têm carisma e traquejo pra suplantar o trivial, e elevar o filme.
Levando isso tudo em conta, se Pegando Fogo fosse um restaurante, dificilmente receberia uma estrela Michelin, mas estaria longe de ser a birosca da esquina.
Vale o ingresso.

"-Ele tem duas estrelas Michelin!
-Duas não parece muito...
-Pra ganhar uma estrela Michelin, você tem que ser tipo, Luke Skywalker... Para ganhar duas, tem que ser como... Quem quer que Alec Guiness fosse... Mas para ganhar três, você tem que ser Yoda!
-E se ele for Darth Vader?"

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Rapidinhas do Capita


Eu juro, com todas as minhas forças, que eu queria ver, em algum momento qualquer, um grupo de políticos agir tão rapidamente quanto a câmara municipal de Porto Alegre agiu para barrar o aplicativo Uber na capital em qualquer outro projeto.
Sério.
QUALQUER UM!
Não vale aumento dos próprios salários, claro, pois esses nós sabemos que voam mais rápido que a Millenium Falcon.
Mas sério, eu fiquei pasmo com a celeridade inédita com que o projeto do vereador Cláudio Janta foi elaborado, apresentado, apreciado, votado e aprovado pela câmara de vereadores e sancionado pelo prefeito Fortunati.
Nunca antes na história dessa cidade se correu tanto para passar uma lei que, diga-se de passagem, parece inconstitucional.
Eu fiquei até com medo. Esse negócio de Über deve ser muito do mal. Deve ter algum mecanismo no aplicativo que impede as pessoas de escolher entre Uber ou táxi, deve haver algum dispositivo que faz com que, quem baixa o aplicativo, e faz uso dele, comece a ter desejos homicidas, alguma coisa assim, nessa linha.
Porque não dá pra crer que tanta correria e decisão tenha sido apenas em prol de um monopólio.

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Em tempo, eu nem sou desses modernosos da era do compartilhamento. Nunca usei Uber e tenho minhas reservas com relação ao serviço. Mas acho importante ter uma alternativa ao serviço de táxis de Porto Alegre.
Quem usa os carros cor de laranja da capital gaúcha sabe que depois de certo horário da noite eles simplesmente desaparecem, e que em dia de chuva, tem-se a impressão de que os taxistas não querem molhar os carros.
Quem já ficou ilhado em um shopping afastado das zonas centrais às duas da madrugada após uma pré-estreia de cinema da meia-noite sabe o quanto é necessário ter uma opção de escolha na hora de se locomover.

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O ludismo demonstrado pelos vereadores de Porto Alegre, pelo diretor da EPTC Vanderlei Capellari e pelo prefeito José Fortunati chega a ser risível. Poderia ser motivo de piada se não fosse um indício tão sério do porquê de tantos dos problemas do município.
Quando uma novidade que tem demanda e acena com a possibilidade de melhorar os serviços de todo o segmento através da competição saudável é barrada em nome da estagnação e do monopólio, fica impossível acreditar na lisura e no comprometimento dos nossos legisladores para com o bem-estar e o melhor interesse da população.

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Fortunati disse em alto e bom som que "O Uber achou que Porto Alegre era terra de ninguém", ora, senhor prefeito...
Porto Alegre É terra de ninguém e já faz tempo. Talvez o senhor é que precise dar uma voltinha além do paço municipal e apreciar com menos pressa projetos de lei que não defendam os interesses dessa ou daquela minoria.

Resenha Série: Jessica Jones: Pervertidos de Primeira


Enquanto Jessica bebe até cair após a carraspana que levou de Luke no episódio anterior, Kilgrave está no apartamento/escritório de Jessica deixando um presente, e também vasculhando o lugar. Ao menos até ser interrompido por Ruben(Kieran Mulcare) e seu pão de banana.
Enquanto Kilgrave lida com o rapaz, Jessica tenta cumprir sua parte no acordo com Hogarth e tocar o horror na esposa da advogada, Wendy (Robin Heigert) para que ela assine os papéis do divórcio nem que seja sob coerção extrema e medo de... Sei lá... Ser atropelada por um trem, talvez.
Após essa noite conturbada, Jessica inverte papéis com Malcolm, sendo levada pra casa pelo ex-viciado apenas para se deparar com um recado extremamente perverso de Kilgrave em sua cama.
As ações do vilão levam Jessica a bolar um plano particularmente insano numa tentativa de detê-lo, um plano absolutamente estúpido e potencialmente desastroso que força Malcolm e Trish a agirem pelas costas de Jessica de modo a tentar salvá-la de si própria.
Enquanto os dois maquinam para isso, Jessica anda pela cidade fazendo emendas, que nos levam a conhecer a escrotíssima mãe de Trish, Dorothy (uma envelhecida Rebecca de Mornay que sempre terá lugar especial em minhas afeições por Negócio Arriscado, a melhor nudez de uma atriz mainstream em um filme de Hollywood), e aprender um pouco mais sobre a estranha relação da família Walker.
Por sinal, ótima sacada misturar a história de Jessica e Trish, já que, nos quadrinhos, nós jamais aprendemos muito sobre a família adotiva de Jessica. Colocá-la como melhor amiga/irmã adotiva de Trish (Patsy) Walker realmente funcionou. O que não funciona muito bem são as tentativas de colocar um pouco de bom senso na cabeça de Jessica, que reconhece a fragilidade do curso de ação que escolheu, mas parece incapaz de pensar em qualquer outra coisa, mostrando-se particularmente disposta a tudo para ser trancafiada na prisão, inclusive aparecer numa delegacia com a prova de um crime hediondo (A delegacia, aliás, é a mesma de Demolidor, com a foto de Stan Lee como o funcionário do mês e o sargento Mahoney (Royce Johnson) cumprindo seu expediente.).
O que Jessica não sabe é que além de Trish e Malcolm, outra pessoa é contra seu encarceramento:
Kilgrave.
O vilão dá uma nova mostra de seus poderes ao invadir o 15º Distrito e, em meio a todos os policiais lá, fazer uma sinistra declaração de amor à nossa heroína.
A série cruza a linha da metade da temporada em alto nível. Mostrando que os vilões da Netflix são consideravelmente mais ameaçadores do que os do cinema, jogando uma tempestade de sujeira sobre a protagonista, e preparando terreno para novos e potenciais desastres.

"-Eu não sou boa com despedidas... Mas isso merece uma última olhada."

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Não é dos Idiotas


A verdade é que os idiotas não venceram.
Por mais que pareça, não venceram.
Por mais que a vitória da idiotice pareça inapelável e impiedosa.
Os idiotas não venceram. Os burros não triunfaram. Os cretinos e os preguiçosos não se sentam faceiros sobre os espólios da guerra enquanto coçam os umbigos e chafurdam nas unhas dos pés.
Os idiotas não venceram.
Quando no supermercado há bandejas de isopor com bananas descascadas embrulhadas em plástico, isso não é sinal claro da vitória dos lesados. Quando potes transparentes ostentam gomos de bergamota (mexerica ou tangerina, ou o nome que tu preferir) na estante fria dos legumes, isso é não é um inegável indício da vitória dos burros.
Quando ir ao cinema se torna um experimento de acrobacia social tanto porque a maior parte dos horários é reservada a filmes dublados em português, quanto porque quando tu pede silêncio durante a sessão tu é visto como o "chato" que está errado, isso não é testemunho do triunfo dos cretinos.
Quando Fernando Collor se elege senador da república pelo estado das Alagoas, e Jardel se elege deputado estadual pelo Rio Grande do Sul e eu poderia seguir por parágrafos e mais parágrafos nessa linha... Isso não é prova cabal e inconteste de quem domina o mundo hoje.
O mundo não pertence aos estúpidos, aos imbeciloides, aos obnubilados e aos néscios. Tudo é feito pra eles, é verdade. Para os que aprenderam desde cedo que devem ser incluídos em tudo, bem recebidos em tudo, ter participação garantida à tudo, mesmo que não disponham de nenhuma ferramenta cognitiva para aproveitar tudo.
Mas mesmo no mundo de hoje, um parque temático erguido em honra à indulgência plena, onde é bonito ser burro, porque é sinônimo de pureza, onde é bacana ser mal-educado, porque é sinônimo de franqueza, onde é importante mostrar às pessoas onde tu esteve, porque é sinônimo de status. E não faz mal que tu não goste de onde tu foi, que tu não absorva o que tu testemunhou, ou que tu tenha atrapalhado pessoas que tentavam fazê-lo. O que importa é partilhar nas redes sociais... Mesmo esse mundo, não é dos idiotas.
Mesmo esse mundo onde "Ter" é mais importante que "Ser", não é dos idiotas.
Esse mundo onde "Ser" é transitório. É abstrato. Onde "Ser" é para si mesmo, pois, para a percepção alheia, tu só É quando tem como demonstrar com atitudes ou palavras, enquanto "Ter" é concreto. Pois quando tu tem alguma coisa, todo mundo enxerga sem precisar te conhecer ou falar contigo. Ou sequer te conhecer. Tu pode publicar uma foto do que tu tem no Facebook ou no Instagram, opa, opa, desculpe, no "Feice" ou no "Insta", e todo mundo vai reconhecer a tua posse, já que "Ter" não demanda lastro ou estofo e "Ser" dá muito trabalho. Mesmo esse mundo, não é dos idiotas.
Esse mundo que premia a vagabundagem, que protege o preguiçoso, e dá guarida ao ignorante em detrimento de todo o resto...
Ele não pertence aos idiotas.
E o porquê é dolorosamente claro.
Porque dá lucro.
Porque na hora do vamos ver, é muito mais fácil vender o peixe estragado pro ignorante do que pro bem-informado. É muito mais simples manobrar o incauto do que o cauteloso. É muito mais rentável comandar uma nação de microcéfalos do que um país de inteligentes.
Por isso tanta "inclusão" a qualquer preço. Por isso tanta indulgência. Por isso tanta benevolência para com o tacanho.
O tacanho é facilmente transformado em gado, e gado não reclama na hora de ir para o matadouro.
Os idiotas não estão no comando, só pagam com a alma pela ilusão de que estão.
O mundo é feito pelos espertos para manobrar os idiotas.
E os inteligentes, mesmo os pouco inteligentes, nem falo dos grandes luminares da sapiência, falo dos coitados ali na borda exterior da mediocridade, esses, não têm mundo.
Entre imbecis e espertos, os inteligentes precisam de um plano de fuga urgente.

Resenha Série: Jessica Jones: Você é o Ganhador!


No sexto episódio da série, Luke Cage bate à porta de Jessica Jones pedindo ajuda. Na verdade, contratando a investigadora particular para encontrar uma pessoa desaparecida.
Sentindo-se em débito para com Luke (com alguma razão), Jessica aceita deixar Kilgrave de lado por algum tempo para ajudar seu ex-amante, ao menos até descobrir que o interesse de Luke no sumido tem relação com a morte de Deva, a esposa de Luke, que à essa altura, todos nós sabemos, foi obra de Jessica sob a influência de Kilgrave.
Além disso, novas descobertas são feitas. Algumas particularmente chocantes. Saber de toda a história por trás do espancamento de Hope na penitenciária foi um momento particularmente controverso.
Novamente Erin Moriarty demonstrou talento e postura para aproveitar o drama da personagem, e fazer com que a audiência, independente de suas próprias crenças e conceitos, seja capaz de compreendê-la.
Esse desdobramento também acrescentou à persona do vilão. Kilgrave já havia deixado claro no caso do motorista da ambulância e de Malcolm que é um tipo particularmente pusilânime de psicopata sádico e aproveitador, desprovido de qualquer respeito pela vida alheia.
Essa faceta é reforçada pelo discurso de Hope.
Vou confessar que, embora eu esteja realmente gostando da série de Jessica Jones, meu personagem favorito no seriado até aqui é Kilgrave. O vilão controlador de mentes de David Tennant é sensacional, e mesmo sem ter o espaço que o Wilson Fisk de Vincent D'onofrio tinha em Demolidor, consegue roubar todas as suas cenas.
A sequência do jogo de pôquer é brilhante e engraçada, ao menos até um dos apostadores querer endurecer pra cima de Kilgrave e conseguir como recompensa apenas uma dor de cabeça bem severa.
Enquanto vemos o antagonista juntando uma grana e fazendo pesquisas imobiliárias, os dotes detetivescos de Jessica são mostrados na investigação que ela e Luke conduzem. Esse segmento mostra uma nova parceria dos dois e até uma luta da dupla contra um grupo de agiotas e traficantes de drogas (que resulta em outro "Bom Natal!" de Cage. Aliás, eu não vejo a menor graça na tradução "cacetada"...).
Infelizmente, para Jessica, a parceria dos dois resulta em uma encruzilhada onde Jessica tem de escolher entre contar a verdade a Luke, ou deixá-lo se vingar de um inocente, e sabendo como Jessica funciona, mesmo que ela não aceite, fica fácil saber qual será a escolha dela.
Além de tudo isso, Jeri Hogarth dá novas mostras de suas intenções, temos uma referência à Tigresa Branca Angela Del Toro, e uma ótima viagem de Kilgrave aos subúrbios, onde ele curiosamente reluta em usar seus poderes para comprar uma casa, mas não qualquer casa... A casa onde Jessica cresceu.
Outro episódio de alto nível da série, repleto de revelações e reviravoltas e que nos deixa em antecipação pelo próximo capítulo.

"-Eu estava errado. Você é uma merda."

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Resenha Série: Jessica Jones: O Sanduíche me Salvou


O quinto episódio de Jessica Jones, este O Sanduíche me Salvou, finalmente equiparou a série a Demolidor, na minha opinião.
Por melhor que o show de Krysten Ritter viesse sendo competente o tempo todo e particularmente inspirado no quarto episódio, foi nessa quinta hora de programa que as coisas finalmente caminharam para mim.
O capítulo se divide entre flashbacks de diversos momentos do passado de Jessica, e o presente, quando a heroína descobre uma forma de apanhar Kilgrave, e se junta à Trish e Simpson para pôr um fim às maquinações do vilão e livrar Hope da prisão onde ela está passando por maus bocados.
Abrindo com Jessica trabalhando no escritório de uma firma qualquer e mostrando os primeiros vislumbres de seus dotes detetivescos ao deixar o chefe corrupto com as calças na mão, O Sanduíche me Salvou se aprofunda fazendo pequenas revelações sobre o passado da protagonista.
Ver um lado mais leve da personagem foi um bônus interessante. Jessica rindo e fazendo piadas enquanto bebe com Trish em um bar e desmoraliza um palhaço metido a Don Juan foi particularmente divertido, da mesma forma que enxergá-la fazendo seu primeiro salvamento, ao impedir uma menininha de ser atropelada.
Ainda assim, no tocante a reminiscências, nenhuma supera a explosão de empolgação de Trish no flashback em que ela se dispõe a ajudar Jessica a criar uma persona heroica (incluindo o uniforme e o nome Safira).
Esses momentos mais leves são necessários à medida em que a tensão do plano para capturar Kilgrave vai se tornando mais e mais palpável conforme o episódio se desenrola, ainda que nós saibamos que, com a temporada sequer na metade, é virtualmente impossível que o plano dê certo.
Mesmo assim, é tenso se pegar imaginando o que pode dar errado, e ao descobrirmos, é mais um depoimento em favor da vilania de Kilgrave, que além de maquiavélico, mostra-se também um vilão inteligente e bem preparado.
Aliás, Kilgrave aparece em um dos flashbacks do episódio, aquele que nos conta como foi que ele conheceu Jessica.
Um dos pontos mais altos do capítulo, quando David Tennant ruleia, mostrando que qualquer frase pode ser ameaçadora na sua voz, mesmo que ele tenha uma expressão amigável em seu rosto.
Outro dos pontos altos de O Sanduíche me Salvou, é quando Jessica e Kilgrave conversam por telefone a respeito de Malcolm, e nós finalmente vemos que Jessica não desistiu totalmente de ser uma heroína, e está disposta a fazer sacrifícios particularmente dolorosos se houver a chance de salvar uma vida.
A despeito de dar pouca ênfase à fase heroica de Jessica, a encolhendo quase à nulidade, O Sanduíche me Salvou acha o tom corretíssimo, equiparando-se a episódios de Demolidor como Cutman e Condemned, e apenas um pouco abaixo de Speak of the Devil.
Com esse tipo de promessa, fica quase impossível resistir a assistir logo ao sexto episódio.

"-Se eu usar isso vão me chamar de Pata de Camelo."

Resenha Série: Jessica Jones: 99 Amigos


Eu vinha gostando de Jessica Jones até o terceiro episódio. A série estava mantendo um nível interessante e era divertida. Mas foi a partir desse quarto capítulo que ela decolou, pra mim.
Em 99 Amigos vemos o resultado da descoberta de Jessica de quê ela vem sendo constantemente espionada por Kilgrave. A investigadora surta, como qualquer pessoa normal no lugar dela.
O desespero dela é perfeitamente justificado conforme o episódio nos relembra de como funcionam os poderes de Kilgrave na forma da garotinha dando um recado para a protagonista em nome do vilão.
Jessica, porém, não está sozinha. Assim como ela, Trish e o policial Simpson (Wil Traval) também precisam lidar com os traumas do capítulo anterior, quando o policial foi forçado por Kilgrave a tentar matar a apresentadora.
A tentativa de Simpson, nas suas próprias palavras, um protetor nato, de fazer emendas à sua tentativa de homicídio contra Jessica, bem como a compreensível relutância da loiraça em aceitar as desculpas do tira, rendem um belo momento.
Trish, aliás, recebe um pouco mais de atenção nesse episódio, dando mais pistas de como funciona o passado de "Patsy" Walker no universo da série, ao falar mais a respeito da relação dela com a mãe, e do programa teen que ela estrelava (numa clara alusão ao gibi pulicado pela mãe da personagem nos quadrinhos, estilo Amy Exemplar), e a cena em que ela precisa se desculpar no ar com Kilgrave é particularmente bem atuada pela deliciosa Rachel Taylor.
E o escopo dos poderes de Kilgrave é aumentado conforme Jeri Hogarth junta uma grande quantidade de vítimas em potencial. Enquanto algumas claramente estão inventando suas histórias de domínio da mente (com resultados engraçadinhos), outras têm histórias arrepiantes sobre o seu período sob o jugo do psicopata.
Não tivesse o suficiente em seu prato, a paranoica Jessica ainda recebe a visita de uma cliente que deseja que ela flagre seu marido traidor.
Seria um caso de rotina para a investigadora se ela não estivesse em modo de Kilgrave em toda a parte, e ficasse extremamente desconfiada da senhora Eastman (Jessica Hecht, de Breaking Bad, bitch), desconfiança que eventualmente se prove justificada, ainda que não exatamente como Jessica imaginava.
No final do episódio descobrimos quem é o espião de Kilgrave, e, se não chega a ser uma grande revelação, vá lá, ao menos é ago que parece realmente afetar Jessica (como se ela precisasse de combustível para se tornar mais desagradável).
Jessica Jones funcionou desde o primeiro episódio, mas apenas no quarto alcançou seu potencial total.
A melhor parte? Esse ritmo melhora...

"-Você está se tornando uma paranoica de marca maior.
-Todos me dizem isso. Deve ser uma conspiração."

Trailer de Capitão América: Guerra Civil


E caiu na rede a prévia de Capitão América: Guerra Civil, o quase Vingadores 2,5 da Marvel que, ao menos no vídeo divulgado ontem, parece ter mais a oferecer do que Vingadores: Era de Ultron.
No vídeo de pouco menos de dois minutos e meio, vemos a sequência da cena prós-créditos de Homem Formiga, com Bucky, Falcão e o Capitão América, em um armazém abandonado, e escala daí pra o festival de pancadaria entre os times de Capitão América e Homem de Ferro.
O Homem Formiga e o Homem-Aranha não dão as caras no trailer, mas há um vislumbre do Panterna Negra em ação, além de participação de William Hurt, retornando como general Thunderbolt Ross.
Confira:



Em se pesando que todas as prévias de filmes de super-heróis sempre parecem boas (Quarteto Fantástico 2 e Lanterna Verde tiveram ótimos trailers), Guerra Civil dá a impressão de se aproximar em tom de Capitão América - O Soldado Invernal, o que é uma ótima pedida já que a sequência do filme do sentinela da liberdade é um dos melhores filmes dos estúdios Marvel.
Dirigido por Joey e Anthony Russo e escrito por Stephen McFeely e Christopher Markus, Capitão América - Guerra Civil estréia em junho do ano que vem.
Será demora muito pra chegar...?

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Resenha Série: Jessica Jones: Chama-se Whiskey


O terceiro episódio de Jessica Jones vem na esteira da descoberta da protagonista a respeito dos super-poderes de Luke, e da descoberta de uma forma de anular os super-poderes de Kilgrave.
Infelizmente para a heroína, obter (e utilizar) o "antídoto" para a influência do vilão não é uma tarefa das mais fáceis. Especialmente em um momento em que Jessica se descobre com mais em comum com Luke do que poderia imaginar.
O episódio começa com um tom mais leve, com o casal comparando suas habilidades, falando dos outros super-heróis do mundo (o grandalhão verde e sua galera), e trepando feito coelhos. Aliás, é surpreendente a quantidade de sexo que rola entre Jessica e Luke, especialmente em se considerando que a série tem o logo vermelho e branco da Marvel em cima do título, ainda assim, nada é excessivamente gráfico, e nem tampouco gratuito.
Enquanto se conecta mais profundamente ao indestrutível dono do bar, Jessica ainda tenta inocentar Hope, e encontrar uma forma de derrotar Kilgrave, o que pode se tornar uma necessidade mais premente Trish decide ajudar no caso de Hope, colocando-se na mira do vilão.
Mais um bom episódio da série, Chama-se Whiskey, mantém o ritmo do capítulo anterior, e faz algumas revelações.
Trish é referida em mais de uma ocasião com sua contraparte em quadrinhos (que inclui uma referência aos cabelos ruivos da personagem no gibi, e o programa teen que ela estrelava na sua juventude), enquanto Jeri deixa claro, na sequência em que Hope é entrevistada por Trish ao telefone, o tipo de advogada que é. Mais do que isso, a razão pela qual Jessica vigiava Luke também é exposta, e ao mesmo tempo em que nos ajuda a entender a razão para a reticência da protagonista para o relacionamento dos dois, também gera uma inequívoca sensação de que Jessica, à despeito de seu bom coração, tem uma tendência violenta a ferrar a própria vida ao escolher a forma errada de abordar a maioria das situações.
Essa tendência fica clara na sequência em que ela pega seu vizinho chapadão Malcolm (Eka Darville) "emprestado" para uma incursão ao hospital.
O episódio conta com o primeiro cara a cara de Jessica e Killgrave no presente, ainda que separados por uma porta de vidro e sem trocar nenhuma palavra, e com duas sequências de ação.
A primeira envolve a luta de Trish contra um policial enviado por Kilgrave para matá-la após a entrevista de Hope, e a outra é o confronto entre Jessica e uma... Família. Pai, mãe e filho dominados por Kilgrave tentando impedir Jessica de seguir no encalço do vilão.
A primeira, por sinal, é melhor. Com Trish mostrando o resultado de seu treinamento e caindo no braço contra o tira possuído. As cenas de luta que envolvem Jessica com sua superforça ainda não acharam o tom até esse terceiro capítulo, soando todas como uma nota repetida onde a heroína arremessa as pessoas de encontro à parede.
O episódio dirigido por David Petrarca tem bastante ação, sim, mas realmente se sobressai na hora de nos oferecer novos drops de desenvolvimento dos personagens, e nos ajudar a entender porque Jessica parece estar se sentindo sempre tão miserável.

"-Bom Natal!"

Resenha Série: Jessica Jones: Síndrome de Esmagamento


O piloto de Jessica Jones é uma boa apresentação para a personagem e seu mundo. No segundo episódio era hora de tentar manter o nível após o desfecho chocante do primeiro capítulo, e Síndrome do Esmagamento não perde tempo, mostrando o rescaldo da sugestão de Kilgrave sobre Hope Schlottman e sobre Jessica, que tem que lidar não apenas com a ameaça do retorno do vilão, mas também com o fato de ter falhado para com Hope e seus pais.
Essa combinação faz com que Jessica decida provar a inocência da moça usando todos os meios à sua disposição, inclusive barganhar com Jeri, pedir penico à Patsy e perseguir Kilgrave ao invés de fugir dele.
O episódio novamente dirigido por SJ Clarkson e escrito por Melissa Rosenberg, Micah Schraft e Jenna Reback não perde tempo, e vai logo preparando terreno pro futuro da série, mostrando que sim, Luke tem poderes (e pavimentando o caminho para a série solo do herói), que a relação entre Jessica e ele tem muita lenha pra queimar, além de o quanto Kilgrave pode ser nocivo.
A investigação de Jessica, desesperada para descobrir como seu nêmese escapou da morte, a leva a uma série de descobertas que vão mostrando o controlador de mentes como um tenebroso psicopata desprovido de qualquer tipo de consideração ou empatia.
A passagem de Jessica pela casa da mãe do motorista de ambulância, a sequência em que Kilgrave invade a casa de uma família e seu modo de lidar com as crianças é de arrepiar, e deixa bem claro porquê do pavor de Jessica, e a extensão do poder do vilão, enquanto o flashback do acidente de ônibus deixa a audiência se perguntando o que teria acontecido naquela noite? Além de qual seria o verdadeiro motivo para Jessica vigiar Luke?
Aliás, a vigilância de Jessica sobre Luke rende uma briga de bar da dupla contra um grupo de jogadores de rúgbi, que, apesar de bacana, não tem nem sombra do garbo das sequências de luta de Demolidor.
Falando em cenas de luta, descobrimos nesse episódio que Patsy (Rachel Taylor) não tem absolutamente nada de indefesa, e que está se preparando fisicamente para o que quer que se avizinhe (Alguém disse Gata do Inferno?).
Apesar de algumas escorregadelas, e momentos que, à primeira vista, não acrescentam muita coisa (o caso extraconjugal de Jeri sendo misteriosamente descoberto pela esposa da advogada, os vizinhos do andar de cima de Jessica, algo deslocados e excessivos), o episódio acerta a mão de fato ao apostar nas relações entre Jessica e os coadjuvantes, no lado investigativo da protagonista, e especialmente ao edificar um vilão verdadeiramente ameaçador para a série.

"-Fique avisado. Eu tenho um paladar muito particular."

sábado, 21 de novembro de 2015

Resenha Série: Jessica Jones: Ladies Night


Demolidor, a série engendrada pela parceria da Marvel com o serviço de streaming Netflix, foi um triunfo absoluto.
Os treze episódios do seriado estrelado pelo advogado cego que protege a Cozinha do Inferno como um diabo da guarda usando seus sentidos ampliados por um acidente radioativo e seu treinamento ninja deixou bem claro que a capacidade da Marvel de produzir conteúdo além das aventuras leves do cinema era uma realidade.
A luta de Matt Murdock (Charlie Cox) para proteger o bairro onde cresceu do crime organizado encabeçado pelo rei do crime Wilson Fisk (Vincent D'onofrio) é uma tremenda história de super-herói, sombria, adulta, violenta e que jamais, ao longo de seus treze episódios, deixa a peteca cair.
Aclamada pela crítica e pelo público, Demolidor ganhou sinal verde para sua segunda temporada e gerou antecipação entre fãs que passaram a aguardar ardentemente as séries irmãs do show do vigilante cego.
A Marvel prometeu outras quatro séries, estreladas por Luke Cage, Punho de Ferro e Jessica Jones, que depois trabalhariam juntos em um programa d'Os Defensores.
Ontem a Netflix disponibilizou os treze episódios da temporada 1 de Jessica Jones, estrelada por Krysten Ritter (de Breaking Bad).
O piloto, intitulado Moça Bonita Não Paga, apresenta Jessica Jones, detetive particular. Jessica não é exatamente apegada a seu emprego, descrito por ela como revirar o lixo do mundo, e fazer tocaias para fotografar gente transando.
À primeira vista, Jessica é durona e sabe se defender. É meio trash, tem um escritório caindo aos pedaços em Hell's Kitchen, um apartamento bagunçado e sujo onde imperam garrafas de uísque vazias, roupas atiradas e a própria Jessica tentando dormir, mas resolvendo sair para bisbilhotar a vizinhança com sua câmera e uma garrafa de bebida.
Jessica aceita casos de particulares além de entregar intimações difíceis para a advogada Jeri Hogarth (Carrie Anne-Moss, a Trinity de Matrix) usando habilidades muito particulares de seu emprego anterior.
Ao ser contratada por um casal de Omaha para encontrar sua filha desaparecida, uma jovem estudante universitária chamada Hope (Erin Moriarty), Jessica acredita que é apenas mais um caso de universitária porra-louca que largou tudo para seguir um namorado aproveitador, mas esbarra com um caso ligado ao seu passado, e a um trauma que a persegue de maneira perene não importa onde ela vá.
Ladies Night opera dentro de uma estrutura de piloto de TV bem clássica. Isso não preocupa ou incomoda. As melhores séries que eu já assisti tinham pilotos bastante convencionais, de Breaking Bad a Demolidor passando por House of Cards.
O episódio dirigido por SJ Clarkson e escrito pela showrunner Melissa Rosenberg apresenta os personagens com competência, deixando claro que Jessica Jones opera em um mundo noir de mulheres fortes e independentes.
A personagem central é bem apresentada, deixando claro que é alguém marcada pela vida e pelo passado, a poucos passos de se tornar um desastre, mas mantendo um senso de responsabilidade que a impede de naufragar por completo.
O flerte com Luke Cage (Mike Colter) é um respiro em meio à cara amarrada perene da heroína (e leva à uma cena de sexo que alude diretamente aos quadrinhos), e Zebediah Kilgrave (o Dr. Who, David Tennant) é uma presença extremamente ameaçadora nas sombras, especialmente no final do episódio, quando deixa bem claro o tipo de atrocidade que é capaz de cometer.
Em suma, o piloto de Jessica Jones sucede no mais básico dos testes para uma série de TV:
Faz com que a audiência queira ver o segundo episódio. Torçamos para que os episódios seguintes mantenham (e elevem) a qualidade mostrada nesse primeiro contato.

"-Dia duro no escritório?
-Todos são."

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Inconstante


Ela estava deitada nua por cima dele. Aquela era a primeira vez que a via nua. Já haviam feito sexo antes, mas fora sexo corrido, ligeiro, de pé contra uma estante.
Agora, não. Agora estavam em quarto. Em um motel, o primeiro motel onde ele entrara, e ela estava sentada em cima dele, completamente nua, ajustando a temperatura do ar-condicionado sem deixar de rebolar maliciosamente o quadril enquanto manuseava o controle remoto do aparelho.
"Que abafamento nojento.", disse, sem cessar o rebolado.
Sorriu de olhos fechados ao sentir a lufada de ar gélido deixar o aparelho. Sua pele se arrepiou e ela dançou com os ombros enquanto se remexia sobre ele, intumescido como estivera desde o momento em que recebeu a ligação dela, no dia anterior, dizendo que Jorge viajaria e ela teria três dias livres.
"Me leva pra algum lugar e me come.", disse em sua habitual maneira impiedosa.
Ele sequer pensara duas vezes. Perguntou onde. "Num motel." ela respondeu. "Escolhe e me diz onde é. Te encontro lá.".
Ele desligou o telefone sem nem pedir o número dela. Foi para a internet procurar um motel. Não precisou de muito tempo para encontrar um. Alimentou, brevemente, a ideia de escolher algo que pudesse agradá-la, mas dado o que sabia de Ludmila, julgou que o ideal era escolher por seu próprio gosto.
Se ela não gostasse, tinha certeza, lhe diria, ou simplesmente não entraria mais em contato.
Parecia o estilo dela.
Escolheu um motel com banheira na suíte. Estava calor e ele julgou que seria agradável poder esperar por ela em um banho de imersão após sair da academia. Fez a reserva online e só então se deu conta de que não tinha como avisá-la de onde deveriam se encontrar.
Remoeu a própria tolice por quase três horas até ela ligar. Ela pediu seu número de celular.
Não pediu. Ordenou que ele o entregasse.
"Me dá teu celular.", disse do outro lado da linha, de forma tão incisiva que se ela estivesse diante dele ele provavelmente teria tirado o aparelho do bolso e entregue nas mãos dela.
Assim que ele declamou o último algarismo do número, ela desligou sem se despedir, e ele passou a receber mensagens dela por aplicativo de troca de mensagens.
Ele lhe disse em qual motel fizera reserva, o endereço do lugar, e que pensara em encontrá-la às seis.
"Por que tão tarde?", ela perguntou numa mensagem. Para na seguinte, enviada segundos depois inquirir "Que horas tu sai do trabalho?".
Ele respondeu, ela enviou "Quatro e meia.".
E não disse mais nada. Ele entrou no site do motel novamente e reagendou a reserva.
No dia seguinte, não foi à academia e tomou um táxi na esquina do trabalho assim que saiu, descendo diante do motel e pensando no ridículo de chegar de táxi a um motel.
Foi à recepção, pagou o quarto por duas horas com opção de mais duas, e para o quarto.
Luz rosa/lilás no ambiente.
Cama do tamanho de um tatame.
Lençóis de tecido brilhoso e liso... Cetim, talvez? Ele era péssimo com tecidos. TV de tela grande e canais adultos, segundo o display ao lado do aparelho. Uma banheira redonda dominava o meio do ambiente . Ele se despiu, largou as roupas junto à cama e encheu a banheira, deitando-se lá dentro.
Não teve nem dez minutos de relaxamento quando bateram à porta. Levantou-se, enrolou-se em uma grande toalha branca e atendeu à porta.
Ela sequer lhe deu oi, foi entrando. Tirou os óculos escuros, e andou até o meio do quarto, olhando em volta. Estava estranhamente despojada. Calças de ginástica pretas, bustiê esportivo azul-marinho, tênis de corrida Asics com mais cores do que ele se julgava capaz de nomear, o cabelo longo e platinado preso em um prático rabo de cavalo.
Ele a ficou olhando. Era ainda mais gostosa em roupas de ginástica do que em seus trajes sóbrios e elegantes.
Deus salve a Lycra, pensou.
Ela se virou com pouco caso, e o percebeu a olhando.
Sorriu. "Não gostou?".
"Gostei.", ele respondeu sentindo-se estranhamente seguro. "Só estranhei. Nunca te vi tão à vontade.".
Ela riu. "Não estou à vontade. Estou na academia.". Tirou o bustiê num movimento rápido sobre a cabeça e completou, "Vou ficar à vontade agora. Tira meu tênis.".
A mulher realmente gostava daqueles joguinhos de mandar, ele pensou. Começava a estranhar ela jamais tê-lo chamado de escravo. Subitamente deu-se conta de que vê-la em trajes de ginástica em um ambiente onde ambos estavam em pé de igualdade a desmistificou um bocado.
A desmistificou mas não a tornou menos sexy. Ele pôs um dos joelhos no chão diante dela e apanhou sua perna pela panturrilha firme, erguendo-a. Desatou o laço do tênis e folgou o cadarço com movimentos ligeiros e decididos. Removeu o calçado e o jogou pra longe.
Esperou um segundo por uma reprimenda que não chegou. Descalçou a meia de cano curto do pé delicado dela. Cheiro de talco. As unhas pintadas com base translúcida e feitas com esmero. Beijou o peito do pé dela, e o pousou no chão.
Repetiu a operação com o pé esquerdo. Livre dos calçados, agarrou a calça de ginástica pelo elástico da cintura, e a puxou apenas até o meio das coxas. Agarrou-a com as duas mãos pelas nádegas e a puxou para seu rosto, beijando-lhe os pelos bem aparados do púbis com voracidade.
"Não." Ela disse, afastando-lhe o rosto com uma das mãos. "Isso a gente já fez. Figurinha repetida não completa álbum.", sorriu maquiavélica. "Eu vou sentar na tua cara.".
Ele se levantou, desenrolou a toalha da cintura, e andou em direção à cama secando-se rapidamente e deitando-se em seguida. Ela terminou de despir a calça, andou nua até onde ele estava enquanto soltava os cabelos, e cumpriu a promessa, sentando-se languidamente sobre o rosto dele, e pondo-se a rebolar.
Ela rebolou por um bom tempo, e, se tivesse que arriscar um palpite, ele diria que ela gozou ao menos uma vez fazendo aquilo.
Talvez mais.
A lubrificação abundante entre as coxas rijas era testemunho, no mínimo, de uma fagulha de satisfação.
Vez que outra, o agarrava pelo pênis, o masturbando brevemente, ou se esticava e lhe chupitava a glande por alguns segundos, apenas o suficiente para mantê-lo com uma ereção quase dolorida de tão constante.
Depois disso, levantou-se, e o chupou com voracidade, mas apenas por alguns minutos, então, pôs-se de quatro, e ordenou que a comesse com força, ao que ele obedeceu.
Ergueu-se sobre os joelhos e se posicionou atrás dela, agarrando-a pela cintura. Pegou o próprio pau junto à base, e direcionou para a entrada da boceta dela.
Enfiou devagar, até suas bolas estarem coladas ao monte de Vênus dela.
Começou a se movimentar pra dentro dela, realizando os movimentos fortes e compassados, quase uma pancada com o púbis à cada estocada. Não levou vinte minutos para ouvir o arfado dela se tornar um gemido, e o gemido um quase uivo que terminou com um tremor leve percorrendo-lhe o corpo e fazendo-a apoiar um dos braços no cotovelo, e não na mão.
Ele se sentiu poderoso, e ainda que suasse em profusão, sentindo as gotículas escorrerem-lhe pelas costas, testa, peito e braços, negou-se a parar. Manteve-se comendo-a de maneira inexorável, quase com raiva que lhe transbordou dos movimentos e escapou por seus lábios em um asqueroso "Goza, puta.".
Todavia, ela não se ofendeu.
Pelo espelho que ocupava a parede diante da cama ele a viu sorrir com todos os dentes, e fechar os olhos enquanto movia o quadril para cima e para baixo no compasso da metida dele.
Após alguns minutos que começaram a parecer excessivamente lentos para ele conforme suas virilhas sentiam a carga do movimento de vai e vem, ela enunciou "Eu vou gozar de novo.".
A declaração dela o fez esquecer do cansaço e da dor. A segurou com firmeza pelos quadris e meteu sem piedade, o saco chicoteando-lhe a bunda à cada investida até ela confirmar, em um grito sussurrado e rouco "Tô gozando, tô gozando", e desmoronar sobre a cama.
Ele jogou o peso do corpo pra trás. O pau continuava duríssimo, mas as pernas latejavam acima dos joelhos. Sem dizer nada, a virou de barriga pra cima, de maneira decidida. Abriu-lhe as pernas, e se colocou entre elas. Achou o caminho até dentro dela e continuou se movimentando. O suor brotava de sua têmpora escorria por seu rosto e pingava nela. No rosto, pescoço e peito.
Ele pensou que se fosse outra situação. Outra pessoa, seria o momento em que ele sorriria e diria alguma coisa a respeito da chuva de suor que lançava. Mas não era o feitio dela.
Continuaram.
Por um longo tempo, por posições diversas, até que, ela por cima, achou que estava muito quente, e ajustou a temperatura do ar-condicionado.
Rebolava com ele rijo dentro de si. Então, o olhou e concedeu. "Tem alguma coisa que tu queira fazer antes de eu ir embora?", perguntou.
Ele sorriu. "Acho que cobrimos quase tudo o que eu gosto de fazer.".
"Não precisa ser alguma coisa que tu goste. Alguma coisa que tu queira.", ela disse, maliciosa, mas deteve-se "Quase... O que faltou?", perguntou.
Ele pensou em sorrisos e cumplicidade. Mas achou que seria risível pra ela.
Ela era uma mulher prática. Pragmática. Não entenderia ou quereria entender do que ele sentia falta. Sem razão consciente, disse "Ficar deitados sem roupa.".
Ela se levantou de cima dele de cara amarrada.
"Isso eu só faço com o meu marido.".
Andou até o chuveiro. Tinha uma vitrine que dava para o quarto, de modo que, deitado na cama, ele a enxergava perfeitamente se banhando. Estava de costas para ele.
Teve a sensação inequívoca de quê havia acabado ali sua breve aventura com a mulher mais velha e casada.
Era, a bem da verdade, uma sensação de certo alívio.
Vestiu novamente a cueca boxer preta, e ficou deitado encarando o teto espelhado. Olhando além de si. Sempre tinha alguma repulsa à própria imagem após fazer algo errado, e tinha a sensação de que aquelas últimas horas, desde atarde anterior, haviam sido uma inexequível sucessão de erros crassos.
O chuveiro se desligou.
Ele olhou na direção dela, que juntava os tênis e as meias que ele jogara pelo quarto. Vestiu as calças e o bustiê, sentou na cama atrás dele e se pôs a vestir as meias.
Ele a olhou de esguelha pelos espelhos. Parecia cansada.
Teve um ímpeto de tocar de leve nas costas dela, mas não o fez.
Não sabia como ela reagiria, e ele não tinha certeza de que tipo de relação era aquela.
Ela calçou os tênis e os atou. Pegou os óculos escuros no chão do meio do quarto, os colocou sobre os cabelos como uma tiara e saiu sem se despedir.
Ele tomou banho e chegou à recepção pouco antes de fechar as duas horas pelas quais havia pagado.
Saiu do motel pelo estacionamento, e a viu parada junto a um Mondeo prata.
Ia passar reto, mas ela o chamou. Andou a contragosto, como um moleque.
"Quer uma carona pra casa?", ela perguntou.
"Não. Obrigado." ele respondeu. Não queria mais andar com ela. Não queria mais passar nem um minuto perto dela. "Quero andar um pouco.", mentiu sentindo as pernas e a musculatura da pélvis e cintura latejarem.
Ela assentiu em silêncio. Ele andou mais alguns passos e ouviu a porta do carro se abrir.
"De novo, amanhã?", ela perguntou quando ele esperava ouvir a porta batendo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Intervalo


Ela estava sentada no banco de ferro da praça, com ele deitado no banco, a cabeça pousada sobre o colo dela.
Ele, bem mais alto do que o banco era longo, conseguia pousar os pés no chão com facilidade. O mormaço da tarde lhe pegava bem no rosto, de modo que ele tinha os olhos fechados.
O fato de eles terem almoçado há pouco e ela passar as unhas de leve por sua barba, apenas o fazia sentir mais vontade de adormecer.
Ela deve ter percebido que ele começaria a dormir a qualquer minuto, ou então ele cochilou e roncou. Porque ela falou, totalmente de supetão:
-Mais amor, por favor.
Ele, sem abrir os olhos, respondeu:
-Eu te amo.
A resposta silenciosa se estendeu de tal modo que ele abriu um olho e viu que ela, ainda que permanecesse cofiando-lhe a barba, olhava adiante. Ele ergueu de leve a cabeça, e mirou na direção onde ela olhava. Na parede de uma garagem próxima, um cartaz dizia aquelas exatas palavras:
Mais amor, por favor.
Ele suspirou enquanto deitava novamente a cabeça:
-É uma boa pedida.
Ela ficou em silêncio mais alguns momentos, e quando falou, deu pra ver que ela tinha tentado segurar, mas não conseguiu:
-Tu nunca me disse isso enquanto a gente namorou.
Ele abriu os olhos. Já tinham tido aquela conversa.
-É... Eu sei. - Ele disse, num jab verbal. - Eu... É engraçado. Eu tinha dificuldade pra expressar meus sentimentos com palavras... - Completou.
Ela riu:
-"Tinha"... Que bonitinho. - Disse, cínica.
Ele riu de volta. Mas continuou:
-Sabe... Eram muitos, muitos, muitos "eu te amo" que eu tinha guardados dentro de meu coração à certa altura da minha vida... Muitos, juntados ao longo de muitos e muitos anos. Amor, pra mim, é coisa séria... Séria demais, até sisuda. "Eu te amo" dá poder a quem ouve. Agrilhoa quem diz. Ao menos quando é dito de coração.
Ela, atenta, continuava acariciando-lhe a barba.
Ele continuou:
-Me lembro da primeira vez que disse "eu te amo" de coração. Estava na rua, na avenida Praia de Belas, com a minha primeira namorada de verdade. Achei por bem dizer. Era noite, dia de semana. Estávamos sentados lado a lado, de mãos dadas numa calçada. E eu percebi que amava ela... E não pude não dizer.
Ela sorriu:
-E como foi?
-Não muito bom - Ele riu de volta. -Ela não retribuiu. Me disse que, quem dizia "eu te amo", o dizia esperando ouvir o mesmo em resposta.
-É verdade. - Ela assentiu, casual.
Ele concordou:
-É...Eu esperava. Mais tarde, quando, julgo, ela percebeu e teve certeza de que também me amava, ela me disse... Mas aí o estrago estava feito.
-Estrago? - Ela riu do exagero.
-Muito - Ele assentiu. -Eu nunca mais disse "Eu te amo".
-Não é verdade. - Ela protestou. -Tu disse.
Ele olhou direto pra ela. Sorriu:
-Mas nunca à uma namorada. Por um longo tempo. Passei três outras relações mantendo silêncio absoluto de rádio.
-É... - Ela confirmou. -Eu sei.
-Mas sabe... - Ela continuou. -Dizia "eu te amo" em profusão a amigos e amigas. Mas nunca mais à uma amante...
-"Amante"... - Ela interrompeu, sarcástica.
-É... - Ele confirmou, ignorando a pitada de veneno. -Porque, como eu disse, eram muitos e muitos os que tinham ficado armazenados... Nem sempre eu dizia de coração cheio, e por vezes afastei pessoas que me interpretavam errado.
-Sério? - Ela perguntou, incrédula. -Tinha gente que achava que tu tava apaixonado assim, logo de cara?
Ele assentiu.
-Pior que tinha... Ah... Paciência. "Eu te amo" é coisa séria, sisuda e agrilhoadora mas merece pronúncia, né? Os mal entendidos são mazelas da vida. Antes todos os mal-entendidos do mundo se originassem de um "eu te amo" mal interpretado.
Ela riu em concordância. Ele continuou:
-Por muito tempo, eu só disse "eu te amo" a amigos... Mas sabe... Não quer dizer que eu não amei ninguém no intervalo.
Ela sorriu pra ele, e se recurvou da maneira como só ela era capaz, alcançando-lhe a ponta do nariz com os lábios e estalando-lhe um beijo.
Ficaram ali parados em silêncio. Ele voltou a fechar os olhos sabendo que em poucos minutos teria que levantar e voltar ao trabalho. Após alguns momentos disse:
-Eu te amo, alemoa.
-Também te amo, ogro. - Ela respondeu.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Resenha DVD: O Exterminador do Futuro: Gênesis


Eu confesso que depois da tentativa com Christian Bale e Sam Worthington cometida por McG não ter funcionado em 2009, achei que o Exterminador do Futuro seria deixado em paz pela Paramount, e se tornar uma daquelas raras franquias que conseguiram ficar no passado recebendo apenas a reverência dos fãs que a amavam mais ou menos como aconteceu com De Volta Para o Futuro, por exemplo.
Mas aparentemente a única lição tirada de O Exterminador do Futuro: A Salvação, foi a de que um filme do Exterminador do Futuro precisa ter trocadilhos do Schwarzenegger em carne e osso, e não um dublê digital mudo.
A Paramount resolveu, então, chamar de volta o Governator, e fazer mais uma tentativa.
Alan Tylor, de Game of Thrones e Thor - O Mundo Sombrio foi chamado para comandar a empreitada, os roteiristas Patrick Lussier (de Fúria Sobre Rodas) e Laeta Kalogridis (Ilha do Medo) escreveram o roteiro, um misto de sequência e reboot, que traria Schwarza de volta ao mundo da guerra entre homens e máquinas.
Orbitando o ciborgue, Emilia Clarke (A Daenerys Targaryen de GoT) surgiu como uma ótima alternativa à Linda Hamilton (E curiosamente, é outra egressa de GoT a interpretar a personagem, já que Lena Headey, a rainha Cersei, deu cara à Sarah Connor em Terminator: The Sarah Connor Chronicles).
Jai Courtney, habituado a papéis de vilão, ganhou uma rara chance como mocinho no papel de Kyle Reese (que já foi de Michael Biehn, Anton Yelchin e Jonathan Jackson), e John Connor encontrou sua sexta encarnação em Jason Clarke.
Times escalados, bola ao centro e toca pra mais uma tentativa de fazer um novo segmento em uma série que vinha dando sinais de desgaste desde o terceiro capítulo.
O Exterminador do Futuro: Gênesis abre em 2029.
A guerra de humanos contra as máquinas da Skynet segue como se todos os outros filmes jamais tivessem acontecido.
John Connor é o líder da rebelião humana, seu conhecimento privilegiado, herdado de sua mãe, Sarah, o leva a ser visto por muitos como um profeta, e tem se mostrado a grande vantagem da humanidade na luta.
Ele e seu braço direito, o sargento Kyle Reese, se preparam para um ataque duplo à Skynet, em dois pontos distintos, um, uma grande fábrica, outro, o que parece um inofensivo campo de prisioneiros, mas guarda a maior criação da Skynet, sua mais terrível arma:
O dispositivo de deslocamento temporal.
Essa máquina é usada para enviar um exterminador T-800, o endo esqueleto metálico coberto com tecido humano que todos nós conhecemos, ao ano de 1984, e matar Sarah Connor antes que ela dê à luz John, e ele se torne o messias guerreiro que lidera a humanidade.
Ou seja, a história do primeiro O Exterminador do Futuro.
O Exterminador (Um Schwarza rejuvenescido no computador bem convincente) chega peladão ao observatório Griffith em Los Angeles em meio a jornais amassados e um orbe de energia elétrica e ruma contra os três punks que estão prontos para serem exterminados quando um exterminador notadamente envelhecido surge, e os dois caem na porrada!
Acontece que no momento em que Reese entra na máquina do tempo, um exterminador infiltrado (O Dr. Who, Matt Smith) ataca John, um evento jamais registrado. Esse fato inédito, cria uma fratura na linha temporal que conhecemos, e o 1984 ao qual Kyle Reese deveria ser enviado, simplesmente não existe.
Ao invés de encontrar uma Sarah Connor novinha e inocente trabalhando como garçonete e sendo perseguida por um T-800, ele chega encontrando um T-1000 (o modelo de metal líquido de T-2, agora vivido por Lee Byung-Hun) que o estava aguardando!
John é salvo no último instante por uma Sarah Connor que não é nem de longe a mocinha inocente da qual John lhe falou (ainda que não seja a neurótica truculenta de T-2).
Ela tem consigo um Exterminador modelo T-800 guardião a quem chama carinhosamente de "Pops" (terrivelmente traduzido em português como "papi").
Esse T-800 foi enviado para proteger Sarah quando ela ainda era uma menininha e sofreu um atentado realizado por um T-1000, que matou seus pais.
Sarah foi criada pelo T-800, aprendendo a sobreviver e lutar com o ciborgue, e o ensinando a emular um comportamento mais humano (os sorrisos são hilários), aguardando a chegada de Reese, e dos outros exterminadores enviados para matá-la, mas que a encontraram mais preparada do que nunca.
Sarah e Pops criaram um dispositivo de deslocamento temporal, e munidos da CPU de um dos exterminadores, agora podem usá-lo para viajar até 1997 e impedir o dia do julgamento, quando a Skynet toma o controle do sistema de mísseis das forças armadas dos EUA e lança um ataque nuclear que dizima 3 bilhões de vidas.
Mas Reese percebe que o destino deve ser outro:
Ele tem uma memória nascida do momento da fratura temporal, de um recado de si mesmo dizendo que o apocalipse foi adiado vinte anos, ocorrerá em 2017 e está ligado a algo chamado Gênesis.
Reese e Sarah viajam até 2017, encontrando-se com Pops e preparando-se para fazer (mais) um ataque derradeiro à Skynet e impedir o apocalipse nuclear, mas para isso, terão de enfrentar o último inimigo que esperavam:
John Connor.
O Exterminador do Futuro: Gênesis é um filme que gera sensações conflitantes. Ele é cheio de sacadas interessantes (Emilia Clarke como Sarah Connor é um achado, a atriz britânica está uma delicinha no papel), boas sequências de ação, por vezes vertiginosas, e até momentos de suspense realmente tensos.
A história engendrada por Lussier e Kalogridis não chega a ser um disparate em se tratando da mitologia de viagens temporais, e no geral, Gênesis é amplamente superior a A Salvação e A Rebelião das Máquinas.
O grande problema do longa, e de toda a série Exterminador do Futuro, por sinal, é O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final.
O filme de 1992 é, ainda hoje, um dos melhores filmes de ação já realizados, e é difícil sequer chegar perto de igualá-lo, de modo que tudo o que tem a marca Exterminador de lá pra cá, parece um pastiche daquele filme.
Além disso, ao fazer mais uma volta ao passado, mais um ataque definitivo à Skynet, e impedir o dia do julgamento mais uma vez, Gênesis desautoriza os filmes originais, trapaceia, e faz com que toda a série pareça uma jornada infrutífera, à medida em que, não importa o que os mocinhos façam, a Skynet esteja fadada a surgir e fritar a humanidade rumo à guerra (Se duvida, veja a cena oculta no meio dos créditos).
Por mais divertido que seja ver Schwarzenegger voltar ao papel que o consagrou, atirar, lutar, ser arremessado e explodido, deixar o robô envelhecer, aprender novos truques e até emular emoções, Gênesis não se justifica.
Não há nada de horrível em O Exterminador do Futuro: Gênesis. Nem de longe.
Apenas horrivelmente desnecessário.

"-Velho, mas não obsoleto."

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Resenha DVD: Divertida Mente


É a Pixar.
E eu poderia encerrar essa resenha por aqui, provavelmente tendo te convencido a ver o filme.
Porque mesmo quando a Pixar é menos do que pode ser, ainda faz coisas divertidas como Universidade dos Monstros, Valente e Os Incríveis, e mesmo quando é ainda menos, faz sucessos que agradam ao menos as crianças, como Carros e Aviões. Mas quando a Pixar é tudo o que pode ser, produz coisas como Toy Story, como Wall-E, e como Up- Altas Aventuras.
A única coisa que me impediu de ir assistir Divertida Mente no cinema, foi a ausência de cópias legendadas. Se UP acertou na mosca ao escalar Chico Anísio na voz de Carl Fredricksen, já nos trailers de Divertidamente deu pra ver que Miá Mello, Dani Calabresa, Otaviano Costa e Léo Jaime não chegariam nem perto do trabalho do veterano, e nem dos dubladores originais norte-americanos, de modo que, antes de ouvir cantores, pseudo-humoristas e apresentadores de programas de variedades dando voz aos personagens do longa, preferi sentar e esperar o lançamento do filme em home-video.
Nesta madrugada, fiz sessão dupla, primeiro o duvidoso Pixels, e depois a aposta mais segura, Divertida Mente.
Segura?
Não. Não segura:
Certeira.
Divertida Mente se passa dentro da mente da menina Riley. Desde o nascimento, ao ouvir pela primeira vez a voz de sua mãe, ela conheceu a Alegria (Amy Poehler, de Parks & Recreation). Imediatamente após conhecer a Alegria, Riley foi apresentada à Tristeza (Phyllis Smith, de The Office).
Conforme crescia, Riley ia ganhando novas emoções, Medo (Bill Hader, de Superbad), Nojinho (Mindy Kaling, outra egressa de The Office), e Raiva (Lewis Black, e eu recomendo fortemente o stand-up do homem, Black-out on Broadway, é sensacional).
Essas cinco emoções comandam as ações e memórias de Riley através de um painel de controle dentro da mente da menina onde comandam suas ações e criam as memórias dela, armazenadas em esferas translúcidas da mesma cor que a emoção em que foram baseadas (amarelo para alegria, azul para tristeza, vermelho para raiva, roxo para medo e verde para nojo), essas memórias viajam pelocérebro de Riley através de tubos de sucção que ligam as diferentes localidades da mente da menina e guardadas em imensos arquivos que circundam a sala de controle onde as emoções "pilotam" Riley cada uma de uma vez, e as ilhas de personalidade, cinco centros com cara de parque temático que contém tudo o que Riley ama e é.
Quando Riley chega aos onze anos de idade (com a voz de Kaitlin Diaz), Alegria se orgulha de que a maioria das memórias dela sejam felizes.
Entretanto, a decisão do pai (Kyle McLachlan) e da mãe (Diane Lane) de Riley de se mudar de Minnesota para São Francisco pode alterar isso.
Ao deixar para trás a casa, a escola e os amigos que ama, Riley e suas emoções passam por um grande estresse. Ao chegar a São Francisco, Alegria se esforça para manter as coisas sempre positivas a cada percalço durante a problemática mudança, ainda assim, as tudo começa a dar errado quando, no primeiro dia de aula de Riley na nova escola, uma lembrança feliz muda de cor ao ser tocada pela Tristeza, fazendo a menina chorar diante dos colegas.
Uma altercação entre Tristeza e Alegria faz com que Memórias Centrais, as lembranças mais importantes de Riley, caiam de seus contêineres e sejam apanhadas pelo sistema de sucção, lançando-as junto com as duas emoções em zonas periféricas da mente da menina.
Daí em diante, acompanhamos Alegria e Tristeza tentando voltar ao centro de comando enquanto Nojinho, Medo e Raiva lutam para manter as coisas na melhor ordem possível até que as Memórias Centrais sejam recolocadas antes que a personalidade de Riley se desintegre.
É brilhante.
Divertida Mente é outro desses clássicos instantâneos da Pixar que continuam na nossa cabeça mesmo após o final dos créditos.
O modo como a psicologia é tratada pelo diretor Pete Docter (O mesmo de UP.) que bolou a história junto com Ronnie Del Carmen (que trabalhou no departamento de arte e desenvolvimento de Up, Procurando Nemo, Ratatouille entre outros e co-dirige Divertida Mente.) é tão honesto e relacionável que é virtualmente impossível não traçar paralelos entre o que se passa no filme e alguma experiência pessoal passada ou presente. Um excelente exemplo é a forma como a depressão de Riley (que nunca é tratada nominalmente como "depressão") é descrita.
Mesmo as mais felizes de suas memórias se tornam tristes à medida em que a melancolia da saudade dá a tudo outros matizes, e a audiência é levada junto pela torrente de emoções da menina conforme a história se desenrola. Um exemplo disso é a participação de Bing Bong (Richard Kind).
Bing Bong foi o amigo imaginário de Riley na sua tenra infância, e com o passar dos anos foi sendo deixado de lado. Bing Bong é uma mistura de elefante, gato e golfinho com corpo de algodão doce vestido feito um mendigo que chora balas e tem um carrinho voador movido a música. Ele é uma criatura de imaginação que apenas deseja que Riley seja feliz, e é divertido e engraçado à primeira vista, mas seu segmento na história, ainda que tenha momentos hilários, tem um desfecho de cortar o coração.
O roteiro de Meg LeFauve e Josh Cooley tem aquela qualidade intrínseca dos filmes da Pixar, de fazer rir e chorar com intervalos mínimos, e falar à audiências de todas as idades conseguindo que pessoas de faixas-etárias absolutamente distintas riam de uma mesma cena por razões completamente diferentes.
Jogando com metalinguagem (O lugar onde os sonhos e pesadelos são "gravados", ou o abismo do esquecimento, ou a masmorra do subconsciente), fazendo homenagens à estilos de arte e animações (A passagem pelo Pensamento Abstrato) e satirizando coisas que passam batidos pros bem pequenininhos mas que na hora arrancam uma risada dos adultos (a piada com relação a opiniões e fatos, ou a utilidade de certas memórias são os exemplos mais óbvios desse tipo de humor) ou o pastelão puro e simples, Divertida Mente lança um olhar cálido e genial sobre o que é amadurecer, e como nossas emoções se tornam mais complexas conforme crescemos não é apenas outra das grandes animações da Pixar, é um dos melhores filmes do ano, se perfilando a Up - Altas Aventuras como o supra-sumo do que o estúdio é capaz de realizar.
Alugue sem pensar duas vezes, mas tenha o lenço à mão.
É a Pixar.

"Leve-a até a lua por mim, Ok?"

Resenha DVD: Pixels


Quando eu vi o primeiro trailer de Pixels, confesso que me empolguei. A premissa do longa, aliens encontram cápsula de comunicação terrestre que inclui amostras de games oitentistas, e invadem a Terra seguindo o modelo descritos nos ditos jogos era empolgante demais pra passar batida por qualquer gamer do mundo.
O nome de Chris Columbus não chegava a ser um empecilho. O diretor de filmes juvenis já deixou claro que, apesar de seus escorregões, sabe conduzir um filme. O grande problema é quando aparecia na tela a cara do Adam Sandler.
Não me entenda mal. Eu não odeio o Adam Sandler. Na verdade, tenho ao menos um filme com o comediante egresso de Saturday Night Live na minha lista de favoritos.
Tudo bem que é Embriagado de Amor, de Paul Thomas Anderson, mas ainda assim, Sandler é o protagonista. Também gosto de Reine Sobre Mim, e Afinado no Amor.
E meio que para por aí...
Pra piorar as coisas, descobri que o roteiro do filme (que adapta o curta de mesmo título dirigido por Patrick Jean em 2010) fora realizado por Timothy Dowling (de Esposa de Mentirinha e Guerra é Guerra) e Tim Herlihy, responsáveis por escrever a maioria das porcarias de Sandler desde Billy Madison - O Herdeiro Bobalhão até Gente Grande 2, passando por O Paizão, Little Nick e Um Faz de Conta que Acontece... E pronto, lá se foram não só minha empolgação como qualquer vestígio de vontade de ver o filme.
Não foi por mais senão falta de opção que resolvi assistir ao filme em DVD, ao menos pra saciar minha curiosidade e ver se eu não havia sido injusto com Pixels. Guardadas as proporções, eu também havia esnobado Noite sem Fim no começo do ano, e acabou que era um tremendo de um filme, de modo que, quando cruzei com Pixels na estante da locadora, suspirei "Ah, que diabos".
Na fita, o ano é 1982, o moleque Sam Brenner passa na casa do amigo Will Cooper e eles correm para o fliperama da cidade para passar horas torrando moedas em máquinas clássicas como Galaga, Space Invaders, Pac-Man, Centipede e Animal Crossing.
Sam é um aficionado, ele enxerga os padrões de imediato, dominando os games com tanta naturalidade que Will o encoraja a se inscrever num campeonato de arcade.
Lá, Sam e Will conhecem o menino prodígio Ludlow Lamonsoff, e o "Fire Blaster" Eddie Plant. É justamente contra Eddie que Sam disputa a final do torneio, em uma máquina de Donkey Kong, onde sam é derrotado.
Mais de 30 anos depois, Will e Sam (agora com as caras de Kevin James e Adam Sandler) continuam bons amigos.
A despeito do que Will imaginava, a vida de Sam degringolou, e enquanto ele é o presidente dos Estados Unidos, Brenner trabalha fazendo instalação de eletrônicos, jamais tendo se recuperado do fracasso no torneio de 1982.
Ele vem de um casamento desfeito, sem filhos ou perspectiva exceto os encontros regulares com seu amigo presidente.
As coisas podem mudar quando uma raça de alienígenas encontra uma cápsula espacial com informações sobre games dos anos oitenta que inclui o campeonato de Brenner, e a interpreta erroneamente como uma declaração de guerra.
Após destruírem uma base militar norte-americana no Peru, os aliens se preparam para repetir a dose em Londres quando o presidente Cooper resolve ouvir os avisos de Sam e Ludlow (que crescido é interpretado por Josh Gad, uma versão mais barata de Jack Black), e correr para salvar o mundo do ataque pixelizado.
Para isso, eles terão a ajuda da tenente-coronel Violet Van Patten (uma lindona Michelle Monaghan), que desenvolve as únicas armas capazes de danificar as formas eletrônicas dos invasores, e do desafeto de Sam, o bad boy do fliperama Eddie "Fire Blaster" Plant (Peter Dinklage).
Juntos, eles precisam defletir o ataque de Centipede à Londres, e o maior Pac-Man do Mundo em Nova York para impedir a destruição da Terra.
Existe um sentimento ambíguo com relação a Pixels.
Ao mesmo tempo em que todos nós já vimos filmes muito, muito, muito piores estrelados por Adam Sandler (Cada um tem a Gêmea que Merece, por exemplo, deveria ser queimado em praça pública), e já os vimos fazerem sucesso nas bilheterias (Ninguém em sã consciência continuaria financiando coisas como Esse é Meu Garoto, Juntos e Misturados e Esposa de Mentirinha se não fizesse dinheiro, não é?); Pixels parte de uma premissa tão cheia de potencial, que mesmo não sendo, nem de longe, o pior filme de Adam Sandler, cria uma sensação de desperdício tão palpável que fica difícil não odiar o filme.
Chris Columbus faz o que pode, dirigindo sequências de ação interessantes e com efeitos visuais muito bons em uma produção visivelmente mais qualificada que qualquer outra já estrelada por Sandler, ainda assim, o roteiro de Herlihy e Dowling é tão miserável, que o diretor parece desinteressado na hora de filmar qualquer cena que não envolva os pixels do título.
O arremedo de script parece ansioso por escantear a mistura de ação e sci-fi contida na ideia básica do filme em nome do mais do mesmo do cinema da produtora Happy Madison de Sandler, onde sempre há espaço para aparições de camaradas do comediante, atores sérios fazendo papel de idiotas (aqui é Sean Bean, que ao menos tem sua dignidade menos manchada que Al Pacino quando se associou a Sandler), e o tratamento à mulheres variando entre infantil e juvenil.
Não bastasse isso, Sandler, James e Gad estão péssimos. O protagonista nem parece estar tentando atuar, James se restringe à dancinhas e caretas, Gad grita e desmaia o tempo todo, enquanto Michelle Monaghan, coitada, interpreta a habitual caricatura feminina, chorando no armário bebendo vinho após ser trocada por uma mulher mais jovem. A exceção pertence a Dinklage, que detona no papel do (quase) vilão Eddie Plant, entregando uma atuação exagerada na medida.
Com tudo isso, Pixels é uma óbvia falha, um produto escrito para adolescentes que não vão entender a nostalgia dos games da geração 8 bits, ou adultos com idade suficiente para sentir falta do fliperama que não terão paciência pro festival de idiotice do longa.
Ainda que renda algumas risadas aqui e ali, Pixels é uma tremendo desperdício de potencial.

"-Eu esculachei o teu jogo!"

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Resenha DVD: Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível


Desde o final do ano passado, Tomorrowland vinha sendo alardeado como um dos grandes lançamentos de 2015. O longa metragem de Brad Bird, egresso da Pixar com o divertidíssimo Missão: Impossível - Protocolo Fantasma no cartel, prometia a criação de um filme estrelado por atores com a alma e o coração das animações do estúdio que revolucionou os desenhos animados. Por meses todos ficaram ansiosos pelo filme, que figurava nas listas de mais aguardados de quase todos os sites e revistas de cinema.
Mas junho (maio, nos EUA) chegou, Tomorrowland estreou e não chegou nem perto do evento que todo mundo esperava.
O longa fracassou nas bilheterias, sequer chegando a cem milhões de dólares nos Estados Unidos, e somando um total de pouco mais de duzentos e nove milhões para um orçamento de 190, dando a entender que a reação de todo mundo foi a mesma que eu tive à época diante do poster e dos trailers do filme, um sonoro "Hmmm..." enquanto erguia as sobrancelhas e entortava a boca pro lado.
Ontem aluguei o filme para conferir se eu (e aparentemente todo o mundo mais) havia cometido alguma grave injustiça para com Tomorrowland (que na tradição brasileira ganhou um extremamente longo, pouco acurado e genérico sub-título).
O longa abre com um flashback.
Frank Walker (George Clooney) conta à audiência sua experiência quando, em 1964, viajou à Feira Mundial para concorrer em um concurso de inventores com um jetpack feito em casa. O jovem Frank mostra sua invenção para um jurado (Hugh Laurie) e é esnobado por ele, pois sua invenção ainda não é cem por cento funcional.
Se o jurado David Nix não parece interessado, o mesmo não se pode dizer da menina que o acompanha.
Athena (Raffey Cassidy), uma jovenzinha sardenta de franja no cabelo e grandes olhos azuis, se aproxima de Frank e lhe dá as coordenadas para que ele a siga quando ela for embora com Nix e outros homens, e um aparentemente inofensivo pin.
Agindo conforme ordenado por Athena, o jovem Frank (Thomas Robinson) entra na atração "It's a Small World", da Disney, para, ao entrar em um túnel, ser tragado para um futuro utópico repleto de imensos arranha-céus art-déco que convivem com áreas verdes verticais, piscinas suspensas, monotrilhos voadores que serpenteiam pelo céu e enormes e prestativos robôs construtores, tudo isso cercado por imensos trigais dourados.
Ao sobreviver a uma grande queda graças à sua invenção, Frank reencontra Athena, que lhe deseja boas vindas.
Aí, Frank é interrompido, e conhecemos Casey (Britt Robertson), como ela própria se autodenomina, uma otimista.
Casey é filha de um engenheiro da NASA, e está preocupada com o futuro de seu pai, uma vez que a plataforma de lançamento de Cabo Canaveral, onde ele trabalha, está por ser desativada e desmantelada.
Durante o dia, Casey vai à aula, cuida do irmão mais novo e faz coisas de adolescente. À noite, ela invade as instalações e sabota os guindastes que trabalham na desmontagem da estrutura de lançamento.
A jovem Casey também recebe a visita de Athena, e o misterioso pin. Eventualmente, ela também é levada a Tomorrowland, mas é trazida de volta, e, ansiosa por voltar à Terra do Amanhã, começa uma busca que a coloca em grande perigo, mas também no caminho de Frank Walker, hoje um homem desiludido e amargurado, escondendo-se em uma fazenda isolado do mundo.
Agora, a jovem inventiva e brilhante, precisa se unir ao velho inventor cínico em uma perigosa missão para, com a ajuda de Athena, não apenas encontrar o caminho de volta até Tomorrowland, mas também, para impedir a destruição do nosso mundo.
Assistindo ao filme é fácil perceber porque ele foi tão antecipado.
Tomorrowland é um deleite visual, um festival de apuro técnico em cada aspecto de uma produção cinematográfica. A edição, o som, os efeitos visuais, a trilha sonora, a fotografia, é tudo muito, muito bom.
O filme frequentemente premia a audiência com momentos de fantasia de ficção científica quase oníricos entrecortados por pequenos vislumbres de uma lógica extremamente prática, os ângulos escolhidos por Bird para filmar são sempre espertos, e a maneira como o pin símbolo do filme funciona com Casey, fazendo ela existir em dois espaços de tempo/espaço simultaneamente, é particularmente inspirada.
Em seus melhores momentos, Tomorrowland tem uma pegada firme, que deixa claro o quanto de paixão pelo projeto motivou Bird a realizá-lo. O elenco, em especial Clooney e Cassidy, compra a paixão do diretor, e se esforça para dar lastro à trama, mas a verdade é que há algo em Tomorrowland que impede o filme de empolgar a audiência como obviamente empolgava a Bird...
Talvez seja a própria natureza da trama engendrada por Damon Lindelof, o próprio Bird e mais Jeff Jensen, quase uma ode à ciência e aos privilegiados (ecoando o trabalho de Bird em Os Incríveis...), onde as grandes mentes do mundo se cansaram dos medíocres e fizeram um mundo perfeito só para eles e alguns poucos escolhidos livres das amarras da ambição, da burocracia e da burrice. Talvez seja a personagem de Britt Robertson, a verdadeira protagonista do filme, que não tem absolutamente nada pra mostrar além de gritinhos agudos e teimosia, ou quem sabe o fato de que, a despeito de todo o otimismo salpicado ao longo das duas horas e dez de projeção, o vilão de Hugh Laurie, de fato, tenha um ponto melhor a defender do que os heróis?
Seja como for, Tomorrowland não é ruim. Especialmente, não é ruim como a bilheteria raquítica sugere, e merecia melhor sorte nas bilheterias.
Há momentos genuinamente empolgantes e ao menos um momento realmente tocante, e eu vi filmes infinitamente piores fazendo obeso sucesso financeiro (coff, Transformers, coff, coff, Piratas do Caribe, coff).
Tomorrowland não é um excelente filme, e certamente não vive à altura da antecipação que criou, mas é um trabalho de notável paixão, e qualquer trabalho advindo de tão palpável sentimento, merece, ao menos um pouco de platéia.
Certamente vale a locação.

"Todo o dia é a oportunidade de um amanhã melhor."

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Rapidinhas do Capita


No final de semana começaram a espocar imagens do set externo de Doutor Estranho no Nepal. Na imagens podemos ver o visual do doutor Stephen Strange enquanto procura desesperadamente uma cura para suas mãos destruídas após um acidente.


Além de mostrar Strange, as fotos também mostram o visual do Barão Mordo, inimigo tradicional do mago supremo da Terra que será interpretado por Chiwetel Ejiofor.


Além deles, o elenco ainda tem Tilda Swinton, como O Ancião, Michael Stuhlbarg como o doutor Nicodemos West, além deles, Rachel McAdams e Mads Mikkelsen tiveram seus nomes ligados ao projeto, mas não foram confirmados.
O longa escrito por Jon Spaiths (além de Joshua Oppenheimer e Thomas Dean Donnely) é dirigido por Scott Derrickson fazendo parte da Fase 3 do Universo Cinemático Marvel. A estréia está marcada para 3 de novembro de 2016.

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Todo mundo ouviu a história de Daniel Fleetwood, fã de Star Wars diagnosticado com um raro câncer no tecido conjuntivo que havia iniciado uma campanha para poder assistir Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força antes do lançamento do filme no cinema.
Tendo vivido além das previsões de seus médicos, Daniel duvidava ser capaz de sobreviver até dezembro. Sua campanha nas redes sociais ganhou o apoio de várias pessoas, incluindo atores do filme, como Daisy Ridley, John Boyega, Peter Mayhew, Carrie Fisher e Mark Hammil.
A campanha surtiu efeito, e na última semana, a Disney, a Lucasfilm e o diretor J.J. Abrams concordaram em mostrar ao fã uma cópia ainda inacabada do longa, que ele pôde assistir em sessão privada em sua casa no dia 5 de novembro último.
Após realizar seu sonho, Daniel Fleetwood morreu na madrugada desta terça-feira, aos 32 anos, dormindo de maneira pacífica, segundo sua esposa Ashley, que em nota agradeceu a todos os apoiadores da campanha do marido, e à Disney por, em sua melhor tradição, tornar um sonho realidade.
Daniel tornou-se um com a Força, tendo sido o primeiro fã de Star Wars, a assistir o longa, aguardado por legiões de nerds.

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E falando em Star Wars, será que no Brasil, assim como nos EUA, será proibido atender às sessões de pré-estréia e estréia de Star Wars - O Despertar da Força, usando máscaras, pintura facial, e portando objetos alusivos à armas, conceito que nos Estados Unidos, ao menos para a rede Cinemark (facilmente a pior entre as grandes redes de cinema atuando no Brasil no que tange a consideração pelo público) incluem sabres-de-luz.
Por mais que se entenda a paranoia (justificada) dos norte-americanos com tiroteios em toda a parte, escolas, cinemas, hospitais, fica a dúvida de qual o motivo para proibir a entrada de sabres de luz nas salas. Por mais barulhentos e luminosos que os brinquedos baseados na arma clássica da franquia, eles certamente não incomodam mais do que gente conversando e fuçando no celular durante os filmes.

sábado, 7 de novembro de 2015

Resenha Cinema: O Último Caçador de Bruxas


Eu confesso que nada vinha me chamando muito a atenção em O Último Caçador de Bruxas. Durante toda a divulgação ao longo do desenvolvimento do filme, o longa me pareceu genérico e aborrecido, nada que fosse valer a pena assistir em tela grande, quando muito uma curiosa sessão de DVD daqui alguns meses.
Mas o cinema anda curto de bons lançamentos, 007 Contra SPECTRE me desapontou um bocado, na quinta-feira, e eu imaginei que assistir um filme sem nenhum tipo de expectativa serviria para tentar amainar a situação.
Como minhas expectativas com relação ao filme com Vin Diesel eram baixíssimas, pensei "Por que não?", e toca pro cinema ver o longa do brucutu nerd.
O longa narra a história de Kaulder (Vin Diesel), um guerreiro medieval que em meados do século XIII partiu com um grupo de camaradas rumo à Árvore da Peste, de onde a terrível Rainha-Bruxa (Julie Engelbrecht) lança uma praga sem precedentes sobre a humanidade, ceifando as vidas de milhares.
O grupo de guerreiros passa por uma horrenda provação, sendo dizimado pelo poder demoníaco da bruxa. Mas após uma árdua batalha, Kaulder consegue empalar a medonha feiticeira com sua espada, mas não sem que ela, antes de perecer, o amaldiçoe com o dom da vida eterna, apartando-o para sempre de sua esposa e filha, a quem ansiava por reencontrar na morte.
Oitocentos anos depois, Kaulder se tornou A Arma, o mais formidável guerreiro da Ordem do Machado e da Cruz, um conclave de bruxas e padres que firmou uma trégua tênue, mas duradoura, garantindo algumas regras para a coexistência das feiticeiras com a humanidade, de quem se escondem em plena vista.
Quando alguma bruxa ou bruxo sai da linha, Kaulder entra em ação, doutrinando, encarcerando ou, se necessário, matando o transgressor. Para auxiliar Kaulder, há uma linhagem de sacerdotes que fazem o registro da vida e do trabalho do guerreiro, servindo como seus confessores e, em alguns casos, amigos. Eles são os Dolans.
Na noite em que o 36º Dolan (Michael Caine) anuncia sua aposentadoria, ele morre. Após conhecer o 37° Dolan (Elijah Wood), Kaulder decide investigar os detalhes da morte do Dolan veterano, apenas para descobrir que ele foi atacado por necromancia. Magia negra da estirpe mais sombria.
A investigação de Kaulder o leva até o feiticeiro Belial (Ólafur Darri Ólafsson, de Caçada Mortal e A Vida Secreta de Walter Mitty), que planeja trazer a Rainha Bruxa de volta à vida e extinguir a humanidade de uma vez por todas.
Com a ajuda relutante da bruxa Chloe (Rose Leslie, de Game of Thrones), Kaulder precisa usar todo o seu conhecimento e habilidade para evitar que a pérfida conjuradora renasça e conclua seu intento.
Quer saber?
Eu gostei.
A ode nerd de Vin Diesel é uma salada que parece ter sido feita de modo a juntar o maior número possível de referências a produtos nerds de qualidade. Do elenco que conta com Alfred, Frodo e Ygritte, aos monstros gigantes, poções mágicas, espadas flamejantes, magos classificados por nível e conclaves de feiticeiros, O Último Caçador de Bruxas é uma tentativa absolutamente válida de criar uma mitologia nova, amparada em conceitos bem sucedidos.
O diretor Breck Eisner (do intragável Sahara) mostra que não é burro, aproveitando o roteiro de Cory Goodman, Matt Sazama e Burk Sharpless que, se não tem nenhuma inovação, ao menos tem a decência de não apelar pra superexposição para criar ora cenas que são genuinamente tensas (como a sequência em que Chloe é atacada por uma entidade em sua casa), ora momentos de fato engraçados (a cena da selfie é ótima), e sequências de ação que, se não empolgam, não arrancam bocejos (a luta estilo D&d na introdução é muito boa).
Se Vin Diesel não tem estofo dramático pra convencer como um sábio guerreiro secular, ele é um astro de ação suficientemente reconhecido pra dar lastro à pancadaria. Quando ele solta frases de efeito, atira com uma escopeta ou brande uma espada em chamas, ora que diabos, é divertido de ver.
Michael Caine é sempre um deleite de se ver atuando, Elijah Wood se esforça, Ólafur Darri é divertido e ameaçador com seu físico de barril gigante e barbona espetada e a engraçadinha Rose Leslie rouba a cena com uma agradável mistura de ternura e ranheta.
A música praticamente não existe, os efeitos visuais são suficientemente bons, e a história é boba o bastante pra audiência entender que a suspensão de descrença tem que estar muito em dia, mas bem executada que chegue para nos querer mantê-la assim.
No final das contas, O Último Caçador de Bruxas foi uma grata surpresa, e ainda que pudesse ter sido melhor aqui e ali, me divertiu um bocado.
Vale o ingresso.

"A ferro... E fogo!"

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Resenha Cinema: 007 Contra SPECTRE


Assistir a um filme de 007 é uma tarefa (ou um lazer) que demanda uma dose nada desprezível de suspensão de descrença. Desde 1962, Sean Connery e o satânico Dr. No até 2002, Pierce Brosnan e um novo dia para morrer (ou 2003, Pierce Brosnan e tudo ou nada, já que o game era um perfeito filme de Bond da fase corrente...), o absurdo e o exagero eram personagens tão recorrentes e importantes na mitologia do mais longevo espião do cinema quanto M, Q, Moneypenny, os automóveis estilosos, as locações exóticas, as belas mulheres e os vilões extravagantes.
Isso mudou bastante em 2006. Quatro anos após Pierce Brosnan pendurar o smoking e a Walther PPK, James Bond ganhou os músculos de aço e a carranca de Daniel Craig, e, mais do que isso, ganhou ao menos um pé no chão.
O longa de Martin Campbell escrito por Neal Purvis, Robert Wade e Paul Haggis mostrava um James Bond que tentava se inserir e ser relevante em uma imitação passável do mundo real. O vilão de Mads Mikkelsen era um traficante de armas, a bond girl de Eva Green tinha personalidade e estofo, e James Bond tinha profundidade, sentindo medo, raiva e se apaixonando por uma mulher de verdade.
007 Cassino Royale é provavelmente o melhor filme da série Bond em todos os tempos, mesmo que não seja o melhor Bond Movie (são coisas absolutamente distintas), e preparou o terreno para o Bond carrancudo e frio que vimos seguir o rastro de Mr. White (Jesper Christensen) até 007 - Quantum of Solace, cujo final preparava o terreno para um James Bond com mais cara do James Bond de antigamente, o que de fato aconteceu em 007 - Operação Skyfall.
O grande problema dos filmes estrelados por Craig é justamente o fato de eles terem começado fincando os pés no chão, e paulatinamente irem tirando. Claro, eu disse ali no começo que é necessário suspensão de descrença para assistir um Bond Movie, mas conforme as produções se declaram abertamente como sequências umas das outras, me soa como um pouco de leviandade que se demande uma porção um pouco maior de indulgência do público a cada segmento. A despeito de serem as sequências mais diretas da série (ao menos desde que Roger Moore se vingou pela morte da esposa de George Lazenby) Cassino Royale e Quantum Of Solace tem muito pouco a ver, em termos de atmosfera, com Skyfall e com SPECTRE.
No quarto longa de Craig como James Bond, o segundo dirigido por Sam Mendes, Bond está na Cidade do México durante o feriado do Dia dos Mortos.
Obviamente o agente de sua majestade com permissão para matar não está lá a lazer.
007 tem uma missão herdada da M anterior (Judi Dench), e um alvo.
Após demolir um quarteirão da cidade, matar quatro pessoas, quase derrubar um helicóptero e causar um incidente diplomático, Bond volta a Londres para se encontrar com o novo M (Ralph Fiennes), levar a sua tradicional dura, e ser suspenso pela enésima vez.
Por mais compreensivo que o M da vez seja, ele está travando uma luta interna para manter a unidade 00 em funcionamento após a fusão dos setores MI-5 e MI-6.
Max Denbigh (Andrew Scott, o Moriarty de Sherlock), novo chefe de segurança britânico acredita que os operativos com permissão para matar estão obsoletos, e pretende encerrar a divisão o quanto antes.
Mesmo suspenso, Bond não sossega, com a ajuda de Moneypenny (Naomie Harris) e Q (Ben Whishaw) segue o rastro do assassino morto no México até Roma, na Itália, onde encontra a viúva do bandido, a bela Lucia (Monica Bellucci), e tem um encontro com o passado na forma de Franz Oberhauser (Christoph Waltz), também conhecido como Ernst Stavro Blofeld (ora, vamos. Todo mundo já sabia).
Esse encontro leva Bond até seu antigo inimigo, Mr. White (Jesper Christensen), e à filha do bandido, Madeleine Swann (Léa Seydoux), em uma corrida para encontrar o onisciente Blofeld antes que ele consiga colocar em prática seu plano de domínio global.
Funciona? Bom... Mais ou menos.
Bem, e qual o problema de SPECTRE?
É difícil precisar... Talvez a mão de Paul Haggis faça falta ao roteiro escrito a oito mãos por Neal Purvis, Robert Wade, John Logan e Jez Butterworth. O script do longa reduz a história do filme a uma sucessão de brigas e perseguições costuradas por referências aos filmes anteriores da série e uma superexposição que chega a ser irritante mesmo para o padrão dos Bond Movies.
Os cenários se empilham sob a fotografia de Hoyte Van Hoytema sempre com tons pastéis e nós vamos de geleiras à desertos e cidades históricas viajando de carro, avião ou trem e nada faz diferença, mesmo as melhores sequências de ação do longa, a cena sem cortes que abre o filme, e a luta com Hinx (Dave Bautista) no trem, parecem datadas, coisas que já vimos em outros filmes da franquia.
O aceno de um Bond frio, calculista e letal, porém humano, que havíamos visto em Cassino Royale e (em menor grau) Quantum of Solace se desvanece sob a figura do arquétipo de terno apertado ou gola rulê que mata, quebra ou fode tudo o que passa pela sua frente de maneira tão inexorável que, quando o roteiro sugere que de fato existem sentimentos entre Bond e Madeleine, isso soa forçado, gratuito, e até bobo.
Além disso, se o adágio que diz que um filme de Bond é tão bom quanto seu vilão está correto, temos aí outra explicação para os problemas de SPECTRE. Christoph Waltz pode ter sido rotulado como um ator que sempre repete o mesmo papel, mas o faz com um carisma magnético do qual é totalmente despido no longa. As motivações vingativas do personagem são tão pueris e tolas que o vilão, que pouco aparece, não consegue ser ameaçador nem quando ganha a sua tradicional cicatriz no olho, ou monta uma elaborada armadilha para Bond nas ruínas do MI-6.
A despeito de ser uma aventura divertida em sua sucessão de viagens pelo mundo, brigas, tiroteios e piadinhas, 007 Contra SPECTRE acaba sendo uma promessa não cumprida na comparação com o primeiro longa do segmento Craig de 007. Ao invés de evoluir e desenvolver o personagem, o que aconteceu foi o exato oposto, conforme o homem por trás do espião foi empalidecendo ante uma sugestão de conspiração com muito mais forma do que conteúdo.
Daniel Craig, que falou um bocado de bobagem após a gravação de SPECTRE, ainda tem contrato para mais um filme. Pode ser a chance de cumprir a promessa de 2006, ou enterrá-la de vez sob o peso de mais de cinquenta anos de um produto claramente desgastado.
Assista no cinema apenas se também for um fã de 007.

"-Se você não partir agora, morreremos juntos.
-Eu posso pensar em formas piores de morrer.
-Então você é obviamente louco, senhor...?
-Bond. James Bond."