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quarta-feira, 30 de março de 2016

Não é o Melhor Batman


Nossa raça tem uma tendência particularmente irritante a abraçar a polarização. Essa desagradável obstinação em se inserir em grupos através de um ou outro aspecto de identificação que sempre descamba para o "nós" contra "eles".
É, afinal de contas, da natureza humana querer se inserir. O Homem é um animal social inseguro, não sabe viver sozinho e a única coisa mais gravada em seu DNA do que a violência e a covardia.
A atual geração, por sinal, é mais covarde do que outras que a antecederam, e mais social. As mídias digitais geraram esse fenômeno do troll de internet balindo feito um poodle por detrás de um nick metido a engraçadinho nas redes sociais, agredindo todos aqueles que têm opinião divergente da sua própria, ou seja, os inimigos.
Poucas coisas têm polarizado tanto os poodles da internet ultimamente quanto a "guerra" entre Marvel e DC que saiu das páginas dos quadrinhos e alcançou as telas do cinema.
É particularmente engraçado lembrar que, quando eu era um moleque, não existia essa divisão. Meus amigos que liam quadrinhos e eu, éramos tão Marvetes quanto DCnautas. Talvez porque, naquela época, fôssemos poucos, e não pudéssemos nos dar ao luxo de nos dividir dentro de nossas parcas fileiras.
Ainda assim, esse fenômeno relativamente recente escalou a níveis que me deixam perplexo nos dias de hoje. Eu saí de uma comunidade do Batman nas redes sociais porque era impossível discutir civilizadamente com a maioria dos membros. Se tu fizesse um comentário positivo que fosse a respeito de um filme da Marvel, os sujeitos te malhavam feito um proverbial judas no sábado de aleluia.
Minha paciência pra esse tipo de comportamento minguou já há algum tempo. Eu, que tenho entre meus super-heróis preferidos o Homem-Aranha e o Batman, e que não seria capaz de escolher entre DC ou Marvel, não consigo entender a fiasqueira dos poodles da internet. Especialmente quando ouço coisas como "Ben Affleck é o melhor Batman que já existiu!".
Calma.
Não vim aqui pichar a interpretação de Affleck.
Realmente acho que o diretor de Argo e Atração Perigosa e Medo da Verdade foi bem. Muito melhor do que todo mundo esperava, eu mesmo, que preferia Josh Brolin no papel, dei a mão à palmatória, e acredito que Affleck fez um grande trabalho.
Um grande trabalho, considerando-se tudo.
Porque há questões na caracterização do Batman de Batman vs. Superman: A Origem da Justiça, que escapam ao ator, e que são justamente as mais controversas, ao menos pra mim, que cresci lendo e assistindo Batman.
Todo mundo gosta, eu já disse, de ver um Batman grisalho e rabugento tocando o horror na bandidagem.
Mas um Batman que mata, e o Batman de BvS mata um bocado, presta um desserviço ao personagem em diversos aspectos.
Mesmo o Batman mais casca grossa e nefasto dos quadrinhos, a versão idealizada por Frank Miller em O Cavaleiro das Trevas, é incapaz de matar. A ideia de proteger a vida à qualquer preço é fundamental para o cânone do personagem. O Batman é, afinal de contas, uma resposta básica, infantil até, ao trauma de Bruce Wayne. Sua ideia de se vestir de monstro e ser mais assustador que os criminosos a quem caça, aquela turba supersticiosa e covarde, vai até a linha que o morcego traçou para separá-lo dos bandidos que mataram seus pais:
Tirar uma vida.
Batman enfia a bandidagem no hospital por meses, quebra ossos como quem muda de meias, mas não mata.
Isso não é unicamente uma faceta importante para a caracterização do personagem, para estabelecer suas crenças e código moral e balancear sua óbvia patologia.
Não.
O fato de o Batman não matar, justifica sua extensa e qualificada galeria de vilões.
Explica-se: Se o Batman do Ben Affleck mata, então por que o Coringa de Jared Leto, que aparentemente matou o Robin e aparentemente está em Arkham no filme do Esquadrão Suicida está vivo?
Quer dizer... Por que o Batman mata pistoleiros de baixo calão, mas deixa o psicopata mais perigoso do mundo vivo? Simplesmente não faz sentido que o Coringa, o Crocodilo e a Arlequina estejam vivos e bem para seu filme quando a bandidagem rasteira foi explodida, metralhada e esmagada dentro de seus carros ao longo de BvS.
Outra questão que, pra meu gosto pessoal, desqualifica o Batman de Ben Affleck para ser "O Melhor Batman do Cinema", é a falta da multiplicidade de personalidades.
O Batman/Bruce Wayne de Affleck é a mesma pessoa. Claro, o Batman usa sua roupa de monstro e tem a voz distorcida eletronicamente (pra mim, uma bola fora), mas quando o vemos falando com Diana Prince, Alfred ou Clark, ele expressa os mesmos pensamentos e o mesmo tom com ou sem o traje. Ele chega a aparecer com a máscara destruída durante sua luta com o Superman, falando com sua voz.
Enquanto isso, o Batman de Christian Bale, pra mim, ainda o melhor do cinema, tinha três personalidades absolutamente distintas.
Ele era o afetado playboy bilionário que aparecia em festas, colunas de fofocas e dormia nas reuniões das empresas Wayne, era a monstruosa criatura morcego de voz gutural que espancava o submundo do crime com punhos de aço, e era o verdadeiro Bruce, que nós víamos na Batcaverna com o Alfred, ou em suas interações com Rachel, e eventualmente com Thalia.
Esse vislumbre da mente fragmentada de um doente mental, porque o Batman é um doente mental, era algo único. E demonstrado de maneira tão sutil e espertamente integrada à ação dos filmes, que muita gente só via quando lhes era apontado.
Outra questão que me incomodou na caracterização do personagem em BvS, foi o fato de o Batman ser imprevidente. Na sua luta do galpão, que ilustrava o trailer final do longa, ele é arrastado pelo pé, esfaqueado e leva meia dúzia de tiros na cabeça. Ora, diabos...
Como é que o Homem-Morcego ficou tão desleixado a ponto de apanhar de meia dúzia de capangas contratados? Uma das grandes características do Batman sempre foi o prodígio marcial. O Batman dos quadrinhos, dos games Arkham e da trilogia das Trevas é capaz de enfrentar múltiplos oponentes sem se expôr a esse tipo de risco, então, foi algo surpreendente pra mim, ver o herói ser tão desprevenido.
Eu repito que, no geral, gostei da atuação de Affleck, e tenho pra mim, que as facetas que me desgostaram mais, são decisões do diretor Zack Snyder, já que carregam a assinatura do restante de sua filmografia.
A mão do diretor, por sinal, pesa em tudo o que, pra mim, não funciona no filme, e me causa espécie que os poodles da internet fiquem tão desesperados em ladrar contra "os inimigos" que sejam incapazes de ver que o universo cinematográfico DC tem um potencial sensacional, mas está no colo de um cineasta sem a visão necessária para trazê-lo à vida.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Resenha Cinema: Batman vs. Superman: A Origem da Justiça


Eu sempre disse, e quem quiser conferir, só precisa olhar as postagens de três anos atrás, que eu sou parte de um time restrito:
O das pessoas que gostaram de O Homem de Aço.
Eu realmente gostei. Deixei isso bastante claro na resenha que escrevi do filme logo após assistir à uma sessão de pré-estréia em junho de 2013. Aqui está uma frase minha, tal e qual escrita na manhã seguinte ao filme:
"O Homem de Aço é ótimo.
O longa encontra o tom ao contar a história de um homem desorientado procurando por seu lugar no mundo, e do peso que aceitar esse lugar depositará sobre seus ombros.".
Claro. Eu revi O Homem de Aço uma semana mais tarde, e percebi falhas no filme, mas continuei, essencialmente, gostando do longa. Quando critico o longa por detalhes como a exposição excessiva no roteiro, ou a Lois Lane onipresente, ou o destruction porn que o filme se torna no momento da utilização do Motor Mundo e do confronto entre Superman e Zod, o faço como alguém que, no geral, gostou do filme, mas achava que ele poderia e deveria melhorar em certos aspectos.
Os fanboyolas que eventualmente me agrediram por escrito em redes sociais ao me ouvir falar do filme (quer me ver perder a paciência é estar falando comigo sobre, por exemplo, O Homem de Aço, e retrucar à uma crítica com "Ah, é. Porque bom é o Homem Formiga". Eu me recuso a discutir civilizadamente com gente da categoria sorvete-na-testa.) jamais entenderam que eu estava no time dos que gostaram do filme, e o consideraram um digno embrião para o novíssimo universo cinematográfico compartilhado da DC.
Ao contrário de gurizinhos sensíveis criados pela avó fazendo pintura em porcelana, eu não estou na folha de pagamento nem da Marvel e nem da DC, já tive fases mais Marvete e fases mais DCnauta, e tenho histórias e personagens favoritos em ambas as editoras, então me falta paciência e disposição pra apaziguar Marvecas e DCnildas desvairadas que destilam ódio e dão aulas de como desperdiçar tempo na internet.
Foi por isso que, à certa altura da divulgação de Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça, eu simplesmente me abstive de redes sociais. Porque qualquer crítica, observação ou receio para com a condução desse segundo e ambicioso passo da DC/Warner para edificar um universo de cinema nos moldes daquele que a Marvel/Disney começou a edificar oito anos atrás, era alvo de uma enfurecida retaliação de algum nerd tetudo cuja vida girava ao redor dos Novos 52, ou se tornava bengala de algum virgem de 23 anos anos com um retrato do Robert Downey Jr. na carteira pra sustentar uma discussão estilo quinta série no Orkut, Yoble, VK, etc...
De qualquer forma, após uma longa espera, hoje assisti a Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça, e simplesmente não consegui decidir se gostei do filme, ou não.
O longa de Zack Snyder abre com uma sequência de sonho onde Bruce Wayne revive o assassinato de seus pais, na saída do cinema, intercalado com o instante onde, após fugir em meio ao funeral de Thomas e Martha Wayne, ele caiu em uma greta, e encontrou uma caverna sob a propriedade Wayne onde viviam milhares de morcegos...
Logo em seguida, somos levados de volta à Metrópolis quando o Motor Mundo Kryptoniano era ativado. Superman e Zod se enfrentam devastando a cidade. Bruce Wayne chega de helicóptero, embarca em um automóvel e ordena, por telefone, que seus funcionários evacuem o prédio da financeira Wayne.
A ordem, porém, chega tarde demais.
Os raios de calor dos dois Kryptonianos cortam o edifício como se fosse feito de margarina, e o prédio rui matando dúzias (ao menos é o que diz em um recorte de jornal. Considerando o tamanho do prédio, acredito que saiu barato termos "dúzias" de vítimas e não "centenas" ou "milhares".).
As mortes na empresa, e na cidade de Metrópolis como um todo são o estopim para que Bruce Wayne, espertamente retratado por Ben Affleck como um irascível e neurótico vigilante calejado, declare uma guerra pessoal contra o último filho de Krypton.
Para isso, Bruce precisa de um mineral recém descoberto nas entranhas do Motor Mundo de Zod:
A kryptonita.
O minério descoberto por pesquisadores de Lex Luthor se revelou capaz de interagir com o DNA kryptoniano, sendo capaz de causar danos mesmo ao corpo preservado de Zod. Luthor (Jesse Eisenberg), planeja tornar esse mineral alienígena radioativo em uma arma. Um elemento dissuasivo na eventualidade de o Superman, ou outro de seus conterrâneos, voltarem a ameaçar a Terra.
E para conseguir o que quer, Luthor não poupa esforços, usando mercenários para simular ataques do Superman na África, ameaçando senadores, manipulando o homem-morcego, e até mesmo fuçando a tecnologia da espaçonave de Zod, tudo isso enquanto a opinião pública se divide a respeito do que o Superman pode, ou não pode, fazer.
Então...
Acredito que o mais justo seria dizer que gostei de determinados elementos, mas, no geral, achei um filme irregular.
Ao contrário do que foi prometido na divulgação, os trailers mostraram tudo o que havia pra se mostrar em Batman Vs. Superman.
Não existe nenhum desdobramento no filme que não possa ser antevisto por quem assistiu os três principais trailers do longa (que eu acho que a gente encontra aqui no Blog se procurar direitinho).
Zack Snyder tem ótima mão pra ação, mas não é um diretor sutil, ele desenvolve o roteiro de Chris Terrio e David Goyer cheio de confiança e garbo, mas o faz de maneira atabalhoada, confusa, e, por vezes, arrastada.
Apesar de o filme ser Batman Vs. Superman, o que nós realmente vemos é Snyder tentando fazer um filme do Batman onde o Superman eventualmente aparece, e a despeito de ter um protagonista surpreendentemente seguro no papel, ele claudica à sombra da trilogia das Trevas de Christopher Nolan.
Eu sei, a comparação é injusta, mas é inevitável.
O Batman de Affleck tem qualidades, mas é obtuso, descuidado, e mata indiscriminadamente, de maneira direta e indireta, quebrando pescoços, disparando tiros em tanques de combustível, esmagando carros com o Batmóvel ou marcando pedófilos com um morcego em brasa para que eles sejam reconhecidos por seus crimes dentro do presídio e punidos por outros detentos, e por mais maneiro que seja um Batman envelhecido e rabugento com voz de Darth Vader deitando a porrada em deus e todo mundo, diabos... Esse não é o Batman que eu conheci nos quadrinhos e que, mesmo com todas as licenças tomadas por Nolan, fui capaz de reconhecer em Christian Bale.
Henry Cavill, maduro e tranquilo em seu papel de Superman, é relegado á "coadjuvância", o que também acontece com Amy Adams, quase um acessório, Laurence Fishburne e Diane Lane.
O Alfred de Jeremy Irons tem seus momentos mas não dá pra largada com Michael Caine, enquanto que o Lex Luthor de Jesse Eisenberg é uma estranha mistura de Mark Zuckerberg, Woody Allen e Coringa de Heath Ledger, constantemente se remexendo, resmungando e invadindo o espaço pessoal alheio. Sua tentativa de emular um psicopata é quase risível, e uma única cena de Kevin Spacey em Superman - O Retorno, o diálogo com Lois Lane no Iate, é infinitamente mais ameaçadora e memorável que todo o espalhafato reciclado de Eisenberg.
A Mulher-Maravilha de Gal Gadot é apresentada como uma mulher misteriosa, uma bobagem já que entregaram a presença dela como a amazona ainda na segunda prévia do longa, mas ela tem presença e uma interessante nota perdida entre o musical e o seco em sua voz, além de uma trilha sonora muito fodona. O que ela não tem, é uma função dentro do filme fora participar da luta final e interromper um momento em que o longa se tornava mais interessante pra apresentar Aquaman (Jason Momoa), Flash (Ezra Miller) e Ciborgue (Ray Fisher) e plantar o embrião do filme da Liga sem apelar para uma cena pós-créditos (não há nenhuma).
O longa, apesar dos problemas, funcionava quando se apoiava nas diferenças entre os protagonistas. Uma interessante e promissora queda de braço ideológica tomava forma, até Snyder entrar em modo Rocky Balboa e começar a preparação para a "luta de gladiadores definitiva" com, eu juro, uma training montage do Batman se preparando para lutar com o Superman separando armamento de Kryptonita, mísseis, bombas, uma armadura e... Levantando pesos.
Ainda assim, a luta entre os dois heróis é divertida, tem bons momentos, é ação competente, mas isso não satisfaz Snyder, e logo, surge Apocalypse, o medonho híbrido do DNA de Zod e Luthor (eu não sei qual dos dois é parente do Abomínavel de O Incrível Hulk, mas é a única explicação que encontrei para um híbrido de Zod e Luthor se parecer com um gigantesco monstro cinzento) com a única intenção de causar destruição.
Com uma ameaça desse tamanho, será que o homem de aço e o cruzado encapuzado serão capazes de deixar suas desavenças de lado para salvar Metrópolis, e, mesmo que o façam, será o suficiente?
O que eu posso garantir, é que nem toda a megalomania do grande duelo final, e todas as referências a O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller são o suficiente para tornar Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça o filme que ele poderia, merecia e deveria ser.
O longa ainda será um grande sucesso de bilheteria, se Transformers - A Era da Extinção chegou ao bilhão de dólares, Batman e Superman não devem ter problemas para superar a marca, mas se esse longa for o modelo do universo cinematográfico da DC, então, francamente, eu fico com os dois pés atrás com relação ao que vem por aí.

"-Por que você acha que precisaremos lutar?
-Só um pressentimento."

quinta-feira, 24 de março de 2016

Resenha Série: Demolidor Temporada 2: Episódio 13: A Cold Day in Hell's Kitchen


Atenção! Pode haver spoilers.
Demolidor, Elektra e Stick conseguiram escapar do Tentáculo. Ainda assim, os três sabem que a organização criminosa jamais lhes dará sossego agora que sabem que a ninja assassina é o Céu Negro de sua devoção.
Enquanto Stick sabe que a única forma de deter o Tentáculo é matando Elektra, e Elektra sabe que a única forma de deter o tentáculo é matando Nobu, Matt deseja apanhar o imatável cabeça da ordem, despi-lo de seu poder, e expô-lo como um homem comum. O que, para o idealista advogado católico, fará os seguidores de sua liderança debandarem.
É um plano otimista, mas Elektra parece disposta a segui-lo junto com Matt, especialmente depois de o advogado amarrar Stick a uma cadeira para mantê-lo longe dela.
O problema é que enquanto Matt e Elektra planejavam sua jogada no médio prazo, o Tentáculo não perdeu tempo, e imediatamente colocou seus vastos recursos a trabalhar em nome da vingança contra o Demolidor.
Após espancarem o sargento Mahoney e ameaçarem a vida de sua mãe, os agentes da organização conseguem uma lista de todas as pessoas que Matt já salvou, sequestram todos e os fazem reféns para atrair o demônio de Hell's Kitchen até uma armadilha.
A isca se torna particularmente mais eficiente quando Karen Page está entre as pessoas salvas pelo Demolidor.
Com a vida de dezenas de inocentes em risco, não resta alternativa a Matt, senão cair na armadilha para tentar manter todos em segurança.
A despeito de ser um grande combate final de Matt contra Nobu e o Tentáculo, o final da segunda temporada de Demolidor conseguiu a proeza de ser um desfecho muito superior ao bom encerramento da temporada de estreia.
Enquanto o season finale do ano um da série era desenhado ao longo dos doze episódios iniciais culminando numa aguardada luta de Matt contra Fisk, o encerramento do segundo ano é mais orgânico, mais corrido, soando todo mais urgente e improvisado.
Essa correria toda, porém, não faz com que a equipe de Demolidor seja descuidada com as relações entre os personagens, e o peso de cada um dos coadjuvantes na resolução de todo o drama engendrado.
Nós podemos ver Foggy aceitando um emprego na firma de Jeri Hogarth (Carrie Anne-Moss, egressa de Jessica Jones), vemos Melvin Potter fazendo um traje para Elektra e, dando um passo em direção à sua persona dos gibis, o Gladiador, mostrar o seu próprio, tanto na roupa de proteção que usa sob a camisa quanto no poster de gladiadores na parede da oficina e nos designs na mesa onde ele apanha o novo bastão de Matt, aliás, o novo bastão é finalmente a versão do bastão de Matt nos gibis, com o cabo flexível por dentro e o lançador de arpéu. Ainda há espaço para vermos a nobreza do sargento Mahoney, para Karen se mostrar novamente uma mocinha repleta de determinação e recursos, espaço para Stick, para Frank Castle voltar à casa onde foi feliz pela última vez, e então queimá-la e, claro, há espaço para Elektra e Matt se unirem como pareciam estar evitando fazer a todo o pano desde o quinto episódio.
E nada disso é excessivo, tudo ocorre com uma bem-vinda fluidez, e de uma forma que, ao contrário do bom desfecho da primeira temporada, que, sejamos francos, todos sabíamos como terminaria, deixa a audiência sob tensão durante todo o tempo.
A cena em que Matt e Elektra estão encurralados entre dezenas de ninjas e mais Nobu, e Matt diz para ela que eles deveriam fugir juntos, é genuinamente tocante, e nós sabemos que é sincero.
Quando Matt aventa uma existência sem vida civil, ele só pode vê-la ao lado de Elektra. Ela é a única pessoa que o viu por inteiro, e o aceitou e amou sem julgamentos ou melindres.
Por isso é muito mais doloroso quando, em uma cena análoga aos quadrinhos de Frank Miller, Elektra é assassinada com sua própria adaga Sai, brandida por Nobu, mais catártico quando Matt espanca impiedosamente ao ninja, derrotando-o além de qualquer sombra de dúvida (graças à dica de Stick) e muito mais tocante quando, no funeral da Ninja, Matt fala sobre as flores que ela preferia, e confirma a Stick que sim, valeu a pena amá-la.
Com momentos particularmente inspirados, como o Justiceiro oferecendo cobertura à Matt, Stick garantindo que Nobu permaneça morto, e a conversa entre Karen e Ellison sobre bloqueio de escritor, Demolidor encerra sua segunda temporada dando um passo adiante do que fora o excelente ano um, estabelecendo Demolidor como a melhor adaptação de um quadrinho para a TV, e uma das melhores adaptações de super-heróis para qualquer mídia graças à uma equipe de produção que levou seu trabalho à sério, soube entender e desenvolver seus personagens, dar-lhes vida e profundidade e entregar um show que, desde ontem, quando assisti ao desfecho da temporada, já me deixou ansioso pelo ano três.
Com uma nota vagamente melancólica em seu desfecho e promissoras sementes plantadas para o futuro, Demolidor se despede em altíssimo nível, deixando um vazio muito difícil de preencher.
Não demore a voltar, Matt. Acho que falo por todos os fãs de quadrinhos e de bom entretenimento quando digo que sentiremos tua falta.


"Olhe dentro de seus próprios olhos e me diga que não é heroico e que não suportou ou sofreu ou perdeu as coisas que mais lhe importavam. E mesmo assim, aqui está você. Um sobrevivente de Hell's Kitchen, o lugar mais conturbado do mundo. Um lugar onde covardes não duram. Então, você deve ser um herói."

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 12: The Dark at the End of the Tunnel


Atenção! Há spoilers!
Do primeiro momento em The Dark at the End of the Tunnel nós somos brindados com um flashback que dá o tom do episódio. Nós viajamos pelo passado de Elektra, quando a ninja foi treinada, em sua infância, por Stick, aprendendo a lutar e a matar.
Deste flashback, corta para a luta entre os dois nos dias de hoje, com uma Elektra enfurecida busca vingança de Stick após ele mandar matá-la. O duelo é interrompido, primeiro por Matt, e depois pelo Tentáculo. Um grupo de ninjas ataca o trio, mas antes que o embate alcance seu desfecho, as luzes se apagam e os vilões desaparecem levando Stick com eles.
Começa uma corrida entre o demônio de Hell's Kitchen e a ninja assassina para ver quem chega primeiro ao velho mestre cego. Matt, para resgatá-lo, ou Elektra, para matá-lo.
Enquanto isso, Karen acompanha o resgate dos corpos após a explosão do barco do Blacksmith. O sargento Mahoney garante à jovem que o Justiceiro está entre os mortos, e que é apenas questão de tempo até que o corpo seja identificado.
Ao mesmo tempo em que Karen tem um belo momento com Ellison, a incentivando a escrever um artigo póstumo sobre o verdadeiro Frank Castle, o homem por trás do flagelo do submundo, Matt e Foggy têm uma conversa definitiva, pingam is e riscam tês, dando sua parceria por encerrada, já que a abertura de Nelson no julgamento de Frank Castle ganhou os ouvidos das grandes firmas legais.
Antes de se separarem em definitivo, porém, Foggy tem uma última grande dica para Matt. Uma que o coloca no rastro de Stick.
Quando Matt chega ao covil do Tentáculo, porém, ele encontra um grave problema. Os ninjas da organização percebem que, se não usarem suas armas, o Demolidor não é capaz de ouvi-los.
O que coloca o diabo da guarda de Hell's Kitchen em uma posição delicada pra dizer o mínimo.
É muito bacana a forma como Stick ensina Matt a enfrentar os ninjas ultra-silenciosos do Tentáculo enquanto é torturado por Hiroshi.
Quem também não tem exatamente um momento agradável diante de si é Karen, que ao procurar o coronel Schoonover para ouvir alguém com uma palavra gentil a respeito do Justiceiro, encontra muito mais do que procurava.
Assim como Elektra, que ao seguir Matt no encalço de Stick, não encontrou apenas seu antigo mentor, mas também, seu papel na vida.
Elektra descobre que o Céu Negro que o Tentáculo tem buscado há séculos é uma pessoa.
Ela própria.
E que Stick passou sua vida tentando voltá-la para o bem, mas sempre esbarrou na própria natureza assassina da jovem. Elektra enxerga o sentido nisso, e a única coisa entre ela e o Tentáculo são as memórias cálidas que ela ainda guarda de seu mestre e o amor que sente por Matt.
Conforme Elektra faz sua escolha, descobrimos que Schoonover é o tal Blacksmith, e Schoonover descobre que Frank Castle não morreu.
Sensacional episódio. Ao contrário do que ocorreu no ano um, quando o penúltimo episódio foi uma espécie de calmaria antes do final da temporada, The Dark at the End of the Tunnel taca fogo no mundo.
A revelação da identidade de Blacksmith é sólida, coerente, e fecha o círculo de vingança de Frank Castle de maneira elegante e coerente.
mesmo a decisão de Frank de matar seu ex-oficial comandante é bem sacada (Karen apela para a consciência de Frank, enquanto o traficante o compele a torturá-lo, mas Frank resolve a questão com um balaço no meio do crânio.), a relação de Karen e Frank foi um dos pontos altos da temporada.
Demolidor, por sinal, se estabeleceu como uma série com coadjuvantes brilhantes ao longo dos últimos vinte e cinco episódios. É difícil não se importar com Foggy, Karen, Ellison, Stick, e as caras novas, Frank Castle e Elektra, sem sombra de dúvida se perfilam às demais nesse sentido.
Se o Justiceiro ganhou em Demolidor sua melhor encarnação em uma mídia além dos quadrinhos (ouso dizer que a atuação de Bernthal tornou seu Justiceiro melhor que as versões dos quadrinhos), a equipe criativa da série também faz maravilhas por Elektra.
A forma como ela quase é seduzida pela oferta de Nobu, mas a nega no último momento, foi particularmente excitante, assim como a presença de Stick e seu momento de ternura com Matt, dizendo "Estou orgulhoso de você", apenas enriquecem o bolo de Demolidor.
A melhor parte?
Ainda falta um episódio para o final.

"-Um tiro, uma morte. Isso foi o que você me ensinou."

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 11: .380


O nível havia caído suavemente no episódio anterior, conforme muitas tramas paralelas tomavam tempo simultaneamente quebrando o ritmo da história, mas em .380 as coisas voltaram aos eixos e Demolidor ascendeu novamente ao altíssimo nível de toda a segunda temporada.
O episódio já abre com a ótima sequência da invasão do Tentáculo ao Hospital Metro General, onde os ninjas assassinos vão para recuperar os adolescentes drenados no misterioso ritual d'A Fazenda.
A sequência de luta do Justiceiro contra os ninjas, que culmina com o resgate aéreo de Claire é excelente.
Enquanto Matt enfrentava ninjas, Karen enfrentava um depoimento da polícia após sobreviver a um "ataque do Justiceiro". Na verdade, como vimos no episódio anterior, Castle de fato salvou Karen de ser morta pelo tal Blacksmith, que estava tentando incriminar Frank e, ao mesmo tempo, amarrar as pontas soltas do assassinato da família Castle.
Isso junta Karen e o Justiceiro para uma investigação conjunta e busca de pistas que os levem ao misterioso traficante.
Com a vida de Karen em risco, o Demolidor deixa o Tentáculo momentaneamente de lado para, ele próprio, empreender uma investigação pelo submundo atrás do responsável pela morte da família de Frank, e também pelo atentado à Karen e pelo ferimento de Foggy.
No Metro General as coisas também se complicam já que, após uma polpuda doação de fundos, a administração do hospital parece disposta a varrer pra debaixo do tapete o ataque do Tentáculo (e o fato de que um dos ninjas responsáveis pelo ataque parecia já ter sido morto antes), um acobertamento que é a gota d'água para Claire.
Enquanto o Justiceiro usa a si próprio e a Karen como iscas para obter informações sobre o Blacksmith, Matt consegue as suas através de outra egressa da primeira temporada:
Madame Gao (Wai Ching Ho).
A traficante de heroína do conluio do Rei do Crime é a maior prejudicada pela ascensão do Blacksmith, e Matt não precisa realmente torcer o braço da velha para conseguir fazê-la falar.
Os dois vigilantes voltam a se encontrar no clímax do episódio, no píer 41 do porto de Nova York, onde uma grande remessa de heroína está chegando para o Blacksmith.
Mas será que o sujeito que vem se mantendo fora do radar da polícia de Nova York, da promotoria e até das outras gangues, é tão fácil de encontrar?
Em .380 encontramos o ponto mais próximo do equilíbrio de Penny and Dime. A ação é explosiva, com boas cenas de luta, as tramas andam paralelamente sem se sobreporem, há sequências de violência feroz como a luta de Frank contra os assassinos na lanchonete e momentos de genuína emoção.
É interessante como Jon Bernthal e os roteiristas e produtores conseguiram tornar o Justiceiro um personagem tão rico.
Da carranca enxovalhada de Frank Castle saem ameaças veladas, xingamentos desdenhosos, relatos de partir o coração e palavras de sabedoria, tudo com a mesma naturalidade.
A conversa dele com Karen na lanchonete, quando ele fala a respeito de amor, e de como apenas quem está próximo o suficiente é que pode te magoar é belíssima. Da mesma forma, quando Matt, claramente desgostoso com a forma como a lei atua após ver Wilson Fisk comandando a prisão e a promotoria pública acobertando os próprios erros, aventa a possibilidade de permitir que Frank mate o Blacksmith, "só dessa vez", é o proprio Justiceiro quem avisa ao advogado que essa é uma linha que se cruza apenas uma vez.
Pra fechar o capítulo, o misterioso ritual do Tentáculo chega ao seu pico, com os jovens alimentando o que quer que seja o misterioso jarro com sangue, e a desavença entre Elektra e Stick alcança um ponto extremo.
Faltando dois episódios para o fim da temporada, algumas relações se estreitam enquanto outros laços são rompidos, e haja fôlego para o que vem pela frente.

"-Sabe qual é o problema com mártires? Os melhores acabam mortos."

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 10: The Man in The Box


Após desmantelar a macabra fazenda de sangue do Tentáculo, e conseguir com o sargento Mahoney o envio das vítimas para o hospital Metro General, onde Claire pode garantir que as vítimas sejam admitidas sem registro, o Demolidor não tem muito tempo para celebrar o pequeno sucesso.
Não bastasse ter se deparado com o "fantasma" de Nobu e levado uma coça, a fuga do Justiceiro da prisão coloca as autoridades em alerta máximo, especialmente após a promotora Reyes receber ameaças contra a sua família assinadas com o raio-X do crânio de Frank Castle.
Conforme uma nova guerra parece explodir em Hell's Kitchen, com todas as pessoas implicadas na morte da família do Justiceiro sendo assassinadas e Foggy sendo ferido no fogo cruzado, Matt resolve ir até a fonte do problema, já que parece bastante claro para o herói que o Rei do Crime está por trás da libertação prematura do vigilante.
Enquanto Elektra é atacada em seu caminho para fora de Nova York por um matador enviado pela pessoa mais improvável para assassinar a assassina, Karen continua sua investigação tentando desesperadamente chegar à verdade sobre o Justiceiro e a identidade do misterioso Blacksmith com Matt tentando fazer o mesmo enquanto defende seus aliados das investidas do Tentáculo.
The Man in The Box é o episódio mais fraco da temporada, e eu não vejo como fazer um elogio maior à série do que esse.
Um programa que pode se dar ao luxo de ter como ponto baixo um episódio tão cheio de ação, reviravoltas e drama, está muito acima de tudo mais o que é produzido na TV e, volto a dizer, não apenas com super-heróis e personagens de quadrinhos, mas das séries em geral.
The Man in The Box possui alguns problemas de ritmo, desenvolvimento e até edição, resultado da grande quantidade de acontecimentos do episódio, se todos esses eventos não fossem importantes como são, esse problema poderia ser maior, por sorte, cada nova camada adiciona algo à trama.
O ponto alto do episódio, sem sombra de dúvida, é a entrevista de Matt com o Rei do Crime na penitenciária, quando o advogado desperta o que há de pior em Fisk, precisa suportar um brutal ataque de fúria do mafioso para salvaguardar sua identidade, e recebe uma pesada jura de vingança do vilão.
A conversa afeta tanto a Matt que ele se vê disposto a abandonar seu emprego, sua identidade civil e sua vida para se focar em proteger Hell's Kitchen em tempo integral. Ele chega a começar a fazer isso, mantendo guarda no telhado do Metro General para proteger Foggy e as vítimas do Tentáculo, o que rende outro bom momento, a conversa dele com Claire, que tenta colocar um pouco de juízo na cabeça do demônio de Hell's Kitchen.
Ao final do episódio, ficamos com várias perguntas:
Quem é o Blacksmith, ele está conectado ao Tentáculo? O que diabos foi colocado no sangue das vítimas drenadas na Fazenda para deixá-las da forma como estão ao final do capítulo?
E uma certeza:
Os três últimos episódios serão cabulosos.

"-Pra mim chega, Claire. Chega de lei. Chega de amigos. Na melhor das hipóteses, me distraem. Na pior, eu os coloco em risco. De agora em diante, eu preciso me concentrar.
-Você pode sentir que é um navio perdido no oceano, mas de você se isolar assim, é o que será. Está cortando sua própria âncora."

quarta-feira, 23 de março de 2016

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 9: Seven Minutes in Heaven


Atenção! Há Spoilers.
A segunda temporada de Demolidor chegou ao seu nono episódio com tanta coisa acontecendo que eu estou ficando com a desconfortável impressão de que as pontas soltas não serão todas amarradas nos próximos quatro episódios me deixando com uma dolorosa espera de um ano por desfecho.
De qualquer forma, as pontas são todas muito interessantes, e a série segue ótima em todos os episódios, com picos habituais de excelência.
Seven Minutes in Heaven é um desses picos.
Muito graças a presença de Wilson Fisk (Vincent D'onofrio).
O caminho do Rei do Crime, do season finale do ano um até a última cena de Guilty as Sin nos é mostrado no início do capítulo, com Fisk aprendendo sobre a vida na prisão, e rapidamente se adaptando à sua nova realidade.
Se inicialmente o vilão parece claudicante e ensimesmado, não tarda para que as interações com outros condenados, como o traficante Dutton (William Forsythe), reacendam o que há de pior e mais poderoso em Wilson.
Enquanto o Rei passa a trabalhar para tornar sua estada na prisão mais palatável, do lado de fora as coisas vão mal para o Demolidor.
Matt é procurado por Foggy, ainda emputecido após a bagunça durante o julgamento de Frank Castle. Por mais que nós gostemos do herói, é impossível não entender os motivos para a fúria de seu amigo. Foggy sequer queria pegar o caso, só o fez por causa da manipulação de Karen e Matt, quando assumiu o caso, seu sócio desapareceu por causa de suas operações paralelas com Elektra, que chegou a pôr a perder sua melhor chance de desacreditar a acusação ao ameaçar o legista do caso, e, não bastasse tudo isso, o réu despirocou durante seu depoimento, mandando o trabalho de Foggy pelo ralo.
Para sua surpresa, porém, Matt reage de maneira bastante fria, não apenas aceitando a ideia de parar as atividades da firma dos dois, mas também disposto a romper a sociedade, e deixar que Foggy siga seu caminho rumo ao sucesso sem que ninguém o atrapalhe.
O rompimento dos dois deixa Karen à deriva, mas a jovem se recusa a descansar sem saber o que houve com a família de Frank, isso a leva de volta a Ellison e ao Bulletin, para continuar cavando em busca da verdade.
Enquanto Frank Castle ao chegar à prisão, recebe de Fisk uma proposta que não é capaz de recusar, Matt volta suas atenções ao Tentáculo, e vai em busca do contador da Roxxon, Gibson, para descobrir o que a organização criminosa secular planeja em Nova York. Isso leva o diabo da guarda de Hell's Kitchen o mais próximo do inferno que ele jamais esteve, à medida em que, sob a fortaleza do Tentáculo, há coisas que Matt Murdock simplesmente não pode compreender.
Provavelmente o melhor episódio da temporada desde Penny and Dime, Seven Minutes in Heaven conta com cenas sensacionais como a feroz e sangrenta luta de Castle em um corredor apinhado de detentos e um segundo round entre o Demolidor e Nobu (isso mesmo. Nobu está de volta.), abrindo caminho para as facetas mais sobrenaturais do universo do Demolidor, tudo isso embalado pela presença de Wilson Fisk, mostrando que, embora a série tenha se valido bem de uma quantidade maior de conflitos e inimigos, um bom personagem sempre tem espaço.

"-Você está morto...
-Isso não existe."

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 8: Guilty as Sin


Atenção! Há spoilers!
No sétimo episódio da primeira temporada de Demolidor, "Stick", o mestre cego das artes marciais interpretado por Scott Glenn dava as caras, sugerindo que a máfia japonesa sob o comando de Nobu (Peter Shinkoda) poderia ser, não a Yakuza, mas o Tentáculo.
Era uma suposição justa, mas jamais confirmada.
Até Guilty as Sin.
Após encontrar o imenso buraco cavado pelos japoneses d'O Tentáculo (Sim! É oficial!) o Demolidor e Elektra são atacados pelos ninjas da organização criminosa, treinados a um nível tão alto que o herói não consegue ouvi-los.
A luta flui bem para a dupla até Elektra ser gravemente ferida ao hesitar em matar um inimigo por causa de Matt, nesse momento, a coisa só não descamba pra morte da dupla por causa da intervenção de Stick.
O mestre cego aparece matando Ninjas como se fossem feitos de algodão e salva a dupla. Ao menos parcialmente, ao baixar a guarda, Elektra foi envenenada, e sem o tratamento adequado, pode morrer em pouco tempo.
Enquanto Matt e Stick lutam para salvar a ninja, Foggy e Karen tentam controlar os danos no julgamento do Justiceiro.
Após o depoimento promissor de um companheiro de serviço, coronel Schoonover (Clancy Brown, de Um Sonho de Liberdade) deixar a promotora Reyes com a cara no chão, a manifestação de um jovem clamando justiça pelo pai, morto pelo vigilante, praticamente coloca tudo a perder, quando Karen convence Foggy que colocar o Justiceiro no banco das testemunhas pode ser a única forma de garantir que ele não seja condenado. O advogado concorda, mas acredita que a pessoa a tomar seu testemunho deve ser Matt.
Ao tentar reunir a equipe de defesa de Castle, porém, Karen dá de cara com Stick no apartamento de Matt, e Elektra em sua cama, no que deve ter parecido uma festa bem diferentona.
Antes disso, porém, finalmente ouvimos a história do Tentáculo, da descoberta do segredo da imortalidade, da luta secular contra o Casto, e a busca pela arma definitiva:
O Céu Negro.
Quando Matt tem a chance de fazer a diferença durante o depoimento de Castle com um inspirado discurso, tudo vai para o inferno. O Justiceiro, após receber a instrução de um dos guardas, hostiliza a côrte e seu advogado, assume a responsabilidade consciente pelos homicídios e age feito louco, colocando tudo a perder.
A derrota faz a aliança entre Matt, Foggy e Karen se desvanecer feito fumaça, com os três se separando após trocarem farpas.
Além de tudo isso, ainda há espaço para a relação entre Matt e Elektra florescer. Com a ninja ferida e enferma, podemos vê-la baixar a guarda, parar de usar o escudo do sarcasmo e assumir seus verdadeiros sentimentos pelo advogado, escolhendo permanecer a seu lado em detrimento de Stick e do Casto.
As juras de amor e o voto de não matar dos amantes, porém, é ameaçado por uma indesejável visita.
Guilty as Sin é um tremendo episódio, repleto de elementos importantíssimos da mitologia do Demolidor, todos bem casados com os eventos da série até aqui, incluindo elementos da primeira temporada.
As tramas paralelas do Justiceiro e da Elektra se emparelham ainda mais, a breve participação de Stick na primeira temporada se entranha nos eventos que estamos acompanhando, pudemos tanto ver o Demolidor lutando contra ninjas quanto ver Matt e Foggy no tribunal em um julgamento real, e, a cereja no bolo, descobrimos, na última cena do episódio, que o homem por trás do achaque do Justiceiro durante o depoimento foi ninguém menos que Wilson Fisk, o Rei do Crime em pessoa, dando a entender que a série pode fechar um círculo e tanto quando algumas questões forem respondidas. Os próximos cinco episódios prometem...

"-Existe uma luz dentro de você, Matthew. Dez anos atrás, eu tentei apagá-la. Sorte que eu falhei."

terça-feira, 22 de março de 2016

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 7: Semper Fidelis


Atenção! Pode haver spoilers.
Novamente, Demolidor se afasta da pancadaria (mas não totalmente) para se concentrar mais nas relações entre os personagens.
O julgamento de Frank Castle se aproxima, e Matt e Foggy têm pouco tempo para elaborar uma estratégia de defesa.
Algo que se torna cada vez mais desafiador à medida em que o aprisionado Justiceiro não aceita uma defesa baseada em transtorno de estresse pós-traumático, deixando seus advogados de mãos atadas.
Para piorar, as atividades paralelas de Matt com Elektra, começam a cobrar um preço muito alto da Nelson & Murdock, mas com a pista dos gangsteres japoneses ainda fresca, o Demolidor não pode adiar as buscas pelo código que revela o que estava escondido no livro-razão da Roxxon.
Como desgraça pouca é bobagem, o relacionamento de Karen e Matt estremece enquanto a interferência de Elektra inadvertidamente derruba uma das melhores chances de defesa do Justiceiro no tribunal.
Outro ótimo episódio, Semper Fidelis é a prova da maturidade de Demolidor enquanto programa.
Novamente galgado nas atividades do trio central na côrte, mas com respiros de ação uniformizada, Sempre Fidelis tem seus pontos altos na profundidade dos diálogos sobre moralidade, mostrando um protagonista incrivelmente humano e falho.
Quando Matt fica horrorizado com o fato de que Karen acha que os métodos do Justiceiro funcionam, ele, de algum modo, dá razão à conversa que teve com Castle quando estava acorrentado no telhado, quando o vigilante pergunta se Matt acha que o fato de não matar, o torna melhor do que ele (e nos leva a pensar no que Matt faria se soubesse que Karen matou Wesley na primeira temporada?).
Não deixa de ser um pouco hipócrita.
Especialmente quando Matt, apesar de não matar, aterroriza e espanca criminosos e mente indiscriminadamente àqueles que ama.
Quando Foggy o confronta a respeito do fato de suas escapadas noturnas estarem prejudicando o caso, e o fato de Elektra estar interferindo no caso deixa isso bastante claro:
Matt, o herói virtuoso, fica devendo em termos de integridade a Foggy, o advogado de defesa que gostaria de ter mais dinheiro entrando na firma.
É uma dicotomia muito interessante, mostrando a coragem da série em explorar personagens complexos em relacionamentos complexos.
Para fechar com chave de ouro, Matt e Elektra chegam ao prédio visto em uma planta no excelente episódio Speak of the Devil, da primeira temporada, e encontram um buraco aparentemente sem fundo cavado com propósitos desconhecidos pela organização criminosa.
Semper Fidelis começa a unir as duas grandes tramas da temporada, Justiceiro e Elektra, sem deixar o ritmo cair, a identidade dupla de Matt começa a cobrar um preço alto de sua vida profissional e pessoal, e ele se vê cada vez mais enterrado em suas atividades paralelas.

"-Pare de agir como se isso acontecesse com você à toa. Ninguém o força a sair à noite e lutar com bandidos e ninguém o força a mentir aos seus amigos inúmeras vezes!"

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 6: Regrets Only


Atenção! Pode haver spoilers.
Após uma brutal montanha-russa nos primeiros cinco episódios da temporada, Demolidor sossegou o facho (a seu modo, vá lá...) e entregou um episódio consideravelmente mais leve do que os anteriores.
Em Regrets Only, o Justiceiro volta aos holofotes após Matt e Karen descobrirem que a promotora Reyes planeja condená-lo à morte por conta de homicídios cometidos em Delaware, onde existe a pena capital.
Os dois então, convencem Foggy a fazer um movimento arriscadíssimo:
Assumir a defesa de Castle para negociar um acordo em troca de uma confissão.
Como se Matt já não tivesse o bastante em seu prato, ele ainda precisa lidar com sua parceria meio forçada com Elektra.
Após a luta com os capangas armados que abriu o episódio, Matt aceita ajudar sua ex-amante com a Yakuza contanto que ela vá embora de Nova York assim que eles terminarem o serviço.
Enquanto Matt tenta se dividir para estar em dois lugares ao mesmo tempo, Foggy hesita em tomar o partido de um assassino contra o Estado de Nova York e o poder da vingativa Reyes, mas Karen não desiste, e parece convicta de que ajudar Frank é a coisa certa a fazer.
Isso rende novos momentos onde o Justiceiro é humanizado. Suas interações com Karen, após descobrir que ela esteve em sua casa, onde ele jamais voltou após o assassinato de sua família, são particularmente ternas. Com Frank Castle relembrando pequenas coisas, momentos de normalidade, manias de seus filhos, e se mostrando incrivelmente frágil.
Com Foggy e Karen trabalhando na defesa de Frank, Matt participa da missão de Elektra, que envolve participar de um jantar de gala, roubar um cartão de acesso e invadir um andar secreto do prédio Yakatomi, onde está o livro-razão com todas as atividades ilegais da Roxxon.
O caldo começa a engrossar, porém, quando Frank resolve que não vai se declarar culpado de seus crimes, enfrentando um julgamento onde Matt e Foggy estarão na bancada contra a promotora Reyes, e nós descobrimos que a organização japonesa contra quem Elektra está armando não é a Yakuza.
Com mais ação e alguns momentos bastante interessantes, especialmente nas interações entre Karen e Frank, e entre Matt e Elektra, Regrets Only foi outro excelente episódio da temporada, mostrando uma série que consegue circular entre a ação, a aventura e o drama policial de maneira muito natural.
Todos os personagens são muito bem utilizados, e ganham contornos que os tornam mais interessantes conforme os conhecemos enquanto empilha pequenos mistérios.
Qual é o passado sombrio que Karen luta tão desesperadamente para ocultar?
O que Elektra está tramando em sua investida contra a máfia japonesa (seria o Tentáculo?)? Por que Matt tem medo de contar a Foggy que sua cliente misteriosa é a ex-namorada da faculdade? Qual o envolvimento de Reyes na morte da família de Frank Castle, e porque ela está tão interessada em manter a verdade dos fatos oculta?
Depois do pico que foi Penny and Dime, Demolidor arma um ambicioso tabuleiro para o restante da temporada, e acena com a possibilidade de finalmente termos Nelson e Murdock no tribunal!

"Ele é uma pessoa, Foggy. Como você. Como eu. E não deveria ter que morrer."

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 5: Kinbaku


Atenção! Podem haver spoilers.
Penny and Dime estabeleceu um nível difícil de repetir em Demolidor. A impressão que ficava após assistir ao episódio era a de que tudo o que se seguisse seria um anticlímax de nove episódios.
Mas não.
Ainda que Kinbaku não seja um episódio tão magnificamente equilibrado entre o drama e a ação quanto foi o antecessor, os produtores e roteiristas foram espertos o suficiente para continuar a história após o fim do arco inicial do Justiceiro em uma toada absolutamente diferente, que não precisava chegar a píncaros de dramaticidade para funcionar.
A introdução de Elektra.
A namorada grega mencionada brevemente por Foggy na primeira temporada ganha as feições da lindona Elodie Yung em um episódio repleto de flashbacks que lançam uma interessante luz sobre o conturbado romance dos dois.
Após dez anos de ausência, Elektra Natchios está de volta à cidade e a vida de Matt, pedindo a ajuda do advogado em uma ação contra a Roxxon exatamente quando o relacionamento dele com Karen começa a engrenar.
As lembranças que Matt tem de Elektra não parecem ser das melhores. O herói cego de Hell's Kitchen está constantemente pedindo que a moça desapareça de sua vida e de sua cidade.
Ao longo do episódio, nós somos levados a diversos momentos chave do passado dos dois amantes, da noite em que eles se conheceram em uma festa na universidade de Columbia, até a noite em que Elektra ofereceu a Matt a oportunidade de matar Roscoe Sweeney, o homem por trás do assassinato de seu pai. O momento em que os caminhos dos dois se separaram de maneira irremediável.
Enquanto Matt lida com a volta de Elektra à sua vida, Foggy está desesperado por conta do sumiço dos clientes da Nelson & Murdock, fruto da represália da promotora Reyes por conta da obstinação da firma em defender os interesses de Grotto.
Karen, por sua vez, continua se aprofundando no passado do Justiceiro, descobrindo que há algo no passado de Frank Castle que Reyes deseja ardentemente que permaneça oculto, tanto a respeito da heroica folha de serviços do tenente Castle junto aos Fuzileiros, quanto a respeito do brutal homicídio de sua esposa e filhos. Entrando em modo Ben Urich de investigação, ela vai até o New York Bulletin procurar pela ajuda de Mitchell Ellison (Geoffrey Cantor), editor do jornal e amigo de Ben, que a coloca no caminho certo rumo ao passado oculto de Frank Castle.
Penny and Dime era um episódio duro de seguir, mas Kinbaku teve o mérito de conseguir fazê-lo sem deixar que o nível caísse em demasia.
Muito desse sucesso está na Elektra de Elodie Yung e na sua relação com Matt Murdock.
A atriz francesa tira de letra a mistura de ameaçadora e divertida da assassina grega criada por Frank Miller, acertando a mão na maneira de interpretá-la, hora sensual como a mais letal das femme fatales, ora com uma faceta moleca e indolente que apenas uma mulher capaz de matar com as mãos poderia ter.
A relação dela com Matt simplesmente faz sentido. Os dois são inquietos, atraídos pelo perigo e pelo imprevisível, são quase almas gêmeas e é natural que se apaixonassem.
Da mesma forma, existe uma cisma irreconciliável entre os dois, justamente a linha que Matt se recusa a cruzar:
Tirar uma vida.
A cena com Sweeney deixa isso muito claro. A forma como Elektra sorri de prazer conforme Matt esmurra a cara do mafioso, e sua expressão de ofensa quando ele se recusa a matá-lo dizem tudo:
Matt e Elektra não podem ficar juntos.
E isso explica a necessidade pétrea que o demônio de Hell's Kitchen tem de que a ninja saia de sua vida, uma vez que, apesar dessa diferença fundamental entre ambos, eles ainda são criaturas análogas, e Elektra tem o dom da manipulação, forçando-se de volta à vida de Matt, e o colocando no meio de uma guerra pessoal contra a Yakuza.
Era impossível não haver uma queda após o quarto episódio da temporada, mas ao introduzir um importantíssimo personagem da galeria do Demolidor, mostrar uma série de grandes flashbacks do passado do herói, e oferecer um desfecho ao assassinato de Jack "Batalhador" Murdock, Kinbaku sucedeu em não deixar queda ser acentuada, e manteve Demolidor em altíssimo nível.

"-Você me conhece. Melhor que qualquer um. E eu te conheço. Somos bons juntos."

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 4: Penny and Dime


Atenção! Pode haver spoilers.
Eu havia dito que o episódio anterior de Demolidor, New York's Finest, era fácil, o melhor da temporada.
Até aqui.
No quarto capítulo do ano dois de Demolidor, Penny and Dime, a Marvel/Netflix chutou o pau da barraca e construiu um episódio perfeitamente equilibrado entre ação e drama, e uma das melhores experiências que uma adaptação de quadrinhos em qualquer mídia poderia ser.
As ações do Justiceiro não passam batido. Enquanto uma guerra de gangues eclode nas ruas de Hell's Kitchen, Matt, Foggy e Karen comparecem ao velório de Grotto, celebrado pelo padre Lantom (Peter McRobbie). Ao mesmo tempo, o mafioso irlandês Finn (Tony Curran) chega a Nova York disposto a vingar a morte de seu filho, uma das vítimas do ataque de Castle ao bar no primeiro episódio, e recuperar um milhão e duzentos mil dólares roubados pelo Justiceiro.
Finn é um homem de recursos, um homem obstinado, disposto a tudo para reaver o que lhe pertence.
Mas Finn não é a única pessoa empreendendo uma caçada ao Justiceiro. Karen Page é igualmente obstinada, e após ter acesso aos arquivos de Reyes sobre Frank, está ainda mais decidida a ir até o fundo da história.
Tudo isso enquanto Matt planeja seu próximo passo esperando que Melvin termine seu novo traje.
Penny and Dime é facilmente o pináculo de Demolidor (até aqui.). Não apenas a trama escrita por John C. Kelley e Sneha Koorse é perfeitamente balanceada entre os vários elementos que compõe a série, a direção de Peter Hoar é esperta, e combinada a atuações fenomenais de Charlie Cox e especialmente de Jon Bernthal, leva Demolidor a um pico de excelência dramática até então inédito.
Após ser capturado e torturado por Finn (em uma cena brutal, que conta até mesmo com uma furadeira atravessando o peito do pé do vigilante), Castle é resgatado pelo Demolidor, que não apenas desce a porrada na bandidagem, mas também tem que parar de quando em quando para impedir que o Justiceiro exploda a cabeça de mais alguém.
Com o Justiceiro fora de combate, o Demolidor o leva até um cemitério, onde eles esperam pela polícia, e a cena que se segue, com Frank Castle se abrindo finalmente ao "vermelho", narrando em um discurso emocionante a sua volta do Afeganistão, e o reencontro com sua filha, é simplesmente de cortar o coração.
O espetacular episódio ainda tem espaço para uma aproximação entre Karen e Matt, para o Demolidor oferecendo a captura do justiceiro ao sargento Mahoney em uma tentativa de recuperar a credibilidade da polícia junto ao povo de Hell's Kitchen, e quando a gente pensa que mais nada pode acontecer pra tornar o episódio ainda mais memorável, Matt dá de cara com Elektra (Elodie Yung).
Tudo funciona em Penny and Dime, o episódio que definitivamente alavancou Demolidor de "a melhor série de super-heróis" para "uma das melhores séries em exibição".
Do discurso do padre Lantom no funeral de Grotto até a primeira aparição de Elektra no apartamento de Matt, tudo funciona, não há pontos baixos, e um parâmetro de excelência difícil de alcançar é estabelecido.

"A culpa... É um sinal de que o trabalho ainda não foi terminado."

segunda-feira, 21 de março de 2016

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 3: New York's Finest


Conforme nós havíamos percebido ao final do segundo episódio da temporada, Dogs to a Gunfight, a concussão que o Demolidor sofreu após o tiro do Justiceiro o deixou em desvantagem na hora de lutar contra o vigilante.
Após o circo armado por Reyes explodir em uma chuva de balas, Karen e Foggy são avisados pela ambiciosa promotora que qualquer tentativa de ligá-la ao desastre resultará em severas sanções à Nelson & Murdock.
Incapazes de lutar pelos direitos de Grotto, que fugiu após a desastrosa operação que tentava trazer o Justiceiro à luz, Karen e Foggy se separam para tentar ajeitar as coisas.
Enquanto ela sai à procura de evidências que possam ajudar na captura do Justiceiro, e por consequência limpar a barra da firma junto à promotoria, Foggy começa a vasculhar hospitais atrás de pistas sobre o paradeiro de Matt, desaparecido após seu combate com o assassino no episódio anterior.
Matt desperta em um telhado, firmemente acorrentado à uma chaminé, enquanto o Justiceiro calmamente bebe um café e prepara seu rifle para sua próxima investida.
Sem mais o que fazer após perceber que é impossível se libertar das correntes que o prendem, Matt passa a conversar com o Justiceiro, tentando descobrir o que há por trás do homem que declarou uma sangrenta guerra ao crime organizado, num extenso diálogo que lança uma interessante luz às diferentes abordagens dos dois vigilantes.
Os Melhores de Nova York traça um bacana paralelo com a história A Escolha de Garth Ennis, quando o Demolidor é capturado pelo Justiceiro e forçado a escolher entre matar Castle, ou deixá-lo matar um criminoso.
Enquanto na história de Ennis o Demolidor é retratado como fraco e hesitante (algo que sempre acontecia aos heróis fantasiados na série do Justiceiro de Ennis), o roteiro de Mark Vernhein e a direção de Marc Jobst equilibram as coisas, garantindo não apenas que Matt e Frank tenham pontos de vista válidos, mas também que os dois possam experimentar até mesmo momentos de camaradagem e reconhecimento mútuo em meio à tensão de momentos como a chegada do síndico ao telhado, ou o clímax, quando o Demolidor desperta de um nocaute para se descobrir com um revólver atado à sua mão, e tem diante de si a possibilidade de matar o Justiceiro, ou deixá-lo matar Grotto.
Se tudo isso não fosse o suficiente, há ainda a corrida de Foggy pelos hospitais de Hell's Kitchen, que culmina em seu encontro com Claire Temple (Rosario Dawson), com direito referência à sua participação em Jessica Jones, quando ajudou a salvar Luke Cage, e mais um momento em que Foggy mostra seu valor ao impedir que uma briga de gangues exploda em meio ao pronto-socorro.
Se tudo isso não for o suficiente, o episódio encerra com uma espetacular sequência de luta que faz alusão direta ao plano-sequência do corredor em Cut Man, onde o Demolidor, ainda com o revólver preso à sua mão, e usando uma corrente como arma, desde vários andares do edifício onde estava preso por Castle lutando contra um enxame de motoqueiros dos Cães do Inferno.
Facilmente o melhor episódio da temporada até aqui, Os Melhores de Nova York mostra o nível de maturidade de Demolidor, e o quanto o seriado é superior a qualquer outra adaptação de quadrinhos em exibição hoje em dia.
O duelo de pontos de vista entre Matt e Frank é um dos pontos altos, mostrado de maneira madura, sem fazer um ponto de vista parecer mais válido do que o outro, enquanto a brilhante sequência de luta do final é épica, e tão orgânica e bem coreografada que o eventual uso de CGI para maquiar os cortes mal é percebido quando assistimos.
Um brutal teste ao código moral de Matt, e um soco na boca do estômago de todas as adaptações de super-heróis em qualquer mídia.
Genial.

"-Por que você está fazendo isso?
-Porque eu acho que você é uma meia-medida. Eu acho que você é um homem que não consegue terminar o serviço. Eu acho você um covarde."

sábado, 19 de março de 2016

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 2: Dogs to a Gunfight


Podem haver spoilers.
Bang foi um bom primeiro episódio de temporada. Deu seu recado, apresentou a primeira grande trama da vez e terminou com um cliff hanger não tão hanger assim à medida em que todos nós sabíamos que o protagonista não havia morrido com o tiro disparado pelo Justiceiro no final do capítulo.
O segundo episódio abre com Foggy procurando desesperadamente por Matt após ouvir a respeito do tiroteio em um telhado após o ataque do vigilante ao hospital onde Grotto e Karen estavam.
Matt, de fato, não morreu, mas a bala na testa de sua máscara reforçada certamente não lhe fez bem, o que o força a visitar Melvin Potter (Matt Gerald).
Além da óbvia dor de cabeça, Matt experimenta episódios ocasionais de surdez por conta da concussão, um problema e tanto para o herói que se vale quase que exclusivamente de sua audição para ter ciência do mundo ao seu redor.
Enquanto Matt se recupera do confronto, Foggy e Karen intermedeiam o acordo de Grotto com a promotora pública Samantha Reyes (Michelle Hurd, egressa de Jessica Jones), uma tarefa complicada à medida em que a promotora não parece particularmente interessada no bem-estar do mafioso.
Ao mesmo tempo, o Justiceiro segue no encalço de Grotto, disposto a terminar o trabalho iniciado no episódio anterior, obrigando Foggy e Karen a proteger o sujeito da lei e do assassino ao mesmo tempo.
Essas três linhas andam paralelamente até Reyes usar Grotto como isca de Justiceiro em troca de seu acordo de proteção à testemunha, quando o segundo round do duelo entre Matt e o novo vigilante de Hell's Kitchen é disputado sob uma chuva de balas policiais, um duelo que, apesar de começar bem melhor para o homem sem medo, é desequilibrado pela surdez ocasional do Demolidor.
Dogs to a Gunfight, é uma sequência óbvia e bem construída ao episódio de estréia. Um jogo de gato e rato onde o Justiceiro mantém-se um passo a frente de todo mundo quase o tempo todo.
O Justiceiro, por sinal, recebe um pouco mais de holofotes nesse capítulo, tendo mais falas e uma ótima cena em uma loja de penhores. Mais do que isso, o sujeito que apareceu como uma fria máquina assassina no episódio de estréia, dá um vislumbre de sensibilidade à medida em que Matt consegue encontrar seu esconderijo graças ao rastro de sangue de um cão ferido resgatado pelo vigilante.
A luta que encerra o episódio é intensa e bem coreografada, mas talvez o ponto mais alto dos 48 minutos seja o embate jurídico entre Foggy e Reyes.
Foggy, aliás, é a epítome de como os coadjuvantes de Demolidor, são melhores do que os de Jessica Jones, série aclamada, na minha opinião, muito mais por massagear o ego do politicamente correto com sua mensagem girl power do que apenas por sua qualidade.
Enquanto na série da detetive particular, o único coadjuvante respeitável, de fato, era Trish Walker, Demolidor pode se dar ao luxo de passar um episódio inteiro quase sem mostrar Matt Murdock, e ainda ter em Foggy, Karen e Ben Urich (quando ele estava entre nós) personagens que sempre são agradáveis de se acompanhar.
De qualquer forma, Foggy volta a deixar muito claro nos dois primeiros episódios da nova temporada que é muito mais do que um alívio cômico.
Karen Page, por sua vez, também vai além do par romântico convencional. Além de se mostrar mais atraída por Matt nessa temporada (na primeira houveram momentos em que ela pareceu estar no limiar de um romance com Foggy...), ela se apresenta não apenas como uma personagem perspicaz e capaz de cuidar de si mesma, mas também aventa de quando em quando, que ela tem um passado sombrio, algo evidenciado pela forma como ela parece naturalmente atraída por pessoas alquebradas e problemáticas.
Levemente superior ao primeiro capítulo, Dogs to a Gunfight mantém Demolidor firme na primeira posição entre séries de super-heróis, e nas cabeças de séries em geral.

"Talvez nós mereçamos punição. Todos nós..."

Resenha Série: Demolidor Temporada 2 - Episódio 1: Bang


O diabo está de volta à Hell's Kitchen. Após uma brilhante primeira temporada que abriu com chave de ouro os caminhos da parceria Marvel/Netflix, o diabo da guarda volta para mais treze episódios que dão sequência às aventuras de Matt Murdock.
Em Bang, a Cozinha do Inferno se acalmou, mas ainda não saiu do fogo.
O vácuo de poder deixado pela queda do sindicato criminoso de Wilson Fisk é tudo de que diversos grupos precisam para começar uma sangrenta luta por território, dinheiro e poder.
A máfia irlandesa, o cartel mexicano, as gangues de motoqueiros, todos os criminosos que estiveram à margem do império do Rei do Crime saem das sombras para clamar sua fatia, mas nenhum de maneira tão nefasta quanto o misterioso inimigo que tem chacinado a competição nos últimos tempos.
Após um violento massacre de cabeças da máfia irlandesa, o único sobrevivente do ataque, Grotto (um personagem egresso dos quadrinhos do Demo, interpretado por McCaleb Burnett), procura por ajuda, e recorre à firma de direito reconhecida por defender os necessitados e confiar nos clientes.
Nelson & Murdock.
Enquanto Matt (Charlie Cox) e Foggy (Elden Henson) investigam de onde partiu o brutal ataque aos irlandeses usando como ponto de partida uma dica do sargento Mahoney (Royce Johnson), Karen (Deborah Ann Woll) trata de acompanhar o ferido Grotto no hospital onde ele foi registrado com um nome falso, mas isso, talvez, não seja o suficiente para mantê-lo a salvo do exército de um homem só que declarou guerra aos bandidos de Nova York:
O Justiceiro (Jon Bernthal).
Ótimo episódio dirigido por Phil Abraham e escrito por Douglas Petrie e Marco Ramirez..
O vácuo de poder deixado por Fisk, sozinho, é um excelente ponto de partida para uma série com essa pegada urbana abraçada com gosto por Demolidor em sua primeira temporada. Simplesmente faz sentido que os bandidos deixados de fora por Fisk e seus associados queiram subir os degraus galgados pelo rei, e igualmente faz sentido que o Justiceiro, como seu debute no universo compartilhado das séries da Marvel, comece sua cruzada lutando para impedir essa acensão.
Bernthal aparece logo de cara, e nos dois primeiros episódios, já temos uma ótima ideia de como ele será utilizado na série.
O Justiceiro diz apenas uma única palavra em Bang, e faz sentido que seja justamente "bang". O personagem fala pouco pois suas ações dizem tudo o que precisamos saber sobre ele, sua forma de ver o mundo, e seu compromisso contra o crime em Nova York, mostrando uma escalada tenebrosamente lógica para o vigilantismo do Demolidor.
Na outra ponta da trama da série, a trinca Foggy, Karen e Matt continua sendo um dos pontos altos da série. Nós nunca nos cansamos de ver as interações entre os três personagens, e mesmo acompanhá-los sozinhos é satisfatório pois eles são personagens fáceis de gostar.
Demolidor, porém, ainda é uma série de super-herói, e por mais que gostemos de suspense, drama e boas interações entre os personagens, ainda queremos ação.
Não há no primeiro episódio nenhuma sequência gloriosa como a luta de Matt no corredor em Cut Man, ou o confronto com Nobu em Speak of the Devil, ainda assim, o episódio abre com uma tradicional e competente sequência de ação, e fecha com o primeiro round de Demolidor x Justiceiro, um violento embate de ideologias heroicas dissonantes.
Bem vindo de volta, Matty.

"-Hell's Kitchen está para explodir."

sexta-feira, 18 de março de 2016

Resenha Game: Tom Clancy's The Division


Quando comprei meu PS4 por uma grana que eu nem tinha, eu comprei pensando em Batman Arkham Knight acima de qualquer outro jogo.
Arkham Knight e Uncharted 4. Esses eram os games que eu realmente queria jogar, além, claro, da série FIFA.
Pouco depois de comprar o console (e perceber que haviam pouquíssimos games no catálogo do sistema que eu gostaria de jogar...), foi que ouvi falar do The Division, que estava em desenvolvimento e, a exemplo de Arkham Knight e Uncharted 4, viria a ser adiado mais de uma vez antes de seu lançamento.
E talvez, se o quarto capítulo das aventuras de Nathan Drake não tivesse sido adiado novamente, eu sequer estivesse jogando o game da Ubisoft.
E, se tivesse sido esse o caso, eu teria perdido um dos melhores games da presente geração de consoles.
Na trama do game, a cidade de Nova York sucumbiu ao caos após as autoridades fracassarem em todas as esferas na tentativa de conter um ataque biológico à cidade.
Conforme as agências de combate à desastres tombarem sucessivamente, a metrópole mais cosmopolita do mundo tornou-se uma terra de ninguém, onde os cadáveres se empilham nas ruas enquanto as pessoas que não caíram vítimas da "febre verde" se dividem entre aqueles que precisam de ajuda e aqueles que precisam ser detidos, conforme oportunistas passam a se apropriar de comida e remédios e desafiar o fiapo de civilidade que ainda perdura mantendo a grande maçã à beira do precipício da selvageria.
Em meio ao cenário desesperador, uma iniciativa secreta conhecida como A Divisão, é ativada.
São homens e mulheres entranhados na sociedade civil que secretamente são agentes de campo altamente treinados para situações onde todas as outras alternativas já falharam. Esses homens e mulheres anônimos são ativados ao melhor estilo Tradstone, e passam a operar em conjunto ou separados para tirar uma das maiores cidades do mundo da cadeia alimentar em uma sucessão de missões de altíssimo risco em meio ao cenário de uma megalópole arruinada.
É ótimo.
A Ubisoft pegou todas as características de um RPG e as colocou em um game de tiro em terceira pessoa extremamente competente e desafiador na medida certa.
Na pele de um agente da Divisão criado de acordo com suas preferências, o player passa a cumprir missões que se dividem entre principais e periféricas em um mundo aberto extremamente amplo, vivo, e com os pés cravados firmemente dentro da esfera do possível.
Quando encontramos uma gravação de câmeras de segurança com pessoas inocentes sendo espancadas por criminosos, ou nos deparamos com uma montanha de cadáveres apodrecendo nos túneis do metrô, sabemos de pronto, que estamos diante de um cenário dolorosamente crível no mundo de hoje.
O estúdio francês dá show na criação de um cenário sandbox que talvez seja o mais sensacional já visto fora de um game da Rockstar, e ainda mais impressionante à medida em que o game é um rpg online para multidões.
Quando saímos de um dos esconderijos da Divisão, não é raro fazê-lo acompanhado de vários outros "agentes" que volta e meia pedem ajuda para cumprir determinadas missões em conjunto.
As missões têm níveis de dificuldade específicos que dialogam com o nível do personagem do jogador, a progressão é simples, e a customização é balanceada de modo a garantir que seu personagem se ajuste perfeitamente ao seu modo de jogar, sem que a customização se torne uma experiência mais importante do que o game em si.
O colecionismo encarnado nos registros (gravações de celular, câmeras de segurança e registros militares) estão espalhados por todo o game, é uma especialidade desenvolvida pela Ubisoft em Assassin's Creed, e muito bem utilizada em The Division, o impulso de explorar o enorme cenário em busca de novas evidências que ajudem a explicar a tragédia se torna quase obsessivo após algum tempo, assim como as missões secundárias, que são as que recompensam o jogador com os melhores itens, o que, acredite, podem fazer a diferença na hora de cumprir as missões principais do game que avançam a história.
Nem tudo são flores, porém.
Há algumas falhas em The Division, que são particularmente irritantes.
O principal modo de confrontação do game são os tiroteios em cobertura ao melhor estilo Rainbow Six - Lockdown. Por isso, mesmo, faz uma falta danada a possibilidade de se agachar ou rastejar (a primeira coisa que o exército te ensina a fazer em um tiroteio). O personagem só se agacha ao ser colado à uma cobertura baixa, outrossim, ele corre despreocupadamente em pé em meio às balas e lança-chamas inimigos.
Os inimigos, por sinal, são outro ponto fraco do game.
Há apenas cinco tipos, os corredores, que avançam contra o personagem armados com bastões e geralmente morrem antes de chegar se não conseguirem te pegar recarregando, os pistoleiros, os snipers, os granadeiros e os lança-chamas. O fato de a produtora tentar fazer o game primar pelo realismo limitou bastante a paleta de adversários do game, e, pra piorar, a inteligência artificial dos inimigos não chega a ser um grande primor, uma vez que, baseado em seu arsenal, eles sempre agem da mesma forma.
O computador geralmente remedia o problema com ondas adicionais de adversários tentando flanquear o jogador em campo aberto, ou encurralá-lo em locais fechados, não é uma saída particularmente criativa, mas, que diabos, funciona.
Não é raro se ver suando frio atrás de um carro conforme um franco-atirador dispara incessantemente de um lado enquanto um corredor vem de outro com um bastão e um granadeiro atira explosivos sem cessar na sua cobertura em meio a uma missão ou encontro aleatório.
Após zerar as missões single player, o jogador pode se aventurar pela Zona Cega, o ponto zero da infecção viral, um ambiente online onde ninguém é de ninguém, os agentes não são seus aliados e vão te enrabar na primeira oportunidade para roubar seus itens.
É a maneira mais fácil de ter a
O game demanda que o PS4 esteja sempre online, e apesar disso, só tive problemas de servidor uma vez, e por poucos minutos.
No frigir dos ovos a produtora francesa acertou a mão na criação de um game original e arejado, que, mesmo longe de ser perfeito, oferece um respiro tanto aos games de tiro, quanto aos RPGs e MMORPGs.
Não é um game obrigatório, mas certamente é divertidíssimo e vale o preço.

"-Essa é minha cidade. Vamos tomá-la de volta."

quinta-feira, 17 de março de 2016

Resenha Cinema: Deuses do Egito


Alex Proyas era o sujeito que, até o surgimento de Christopher Nolan e o advento de O Cavaleiro das Trevas, havia feito o mais sombrio e pungente filme de super-herói do cinema.
Seu O Corvo, estrelado por Brandon Lee, e trágico dentro e fora das telas, era tudo o que os filmes do Batman de Tim Burton e Joel Schumacher deveriam ter sido: Sombrio, elegante, violento e fiel à origem.
O ex-clipeiro também foi responsável pelo cult Cidade das Sombras, pelo competente sci-fy Eu, Robô, e pelo que talvez tenha sido o último bom filme de cinema estrelado por Nicolas Cage, Presságio (por sinal, seu filme mais recente até o lançamento de Deuses do Egito).
Em suma, Proyas era um desses cineastas bissextos que parecem ter dificuldade em escolher seus projetos, de modo que não chega a ser surpreendente que ele esteja por trás de Deuses do Egito, projeto que esteve ligado a Will Smith por alguns anos e que eu só descobri que havia saído do papel quando teve seu trailer exibido no intervalo do Superbowl em fevereiro.
O trailer acenava com uma grande porcaria fedendo a Fúria de Titãs, e foi sabendo disso que eu assumi o risco de assistir ao longa metragem, uma das grandes furadas do ano em termos de bilheteria até aqui.
No longa conhecemos um Egito de lenda. Um lugar magnífico, berço da vida, onde deuses e mortais coexistem em harmonia sob as graças do deus Osíris (o sumidão Bryan Brown), que governa o reino e maneira magnânima ao lado de sua esposa Ísis (Rachel Blake).
Pro mais feliz que seja o Egito governado por Osíris, o rei está pronto a abrir mão de seu poder. A coroa será passada a seu filho único Hórus (Nicolaj Coster-Waldau, o Jaime Lannister de Game of Thrones).
Hórus não é um deus sábio como seu pai. Um beberrão afeito à caçadas e mulheres que vive um não-romance com a deusa do amor, Hator (a bonitona Elodie Yung).
Quando de sua coroação como o novo rei, todos os deuses e mortais se perfilam para honrá-lo, incluindo o jovem ladrão Bek (Brenton Thwaites, de O Doador de Memórias) e sua amada, a devota Zaya (Courtney Eaton, a Cheedo, a Frágil de Mad Max - Estrada da Fúria).
Mas não apenas eles.
O irmão de Osíris, Set (Gerard Butler), deus do caos, também comparece à cerimônia de coroação do sobrinho.
Seu intento, porém, não é honrar o novo rei, mas sim usurpar o trono.
Set assassina o próprio irmão, e suplanta o sobrinho em combate singular, derrotando-o e roubando seus olhos. A pedido de Hator, porém, Set poupa a vida de Hórus, condenando-o a se exilar na cripta de seus pais, cego e abandonado.
Não bastasse ser um tremendo estraga-festas, Set instaura a escravidão no império, e demanda que Anúbis passe a cobrar ouro para permitir a passagem para o além-vida.
Após um ano, o antes próspero e prenhe de vida império egípcio se tornou um lugar cruel, onde os ricos têm direito sobre a vida dos escravos e nem mesmo os deuses estão livres dos caprichos de Set, que ergue imensos monumentos à própria honra e à glória de seu pai, Ra.
Ninguém ousa desafiar o poder do novo rei, até que Zaya, escrava do arquiteto real Urshu (Rufus Sewell, voltando aos papéis de vilão após um inédito interlúdio em Hércules), descobre a planta para o cofre onde Set mantém os olhos de Hórus.
A jovem acredita que o deus exilado possa retomar o controle do Egito e acabar com o caos e a escravidão se recuperar a visão, e pede a Bek que invada o cofre e roube os olhos de Hórus.
O jovem larápio sucede em seu intento, mas o plano dos amantes é descoberto por Urshu, que mata a jovem.
Bek, então, leva o olho a Hórus e permuta um trato com o deus:
Bek o ajudará a retomar o trono, e, uma vez rei, Hórus ordenará a Anúbis que ressucite Zaya, o que deve ser feito em apenas alguns dias, antes que a jovem chegue ao além-vida.
A frágil aliança entre deus e mortal, porém, passará por diversas provações, uma vez que destruir o senhor de todo o Egito é uma jornada que os levará das alturas do navio solar onde Ra (Geoffrey Rush) enfrenta o demônio Apep ao final de cada dia, às profundezas do mundo dos mortos, onde as almas oferecem tributos em troca da passagem para a vida eterna.
É ruim.
Não tão ruim quanto o trailer sugeria, mas é ruim.
Deuses do Egito é uma óbvia tentativa de iniciar uma franquia, que hoje em dia nenhum estúdio vive sem franquia. Ele tenta ser uma daquelas fitas de aventura estilo matiné, ao mesmo tempo pretensiosas e ingênuas. O CGI usado sem qualquer parcimônia não é feito pra parecer real, e as sequências de luta variam entre duelos com lanças que remontam à aventura de sandália e espada e confrontos voadores entre robôs pixelizados que parecem uma mistura esquizofrênica entre um filme de super-herói e um clipe do Linkin Park.
Os diálogos do roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless (os mesmos de O Último Caçador de Bruxas e Drácula - A História Nunca Contada), repleto de momentos que parecem carregar uma placa "aplausos" ou "Ria" dependendo da situação, são tão rasos quanto o visual do filme sugere, e a trama não encontra ritmo além de uma sucessão de problemas e soluções estilo videogame, e o Egito nada tem de Egito além das pirâmides e dos nomes das divindades, já que sua população divina e mortal, à exemplo do que ocorreu em Êxodo - Deuses e Reis, é formada quase que exclusivamente por caucasianos musculosos (pra ter uma ideia, há apenas três atores negros com falas no filme. Chadwick Boseman, que interpreta um efeminado deus Toth, Yaya Deng, a caçadora Astarte, e Jeff Coopwood, que interpreta um alto-sacerdote não-creditado), algo estranho para o Egito, um reino no norte da África formado à época majoritariamente por negros e pardos.
É uma pena, o elenco se esforça na medida do possível com seus figurinos berrantes, tamanhos aumentados e sangue dourado, há uma clara intenção de tentar fazer uma boa aventura, mas o roteiro fraco simplesmente não dá suporte ao visual exagerado, e Deuses do Egito acaba sendo outro desses filmes que são lembrados apenas como uma ideia vagamente interessante que não vingou.
Desse modo, fica explicada a gélida recepção que o filme teve nas bilheterias norte-americanas, e já podemos esperar um novo período de ostracismo de Proyas.
Pena.

"-O Egito sempre foi um paraíso. Mas agora, há caos. Deus do ar, você deve proteger os mortais.
-Eu não sei se sou forte o suficiente.
-Então torne-se mais forte."

terça-feira, 15 de março de 2016

Resenha Cinema: Deadpool


Pra ser cem por cento honesto, inicialmente eu não tinha as melhores expectativas com relação ao filme do Deadpool.
Não tenho restrições com relação ao personagem, embora não seja um leitor entusiasmado do mercenário falastrão. Tampouco para com Ryan Reynolds, um ator sem grandes luzes dramáticas, mas que francamente, jamais me incomodou, e tem o mérito de tentar coisas diferentes. Meu grande senão para com o longa do personagem criado por Rob Liefeld e Fabian Nicieza era a forma como a Fox trata seus filmes de super-herói (quando Bryan Singer não está envolvido).
Os dois filmes do Quarteto Fantástico eram comédinhas leves pra toda a família e não vingaram, Demolidor era um produto bem intencionado, mas atabalhoado, Elektra era imperdoável. O novo Quarteto, de Josh Trank, era um produto aparentemente destruído pela interferência do estúdio. X-Men 3 - O Confronto Final, era lixo puro, e os filmes solo do Wolverine, onde, diga-se de passagem, o Deadpool de Ryan Reynolds deu as caras pela primeira vez em 2008, são ruins demais.
O que esperar então, de um longa que a Fox não queria fazer, estrelado por um ator que nunca tinha segurado um filme nas costas (lembram de Lanterna Verde?), com um diretor sem experiência em longas metragens e escrito por roteiristas que, sim, tinham o excelente Zumbilândia no currículo, mas também o sofrível G.I. Joe 2 e feito a toque de caixa porque nenhum estúdio em sã consciência investiria pesado em um longa de super-herói com censura 18, ou R, nos Estados Unidos a censura mais alta que um filme de cinema costuma pegar (Watchmen custou 130 milhões e naufragou nas bilheterias dos EUA, onde chegou a meros 107 milhões)?
Eu não esperava muito. Mesmo após a ótima recepção do longa nas bilheterias norte-americanas, mas nerd que sou, fui pro cinema tentar ver na estréia.
Noa consegui. Entre sessões lotadas e dubladas (que eu não vejo nem amarrado), passei uma semana tentando ver o filme sem sucesso antes e durante minhas férias. Então, viajei, e fiquei longe de cinemas por três semanas.
Ontem, finalmente consegui assistir Deadpool (e comprar meu ingresso para Batman vs. Superman - A Origem da Justiça), e entendi o porque de tanto hype, e da bilheteria mundial que, no final de semana, ultrapassou os setecentos milhões de dólares sem nem mesmo ter sido permitido na China, mercado que vem salvando filmes duvidosos do fracasso nos últimos anos, um feito e tanto para um filme de censura dezoito anos realizado com meros 58 milhões de dólares, praticamente uma esmola no mundo dos filmes de heróis.
Deadpool conta a história de Wade Wilson (Reynolds), ex-operativos das forças especiais que, após uma baixa desonrosa, passou a trabalhar como mercenário.
Apesar de ser falastrão e porra-louca, Wilson tem fagulhas de bom-coração, chegando a cogitar trabalhar de graça para clientes que realmente precisem de sua ajuda.
Quando conhece Vanessa Carlysle (a gatona Morena Baccarin), Wade acredita que tirou a sorte grande, mas isso dura apenas até a noite em que ele a pede em casamento, e, após um desmaio, descobre que tem um agressivo câncer em estado avançado, espalhando-se por sua próstata, pulmões e cérebro.
Desenganado, Wade é procurado por uma organização que lhe promete, não apenas uma cura, mas melhoramentos que o transformarão em um verdadeiro super-herói, possibilitando-o não apenas se livrar da doença, mas também fazer algum bem por quem precisa de ajuda.
Inicialmente reticente, Wade acaba concordando em tomar parte no programa, sem saber o que o esperava.
Nas instalações de Ajax (Ed Skrein, o primeiro Daario Naharis de Game of Thrones) e Angel Dust (Gina Carano), Wade é submetido a um cruel tratamento que consiste em aplicações de medicamentes que, sob grande dor e tensão, irão despertar eventuais genes mutantes, ou matá-lo.
Após um extenso período de torturas, eventualmente os genes mutantes de Wade despertam, mas não sem que, antes, ele fique desfigurado. Após lutar contra Ajax, Wade é deixado para morrer, mas descobre que seu novo super-poder é exatamente um fator de cura mutante.
Wade, então, passa a caçar Ajax, o único homem capaz de restaurar sua aparência, e garantir que ele possa reencontrar Vanessa.
Quando nós colocamos dessa forma, Deadpool parece um filme de super-herói bastante típico, repleto de todos os clichês do gênero.
Por sorte, a veia destrambelhada do personagem nos quadrinhos é usada à vontade pelo roteiro, o que garanta que o longa se eleve muito além da premissa.
Além da piadinhas incessantes do personagem, das quais já havíamos tido um breve aperitivo em X-Men Origens: Wolverine, o recurso da quebra da quarta parede, os momentos em que Deadpool fala com a audiência, são muito bem empregados. O filme parece se recusar a se levar ou ser levado a sério, abusando, no bom sentido, da auto-referência e da referência geral aos filmes de super-herói, dos quais absolutamente nenhum é levado livre.
Dos pousos de super-herói estilo Homem de Ferro à relação homo afetiva entre Batman e Robin, passando por Wolverine, Homem-Aranha e Nick Fury, nada passa incólume ao humor irritante do mercenário.
Deadpool também vai fundo no quesito violência extremamente gráfica, com desmembramentos, esmagamentos e um banho de sangue, além de nudez frontal e grande conteúdo sexual (o desenvolvimento do romance entre Wade e Vanessa é tão divertido quanto é profundamente safado e extremamente sugestivo), o que dá ao elenco (que ainda tem T. J. Miller, Brianna Hildebrand, Karan Soni e Leslie Uggams) liberdade total para se soltar.
E isso é ótimo.
Assistir Deadpool é como ver o filme com uma faixa de comentários ao vivo feita por um nerd onisciente. A salada de abobrinhas do anti-herói vai além do universo de super-heróis, passando por cultura pop, música e até mesmo tirações de sarro com a própria Fox, cujo pão-durismo para com o orçamento do longa, enxugado em 8 milhões de dólares ás vésperas do início da produção, não é perdoado.
Ponto para Ryan Reynolds, que perseverou após uma série de percalços na sua tentativa de fazer um ótimo filme de super-herói, e conseguiu, com Deadpool, entregar exatamente o que a audiência queria:
Um produto divertido e esperto, acessível para uma geração de espectadores que assiste filmes de quadrinhos desde o primeiro X-Men e já viu tudo o que o gênero tem a oferecer, e um deleite para os fãs que podem caçar as referências espalhadas por todo o filmes que, mesmo com a contenção de gastos, consegue ser tão competente na hora da ação quanto nas tiradas engraçadinhas.
Parabéns a Reynolds, ao diretor Tim Miller, e aos roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick, e que fique o aviso para a Fox:
Não há nada de errado em entregar aos fãs exatamente o que eles querem. Na verdade, é uma aposta certa. Deadpool não é apenas o maior sucesso de bilheteria (na ponta do lápis) de quadrinhos no cinema, mas é, sem a menor sombra de dúvidas, um dos mais divertidos longas saídos das páginas de um gibi.
Que venha Deadpool 2.

"hashtagpeideiesaí."

sexta-feira, 11 de março de 2016

Novo Trailer de Capitão América: Guerra Civil

E saiu a nova prévia de Capitão América: Guerra Civil, longa que colocará os super-heróis da Marvel pra trocar bordoadas na telona. A prévia aprofunda os conflitos apresentados anteriormente e, finalmente apresenta o novo Homem-Aranha, Tom Holland.
Confira:



Dirigido pelos irmãos Russo de Capitão América: O Soldado Invernal, Guerra Civil estréia em 28 de abril Brasil. Já terei roído minhas mãos até lá...

terça-feira, 8 de março de 2016

Ironia

Matei uma lagartixa... Não foi proposital. Foi um completo e absoluto acidente. Acaso puro. Alimentado com o combustível da paranoia de alguém sozinho em uma casa muito maior do que o habitual em uma praia tão deserta que se pode dar voltas pelado pela rua depois de certa hora.
Algum tempo após escurecer, é um ritual automático se pôr a fechar as portas da casa. Portas, portões, janelas... Aquele momento em que cada ruído sobressalta e até que o sono alcance a noite é toda voltas pelo pátio garantindo que os únicos invasores sejam os gatos e os gambás.
A obsessão por segurança é praticamente ridícula. A praia é pequena, frequentada por boas pessoas e há, literalmente trinta casas vazias para cada uma ocupada por aqui, de modo que qualquer ladrão com um mínimo de bom senso, seria esperto o suficiente para arrombar uma casa vazia, ou uma onde os objetos de valor fossem além de duas TVs tipo monitor de 19 e 17 polegadas e um DVD player, e que não estivessem ocupadas por um pobretão de 1,86m e mais de cem quilos.
De toda a sorte, hábitos de cuidado adquiridos na cidade não somem quando nos afastamos de grandes centros urbanos. E logo antes do Jornal Nacional, lá vai o paranoico fechando portas, trancando fechaduras, batendo cadeados e cerrando tramelas.
Ainda há pouco, na hora de fechar a porta dupla dos fundos da casa, algo a bloqueou de modo que mesmo fechada, ela deixava uma fresta desconfortável para o pavor instaurado em alguém habituado à insegurança perene institucionalizada por um Estado que só pensa em se dar bem.
Puxei a porta com mais força. Repeti o gesto. Repeti novamente. Sempre sem sucesso. Só após três trancos vigorosos com a porta, percebi que algo a poderia estar bloqueando a porta pelo lado das dobradiças. Minha aposta era a aposta em um galho dos arbustos de hortênsias que cercam a casa.
Mas não. Ao me agachar ao lado da folha da porta que se recusava a fechar, deparei-me não com um galho de planta, mas com a forma esmigalhada de uma lagartixa preta. A pobrezinha estava tão esmagada que precisei desgruda-la da quina da porta.
Depois de largar o corpinho molenga rebentado nos arbustos, não consegui tirar da cabeça a dor que o animalzinho poderia ter sentido.
Fosse um inseto ou artrópode, confesso, estaria de consciência tranquila. Não sou biólogo ou entomologista, mas sei que essas criaturas não possuem sistemas nervosos complexos.
Mas pouco sei sobre lagartixas. Não sei se elas sentem muita ou pouca dor. Suponho que sintam muita, outrossim, por que estariam sempre fugindo de tudo e de todos tão rapidamente?
Se for o caso, me parte o coração imaginar que dor sentiu o animalzinho conforme eu o esmigalhava inclemente com a porta.
Me pergunto se ela morreu já no primeiro golpe. Ou se foram necessários todos os quatro para mata-la. Se foi o caso, minha consciência pesa ainda mais. Pois foi a falta de raciocínio de minha parte que culminou com a dolorosa morte da lagartixa.
Tivesse eu me dado conta que poderia haver um animal ali, eu poderia ter reaberto a porta com cuidado, permitindo que escapasse.
Mas não o fiz.
Não me alivia saber que foi um acidente. Nem tampouco pensar que já salvei lagartixas de tristes fins em.outras ocasiões.
Eu não me perdoo por ter tirado a vida daquela criatura. Eu ando pela praia de manhã devolvendo peixes agonizantes ao mar. Não sou capaz de assimilar o esmagamento e evisceração de um animal, ainda que involuntária.
Fechei as demais portas com extremo cuidado, e também as janelas.
Apavorado com a ideia de tirar outra vida.
O mais irônico?
Se eu pudesse acabar com a raça humana, eu acabaria sem pensar duas vezes.