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domingo, 31 de julho de 2016

Sorvete de Manga


-Sorvete de manga? - Ela perguntou. A nota de sua voz denunciava alguma coisa perdida entre o incredulamente divertido e o francamente horrorizado.
Ele, calmo, confirmou:
-Sim. Sorvete de manga.
Ela encarou o vazio brevemente... Desviando os olhos do olhar dele... Cheios de uma tranquilidade que a deixava algo desconfortável. Como é que ele podia agir naturalmente pedindo aquilo... Era ainda mais perturbador do que o pedido em si.
Ela disse:
-Olha... A tua calma fazendo esse pedido é... É... Sei lá. É ainda mais perturbadora do que o pedido em si.
-Tu acha? - Ele quis saber, erguendo vagamente as sobrancelhas, como que surpreso com aquela declaração.
-Sim! - Ela confirmou. A calma dele era, de fato, perturbadora.
-Pena que tu pense assim... - Ele disse, ainda calmo.
-Mas peraí - Ela protestou -Como assim? Tu acha perfeitamente razoável tu me pedir pra...
-Comer sorvete de manga da tua bunda? - Ele completou - Sim. Eu acho. Eu tinha a sensação de que nós havíamos alcançado um certo patamar de intimidade... Talvez eu tenha me enganado...
Ela se sentiu atingida pelo último comentário. Replicou:
-Não... Não é isso... Claro que nós temos intimidade... A gente tá junto há mais de um mês, mas... Sei lá...
Ele a interrompeu continuando:
-Porque eu achei que nós já havíamos alcançado o patamar de dizer um para o outro o que queremos... Do quê gostamos... Ainda na terça tu me disseste, e eu repito "Me pega de quatro", e eu não te julguei... Não perguntei o porquê... Não achei estranho nem repelente... Eu estava bem confortável por baixo, mas saí, me ajoelhei, te peguei pela cintura...
-Tá! - Ela o interrompeu. -Eu me lembro... Mas é que... Vamos combinar... Pedir pra - Ela baixou a voz -Ser comida de quatro... É um lance muito mais normal do que o que tu tá me pedindo, criatura... Ora... Comer sorvete da minha bunda...
-Bom... Suponho que isso seja uma questão de ponto de vista, não? É cultural... Sabia que em diversos estados Norte-americanos a única posição sexual permitida é o papai-e-mamãe? - Ele perguntou, ainda sério.
Ela o encarava sem expressão definida. Ele abrandou as feições e sorriu:
-Mas tudo bem... Nós obviamente não vamos fazer nada que tu não queira fazer... Os dois precisam se sentir confortáveis na relação pra que ela dê certo... Eu estava me sentindo confortável o suficiente pra me expor pra ti... Pra me abrir e dizer do que eu gosto... Talvez eu tenha cometido um engano e avançado o sinal. Ultrapassado alguma barreira... Eu peço desculpas.
Parecia sincero, mas cabisbaixo. Desapontado, mas não envergonhado.
Ela, por outro lado, se sentiu constrangida. Não pelo pedido incomum dele, mas pela própria negativa. Vê se pode... Em plena época de "empoderamento" feminino, ela se recriminando por não se sentir a vontade pra aceder aos caprichos dele...
O problema é que não conseguia negar a lógica da explanação do miserável.
De fato... Toda a vez que ela pediu alguma coisa na alcova, ele concordara. Posições, modalidades, coisas que a agradavam e que ele jamais sequer perguntou por que. Apenas fez e, no mínimo, com muito boa vontade.
Ele podia ser o homem da sua vida. Seu grande amor. Diabos... Com todas as coisas que tinham em comum aquele cretino podia ser o pai de seus filhos... E ela perderia isso porque achava estranho que ele quisesse... Enfim... Comer alguma coisa da sua bunda?
Ergueu os olhos e o encarou pensativa.
-Que foi? - Ele perguntou.
-O lance do sorvete... Ia ser tipo... Numa taça?
Ele suspirou:
-Não. Eu gostaria de largar uma ou duas bolas de sorvete em cima das tuas nádegas e lamber elas enquanto o contato com a tua pele as derretia.
Ela olhou em volta, como se estivesse procurando algum observador indiscreto, e então olhou de volta pra ele:
-Se eu fizer isso... Tu não pode deixar nem uma gota de sorvete em mim.
Ele sorriu.
Se casariam, teriam filhos e seriam muito felizes. Ela só teria que se habituar a uma ou outra excentricidade. Podia suportar isso... Quão mais estranho podia ficar, afinal de contas?

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Rapidinhas do Capita


Tragédia para os fãs do diabo da guarda de Hell's Kitchen. A Netflix confirmou que só lançará dois programas da Marvel por ano.
Com o ano que vem já marcado para a estréia de Punho de Ferro e Os Defensores, isso significa que a segunda temporada de Jessica Jones e a terceira temporada de Demolidor só devem surgir no serviço de streaming em 2018!!!!!
Segundo o chefe de conteúdos do serviço, Ted Sarandos, a medida foi tomada par garantir a qualidade dos projetos.
Olha... Tranquilo. Eu entendo, sério, mesmo.
Mas seria injustiça da minha parte dizer que deveria ser Demolidor e mais uma todo o ano? Por que, francamente, eu gostei bastante de Jessica Jones, mas eu não troco por Demolidor... E eu acho que tanto Punho de Ferro quanto Luke Cage tem um puta potencial... Mas não troco por Demolidor. E os Defensores parece maneiro, mas eu nem penso antes de dizer que, entre Defensores e Demolidor, eu escolho Demolidor.
Pra piorar, se a regra for mantida, e apenas dois seriados forem lançados anualmente, podemos ter Demolidor empurrado pra 2019, ou O Justiceiro de Jon Bernthal, outro personagem muito foda, apenas em 2020 dependendo do calendário escolhido...
Por favor, Netfix... Não faça essa cagada.

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E com as filmagens de Spider-Man: Homecoming rolando a todo o vapor em Atlanta, Georgia, mais e mais fotos dos sets abertos caem na rede.
A nova leva mostra o Homem-Aranha Tom Holland usando uma combinação que sempre me agradou muito:
Traje de super-herói e mochila. Eu não sei se é porque eu cresci indo à escola de mochila enquanto meus colegas usavam pastas ou elásticos prendendo seus livros, mas eu sempre achei que a combinação deixava o Homem-Aranha mais relacionável. Se fosse uma mochila de teia, então, aí seria épico...
Veja as imagens:



Fica muito maneiro.
Em uma notícia relacionada, Kevin Feige falou a respeito dos planos da Marvel pra franquia do cabeça de teia, e a comparou à série Harry Potter.
Eu devia trabalhar no Marvel Studios... Na época da saída de Sam Raymi e Tobey Maguire da série, eu defendia nos fóruns de nerds das redes sociais a escolha de um adolescente de verdade, com seus quinze, dezesseis anos, para o papel (à época, meu favorito era Freddie Highmore), para que a audiência crescesse junto com o protagonista, e o visse amadurecer, á exemplo do que acontecera com Danie Redcliff em Harry Potter...
Ainda que Tom Holland já tenha seus dezenove pra vinte anos, parece que a Marvel optou por seguir um modelo semelhante. Com um ator mais jovem do que Tobey Maguire e Andrew Garfield (quase trintões quando assumiram o papel).
Não chega a ser uma ideia brilhante, apenas demonstra mais vontade da Marvel Studios de seguir a origem de seu personagem mais importante com um pouco mais de fidelidade.

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E ainda nos super-heróis, aWarner/DC confirmou que haverá outro membro da Liga da Justiça em Esquadrão Suicida além do Batman (e do Superman, já que no trailer final aparece o funeral do homem de aço), o Flash Ezra Miller, um dos pontos altos do trailer de Liga da Justiça, deve aparecer em um flashback prendendo o Capitão Bumerangue (Jai Courtney).
Dirigido por David Ayer Esquadrão Suicida estréia em 4 de Agosto no Brasil.

Resenha Cinema: Jason Bourne


Quase dez anos se passaram desde que David Webb, também conhecido como Jason Bourne deu as caras pela última vez nos cinemas.
Após redescobrir seu passado, expôr a face negra da CIA, ser baleado e jogado do alto de um prédio de trinta andares no rio Hudson, Bourne nadava para o anonimato, mas jamais para o esquecimento.
O espião desmemoriado vivido por Matt Damon em A Identidade, O Ultimato e a Supremacia Bourne era um personagem muito bacana, envolvido em filmes muito bons para ser esquecido. Prova disso é que, com apenas três filmes, ele era capaz de rivalizar tanto com o Ethan Hunt de Tom Cruise em Missão Impossível quanto com James Bond e sua infinita série de filmes 007. Mais do que isso, Jason Bourne influenciou o avô dos filmes de espionagem de maneira clara e cristalina, ou alguém é capaz de negar os traços Bournescos nos primeiros 007 com Daniel Craig, apelidado maldosamente por detratores de Bourne, James Bourne...
A série Bourne exerceu grande impacto sobre o gênero, criando um personagem que ganhou cadeira cativa no coração da audiência.
Tanto que, após Matt Damon e Paul Greengrass, o diretor dos dois últimos (e indiscutivelmente melhores) filmes chegaram à conclusão de que a história de Bourne havia chegado ao final no topo daquele prédio em 2007, a Universal ainda tentou seguir com a franquia no bem intencionado e só O Legado Bourne, que tentava seguir outro agente de um programa-irmão do Treadstone em uma aventura paralela estrelada por Aaron Cross, vivido por Jeremy Renner.
Ainda que O Legado fosse um filme de ação competente, com um ótimo elenco e uma trama sólida, faltava alguma coisa para Cross ter chance de rivalizar com seu predecessor... Talvez fosse o talento de Matt Damon, talvez a visão de Greengrass, talvez um filme que não fosse uma tentativa tão clara e desesperada de capitalizar em cima de uma história conhecida, porém esgotada em si própria.
O Legado não fez feio, mas Aaron Cross e Marta Shearing sumiram nos mares paradisíacos da Malásia e a Universal se viu, novamente, despida de sua franquia.
Mas um produto como Bourne não pode ser ignorado em tempos onde uma marca conhecida e uma série de filmes são o pão com manteiga de um estúdio. E, após Matt Damon declarar que voltaria à série se Greengrass voltasse, a Universal abriu, não apenas a mão, mas as pernas, em sua desesperada busca por mais um Bourne.
Matt Damon e Paul Greengrass receberam ampla liberdade criativa, créditos de produção, e provavelmente um monte de dinheiro para trazer à vida Jason Bourne, quarto filme da saga do espião amnésico após um hiato de quase uma década.
Ontem, como bom fã da série, corri pro cinema pra conferir o novo capítulo do que é, de longe, minha franquia de espionagem preferida.
Em Jason Bourne, após uma breve montagem nos levando de volta aos primeiros passos da luta de David Webb para recuperar seu passado, encontramos o envelhecido ex-operativo da CIA, ainda assombrado por ecos de seu passado, vivendo em constante movimento, fora dos radares das agências de segurança, saindo do esconderijo e do anonimato apenas eventualmente para ganhar alguns trocados como lutador de boxe sem luvas na fronteira da Grécia com a Macedônia enquanto tenta continuar esquecido por todos.
Os planos de ostracismo de Bourne são frustrados quando Nicky Parsons (Julia Stiles) retorna à sua vida.
A ex-funcionária da inteligência agora trabalha contra a CIA, ajudando Christian Dassault (um hacker estilo Julian Assange) a expôr os segredos sujos das agências norte-americanas na internet. É durante uma de suas incursões que Nicky se depara com novidades a respeito do passado de Bourne. Mais precisamente, sobre o destino de seu pai, Richard Webb (Gregg Henry).
Não tarda para que a descoberta de Nicky a leve novamente ao encontro de Bourne, inadvertidamente levando em seu rastro o diretor da CIA, Robert Dewey (Tommy Lee Jones), a chefe do departamento de defesa cibernética da Agência, Heather Lee (Alicia Vikander) e o agente conhecido apenas como "Operativo", (Vincent Cassel) numa tensa sequência de perseguição por Atenas durante uma onda de protestos e conflitos entre a polícia e manifestantes, culminando com Bourne novamente enredado na teia de mentiras da CIA, e precisando viajar pela Europa em busca da verdade sobre a morte de seu pai e seu alistamento voluntário no programa Treadstone enquanto escapa dos inimigos que decidem que, ou o trazem de volta, ou o matam.
Essa familiar campanha pessoal acaba cruzando o caminho de Bourne com o do bilionário das redes sociais Aaron Kapoor (Riz Ahmed), um jovem start-up que criou sua companhia sobre o mantra da liberdade e da privacidade mas se envolveu com a CIA muito além do que deveria, e não tarda para que o destino de todos esses peões se tornem entrelaçados de maneira irretorquível no tabuleiro que se desenha.
Jason Bourne é um filme que tem dois grandes problemas:
O Ultimato Bourne e A Supremacia Bourne.
O longa é certamente superior ao primeiro filme da série, A Identidade Bourne, mas empalidece na comparação com os dois antecessores mais recentes.
A verdade é que a história de Jason Bourne e sua busca por sua identidade e seu passado havia sido plenamente contada nos três filmes originais quando Jason "encontrou" David Webb, então não deixa de soar como uma desnecessária trapaça trazê-lo de volta para mais buscas pelo passado, ainda que haja peso e estofo na trama que movimenta o longa. O que vemos em Jason Bourne não deixa de ser uma repetição dos eventos de Identidade, Supremacia e Ultimato.
As passagens por Londres, Berlim, Atenas parecem revisitas ligeiras com o cartaz "Lembra do que aconteceu aqui no primeiro filme? E no segundo? E no terceiro"... O personagem de Tommy Lee Jones não é diferente de Chris Cooper ou Brian Cox ou David Stratairn... O personagem de Vincent Cassel não é melhor do que o de Clyve Owen, Karl Urban ou Édgar Ramirez...
Melhor sorte têm Alicia Vikander, fazendo um equivalente da Pamela Landy de Joan Allen em uma versão mais dúbia em suas motivações, e Riz Ahmed, que eu cheguei a pensar que se tornaria uma nova versão do repórter vivido por Paddy Considine em O Ultimato, mas conseguiu seguir seu próprio caminho enquanto ajuda o roteiro a situar Jason Bourne em um mundo pós Edward Snowden, pós Wikileaks, e sugerir um debate a respeito de liberdades individuais em um mundo de vigilância constante, e isso é um mérito que não pode ser subtraído do longa.
Não bastasse dar um lastro de realidade ao seu filme, Greengrass e o co-roteirista Christopher Rouse, conseguem imprimir o mesmo senso de urgência dos outros filmes às sequências de ação, e a perseguição pelas ruas de Las Vegas é tão boa quanto a perseguição de Paris em Identidade e a de Nova York em Ultimato (A perseguição em Moscou de Legado segue soberana).
Com um grande elenco, ótimo diretor, um protagonista incrivelmente talentoso e carismático e uma trama firme embalada em grandes sequências de ação, Jason Bourne está meia dúzia de degraus acima da imensa maioria dos filmes de ação recente, e em pé de igualdade com os melhores. Seu grande senão é o absurdo nível de excelência da série, que eleva as expectativas a picos difíceis de se alcançar.
Assista no cinema.
Vale a pena.

"-Eu sei quem eu sou. Eu me lembro de tudo."

sábado, 23 de julho de 2016

Trailer da Liga da Justiça

Eu não retiro uma vírgula do que eu postei, ontem. A notícia a respeito da terceira temporada de Demolidor foi A notícia que a Comic-Com de San Diego poderia ter me trazido. Mas ainda bem que a convenção não acabou ontem. Hoje a Warner divulgou o primeiro trsiler de Liga da Justiça e, meu amigo... Que baita prévia.
Confira no player abaixo com as legendas da Nosferatu Corp.:



Foda, hein? Eu sei, eu sei... Os trailers de Batman vs. Superman também haviam sido excelentes e o filme acabou sendo terrivelmente irregular, ainda assim, tudo no trailer de Liga da Justiça parece muito mais imbuído de uma aura de otimismo que, pra mim, casa mais com os personagens divinos da DC do que o melancólico espetáculo de rancor e ódio de BvS.
Já estou na espera.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Marvel Netflix

Ontem na San Diego Comic Con saíram algumas das notícias que eu mais estava esperando.
O Universo Cinemático Marvel e o Universo Compartilhado DC nos cinemas que me desculpem, mas os dois terão de comer muito arroz com feijão pra alcançarem o nível de qualidade e fidelidade que a parceria Marvel/Netflix arranca com seus seriados.
Após uma temporada muito boa de Jessica Jones e duas temporadas de explodir o crânio de Demolidor, o serviço de streaming mostrou os dois próximos heróis da Marvel a ganharem versão em carne e osso na telinha.
O primeiro é Luke Cage, que meio que dividiu a primeira temporada de Jessica Jones com Krysten Ritter.
Na prévia vêmos Mike Colter deitando a porrada na vagabundagem do Harlem com sua superforça e pele impenetrável. Ao final, o aviso ao vilão Cornell Stokes (Mahershala Ali, de House of Cards), de que está só começando.
Confira:



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Outro herói que mostrou a cara e deu uma dica de seus super-poderes foi Danny Rand, o Punho de Ferro.
Um rápido teaser também foi mostrado ontem, caindo na rede logo em seguida. Nele, temos um vislumbre da origem do herói capaz de concentrar seu Ki em um invencível punho de ferro.
Veja Finn Jones, ex-Sor Loras Tyrell, de Game of Thrones, fazendo seu debute no mundo dos super-heróis:



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Não bastasse isso, ainda tivemos um inspirado teaser da série que juntará Punho de Ferro, Luke Cage, Jessica Jones e Demolidor: Os Defensores.
Na prévia, fica bastante claro que esses quatro heróis têm a primeira qualidade que se exige de um bom grupo de heróis:
Absolutamente nada em comum.
Veja o teaser embalado por Kurt Kobain que fecha com uma letrinha de Stick (Scott Glenn):



"Vocês quatro acham que podem salvar Nova York? Vocês não podem salvar nem a si mesmos..."

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E, a notícia que fez com que, pra mim, a Coic Con pudesse acabar ontem: Pra fechar com chave de ouro, ainda tivemos a confirmação de que, sim, por Odin, sim, nós teremos a terceira temporada de Demolidor. De barbada a melhor adaptação de um super-herói em qualquer mídia!
Veja o teaser:



É isso aí, nerdaiada. O Diabo vai voltar a Hell's Kitchen e tornar a vida de todas as outras pirotécnicas adaptações de quadrinhos mais complicada.

Resenha Blu-Ray: Batman vs Superman: A Origem da Justiça - Versão Definitiva


Zack Snyder pode ser definido como um cineasta com excepcional mão pra ação, boas noções de visual, e severos problemas de narrativa.
Uma prova cabal disso é que seus filmes, de modo geral, têm sempre o mesmo calcanhar de aquiles: Contar sua história.
Seus melhores trabalhos foram realizados sobre roteiros redondinhos, geralmente adaptados, onde ele pôde dar um toque pessoal à uma história que, em suma, já funcionava.
Madrugada dos Mortos era um ótimo filme de zumbis do papa dos filmes de zumbis George Romero antes de ser temperado com correria e porradaria por Snyder. Da mesma forma, 300 era uma graphic novel excelente, que enchia de ação e sangue um filme de 1962 e Zack Snyder praticamente fez com o quadrinho o que Robert Rodriguez fez com Sin City.
Seu melhor trabalho na carreira, a adaptação de Watchmen, um dos livros sagrados dos quadrinhos e trabalho seminal de Allan Moore, consegue a proeza de ser um filme arrastado e apressado em mesma medida, e ainda que o longa tenha inúmeras qualidades e a versão do diretor seja consideravelmente melhor do que a de cinema, isso já deixa claro a dificuldade de Snyder de acomodar uma narrativa coesa em uma metragem razoável.
Seu grande filme original, Sucker Punch: Mundo Surreal, é, a bem da verdade, pouquíssimo original. Uma mistura de longa de fuga de prisão com videoclipe fetichista e um recorte de referências que iam do Steampunk à O Senhor dos Anéis e Eu, Robô, e naufragou bonito nas bilheterias quase falhando em pagar seu orçamento de modestos (em se falando de cinemão) 82 milhões de dólares.
Foi com isso em mente que ontem peguei a versão estendida de Batman v. Superman: A Origem da Justiça. Para descobrir se, com meia hora a mais de duração, o longa dirigido por Snyder com o encontro de dois dos maiores ícones dos quadrinhos, se tornava uma experiência mais equilibrada e menos atropelada em termos de trama.
E sob certos aspectos, sim.
Alguns pontos do roteiro realmente recebem uma atenção maior nos trinta minutos que o cinema não viu. Notadamente a investigação jornalística de Clark Kent acerca das ações do Batman, um ponto importante na construção da rivalidade do Homem de Aço em relação ao Homem Morcego.
Outra investigação jornalística que ganha mais espaço é a conspiração engendrada por Lex Luthor para culpar o Superman pelas mortes na África durante a entrevista de Lois Lane no início do filme, linha narrativa, aliás, onde surge a personagem de Jena Malone, Jenet Klyburn, cortada do longa na versão de cinema.
Essas duas histórias paralelas são, de fato, a grande diferença da "versão do diretor" pra versão de cinema, e, excetuando-se elas, o filme é basicamente o mesmo visto nas salas escuras em março. Existem algumas cenas inéditas com Alfred e a revelação de que o agente da CIA assassinado no início do filme é mesmo Jimmy Olsen (provando que ninguém está a salvo da sanha assassina de Zack Snyder).
O grande senão da versão espichada é que, ao lançar uma luz sobre o plano de Luthor, o que a investigação de Lois Lane faz, tudo se torna mais excessivo.
A maquinação de Lex é simplesmente impraticável, absurda, boba, até. Suas motivações seguem tremendamente rasas (o que não chega a ser um problema, a melhor versão de Luthor odeia o Superman por inveja...) e mal exploradas (esse, sim, um pecado imperdoável). Jesse Eisenberg é, de fato, uma das escolhas menos inspiradas da história do cinema para um papel, e sua abordagem do personagem é simplesmente sofrível, não é sua culpa, porém, e sim de quem o escalou para o papel e o dirigiu.
Outro senão da versão estendida é que, quando Lois e Superman são capazes de desvelar todo o plano de Luthor, o Batman de Ben Affleck parece um pouco burro.
Todos sabemos que o Homem Morcego é um personagem obstinado e obsessivo, mas por mais cheio de rancor e ódio que ele estivesse, Batman jamais poderia ser obtuso a ponto de deixar seu ódio pelo Superman cegá-lo o suficiente para torná-lo um peão de Lex Luthor.
A propósito... O ódio do Batman pelo Superman...
No filme é sugerido que essa furiosa ojeriza de Wayne pelo último filho de Krypton é por conta das mortes causadas na luta entre Superman e Zod em O Homem de Aço.
OK... Eu compreendo que o personagem de Scoot McNairy, que perdeu as pernas na luta, encare as coisas dessa forma.
Mas o Batman?
O Batman de Ben Affleck tem feito todas as escolhas difíceis. Ele é um homicida confesso que perdeu um Robin por causa de sua luta contra o crime. Não seria exatamente esse o sujeito que entenderia o significado de dano colateral?
Por mais que se sentisse condoído pelo resultado, ele não deveria ser o cara capaz de se colocar no lugar do Superman e perceber que naquele cenário, o Homem de Aço deu seu melhor e os responsáveis pelas mortes foram Zod e seus asseclas?
Se não, e OK, é uma alternativa: Não. O Batman não entenderia isso. Ele é um sujeito feroz e calejado, incapaz de ver o bem em qualquer um...
Então porque diabos suas disposições mudam absolutamente após ouvir o nome Martha?
A meia hora extra de Batman vs Superman não consegue consertar isso.
Tampouco torna a exaustiva luta entre Superman, Batman, Mulher-Maravilha e Apocalipse menos deslocada, excessiva e chata, ou explica a inserção do Flash do futuro conversando com Wayne em sonho para lançar um embrião de Injustice: Gods Among Us no meio do filme de maneira completamente gratuita.
Assistindo novamente ao longa ontem, cheguei à conclusão de que há um ótimo filme de super-herói em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, mas que ele não está escondido porque faltou alguma coisa na versão de cinema, mas sim porque sobraram muitas coisas.
Um filme que opusesse Batman e Superman, dois heróis com visões e métodos absolutamente distintos de justiça exatamente nos mesmos moldes seria épico.
Um filme que explorasse o fato de o escoteiro Superman ter matado seu inimigo enquanto o vigilante cruel e brutal Batman jamais o faria teria sido sensacional.
Um filme que dispensasse Luthor, Lobo da Estepe, Mulher-Maravilha, a pasta de vídeos da Liga da Justiça e se concentrasse nas diferenças entre Superman e Batman, e no inevitável confronto que surgiria de um encontro entre esses dois personagens teria sido incrível.
Entretanto, acredito que seria demandar sutileza demais de Zack Snyder.
Uma pena.
Há um grande filme de super-herói em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, mas ter que garimpá-lo em duas horas e meia ou três horas de filme é muito cansativo.

"Ninguém permanece bom neste mundo."

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Resenha DVD: Caçadores de Emoção: Além do Limite


Em 1991, foi lançado Caçadores de Emoção, um filme policial de ação e esportes radicais que se tornou extremamente cultuado entre os fãs do gênero e fez críticos de cinema coçarem a cabeça se perguntando o que é que aquele filme tinha demais?
Pra ser bem franco, eu também não sei.
Talvez fosse o fato de história de Johnny Utah (Keanu Reeves) um jovem agente do FBI infiltrando-se num grupo de surfistas ladrões de bancos liderados por Bodhi (Patrick Swayze) mesmo sem ser um filme de grandes luzes, estar na (alta) média dos filmes de ação da época, que contavam com Máquina Mortífera, Duro de Matar e outras boas produções do gênero. Talvez fosse o fato de o filme mostrar, mesmo que sem intenção, um novo movimento na cultura dos EUA, com os yuppies oitentistas sendo substituídos pelos grunges curtidores da geração que fez a transição entre os X e os millenials... Sei lá.
O que não se pode negar é que, com ação conduzida por Kathryn Bigelow (uma mulher com mais colhões que a maioria dos diretores de ação da nova geração), Caçadores de Emoção era um filme divertido, empolgante com um elenco maneiro e diversas sequências de ação inspiradíssimas, de modo que a mim não surpreende que o filme seja, ainda hoje, uma referência (conforme vimos em Os Vingadores e Chumbo Grosso).
Outra coisa que infelizmente não me surpreende é que Caçadores de Emoção tenha ganhado um remake.
Todos os filmes de grande orçamento nos cinemas atualmente são remakes, adaptações, releituras ou continuações, e praticamente todos os filmes dos anos 80/90 que tiveram alguma notoriedade entraram no grupo. Máquina Mortífera rendeu quatro longas (e eu adoro todos) e agora vai ser série de TV, Duro de Matar vai ganhar sua quinta sequência, o Exterminador do Futuro ganhou sequências, remakes, prequels e até misturas de tudo isso. Porque é que o Caçadores de Emoção (que foi descaradamente copiado em Velozes & Furiosos) ficaria de fora?
De qualquer forma, eu não levei fé suficiente no filme para arriscar assistir no cinema. Mas no final de semana aluguei o DVD para ver se era tão ruim quanto eu achei que seria.
No longa conhecemos Johnny Utah (Luke Bracey), um jovem praticante de esportes radicais que, após uma tragédia, abandona o mundo extremo e resolve ser agente do FBI.
Quando dois espetaculares roubos realizados com técnicas de esportes radicais (base jumping do centésimo andar de um prédio com motocicletas e paraquedismo para dentro de uma das maiores cavernas verticais do mundo), Johnny percebe um padrão.
Somando dois mais dois, Utah chega à conclusão de que os bandidos são esportistas radicais em busca de realizar um circuito extremo conhecido como Os Oito de Osaki entre um crime e o próximo, e leva a informação ao seu superior, o instrutor Hall (Delroy Lindo).
Ninguém no FBI leva a teoria de Johnny a sério, mas Hall vê méritos na ideia, e incumbe o rapaz de ir até o local onde o próximo desafio de Ozaki poderá ser cumprido, a costa francesa, onde um evento geológico está causando ondas gigantes, e tentar encontrar pistas do grupo de facínoras.
Com a ajuda do agente Pappas (Ray Winstone), Utah chega à costa da França bem a tempo de encontrar um grupo de jovens sarados aproveitando o surfe nas gloriosas ondas.
Tentando se enturmar, Utah acaba engolido por uma onda de mais de vinte metros, mas é salvo por Bodhi (Édgar Ramirez).
Não tarda para Utah se juntar a Bodhi e seus amigos na busca pelo desafio de Osaki, fazendo snow board pelos alpes, ou atravessando cânions com wingsuit Também não demora para ele se envolver com a gostosinha da galera, Samsara (Teresa Palmer), e logo considerar o grupo um tipo de família.
Ao menos até ele ter certeza de que Bodhi e companhia são os responsáveis pelos crimes que ele investiga e ser forçado a perseguir seus novos amigos.
Caçadores de Emoção: Além do Limite é ainda pior do que eu imaginava.
O longa de Ericson Core consegue a proeza de ter todos os defeitos do filme original e nenhuma das qualidades.
Para substituir Keanu Reeves no papel principal, encontraram um ator tão inexpressivo quanto, mas sem um décimo do carisma.
Luke Bracey é sofrível, e convence como agente do FBI tanto quanto Channing Tatum e Jonah Hill convencem como alunos do ensino médio, o problema é que ele não está fazendo piada.
Édgar Ramirez, por sua vez, sabe atuar, mas é impossível ser crível disparando diálogos como os contidos no roteiro de Kurt Wimmer, que faz com que todos os personagens pareçam estar permanentemente chapados vomitando bobageira pseudo-filosófica new age. Delroy Lindo e Ray Winstone parecem estar no piloto automático, enquanto Teresa Palmer tem um papel simplesmente constrangedor.
As relações entre os personagens são mais artificiais do que Ki-Suco de groselha, e a conexão entre Utah e o grupo de Bodhi é tão forçada que chega a ser embaraçosa.
Pra piorar, o que poderia ser o ponto alto do filme, as sequências de esportes radicais e ação, são picotadas em uma edição incompetente, e parecem comercial de isotônico ou anúncio do canal OFF.
Com atuações canhestras, mau roteiro e direção amadora o único limite que o novo Caçadores de Emoção ultrapassa é o do bom senso. Se os executivos de Hollywood tivessem algum, essa porcaria jamais teria sido lançada nos cinemas.

"-Te vejo em breve, irmão"

Resenha DVD: Zoolander 2


Em 2001 o mundo conheceu Derek Zoolander, o modelo masculino interpretado por Ben Stiller.
Derek Zoolander era um completo e absoluto idiota, egocêntrico e alienado, que após ver seu mundo ruir ao ser superado pelo rival Hansel (Owen Wilson), era cooptado por um perverso senhor da moda, e sofria uma lavagem cerebral para ser usado como arma no assassinato do primeiro ministro da Malásia.
Zoolander era um filme OK. Longe dos melhores trabalhos de Stiller atrás das câmeras, notadamente O Pentelho e Trovão Tropical, o longa tinha seus momentos tanto pelo absurdo de escalar Wilson e o próprio Stiller como bem-sucedidos personagens do mundo da moda, quanto pela crítica aberta e hilária que fazia desse mundo ao mostrá-lo como algo tão superficial e bobo, que apenas as pessoas mais envolvidas poderiam lhe dignar alguma importância.
Zoolander, senão o filme, o personagem, ganhou alguma notoriedade com o passar dos anos, e encontrou seu público no home-video, sendo frequentemente lembrado como um dos personagens icônicos da moderna comédia americana.
Quinze anos se passaram, e talvez por conta do sucesso da sequência tardia de O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy, outro filme que não fez sucesso no cinema mas ganhou o coração de sua audiência no DVD, a Paramount resolveu liberar verba para que, quinze anos após o primeiro filme, Zoolander voltasse aos cinemas.
Eu não fui assistir Zoolander na telona. Ao contrário de Ron Burgundy e sua turba de jornalistas imbecis de O Âncora, Zoolander não fora um filme que eu lamentei não ter visto no cinema. Via de regra, não acho Stiller um grande comediante, de modo que ignorei a passagem da sequência até o sábado, quando passei na locadora e resolvi dar uma chance ao filme.
Zoolander 2 abre com uma sequência de perseguição em Roma, onde após um breve jogo de gato e rato, Justin Bieber é encurralado diante da mansão de Sting, e metralhado.
Com seus últimos suspiros, ele tira uma selfie, emulando uma das centenas de expressões aparentemente iguais de Zoolander, e a publica no instagram.
Após uma breve sequência de abertura onde somos informados do que aconteceu com Zoolander nos últimos quinze anos, incluindo o desmoronamento do seu Centro Derek Zoolander Para Crianças que Não Conseguem Ler Bom, desastre que culminou com a morte de sua amada Matilda (Christine Taylor), desfigurou Hansel (Owen Wilson) e fez com que perdesse a guarda de seu filho, Derek Jr.
Assombrado pela tragédia, Zoolander vai viver numa região remota e gélida (de Nova Jérsei), até ser procurado por Billy Zane (interpretando a si próprio), que o convence a sair da aposentadoria para desfilar em Roma para um grande estilista em uma tentativa de se mostrar produtivo e recuperar a guarda do filho.
Quase ao mesmo tempo, vemos que Hansel, que agora usa uma máscara dourada para esconder seu rosto desfigurado, está vivendo no deserto (de Malibu) com um consórcio que chama de Orgia, um grupo formado por sábios de vilas chinesas, guerreiros maoris, elfas em miniatura, escravas núbias e Kiefer Sutherland.
Apavorado após descobrir que estão todos grávidos dele, Hansel não resiste muito após ser convidado por Zane para desfilar, também.
Uma vez na Itália, os dois são procurados por Valentina Valencia (Penélope Cruz), agente do setor de moda da Interpol, que precisa da ajuda de Derek para decifrar o mistério por trás da última publicação de Bieber no Instagram, apenas o último astro pop a morrer deixando como última mensagem uma expressão do cartel de Zoolander, após Madonna, Bruce Springsteen, Demi Lovatto e Lenny Kravitz.
Não tarda para que os dois idiotas e a agente descubram que a morte das celebridades está ligada a um antigo conclave de defensores da linhagem de Steve, que dividiu a Terra com Adão e Eva, e cujo sangue é a fonte da eterna juventude, e que essa linhagem termina, claro, no filho de Zoolander, Derek Jr. (Cyrus Arnold).
O jovem Derek Jr., então, se torna alvo dos planos de Alexyana Atoz (Kristen Wiig, fazendo uma versão sinistra da Donatella Versace de Maya Rudolph em SNL), que podem estar ligados ao antigo inimigo de Derek, Mugatu (Will Ferrell).
Como se pode ver, pra um filme que deveria ser apenas uma grande bobagem, Zoolander 2 tem trama demais.
Pra piorar, a trama não é boa. As piadas são forçadas e o que funcionou no filme de 2001 não necessariamente funciona nessa inchada sequência.
Na verdade, pouca coisa funciona no filme, que aposta na fórmula da repetição com mais escopo. Então, atores mais famosos no elenco de poio, mais celebridades fazendo pontas desnecessárias num festival de participações que vai de Mark Jacobs e Valentino a Neil DeGrasse Tyson e John Malkovich passando por dezenas de modelos e estilistas além de Katy Perry, Susan Sarandon, Sting, Alexander Skarsgard, e Benedict Cumberbatch no que soa como uma desesperada tentativa de que o fan-service e a purpurina escondam o fato de que o filme não é engraçado e que o roteiro de Stiller, Justin Theroux, John Hamburg e Nicholas Stoller simplesmente perde aquela qualidade idiótica e simplória do longa de 2001 em nome de um plot cheio de reviravoltas inúteis e chatas refletidas na cena em que Mugato tira uma máscara, então tira o macacão, então rasga os músculos e finalmente remove a careca falsa para chegar ao visual do primeiro longa (Ferrell, por sinal, é um dos poucos que se salva no filme, mantendo a saborosa abordagem histérica de Mugatu, que a despeito de sua maldade e excessos, ainda se surpreende com a burrice de sua nêmese.).
Ademais, Zoolander 2 é um subproduto totalmente esquecível do desespero dos estúdios em tentar driblar o risco apostando em uma fórmula conhecida do público, e tentar fazer com que qualquer coisa se transforme em franquia.
Espere passar na TV a cabo.

"-Eu senti falta de não entender as coisas com você."

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Resenha Cinema: Caça-Fantasmas


Todo mundo que viu o trailer de Caça-Fantasmas, a continuação-convertida-em-remake-que-não-é-exatamente-nem-uma-coisa-nem-a-outra do filme Os Caça-Fantasmas de 1984 ficou com a mesma impressão:
Que horror.
Ao menos, eu fiquei.
Nem o trailer do Call of Duty espacial, cuja rejeição on-line conseguiu superar o recorde recém estabelecido por Caça-Fantasmas me pareceu tão ruim.
Então, permitam-me abrir a resenha do longa com um elogio:
O filme Caça-Fantasmas não é, nem de longe, tão ruim quanto o trailer sugeria.
Mas nem remotamente. Nem por acaso.
É até provável que, para grande parte da audiência (não todos, claro), a rejeição ao trailer do novo filme fosse, de fato, uma rejeição à uma ideia. Caça-Fantasmas surgiu após anos de tratativas para trazer Os Caça-Fantasmas originais de volta em uma nova sequência dos filmes oitentistas, e quando a Sony parecia estar inclinada a fazê-lo, o projeto teimava em não sair do papel porque Dan Aykroyd e Harold Ramis (respectivamente Ray e Egon, e roteiristas dos filmes originais), não queriam fazê-lo sem Bill Murray, o doutor Peter Venkman, que insistia que só retornaria para uma ponta no papel de um fantasma.
Acabou que a paciência da Sony terminou, Harold Ramis morreu, e a continuação se tornou um remake.
A direção ficaria a cargo de Paul Feig, mesmo de Missão Madrinha de Casamento, As Bem-Armadas e A Espiã que Sabia de Menos, Kirsten Wiig e (óbvio) Melissa McCarthy seriam as cabeças do novo grupo, inteiramente formado por mulheres.
A elas se juntaram outras duas atrizes a exemplo de Wiig, egressas de Saturday Night Live, Leslie Jones e Kate McKinnon, para formar o grupo que tinha a indigesta missão de desafiar a memória afetiva de uma porrada de fãs saudosistas e apresentar o filme para uma nova geração de fãs, composta por idiotas incapazes de prestar atenção em nada.
Ontem fui ao cinema conferir a estréia.
No longa, após uma introdução em uma mansão assombrada que realmente lembra o tom do longa de 84, conhecemos a doutora Erin Gilbert (Wiig), uma mestra em física quântica que busca a cátedra de professora na prestigiada universidade de Columbia, em Nova York.
A posição de Erin é seriamente ameaçada quando um livro que ela escreveu anos atrás em parceria com sua colega Abby Yates (McCarthy), que afirma que fantasmas são reais, e elabora diversas teorias científicas para comprová-los, surge na internet, tornando-a alvo do curador da casa assombrada da introdução (Ed Bagley Jr.).
Temendo por seu futuro profissional, Erin vai atrás de Abby para tirar o livro de circulação antes que mais gente vá procurá-la para relatar casos paranormais e destruir sua reputação.
No laboratório de Abby, Erin conhece a engenheira Jillian Holtzman (uma incrivelmente atraente Kate McKinnon), e não tarda para que as três acabem na casa assombrada onde, surpresa, presenciam e interagem com um fantasma de verdade, evento paranormal que documentam integralmente e, óbvio, vai parar na internet custando o emprego de Erin em Columbia.
As três cientistas resolvem unir forças e trabalhar para provar sua teoria, algo que é facilitado conforme a atividade paranormal atinge picos na cidade de Nova York, o que faz o caminho do trio se cruzar com o da funcionária do metrô Patty Tolan (Leslie Jones), que se une ao grupo, e o completo idiota Kevin (Chris Hemsworth), que se torna recepcionista na empresa da equipe.
Juntas, as quatro mulheres começam a investigar o estranho surto de assombrações na cidade, e esbarram em um plano sinistro para romper a barreira entre o mundo dos vivos e dos mortos.
Conforme eu disse no começo, o filme não é ruim como o trailer sugeria, mas isso não quer dizer que é bom.
Na verdade, Caça-Fantasmas é, e digo isso sem medo de estar sendo injusto, o filme mais fraco de Paul Feig desde o apenas OK As Bem-Armadas.
Em meio ao falatório técnico, histórias de origem (Erin quer provar que fantasmas existem porque foi ridicularizada por acreditar no sobrenatural quando era criança), feminismo aplicado (todos os homens do filme são completos idiotas, covardes, vilões ou tudo isso ao mesmo tempo, as tralhas fálicas do longa original ganham a companhia de traquitanas yônicas, como o novo detector de fantasmas, ou o aspirador de fantasmas), e a resposta aos reclamões da internet, o filme se perde em si próprio.
Os momentos de fazer rir são raros e curtos, a promessa de Feig, de tornar o longa "mais assustador" não se concretiza, e algumas atuações são simplesmente forçadas demais.
Pra piorar, após um primeiro ato algo apressado, e um segundo ato onde o filme parecia achar seu ritmo, vem o terceiro e um excessivo festival de pirotecnia em CGI apenas OK que deve ter sido feito sob medida pra justificar a cobrança dos ingressos em 3-D.
O vilão vivido por Neil Casey parece um refugo mal ajambrado dos longas da Pixar, e as piadas recorrentes com a gosma caindo em Erin e a sopa chinesa de Abby sendo água suja com um único camarão boiando não chegam a ser engraçadas.
Claro, com quatro atrizes cheias de timming cômico juntas, é impossível não dar uns risinhos, mas as melhores piadas do longa são o recepcionista burro tentando falar como as cientistas e o prefeito vivido por Andy Garcia declarando, histérico, que jamais deve ser comparado ao prefeito de Tubarão.
Wiig e McCarthy fazem o que podem com suas personagens, e fazem rir em alguns momentos, Leslie Jones tem talento para a comédia física (apesar de sua personagem ser um estereótipo algo racista), e McKinnon sabe roubar suas cenas interpretado em uma nota que me fez pensar na Madonna em Quem é Essa Garota e Procura-se Susan Desesperadamente. Há o espaço para as obrigatórias aparições dos Caça-Fantasmas originais (Bill Murray é quem mais ganha espaço, e há até mesmo uma ponta metafísica do falecido Ramis), mas o roteiro de Katie Dippold e do próprio Feig não acha o tom, e torna Caça-Fantasmas um longa absolutamente medíocre e cansativo.
Provavelmente alguém me acusará de machismo, a defesa preferida de Caça-Fantasmas na internet após a rejeição ao filme alcançar níveis estratosféricos antes do lançamento. Há uma menção a isso no longa, quando Erin lê um comentário no Youtube dizendo "Nenhuma vadia vai caçar fantasmas".
Bem... O filme tem vários problemas, mas julgar que a única razão para alguém não gostar dele é o gênero das protagonistas pode ser o principal (a propósito, Rey manda lembranças lá de Star Wars, e os elogios que derramei a Missão Madrinha de Casamento, também). Talvez, se não estivessem tão na defensiva, a equipe de produção pudesse ter feito um filme melhor, e calado os críticos com qualidade, e não com ironia deslocada.
Melhor sorte na sequência que a cena pós-créditos faz questão de estabelecer.

"-Ótimo... Agora somos todas 'fantasminhas'."

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Top 10 Casa do Capita: Os Personagens Mais Rock'n Roll da Cultura Pop

É dia de rock, bebê, e nada melhor para marcar a efeméride do que um infame top 10,Casa do Capita dedicado aos personagens com os visuais e atitudes mais Rock'n Roll da cultura nerd.
A eles:

10: Jon Snow (As Crônicas do Gelo e Fogo, Game of Thrones)


O bastardo nortista da família Stark é um personagem cheio de correção e bom-mocismo, concordo. Mas nem por isso deixa de ter suas facetas roqueiras. Snow é cabeludo, barbudo, se veste de preto, luta contra as convenções sociais, não discrimina gordos, gigantes e nem selvagens em geral. Tem um lobo gigante albino que é totalmente heavy metal e é o mestre do cunilingus além da Muralha.
Por toda essa lista de predicados Lorde Snow ganha um merecido lugar na lista.

9: Darth Maul (Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma)


Se Darth Vader é a epítome do vilão definitivo, e com suas roupas negras de couro, voz cavernosa e presença ameaçadora tem um visual terrivelmente metaleiro, ele ainda perde na comparação para Darth Maul.
O subaproveitado vilão de A Ameaça Fantasma era tão ameaçador quanto Vader, também usava preto, tinha um sabre de luz de lâmina dupla sinistro e, pra completar, usava uma versão Lado Sombrio da pintura facial do Kiss. Maul jamais tinha uma recaída pro lado luminoso e vivia para se vingar dos Jedi.
Não tem como ficar mais Rock'n Roll que isso.

8: Smaug, o Magnífico (O Hobbit, O Hobbit: A Desolação de Smaug/ A Batalha dos Cinco Exércitos)


Em meio à gloriosa quantidade de personagens memoráveis que ganharam vida nas páginas dos livros de J. R. R. Tolkien e nos filmes de Peter Jackson havia heróis e vilões, sábios e idiotas, demônios e quase deuses, mas apenas um rockstar:
O dragão Smaug.
Smaug entrou em Erebor como se fosse o palco do show após arrasar Valle tal e qual fosse a suíte do hotel cinco estrelas. Após anos dormindo em cima do tesouro dos anões, deixou a fortaleza para destruir a Cidade do Lago só por birra como uma perfeita prima-donna. Na versão cinematográfica, ele ainda tem o vozeirão de Benedict Cumberbatch e sai pintado de ouro como se fosse Prince nos áureos tempos.

7: O Surfista Prateado (Quadrinhos Marvel, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado)


Fala sério. Olha as capas dos gibis do Surfista nos anos setenta e me diz que não parecem capas de discos de rock, com a esguia figura cromada abraçada à sua prancha singrando o cosmos?
Sabe Odin o que Stan Lee tomou quando criou Norrin-Radd, o arauto definitivo de Galactus, o Devorador de Mundos, que trocava a sobrevivência do pacífico planeta Zenn-La pela servidão ao golias de apetite planetário, mas uma coisa é inegável, o personagem com seu visual ímpar e seus profundos questionamentos filosóficos parece ter sido feito pra ser lido ao som de Pink Floyd.

6:Hit Girl (Kick Ass, Kick Ass: Quebrando Tudo, Kick Ass 2)


Mindy McReary, a guriazinha de uniforme e peruca roxos com o vernáculo de ofensas de um caminhoneiro bêbado e capaz de matar com as mãos com a mesma facilidade com que profere um impropério é uma rockstar pra colocar as gurias do The Runaways, Chrissie Hynde e Deborah Harry todas no chinelo.
A filha do Big Daddy era a grande super-heroína de Kick-Ass, cheia de atitude que era capaz de garantir, sempre com uma tiradinha sarcástica na ponta da língua e disposta a deitar a porrada diante de qualquer comportamento atravessado, não há personagem feminina mais foda e mais roqueira que a pequena vigilante.

5: O Coringa (Batman, Batman: Cavaleiro das Trevas, Batman: A Série Animada, games Batman Arkham, quadrinhos DC)


O príncipe palhaço do crime, nêmese definitiva do Batman teve muitas encarnações ao longo de sua longa carreira criminosa. Nenhuma é mais rock'n roll que o agente do caos, um senhor do crime com nenhuma ganância exceto ver o circo pegar fogo. O palhaço assustador criado por Heath Ledger em Cavaleiro das Trevas e gerado por pixels e a interpretação inspirada de Mark Hammil na brilhante série de games Arkham tem uma atitude de vilão do Rock de fazer Alice Cooper se roer de inveja, e sua figura colorida e espalhafatosa representa no sombrio mundo do Batman o mesmo sopro de cor do glam na cena do rock britânico setentista.

4: Ezio Auditore da Firenze (Assassin's Creed II, Assassin's Creed: Brotherhood, Assassin's Creed Revelations)


Durante um bom tempo Altaïr Ibn La Ahad foi meu assassino favorito na série dos homens e mulheres que operam nas sombras para servir à luz. Isso durou apenas até Assassin's Creed Brotherhood, quando Ezio Auditore se tornava um personagem muito mais interessante e profundo que Altaïr tivera tempo de ser.
Mais do que isso, Ezio era um briguento e mulherengo opositor do sistema vigente. Um rebelde de carteirinha que andava pelos telhados invadindo os quartos das novinhas e tocando o horror nos templários e seu abjeto status quo. Quando alcançou a maturidade, passou a vestir preto, e fez um tour pela Europa espalhando sua mensagem.
Rock on, Ezio. Rock on...

3: Morpheus do Sonhar (série de quadrinhos Sandman)


O melancólico e irascível senhor dos sonhos criado por Neil Gaiman para o selo Vertigo da DC no final dos anos oitenta é um tremendo rockstar. O visual gótico com as roupas pretas, a pele pálida e os cabelos longos, mais o jeitão blasé de quem acha o mundo todo muito enfadonho são todos crachás de roqueiro.
Mais do que isso, Morpheus é rancoroso, vive em um palácio repleto de criados peculiares, salas lisérgicas, teve um sem número de amantes e várias esposas, uma briga duradoura com o filho que é músico, enfim, ele é praticamente Ozzy Osborne, mas muito mais cool e sem as seqüelas.


2: Eric Draven (O Corvo, quadrinho, O Corvo, filme)


O espírito do Corvo escolheu dar uma chance a Eric Draven para vingar a morte brutal de sua amada esposa e a sua própria nas mãos de uma gangue de criminosos. Draven era músico antes de morrer e voltar à vida nas asas do Corvo, mas foi nessa segunda encarnação que ele alcançou a definição de um visual roqueiro. A blusa preta justa, o sobretudo de couro negro, os cabelos longos desalinhados e a pintura facial branca com batom preto são tenebrosamente rock'n roll, baby.
Somando-se a isso o climão pesado do quadrinho de James O'barr e da adaptação de Alex Proyas e temos aí um peso pesadíssimo com a medalha de prata.

1: Homem de Ferro (Marvel Comics e Universo Cinemático Marvel)


É até engraçado pensar que antes do longa estrelado por Robert Downey Jr. em 2008, o Homem de Ferro era um personagem relativamente escanteado no universo Marvel. O "número um da segunda linha", conforme John Byrne o definiu em uma entrevista.
Foi o carisma de Downey Jr. e a direção esperta de Jon Favreau que se mesclaram a ideia geral do Vingador Dourado e criaram um fenômeno pop
O Homem de Ferro tinha tido seus grandes momentos nos gibis, incluindo aí uma ótima saga onde enfrentava o alcoolismo (quer coisa mais rock'n roll?), mas foi no cinema que o Homem de Ferro se tornou O Rockstar da cultura nerd.
A atitude repleta de problemas com a autoridade, o modo auto-destrutivo de se comportar, o estilo mulherengo e bon vivant, o amor pelo espetáculo e pela ribalta que o levam a assumir sua identidade secreta publicamente porque ele precisa que o público saiba que ele é o Homem de Ferro, isso sem contar a trilha sonora recheada de AC/DC e Black Sabbath, mais o traje de metal pesado e pronto. Tony Stark, o Homem de Ferro ocupa o posto mais alto do pódio nessa lista.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Definitivamente


Era a terceira vez que saíam juntos.
Na primeira, ele a levara para jantar. Sushi, porque ela dissera, antes de ele oficialmente começar a cortejá-la.
Ainda se dizia "cortejar"? Enfim... Ela mencionara que gostava de sushi, e ele a levou para jantar sushi após ela aceitar seu convite, sem saber que ele tinha bastante aversão à ideia de comer peixe cru embrulhado em alga e em arroz, mas enfim, ela valia a pena.
Loira, esguia e com um charme atlético, algo moleque em meio à estampa de princesinha... Ele não sabia explicar, mas não era só a beleza. Nem só a voz... E nem só o cheiro... Aquele perfume fresco... Era o conjunto.
O conjunto não chegava a enlouquecê-lo, ao menos, não ainda, mas certamente o impelia a fazer coisas que normalmente não faria.
No final das contas, até gostou de sushi. Era uma daquelas coisas que ele não gostava sem ter provado. E quando provou, não achou ruim.
No segundo encontro foram ao cinema, ver um filme que ela queria ver.
Ele francamente não prestou muita atenção. Estava olhando só pra ela. Imaginando se deveria beijá-la. Não a beijara no primeiro encontro. Ficou três dias amaldiçoando a própria idiotice. Como podia não tê-la beijado? Ela estava ali, do lado dele, se reborcando inteira naquela poltrona do Cinemark procurando posição pra ver o filme. E o cheiro dela, e a cor que os olhos dela ficaram quando as luzes se apagaram e apenas a tela iluminava a sala... Parecia o Legolas antes da batalha do abismo de Helm. Com os olhos quase transparentes.
Não a beijou durante o filme, porém. Teve receio de ser rechaçado, e ela estava prestando tanta atenção naquela porcaria de comédia romântica...
Mas depois do filme, após terem comido um lanche do McDonald's e ele a ter levado em casa, no Centro de Porto Alegre, ao se despedirem, ele esperou alguns minutos que ela o beijasse, mas como ela não o fez, ele deu um tchau tímido, ao que ela respondeu com um "Tu não vai me beijar?", e ele sorriu aliviado e envergonhado e disse "Graças a Deus!" e voltou e a beijou.
Fora um bom beijo. Bem encaixado, que as pessoas não falam, mas há beijos que, mesmo bons, não encaixam, e culminam com alguém com a boca toda babada, ou então com beijos dados com alguns milímetros de distância e apenas as línguas serpenteando no ar... Entre ela e ele não foi o caso.
Os lábios se encaixaram, e houve língua, mas... Sabe? Tudo certinho. Tudo no lugar.
Se viram e se beijaram ao longo dos três dias seguintes, mas foi só na sexta-feira que marcaram de sair novamente.
Esse era aquele terceiro encontro. Ela e ele combinaram de ir ao teatro. Ele não era grande fã, mas ela já havia lhe falado antes de sua paixão por teatro. E então ele foi.
Mais tarde, naquela mesma noite, ela convidou ele pra subir. Ele não aceitou, num primeiro momento. Tinha vergonha da mera ideia de conhecer os pais dela.
Mas ela o tranquilizou. Era uma sexta-feira e seus pais haviam viajado para voltar só no domingo à noite.
E então ele subiu, sentindo, dentro de si um pânico de antecipação que se inflava na boca do estômago feito um balão que aumentava cada vez que ela tocava no braço e na mão dele enquanto o elevador se movimentava prédio acima com ele escorado, teso feito um pato na chuva, no espelho atrás de si.
Uma vez no apartamento, ela e ele se sentaram no chão, e beberam refrigerante do mesmo copo enquanto assistiam TV.
Ele se lembrava de ter sorrido por dentro quando ela chegou com um copo de refrigerante, apenas. Era um copo gigantesco, daqueles de um litro, de acrílico vermelho. E ela disse que, se eles dividissem, era uma coisa a menos pra lavar.
Ele pensou "Eu poderia me apaixonar por essa guria.".
Ela sentou colada nele, e enquanto viam TV, ela se colou mais e mais. Ele estava hesitante. Sem saber como se portar, mas à certa altura, o relógio de pulso dele deu sinal de meia noite, e ele contou que, quando era criança, adorava segurar o relógio do pai diante dos olhos nas raras ocasiões em que chegava até as altas horas da noite, e ver quando vinte e três e cinquenta e nove se convertia em zero hora.
Ele contou, e sorriu. E ela, com uma expressão séria no rosto, se aproximou dele e o beijou.
Ele correspondeu. E eles se beijaram com sofreguidão. Ela tirou a camisa dele, e ele abriu o vestido dela, que devia ter dezessete milhões de botões nas costas, o que o fez se sentir um parvo, mas abriu-lhe o sutiã com insuspeita destreza, o que lhe concedeu uma ponta de orgulho. E assim que ela abriu-lhe o cinto e os dois se viram apenas usando roupas de baixo, ele olhou pra ela de boca aberta como quem diz "Eu não acredito no quanto essa mulher é linda", ainda que de fato ele acreditasse na beleza dela, mas tivesse dúvidas de o que ela fazia junto com ele. Continuaram se beijando com sofreguidão, ela o buscando sob a cueca boxer azul-marinho, enquanto ele a livrava da calcinha de algodão branca, azul e rosa.
Ele foi mais rápido, e foi nesse momento, em que ela, deitada de costas no carpete, completamente despida, separou levemente os lábios e sussurrou "Me lambe...?", com a interrogação hesitante no final, como quem não sabe se será atendida.
Incauta.
Desde a primeira vez em que ela lhe tocara de leve no ombro durante uma conversa, sorrindo com os olhos semicerrados, ele estava disposto a qualquer empreitada que culminasse em contato mútuo, imagine agora? Vendo-a ali, deitada, sem roupas, os cabelos espalhados, abertos como um halo em volta de sua cabeça apoiada no chão?
Ele viveria de bom grado para momentos em que pudesse acariciá-la dali por diante.
"Me lambe", pediu, ela. E ele lambeu. Lambeu como se fosse um felino lavando a cria. Como se fosse um cachorro e ela sua dona. Como ele se fosse um peregrino há dias no deserto e ela um picolé de limão.
Caiu de língua nela.
Cada recôndito, cada canto, cada milímetro cúbico de pele descoberta, e era bastante, porque ela estava toda nua.
A lambeu até sentir cãibra no queixo, orgulhando-se particularmente dos momentos em que ela arfava seu nome baixinho, ou arqueava as costas e crispava as mãos.
Aquilo o excitava demais, mandava a dor embora, fazia o cansaço desvanecer, desanuviava sua mente.
Espremeu a língua rija entre os dentes e começou a fustigá-la entre os lábios de baixo. Ele gemeu e sua respiração se tornou pesada, e quando o corpo dela amoleceu inteiro, e sua língua se encharcou, ele soube que a fizera feliz, e era uma sensação boa demais tê-la feito feliz.
Mas queria mais. Aquela era uma mulher por quem poderia se apaixonar, e ela merecia o melhor que ele tinha a oferecer ainda que não fosse muito. Agarrou-a pela nádega, erguendo-lhe a perna, e a fez pousar o pé esquerdo sobre sua escápula direita, enquanto, com a outra mão, abriu bem sua perna direita.
Ainda com a cabeça em seu púbis, se pôs a lamber devagar e com pressão moderada todo o delicado conjunto oculto entre suas coxas bem torneadas. Ela estava úmida, quente e brilhosa, e exalava um cheiro almiscarado pujante. Ele sentia que aquele cheiro forte lhe pertencia, tendo em vista que, quando começaram seus ritos íntimos ela estava toda perfumada, fresca como se acabara de sair do banho.
Ele a lambeu uma vez, duas, três, na quarta, aplicou mais pressão, e na quinta, encolheu a língua, colocando-a dentro dela. Assim ficou, remexendo a língua dentro dela, e de quando em quando, a removia inteira, e passeava em volta, do púbis à virilha, da virilha ao períneo, vez que outra, mais adiante.
Foi na primeira investida mais decidida à essa área mais adiante que ela teve um espasmo e fechou as pernas atléticas como se fosse um alicate ao redor de sua cabeça, chegando a fazer um ruído como um tapa quando a parte de dentro de suas coxas se cerraram contra suas orelhas.
Mais tarde ele se lembraria de que, naquele momento, achou que tudo tivesse ido pro brejo.
Aquele era o tipo de fiasco que matava uma relação nos seus primeiros suspiros. Ela contaria às amigas, entre risos "O cara tentou lamber meu cu na primeira trepada, me fez cócegas e eu esmaguei a cabeça dele com as pernas", e ele contaria aos amigos humilhado, que "amadorismou na nora de chupar a mina e ela teve um acesso de riso depois de espancá-lo com as coxas" e tudo terminaria ali.
Como uma história anedótica para contar aos amigos por algum tempo.
Mas quando ele olhou pra ela, meio sem saber o que fazer, ela ainda olhava pro teto. Sorriu e disse pra ele:
-Desculpa...
Ele ia dizer que não tinha problema, mas ela falou antes, enquanto se apoiava nos cotovelos e o olhava nos olhos:
-O teu óculos tá muito gelado.
Estendeu a mão esquerda, tirou os óculos do rosto dele, e os colocou.
"Meu Deus..." ele pensou. "Eu acho que amo essa guria.".
Ela se reclinou de novo e disse:
-Continua. Prometo que eu não faço mais que nem a Pris no Deckard.
Ele parou enquanto a beijava. "Não, não... É oficial. Eu definitivamente amo essa guria.".

Rapidinhas do Capita


Com as filmagens de Spider-Man: Homecoming (ainda sem título em português) rolando em Atlanta, nos EUA, mais fotos do herói uniformizado surgiram na internet ontem à noite.
Elas mostram o Homem-Aranha (Tom Holland) aparentemente impedindo um roubo.


E andando de bicicleta:


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O longa que tem um dos elencos mais inchados de um filme da Marvel ganhou mais uma adição na semana passada, quando a atriz Angurie Rice, de Dois Caras Legais se juntou ao elenco.
Angurie tem quinze anos de idade, e apesar de um tipo físico bastante condizente com Liz Allen ou até mesmo Gwen Stacy, é difícil imaginar que faria par romântico com Holland, quatro anos mais velho.
Ela se juntou a Robert Downey Jr., Michael Keaton, Marisa Tomei, Tyne Daly, Tony Revolori, Zendaya Coleman, Michael Barbieri, Kenneth Choi, Donald Glover, Martin Starr, Michael Mando, Hannibal Buress, Abraham Attah, Logan Marshall-Green, Bokeen Woodbine e outros na produção dirigida por Jon Watts com roteiro de John Francis Daley e Jonathan M. Goldstein, dupla do execrável Férias Frustradas.

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O filme co-produzido por Marvel e Sony deve ser o primeiro de uma série de três a quatro longas que mostrarão o período de Peter Parker no colegial.
O longa tem data de estréia para 28 de julho de 2017 no Brasil, e 7 de julho nos EUA.
Na semana passada, Holland publicou uma selfie para celebrar o marco de um ano até o lançamento do filme:


Nada mais apropriado, tendo em vista que o Homem-Aranha meio que inventou esse negócio de tirar fotos de si próprio lá em 1962.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Resenha DVD: A Garota Dinamarquesa


Desde a primeira foto de Eddie Redmayne caracterizado de mulher parecendo uma mistura de si próprio com Bryce Dallas-Howard e Jessica Chastain, tinha-se a impressão de que o vencedor do Oscar por A Teoria de Tudo tinha tudo pra repetir a dose um ano depois.
O primeiro trailer do longa reforçou a ideia, pincelando um drama pujante sobre a vida de um transexual na década de vinte.
Eu acabei pulando A Garota Dinamarquesa nos cinemas por alguma razão, mas assim que o longa foi lançado em DVD, eu corri pra locadora para conferir o drama, e francamente, estou desde que subiram os letreiros pensando em como categorizar o filme.
Ele é bom, ou não?
Eu gostei, ou não?
A Garota Dinamarquesa conta a história de Einar Weneger (Redmaye, excepcional), um pintor de paisagens de moderado renome e sucesso em Copenhague, na Dinamarca.
Ele é casado com Gerda Wegener (Alicia Vikander, de O Agente da U.N.C.L.E., e EX-Machina), uma pintora de retratos e, a despeito de ela, por vezes se ressentir da sombra do marido, eles mantinham um relacionamento saudável e apaixonado. Trabalhando e vivendo juntos, comparecendo a eventos e tentando ter um filho.
As coisas começam a mudar quando, em 1926, precisando acelerar o trabalho em um retrato, e sem modelo disponível, Gerda pede que Einar vista meias-calça e sapatos de salto-alto para ajudá-la a completar uma pintura.
O que parecia apenas uma bobeira entre dois apaixonados, logo escala para Eijar usando lingerie sob as roupas masculinas, algo que inicialmente diverte e até excita Gerda, e alcança um pico quando o casal atende a um evento social com Einar incorporando Lilli, sua "prima", totalmente travestido.
Se as coisas saem brevemente de controle quando Lilli é assediada por Henrik (Ben Wishaw), Gerda não tarda a descobrir que Lilli é sua musa inspiradora, e é através de inúmeros retratos da modelo que sua carreira aflora e finalmente supera a sombra de Einar.
O problema é que Einar começa a ser soterrado por Lilli, uma presença cada vez mais constante na vida do casal, e não tarda para Gerda perceber que seu marido não é mais a pessoa com quem ela se casou.
Com Einar sofrendo a cada minuto que passa em sua identidade masculina, incapaz de trabalhar e se submetendo a tratamentos para tentar erradicar seu transtorno de gênero que não fazem nenhum bem, não resta alternativa a Gerda, senão apoiar Lilli e sua busca por identidade.
A Garota Dinamarquesa é um filme repleto de predicados. Bem atuado, com show de Redmayne e Vikander (justamente agraciada com o Oscar de atriz coadjuvante), uma direção segura de Tom Hopper, o mesmo de O Discurso do Rei e Os Miseráveis, belíssima fotografia de Danny Cohen, belos figurinos, design de produção caprichado, mas, meu Deus, que filme chato.
Francamente, por mais que eu tenha tentado me envolver com o drama, e tenha percebido toda a lista de qualidades do filme, a história simplesmente não emociona. Falta pujança ao roteiro de Lucinda Coxxon para gerar momentos de emoção genuína ainda que teoricamente possuísse ferramentas para tal. Momentos belíssimos, como a sequência na casa de strip-tease se perdem em um mar de obviedade e é difícil saber a quem culpar.
A história do primeiro transsexual a passar por uma arriscadíssima cirurgia de mudança de gênero, e de sua esposa o apoiando em todo o processo parece a matéria da qual prêmios de atuação e direção se alimentam e talvez esse seja justamente o problema... O fato de o filme ser tecnicamente perfeito e emocionalmente vazio.
Eu realmente não sei se é machismo de minha parte, homofobia, ou algum outro tipo de preconceito, mas a história do personagem central realmente me pareceu estéril a maior parte do tempo, enquanto que a provação pela qual Gerda passa, muito mais palpável, é reduzida a pano de fundo.
Tom Hopper opera com estilo no campo mais seguro e asséptico possível, mantendo o filme acessível para mais audiência e mais premiações com sua elegância e valor de produção, mas cria um longa metragem sem alma ou coração, feito para ser apreciado peça por peça separadamente (as atuações; os figurinos; a trilha sonora; a fotografia...), porque todas essas belas ferramentas, juntas, não sustentam o cerne do filme.
É uma pena. Havia grande potencial em A Garota Dinamarquesa, mas no meio do caminho faltou algo que pudesse fazer a diferença entre "bela produção" e "belo filme".
Tremendo desperdício de potencial, mas não necessariamente um filme ruim.
Assista e tire suas conclusões.

"-Como se sente?
-Inteiramente eu mesma."

Drops


Na fila do super-mercado. Acabara de passar suas compras. Duas latas de ração canina, uma barra de chocolate Alpino, seis litros de Coca-Cola, e um pacote de balas. Imaginava quantos teriam os dezessete quilos que emagrecera se houvesse mudado seus hábitos alimentares após voltar a se exercitar.
A caixa, uma mulher gorda, com um vão entre os dentes da frente grande o bastante para usar hashi como palito, anunciou o valor olhando para o monitor:
-Trinta e dois com cinco.
Ele entregou uma nota de cinquenta.
-Cêpeéfi na nota? - Ela perguntou, monocórdica, sem olhar pra ele.
-Não, obrigado. - Ele respondeu enquanto ajudava a menina que assomou para empacotar as compras a ensacolar as garrafas de refrigerante de três litros cada.
Só o refrigerante, conjecturou. Quanto teria emagrecido se tivesse cortado apenas o refrigerante?
A caixa estendeu-lhe o troco e a nota. Ele conferiu brevemente os dezoito reais, constatando que recebera cinco centavos de desconto.
Conferiu as sacola de compras. A ração, os refrigerantes, o chocolate, mas não encontrou as balas. Olhou em todas as sacolas e finamente disse:
-Tinha um drops...
Nem ele sabia porque dissera drops. Não usava essa palavra. "Drops"... Sua avó falava drops. "Chupar um drops"... Nem sabia ao certo como escrever. Sabia que drop, em inglês, significava pingo, gota. Mas e drops? A bala. Drops? Quando era um só continuava sendo "drops" com "s" no final, tipo um plural? Ou era drop's com apóstrofo separando o "s" do resto?
Não sabia. Mas dissera "drops".
"Tinha um drops"...
A moça que empacotara as compras encontrou. Caíra embaixo das sacolas. Não chegava a ser surpreendente. Era um cilindro de balas enroladas em papel. Normal ter rolado pra baixo das sacolas empilhadas no fim do balcão.
Anormal foi a operadora do caixa.
A mulher começou a rir. Gargalhar. Uma risada gorda, gorgolejante, convulsiva.
Ela ria e seu corpo balançava, fazendo suas bochechas tremerem, seus tetões volumosos também pululavam. A empacotadora olhou pra ela com uma expressão, primeiro divertida, depois confusa, finalmente assustada.
-Quié isso, Cleice? - Perguntou.
A Cleice não parava de rir. Respirou fundo e falou, quase engasgando:
-Drops...
E tornou a rir histericamente. Balançando o corpo e uivando em busca de ar enquanto batia na própria coxa.
Ele se enfureceu. Agarrou a Cleice pelos cabelos e bateu com a cara dela na caixa registradora. Ele não parou de rir, apesar do impacto violento. Bateu de novo. Ela seguia rindo. Ele bateu de novo, com mais força, sem sucesso, Cleice, possuída, ainda ria. Ele continuou segurando a cabeça dela com uma das mãos, e passou a esmurrá-la com a outra, mas ela não parava de rir, embora sua cabeça tivesse começado a se despedaçar, esfarelando-se em grandes bocados como uma maçã fuji sendo chutada pela calçada. A empacotadora começou a gritar e os seguranças chegaram correndo vestidos como membros da engenharia da Enterprise, com as blusas vermelhas e ele se deu conta de que havia algo errado.
A Cleice perguntou de novo:
-Cepeéfi na nota, senhor?
Agora olhava pra ele, que piscou um par de vezes e negou.
-Não. Não vou precisar, obrigado.
A menina se aproximou para empacotar as compras e, por vias das dúvidas, ele manteve o drops sob sua vista o tempo todo, colocando-o pessoalmente na sacola após a Cleice registrá-lo. Imaginava de onde saíra aquele devaneio desperto, quando se deu conta de que um perfume muito familiar se fazia notar. Vinha, estranhamente, de uma senhora no caixa ao lado. Mas era um perfume ou creme corporal cujo cheiro ele conhecia bem, e que já o deixara inebriado antes, por vezes sem conta.
Saiu do mercado com um sorriso melancólico, chupando um drops e desejando que tivesse o gosto dela.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Resenha Cinema: Florence: Quem é Essa Mulher?


Na melhor tradição do cinema brasileiro, onde é inaceitável que um longa metragem tenha por título apenas um nome próprio, Florence Foster Jenkins se transformou em Florence: Quem é Essa Mulher?, dando ao longa de Stephen Frears uma cara de sessão da tarde oitentista que facilmente dividiria a grade semanal com Quem é Essa Garota?... Ainda assim, foi-se o tempo em que eu levava os títulos brasileiros de filmes em consideração, embora eu ainda fique pasmo com o amadorismo das distribuidoras.
O que sobra aos obtusos escolhedores de títulos nacionais, porém, transborda em Meryl Streep:
Talento.
E um filme protagonizado pela mulher que entra nas cerimônias do Globo de Ouro e do Oscar com a mesma naturalidade de quem vai fazer um xixi de manhã é sempre um programa que vale a pena. O trailer de Florence ainda acenava com uma participação de Hugh Grant no que parecia ser uma volta à sua zona de conforto com um tipo bobão e carismático de inglês aristcrático e Simon Helberg, o Howard de The Big Bang Theory em um surpreendente papel de destaque numa óbvia comédia.
O que mais se poderia esperar do longa cujo mote é a história de Florence Foster Jenkins (Streep), uma abastada herdeira nova yorkina que, durante toda a sua vida, foi uma devotada mecenas da música na grande maçã?
Florence mantinha um clube de amantes da música para senhoras da alta sociedade, contribuía com vultuosas somas em dinheiro para a montagem de espetáculos e era amiga íntima de grandes maestros e condutores.
Casada com o devotado St. Claire Bayfield (Hugh Grant), Florence dedicava seu tempo a concertos e apresentações até que, em 1944, tocada durante uma ópera, resolveu tentar uma nova investida na própria carreira musical.
Munida de uma fortuna e de determinação pétrea, o casalchamou um famoso professor de técnica vocal para se dedicar aos "extenuantes" treinamentos de Florence, que se matava com uma hora de trabalho diária. Ás vezes duas.
Para acompanhá-la em sua empreitada, Florence e Bayfield contrataram o pianista Cosme McMoon (Helberg), que seguiria a espevitada socialite em sua aventura musical, descobrindo, no caminho, que Florence, a despeito de sua inefável paixão pela música, não sabia cantar.
Pior, ainda: Florence era completamente surda à própria falta de talento, e, protegida de todas as críticas por Bayfield e pela própria fortuna, jamais ouvia a verdade sobre sua minguada capacidade vocal.
O mundo feliz de Florence e Bayfield, porém, foi chacoalhado quando, tomada de fervor patriótico, a aspirante a cantora lírica resolveu animar as tropas americanas com um espetáculo de canto para três mil ouvintes no Carnegie Hall, uma empreitada que colocou St. Claire em uma posição complicada, sem controle sobre a audiência, e Cosme, que realizaria o sonho de tocar num dos grandes palcos do mundo, ao lado de uma artista que não sabia cantar.
Baseado na premissa e no trailer, Florence parece apenas uma boa comédia, mas Stephen Frears, diretor de filmes como Alta Fidelidade e Philomena, sabe equilibrar a comédia e o drama inerentes à uma biografia.
O casamento muito particular entre Florence e Bayfield, sua luta contra a sífilis e mesmo a forma como sua tentativa de se tornar uma cantora lírica não deixava de ser uma disparatada vaidade de uma ricaça entediada são facetas que afastam o roteiro de Nicholas Martin do mero viés cômico, e dão ao elenco espaço para brilhar.
Obviamente ninguém brilha mais do que Streep. A desgraçada é um tipo de criatura, e seu talento chega a ser irritante. Não será surpresa e nem injustiça se Florence lhe render outra indicação ao Oscar.
Quem surpreende é Hugh Grant. Por trás do aristocrático charme britânico e do jeito pateta em certos momentos, o ator de 56 anos mostra que, assim como os Pokémons, evoluiu, e entrega uma tocante interpretação de um marido apaixonado e devotado, enquanto Helberg dá seu recado com seu timming cômico habitual.
Ainda há espaço para a bonitona Rebecca Ferguson e Nina Arianda aparecerem.
Não se deixe enganar pelo trailer óbvio ou pelo título nacional cretino, Florence: Quem é Essa Mulher? é um ótimo filme, repleto de risadas, alguns momentos tocantes e performances fortes de um bom elenco trabalhando sob a batuta de um diretor que manja de seu trabalho.
Aposta certa. Assista no cinema.

"-As pessoas podem dizer que eu não sei cantar, mas ninguém pode dizer que eu não cantei."

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Sinal dos Tempos


Estavam sentados no bar de sempre, o Paulo Roberto e o Everaldo. O Paulo Roberto bebendo uma Coca-Cola, o Everaldo um chope. Era happy hour, de modo que o bar estava movimentado, o Paulo Roberto se dividia entre assistir à TV do bar, ligada na Band em horário de programa do Datena, apertando os olhos pra ler as legendas do closed caption, e flertar com uma moça bonita, sexta parte de um grupo que se acumulava no balcão. A moça, de quando em quando, olhava pro Paulo Roberto, que nem sabia se era flerte de parte dela, mas achou que, se fosse, era melhor não desperdiçar, e resolveu olhar pra ela de quado em quando.
O Everaldo chegara ao bar com uma pilha de revistas. Comprava alguns semanários e periódicos com religiosa dedicação, jamais perdendo uma edição sequer. E se entretivera com aquilo a ponto de Paulo Roberto quase ter esquecido dele à mesa. Até o Everaldo resmungar:
-É o fim da civilização ocidental, viu? Puta merda. O fim...
O Paulo Roberto, se dividindo entre o Datena e a castanha bonita no balcão, achou que o Everaldo se referia a algum crime hediondo mostrado no Brasil Urgente, e apenas concordou de maneira vaga:
-Verdade... Onde vamos parar...
O Everaldo continuou:
-Nas antigas não existia essa porra. Havia um filho da puta de um porto seguro, tá me entendendo, Pê Erre? Nem era lá grandes coisa, mas tava ali, caralho. E agora... Agora essa bosta.
O Paulo Roberto desviou os olhos da moça no balcão, e olhou pra TV. Era uma matéria sobre fraude bancária. Não entendeu o desgosto do Everaldo, mas achou que tivesse a ver com a antiga segurança dos bancos... Olhou de novo pra moça, que, olhou pra ele, baixou os olhos e sorriu discretamente. O Paulo Roberto adorava o flerte. Mais do que a hora de ficar com a guria. Ainda se falava "ficar"? Resolveu disparar outro jab verbal pra manter o Everaldo ao largo:
-É... Essa bosta não tem explicação, mesmo...
O Everaldo continuou:
-Nem me fala. Porque hoje... Hoje é muito fácil. Com computador, internet e o caralho a quatro... Qualquer filho da puta mal-intencionado se faz. No nosso tempo, Pê Erre... No nosso tempo era diferente. O que é que a gente tinha? Era isso.
O Paulo Roberto continuava olhando pro outro lado. Agora não tirava o olho da mulher no balcão, que entre uma palavra e outra com as amigas, olhava pra ele.
-Era isso... - Aquiesceu Paulo Roberto, pensando em uma forma de abordar a moça. Era bonita. Cabelo castanho crespinho, pele branquinha, olhos escuros. Tinha um vinco embaixo da pálpebra inferior que... Olha, era uma dessas coisas que faziam o Paulo Roberto se fascinar. Estava fascinado pela guria do balcão, e o Everaldo não calava a boca.
-E agora, nem isso a gente tem mais... Os filha das puta nos tomam isso. Ah... Algum incauto com uma jeba atolada no rabo vai dizer "Mas a internet tá aí", "Os tempos mudaram", "tem que evoluir"... Evoluir é o meu pau, Pê Erre. O meu pau. Eu sou um tradicionalista. Não quero essas modernidades. Elas até vêm pra somar, mas pra mim, jamais pra substituir.
O Paulo Roberto percebeu que tinha perdido o fio da meada. Ainda seria por causa da fraude? Não tinha certeza. A castanha e as amigas pareciam ter começado a se movimentar pra sair.
-Tu consegue acreditar numa porra dessa, Pê Erre? Nem um pentelho. Nada. Eu nem quero ver racha escancarada. Não precisa. Mas que tenham a decência de ao menos mostrar pentelho e rabo...
O Paulo Roberto, que encarava a moça de cabelo castanho franziu a testa e foi obrigado a olhar pro Everaldo:
-Mas do quê é que tu tá falando, criatura?
O Everaldo, sorvendo um gole de chope com a pilha de revistas na frente estendeu uma ao Paulo Roberto:
-Da Playboy, porra.
O Paulo Roberto pegou a revista com uma tal de Vivi Orth na capa. Era uma mulher bonita de quem ele jamais ouvira falar. Abriu a revista onde o Everaldo a marcara com o dedo e folheou. De fato. A rigor, não havia nenhuma foto de nu frontal conforme manda o figurino.
Ergueu a cabeça pra falar com o Everaldo após avaliar o ensaio, e se deparou com a castanha bonita, ela andava em sua direção, mas olhou a revista, escancarada em uma página dupla onde a modelo, com a blusa erguida acima dos seios baixava o short exibindo a lateral da nádega, estacou, e virou.
Paulo Roberto chegou a tomar fôlego pra dizer "não, não, não, peraí", mas desistiu. Diria o que se ela parasse? "Eu tava só olhando revista de mulher pelada com meu amigo socialmente inapropriado."?
Viu a moça andando de volta para o grupo que se preparava para deixar o bar. Tinha um corpo bonito. Baixinha, bem proporcionada.
Suspirou.
Avaliou melhor o ensaio da Vivi Orth:
-Gata ela...
Everaldo, alheio à tribulação interna do amigo confirmou:
-Muito, mas vai se foder com esse ensaio de merda. Duas fotos de bunda, meio dúzia de foto de teta, e mal e mal um vislumbre do púbis? Tô te falando, Pê Erre. É o fim da civilização ocidental. A Playboy já era. A Luana Piovani já tinha feito um ensaio de encolher as bolas, e tô vendo que essa porra virou regra... Acabou o sonho, Pê Erre. Acabou. Acabou os tempos da Playboy do grupo Axé Blond...
O Paulo Robert concordou. Aquela, de fato, fora uma Playboy memorável.
-Bem lembrado, Everaldo. Bela edição... Tem outro ensaio nessa?
-Tem - Confirmou o Everaldo. -Não mostra porra nenhuma, mas a guria é mais gostosa.
Paulo Roberto seguiu as orientações de Everaldo, ignorando a presença das demais pessoas no bar. Tá no inferno, abraça o diabo, já dizia o ditado.