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terça-feira, 30 de agosto de 2016

Resenha Cinema: Pets: A Vida Secreta dos Bichos


Ontem foi um daqueles dias do ano em que eu abro uma exceção na minha agenda cinematográfica pra assistir a uma animação.
Não sou um xiita.
Se é verdade que eu não sou fã de longas animados, também é que a qualidade do segmento vem crescendo vertiginosamente, em grande parte graças à Pixar, que elevou o padrão de animações ao torná-las muito mais do que um produto infantil. É impossível pensar em longas como Wall-E, Divertida Mente e UP: Altas Aventuras e não perceber que eles falam tanto para as crianças quanto para adultos.
A mesma coisa acontece, ainda que em menor escala, com comédias rasgadas como Shrek, Mega Mente, Kung Fu Panda e Meu Malvado Favorito. É justamente a produtora desse último, a Illumination Company da Universal, responsáveis pela implacável invasão dos Minions que agora tenta algo diferente com esse Pets: A Vida Secreta dos Bichos.
No longa, dirigido por Chris Renaud (de Meu Malvado Favorito 1 e 2 e O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida) e Yarrow Cheney, nós conhecemos o Jack Russel Terrier, Max (voz de Louis C. K.), um cão que vive uma vida de sonho com sua dona Katie (voz de Ellie Kamper).
Os dois têm uma relação perfeita no apartamento que dividem em Manhattan, onde tudo é perfeito exceto aquelas horas do dia em que Katie sai para trabalhar e Max a aguarda ansiosamente para que eles continuem brincando de arremessar a bolinha, saindo para passeios, ou apenas olhando a metrópole da escada de incêndio.
Outra coisa que acontece quando Katie, e todas as outras pessoas saem para trabalhar, é que os animais tomam conta de suas casas.
Se Max fica de olho na porta esperando sua dona, o pug Mel (Bobby Moynihan) se ajeita para latir para os esquilos na árvore em frente à janela. O daschund Buddy (Hannibal Buress)se acaba sendo massageado pela batedeira, enquanto a gata Chloe (Lake Bell) deixa sua ração de lado e acaba com a geladeira de sua dona, e a lulu da pomerânia Giglit (Jenny Slate) só tem olhos para Max do outro lado da rua.
Entre aguardar sua dona e curtir o tempo vago com os outros animais, a vida perfeita de Max sofre um baque quando Katie chega em casa com um novo amigo:
A enorme bola de pelos Duke (Eric Stonestreet, de Modern Family), um cão terra nova abandonado que Katie adota para ser o novo "irmão" de Max.
E se Max já achava que sua vida com Katie estava boa do jeito que estava, a presença de um canzarrão espaçoso na nova casa só o faz ter mais certeza de que Duke tem que sumir.
Enquanto os dois tentam se livrar um do outro, porém, as coisas dão errado, e a dupla acaba na carrocinha, de onde eventualmente são resgatados por um grupo de animais abandonados que pretende começar uma guerra contra os humanos.
Enquanto Duke e Max têm que lidar com o grupo liderado por Snowball (ótimo trabalho de Kevin Hart), Giglit percebe que seu amor platônico não voltou pra casa, e junto com Mel Chloe e Buddy, monta uma força tarefa de resgate que inclui ainda o falcão Tiberius (Albert Brooks), o porco-da-índia Norman (Chris Renaud), o periquito Ervilha (Tara Strong) e o velho basset Pops (Dana Carvey) para ajudar a dupla a voltar pra casa.
Então... A despeito de copiar descaradamente a trama de Toy Story, apenas trocando o "o que seus brinquedos fazem quando você não está por perto" por "o que seus animais de estimação fazem quando você não está por perto", o longa animado até que não é ruim.
Há piadas engraçadas para qualquer pessoa que tenha tido um animal de estimação na vida, um ótimo trabalho de dublagem e a qualidade técnica da animação é absolutamente inegável, infelizmente a qualidade do longa pára por aí.
Não há em A Vida Secreta dos Bichos nada que eleve o filme a alguma aspiração além das risadas descartáveis, a aventura é ingênua e inofensiva, as piadas idem, e quando o filme acena com algo além disso, na linha narrativa sobre o dono perdido de Duke, a ideia logo é abandonada em nome da correria (Não deixa de ser um exercício pensar na quantidade absurda de lágrimas que essa ideia renderia num filme da Pixar).
Enchendo o filme de animais diferentes que vão de víboras de uma presa só a poodles headbangers passando por porcos tatuados, gatos sphinx britânicos e crocodilos os roteiristas Cinco Paul, Ken Daurio e Brian Lynch conseguem ser inofensivamente divertidos, e obter 90 e poucos minutos de atenção e risadas, mas produzem um filme que não dura muito mais tempo do que isso na memória depois que a sessão acaba.
Ainda assim, é um bom programa para qualquer pessoa que goste de animais.
Se for assistir, priorize a versão com as vozes originais em inglês, ela é bem superior à versão em português vista nos trailers.

"-A revolução começou! Para sempre libertados, jamais domesticados!"

Adeus, Gene


Deu-se ontem o falecimento de Jerome Silberman, nativo de Milwaukee, no estado do Wisconsin, nos Estados Unidos.
O senhor Silberman tinha oitenta e três anos, e vinha, nos últimos três, enfrentando problemas com o mal de Alzheimer.
Talvez a coisa mais notável a respeito de Jerome Silberman para as pessoas em geral seja o fato de que ele era, na verdade, Gene Wilder, cineasta, ator e roteirista indicado ao Oscar, que formou parcerias brilhantes com Richard Pryor, ao lado de quem estrelou O Expresso de Chicago, Loucos de Dar Nó, Cegos, Surdos e Loucos e Um Sem Juízo, Outro Sem Razão, e com Mel Brooks, com quem esteve em Primavera para Hitler (pelo qual foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante), Banzé no Oeste e O Jovem Frankenstein (pelo qual a dupla foi indicada ao Oscar de melhor roteiro).
Gene Wilder foi a Raposa em O Pequeno Príncipe, e Willy Wonka em A Fantástica Fábrica de Chocolate, e acima de tudo, um dos melhores comediantes da história do cinema.
Talvez o ator com mais facilidade para me fazer rir, e que sempre me faz largar o controle remoto quando aparece em meio ao zapping TV, Wilder deixa uma carreira brilhante, repleta de risadas, e dúzias de frases e momentos marcantes.
E, pra quem duvida do poder de Gene Wilder de fazer rir, eu recomendo apenas que assista O Jovem Frankenstein.
Ontem, enquanto contava a cena com o cadáver na carroça, uma das melhores sequências cômicas da história do cinema, eu ria feito um idiota enquanto tentava mimetizar o gestual do jovem doutor Frankenstein tentando ocultar um defunto que seria usado em seus experimentos do chefe de polícia local. Esse era o poder de Gene Wilder.
Essa risada duradoura que jamais se vai.
Descanse em paz, Gene.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O Exterminador em The Batman?

Um vídeo de pouco menos de trinta segundo publicado no Twitter pelo ator e diretor Ben Affleck fez a internet explodir algumas horas atrás.
Nerds de todas as paragens estão arrancando os cabelos e dando hurras pelo que parece o vislumbre do vilão do novo filme solo do homem morcego:
O Exterminador.
Confira o vídeo abaixo:




Ben Affleck vai dirigir o filme solo da mais recente encarnação do homem morcego nos cinemas, apresentada em Batman vs. Superman: A Origem da Justiça, e que também aparecerá nos dois Liga da Justiça, o longa vinha sendo escrito por Geoff Johns e o próprio Affleck, e ainda não tem data de estréia oficializada.
Não há mais detalhes sobre o filme, mas Ben Affleck falou sobre um conluio de vilões e rumores deram notícia de um longa todo passado em um único cenário, como o game Batman: Arkham Asylum, um Duro de Matar de super-herói.
Com o vídeo, rumores já surgem com o nome de Joe Manganiello no papel do Exterminador.
Nos quadrinhos, Slade Wilson é um ex-militar que ganhou habilidades sobre-humanas após um experimento fracassado para criar um super-soldado perfeito.
O personagem surgiu originalmente como antagonista dos Novos Titãs, e, sendo um mercenário, já foi visto lutando tanto do lado do mal quanto do bem.

Resenha DVD: Mogli: O Menino Lobo


Eu não sou exatamente um fã de animações. Se hoje em dia eu volta e meia abro exceções na minha agenda de idas ao cinema pra ver desenhos, isso nem sempre foi regra. Uma das minhas implicâncias juvenis, das quais hoje eu me arrependo, era com as animações da Disney.
Eu tinha uma inexplicável ojeriza para com os desenhos do estúdio que meio que inventou as animações de longa-metragem, por uma razão, e uma razão apenas:
Os números musicais.
Eu odiava, na infância, quando em meio à história os personagens paravam o que estavam fazendo pra cantar uma canção.
Eu era muito intolerante com musicais à época. Ainda mais do que sou hoje. Então, se eu tinha uma ideia vaga de sobre o que se tratava Mogli: O Menino Lobo, não era por conta da premiada animação de 1967. Mas apenas por ter lido ou ouvido falar a respeito da história original, dos livros de Rudyard Kipling aos quais, admito, não li.
Foi, então, com alegria que descobri que Jon Favreau estava trabalhando em uma versão (mais ou menos) live action da história.
Infelizmente, o prazer de assistir ao filme no cinema me foi sonegado à medida em que, em Porto Alegre apenas uma sala reservou um horário para exibição do filme com idioma original, casualmente num dos piores cinemas da cidade, o Cinemark Barra-Shopping sul, onde frequentemente os horários das sessões atrasam e o ar-condicionado da sala é desligado durante a exibição, tornando o cinema, infelizmente, impossível de frequentar.
De modo que, como eu não estava interessado em assistir ao filme com as vozes de um elenco de globais, me restou esperar que o longa alcançasse o mercado de home-video.
Assistido o filme na madrugada de ontem, só me resta erguer o braço em protesto, e amaldiçoar os cinemas de Porto Alegre por não terem pensado em reservar ao menos um horário do dia para adultos alfabetizados irem ao cinema apreciarem a adaptação.
Desde sua sequência inicial, Mogli: O Menino Lobo é um deleite.
E a corrida de Mogli, o estreante Nehil Sethi, com seus irmãos lobos e a pantera-negra Bagheera (brilhante trabalho de dublagem de Ben Kingsley) é apenas o primeiro passo de uma trama episódica que conduz a audiência por uma série de pequenas aventuras, perigos e piadas conforme acompanhamos esse "filhote de homem" encontrado por Bagheera e levado para a alcateia onde o lobo alfa Akela (Giancarlo Esposito) o acolheu, e a loba Raksha (Lupita Nyong'o) o criou como se fosse seu filhote.
A vida de Mogli, tentando se tornar um lobo de verdade, convivendo com os outros animais da selva é alterada quando, uma trégua da água é declarada.
Uma longa estiagem tornou a água escassa e com os animais reconhecendo que beber é mais importante do que comer, a margem do lago é declarada um ponto livre de caça e todas as espécias podem ser encontradas matando a sede juntas.
É nesse momento que surge o tigre Shere Khan (Idris Elba), um poderoso caçador marcado por um encontro prévio com homens.
Khan não suporta a ideia de Mogli viver entre os animais, pois filhotes de homem crescem e se tornam homens, e ele oferece a Akela um ultimato:
Quantas vidas valem a vida de Mogli?
Quando as chuvas retornam e a ameaça de Shere Khan se torna uma sombra cada vez mais pesada sobre a alcateia, Mogli resolve partir, e, com a ajuda de Bagheera, chegar à aldeia dos homens, onde ele finalmente estará entre os seus e seguro do ódio do tigre.
Mas além da insaciável sede de sangue de Shere Khan, há outros perigos na floresta, e não tarda para que o pequeno Mogli logo se veja frente a frente com criaturas tão distintas quanto a anaconda Kaa (Scarlett Johansson), o enorme orangotango (na verdade um exemplar do ancestral Gigantopitecus) Rei Louie (Christopher Walken), e o urso Baloo (Bill Murray), animais que nem sempre têm a segurança e o bem-estar do filhote de homem em mente.
Conforme segue seu caminho entre essas criaturas tão diferentes, Mogli se vê em um ponto onde precisa descobrir quem é, e qual seu lugar no mundo.
É magnífico.
A parte técnica do filme é um disparate de tão boa, da floresta, renderizada à perfeição como um labirinto de enormes árvores retorcidas, muitas vezes compostas por centenas de vinhas emaranhadas que se erguem do solo ao céu, passando pelas encostas enlameadas do momento das monções, a iluminada caverna de Baloo ou o fantástico palácio de Louie, tudo é encantador, feito, não para emular a realidade, mas para ter o tom fabular e fabuloso que a história pede.
O elenco, de fato, tem apenas o jovem Nehil Sethi em cena, os demais personagens do filme são todos gerados por computador, mas o elenco de dubladores escalado por Favreau é inspiradíssimo.
Muito mais do que uma coleção de celebridades fazendo pontas, cada uma das vozes casa perfeitamente com o animal a quem representam, ou seu papel no filme.
Ben Kingsley dá show como a imponente pantera-negra Bagheera, uma figura de mentor cheia de majestade. O paternalismo solene e digno das vozes de Giancarlo Esposito e Lupita Niong'o como Akela e Raksha é palpável, assim como é a disposição boa-vida na voz de Bill Murray como o divertido Baloo. Christopher Walken está sensacional como o ameaçador rei Louie, e Scarlett Johansson tem um tom de voz tão marcante que já conseguiu tornar um I-pod sensual, e faz a mesma coisa pela hipnótica cobra Kaa, enquanto Idris Elba destrói na sua interpretação assustadora da voz do obstinado Shere Khan. Tão assustadora é sua performance, por sinal, que só quando o filme se encaminhava para o fim eu me dei conta de que, na melhor tradição de bons vilões, suas motivações e pontos de vista são totalmente justificáveis e fundamentados.
Cada um dos personagens está ali com uma função, para ajudar Mogli a crescer e cumprir seu caminho, descobrindo que as coisas que o tornam diferente, sua engenhosidade inata e sua capacidade de usar a "flor vermelha" do fogo, não são necessariamente um mal, e podem ser usados para o bem daqueles que ama.
Embalando uma mensagem de coexistência pacífica entre o homem e a natureza em um espetáculo de efeitos visuais de primeiríssima linha equilibrando ação, aventura, suspense e comédia Mogli: O Menino Lobo encontra seu caminho direto até o coração da audiência graças às sacadas do roteiro de Justin Marks e um trabalho mais do que seguro de Jon Favreau na direção, oferecendo uma roupagem moderna e bela aos escritos centenários de Rudyard Kipling.
Palmas pra eles.
Assista. É um dos melhores filmes do ano.

"-Ele é especial.
-Eu sei que ele é especial. Eu o criei."

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Resenha Cinema: Café Society


O último filme de Woody Allen, Homem Irracional, foi, ao menos pra mim, uma quebra numa boa sequência de filmes do octogenário cineasta.
Eu realmente não gostei do filme, que tinha um elenco de primeira, com Emma Stone e Joaquin Phoenix, mas contou uma história aborrecida e mal ajambrada.
Cheguei a brincar quando escrevi sobre o filme, que Homem Irracional era o tipo de filme que dificultava minha vida na hora de defender Allen nas rodas de conversa sobre cinema.
Não que Allen precise da minha humilde defesa.
Seus eventuais tropeços são perfeitamente desculpáveis considerando a excelência de seus numerosos acertos, e acho que o próprio Allen reconhece que seu cinema, infelizmente, não é pra todo mundo.
Porém, eu sou um dos fãs do diretor de Neblina e Sombras, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, e Tudo Pode Dar Certo, de modo que ontem, junto com outras dez testemunhas estava a postos para a estréia de Café Society, nova empreitada de Allen.
No longa, que abre em uma suntuosa mansão hollywoodiana recebendo uma elegante festa na piscina, conhecemos Phil Stern (Steve Carell), um próspero homem de negócios que atua como agente das mais requisitadas estrelas da Hollywood dos anos 1930.
Phil recebe a ligação de sua irmã Rose Dorfman (Jeannie Berlin), Rose, que mora em Nova York, e lhe pede que ajude seu filho caçula, Bobby a se instalar em Los Angeles, talvez lhe conseguir um emprego.
Bobby (Jesse Eisenberg) é um jovem cheio de energia mas que realmente não sabe o que quer fazer da vida. Seu tio Phil, um homem importante, está sempre muito ocupado, ou talvez desinteressado, para recebê-lo, de modo que leva mais de uma semana para que o executivo possa encontrar uma brecha em sua agenda para o jovem.
Quando isso finalmente ocorre, Bobby se torna um office boy particular para Phil, que , para ajudar o sobrinho torna sua secretária, Vonnie (Kristen Stewart), responsável por ajudá-lo a se aclimatar à vida na Califórnia.
Conhecendo as mansões de astros como Barbara Stanwick, passeando pelas praias de Malibu e frequentando botecos mexicanos não tarda para que Bobby se apaixone por Vonnie, que, para seu azar, tem um namorado a quem ama muito mas que não vê com frequência.
Bobby não desiste, porém, e consegue se tornar amigo de Vonnie, e, com mais tempo, e alguma sorte, seu namorado, ao menos até o antigo namorado voltar à cena complicando de vez a vida do rapaz.
Quando Bobby volta à Nova York para trabalhar com o irmão Ben (Corey Stoll, que novamente faz um ótimo trabalho com pouco tempo em cena com fizera vivendo Ernest Hemingway em Meia-Noite em Paris), um truculento gângster judeu, Bobby agora vacinado quanto às mazelas da vida numa cidade "movida a ego" e com amigos como a agente de modelos Rad Taylor (Parker Posey) e seu marido Steve (Paul Schneider), conhece Veronica (Blake Lively), e logo forma uma vida com ela.
Enquanto lida com os problemas de administrar um night clube e lida com o irmão, a mãe, o pai (Ken Stott, o Balin de O Hobbit, ótimo), a irmã mais velha Evelyn (Sari Lennick) e o cunhado acadêmico Leonard (Stephen Kinken) e cresce se tornando um homem mais responsável e seguro, Bobby balança quando Vonnie ressurge em sua vida, e ele se pergunta o que fazer...
De novo... Woody Allen não é cinema para todos os gostos, e na comparação com os maiores acertos de sua filmografia, mesmo longas como Magia ao Luar e este Café Society são realizações menores, ainda assim, o longa é repleto de qualidades, a começar pelo elenco.
Eisenberg, violenta e merecidamente enxovalhado pela crítica após seu Lex Luthor em Batman V Superman faz um ótimo trabalho como o dublê de Allen em cena.
Seus trejeitos e maneirismos simplesmente casam com o que esperamos do judeu nova yorkino neurótico e niilista dos filmes de Allen, as ele consegue oferecer espectro emocional e uma segurança que são todos seus. Steve Carell manda muito bem como o próspero executivo que conseguiu tudo na vida, enquanto Corey Stoll interpreta um tipo de bandido charmoso e divertido que merecia mais tempo em cena.
Jeannie Berlin e Ken Stott têm ao menos uma cena brilhante no filme, quando discutem religião ates de dormir, uma sequência que é, fácil, o momento mais engraçado do filme e talvez o único que arranque gargalhadas.
Quem também faz um ótimo trabalho é Blake Lively. A loira tem uma participação reduzida no longa, mas rouba todas as cenas em que aparece trabalhando com um roteiro econômico que se esforça para tornar humano. A mulher é puro glamour e faz Kristen Stewart simplesmente desaparecer, tornando a frase de Phil, de que "em questões do coração, as pessoas fazem tolices", simplesmente obrigatória para justificar a dúvida de Bobby entre Vonnie e Veronica.
Outro acerto é a linda fotografia de Vittorio Storaro, que torna o que é o primeiro filme de Woody Allen filmado em formato digital uma obra de arte dourada.
A despeito da natureza episódica do roteiro, que oferece um ritmo ágil ao longa de econômicos 96 minutos, mas ao mesmo tempo torna todo o conflito e drama contido na trama de crime, amor não-correspondido e traição algo superficial, o filme agrada, e quando sobem os créditos, é impossível não se admitir que a experiência foi divertida, ainda que nada memorável.
Para um realizador menor, não seria problema, para Woody Allen, é quase um tropeço.
Tentamos de novo ano que vem, Woody.

"-A vida é uma comédia, escrita por um sádico escritor de comédias."

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Celeuma Besta


Vem rolando ao longo dos últimos dias uma celeuma na internet.
Como a maioria das celeumas da internet é algo absolutamente sem importância que ganhou proporção nas pontas dos dedos de uma geração que vive pra redes sociais e nada além disso.
De qualquer forma, o ponto de discórdia atual diz respeito ao novo filme do Homem-Aranha, Spider-Man: Homecoming, que estréia no ano que vem.
Uma suposta lista vazada de personagens do longa deu conta de que a cantora e atriz Zendaya Coleman seria a Mary Jane no filme do herói.
A despeito de uma lista semelhante jurar de pés juntos que Jena Malone interpretaria a Oráculo em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, e já ter sido divulgado que Zendaya interpretaria uma personagem chamada Michelle, que poderia aludir à personagem dos quadrinhos Michelle Rodriguez, muita gente chiou.
A Internet virou um vespeiro de gente maldizendo a produção e condenando o filme a nascer morto por tal heresia.
O griteiro foi tão grande que Stan Lee, criador da personagem e James Gunn, diretor e roteirista de Guardiões da Galáxia foram às redes sociais defender a atriz a despeito de a Marvel não ter admitido que personagem Zendaya vive no filme.
Stan Lee disse que se a jovem é uma boa atriz, então está tudo resolvido, enquanto James Gunn foi mais longe.
O cineasta disse que, se a única coisa memorável a respeito de uma personagem é a cor de seu cabelo, então esse deve ser um personagem muito chato.
Eu concordo em partes com Gunn.
Conforme eu escrevi quando Jamie Foxx foi escalado para o papel de Electro em O Espetacular Homem-Aranha 2, eu não vejo a etnia de um ator como um empecilho, embora essa seja uma modinha que eu não veja com bons olhos.
E eu repito o que disse à época: E se fosse o oposto, e mudassem a etnia de um personagem negro?
Se escalassem um ator branco para interpretar Alex Cross, Othelo, ou Luke Cage?
Obviamente que um personagem é muito mais do que a cor de seus cabelos ou de sua pele. Nós vimos Michael B. Jordan fazer um Tocha Humana perfeitamente reconhecível em Quarteto Fant4stico, e que provavelmente teria sido muito bacana em um filme melhor, ainda assim a caracterização de um personagem é importante, outrossim porque é que Dave Bautista e Zoë Saldaña estavam pintados de verde em Guardiões da Galáxia? Porque é que Chris Evans e Henry Cavill malham feito alucinados pra viver Capitão América e Superman? Porque é que o falecido Phillip Seymour Hoffman jamais foi cotado para interpretar o Batman? Por que Robert Downey Jr. cultivou um cavanhaque em Homem de Ferro e Hugh Jackman as costeletas do Wolverine? Porque é que Mark Ruffalo usa aquele infame traje de captura de movimento em Os Vingadores?
A caracterização importa...
Eu não conheço as habilidades dramáticas de Zendaya. Nunca vi nada com ela. Mas vendo suas fotos no set de filmagens, ela não tem nada de Mary Jane, a party girl espevitada e namoradeira que foi a ponta menos preferida de um longevo triângulo amoroso com Peter e Gwen e que brilhava em passarelas e novelas.
Não tem nada a ver com a cor da pele ou dos cabelos dela, que é muito bonita e poderia ser uma Mary Jane muito apaixonante, com a caracterização certa:


Ainda assim, eu acredito que Zendaya não deverá interpretar a MJ por um motivo que vai muito além da etnia da atriz ou da personagem:
Segundo Kevin Feige, a jornada desse novo Homem-Aranha será de crescimento e amadurecimento, e uma das mais duras lições que aprendemos conforme ficamos mais velhos é a de que a imensa maioria de nós, simplesmente não termina com seu primeiro amor.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Diferenças


Ele acordou sentindo a luz do Sol entrar pelas janelas abertas do apartamento banhando a cama de uma luz dourada.
Ao abrir os olhos, percebeu-a sentada nua, em posição de lótus de frente para a janela. A iluminação matutina, o corpo nu dela, a forma como suas nádegas firmes se aninhavam parcialmente no lençol como se provocando em um jogo de mostra e esconde...
Seus cabelos presos de maneira despreocupada atrás da cabeça, fazendo com que pequenos fios dourados escapulissem do coque improvisado lambendo-lhe os ombros e as costas delicadas que ganhavam um halo dourado por conta da luz, compunham um cenário magnífico e poético que a faziam parecer como uma gloriosa diathim.
Tudo o cenário foi arruinado pela sensação gelada que ele sentia na bochecha denunciando que dormira de boca aberta e a baba certamente escorrera-lhe pelo rosto como se ele fosse Jabba, o Hutt.
Sentia o inchaço nos próprios olhos, o hálito da manhã e ao erguer a cabeça do travesseiro percebeu o desgrenho do próprio cabelo.
Era inacreditável como sempre acordava parecendo um taun-taun...
Ficou pensando em como eram diferentes dormindo ela ele... Não que não fossem diferentes, muito diferentes quando acordados, ele um nerd grandalhão e barbudo, ela, uma graciosa e esguia moça com quê de bailarina, eram muito e genuinamente díspares, mas dormindo...
Dormindo eram ainda mais.
Pareciam filhos de mundos distintos de galáxias bem, bem distantes.
Ela dormia bonito.
Ficava fresca, lábios e olhos fechados, aninhada... Já a vira dormindo. Lembrava-se de ter acordado uma vez de madrugada pra ir ao banheiro, e que ao voltar, sentou-se na cama e a ficou observando, perguntando-se se estava rompendo algum tipo de barreira. Era muito cedo da manhã... Antes das cinco, e uma luz azulada entrava pela janela, iluminando-a de leve.
E ele a olhou, e percebeu que, à exceção da maquiagem borrada nos olhos, ela estava bonita como se tivesse se aprontado pra sair. Se passasse a mão nos cabelos, bastava se vestir e pronto. Poderia ir à qualquer festa ou evento com aquele mesmo rosto.
Conhecera uma quantidade limitada de mulheres na vida, admitia. Mas dentre todas as que conhecera, ela era, fácil, a que dormia mais bonito.
Ele?
Ele roncava, dormia de boca aberta, babando, cabelos desgrenhados, todo esparramado na cama, a pele, por alguma razão, ficava muito oleosa enquanto dormia, a ponto de se perguntar, pela manhã, se alguém passara azeite em sua testa e nariz durante a madrugada.
Ela dormia de pijama, calça e camiseta, ou blusa de alças e short.
Tudo bonito, combinado, feminino e cheiroso como ela só.
Ele dormia com pijama improvisado. Calção velho, cujo elástico da cintura já não era confiável pra usar pra correr ou jogar futebol, e camiseta desbotada cujas mangas ele arrancava com as mãos quando resolvia que precisava de um pijama novo.
Mesmo quando dormiam nus a disparidade continuava lá.
Porque ele, nu, era uma bagunça medonha, e ela, nua, era uma visão.
E ali estava ele, feito um nativo de algum planeta distante à beira de uma singularidade cósmica aterrorizante, massivo e desgrenhado, e ela, esguia, miúda e delicada como a filha do lado mais claro de uma lua de Saturno.
O que foi que ela viu nele?
Como podia suportá-lo?
Ela se virou levemente, tinha um meio sorriso no rosto. Avançou engatinhando feito uma bothana sobre a cama:
-Bom dia, bela adormecida...
Ele cobriu a boca enquanto esfregava os olhos temendo estar remelento pra piorar ainda mais as coisas:
-Não! - Disse, enquanto ela se debruçava sobre ele. -Tô com bafo...
Mas ela o pegou pelo pulso com decisão e disse:
-Tudo bem... Ainda não escovei os dentes, também.
O beijou.
E enquanto ele segurava a parte de trás da cabeça dela com uma das mãos, e sua cintura com a outra, todos os parsec que separavam seus planetas de origem desapareceram, e ele deixou suas inseguranças pra lá.
Estava ocupado demais para elas, sendo feliz.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Resenha Cinema: Ben Hur


Eu devo ter assistido ao Ben Hur de 1959 ao menos uma vez considerando-se quantas vezes eu comecei a ver o filme, ou peguei partes dele passando na TV ao longo da minha infância e adolescência.
Vou confessar que, ainda que eu respeite a importância de Ben Hur para o cinema, seus onze Oscar e tudo mais, eu tenho um certo problema em avaliar esses longas megalômanos de outrora por conta da estética.
Eu não vou, obviamente, ficar fazendo piada com a forma de Charlton Heston atuar em Ben Hur ou em Os Dez Mandamentos, a sua abordagem para os papéis nesse filme seguem o modelo teatral e exagerado que os épicos de sandálias e espadas partilhavam nas décadas de 50 e 60, mas posto isso, se alguém atuasse da maneira como Heston, Yul Brynner e Victor Mature atuavam em seus épicos de sandálias e espadas cinquentistas hoje em dia, cuspindo texto de maneira empostada como se fosse Escritura, seria considerado um tremendo canastrão.
A estética do cinema mudou. As linguagens e formas narrativas, também, de modo que um filme parrudo e de queixo quadrado como o Ben Hur de 1959 (que por sinal já era um remake) poderia, sim, ganhar um remake com nova linguagem, estética e efeitos visuais. Num tempo como o nosso, onde remakes e adaptações são as molas que propulsionam o cinema, porque é que uma história universal como a de Judah Ben Hur ficaria de fora?
A ideia de uma nova versão era apenas natural.
O que eu jamais consideraria uma ideia das melhores era a empreitada ser dirigida por Timur Bekmambetov, o diretor cazaque de Guardiões da Noite, O Procurado e Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros.
O histórico do cineasta acenava com um Ben Hur repleto de explosões, edição surtada e efeitos digitais exagerados.
Ainda assim, ontem eu resolvi dar uma chance ao longa, e me surpreendi.
Ben Hur já abre com o início da sequência da corrida de bigas onde Judah Ben Hur (Jack Huston, de Boardwalk Empire e Trapaça) e Messala Severus(Toby Kebbel Quarteto F4antástico, World of Warcraft) se opõe no circo romano de Jerusalém.
Antes que os competidores ganhem a pista, porém, a narração de Morgan Freeman nos leva de volta oito anos no passado, quando Judah Ben Hur era um jovem príncipe judeu, e Messala o órfão romano adotado como filho por sua família.
Os dois cresceram como irmãos, e eram tão unidos quanto competitivos, mas Messala, que era apaixonado pela irmã de Ben Hur, Tirzah (a gatinha Sofia Black-D'elia), sabia que jamais teria a permissão da mãe dos irmãos, Naomi (A bonitona Ayeleth Zurer, de O Homem de Aço e Demolidor), para casar com ela.
É por isso que Messala resolve se alistar na legião romana, para ganhar status e fortuna, e ser mais do que um órfão.
Enquanto Messala vaga pelos quatro cantos do vasto império romano levando a justiça do imperador aos seus súditos e enfrentando os bárbaros por toda a parte, Ben Hur seguiu sua vida em Jerusalém.
Um jovem abastado, de alto nascimento e privilégio, Ben Hur não se importa com as lutas por liberdade dos zelotes judeus e suas rusgas com os conquistadores romanos. Tudo o que Ben Hur deseja é que as coisas continuem como estão.
Ele se casa com a escrava Esther (Nazanin Boniadi de Homeland), e conhece o jovem carpinteiro Jesus (Rodrigo Santoro) enquanto se mantém apartado das intrigas locais.
Quando Messala volta para casa, agora como um capitão do império romano com placa peitoral de cobre e elmo emplumado, ele e Ben Hur logo percebem que os três anos que passaram apartados não mudou o afeto que sentiam um pelo outro, mas alterou suas visões de mundo.
Quando uma tentativa de assassinato contra o governador Pôncio Pilatos ocorre na casa de Ben Hur, o romano deseja sangue.
Para salvar sua família, Judah assume a culpa pelo atentado, e enquanto sua mãe e irmã são condenadas à cruz, ele é levado para servir como escravo nas galés romanas até a morte.
Após cinco anos remando nos porões romanos, um evento fortuito liberta o ex-príncipe, que auxiliado pelo criador de cavalos e apostador de corridas de bigas Ilderim (Morgan Freeman), tem a chance de retornar à sua terra natal e buscar vingança contra Messala, mas talvez esse não seja o plano de Deus para Ben Hur.
Eu preciso dizer... Ben Hur me arrancou lágrimas.
O filme de fato funcionou pra mim e chega a ser difícil acreditar que Timur Bekmambetov tenha conseguido trabalhar o roteiro de Keith R. Clarke e John Ridley de maneira tão bem equilibrada entre as sequências de ação e o drama.
A ação, especialidade de Bekmambetov, por sinal, é muito boa...
A primeira grande sequência, nos porões do navio, toda mostrada do ponto de vista de Ben Hur e dos escravos nos remos é muito bem sacada, com uma montagem extremamente esperta. E a corrida de bigas do final do filme, é sensacional, com todo o cardápio esperado, condutores atropelados e arrastados, cavalos se empilhando e bigas capotando enquanto a tensão só aumenta rumo ao desfecho do sangrento espetáculo.
Mas por bem montada e espetaculosa que seja, a ação desse novo Ben Hur é secundária. O roteiro está mais interessado em contar a história de Judah em paralelo com a de Cristo. E a de Messala.
Toby Kebbel, por sinal, faz muito bem sua parte para contribuir nesse intento. O ator dá dimensões e profundidade ao personagem impedindo-o de se tornar um vilão óbvio e declarado.
Jack Huston não faz um Ben Hur de cara fechada que exala retidão como fizera Heston. Seu Ben Hur é afável, falho, por vezes hesitante, e perfeitamente crível. Os dois atores mandam bem como protagonistas.
Morgan Freeman é um ator que chegou a um patamar de sua carreira em que pode ficar vomitando sabedoria por uma hora com sua voz de veludo e nos convencer, e Rodrigo Santoro faz um Jesus digno e humano, com seu discurso de amor e esperança.
Nem tudo são flores, claro.
Personagens como Tirzah e Naomi são usadas como acessórios, e o segundo ato é um tanto arrastado, mas isso não chega a ser um pecado imperdoável, já que o primeiro ato é competente e o terceiro é acima da média.
Talvez o Ben Hur de 2016 não tenha a grandiloquência do antecessor de 1959, sua pretensão e fome de prêmios embrulhados em mais três horas e meia de megalomania... Mas isso não é uma grande perda.
A mensagem de redenção e amor da história está inteira lá, embrulhada em um filme pipoca divertido e bem feito.
E que vale demais a visita ao cinema.
Assista.

"Lembra-se de quando eu me feri e você me carregou com toda a sua força, o mais longe que pôde?"

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Rapidinhas do Capita


E o primeiro poster de Spider-Man: Homecoming caiu na rede.
A arte promocional com uma pose clássica do cabeça de teia foi avistada em um evento focado em produtos licenciados em Las Vegas, e logo caiu no instagram.


Bacana e simples.
Spider-Man: Homecoming, dirigido por Jon Watts e estrelado por Tom Holland estréia em 6 de junho de 2017.
Além de Holland, o elenco conta ainda com Marisa Tomei, Robert Downey Jr. e Michael Keaton, entre outros.

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John Williams confirmou que, nas próximas semanas deve assistir à uma versão prévia de Star Wars: Episódio VIII para iniciar seu trabalho na composição da trilha sonora do longa.
Responsável por oito em dez das mais memoráveis trilhas sonoras do cinema, e pelas músicas dos sete outros filmes da franquia, o octogenário compositor dono de 50 indicações ao Oscar será uma das primeiras pessoas no mundo a assistir à altamente antecipada sequência de O Despertar da Força.
Ainda sem título definido, Star Wars: Episódio VIII estréia em 15 de dezembro de 2017. As filmagens comandadas por Ryan Johnson, de Looper e A Ponta de um Crime já se encerraram.
Antes do episódio VIII, o universo Star Wars volta às telonas nesse ano com Rogue One: Uma História Star Wars.

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Sensação mista ontem, assistindo à partida comemorativa dos dez anos da primeira conquista da América do Internacional.
Um bálsamo ver jogadores identificados com o clube, vencedores e bons de bola atuando com a camisa colorada dos dois lados.
Triste perceber que até Dadá Maravilha e príncipe Jajá, já acima dos sessenta, correm e se apresentam mais pro jogo do que os atletas que compõe o elenco principal da equipe hoje.
O grupo principal do Inter, de vexatória campanha no atual brasileirão, deveria ter sido forçado a concentrar no estádio e assistir ao jogo para entenderem a real dimensão da camisa que defendem, e a estatura dos atletas que já a envergaram.

sábado, 13 de agosto de 2016

Resenha Cinema: Negócio das Arábias


Eu sou um grande fã de Tom Hanks. Por sinal, conheço poucos fãs de cinema que não são.
Hanks estrela ao menos dois dos meus filmes favoritos, e uma infinidade de filmes que vão do muito bom ao excelente, além de uma porção de filminhos descartáveis que são simpáticos.
Devo confessar que fui assistir a esse Negócio das Arábias ciente de que o longa deveria se encaixar na última categoria. Descartável e simpático. Mais ou menos como Larry Crowne, por exemplo (que, diga-se de passagem, é até mais descartável do que é simpático).
A premissa, inclusive, é semelhante em certos aspectos. Negócio das Arábias, tal qual Larry Crowne, aborda questões pós-crise econômica americana de 2008. Um personagem que perdeu seu emprego e a estabilidade financeira e emocional que ele carregava consigo, e que precisa encarar um novo começo.
Por sorte, as semelhanças param por aí.
Negócio das Arábias abre com uma sequência de sonho onde o personagem de Hanks, Alan Clay, anda falando com a câmera sobre mazelas da vida conforme sua casa, carro e esposa de desvanecem em nuvens de fumaça, entrecortado com sua expressão atônita durante um passeio de montanha russa, e conforme Clay se pergunta "como eu cheguei até aqui?", nós sabemos que sua vida não seguiu o rumo que ele imaginava.
Clay desperta deste sonho em um avião rumo ao reino da Arábia Saudita.
Ele está indo ao país para tentar vender um sistema de teleconferência holográfico ao rei, que pretende construir, no meio do deserto, uma moderníssima cidade com um milhão e meio de habitantes nos próximos nove anos.
O negócio parece ser a última chance de Clay deixar pra trás seu passado desastroso nos negócios, quando transferiu a produção de bicicletas da Schwinn dos Estados Unidos para a China demitindo quase mil trabalhadores, uma iniciativa que obviamente não deu certo, e conseguir dinheiro para pagar pela faculdade de sua filha Kitty (Tracey Faraway).
Não deixa de ser irônico que, ao chegar à Arábia Saudita, Clay, que vende uma ferramenta para tornar possíveis reuniões entre pessoas que não estão no mesmo lugar, jamais encontre o rei saudita, porque ele nunca está na cidade que ainda não existe.
Alan viaja uma hora diariamente do seu hotel até a sede do projeto de cidade real apenas para ser informado pela recepcionista de que o rei não está, mas que talvez esteja amanhã... Ou depois... Ou depois...
A viagem se estende de maneira indefinida por conta da indiferença real, e com sua equipe técnica passando os dias em uma tenda no meio do deserto, sem Wi-Fi, comida ou ar-condicionado, sendo pressionado por seu chefe nos Estados Unidos a obter resultados, sofrendo de um interminável jetleg que jamais o deixa acordar na hora, forçando-o a utilizar repetidamente os serviços do motorista e guia Yusef (Alexander Black), Alan logo descobre um perturbador caroço em suas costas.
Não tarda para que o vendedor logo eleja aquele caroço como sua kryptonita pessoal, culpando-o por todas as suas mazelas enquanto escreve cartas para sua filha e tenta se ajustar à uma realidade surreal que lembra a interminável rotina de dias repetidos do Phil de Feitiço do Tempo.
É justamente quando resolve reagir que Alan percebe que, mesmo os menores gestos, podem render frutos.
Ao desobedecer a recepcionista e não esperar no saguão, ou ao desobedecer as leis sauditas e entrar em Meca com seu guia que teme ser assassinado pelo marido da amante, ou ao desobedecer o senso comum e explorar seu calombo com uma faca...
Os pequenos gestos de desafio rendem pequenas recompensas que, na narrativa do diretor e roteirista Tom Tykwer ganham ressonância na vida comezinha de Alan.
Conforme firma pequenos laços com Yusef, e posteriormente com sua médica, doutora Zahra (Sarita Choudhury), Alan vai percebendo novos horizontes se abrirem diante dele, e a possibilidade de, finalmente, encontrar um novo começo.
Muito da qualidade do longa repousa na presença de Tom Hanks, um ator muito acima da média com carisma de sobra pra carregar um filme nas costas e que tem uma qualidade de homem comum que o torna perfeito para determinados papéis.
Negócio das Arábias não tira Hanks de sua zona de conforto, nem demanda um grande trabalho de intérprete, ainda assim, o vencedor de dois Oscar é alguém a quem gostamos de assistir até quando atua meio no piloto automático, reproduzindo situações que já vimos antes (mais explicitamente Mensagem pra Você e Splash: Uma Sereia em Minha Vida).
No elenco, que conta com Tom Skerritt, Sidse Babett Knudsen e uma ponta de Ben Whishaw, destacam-se Alexander Black que, a despeito de ser menos árabe do que eu, faz um bom trabalho na "coadjuvância" de Hanks, com seu Yusef mantendo uma camaradagem crescente para com Alan que é crível e doce.
Sarita Choudhury também se destaca, emprestando sobriedade e vida à Zahra, pivô da subtrama romântica que movimenta o terceiro ato do filme, mas é o protagonista quem comanda a bagaça.
Hanks consegue nos fazer rir dele e lamentar sua sorte, e até mesmo nos preocupar com sua "maldita boa saúde", e ainda que a adaptação do livro de Dave Eggers seja um filme irregular, que perde muito de sua qualidade surreal ali pelo meio do segundo ato, é um feelgood movie bastante satisfatório.
Conforme eu disse lá em cima, descartável e simpático.
Não renderá novas láureas a Hanks, tampouco ficará na mente da audiência por muito, mas provém uma hora e meia de distração honesta.

"-O rei não vem aqui há algum tempo...
-Quanto é 'algum tempo?
-Bem, eu estou aqui há dezoito meses e ainda não o vi."

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

O Novo Trailer de Rogue One: Uma História Star Wars


E conforme prometido, ontem, pouco antes da meia-noite, foi divulgado o novíssimo trailer de Rogue One: Uma História Star Wars.
A prévia de pouco mais de dois minutos é recheada de cenas inéditas, apresenta alguns dos personagens do grupo de Jinn Erso (Felicity Jones) e dá o primeiro vislumbre de Darth Vader.
Confira.



A mudança de tom sugerida pelas extensas refilmagens pelas quais o longa teria passado, com o diretor Gareth Edwards trabalhando sob a vistoria de Tony Gilroy representando os interesses da Disney, ao menos no trailer, não parecem ter sido negativas. O climão ainda é o de um filme de guerra e espionagem passado no universo de Star Wars, e isso é excelente...
A sinopse oficial se refere a Rogue One como uma aventura épica e totalmente nova. Um período de conflito onde um grupo de heróis improváveis é reunido em uma missão para roubar os planos da Estrela da Morte, a arma definitiva do Império. Um evento chave na linha do tempo Star Wars aproxima pessoas comuns que escolheram fazer coisas extraordinárias e que, ao fazê-las, tornaram-se parte de algo maior do que elas mesmas.
O filme estréia no Brasil em 15 de dezembro, e além de Felicity Jones ainda tem no elenco Forrest Whitaker, Diego Luna, Donnie Yen, Jiang Wen, Riz Ahmed, Alan Tudik, Ben Mendelsohn e Mads Mikkelsen.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Gipsy Kings


A Melissa, vinte e três aninhos, branquinha, cabelo castanho claro escorrido até o meio das escápulas delicadas, seios pequenos e firmes, pernas torneadas, bundinha dura feito espuma balística, acordou no meio da noite sentindo o ar gélido da madrugada se insinuando pela janela e lambendo-lhe a pele delicada, que suada e nua, arrepiou-se.
Ela se encolheu instintivamente, puxando a coberta por cima do próprio corpo enquanto pensava se devia levantar para fechar a janela quando a pessoa a seu lado se mexeu suspirando.
Ela olhou para ele na penumbra. Seus cabelos negros e lisos em desalinho sobre o travesseiro dobrado ao meio, seus olhos fechados com aqueles cílios longos, longos...
Melissa enterneceu-se.
Quem poderia imaginar que apenas duas semanas depois de conhecer um homem ele já poderia ser uma parte tão importante de sua vida?
Ela não sabia ao certo o que era, mas tinha a sensação de que ele a completava de uma maneira que nenhum outro homem jamais fizera antes.
Talvez fosse esse o "x" da questão:
Ele era, de fato, um homem.
Melissa, com seus vinte e poucos anos, jamais namorara um homem mais velho. Apenas rapazinhos da sua idade. O que não tinha nada de errado, mas... Bom, a verdade é que tinha... Os rapazes de vinte e poucos, da geração da Melissa, pareciam moleques.
Na prática, eram todos fedelhos. Pareciam gurizinhos que não queriam ou não sabiam como crescer.
Mas ali, ao seu lado, havia um homem de verdade.
Maduro. Decidido. Adulto.
Que não aceitava "não" como resposta e tomava as rédeas da relação. Mas não era um macho-alfa ignorante e misógino que ferisse sua moderada veia feminista.
Não.
Ele era gentil, polido, cavalheiro e bom ouvinte.
O fato de que o sexo era muito bom... Transcendental, quase... Também ajudava.
O que dizer de um sujeito que era capaz de passar uma hora e quarenta e cinco minutos trepando vigorosamente e depois se desculpar porque estava meio cansado?
A Melissa jamais havia vivenciado tal coisa.
Até a falsa modéstia dele era cativante.
Sorriu.
Chegou a se inclinar para beijar os lábios finos que compunham aquele rosto enigmático quando ele, movendo os olhos sob as pálpebras fechadas, arqueou as sobrancelhas bem desenhadas e suspirou:
-Ahnnnnn... Felichnemmmm...
A Melissa sobressaltou-se como um cão que vê um esquilo. Sua expressão séria encarando o rosto do homem ao seu lado era a ilustração do verbete "dúvida".
Acabara de ouvi-lo gemer "Felícia" em meio ao sono?
O volume sob as cobertas denunciava um sonho erótico.
Apalpou-lhe o pênis por baixo do edredom para certificar-se de que era esse o caso.
Era.
Quem seria Felícia?
Talvez, pensou ela enquanto ainda segurava-lhe o membro viril, fosse coisa de sua cabeça. Talvez ele tivesse dito "Melissa", mas não articulara direito... Talvez... Novo gemido... Um meio sorriso:
-Iss... Ahn, Felissssseahm...
Melissa não aguentou.
Aplicou-lhe um violento safanão acordando-o de supetão:
-Quem é Felícia? - Perguntou, revoltada, os olhos esverdeados faiscando de ódio.
-Quê? - Ele quis saber. Olhos esbugalhados, expressão aturdida emoldurada pelos cabelos despenteados olhado para os lados como quem tenta concatenar onde está.
-Felícia? Quem é Felícia? - Melissa repetiu.
-Mas do que é que tu tá falando, criatura? - Ele quis saber, ajeitando o cabelo enquanto se aclimatava ao quarto...
-Felícia. Que o senhor tava gemendo. Tava sonhando com alguma piranha que faz coisas que eu não faço? Ou alguma outra incauta que caiu na tua lábia? - Tinha lágrimas de ódio nos olhos.
-Eu realmente não sei do que tu está falando, Mel... - Ele respondeu com uma expressão consternada no rosto.
A Melissa não acreditou:
-"Félissssnham... Felishammmm..." Era isso que o senhor gemia enquanto se reborcava na cama... "Felishammmm... Felishammm..." - Melissa gemia fazendo uma expressão caricatural de êxtase.
Ele ficou olhando pra ela pro breves instantes, ainda parecendo consternado, mas de súbito, ergueu as sobrancelhas como quem entende, abrandou as feições e sorriu um riso divertido.
Melissa continuava enfurecida:
-Do que é que tu tá rindo? Eu sou tua palhaça, agora?
Ele a pegou pela mão. Ela relutava, mas ele era decidido.
Sorrindo explicou:
-Não era Felícia... Era "Felice". - Disse ele, de maneira paternal.
-Felitche? Quié isso? Felitche? - Melissa não estava convencida.
-É de uma música... Volare, do Gipsy Kings... Tu conhece? - Quis saber.
-Não... - Melissa respondeu, a expressão fechada em um bico desconfiado. A forma condescendente como ele falava a deixava irritada e desarmada quase na mesma medida.
-Bom - Explicou ele -Meu pai era louco por Gipsy Kings. Eu cresci ouvindo eles. Um dos grandes sucessos da banda, uns caras meio hispânicos, meio italianos e meio Romani-
-O que é "romani"? - Perguntou Melissa, demandando detalhes para não ser enrolada.
-São ciganos, meu amorzinho. Eles se referem a si próprios como Romani.
-Ah. - Ela assentiu.
-Enfim, esse grupo, Gipsy Kings, fizeram algumas músicas de grande sucesso nos anos oitenta... Ao menos aqui no Brasil é o período de que eu me lembro deles. E o que talvez seja o grande sucesso deles é uma canção chamada Volare. E provavelmente era com isso que eu tava sonhando. Hoje, mais cedo, falei com um tio meu, e relembramos meu pai. Sempre que eu lembro do meu pai, me vem à memória a imagem dele com um pano de prato na cabeça dedilhando o violão e imitando o vocalista do Gipsy Kings cantando Volare...
Sorriu triste... Olhou para a janela, parecia estar vendo muito além dela.
-"Volare, ô-ô... Cantare, ô, ô, ô, ô... Nel blu, dipinto di blu... Felice di stare lassu..." - Cantarolou. Tinha os olhos rasos d'água.
A expressão de Melissa fora de desconfiada a envergonhada em uma fração de segundo. Apertou a mão dele, enquanto seus lábios rosados se retraíam em um tímido pedido de desculpas:
-Desculpa... Eu não sabia, Viktor... Quando eu te ouvi falando... E vi que tu tava... Excitado...
Ele a segurou pela ponta do queixo:
-Meu amor... Como é que eu não estaria excitado contigo nua do meu lado? - Ele perguntou a olhando nos olhos como quem diz a mais doce de todas as obviedades.
Ela se derreteu. Pedindo desculpas, se pôs a beijar-lhe os lábios com sofreguidão, ele correspondeu, massageando vigorosamente o corpo delicado e nu de Melissa enquanto a colocava deitada na cama.
Antes de beijá-la nos seios, barriga e púbis e começar nova sessão de alcova, ele ainda pensou que o plano de pegar mulheres com nomes foneticamente semelhantes para evitar atritos não dera certo. Seu pai daria boas risadas quando ficasse sabendo.
Ele não contaria à Felícia, porém. Felícia, a exemplo de Melissa, também achava que era a única.
O importante é que, para Viktor de SanMartin, o musical, até mesmo Gipsy Kings sempre podia se tornar uma rota de fuga.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Resenha DVD: 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi


Em 2012, após a queda do ditador Muammar Kaddafi, a Líbia se tornou um dos lugares mais instáveis do mapa múndi pós-primavera árabe.
A maioria dos países que possuíam embaixadas ou postos diplomáticos no país norte-africano se retiraram. Os Estados Unidos não fizeram isso, porém.
Os norte-americanos mantiveram uma embaixada em Trípoli e um posto da CIA em Benghazi, onde a agência de inteligência dos EUA tentava monitorar o destino dos armamentos removidos dos arsenais de Kaddafi após a queda de seu regime.
A segurança desse complexo da CIA em Benghazi era encabeçada por seis ex-membros de esquadrões de elite norte-americanos.
Em 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi, o diretor Michael Bay, da série Transformers, conta a história dos ataques ao posto diplomático e ao complexo da CIA na cidade no dia 11 de setembro de 2012 pela ótica de Jack Silva (John Krasinski).
Jack é um ex-fuzileiro naval que agora atua como contrato privado de segurança. Não é o emprego dos sonhos de Jack, mas o dinheiro é bom, e ele precisa, eventualmente, completar seu orçamento doméstico já que sua carreira como corretor imobiliário não vem tão bem.
Jack chega a Benghazi para trabalhar com seu amigo Tyrone "Rone" Woods (James Badge Dale) e sua equipe, formada por Chris "Tanto" Paronto (Pablo Schreiber), Dave "Boon" Benton (David Denman), John "Tig" Tiegan (Dominic Fumusa) e Mark "Oz" Geist (Max Martini).
O contrato de Jack é para apenas seis semanas de trabalho, mas Benghazi é um dos lugares mais perigosos e instáveis do planeta naquele período, e seis semanas podem ser um período longo.
Especialmente quando a equipe de segurança precisa agir sob a batuta de um chefe de departamento da Cia, Bob (David Costabile) que é a encarnação viva do burocrata extremamente afeito às regras.
Apesar da tensão e de eventuais percalços com as milícias locais, o grupo faz seu trabalho com relativa tranquilidade. Ao menos até a chegada do embaixador americano Chris Stevens (Matt Letscher).
Stevens e sua equipe, formada por dois agentes do Departamento de Estado são alocados em um complexo diplomático que mais parece um resort do que uma embaixada.
A despeito dos alertas de Jack, Rone e equipe de quê a segurança do local é absolutamente ineficiente, os seguranças de Stevens sustentam a permanência no local.
As coisas pioram ainda mais quando um encontro entre o embaixador e o prefeito de Benghazi, planejado para ser uma reunião discreta, se torna um circo midiático, alertando todas as milícias, grupos rebeldes e terroristas locais da presença de Stevens na região.
No dia 11 de setembro de 2012, o posto diplomático onde Chris Stevens estava é invadido por um grupo de dezenas de terroristas fortemente armados que não têm dificuldade em invadir o local.
Do complexo da CIA, Rone e seu time conseguem ver toda a ação, e embora estejam prontos e dispostos a partir em auxílio a Stevens e seu staff, são impedidos por Bob, que lhe ordena diretamente que permaneçam no complexo.
As ordens de não interferência continuam até que os seis ex-soldados resolvem simplesmente ignorá-las e sair se autorização.
Embora consigam matar vários inimigos e resgatar um par de seguranças, o grupo de Silva não encontra o embaixador no prédio em chamas, e retorna ao complexo da CIA, que agora é o foco dos inimigos.
Enquanto pedem desesperadamente por apoio aéreo que jamais chega, e por uma equipe de resgate presa em Trípoli pela burocracia líbia, cabe a esses seis soldados liderar uma defesa impossível durante as treze horas mais longas de suas vidas.
Assistindo ao filme fica bastante claro que Michael Bay estava tentando emular Falcão Negro em Perigo, excelente filme de Ridley Scott que também mostrava um grupo de soldados em uma região hostil que eram pegos de surpresa na armadilha de uma missão que dava terrivelmente errado.
O problema é que Michael Bay não é Ridley Scott.
Nas mãos do diretor de Bad Boys a história dos soldados secretos de Benghazi é contada sem nenhum tipo de nuance ou profundidade, simplesmente jogada na tela da maneira mais abrangente possível, com seis heróis que são a encarnação viva da virtude tendo suas mãos atadas por burocratas absolutamente obtusos com uma burrice quase caricatural.
Os mocinhos do filme são virtuosos e para por aí. Nenhum deles ganha nenhum tipo de desenvolvimento além de eventuais "falei com minha esposa hoje", ou "sinto falta dos meus filhos"... Krasinski é quem mais chega perto, com um pequeno arco dramático envolvendo sua esposa, que tem seu pico na sequência em que, por vídeo conferência, ele descobre a gravidez dela. Cena conduzida por Bay como um parto feito com fórceps.
Se o diretor obviamente não tem paciência para desenvolver personagens, ele certamente tem para suas sequências de ação, e trata as de 13 Horas da mesmíssima forma que trata as de Transformers.
Sério.
Exatamente da mesma.
Os combates no longa são repletos de todos os vícios e clichês visuais de Bay, das explosões cartunescas à edição hora acelerada, hora em slow-motion, passando pela câmera que gira ao redor de um personagem e a confusão com o período do dia (Na mesma sequência é noite fechada, amanhecer e dia claro, a edição simplesmente não liga pra uniformidade), tudo igual que nem todos os outros trabalhos de Bay, mas com mais sangue.
A soberba do cineasta é tamanha que ele chega a homenagear a si mesmo, conforme uma cena mostrando a queda de um morteiro é absolutamente igual à sequência da queda de uma bomba em Pearl Harbour enquanto conduz com sua costumeira falta de tato o roteiro simplório de Chuck Hogan, que também não ajuda.
13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi falha como filme de ação e como relato da memória dos envolvidos na situação. Nas mãos de um cineasta mais competente, a história verdadeira da equipe de Rone, Jack e companhia poderia ter sido um grande filme. Nas mãos de Bay se torna uma bagunça pirotécnica absolutamente indistinguível de todo o restante da sua filmografia.

"-Deus não cria guerreiros para que se aposentem, irmão."

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Resenha Cinema: Esquadrão Suicida


Nos quadrinhos, o Esquadrão Suicida é uma iniciativa do governo dos EUA que consiste em utilizar os inúmeros supervilões encarcerados da DC e usá-los em missões com mínima chance de sucesso em troca de perdão de parte de suas extensas penas.
O Esquadrão não tem formação fixa, podendo ser formado por membros diferentes cada vez que é unido de acordo com as necessidades da missão que irão cumprir.
Em suma, é uma grande sacada da DC que permite que escritores e desenhistas se divirtam explorando os vilões do universo da editora em histórias sem os heróis.
Não era de se espantar que tanta gente tivesse ficado empolgada quando a Warner anunciou que o terceiro longa do universo cinematográfico compartilhado da DC Comics seria o Esquadrão.
Não tardou para que David Ayer, roteirista de Dia de Treinamento e diretor de Os Reis da Rua, e Corações de Ferro fosse anunciado como diretor e roteirista do filme, e o elenco fosse tomando forma com Will Smith, Viola Davis, Margot Robbie e o oscarizado Jared Leto no papel do Coringa.
A primeira foto da equipe reunida deu a dica de que, ao menos visualmente, o filme tinha acertado.
Smith apareceu com o traje do Pistoleiro até usando a máscara com monóculo de alça de mira tradicional dos quadrinhos, Margot Robbie estava simplesmente deliciosa como a Arlequina, e se algum personagem dividiu opiniões foi o Coringa de Leto, com um visual bastante estranho, cheio de tatuagens, usando grill nos dentes, e vestindo roupas chamativas.
O lançamento do primeiro trailer prometeu um filme subversivo e divertido, capaz de romper com a pasmaceira dos filmes de super-herói. O segundo, com o grupo disparando frases de efeito ao som de Bohemian Rhapsody do Queen explodiu crânios por toda a parte, somado a isso, as notícias incessantes a respeito do método utilizado por Jared Leto durante as filmagens, jamais saindo do personagem, exigindo ser chamado de "Mr. J" pela equipe de produção e mandando "presentes" aos colegas de elenco que iam de camisinhas usadas a carcaças de porco e ratos vivos e pronto, até o mais marveco dos fãs de Robert Downey Jr. já dava o braço a torcer dizendo "Ah, o Esquadrão vai ser bacana...".
Ontem, como bom nerd que sou, estava com ingresso comprado há mais de semana para a pré-estréia de Esquadrão Suicida e finalmente pude conferir o filme.
No longa, conhecemos Amanda Waller (Viola Davis), uma mulher poderosa que interpretou o advento do Superman como um sinal dos tempos:
A próxima guerra será travada com meta humanos.
Waller usa sua influência e o medo que sua posição (jamais especificada) no governo inspira em outras autoridades para formar a Força-Tarefa X, um grupo formado pelos vilões mais habilidosos cumprindo pena no sistema carcerário norte-americano, e usá-los em missões com mínima chance de sucesso contra ameaças que as autoridades não estão equipadas para enfrentar, em troca da redução de suas penas.
Não tarda para que conheçamos os escolhidos de Waller para o grupo:
Floyd Lawton (Will Smith), o Pistoleiro, um assassino de aluguel cuja mira impecável lhe permite cobrar até dois milhões de dólares por uma morte.
Doutora Harleen Quinzel (Margot Robbie), ex psiquiatra do asilo Arkham cuja obsessão pelo Coringa a tornou uma marionete em uma relação abusiva com o príncipe palhaço do crime, a Arlequina.
O pirocinético de grande poder Chato Santana (Jay Hernandez), conhecido como El Diablo, o Crocodilo humano Waylon Jones (Addewale Akkynuoie-Agbaje), a arqueóloga June Moone (Cara Delevigne) que é possuída por uma bruxa de seis mil anos de idade chamada Magia, o ladrão de bancos e assassino George Harkness (Jai Courtney), chamado Capitão Bumerangue, e Christopher Weiss (Adam Beach), o Amarra, que pode escalar qualquer coisa.
Quando uma ameaça surge na cidade de Midway City rapidamente devastando a metrópole, não tarda para que esse grupo de rejeitados seja arrancado de suas celas, tenham uma micro-bomba plantada no coração, e recebem o aviso de que estão sendo alistados para uma missão.
Juntam-se a eles o condecorado militar Rick Flag (Joel Kinnaman) e a assassina oriental Katana (Karen Fukuhara), para uma missão de extração no meio de uma cidade dominada por um ente superpoderoso que controla um exército. Se a situação já não fosse complicada o suficiente, o criminoso psicopata conhecido como Coringa (Jared Leto) descobre o paradeiro da Arlequina e tem seus próprios planos que nada tem a ver com a missão do Esquadrão.
Conseguirá esse improvável grupo de vilões travestidos de heróis colocar suas diferenças de lado e salvar o nosso planeta?
Então...
O primeiro ato de Esquadrão Suicida é até interessante. A apresentação do conceito do grupo e dos personagens é esperta e ágil (Contando com participações do Batman Ben Affleck e do Flash Ezra Miller), infelizmente, daí pra frente o filme simplesmente descamba.
A missão dos vilões, além de absolutamente genérica, jamais justifica a formação daquele grupo específico de pessoas para enfrentar a ameaça em questão.
Quer dizer... Eu entendo a presença de El Diablo e Crocodilo, mas porque a Arlequina, o Capitão Bumerangue, o Amarra até mesmo o Pistoleiro são convocados para enfrentar uma criatura mística?
Aliás, pra que levar esses vilões armados com bastões, cordas e bumerangues se Flag levou um tremendo pelotão de elite formado por militares de verdade que, basicamente, fazem a mesma coisa com armas de fogo?
Depois de cerca de vinte minutos de apresentação, o filme passa a ser uma série de sequências de ação aborrecidas onde o grupo patrola um monte de capangas que não representa ameaça real após o outro durante a vaga missão ao qual os bandidos são forçados.
Pra piorar, David Ayer erra a mão na hora de escrever seus personagens, e Kinnaman não tem a presença que o líder da equipe deveria ter além de seu romance com June, a hospedeira humana de Magia, ser sonolento e sem graça.
Magia, aliás, é erro em cima de erro.
A personagem é reduzida a uma serpenteante gostosa de biquíni quando transformada e em uma guria choramingona e irritante quando na forma humana, o Crocodilo não tem meia dúzia de falas no filme e ainda assim, aparece e fala muito mais do que Katana.
El Diablo, que parecia um personagem capaz de ganhar simpatia com seu arco de poder contido e voto pacifista é desperdiçado, e sua trágica história pessoal parece forçada no meio do filme.
O Capitão Bumerangue é, de fato, o alívio cômico do filme, mas a verdade é que ele não é tão engraçado assim com suas cervejas e seu pônei de pelúcia, e o Amarra, então... Pobre Amarra.
Margot Robbie, por sua vez, é mesmo um dos destaques do filme. Ela é uma presença constante e a atriz australiana certamente pegou a manha de como interpretar a personagem, inclusive roubando algumas cenas, se há algum problema com a Arlequina é, por vezes, o texto que lhe foi dado.
Se Will Smith aceitou fazer o filme, então ele é obviamente o astro, o mais fodão e o líder de fato do grupo.
E o Coringa de Jared Leto...
Bom, o Coringa de Jared Leto não me agradou. Como um antigo fã do príncipe palhaço do crime, eu tenho níveis altos de exigência, e não achei que Leto acrescentou nada ao personagem que causasse impacto.
Esse Coringa é um gangster sádico e psicopata, mas... Não é o Coringa, entende?
Não há nenhuma explicação para o visual, as tatuagens, os dentes nem nada do tipo, então devemos supor que esse simplesmente é o Coringa do DCU no cinema. Um Coringa consideravelmente mais sexual do que qualquer outra das versões e que parece nutrir algum tipo de afeto por Harley...
O personagem até tem uma quantidade de tempo considerável em cena, levando-se em conta a quantidade de personagens, mas a verdade é que, apesar das queixas de Leto de quê muito do seu trabalho teria sido cortado na edição final, seu Coringa não empolga.
A Amanda Waller de Viola Davis, por outro lado, detona.
A atriz agarra com firmeza a personagem e bota todo mundo que contracena com ela no bolso sem dó nem piedade.
Mas e aí? Tudo o que DC faz no cinema é uma porcaria?
Não...
Eu gostei de O Homem de Aço e a trilogia das Trevas é simplesmente sensacional, mas de fato, até aqui, a DC está falhando miseravelmente em edificar um universo cinematográfico compartilhado nos moldes da Marvel.
Esquadrão Suicida falha como Batman v Superman falhou, mas por razões absolutamente distintas.
O filme parece ter sido feito pra abraçar a mesma vibe de filmes como Guardiões da Galáxia e Deadpool, mas não consegue porque isso parece estar além do que David Ayer é capaz de entregar, de modo que conforme uma canção pop surge na tela após a outra para apresentar os personagens (De House of Rising Sun a Simpathy for The Devil passando por Fortunate Son) com gráficos mostrando suas fichas técnicas, isso soa forçado. Parece simplesmente não ser algo com a qual o diretor se sentisse confortável em lidar.
Mesmo a grande qualidade de Ayer, mostrar laços de união que parecem verdadeiros entre seus protagonistas, falha em Esquadrão Suicida.
A união do grupo após algumas horas juntos em Midway City simplesmente não convence, especialmente quando é partilhada por Flag com os facínoras a quem ele desprezava no início.
Aliás, esses facínoras todos ganham um coração de ouro no filme.
Com o arco dramático mais completo do roteiro, O Pistoleiro está muito mais para um anti-herói do que para um vilão. El Diablo luta por redenção, Capitão Bumerangue fica chocado ao ouvir falar sobre a morte de crianças e até a Arlequina tem algumas palavras de sabedoria e aceitação para oferecer... Ora vamos...
Eu achava complicado fazer um filme com vilões porque, para fazê-los relacionáveis, seria necessário amainar suas piores características. Fazer isso sem descaracteriza-los era uma tarefa que demandava muito equilíbrio e o diretor de Sabotagem simplesmente não tem isso pra oferecer.
O que poderia ter sido um novo capítulo da DC nos cinemas após o fiasco de Batman vs Superman acaba sendo outra escorregada.
Agora é torcer para que Mulher-Maravilha e Liga da Justiça virem o placar.

"-Não esqueçam. Somos os vilões"

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Top -10 Casa do Capita: Os Piores Vilões de Adaptações de Quadrinhos

Ainda em clima de Esquadrão Suicida e da bandidagem que fez a transição dos quadrinhos para as telas, vamos relembrar quem são os vilões que pior fizeram essa transição.
O top-10 negativo a seguir é dedicado a cada senhor do crime, invasor alienígena, gângster, psicopata e déspota que se perdeu no meio do caminho e chegou na sua nova versão como um deplorável pastiche de si mesmo.
Acredite, o mais difícil aqui, foi chegar a apenas dez!

10 - Deadpool (Ryan Reynolds, X-Men Origens: Wolverine, 2009)


No primeiro terço de X-Men Origens: Wolverine, Ryan Reynolds apareceu interpretando uma versão de Deadpool que, no geral, era bastante acurada. Engraçadinho, sem noção de quando calar a boca e mortífero com um par de katanas.
Infelizmente, no desfecho do longa ele voltava como a criatura da foto acima. Completamente mudo e emulando poderes de dezenas de mutantes ao mesmo tempo num clímax extremamente aborrecido e exagerado que transformava o personagem num capanga de visual e habilidades ridículos.
Ainda bem que Reynolds e os fãs conseguiram convencer a Fox a dar outra chance ao personagem sete anos depois...

9 - Malekith (Christopher Eccleston, Thor: O Mundo Sombrio, 2013)


A verdade é que eu não achei Thor: O Mundo Sombrio um mau filme. Muito antes pelo contrário.
Naquele ano de 2013, a segundo incursão solo do deus do trovão à telona foi meu filme de super-herói preferido, superando o bilionário Homem de Ferro 3 e o injustiçado O Homem de Aço.
Eu achei que a disparatada mistura de ação, ficção científica e comédia de O Mundo Sombrio gerou um produto saboroso, e inclusive coloquei o filme na minha lista de favoritos do ano.
Mas Thor: O Mundo Sombrio tinha um grande problema:
O vilão Malekith, vivido por Chritopher Eccleston, que era péssimo.
Unidimensional, com personalidade vaga, o vilão era pouco mais que um acessório para fazer a trama andar, e seu objetivo de usar o Éther para "devolver o universo à escuridão", ou algo que o valha, era tão risível quanto esquecível, conseguindo fazer com que Malekith se destacasse negativamente em um universo cinematográfico conhecido pela má qualidade de seus vilões.

8 - Fanático (Vinnie Jones, X-Men: O Confronto Final, 2006)


Até parecia uma boa ideia sob determinado ponto de vista...
Vinnie Jones, com sua carranca de bandido inglês egresso dos longas criminais de Guy Ritchie para dar vida ao Fanático, um dos vilões mais fortes do universo dos X-Men era algo que poderia funcionar...
Talvez, inclusive tivesse funcionado se Matthew Vaughn tivesse efetivamente dirigido o longa, ou se Bryan Singer estivesse por perto.
Nas mãos de Brett Ratner, Jones foi envelopado em uma roupa de músculos de borracha com um capacete idiota e teve sua origem alterada para basicamente posar de maneira ameaçadora ao lado de Magneto, ter alguns flashes de luta contra Wolverine e ser derrotado por Kitty Pride sendo um dos pontos mais baixos do pior filme dos X-Men jamais feito.

7 - Hector Hammond (Peter Sarsgaard, Lanterna Verde, 2011)


É até covardia mirar Lanterna Verde em busca de alguma coisa pra colocar em uma lista de "piores", mas ei, X-Men Origens: Wolverine, também é e eu não me furtei de cutucar essa ferida.
Hector Hammond, o xeno biólogo vivido por Peter Sarsgaard na adaptação dirigida por Martin Campbell em 2011 tem um defeito gravíssimo... Bom... Tem vários, mas enfim... Ele deveria ser um sujeito normal, com quem a audiência pudesse sentir alguma empatia e lamentar quando, ao entrar em contato com a gosma amarela nas feridas de Abin-Sur, ele ele é possuído por Parallax.
Não é o caso.
Sarsgaard tem pinta de psicopata o tempo todo, de modo que, quando ele evolui de jovem com careca oitentista para cabeça-de-testículo pulsante, realmente não chega a fazer diferença pra ninguém.
Pra piorar, depois que ele mata seu pai, objeto de sua ira desde o início do longa, suas motivações ficam tão vazias que ele acaba solenemente escanteado, deixando a mensagem de que o cara bonito, sarado e popular sempre ficará com a guria mais gostosa, terá o emprego mais maneiro e chutará a cara do sujeito inteligente, tímido, retraído e deficiente físico...

6 - Galactus (Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, 2007)


Nos quadrinhos, Galactus, o ente de poder divino amaldiçoado por um apetite insaciável que o força a consumir planetas inteiros de modo a se manter vivo, originalmente tinha a aparência de um gigante de bermuda e camiseta de manga curta e um elmo enorme com hastes como diapasões nas laterais da cabeça.
O visual duvidoso sofreu algumas alterações ao longo dos anos, mas uma coisa era clara:
Ninguém ria de Galactus, porque o detentor do poder cósmico comia Planetas como a Terra em apenas uma refeição.
Na sequência do sucesso moderado de Quarteto Fantástico, a Fox e Tim Story, diretor do primeiro filme, resolveram capitalizar em cima da ameaça do devorador de mundos e de seu arauto, o Surfista Prateado.
Parecia uma ótima ideia, elevar o grau de ameaça e fazer o engraçadinho filme original evoluir para um filme de super-herói mais sério...
Ficou só no campo das ideias.
O segundo filme da Primeira Família da Marvel continuava sendo uma leve comédia pra toda a família, diluiu a presença do Surfista e transformou o poderoso Galactus em uma nuvem facilmente dispersável por seu próprio capanga num filme tão ruim que decretou o fim do Quarteto no cinema por oito anos.

5 - Samurai de Prata (Hal Yamanouchi, Wolverine - Imortal, 2013)


Nos quadrinhos, Kenuichio Harada, o Samurai de Prata é um personagem complexo e honrado, que vive pelo seu clã e, dependendo do momento, pode ser tanto um aliado quanto um antagonista, normalmente no universo dos X-Men, embora tenha surgido originalmente em um gibi do Demolidor.
No filme Wolverine: Imortal, de 2013, o Samurai de prata se transformou num exoesqueleto de adamantium parecido com o vilão de Robocop 2 utilizado por Ichiro Yashida, um velho que, tão grato por Logan ter salvado sua vida durante a Segunda Guerra Mundial, resolve tentar roubar o fator de cura do mutante canadense e viver, ele próprio, pra sempre.
Se nem as facetas tratadas com mais fidelidade em Wolverine: Imortal funcionaram, imagine então essa destrambelhada releitura de um antagonista clássico servindo de muleta à uma trama confusa e sonolenta?


4 - Venom (Topher Grace, Homem-Aranha 3, 2007)


Sam Raimi, um apaixonado pelos quadrinhos clássicos do Homem-Aranha, desprezava o Venom da mesma maneira que a maioria dos fãs da fase clássica do Aranha faz.
Prova disso é que o diretor tentou, de todas as maneiras que pôde, evitar a presença do simbionte alienígena na série de filmes que dirigiu para a Sony ente 2002 e 2007.
Não deu.
O estúdio acabou empurrando o vilão goela abaixo do cineasta que deu um jeito de encaixar o personagem em uma trama inchada com outros dois antagonistas (o Homem Areia e o Duende Macabro).
O resultado não podia ser outro:
Sem espaço para desenvolver dois novos personagens e mais os dramas que já cresciam havia dois filmes o Venom interpretado por Topher Grace foi pouco menos que um acessório, visual e intelectualmente equivocado, abordado de maneira atabalhoada por diretor e intérprete e reduzido a uma quase participação especial no clímax de um filme tão inferior aos predecessores que acabou por sepultar a série.

3 - Sr. Frio (Arnold Schwarzenegger, Batman & Robin, 1997)


Imagine o seguinte:
Um ator que não sabe atuar, usando uma maquiagem de glitter azul, uma armadura de néon, pilotando um veículo que parecia algo entre Mad Max e A Corrida Maluca, roubando diamantes enquanto lutava contra Batman e Robin (George Clooney e Chris O'Donell).
Isso foi Batman e Robin, o filme de Joel Schumacher onde, palavras de George Clooney: ele se juntou com Schwarzenneger para destruir a franquia Batman nos cinemas.
O Governator tinha um visual ridículo, destrinchou a trágica história de Victor e Nora Fries em uma paródia com tom camp de fazer Adam West corar e era incapaz de dizer dois diálogos sem fazer algum trocadilho com gelo de causar vergonha alheia.
Schwarza conseguiu ser a pior coisa em um filme com a Hera Venenosa de Uma Thurman dançando vestida de gorila, o Robin playboy e insuportável de O'Donell pedindo um Batmóvel porque as gatas curtiam e o sorridente e brincalhão Batman de George Clooney que não saía da caverna sem o Bat-cartão de crédito... E ainda há quem não entenda porque todos os nerds fãs do Batman têm uma vela acesa do lado da foto de Christopher Nolan.

2 - Doutor Destino (Julian McMahon, Quarteto Fantástico, 2005, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, 2007)


Vamos colocar as coisas da seguinte forma para quem não lê quadrinhos:
Se a Marvel fosse o universo Star Wars, Victor Von Doom seria Darth Vader.
O vilão que une habilidades místicas comparáveis às do Doutor Estranho, um gênio científico que rivaliza com o de Reed Richards, Hank Pym e Tony Stark, obstinação pétrea como a do Magneto e frieza psicopata digna do Duende Verde... Que é senhor do seu próprio país, a Latvéria, ao qual rege com as mãos de ferro de sua armadura, um híbrido perfeito de tecnologia e magia arcana e que toca órgão diante dos vitrais do castelo medieval que é seu palácio só podia ser O grande vilão do universo Marvel.
E é por isso que a versão do monarca de origem cigana apresentada em Quarteto Fantástico é tão desgraçadamente brochante quanto um chute nas gônadas.
O empresário inescrupuloso com escamosos trejeitos de galã de quermesse vivido por Julian McMahon não tem nada do garbo pérfido do vilão dos quadrinhos, nem sua majestade megalômana ou seu intelecto afiado.
Seus planos são chatos e óbvios, ele tem super-poderes tão genéricos quanto desnecessários e quando finalmente veste a máscara de Destino, ele parece um cosplay de baixo orçamento interpretado por um ator absolutamente comum.

1 - Lex Luthor (Jesse Eisenberg, Batman v Superman: A Origem da Justiça, 2016)


Reza a lenda que Zack Snyder e sua esposa entrevistaram Eisenberg para o papel de Jimmy Olsen nos estágios iniciais de produção de Batman v Superman. Após a entrevista, Snyder teria dito à patroa: "Esse cara é completamente louco. Não seria o máximo se ele fosse Lex Luthor?".
A resposta óbvia da senhora Snyder deveria ter sido "Não!", "Deus, não!", "Credo, não!" ou alguma coisa nessa linha.
Aparentemente ela não disse nada, e o resultado foi que Eisenberg foi, de fato, a nêmese de Superman no longa.
O resultado, claro, foi o esperado.
Eisenberg simplesmente não tem cancha pra convencer num papel que já foi de Gene Hackman e Kevin Spacey, e o aborda de maneira tão equivocada que até mesmo a interpretação de Michael Rosenbaum em Smallville parece trabalho de Lawrence Olivier na comparação.
Cheio de trejeitos deslocados, com um tom de voz que parece de um figurante de Uma Cilada para Roger Rabbit, com um plano absolutamente canhestro e um visual simplesmente idiota, Eisenberg, sob a batuta desastrada de Snyder conseguiu a proeza de errar de A a Z na construção do personagem, e ser a pior coisa de um filme repleto de problemas narrativos, além de ser, na opinião deste humilde blogueiro, o pior vilão de uma adaptação de quadrinhos para o cinema.

Top 10 Casa do Capita: Os Melhores Vilões de Adaptações de Quadrinhos

Esquadrão Suicida se avizinha, nerdalhada. A superequipe da DC formada pelo pior do pior está logo ali, já diria Fernando Vanucci, e é no clima da Força-Tarefa X de Amanda Waller em sua missão de utilizar a escória do universo DC para algum objetivo mais nobre, que mais um infame top-10 Casa do Capita toma forma.
Na listinha a seguir, vamos elencar os dez vilões que fizeram com mais garbo, maldade e elegância a transição das páginas dos gibis para as telas do cinema e da TV.
À lista:

10 - O Mandarim (Ben Kingsley, Homem de Ferro 3, 2013)


"Tu tá de sacanagem, né? O Mandarim?"
Eu sei, eu sei... No final das contas Trevor Slattery era só uma isca engendrada por Aldrich Killian (Guy Pearce), o verdadeiro antagonista de Homem de Ferro 3... Verdade, mas até o momento em que esse esquema idiota e infeliz era exposto, o Mandarim era um puta vilão!
O personagem que aparecia na TV sob a flâmula dos Dez Anéis era um brilhante amálgama de todos os medos xenófobos norte-americanos com a voz, o vernáculo e a carranca de um Osama Bin Kingsley de meter medo.
Suas declarações televisivas repletas de espetáculo, lições de História e ameaças veladas eram sensacionais e o mero fato de que ele não ser, de fato, o vilão do filme ter estragado a experiência de tanta gente no cinema (eu me incluo aí) já é testemunho do quão acertada era a direção seguida por Kingsley até o absurdo "desvio Slattery" engendrado por Shane Black, e de que mesmo a melhor das ideias pode avacalhar uma trama se for mal aproveitada.

9 - Obadiah Stane (Jeff Bridges, Homem de Ferro, 2008)


Que belo engano, não? O primeiro filme produzido pelos estúdios Marvel apresentou um ótimo vilão, um artigo que se tornou mais e mais raro a cada filme do estúdio da Casa das Ideias...
O Obadiah Stane interpretado por Jeff Bridges no primeiro Homem de Ferro tinha um equilíbrio que a Marvel teria sérias dificuldades de reproduzir dali pra frente. O industrial tinha objetivos e métodos extremamente críveis dentro da realidade proposta no longa, e transitava entre um jeitão camarada e paternal de ser com tanta naturalidade diante de Tony (Robert Downey Jr.) que, ali pela metade do filme, em especial na sequência da pizza, era até uma lástima que ele fosse o malvado do filme.
O jeito bonachão estilo "tio Obi" ser apenas uma máscara para um sujeito vil e desprezível capaz de apunhalar seu pupilo e amigo pelas costas era de cortar o coração, e isso, por si só, já deixava clara a excelência do trabalho de Jeff Bridges na interpretação e do diretor Jon Favreau na condução do personagem.

8 - Lex Luthor (Kevin Spacey, Superman - O Retorno, 2006)


Durante muito tempo, o Lex Luthor definitivo, pra mim, seria uma mistura do personagem vivido por Gene Hackman nos filmes 70/oitentistas estrelados por Christopher Reeve, com o vilão que John Shea interpretou nas primeiras temporadas do seriado Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman.
Era provavelmente porque essa mistura, na minha cabeça, seria basicamente o Luthor da reformulação pós-Crise nas Infinitas Terras de John Byrne, a minha versão favorita do vilão careca.
Quem mais chegou perto dessa minha versão idealizada de Lex Luthor foi Kevin Spacey, que em Superman - O Retorno, interpretou o mesmo personagem de Hackman mas ofereceu-lhe, além da megalomania galhofeira do intérprete original da "Maior Mente Criminosa de Nosso Tempo", uma qualidade sinistra, uma perspicácia psicopata e um impulso homicida que ficavam evidenciados em diversos momentos do longa, como na sequência em que ele explicava o mito de Prometeu, quando falava com Lois Lane (Kate Bosworth) no iate a respeito de seu plano, ou quando apunhalava o Superman (Brandon Routh) com um punhal de Kryptonita.
Ao tornar o Luthor setentista mau de verdade, e lhe dar a inveja que é o cerne do ódio do vilão por Superman, Kevin Spacey ganhou um espaço nessa galeria, e merecia um filme à altura de seu talento.

7 - Duende Verde/Norman Osborn (Willem Dafoe, Homem-Aranha 2002)


Visualmente equivocado, mas magnificamente idealizado por Sam Raimi e interpretado por Willem Dafoe, o vilão do primeiro Homem-Aranha conseguia a proeza de não ser um mero acessório no filme do herói.
Durante os dois primeiros atos de Homem-Aranha, a audiência acompanhava em paralelo as histórias de Peter Parker (Tobey Maguire) e de Norman Osborn, e antevia o momento em que seus caminhos se cruzariam tornando-os nêmeses definitivas.
Se a armadura verde e o capacete estático não eram o melhor dos visuais, Dafoe conseguia, através das aberturas da máscara, mostrar seus olhos de maluco e sua bocarra retorcida num sorriso tenebroso oferecendo seu próprio rosto para avivar a figura sobre o planador.
Se nada disso te convencer da importância de Dafoe, deixa eu te lembrar que ele "foi Gollum" antes do próprio Gollum, na ótima sequência em que, diante do espelho, Norman travava diálogo com a personalidade homicida do Duende.

6 - General Zod (Michael Shannon, O Homem de Aço, 2013)


O Homem de Aço é um filme irregular. Muito de seus problemas está, óbvio, na mão pesada de Zack Snyder, um diretor com sérios problemas para conduzir narrativas, mas que compensa isso com uma ótima noção de visual e excelente coreografia de ação.
Se o longa que, em 2013, recontou o mito do Superman claudicava na superexposição, na onipresença por vezes risível da Lois Lane de Amy Adams e exagerava na apocalíptica luta final, não é menos verdade que tinha lá seus acertos.
Um dos maiores foi a abordagem do General Zod, vilão vivido por Michael Shannon, um dos poucos, senão o único dos vilões da história recente do cinema que tinha uma boa razão para seus planos genocidas de destruição da Terra.
Zod era um militar criado desde a matriz genética para proteger Krypton e garantir a manutenção de sua espécie a qualquer custo, logo, sete bilhões de vidas humanas (e uma kryptoniana, a de Kal-El), pareciam-lhe naturalmente um preço bastante justo a pagar pela reconstrução de seu planeta natal.
O discurso carregado de amargura de Zod após a destruição do Motor Mundo e da incubadora que faria os Kryptonianos que habitariam a Terra era o testemunho de um personagem com um objetivo de verdade, e por isso, mais sua sádica sanha vingativa, Zod ganha um posto aqui.

5 - Bane (Tom Hardy, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, 2012)


O terrorista que "foi expulso de uma gangue de psicopatas" e retornou como seu líder para cumprir o destino de Ra's Al Ghul à frente da Liga das Sombras só não ocupa um lugar mais alto nessa lista porque deixar o homem mais perigoso do mundo numa prisão de onde qualquer um pode fugir se tiver uma vontade pétrea o suficiente é um péssimo plano...
Ainda assim, o vilão interpretado por Tom Hardy no segmento final da trilogia das Trevas de Christopher Nolan merece seu lugar ao sol. Ameaçador física e intelectualmente, a massa de músculos volumosos com uma voz que soava como Sean Connery através de um interfone com chiado era um sinistro e formidável oponente para o cavernoso cavaleiro das trevas de Christian Bale.
A sequência de luta dos dois antagonistas na galeria de esgoto era épica, e a forma como Bane alardeava sua superioridade ao Batman enquanto tratava as habilidades do cruzado encapuzado com rancorosa condescendência ou a maneira imperativa com que ele garantia que o alquebrado Bruce Wayne só morreria quando ele permitisse são apenas dois dos momentos memoráveis do vilão ao longo do filme.
Graças à abordagem de Nolan e ao talento de Hardy, o nanico ator inglês de 1,75 metro não ficava devendo nada em termos de intimidação ao Bat-Bale de quase 1,90, e quando Bane quebrava o maior detetive do mundo, nós não nos sentíamos enganados.

4 - Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio, Demolidor, 2015)


No terceiro episódio da primeira temporada de Demolidor, foi apresentado o Wilson Fisk de Vincent D'Onofrio.
De suas primeiras palavras, dizendo que uma pintura o fazia se sentir sozinho, até sua luta derradeira com o herói de Hell's Kitchen passando por suas explosões de ira e seu modo quase infantil de se comportar nos primeiros encontros com Vanessa (Ayeleth Zurer), D'Onofrio edificou, junto com os roteiristas e diretores da série, um dos mais complexos e humanos vilões de uma adaptação de quadrinhos para qualquer mídia.
O comportamento errático, a forma como, mesmo tranquilo, ele parece à beira de um ataque de fúria que poderá culminar com uma cabeça esmigalhada, a frieza superficial recheada da personalidade de um homem com sérios problemas psicológicos, tudo isso embrulhado na abrutalhada figura de D'Onofrio, com mais de um metro e noventa e cento e trinta generosos quilos de ódio tornaram Wilson Fisk, o Rei do Crime, um personagem incrivelmente rico, humano, palpável e ameaçador capaz de roubar a cena em uma série cheia de personagens interessantes e bem construídos, e lhe garantiu um lugar próximo do topo da lista.

3 - Loki (Tom Hiddleston, Thor, 2011, Os Vingadores 2012, Thor: O Mundo Sombrio, 2013)


Se fosse apenas por popularidade, talento e carisma, Loki certamente poderia estar até mais perto da ponta nessa lista.
O deus nórdico da mentira, afinal de contas, conseguiu a proeza de roubar o filme do loiro, alto, forte e bonito Chris Hemsworth não uma, mas duas vezes, e bater de frente com o dono da festa Robert Downey Jr. em Os Vingadores.
O vilão que surgiu como um adotado cujo complexo de inferioridade ameaçava destruir uma espécie inteira em Thor, evoluiu para um déspota com delírios de domínio global em busca de adoração em Os Vingadores e finalmente se tornou um aliado relutante do irmão bonzinho em Thor: O Mundo Sombrio é interpretado com galhardia ímpar por Tom Hiddleston, um ator cheio de recurso dramático que obviamente se diverte às ganha quando incorpora o vilão.
Maquinador, manipulador, mesquinho e divertidamente cínico, Loki finalmente ascendeu ao trono de Asgard após forjar a própria morte, e eu só posso imaginar que não era o único no cinema torcendo pelo vilão que se estabeleceu com justiça como um dos melhores antagonistas dos "filmes de gibi", e senta em um merecido lugar no pódio.

2 - Magneto (Ian McKellen/Michael Fassbender, série X-Men, 2000 a 2014/2011 a 2016)


A coisa mais importante de Magneto não é a extensão de seus poderes quase divinos, nem sua pétrea determinação ou pungente inteligência.
Não...
A coisa mais importante, e assustadora a respeito de Magneto, é que ele está certo.
Na realidade estabelecida no universo dos X-Men, seja nos quadrinhos, nos desenhos ou na longeva série cinematográfica, o ódio da humanidade pelos mutantes jamais se apaga completamente, e sempre haverá algum episódio capaz de reacendê-lo quando ele eventualmente entra em estado dormente.
Como representante não de uma, mas de duas minorias oprimidas, é perfeitamente natural que Eric Lehnsherr jamais descanse em sua furiosa obstinação de impedir, não importa de quê maneira, que o mesmo destino de seus compatriotas durante a Segunda Guerra Mundial recaia sobre seus irmãos mutantes.
Interpretado com maestria pelos ótimos Ian McKellen e Michael Fassbender, Magneto é ao mesmo tempo uma força irresistível e um objeto inamovível, com uma lógica que não pode ser negada e um lugar reservado no pódio desta lista.

1 - Coringa (Batman - O Cavaleiro das Trevas 2008)


O Coringa sempre teve lugar garantido em qualquer rol de vilões que se dê ao respeito, mas nenhuma encarnação do príncipe palhaço do crime alcançou o patamar da versão trazida à vida por Heath Ledger para o espetacular Batman: O Cavaleiro das Trevas, dirigido por Christopher Nolan.
O assassino caótico que só quer ver o mundo pegar fogo é a antítese definitiva do Batman de Christian Bale, levando o homem-morcego ao seu limite mental ao enredá-lo em uma complexa trama de assassinato e corrupção numa disputa pela alma de Gotham City e de seu mais iluminado campeão.
Heath Ledger criou um retrato icônico e soberbo do personagem ao misturar uma versão modernizada do visual clássico do palhaço, com o terno roxo e a maquiagem facial anárquica, com a tintura branca mal aplicada, o negro ao redor dos olhos e o batom vermelho cobrindo a cicatriz do "sorriso glasgow" combinando-se à uma série de tiques nervosos, uma voz que podia subir ou descer duas oitavas durante um mesmo diálogo, indo de um tom quase amigável e bufão até um rosnado gutural, e um caminhar que, da mesma forma, imitava o modo de um palhaço andar, enquanto os ombros se arqueavam como os de uma hiena.
Agraciado com um Oscar póstumo além de várias outras premiações, e tendo estabelecido um patamar elevadíssimo para um personagem que já tinha cadeira cativa no imaginário nerd, o Coringa de Heath Ledger ganha o merecido posto no lugar mais alto do pódio, e torna a missão de Jared Leto em O Esquadrão Suicida ainda mais indigesta.