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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Resenha Série: Game of Thrones: Temporada 6 - Parte 3


Os oito primeiros episódios da sexta temporada de Game of Thrones havia estabelecido que esse era, fácil, o melhor ano da série desde o segundo.
Era como se, ao se livrar das amarras da literatura, a série pudesse seguir apenas apontamentos de George R. R. Martin e andar em seu próprio passo sem se preocupar com o severo escrutínio dos fãs dos livros, e nem ter que conviver com as injustas comparações entre a obra original e a adaptação, uma queda de braço onde a adaptação sempre perde.
Após oito capítulos bastante movimentados, salvo por um eventual respiro de intriga palaciana, uma característica que nos livros funciona bem melhor do que na TV, era hora de deixar o pau cantar de novo.
O nono episódio da temporada, The Battle of The Bastards prometia o confronto derradeiro entre Ramsey Bolton, senhor de Forte do Pavor, Winterfel, e Protetor do Norte, e as minguadas forças de Sansa Stark e Jon Snow, desfavorecidos em uma margem de 3 para 1, praticamente sem cavalaria, e com a maior parte de sua tropa formada por selvagens sem grande disciplina tática.
Atenção, a partir daqui, há spoilers.
Antes disso, porém, demos uma boa parada em Mereen. Daenerys chegara à ex-cidade escrava montada em Drogon bem na hora em que a merda havia virado chapéu. Sitiados em sua pirâmide, cercada pela frota naval dos Mestres da baía dos Escravos, Daenerys, Tyrion, Missandei e Verme Cinzento foram ter com os gananciosos mercadores de gente para discutir os termos de rendição.
Mas não da forma como os Mestres esperavam.
Com o apoio dos Imaculados, de uma tropa absurda de dothraki, de Drogon e dos recém libertados Viserion e Rhaegal, Dany não precisou de muito tempo para convencer seus inimigos da futilidade de sua resistência.
Na verdade, bastou um "dracarys".
No Norte, porém, as coisas estavam um pouco mais crespas. Após um encontro com Ramsey, Davos, Tormund e Jon estavam formulando a estratégia de combate de modo a resgatar Rickon. Porém, após a conversa, Sansa deixou claro que não gostou de não ter sido ouvida na reunião estratégica, tendo em vista que ela, mais do que ninguém, conhecia o inimigo. Foi interessante ver como ficou a dinâmica do relacionamento entre Jon e Sansa.
O bastardo nortista segue sendo um honrado bom moço exatamente igual a seu pai (?), Ned Stark, Jon aliás, estava vestindo o mesmo tipo de armadura, de capa e até prendendo o cabelo do mesmo modo que Ned, parecendo, mais do que nunca, um verdadeiro herdeiro da tradição da casa. Sansa, por sua vez, mostrou que aprendeu durante se longo período de martírio.
Ela manteve-se lógica e até fria frente ao destino de Rickon, e, no fim das contas, tinha razão, como descobrimos na manhã seguinte.
O bastardo louco da casa Bolton de fato assassinou o caçula dos Stark diante de Jon e sua tropa, forçando o ex-senhor comandante da Patrulha da Noite a mandar seu plano de batalha lá pra Casa do Capita em uma desesperada e infrutífera tentativa de salvar o meio-irmão.
Com isso, Ramsey e seus homens ganharam a vantagem. Ainda que Jon tenha deixado bem claro no campo de batalha que os dias de Jaime como o melhor espadachim de Westeros já eram (ao menos na série Jon parece o grande lutador do mundo), não demorou para que suas minguadas tropas se vissem em maus lençóis frente ao poderio da cavalaria, infantaria e dos arqueiros do sádico Ramsey.
Á certa altura, com a tropa leal aos Stark cercada de todos os lados pela infantaria Bolton, Tormund sendo arrebentado por Smalljon Umber, e Jon soterrado por cadáveres e combatentes no meio da lama, chegou a dar a impressão de que Game of Thrones, em sua melhor tradição, poderia presentear a audiência com mais uma tragédia. Talvez a mais desgraçada de todas, com o recém ressuscitado Jon Snow derrotado e morrendo de novo, dessa vez nas mãos de um dos mais óbvios vilões da série.
Todavia, quando tudo parecia perdido, Petyr Baelish e os cavaleiros de Vale chegaram no último instante, pendendo a luta novamente para o lado dos Stark, e confirmando para onde a misteriosa carta de Sansa havia sido enviada.
Percebendo que a coisa ficara feia pro seu lado, Ramsey foge de volta para Winterfel, preparando-se para um sítio.
Nem dá tempo.
O gigante Wun-Wun, com seus últimos suspiros, arrebenta os portões da cidadela, garantindo a entrada de Jon, Tormund e seus comandados, e selando o destino de Ramsey.
Cheio de momentos espetaculares, a Batalha dos Bastardos foi crua e brutal, bem coreografada, com efeitos especiais top de linha. Sem sombra de dúvida a melhor batalha da série até aqui, e uma redenção e tanto anos após a brochante batalha do Água Negra. O momento em que Tormund vira o duelo contra Smalljon, a luta entre Jon e Ramsey, até mesmo a previsível chegada das tropas de Vale, tudo funcionou em The Battle of The Bastards.
E, enquanto em Mereen, após a derrota dos Mestres, Daenerys fechou um acordo com Yara e Theon Greyjoy (que só podem ter trapaceado e usado barcos a motor pra chegarem tão rápido ao outro lado do Mar Estreito), os estandartes do lobo cinzento voltavam a tremular em Winterfel, e Ramsey enfrentava a justiça de Sansa Stark.
Disparado o melhor episódio da série em todos os tempos, A Batalha dos Bastardos poderia ter sido um espetacular fecho para a temporada, mas ainda faltava mais um passo.
O episódio 10, The Winds of Winter nem tinha como ser focado na ação após as massivas batalhas do capítulo anterior, mas teve um começo explosivo e sinistro. No Grande Septo de Baelor, o alto Pardal e seus militantes da fé estavam em polvorosa com os julgamentos de Loras e de Cersei, que com a ajuda de Qyburn, tocou a fé militante feito um violino, e torrou seus problemas ao estilo Rei Louco, colhendo os frutos de sua insana semeadura logo em seguida, confirmando mais uma das previsões de Maggy a Sapa.
Enquanto nas Gêmeas, Walder Frey e Jaime Lannister trocavam farpas, em Dorne (ZzZzZzZzZ) Ollena Tyrell e as Serpentes da Areia firmavam uma aliança abençoada por Varys (ele deve ter pego o mesmo trem bala que levou Theon e Yara a Mereen), e além da Muralha, Bran revisitou a Torre da Alegria, após Ned sobreviver ao combate contra Arthur Dayne.
Ali tivemos mais um forte indício indo ao encontro da teoria dos fãs R+L=J conforme Ned chega ao quarto onde Lyanna está e ouve dela o pedido de que cuide do bebê que acabara de dar à luz, e o esconda, pois se Robert (Baratheon) soubesse de sua existência, o mataria.
Não há confirmação de que o pai do bebê de fato seja Rhaegar Targaryen, Lyanna sussurra algo inaudível no ouvido de Ned e Bran parece não ouvir, talvez seja a identidade do pai, mas já sabemos com uma boa dose de certeza que a Lyanna é a mãe de Jon Snow.
Dali, voltamos a Winterfel, onde, após serem chineliados pela caçulinha senhora Mormont, os lordes nortistas aclamam Jon Snow o Rei do Norte, dando eco aos sussurros maliciosos de mindinho no ouvido de Sansa pouco antes.
Em Mereen, Daenerys teve uma cena tocante com Tyrion, um dos personagens mais fodas da série que foi bastante escanteado ao longo do ano 6. De qualquer forma, foi bacana perceber que, a despeito das falhas do Duende em proteger a cidade, seus esforços e conselho ainda são apreciados por Dany.
Sam finalmente chegou à Cidadela (e eu me pergunto onde ele vai enfiar Gilly, que ficou bem bonitinha limpa e Sam Jr. enquanto estuda.), Davos pediu a cabeça de Melisandre após descobrir o destino de Shireen Baratheon, e, nas Gêmeas, Walder Frey recebeu a mais surpreendente e satisfatória (para os fãs) visita que poderia receber, quando a serviçal que lhe entregou uma fatia de torta não era bem quem parecia ser.
Game of Thrones sempre se notabilizou pela qualidade da produção, dos figurinos aos objetos de cena, às atuações e direção, mas vinha claudicando nas duas últimas temporadas, que mais pareciam encheção de linguiça entre uma desgraça e a próxima. O ano seis do programa alterou de maneira completa esse panorama, e mesmo saber que esse festival de pingos nos is é sinal inefável da aproximação do fim do seriado, não rouba a satisfação de ver a história andando com ritmo e, pra variar, alguns bons momentos após tantas tragédias.
Agora especula-se que os anos sete e oito de GoT possam ter apenas oito (e não dez) episódios, ou até que o ano sete seja o derradeiro. Seja como for, os produtores parecem ter encontrado com a sexta temporada a fórmula definitiva do seriado, de modo que, seja como for, David Benioff e D. B. Weiss só precisam manter a (enorme) qualidade apresentada nesses últimos dez capítulos para dar um fecho mais do que digno a Game of Thrones.
Valar Morghulis, senhores produtores.

"-Chegou um corvo da cidadela. Branco... O inverno chegou.
-Bem... O pai nos avisava há tempo."

Resenha Série: Game of Thrones: Temporada 6 - Parte 2


A primeira metade da temporada de Game of Thrones havia tido um primeiro episódio ruim, três episódios bons, e um episódio espetaculoso, mas a real é que muito do que funcionara nesses primeiro episódios, pra mim, havia sido a ressurreição de Jon Snow, o personagem que se tornara o óbvio herói da série, exatamente da maneira que eu (e provavelmente todo mundo que lia os livros) imaginava que aconteceria.
The Door havia sido um pico da série em termos de revelações e drama, e era de se imaginar o que viria a seguir, aliás, a seguir, há spoilers.
O sexto episódio da temporada, Blood of My Blood teria muitas dificuldades para segurar a peteca de The Door, de modo que uma queda de ritmo seria até natural. Ela veio, mas foi amainada com a presença de um personagem que, nos livros, me era muito caro, e que havia sido solenemente ignorado na série até aqui:
Mãos Frias.
Nos livros, Mãos Frias ajudava Sam e Goiva (nos livros Gilly se chama Goiva) a chegar à Muralha após o massacre na casa de Craster, e lá, encontra Bran e companhia, os levando até o Corvo de Três Olhos. O personagem estava sempre encapuzado e com um manto enrolado no rosto, de modo que havia algumas teorias sobre sua identidade que, na série, foi confirmada:
É Benjen Stark, irmão de Ned a quem Jon procurava desesperadamente desde a primeira temporada.
Ele surge do nada transformado em um tipo de zumbi do bem pelos Filhos da Floresta para salvar Meera e Bran dos Outros e acompanhá-los em segurança até a Muralha.
Mas não foi só o que aconteceu no episódio, claro...
Em Porto Real o clima entre o Pequeno Conselho, Jaime e Cersei Lannister e a Fé Militante do Alto Pardal segue pesado, e aborrecido.
Esse núcleo é o mais chato da temporada, provavelmente porque os personagens se dividem entre maquinadores vis e zelotes religiosos brutais, o que deixa a audiência sem ter pra quem torcer. É quase como um jogo de futebol entre Corinthians e grêmio, onde eu quero que os dois percam. Ali ao menos existe Margaery Tyrell, uma personagem que ao menos se opõe à Cersei e trama tão bem quanto a vilã, e é uma personagem com quem se pode simpatizar ao menos um pouquinho... De qualquer forma, nem mesmo o banho de sangue prometido por Jaime rolou, já que Tommen foi manipulado pelo alto septão e cancelou a porra toda.
Daenerys deu uma conveniente corrida com seu plano de chegar a Westeros agora que tem os Imaculados e um puta Khalasar gigante. Ela precisa de mil navios para carregar essa trpa toda, exatamente o que Euron Greyjoy disse que construiria... Mas antes, ela precisa chegar a Mereen.
Em Braavos, Arya pareceu ter chegado a seu limite. Não foi o treinamento brutal, ter sido cegada nem nada do gênero. A jovem Stark simplesmente deu a impressão de não querer ser uma força do mal no mundo. Matando boas pessoas apenas porque alguém pagou por isso. Vê-la desenterrando a Agulha foi bacana, mas agora a guria vai precisar lidar com a Criança Abandonada, que não parece disposta a perdoar o terceiro deslize.
Além disso longa viagem de Sam rumo à Vila Velha chegava em terra após longo período de vômitos e enjoos marítimos. Sam e Gilly chegaram à Horn Hill, onde conhecemos a família Tarly. As adoráveis mãe e irmã de Samwell, seu pomposo irmão e seu odioso pai (Westeros é um lugar repleto de pais horríveis, pelo jeito). Foi bacana ver Sam decidindo-se a não aceitar a oferta de seu pai, e partindo com a Veneno do Coração em uma mão, Gilly e Sam Júnior na outra.
Também tivemos os retornos dos sumidos Walder Frey e de Edmure Tully após longa ausência.
Embora o episódio não tenha sido particularmente espetacular, Blood of My Blood fez um fan service maneiro, e garantiu que a queda de adrenalina não fosse muito traumática.
O episódio seguinte, The Broken Man, trouxe de volta um personagem favorito dos fãs, Sandor Clegande, o Cão de Caça, o que foi maneiro. Entretanto, seu arco de retorno, reformado e vivendo de seu trabalho em uma comunidade de camponeses pacíficos e a subsequente vingança, parecia um filme dos anos oitenta passado em Westeros. Jaime sendo enviado para o cerco dos Frey em Correrio foi interessante, mais pelos retornos de Bronn e Peixe Negro, enquanto que, em Braavos, Arya levou umas facadas na barriga por sua própria culpa. Ela acaba de desertar a mais mortífera ordem de assassinos invisíveis do mundo e sai andando alegremente pela praça esbanjando grana e sorrindo pros transeuntes?
O ponto alto do episódio, porém, foi o tour de Sansa e Jon pelas casas do Norte buscando apoio. Não pela missão em si, mas por apresentar Lyanna Mormont, sobrinha do senhor comandante Jeor e a prova viva de que nem todas as crianças líderes de Westeros precisam ser idiotas como Tommen e Robin Arryn ou psicopatas como Jofrey. A fedelha ruleou bonito em meio aos claudicantes senhores das casas nobres nortistas, e mostrou que os Stark não são a única casa decente da região, ainda que a falta de apoio dos antigos aliados tenha colocado Sansa em uma posição delicada, enviando Brienne para pedir o auxílio de Peixe Negro em Correrio, e uma carta misteriosa pedindo socorro à sabe Deus quem pelas costas de Jon.
O oitavo episódio da temporada, No One, trouxe um encerramento ao arco de Arya, que se arrastava desgraçadamente já há algum tempo. Uma ótima cena de perseguição, por Braavos entre Arya e a Criança abandonada culminando com um duelo onde Arya espertamente usou seu treinamento contra a instrutora.
Houve o reencontro entre Jaime Lannister e Brienne, que foi, de certo modo, tocante, ainda que a encarnação "As coisas que fazemos por amor" de Jaime seja um tanto aborrecida pra quem o viu além desse momento nos livros. O fim do cerco, por sinal, foi bastante rápido e terminou com um personagem muito bacana morrendo fora da tela a exemplo do que havia ocorrido com Stannis no ano 5.
O marasmo das passagens em Porto Real foi quebrado com Cersei usando Gregor Clegane (na série ele não se torna Sor Robert Strong, como nos livros) como uma arma para tocar o horror na Fé Militante, enquanto o tinhoso meistre Quyburn começou uma investigação para a Rainha mãe.
Sandor Clegane distribuiu umas machadadas e acabou se reencontrando com a Irmandade sem Bandeiras de Berric Dondarion e Toros de Myr. Foi bacana saber que, a despeito do que fora sugerido no episódio anterior, a Irmandade não se tornou um bando de bandidos da floresta. A punição do grupo para os dissidentes, por sinal, acenou com a presença de uma personagem pela qual os leitores esperam ansiosamente...
Em Mereen, Tyrion descobriu que todas as suas tentativas de fazer as pazes com as cidades escravagistas deram em nada conforme a frota de guerra dos senhores chegam bombardeando a pirâmide de Daenerys sem dó nem piedade, confirmando os temores de Verme Cinzento e Missandei.
Fechando a conta, Cersei recebeu a pior notícia do mundo quando Tomen proibiu os julgamentos por combate em Westeros, o que impossibilitou a utilização de Sor Gregor, enquanto a falha de Brienne e a morte de Peixe Negro, por sua vez, minguou o exército de Jon e Sansa, e deixou os irmãos Snow/Stark em maus lençóis para a batalha que se avizinha no episódio seguinte.
Falaremos dele na sequência.

"-Então a garota finalmente se tornou Ninguém..."

terça-feira, 28 de junho de 2016

Resenha Série: Game of Thrones: Temporada 6 - Parte 1


Eu gostei de Game of Thrones.
Muito. Não foi amor à primeira vista, foi um amor mais complicado... Que demandou tempo até que nos conhecêssemos e pudéssemos estabelecer uma relação significativa.
Pra mim, não foi olhando de esguelha o primeiro episódio da série, que assim, não me chamou a atenção.
Foi assistindo meia-dúzia de capítulos em sequência numa maratona da HBO.
Adorei a primeira temporada, e gostei demais da segunda.
A terceira foi OK, e OK apenas, com eventuais picos de excelência...
A quarta, foi mediana, com ainda menos picos de bom entretenimento, e a quinta... Ugh... A quinta temporada era um amontoado de dez episódios onde se salvavam apenas dois.
A minha relação com a série, por sinal, azedou muito depois de eu ler os livros d'As Crônicas do Gelo e Fogo, e , depois disso, perceber que, ao contrário do que chegou a ser alardeado entre os anos três e quatro, ao invés de a série aumentar seu número de episódios, ou dividir cada livro em duas temporadas, eles apenas diluíram mais informação em um período igual (e apertado) de tempo.
Desvios de rota violentos foram feitos em nome dessa necessidade de enxugar o inacreditavelmente populoso mundo de George R. R. Martin nos livros.
Personagens que ainda estavam vivos no livro morreram na TV, personagens mortos na literatura foram mantidos vivos na série, e personagens interessantíssimos na literatura simplesmente não apareceram.
Eventos pelos quais ansiávamos nos livros foram apressados na TV, e mostrados sem a pompa e a circunstância que mereciam para quem os lera em preto no branco nas páginas de George R. R. Martin enquanto subtramas sem sentido nem graça eram levadas adiante... Perguntas e mais perguntas surgiam sem resposta, e por vezes os dez episódios se arrastavam enquanto a audiência via absurdos como a antiga Valyria ser mostrada como um pântano com umas ruínas daqui e dali, e Jaime Lannister viajando com Bronn à uma Dorne desgraçadamente chata, de onde o único personagem maneiro era Oberyn Martell, já morto.
Eu escrevi sobre o ano 5, que Game of Thrones "parecia cada vez mais com um fanfic vagamente baseado nos livros".
Eu estava sendo sincero.
E o primeiro episódio da temporada seis, The Red Woman, não fez exatamente maravilhas pela minha pretensão do que viria a seguir.
Um episódio apressado, com uma cena de luta mais ou menos entre Brienne e Pod contra os capangas de Ramsey Bolton, e um golpe de Estado de alguns minutos em uma Dorne para a qual absolutamente ninguém liga fez parecer que os nove episódios seguintes seriam uma triste repetição do ano 5, e só me restava torcer para que, em meio às quase nove horas subsequentes de tristeza houvesse um Durolar, episódio mais legal da temporada anterior e um dos mais bacanas da série, perdido no caminho para fazer a viagem toda menos indigesta.
Atenção, a partir daqui, haverá spoilers...
As coisas mudaram bastante no segundo episódio, Home.
Não para todo o episódio, mas em seu desfecho. O capítulo que trouxe Bran de volta após uma temporada sumido, e apresentou o corvo de três olhos (Max von Sydow) tinha, como ponto alto, o flashback mostrando Ned, Benjen, Lyanna e Brandon Stark crianças, e mostrando que Bran podia, agora, acessar a memória de toda a Westeros graças ao seu poder da Visão Verde, enquanto Sansa aceitava o serviço de Brienne.
Fora isso, havia uma chatíssima cena de Jaime Lannister com o alto pardal, intriguinhas familiares entre Cersei e Tommen, mais cenas da Aria apanhando da Criança Abandonada em Braavos e Tyrion tentando se virar com o sumiço de Daenerys após o ataque na arena em Mereen, inclusive arriscando MUITO o próprio pescoço ao entrar no fosso dos dragões. Houve espaço para a malvadeza de Ramsey Bolton chegar a níveis estratosféricos usando seus cachorros, e, finalmente, o que todos esperavam, Davos pedindo para Melisandre realizar um milagre, e a bruxa obtendo sucesso.
Era um episódio incrivelmente cheio, inchado, até, que ainda tinha espaço para os Greyjoy, os dothraki, para Jorah e Daario Naharis em sua missão de resgatar Daenerys, mas que finalmente mostrou que a série poderia engrenar de novo.
A ressurreição de Jon Snow marcou um novo momento em Game of Thrones.
No capítulo seguinte, Oathbraker, nos mostrou o que parecia um passo atrás do programa, com Daenerys novamente no deserto sendo tratada feito escrava pelos Dothraki, e descobrindo que seria largada em Vaes Dothrak para assumir seu posto de viúva de Khal, enquanto Arya seguia sendo surrada pela criança abandonada, agora, dentro da Casa do Preto e Branco, sendo preparada para virar uma Mulher sem Rosto. Enquanto Ramsey, o novo protetor do Norte, recebeu de Smalljon Umber a cabeça do Cão Felpudo (eu fico puto quando os lobos morrem), mais Osha e Rickon Stark, houve, ainda, espaço para Jon punir seus assassinos, e, um dos pontos altos da temporada, e, que diabos, da série toda:
O flashback de Bran na Torre da Alegria, onde um jovem Ned Stark chegou com Rowland Reed e outros quatro homens para resgatar sua irmã, Lyanna, o que terminou num arranca-rabo de Ned e companhia contra sor Gerold Hightower e o espadachim mais fodelão da história de Westeros: Sor Arthur Dayne, a Espada da Manhã.
Antes do desfecho, porém, Jon entregou o comando da Patrulha da Noite à Edd, e deu sua vigília por encerrada.
No episódio seguinte, The Book of Strange, fomos bombardeados com uma série de reencontros de irmãos.
Theon chegou a Pyke para apoiar Yara Greyjoy como sucessora de Ballon, contra o tio (fratricida) dos dois Euron. Além disso, Margaery Tyrell conseguiu permissão com o alto pardal para rever Loras, e, claro, a mais esperada por todos:
Sansa e Jon.
Eu sei. Os dois nem sequer haviam tido muito tempo juntos na série, até onde me lembro, nem nunca tinham trocado uma fala, mas mesmo assim, foi provavelmente o primeiro momento genuinamente caloroso em seis anos de programa.
Além disso, enquanto Tyrion tentava fazer as pazes com as outras cidade da Baía dos Escravos, Daenerys resolvia seus problemas em Vaes Dothrak à maneira Targaryen, com fogo e sangue.
Em The Door, tivemos Petyr Baelish saindo do prumo. O manipulador mestre de Westeros pareceu finalmente ter feito uma cagada épica ao perder a confiança de Sansa por causa da sua falta de informação sobre Ramsey (ou ele simplesmente esperava quebrar o espírito da jovem Stark ao deixá-la na mão do psicopata, quem é que pode ter certeza? Seja como for, o plano falhou.). Daenerys tendo uma calorosa despedida de Jorah, e as Ilhas de Ferro levando adiante sua eleição, com Euron Greyjoy sendo coroado por aclamação com base em seu plano de casar com Daenerys e tornar os Homens de Ferro senhores dos Sete Reinos.
Enquanto Tyrion assumia uma posição duvidosa com relação aos sacerdotes do Senhor da Luz em Yunkai, e Arya recebia uma nova chance de se tornar uma autêntica assassina, Bran e o Corvo de Três Olhos davam início a uma espetacular sequência com o Rei Noite. A Visão Verde do jovem Stark sendo usada pelo líder dos andarilhos brancos para levar um exército de mortos-vivos aos portões da caverna de Leaf e, o momento de explodir o crânio com a origem de Hodor sendo contada em tempo real, conforme a causa dessa origem estava diretamente ligada à sua morte e aos poderes de Bran sendo utilizados enquanto tudo acontecia.
Com o jovem Stark precisando fugir por sua vida conforme Leaf e o Corvo de Três Olhos morriam nas mãos do exército de zumbis, Hodor ficou para trás, segurando a porta enquanto era comido vivo, e os gritos de Meera de "hold the door" se transformando, lentamente, no "Houdôr" que o grandalhão proferiu nos últimos anos.
O sacrifício de Hodor (e a morte de Verão, de novo, eu odeio quando os lobos morrem) foram um encerramento tocante para esse momento da trama, e a sexta temporada chegava à sua metade como a melhor do programa desde sua estréia.
A parte mais bacana?
O melhor ainda estava por vir.

"-É o que eu faço. Eu bebo e sei coisas."

Resenha Cinema: Independence Day: O Ressurgimento


No site de quizzes Jetpunk, há um questionário chamado "Filmes pelo furo do roteiro", onde a pessoa tenta adivinhar, a partir de uma afirmativa sobre o enredo, qual é o longa-metragem em questão.
Uma dessas afirmativas é algo como "Os computadores alienígenas dificilmente seriam compatíveis com os computadores da Terra".
Pra quem assiste um pouco de cinema, não é difícil matar a charada na hora. Independence Day.
David Levinson, o personagem de Jeff Goldblum, conseguia desativar o impenetrável escudo de força das enormes espaçonaves alienígenas usando um vírus de computador que ele desenvolveu em um Apple Macintosh Powerbook e liberava no sistema operacional extraterrestre ao acoplar o caça alien na nave-mãe, que devia ter uma porta USB (e deixa provado acima de qualquer suspeita que o "U", em USB é realmente de universal)...
Mas quem liga?
Independence Day não era um filme realista. Jamais quis ser um filme realista. Ele tinha Will Smith, o maluco no pedaço, interpretando um herói de ação, por amor de Odin... Não... Realismo estava muuuuuito longe das pretensões de Roland Emmerich, e quem é que vai dizer que ele estava errado quando o filme somou mais de oitocentos milhões de dólares em bilheterias, um número que seria expressivo hoje em dia, em 1996, com um orçamento de meros 75 milhões de dólares?
Ninguém disse, claro... Roland Emmerich fez fama como um destruidor de mundos, Will Smith virou um astro e o mundo seguiu seu curso com as tomadas da destruição da Casa Branca e do Empire State Building sendo repetidas por anos a fio quando se falava em efeitos visuais.
E eis que, vinte anos após o longa original ter enchido os cofres da Fox além dos mais selvagens sonhos do estúdio, a crise criativa pegando, produtoras batendo na mãe por uma franquia, e quem é que volta?
Eles...
Os mesmos aliens de 1996, querendo vingança pela derrota daquele distante quatro de julho de 1996.
Em Independence Day: O Ressurgimento o mundo é diferente em 2016. Após a destruição massiva da invasão de vinte anos atrás, os povos da Terra se uniram de maneira nunca antes vista, deixando de lado todas as picuinhas e conflitos e abraçando uma irmandade sem precedentes.
Utilizando a tecnologia dos extraterrestres, os cientistas de nosso planeta deram um salto tecnológico de séculos, tornando viagens espaciais da Terra à Lua uma bobagem que pode ser feita em minutos.
Na lua, aliás, existe uma base da NASA, onde está a primeira linha de defesa de nosso planeta.
É nesta base lunar, que estão dois dos heróis da vez, Jake (Liam Hemsworth, em modo Top Gun) e seu fiel escudeiro Goose... Digo, Charlie (Travis Tope), operando rebocadores que preparam a grande festa de aniversário da vitória terrestre.
Mas enquanto o mundo prepara uma festa, o ex-presidente Whitmore (Bill Pullman) é assaltado por visões ligadas aos invasores, e não é o único...
Na base da Área 51, enquanto após duas décadas catatônicos, os alienígenas prisioneiros começam a chiar feito chaleiras no cio, o comatoso doutor Okun (O Data Brent Spinner voltando ao papel) desperta, e uma misteriosa espaçonave surge do espaço exterior direto à base lunar, sendo prontamente alvejada pelo sistema de defesa terráqueo.
A chegada dessa estranha espaçonave havia sido antevista por Whitmore, Okun e outros, isso desperta a curiosidade de David Levinson (Jeff Goldblum), o grande engenheiro da defesa da Terra, que acompanhado de Jake, do contador Floyd Rosenberg (Nicholas Wright), do senhor da guerra africano Umbutu (Deobia Oparei) e da psiquiatra obcecada com a conexão entre ETs e humanos Catherine Marceux (acredite, ou não, Charlotte Gainsbourg), parte para investigar os destroços do artefato recém abatido.
Enquanto, a funcionária do gabinete presidencial Patricia Whitmore (Maika Monroe) o capitão Dylan Hiller (Jessie T. Usher) e a piloto ás chinesa Rain Lao (Angelababy) se movimentam para a celebração da vitória, uma nova ameaça emerge do espaço profundo na forma de uma abissal nave alienígena de quase cinco mil quilômetros que vem para a Terra, pousando no oceano Atlântico e devastando tudo em seu caminho enquanto começa a perfurar o leito oceânico em busca do núcleo de nosso planeta.
Isso coloca as defesas da Terra em polvorosa, numa desesperada corrida para tirar a espécie humana das raias da extinção.
De novo.
Independence Day: O Ressurgimento não tem nem o peso da novidade do original de 96, óbvio, o primeiro longa inaugurou um tipo de filme, o de desastre de proporções bíblicas, que se tornou regra após seu lançamento, de modo que tudo o que aparece em O Ressurgimento, já foi visto e revisto m filmes que seguiam o modelo do ID4 original. Tirando Will Smith, que praticamente deve sua carreira ao longa de 96, todo o elenco adulto está de volta, exceto pelos filhos do personagem de Randy Quaid, incluindo uma repuxada Vivica A. Fox, um Robert Loggia digitalizado que parece um boneco de cera (o ator morreu em dezembro de 2015), e Judd Hirsch, como Julius Levinson, personagem que parece estar seguindo a cartilha do velho judeu do Brooklyn, juntando-se à Sela Ward (a presidente dos EUA) e William Fichtner (que não é o vilão do filme).
Todos são desgraçadamente rasos e unidimensionais, personagens que poderiam estar descritos no roteiro como o herói boa-pinta e espirituoso, o militar negro durão e correto, as mulheres sensíveis, mas fortes (uma americana, uma oriental), o nerd, o gay, o covarde que cria coragem, o velho biruta que encontra o prumo a tempo de fazer o supremo sacrifício no altar da liberdade...
Enfim, aquela brega salada de estereótipos que fez o sucesso de Independence Day vinte anos atrás embalando um roteiro preguiçoso e apressado escrito por cinco (!!!!!) pessoas, Dean Devlin, Nicholas Wright, James A. Woods, James Vanderbilt e o próprio Emmerich.
Se ele funciona?
Depende imensamente do que a audiência espera de Independence Day: O Ressurgimento.
Pessoalmente, o longa é absolutamente o que eu achei que seria, sem tirar nem pôr. Um Blockbuster descerebrado que garante duas horas de barulhenta pirotecnia, não vai revolucionar o cinema nem mesmo na parte técnica, mas distrai. É entretenimento em estado puro, cheio de bravados, piadinhas, explosões, batalhas, monstros (inclusive monstros gigantes!) e salvamentos no último instante.
Independence Day: O Ressurgimento não é cinema... Nem mesmo é uma montanha russa, pois não traz surpresas, sustos ou adrenalina... É diversão juvenil. O mesmo filme que tu viu aos quatorze anos de idade e adorou, mas ao menos dezoito anos atrasado. Se tivesse sido lançado em 1998, teria sido um sucesso, hoje em dia, é apenas um caríssimo subproduto da crise criativa de Hollywood, recomendado apenas para fãs hardcore de invasões alienígenas e do filme original.

"-Certamente é maior do que a última..."

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Resenha DVD: A 5º Onda


Eu não acho que me enquadre na categoria de público "jovens adultos" que tem se popularizado em anos recentes. A literatura focada em leitores de 14 a 21 anos não me atrai, seja porque eu já passei há muito tempo dessa faixa etária, seja porque eu sou um paradoxo cronológico e não consigo ser nem "jovem" e nem "adulto", ou seja porque, de modo geral, as obras voltadas a essa qualidade de público são mais ou menos como tudo o que é voltado para essa faixa-etária:
Raso e ligeirinho.
Ás vezes meloso.
Sério...
Crepúsculo, Divergente, Meu Namorado é um Zumbi... Mesmo os melhores exemplares do gênero, como Jogos Vorazes, podem ser resumidos à uma personagem central feminina forte, mas sensível, envolvida em um triângulo amoroso piegas, descabido, e mal ajambrado que move uma história que pode, ou não, passar-se em um futuro distópico.
Logo nos primeiros trailers de A 5º Onda, eu já podia dizer com toda a certeza, que o filme era mais um exemplar do gênero tentando beber o sangue da audiência após o fim de Jogos Vorazes.
Ontem assisti ao filme, e confirmei minha suspeita.
No longa dirigido por J Blakeson, somos apresentados à jovem Cassie (Chloë Grace Moretz, tenebrosamente subaproveitada).
A jovem, armada com um rifle semi-automático, entra em uma loja de conveniência abandonada, e vasculha o lugar procurando víveres. Ela apanha água, alguns enlatados, uma escova de dentes, e então ouve um pedido de ajuda vindo de uma sala nos fundos.
Ao entrar, se depara com um homem ferido que, sentado no chão lhe aponta um revólver.
Os dois trocam ultimatos de "largue sua arma" e olhares aterrorizados.
O homem cede e larga o revólver, mas Cassie não largará a sua arma até que ele mostre a mão que permanece escondida dentro de seu casaco.
Quando o sujeito o faz, Cassie vê um brilho metálico, e atira. Ao se aproximar do defunto, ela percebe que o metal não era uma arma, mas uma cruz.
Esse início abrupto e cru, quase traumático com ecos de The Last of Us e A Estrada poderia dar o tom de A 5º Onda.
Infelizmente, não o faz.
Daí em diante, entra em cena a narração em off de Cassie, contando como ela era uma jovem perfeitamente normal, vivendo uma vida perfeitamente normal em Ohio com seus pais e seu irmão mais novo até que o impossível aconteceu, e a Terra foi invadida por alienígenas.
A raça espacial referida como "Os Outros" estacionou uma grande espaçonave sobre a Terra e passou a lançar ondas de ataque.
A primeira onda é o blecaute, quando um pulso eletromagnético elimina toda a tecnologia da Terra, inutilizando aparelhos eletro/eletrônicos.
A segunda onda vem na forma de água. Os Outros causam gigantescos tsunamis que eliminam três bilhões de pessoas.
A terceira onda é uma peste disseminada através de pássaros. A doença extermina 97% dos sobreviventes das primeiras ondas.
A quarta onda é bastante simples em comparação. Os Outros se infiltram na população da Terra e usam atiradores para matar os sobreviventes.
Após as primeiras ondas a Terra praticamente voltou à Idade da Pedra. Os grandes centros urbanos foram abandonados, e as pessoas começam a viver em campos improvisados onde cuidam umas das outras.
As coisas seguem relativamente bem até o exército chegar explicando que a infiltração em andamento pode ser fatal, e que as crianças serão levadas a bases militares seguras e os adultos, após ouvirem uma pequena palestra, seguirão em seguida.
Enquanto o pai de Cassie (Ron Livingston) e os demais adultos seguem o coronel Vosch (Liev Schreiber) para a palestra, Cassie é alertada pelo irmão mais novo que esqueceu seu urso de pelúcia.
Quando Cassie, tentando encontrar o brinquedo de Sam, acaba ficando pra trás e acidentalmente descobre que os planos dos milicos não eram bem o que pareciam, ela acaba fugindo sozinha pela mata até ser atacada por um atirador e perder os sentidos, acordando na fazenda do estranho Evan (Alex Roe).
Ao mesmo tempo, Ben Parrish (Nick Robinson), jovem por quem Cassie era apaixonada na escola e último sobrevivente de sua família é recrutado pelo exército e levado à uma base militar secreta onde, sob o comando da sargento Reznik (Maria Bello) será treinado para fazer parte do Pelotão 53, uma força-tarefa de crianças soldados que lutarão contra os Outros.
Entre os colegas de Ben, agora chamado Zumbi, está Sammy (Zackary Arthur), irmão de Cassie.
Enquanto Ben, Sammy e seus companheiros treinam para levar a luta aos Outros infiltrados na população, Cassie tenta se recuperar para resgatar seu irmão ao mesmo tempo em que tenta descobrir quais são as verdadeiras intenções de Evan.
É muito ruim.
A despeito de ter um bom elenco e apresentar uma produção ajeitadinha nada em A 5º Onda sustenta aquela sequência inicial na loja de conveniência.
O livro no qual o longa se baseia é bastante elogiado pela crítica, e se for tão bom quanto dizem, o filme presta um desserviço à fonte.
O longa de J Blakeson é mal editado, estruturado de maneira pobre, e tem um roteiro confuso, raso, por vezes constrangedor, cometido por Susannah Grant, Jeff Pinkner e o veterano Akiva Goldsman.
Chega a ser triste ver um longa com uma sequência de abertura tão esperta quanto a de A 5º Onda se perder tanto no seu decorrer.
Ao invés de manter o foco nas questões fundamentais das histórias pós-apocalíptica, a luta por sobrevivência e por qualquer gota de normalidade (lembram de Viggo Mortensen com a lata de Coca-Cola em A Estrada?), ou o fundamento dos futuros distópicos, com tirania e Estados policialescos, A 5º Onda prefere apostar em olhares perdidos, sugestões de romance, e a adolescente de cabelo bem escovado no meio do mato observando um jovem com barriga-tanquinho se banhando no lago.
Em meio à diálogos confusos que não acabam nunca, separações e reuniões com as quais ninguém se importa, e um final tão clichê que pode ser antevisto com horas de antecedência, a única grande preocupação que A 5° Onda produz é a de que o filme ambiciona ser a primeira parte de uma pretensa trilogia.
Essa, sim, é uma invasão que mete medo.

"É assim que se elimina uma espécie. Primeiro, você se dos mais fáceis: Os fracos, os expostos. Mate-os o mais eficientemente possível. Foram as três primeiras Ondas. Mas mesmo quando você dedetiza uma casa, sempre sobram algumas baratas. Agora, nós somos como essas baratas. E os Outros estão nos matando... Um por um. E como os Outros se parecem conosco, não podemos confiar em ninguém."

Resenha DVD: A Colina Escarlate


Um dos filmes que eu lamentei não ter assistido nos cinemas no ano passado certamente foi A Colina Escarlate.
Pode parecer estranho, tendo em vista que eu não sou um grande fã de filmes de horror, mas, que diabos, sou um grande fã de Guillermo del Toro.
O cineasta mexicano por trás dos dois Hellboy e Círculo de Fogo é um desses diretores de identidade visual ímpar de quê eu tanto gosto, capaz de se arriscar entre gêneros sem perder a mão.
Seus dois Hellboy são fantasias sensacionais. Seu Blade II é uma mistura extremamente competente de filme de super-herói e terror, e eu ainda me pergunto como teria sido a trilogia O Hobbit com ele na cadeira de diretor...
No final de semana, aluguei A Colina Escarlate, e fui lembrado de que del Toro é um cineasta talentoso e de visão singular, capaz de trafegar entre gêneros, mas que o horror... Ah... O horror é seu ambiente natural.
A Colina Escarlate é narrado pela jovem Edith (Mia Wasikowska), uma aspirante a escritora apaixonada por histórias de fantasmas.
Ainda que em suas histórias os fantasmas sejam alegorias literárias representando o passado, Edith já testemunhou fenômenos paranormais, quando, aos dez anos de idade, foi visitada pelo espírito de sua mãe morta, que a avisou que tomasse cuidado com a colina escarlate.
Edith cresceu sem jamais entender o alerta do mundo dos mortos, e seguiu sua vida na sociedade de Buffalo, no estado de Nova York, no início do Século XX.
Ainda que Edith aspire a ser mais do que uma dona de casa, ela é incapaz de se esquivar dos encantos do baronete Thomas Sharpe (Tom Hiddleston), um jovem aristocrata inglês que chega a Nova York tentando obter financiamento para construir máquinas que permitam-lhe reabrir as minas de propriedade de sua família.
Mesmo à revelia da vontade de seu pai, o austero empresário Carter Cushing (Jim Beaver), e para tristeza de seu amigo de infância Alan (Charlie Hunnan), Edith eventualmente cede às investidas de Thomas, e os dois terminam se casando, e partem rumo à Inglaterra.
Lá, Edith viverá com Thomas e sua irmã Lucille (Jessica Chastain) na propriedade Sharpe, Allerdale Hall, uma gigantesca e dilapidada mansão gótica erigida sobre uma colina de argila vermelha que ao longo dos séculos a vem engolindo.
Lá, Edith se vê novamente ás voltas com o sobrenatural, conforme volta a ser visitada por sinistras aparições nos cômodos sombrios da mansão, onde a jovem americana percebe que talvez as assombrações que a fomentam não sejam os piores monstros à solta na Colina Escarlate.
Excelente.
Guillermo del Toro já deixara bem clara a extensão de seu talento para narrar contos sombrios equilibrados entre o aterrador e o fantástico em O Labirinto do Fauno, e volta à carga em A Colina Escarlate.
Há monstros no longa, fantasmas aterradores que se arrastam pelo chão, ou espreitam detrás de portas. Criaturas medonhas, negras ou escarlates apontando dedos longos e esfregando unhas compridas nas paredes, mas o grande monstro de A Colina Escarlate são as emoções tenebrosamente humanas que assombram a história.
Essas emoções, muito bem ilustradas por um elenco afinadinho, são apresentadas no primeiro terço do filme, passado em Nova York, com uma fotografia calorosa e dourada, e, nos dois atos subsequentes, são exploradas em Allerdale Hall, um milagre de design de Thomas E. Sanders, que transforma a mansão gótica em um personagem tenebrosamente vivo.
Sob os olhos sempre atentos de Lucille e seu molho de chaves, Edith tenta se aclimatar à nova realidades, explorando a mansão contra os avisos dos irmãos Sharpe de que há cômodos que não devem ser visitados, isso leva à sequências sensacionais, tensas, filmadas de maneira clássica com a jovem de camisola branca andando por corredores escuros com um candelabro na mão, ou a mulher de negro carregando uma bandeja de chá em meio à neve que cai dentro do salão de entrada de Allerdale Hall por causa de um buraco no teto.
O diretor mexicano consegue criar tensão e desconforto mesmerizantes até mesmo em algo simples como um brinquedo construído por Thomas, um boneco que engole e vomita esferas de metal, ou nas transições de câmera entre as cenas.
Se o último ato pode ser um pouco expositivo em excesso, isso não chega a ser ofensivo, tendo em vista que a revelação dos segredos era o mote do filme após a chegada de Edith à propriedade Sharpe. Realismo não é, em de longe, a regra dos filmes de del Toro, graças aos céus, e nada no filme acena com essa bandeira em nenhum momento.
A Colina Escarlate não é um produto do terror moderno de "filmagens amadoras", ou mesmo um filme de horror do tipo "aquilo que não vemos é mais assustador do que aquilo que vemos". Nos longas do cineasta mexicano, ver, é muito importante. É a visão do diretor que catalisa sensações e oferece tom à estória.
E uma visão como a de Guillermo del Toro não é algo que deva ser desperdiçado.
Não cometa o mesmo erro que eu. Assista ao filme sem demora.
Vale demais a pena.

"Fantasmas são reais. Disso eu sei. Os tenho visto por toda a minha vida..."

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Guarida


A Kátia, trinta e poucos, bonita, descolada, já estava usando um pijama de pinguins e deitada no sofá-cama que dominava o seu apartamento tipo JK. Desligou a TV, e perguntou pro Ventola, trinta e poucos, aparência mediana, meio amarfanhado deitado no chão ao lado do sofá-cama da Kátia, se ele estava pronto pra dormir, desejou-lhe boa noite e apagou a luz.
-Vamos trepar... - Sugeriu, casual, o Ventola, deitado meio atirado em cima de uma almofada junto ao sofá da Kátia em meio ao breu.
A Kátia, sem sequer se mexer, respondeu:
-Vai te foder, Ventola.
O Ventola assentiu:
-Isso. Me foder... Te foder... Nos fodermos um ao outro... Tipo bichos e tal... Yeah...
A Kátia nem se dignou a responder. O Ventola e ela se conheciam desde sempre. Eram parte da mesma turma de amigos desde antes da faculdade. Enquanto outros tantos haviam desgarrado do grupo original, a Kátia, o Sidney, o Heitor e o Ventola haviam permanecido. Eram tão constantes que pessoas que haviam feito parte do grupo em algum momento, quando queriam rever os amigos, iam até o bar na sexta-feira, pois sabiam que encontrariam os quatro lá.
O Ventola, beberrão mór do grupo, frequentemente dormia na casa de alguém depois das noites de sexta-feira no bar. Durante a semana o Ventola era quase abstêmio, mas na sexta-feira, meu amigo, sai de baixo. Bebia até gasolina se a apresentação estivesse razoável.
Quando ficava bêbado demais pra chegar à própria casa, o que era quase regra, ele capotava no sofá de alguém. Normalmente era na casa do Sidney, mas o Sidney conseguira arrastar uma guria do bar pra casa, então não podia ter um bêbado atirado no sofá. O Heitor tava de mal com o Ventola por causa de uma discussão de cunho político partidário, de modo que sobrou pra Kátia dar guarida pro bebum naquela madrugada.
A Kátia, apesar de morar no menor apartamento, não se importava de ter o Ventola dormindo no chão da sala por uma noite, o problema é que ele não estava dormindo.
Estava acordado.
E falando.
-Kátcha... - Ele começou, com a voz enrolando em meio à escuridão do ambiente. -Vamos trepar... É sério. Tô te convidando...
-"Convidando"... - Repetiu a Kátia, como quem não acredita.
-Tô mesmo... Papo de amigo, Katcha... - Confirmou Ventola, sério.
A Kátia acendeu a luz e olhou pra ele com os olhos semicerrados:
-Se tu estivesse na casa do Sidney ou do Heitor, convidaria um deles pra trepar?
-Não, né, Katcha? Eu não sou gay... E nem eles... - Respondeu Ventola, fazendo cara que quem está sendo forçado a dizer uma obviedade.
-Vai dormir, Ventola... - Sugeriu a Kátia, apagando a luz novamente.
O Ventola deitou em cima da almofada meio a contragosto. Virou pro lado e ficou quieto.
Por quase trinta segundos.
-Katcha...
A Kátia não respondeu.
-Katcha...?
A Kátia seguiu sem responder.
-Ô, Katcha...
-Quié, Ventola? - Respondeu Kátia, fechando os olhos para ver se encontrava algum pingo de paciência dentro do próprio crânio.
-Eu sou repelente? - Perguntou, ele.
-Cala a boca, Ventola... - Respondeu a Kátia, num suspiro.
-Sério - Sustentou ele. -Eu quero saber... Porque eu devo ser... É a única razão pra eu continuar sozinho à essa altura da vida...
-Então tu tá sugerindo que eu sou repelente? - Perguntou a Kátia, sem abrir os olhos ou mexer a cabeça do travesseiro.
-Não, né, Katcha... Tu é gatona, esperta... Tá sozinha por opção... Eu... Eu sou esse traste bêbado e amarfanhado que capota na casa dos amigos no final de semana. Um infeliz sem serventia que só incomoda... - Choramingou ele.
-Pelo amor de Deus, Ventola... - Suspirou Kátia.
-Tá... Desculpa. - O Ventola disse, silenciando.
O silêncio durou alguns minutos. Até a consciência da Kátia pesar.
-Ventola... Tá acordado? - A Kátia sussurrou acendendo a luz.
-Tô. - Ele respondeu.
-Tu não é repelente, tá? Sóbrio, de banho tomado, tu é um amorzinho, quando a gente se viu a primeira vez, eu te achei gato, e depois que eu te conheci, te achei uma pessoa sensacional. Generoso, divertido, confiável... E se a gente não fosse amigo há tanto tempo, se não partilhasse um background tão extenso, se não fôssemos, cada um, um pilar do grupo, eu te pegava certo. Mas bêbado, rançoso e meu amigo de longa data, não tem como. - Sorriu, inclinou-se pra frente, passou a mão no rosto do Ventola e deu-lhe um beijo na bochecha.
Se endireitou na cama, e voltou a apagar a luz.
Quando estava prestes a pegar no sono, o Ventola falou:
-A gente não é assim tão próximo. Acho que a gente podia trepar sem prejuízo definitivo pro grupo...
A Kátia nem precisou acender a luz pra acertar o controle remoto da TV na cabeça do Ventola enquanto firmava propósito de, na próxima vez, sugerir ao pessoal que o Ventola dormisse no bar..

terça-feira, 21 de junho de 2016

Rapidinhas do Capita


Começaram as filmagens de Spider-Man: Homecoming, filme solo do Homem-Aranha fruto da parceria entre Marvel Studios e Sony que agora compartilham o herói de cabeça de teia no universo cinemático Marvel.
A primeira leva de fotos revelou Tony Revolori, Zandaya e Tom Holland, Peter Parker em pessoa, usando um moletom da Escola de Ciência e Tecnologia Midtown.
Confira:


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Além de Holland no papel título, Revolori e Zendaya, o numeroso elenco de Spider-Man: Homecoming conta ainda com Marisa Tomei (tia May), Robert Downey Jr. (Tony Stark), Michael Keaton (possivelmente o Abutre), Logan Marshall-Green (um vilão secundário, talvez o Consertador), Martin Starr, Hannibal Buress, Kenneth Choi, Donald Glover, Michael Barbieri e Laura Harrier. O longa, que deve dar foco à vida de Peter no colégio, sendo descrito pela Marvel como um "filme adolescente no estilo John Hughes" é escrito pela dupla responsável pelo sofrível Férias Frustradas, John Francis Daley e Jonathan Goldstein, a direção é de John Watts.

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Segundo o protagonista Tom Holland, o filme é realmente uma "volta ao lar" para o Homem-Aranha, pois durante o longa "Peter está tentando descobrir quem é, e onde se encaixa nesse mundo."
Spider-Man: Homecoming está sendo filmado em Atlanta, Geórgia, e estréia em 7 de julho de 2017.

Rapidinhas do Capita


E o filme da Liga da Justiça ganhou sinopse.
O longa que unirá pela primeira vez a super equipe mais famosa dos quadrinhos contará a história de como Batman (Ben Affleck), com a esperança na humanidade renovada após o sacrifício do Superman, se junta à Mulher-Maravilha (Gal Gadot) para unir rapidamente um grupo de metahumanos capaz de enfrentar a ameaça de Apokolips.
"Com sua fé na humanidade restaurada e inspirado pelo ato de altruísmo de Superman, Bruce Wayne busca a ajuda de sua nova aliada, Diana Prince, para encarar um inimigo ainda maior. Juntos, Batman e Mulher-Maravilha trabalham rapidamente para encontrar e recrutar um time de metahumanos para encarar essa ameaça recém-desperta. Mas apesar da formação dessa liga sem precedentes de heróis - Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Ciborgue e Flash - talvez seja tarde demais para salvar o planeta de um ataque de proporções catastróficas".
O logo oficial do filme também foi divulgado:


Liga da Justiça é estrelado por Ben Affleck (Batman), Gal Gadot (Mulher Maravilha), Jason Momoa (Aquaman), Ray Fisher (Ciborgue), Ezra Miller (Flash), além deles estão no elenco Amy Adams (Lois Lane), Jeremy Irons (Alfred), J. K. Simmons (comissário Gordon), Amber Heard (Meera), e Willem Dafoe (Nuidis Vulko). Jesse Eisenberg retorna como Lex Luthor.
Terceiro filme do novo universo cinematográfico DC, e terceiro dirigido por Zack Snyder, Liga da Justiça estréia em 17 de novembro de 2017.

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Além do logo e da sinopse, a primeira foto oficial, que mostra o Batmóvel estacionado dentro do veículo que será o hangar móvel do morcego e possivelmente a base da Liga da Justiça, foi mostrada:


O Batmóvel e o Bat-hangar não serão os únicos novos brinquedos do morcego no longa. Batman terá um novo Bat-Traje, um veículo capaz de escalar paredes e um navio-cargueiro.

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O belo logo do filme só não me agradou mais do que a declaração de Deborah Snyder, esposa do diretor e produtora do filme, que assumiu que a má recepção ao problemático Batman vs. Superman - A Origem da Justiça mudou a abordagem da DC/Warner para os longas.
Segundo a senhora Snyder, o mais sombrio já passou, e o filme da Liga deve ser um filme consideravelmente mais leve que os antecessores.
Muito disso passa pela adição de Flash e Ciborgue ao grupo, dois personagens mais jovens, e pelo ânimo renovado do Batman frente à vida.
Resta torcer para que Zack Snyder seja mantido na coleira e consiga entregar um filme que não seja um espetáculo de depressão e ódio como BvS, mas uma aventura divertida e significativa com alguns dos maiores heróis da Terra.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Resenha DVD: A Travessia


Robert Zemeckis é um desses diretores de estirpe, que sempre fazem por merecer a deferência da visita ao cinema. Outros sujeitos nesse patamar, pra mim, são caras como Steven Spielberg e Ridley Scott, sujeitos que fazem filmes de gêneros absolutamente diversos, que são capazes de imprimir seu estilo à qualquer coisa que toquem, e contadores de histórias tão competentes, com assinaturas visuais tão únicas, que são capazes de, sozinhas, sustentar um espetáculo.
Zemeckis, Spielberg e Scott começaram suas carreiras fazendo ficção cientifica, e foram saltando para longas mais elaborados do ponto de vista dramático, se tornando realizadores mais sérios mas que, volta e meia retornam às origens e que, como qualquer ser humano, eventualmente tropeçam no caminho.
Scott teve uma longa série de filme de qualidade duvidosa nos anos recentes de sua grande carreira, Spielberg volta e meia mete os pés pelas mãos e realiza longas que fazem a gente imaginar se ele realmente setou na cadeira do diretor durante as filmagens, e Robert Zemeckis chutou o pau da barraca com O Expresso Polar e A Lenda de Beowulf.
Posto isso, não me lembro ao certo da razão pela qual eu não fui ao cinema assistir A Travessia no ano passado. Realmente não consigo me lembrar, mas é justo conjecturar que talvez tenha sido por causa da minha impaciência com a fala de educação dos frequentadores de cinema em geral, aliado ao fato de que A Travessia é, a grosso modo, a versão dramatizada do documentário O Equilibrista, de 2008, que conta a mesma história de como o equilibrista Philippe Petit fez seu mais ousado número, uma travessia na corda bamba entre as torres gêmeas do World Trade Center em 1974.
Ontem eu assisti ao filme, e é justo dizer que, ainda que não seja ruim, é um longa do qual não me arrependi de não ter visto no cinema.
Conforme o próprio Petit, no longa interpretado por Joseph Gordon-Levitt nos diz, ao início do longa, para ele, andar na corda bamba não é desafiar a morte, mas abraçar a vida.
É esse Philippe Petit de Levitt quem narra o longa do alto da tocha da Estátua da Liberdade com as Torres Gêmeas do WTC ao fundo (num CGI bastante óbvio), desde o seu primeiro contato com o arame, num circo de sua infância, passando pelo seu contato com o dono do circo, o pai dos equilibristas Papa Rudy (Ben Kingsley, esbanjando presença), seu ingresso no mundo dos artistas de rua, seu encontro com a namorada Annie (Charlotte Le Bon), e o momento, no consultório do dentista, em que decidiu qual seria o trabalho de sua vida.
A partir dessa decisão, começa a preparação de Phillipe para tal feito, o que inclui viajar de Paris à Nova York, encontrar cúmplices que pudessem ajudá-lo tanto a se infiltrar no prédio, em fase final de construção, quanto a realizar toda a preparação necessária para o prodígio jamais repetido: Andar pela corda-bamba à uma altura de mais de 400 metros do chão.
Chega a ser estranho que Robert Zemeckis tenha conseguido, junto com o co-roteirista Christopher Browne, tornar A Travessia um filme tão irregular.
Não me refiro nem à monotonia dos dois primeiros atos, quando tudo se trata de conhecer o passado do protagonista e do planejamento do "coup", mas mesmo durante a meia hora final do filme, quando Zemeckis imprime sua assinatura na construção da uma tensão palpável durante toda a operação, terminando na ótima sequência do ato de cruzar o arame entre as torres em si, o longa não funciona como poderia.
A insistência do roteiro com uma narração em off que na maior parte do filme apenas nos diz, em palavras, o que o filme já nos dizia em imagens, e em alguns momentos serve só para quebrar o encantamento da imersão para com o que estávamos vendo.
Os afeitos visuais são OK para um filme de qualquer outro diretor, para Zemeckis, estão um tanto abaixo da média, o trabalho de elenco é tão irregular quanto o filme. Há tanto performances top de linha, casos do já citado Ben Kingsley e de James Badge Dale no papel do franco-americano Jean Pierre, como outras bastante esquecíveis (os cúmplices maconheiros de Benedict Samuel e Ben Schwartz), o protagonista fica no meio do caminho.
Sua performance é convincente sob o aspecto do gênio/louco obcecado por um objetivo, mas seu sotaque francês soa como Pepe Le Gambá e faz pensar porque foi que Zemeckis não escalou um ator francês de verdade no papel...
A Travessia poderia ser um daqueles pequenos grandes filmes que começam de maneira despretensiosa e cresce rumo a um grande clímax, infelizmente, algumas más decisões, e algumas péssimas decisões, o jogam na vala comum de longas meia-boca com uma ou duas sequências memoráveis.
Melhor sorte na próxima, senhor Zemeckis.

"-A maioria dos equilibristas, eles morrem na chegada. les pensam que chegaram, mas continuam no arame. Se você tiver três passos para andar, e andar esses passos com arrogância... Se você pensar que é invencível... Você vai morrer."

Resenha DVD: Goosebumps: Monstros e Arrepios


Na minha infância eu era um fã declarado e descarado de filmes de horror. Não pagava imposto para passar na locadora e apanhar o mais asqueroso espetáculo de gore disponível na prateleira e me deleitar com duas horas de sangue, tripas e gosma no vídeo-cassete da minha avó, batia palmas quando era sexta-feira 13 e eu sabia que a Globo exibiria um filme de horror depois do Jornal da Globo, e minha mãe chegou a ser chamada na escola porque eu enchia meus cadernos com desenhos de machados ensanguentados, corpos desmembrados, olhos arrancados e tripas empilhadas.
Para meu azar, meu gosto pelo horror gore desvaneceu-se antes mesmo do advento do "Cine Trash", da Bandeirantes, onde meu eu dos sete aos doze anos certamente teria encontrado um lugarzinho muito especial para saciar sua sede de sangue cenográfico, e eu passei a ver cinema de horror com maus olhos, de modo que excetuando-se raras exceções, eu não guardo praticamente nenhum terror da época na memória.
Entretanto, guardo com alguma afeição um filme de monstros que estava longe de ser de terror:
Deu a Louca nos Monstros, fita de 1987, dirigida por Fred Dekker (do atroz RoboCop 3) e co-escrita por Shane Black (de Duro de Matar e Homem de Ferro 3), onde um grupo de crianças aficionadas por monstros precisava defender a cidadezinha onde moravam do conde Drácula, do Lobisomem, da Múmia e do monstro de Frankenstein. Talvez houvesse uma criatura da lagoa negra, mas eu não tenho certeza... O filme está guardado nas minhas afeições, mas acho que a última vez que o assisti foi num domingo qualquer na casa da minha avó paterna entre fatias de bolo mármore e copos de suco de uva.
Bom, esse Goosebumps: Monstros e Arrepios que eu deixei passar nos cinemas devido à impossibilidade de encontrar uma cópia legendada em exibição, é um longa da mesma estirpe de Deu a Louca nos Monstros. Um filme que consegue se equilibrar entre a comédia e os sustos infantis, mais ou menos como faz a muitíssimo bem sucedida série literária de mesmo nome escrita por R. L. Stine, que já vendeu mais de 400 milhões de cópias no mundo inteiro.
No longa do diretor Rob Letterman (do meia-boca As Viagens de Gulliver e do bacana Monstros vs. Alienígenas), conhecemos o jovem Zach (Dylan Minnette).
Zach acaba de seu mudar com sua mãe Gale (Amy Ryan) para uma cidadezinha de Delaware após uma vida em Nova York.
Zach não está feliz com a mudança para uma cidade pequena após crescer na metrópole mais cosmopolita do mundo, mas não tem muita opção. Depois da morte do pai, a pequena Madison foi o lugar onde Gale conseguiu trabalho como vice diretora, e é pra onde ela vai.
A sequência de azares de Zach é amenizada por conta da descoberta de que, na casa ao lado, vive uma menina linda da mesma idade que ele: Hannah (Odeya Rush).
Hannah é um sonho. Engraçada, aventureira e divertida, um bálsamo para Zach e sua luta para se ajustar na nova cidade.
O pai dela (Jack Black), porém, não é assim.
O sujeito sinistro deixa bem claro que não quer Zach perto de sua filha, e chega a fazer ameaças bastante claras de que coisas terríveis acontecerão se o guri continuar tentando invadir o espaço de Hannah.
Entretanto, sem muitos amigos além do nerd local Champ (Ryan Lee, de Super 8), não tarda para que Zach volte a procurar Hannah, e, quando o pai da gatinha descobre, e ela desaparece, o moleque imediatamente pensa no pior.
Junto com Champ, Zach invade a casa do sujeito, apenas para descobrir que não, ele não matou a própria filha, mas que outras coisas sinistras, e muito mais fantásticas acontecem na casa.
O pai de Hannah, na verdade é R.L. Stine, autor da série Goosebumps, e os monstros de sua imaginação permanecem trancafiados dentro de manuscritos selados que, quando abertos, liberam as criaturas em nosso mundo.
Quando a investigação de Zach e Champ acidentalmente libera O Abominável Homem das Neves de Pasadena na cidade, isso dá início a um efeito cascata que segue com a libertação de Slappy, o sinistro boneco de ventríloquo que odeia Stine, e se põe a libertar todas as criações do escritor no mundo real para matá-lo.
Sem alternativas, Stine e Hannah se juntam a Zach e Champ para tentar devolver criaturas tão variadas quanto Louva-a-Deuses gigantes, gnomos de jardim assassinos, lobisomens, zumbis e alienígenas às páginas da série antes que eles destruam a cidade de Madison inteira.
Olhando por cima, não parece uma premissa das mais promissoras, mas há que se ter em mente a fonte do roteiro de Darren Lemke, Larry Karaszewski e Scott Alexander na hora de avaliar a fita.
Goosebumps é feito pensando em arrepios juvenis, não em traumas perenes e noites sem dormir, nesse sentido, o longa encontra aquele equilíbrio entre sustos e risos de que eu falei lá no início e, amparado em um elenco raçudo e talentoso que veste a camisa e segura a onda mesmo quando a história se apressa para encher logo a tela de monstros em detrimento do desenvolvimento da trama.
Sem gerar pavor autêntico ou risadas honestas o bastante para virar um "terrir" de estirpe Sam Raimi, como a série Evil Dead ou Arraste-me para o Inferno, Goosebumps se sustenta sendo um prato cheio para seu público alvo, crianças e jovens adultos, e trazendo um sorriso nostálgico aos mais velhos com uma bela mensagem sobre o poder da imaginação em seu final (pouco antes do obrigatório e descabido gancho pra uma eventual sequência).
Talvez, daqui vinte e tantos anos, algum cinéfilo olhe para Goosebumps com a mesma ternura que caras da minha idade olham para Deu a Louca nos Monstros.
A locação vale totalmente a levinha viagem à alameda da nostalgia que o filme oferece.
Assista.

"-Sabe como as pessoas falam que adolescentes não têm medo de morrer? Que eles nunca vão se machucar? Bem, eu, não, OK? Eu nasci com o dom do medo!"

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Entendendo


Estavam sentados um ao lado do outro, na praça. Não estavam se tocando, ainda que ele, espertamente, tivesse seu braço espichado por trás das costas dela junto ao encosto do banco.
-Eu acho que te entendi... - Ele disse, com um meio sorriso triste.
-É mesmo? - Ela quis saber, olhando pra ele séria, mas sorrindo com os olhos.
-Sim. - Confirmou. -Não é engraçado que tenha demorado tanto? Que tenha sido só agora? - Ele perguntou.
-Eu não diria engraçado... - Ela falou, mudando a expressão. -A menos que, por engraçado, tu queira dizer irônico. - Conjecturou ela, erguendo bem as sobrancelhas.
-É... - Ele confirmou. -Foi exatamente o que eu quis dizer.
Suspirou. Era até irritante como ela e ele tinham isso. Se entendiam de maneira análoga. Subliminar. Orgânica. Ela e ele sempre sabiam um o que o outro queria dizer. Sabiam as mesmas coisas. Tinham variações do mesmo background. E ainda assim, não haviam dado certo... Certo?
Ela o tirou de seus devaneios:
-E como foi que tu me entendeu? - Perguntou.
-Não disse que entendi. - Ele corrigiu. -Disse que acho que te entendi. Vai uma diferença bem grande.
Ela fez um "hmmm" de compreensão. Continuou:
-E como tu acha que me entendeu? - Quis saber, enfatizando o "acho".
Ele mexeu a mão, ia tocar no cabelo dela, mas deteve-se. Olhou direto nos olhos dela, tentando ganhar um pouco de terreno.
Nunca soube se era verdade, ou não, mas sentia que possuía sobre ela, um poder semelhante ao que ela exercia sobre ele. Algo que outras pessoas não podiam ver, mas ela podia. Pequenos suspiros ou mudanças de expressão que, em um momento ou outro, sugeriam que ela o desejava, e que ele era capaz de surpreendê-la de quando em quando.
Ele nunca soube se aquelas reações eram autênticas ou se ela apenas as simulava de modo a oferecer-lhe, gentil, uma migalha de falso poder... Tinha, porém, tendência a creditar na veracidade daqueles pequenos deslizes por conta do coração dela, que fazia "Bum! Bum! Bum! Bum!" quando estavam de corpos colados.
A olhava direto nos olhos. Ela o olhava de volta. A expressão do rosto sensivelmente diferente, mas ainda firme. Sem sinal daquela fraqueza da carne que ele vislumbrara em um momento, ou dois.
-Como tu acha que me entendeu? - Ela repetiu.
Ele sorriu meio de lado:
-Eu vi Bonequinha de Luxo. - Disse.
Ela sorriu de volta.
-E daí?
-Eu não sei. - Ele disse. -Entendi, ou não?
-Tu acha que eu era uma puta antes de te conhecer? - Ela perguntou com um sorriso irônico, deixando escapar uma ponta de raiva ou desapontamento, ele não soube dizer, talvez porque não conseguiu decidir qual dois dois sentiria se estivesse no lugar dela. Talvez sentisse ambos...
Continuou:
-Não é esse o ponto, não é mesmo? - Disse.
-Não é? - Ela perguntou como quem não acredita.
-Não. - Ele confirmou.
-E qual é o ponto, então? - Ela quis saber, abrandando as feições.
-É que não importa. Não importa qual seja a tua jaula. Não importa o que tenha sido. Nunca importou... Não fazia diferença pra mim. Nunca fez. O "antes" não significava nada pra mim quando tu era o meu "agora" e o meu "depois"... Contanto que eu estivesse à altura da tua expectativa, o "antes" podia se explodir que eu não tava nem aí.
Ela sorriu entre triste e enternecida. Olhou pra baixo e então pra ele:
-E agora... Tu liga pro "antes"?
-Agora... É... Agora eu acho que ligo. - Ele confirmou, sério.
Ela fez outro "hmmm", de que entende. Mas mais curto. "hm". Ele continuava olhando pra ela. Disse:
-Eu ligo pro "antes" porque é onde tu e eu éramos "nós".
Ela sorriu um sorriso aberto. E ele sorriu um sorriso contido.
Havia tanto mundo pra ver, e eles estavam atrás do mesmo final de arco-íris...

Resenha DVD: Um Homem Entre Gigantes


Eu já fui, devo admitir, um grande fã de Will Smith. Do tipo que corria pro cinema pra ver qualquer filme estrelado pelo ex-maluco no pedaço, fosse uma ficção científica como Homens de Preto, fosse um thriller como Inimigo do Estado, ou um policial porra-louca como Bad Boys.
O que também precisa ser admitido, no entanto, é que em anos recentes Smith não tem feito nada de muito interessante. O ator que se provou um intérprete talentoso desde o longevo Seis Graus de Separação e alcançou uma indicação ao Oscar pela sua excepcional performance em Ali, sentou na zona de conforto e passou a fazer vários filmes onde ele podia apenas ser Will Smith e sorrir enquanto ouvia o dinheiro pingando na conta bancária.
Chegou a se dar ao luxo de escrever e produzir filmes para ensinar seu filho Jayden sobre a fama, o péssimo Depois da Terra, e seu último trabalho, Golpe Duplo, é um filme muito, muito chato.
De modo que, de fã de Will Smith,, eu havia me tornado um sujeito que só assistia aos filmes do cara quando eles passavam na TV a cabo porque nem pra alugar os filmes eu tinha mais paciência.
Mas ouvi falar muito bem deste Um Homem Entre Gigantes, e, ao me deparar com o longa na locadora de que sou sócio, não titubeei, tendo em vista que era um dos poucos lançamentos que eu não vi no cinema.
Um Homem Entre Gigantes (título estrambólico para o original Concussion) conta a história de Bennet Omalu (Smith), um médico legista nigeriano que trabalha nos Estados Unidos, na cidade de Pittsburgh.
Omalu é um homem de grandes luzes, que ama a medicina e praticamente vive para ela. Ele possui mais de meia dúzia de diplomas e seu trabalho na área de medicina forense inclusive o ajuda a resolver casos policiais. Omalu leva sua vida entre o trabalho onde é um protegido do diretor Ciryll Wecht (Albert Brooks), e a igreja, à qual frequenta de maneira pia.
A rotina pacata de Omalu muda quando o jogador de futebol americano "Iron" Mike Webster morre após um longo período de deterioração mental absolutamente sem precedentes.
Aos cinquenta anos de idade, fisicamente saudável, Webster (interpretado de maneira breve, porém tocante por David Morse) se auto-mutilou morando em uma picape como um indigente até sofrer uma parada cardíaca que lhe custou a vida.
O corpo de Webster acaba na mesa de autópsias de Omalu, que, intrigado com o caso, realiza uma autópsia completa no ex-jogador, descobrindo que a alarmante deterioração de seu cérebro pode ser fruto da exposição de sua massa encefálica à proteínas liberadas durante anos de choques de cabeça na prática do esporte.
Um otimista de crenças firmes no Sonho Americano, Omalu formula sua teoria e publica um estudo junto com outros especialistas na área acreditando que a luz lançada sobre os riscos para os jogadores seria motivo de regozijo para a liga profissional de Futebol, que poderia, então, se ocupar de aumentar a segurança dos atletas.
Ledo engano.
Não tarda para que Omalu se veja do lado errado de uma guerra contra uma instituição bilionária que não gosta nada da ideia de que seu produto possa ser prejudicial à saúde.
Além do doutor Wecht, quem surge para ajudar Bennet em sua luta contra a instituição que "é dona de um dia da semana", é o doutor Julian Bailes (Alec Baldwin), ex-médico do Pittsburgh Steelers que vê na pesquisa de Omalu a explicação para o tormento de muitos dos ex-atletas sob seus cuidados, e Prema Multiso (A linda Gugu Mbatha-Raw), uma imigrante que frequenta a mesma congregação de Bennet e se torna hóspede em sua casa, e, posteriormente, mais do que isso.
Mesmo com o apoio dessas pessoas, porém, Omalu enfrenta severas retaliações da NFL, que não poupa esforços em desacreditá-lo de todas as maneiras possíveis, recusando-se até mesmo a ouvi-lo em pessoa, enquanto os fãs do esporte que tomam conhecimento da pesquisa do médico o hostilizam de maneira sistemática em todos os frontes, deixando claro que a verdade inegável de sua descoberta amparada nos cadáveres que se empilham vítimas da moléstia, não são suficientes para convencer a NFL dos riscos.
Vou confessar que, baseado nos elogios que ouvi, esperava um pouco mais.
Um Homem Entre Gigantes não é um mau filme, de maneira alguma, mas não passa de um correto drama biográfico. As atuações são boas, em especial a de Will Smith, comedido e preciso, fazendo um Omalu que é obviamente um homem bom e correto, ainda que não seja um panfleto.
Gugu Mbatha-Raw também manda bem no papel de Prema, uma mulher forte, com um passado, e ansiosa por um futuro, e sua relação com o protagonista é conduzida de maneira delicada pelo roteiro de Peter Landesman, que também dirige o longa.
Com uma história redondinha, e uma edição bastante inteligente do oscarizado William Goldenberg e boas atuações do elenco que ainda inclui Eddie Marsan, Adewale Akinnuoye-Agbaje e Luke Wilson, Um Homem Entre Gigantes é um bom filme, um conto sobre a crença de um homem no que é certo, e como essa crença foi abalada, mas não destruída, pela ganância de uma organização.
Não é um grande injustiçado pela falta de hype, mas certamente merece ser assistido.

"-Eu sou a pessoa errada para ter feito essa descoberta."

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Top-10 Negativo Casa do Capita: Os Piores Filmes baseados em Videogames

Se ali embaixo eu coloquei uma lista dos melhores filmes baseados em games já feitos, e falei que a missão era difícil, não é menos desafiador fazer a lista dos piores, ainda que, por vezes, seja mais divertido já que algumas dessas pérolas fazem neguinho rir ao lembrar de ter pagado pra assistir tal qualidade de película.
Após algum escrutínio, eu reuni aqueles filmes que, dentre os que assisti (ou tentei assistir. Alguns deles me venceram pelo cansaço antes do final da projeção), obtiveram lugar de honra na galeria. A créme de la créme do lixo. O pior do pior.
O infame top-10 Casa do Capita dedicado aos piores filmes feitos com base em um videogame de todos os tempos:

10 - Street Fighter - A Última Batalha (Steven E. de Souza, 1994)


As tropas da coalizão sob o comando do coronel do exército norte-americano Guile (o belga Jean Claude Van Damme) chegam a Shadaloo para impedir os planos de domínio global do ditador Bison (último papel do ótimo Raul Julia).
O que se poderia esperar desse filme além de uma tremenda bomba? Van Damme, no auge do seu vício em cocaína não facilitou a vida do diretor/roteirista Steven de Souza, que já tinha rebolado tentando (e falhando em) transformar o jogo de luta em uma história coerente de duas horas de duração. Com cenas de luta meia boca, atuações canhestras e frases de efeito dolorosas, chega a ser surpreendente ver que gente como a cantora Kylie Minogue, a atriz Ming Na e o próprio Julia tenham embarcado nessa canoa furada que, hoje em dia, serve apenas pra rir um pouco das coisas que o cinema já foi capaz de produzir.

9 - Street Fighter - A Lenda de Chun-Li (Andrzej Bartkowiak, 2009)


Quando jovem, Chun-Li viu seu pai ser sequestrado pelo temerário senhor do crime M. Bison (Neal McDonough). Quando adulta, com o corpinho gostoso e a carinha mimosa de Kristin Kreuk, ela parte em uma jornada de vingança contra o vilão.
Se o filme de 94 era ruim, ele ao menos servia pra umas risadas, a versão de 15 anos depois, nem isso. Os únicos risos possíveis no longa são de nervoso, ou de vergonha alheia pelo festival de bobagens que se desenrola na tela com um elenco porcamente escolhido e cenas de ação de dar sono. Nem a bonitinha Kreuk, um coringa étnico dos filmes de baixo orçamento que faz papel de índia, indiana e chinesa, torna o martírio da hora e meia de filme mais suportável.

8 - Super Mario Bros. (Annabel Jankel, Rocky Morton, 1993)


Dois encanadores do Brooklyn, os irmãos Mario (Bob Hoskins) e Luigi (John Leguizamo) precisam viajar à outra dimensão e resgatar a princesa Daisy (Samantha Mathis), impedindo que o terrível tirano rei Koopa (Denis Hooper), domine o mundo.
Parece ruim na descrição? Acredite, é ainda pior quando se assiste. Pra te dar uma ideia de o quanto esse Super Mario Bros. é equivocado, Bob Hoskins assinou contrato pro filme sem sequer fazer ideia de que existia um game com esse nome.
O filme tem alguns efeitos razoáveis para a época, e tenta ser uma comédia de ação e fantasia. Há alguns risinhos aqui e ali, geralmente à revelia da vontade do roteiro. Para criancinhas pequenininhas que gostam de dinossauros, talvez seja um programa razoável, para qualquer pessoa com mais de cinco anos de idade e algum resquício de senso crítico, é muito, muito ruim.


7 - Mortal Kombat - A Aniquilação (John R. Leonetti, 1997)


Após vencer o Mortal Kombat a Terra deveria ter uma geração de paz garantida com o Outworld, mas, como o final do primeiro filme deixava claro, a derrota no torneio não havia deixado o Imperador Shao Khan (Brian Thompson) feliz. Mandando as regras do tratado às favas, Khan e seus generais começam tentar invadir a Terra, deixando a Liu Kang e Kitana (Robin Shou e Talisa Soto, únicos remanescentes do elenco do filme original) apenas seis dias para salvar o mundo de uma fusão forçada com o Outworld.
Infinitamente pior do que o primeiro filme, que ainda tinha algumas boas ideias, como um Goro animatrônico razoável e algumas sequências de luta francas (o duelo de Johnny Cage com Scorpion, por exemplo...), esse segundo filme tinha uma produção canhestra, efeitos visuais de fazer os filmes originais do canal Sify corar de vergonha, e algumas das piores atuações jamais vistas em um filme na tela grande. Se duvida, procure no Youtube a cena em que Sindel (Musetta Vander) ameaça sua filha Kitana de morte.
Quando uma atuação tão medonha que arranca risos é o único ponto memorável de um filme, tem-se uma ideia da qualidade da película...

6 - Double Dragon (James Yukich, 1994)


No futuro, no ano de 2007 (pra tu ver...), após um grande terremoto, as cidades de Los Angeles e San Diego acabaram sendo unidas em uma só megalópole semi-destruída e habitada por tribos urbanas. Nesse cenário punk/pós-apocalíptico, os irmãos Billy e Jimmy Lee (Scott Wolf e Marc Dacascos) se tornam alvo do chefão do crime Koga Shuko (o T-1000 Robert Patrick) por conta de um misterioso medalhão cuja metade os dois possuem, e que, na verdade, é um poderoso talismã chinês que dará poderes absolutos àquele que o possuir.
Se já é complicado transformar um game de luta com histórias individuais como Street Fighter e Mortal Kombat em um filme coerente, imagine tentar fazer isso com um side scrolling de porradaria incessante como o clássico absoluto do arcade Double Dragon? Empreitada difícil por si, só, que piorou horrores com a abordagem de comédia juvenil dada ao filme que é, na melhor das hipóteses, uma curiosidade.


5 - House of the Dead: O Filme (Uwe Boll, 2003)


Começa aqui o reinado de terror de Uwe Boll, facilmente o diretor que mais adaptou videogames em filmes inassistíveis:
Um grupo de estudantes universitários viaja à uma ilha misteriosa para atender à uma rave. Chegando no lugar eles ficam presos pois a ilha foi dominada por zumbis sedentos de sangue.
O que poderia ser mais um filme de zumbis razoável, igual cem outros que se vê de madrugada na TV a cabo, se torna um espetáculo de risadas não-intencionais entrecortado por diálogo pobre, trama mal-ajambrada e atuações tão ridículas que transformam o filme em uma comédia não-intencional.


4 - Far Cry: Fugindo do Inferno (Uwe Boll, 2008)


Um ex-operativo das forças especiais alemãs, Jack Carver (Til Schweiger) leva a vida tranquilamente como barqueiro. As coisas mudam quando a jornalista Valerie Cardinal (Emanuelle Vaugier) o contrata para levá-la até uma ilha próxima, onde uma base secreta guarda terríveis experimentos engendrados por um cientista louco criando um exército de soldados geneticamente modificados e sem inteligência.
Apesar de não parecer, o filme de Uwe Boll é baseado na série de games da Ubi Soft, e talvez, não fosse por isso, fosse apenas um filme de ação muito ruim. Como o longa ainda consegue a proeza de arrastar o nome da franquia gamística no chão enquanto gera bocejos, ganha um upgrade na sua torpeza, e um lugar na lista.

3 - BloodRayne (Uwe Boll, 2005)


No Século XVIII, a meio-humana, meio-vampira Rayne (Kristanna Loken) foge do circo de aberrações no qual cresceu para descobrir que é fruto do estupro de sua mãe pelo perverso rei dos vampiros Kagan (Ben Kingsley, de aluguel atrasado).
Decidida a se vingar, ela junta forças com dois caçadores de vampiros e parte em busca de justiça.
Uwe Boll ataca novamente em um filme que poderia ser do tipo "tão ruim que é bom", mas nem isso consegue. O longa é apenas ruim, mal escrito, mal dirigido, com a edição das cenas de ação sendo uma completa baderna e conseguindo fazer Ben Kingsley parecer um idiota com uma peruca estilo Drácula de Bram Stoker enquanto ronca suas falas.

2 - Em Nome do Rei (Uwe Boll, 2007)


Um pacato fazendeiro chamado Farmer (Jason Statham) tem sua esposa (Claire Forlani) sequestrada e seu filho morto por uma raça de guerreiros bestiais chamada Krugs. Sua busca por sua esposa e sua vingança o coloca no meio de uma guerra entre as forças leais ao rei Konraid (Burt Reinolds) e o cruel mago Gallian (Ray Liotta).
Baseado no game Dungeon Siege mas sem nenhuma preocupação em ser fiel à fonte, Em Nome do Rei virou um filhote anencéfalo de O Senhor dos Anéis, misturando atores das listas B, C e D de Hollywood com efeitos especiais ruins e uma direção medíocre para uma história genérica e cheia de personagens esquecíveis em subtramas vazias.

1 - Alone in the Dark - O Despertar do Mal (Uwe Boll, 2005)


Edward Carnby (Christian Slater) um detetive do paranormal e do inexplicável investiga a morte de um amigo quando esbarra com mistérios envolvendo uma antiga seita de adoradores do mal. Com a ajuda de sua ex-namorada, a antropóloga Aline Cedrac (Tara Reid), Carnby vai desvelando uma tenebrosa rede de horrores que o coloca em oposição à forças do próprio inferno.
Baseado nos games da série Alone in the Dark, o filme de Uwe Boll desperdiça o plot lovecraftiano dos jogos em um show de gore absolutamente ridículo, amparado em um roteiro confuso e cheio de problemas técnicos que parece ter sido feito a toque de caixa sem se preocupar em dar aos personagens qualquer profundidade além de nome e ocupação antes de matá-los de maneira sangrenta após alguma cena de ação embalada em um techno grotesco. Alone in the Dark - O Despertar do mal deveria ser a aula prática de como não se dirigir um filme, mas isso forçaria pessoas a assisti-lo, o que, convenhamos, é maldade demais.

Top-10 Casa do Capita: Filmes Baseados em Games

Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos está flopando bonito nas bilheterias mundo afora. É uma pena. O longa metragem de Duncan Jones não é ruim. Pelo contrário, é uma fantasia de capa, espada e magia cheia de qualidades que vão bem além do apuro técnico, e é uma pena que o filme esteja claudicando junta à crítica especializada e sendo visto com desconfiança pelo público em geral.
Vale lembrar, porém, que Transformers 4 fez mais de um bilhão de dólares em bilheterias, e que Blade Runner foi um grande fracasso de público à época de seu lançamento, de forma que, talvez a posteridade possa fazer justiça ao longa.
Agora, com Warcraft nas salas de cinema, e próximo do lançamento da adaptação cinematográfica de Assassin's Creed, me pareceu que esse seria um momento interessante para avaliar os longas já existentes de um gênero de filmes extremamente complicado, e fazer um indigesto top-10 Casa do Capita, tentando encontrar dez filmes que não sejam absolutamente intoleráveis.
Com isso em mente, apresento o Top-10 Casa do Capita dedicado aos melhores filmes baseados em videogames (não que isso seja lá um grande mérito.) antes de Warcraft, que, em outra situação, certamente encabeçaria essa lista.

10 - Hitman - Assassino 47 (Xavier Gens, 2007)


O longa metragem que seria estrelado por Vin Diesel (que acabou creditado como produtor) conta a história do agente 47 (Timothy Olyphant) um assassino geneticamente modificado à serviço da Organização.
Quando uma arapuca o coloca na mira de militares russos e da Interpol, 47 corre pela Europa lutando por sua vida, uma missão que se torna ainda mais complicada a partir do momento em que ele conhece a prostituta Nika (Olga Kurylenko), e passa a ter que enfrentar seus inimigos ao mesmo tempo em que se familiariza com sentimentos inéditos em sua vida semi-artificial.
É uma porcaria, ainda assim, Timothy Olyphant consegue ser um protagonista razoável, e emprestar um olhar vazio bastante familiar aos fãs do game. Com uma história toda apoiada em cima de clichês do gênero de ação, teria sido um bom filme nos anos 80, mas não chega a ser ofensivo, podendo até mesmo ser apreciado se o espectador conseguir colocar o cérebro em ponto-morto por uma hora e quarenta minutos de leis da física sendo suplantadas pelo impacto visual.

9 - D.O.A. - Dead or Alive (Corey Yuen, 2006)


Lutadores de artes marciais de todo o mundo são convidados para um torneio de artes marciais definitivo, o D.O.A. do título. Com desafios mortais que começam na chegada à ilha do torneio, onde os lutadores são jogados de pára-quedas, não tarda para que quatro participantes, inicialmente rivais, logo se vejam obrigadas a unir forças contra um inimigo comum!
Dead or Alive é tão ruim quanto Hitman, sua única vantagem é que, enquanto o longa do assassino careca tem apenas Olga Kurylenko servindo de colírio, D.O.A. têm várias beldades em cenas de luta absolutamente impossíveis, que, graças aos céus, não se levam a sério em momento algum.
O ponto alto do longa é a luta de Christie Allen (Holly Valance), enfrentando três policiais armados enquanto se veste.

8 - Lara Croft Tomb Raider: A Origem da Vida (Jan de Bont, 2003)


A intrépida aventureira Lara Croft (Angelina Jolie) volta à ativa para uma corrida contra um cruel cientista que pretende usar a legendária caixa de Pandora como arma. Para vencer essa batalha, ela precisa da ajuda do ex-fuzileiro Terry Sheridan (Gerard Butler) e de todas as suas habilidades para impedir que a origem da vida caia em mãos erradas.
Lixo puro, ainda assim, Angelina Jolie era uma escolha muito bem sacada no papel título, e sua química com Gerard Butler, mesmo sem ser um vulcão, dava uma apimentada maneira no longa que tinha uma cara danada de sessão da tarde.

7 - Lara Croft: Tomb Raider (Simon West, 2001)


Antes de encontrar a caixa de Pandora, Lara Croft foi vítima de uma sociedade secreta que roubou de sua casa um artefato que, usado durante um alinhamento planetário que ocorre apenas a cada 5 mil anos, daria a seu portador a habilidade de controlar o tempo.
Usando suas incríveis habilidades, conhecimento arqueológico afiado, e uma carta deixada por seu pai, cabe à Lady Croft bater os Illuminati de Manfred Powell (Iain Glenn, o presidente da friendzone Jorah Mormont de Game of Thrones) e, com a ajuda de seu colega aventureiro Alex West (Daniel Craig) impedir que os vilões obtenham controle sobre o passado e o futuro.
O primeiro filme de Lara Croft no cinema era "apenas" ruim, menos ruim do que seu sucessor, por exemplo. Tinha a seu favor a presença de Angelina Jolie, uma inspirada escolha para o papel da aventureira, e ao menos uma cena memorável (a luta de Lara contra o robô gigante era bastante bacana pros fãs do game), além disso, deu uma alavancada na carreira de Daniel Craig, que seria um ótimo James Bond antes de encher o saco do papel.

6 - Max Payne (John Moore, 2008)


Markie Mark, no alto de seus poderes dramáticos foi o protagonista do filme que adaptou beeeeeem livremente a boa série de games da Rockstar. No longa, Payne é um tira afastado do trabalho real após o assassinato de sua esposa e filha. Quando uma nova droga começa a encher as ruas com cadáveres, sendo um deles o da irmã da assassina profissional Mona Sax (Mila Kunis), e Max descobre que o narcótico pode estar sendo produzido pela mesma empresa onde sua esposa trabalhava, os dois unem forças para esclarecer o caso, e levar justiça às vítimas.
Como foi dito, Max Paye era muito livremente baseado no game homônimo, tem quinze minutos iniciais interessantes, e passa uma sensação de "quero ser Sin City quando crescer", depois descamba para um filme de investigação dos mais clichês entrecortado por sequências alucinógenas que servem só pra preencher a cota de efeitos visuais, ainda assim, era bem produzido, e não chegava a ser um filme muito horrível.

5 - Resident Evil: O Hóspede Maldito (Paul W. S. Anderson, 2002)


Um tenebroso vírus é liberado em uma instalação cientifica chamada de Colméia, transformando todo o pessoal em zumbis famintos por carne humana e liberando perigosos animais mutantes.
Para conter a infecção, a Umbrella Corporation envia uma equipe de militares altamente treinados para desativar a inteligência artificial que comanda a instalação. Em seu caminho está Alice (Milla Jovocih), uma sobrevivente amnésica que passa a trabalhar com o grupo enquanto luta para sobreviver ao exército de zumbis e às armadilhas espalhadas por toda a parte enquanto, lentamente, recupera sua memória.
Resident Evil talvez seja o mais bem sucedido subproduto cinematográfico de um game, chegando ao sétimo filme e com uma fortuna de bilheteria em seu rastro.
Se a série toda é um lixo violento cujos segmentos frequentemente estampam minha lista de piores do ano, o primeiro filme era uma fita de zumbis bastante razoável, com todos os clichês do filão, e ainda mostrava Milla pelada numa das últimas cenas.

4 - Terror em Silent Hill (Christophe Gans, 2006)


Dirigindo por uma estrada enevoada, Rose De Silva (Radha Mitchell) sofre um cidente e perde sua filha.
Seguindo os rastros da pimpolha desaparecida, Rose adentra a cidade de Silent Hill, um lugar maligno perdido em uma dimensão paralela onde o mal está em cada esquina.
Jamais haverá um filme tão assustador quanto o game Silent Hill, posto isso, o longa de Christophe Gans era uma adaptação honesta e bem intencionada do climão de pavor do jogo, e, apesar de não ser tão assustador quanto, tinha algumas passagens interessantes, especialmente com o vilão Pyramid Head arrastando sua espadona ameaçadoramente, não ficando, em momento algum, baixo da média de outros filmes de horror de sucesso. Não fosse pelo estigma de "filme de videogame", talvez tivesse tido melhor sorte nas bilheterias e junto à setores da crítica.


3 - Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo (Mike Newell, 2010)


O príncipe Dastan (Jake Gyllenhaal) é incriminado pela morte de seu pai adotivo, o rei Sharaman (Ronald Pickup), a morte do rei da Pérsia coloca Dastan em rota de colisão com seus irmãos adotivos, tudo parte do plano de Nizam (Ben Kingsley) para tomar o poder usando um artefato encontrado pelo príncipe, a Adaga do Tempo, uma poderosa arma capaz de reverter o curso da história, tornando seu detentor o senhor do mundo.
Com a ajuda da misteriosa Tamina (Gemma Arterton, uma delícia), Dastan precisa provar sua inocência e impedir os planos de Nizam enquanto é perseguido por uma perigosa ordem de assassinos.
Príncipe da Pérsia foi uma tentativa da Disney de emular o sucesso de Os Piratas do Caribe com um game como base ao invés de uma atração de parque. Muito bem intencionado, o longa tinha um bom diretor, um ótimo elenco, e era uma aventura de espada e magia bastante honesta, com cara de matiné de antigamente.
Apesar de não ter caído nas graças do público e ter sido acusada de racismo por parte da crítica já que não há absolutamente nenhum ator remotamente médio-oriental no elenco principal, Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo é um bom filme, e dificilmente não estaria na parte de cima de uma lista de filmes de games.

2 - Mortal Kombat (Paul W. S. Anderson, 1995)


Um antigo torneio disputado em segredo à cada geração decide o destino de mundos. Realidades e dimensões paralelas se encontram no campo de batalha para lutar representadas por seus campeões. Dez vitórias consecutivas dão ao vencedor a chance de invadir o mundo derrotado, e o reino de Outworld já soma nove vitórias contra o nosso mundo. Diante desse quadro, o poderoso deus do relâmpago Rayden (Christopher Lambert, um gênio da não-atuação) convoca um grupo de vira-latas para representar a Terra e garantir a sobrevivência da Terra.
O ator Johnny Cage (Linden Ashby), a policial Sonya Blade (Bridget Wilson) e Liu-Kang (Robin Shou) são a única esperança de impedir que o mundo seja invadido pelo representante do imperador Shao Khan, o feiticeiro Shang Tsung (Cary Horiuky Tagawa) e seus asseclas, que incluem o temível príncipe Goro.
Mortal Kombat é um violento guilty pleasure. Ruim, cheio de atuações canhestras, com efeitos visuais mais ou menos e sequências de luta estapafúrdias embaladas por uma trilha techno porcaria, o longa acertou em cheio no coração dos jogadores da franquia, que amaram o filme e seu descarado fan service que substituiu o gore sangrento dos fatalities do jogo em uma fita PG-13.

1 - Need for Speed: O Filme (Scott Waugh, 2014)


Eu disse, em junho de 2014, após assistir Need for Speed: O Filme em DVD, que o longa era, de longe, minha adaptação de games preferida.
E, excetuando-se Warcraft, essa afirmativa continua valendo.
A história do mecânico Tobey Marshall (Aaron Paul) e sua luta para, após ser preso injustamente, provar sua inocência em um corrida ilegal de carros envenenados é um longa divertido, movimentado e despretensioso.
Em tempos de Velozes & Furiosos, as sequências de corrida e as proezas automobilísticas da trupe de Toby parecem quase um documentário, e nas mãos de um diretor com mais verve e estofo do que o quase estreante Scott Waugh, NfS poderia ter se tornado um filme menos esquecível.
O longa de corridas estrelado por Paul, Imogen Poots e Dominic Cooper não tem as melhores sequências de corrida do cinema, não tem as melhores atuações ou a melhor direção, mas forma um conjunto decente, que consegue se destacar entre a mediocridade de seus pares, e oferecer um programa que, ainda que descartável, nada tem de ofensivo, e que antes da visita de Duncan Jones a Azeroth, era, para esse nerd que vos escreve, a melhor fita live action a ser parida de um videogame.