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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Top 10 - Cinema 2017

A verdade é que ao longo de 2017 eu vi vários filmes divertidos, mas pouquíssimos filmes bons de verdade. A maioria desses filmes realmente bons foram lançamentos de 2016 que chegaram atrasados ao Brasil entre janeiro, fevereiro e março.
Talvez apenas por isso eu tenha sido capaz de juntar dez filmes para fechar o top 10 de cinema desse ano que se encaminha pro final sem deixar saudades.
Vamos à lista:

10 - Fragmentado


Após longo período de trevas onde sempre esteve mais perto (e ás vezes dentro) do top 10 negativo do que do positivo, o cineasta M. Night Shyamalan reencontrou o caminho com o ótimo Fragmentado.
Contando uma história redondinha, ciente de suas limitações que jamais perde o rumo, e amparada pelo talento de James McAvoy em um tour de force camaleônico de cair o queixo, Shyamalan revisita seus melhores momentos, nos fazendo lembrar do diretor de Sinais, Corpo Fechado e O Sexto Sentido. Tomara que ele ainda esteja por perto quando Glass for lançado.

9 - John Wick: Um Novo Dia Para Matar


Um filme de ação baseado naquela ideia batida de tramas de vingança pode valer a película em que foi filmado?
Claro. Basta ter as peças certas.
E que peça pode ser mais certa do que Keanu Reeves no auge de sua maturidade esbanjando disposição de action hero e elegância de bailarino enquanto atira, esfaqueia, esmurra e chuta tudo ao seu redor ao mesmo tempo em que cria uma mitologia nova e vasta, repleta de detalhes divertidos e um ícone de ação instantâneo o suficiente pra saltar da telona pra outras mídias graças ao interesse e carisma de seu protagonista.
De Volta ao Jogo nos apresentou John Wick em 2014 com um filme de ação redondinho, na medida pros fãs de gênero, e, nesse ano, nos levou de volta a esse admirável mundo de assassinos de aluguel cheio de rígidas regras de conduta para mais uma passagem da vida de John Wick, o solitário que se opõe sozinho ao mundo quando ele deixa de fazer sentido.

8 - Em Ritmo de Fuga


Em Ritmo de fuga pode não ser um filme profundo, mas essa jamais foi a intenção.
O longa, nascido de um videoclipe dirigido por Edgar Wright é apenas uma deliciosa sessão de cinema à moda antiga, sem falsas pretensões ou filosofia vazia, apenas um divertidíssimo exercício de estilo que garante duas horas de personagens gostáveis se aventurando entre perseguições de carro invocadas e canções pop para todos os gostos.
Conforme eu disse após assistir ao filme, Em Ritmo de Fuga pode não ser a melhor sessão de cinema de 2017, mas é, sem dúvida, uma das mais divertidas.

7 - A Qualquer Custo


O faroeste moderno de David McKenzie é tão direto em seu intento, tão despretensioso, tão honesto, que é até difícil acreditar que tenha sido indicado ao Oscar entre dramas teatrais como Um Limite Entre Nós, massagens no ego de Hollywood como La La Land e panfletos de aceitação como Moonlight.
Talvez isso, por si só, já seja testemunho do tamanho da qualidade da história dos irmãos Howard de Ben Foster e Chris Pyne e de sua onda de assaltos cuidadosamente planejada sendo interrompida pelo quase aposentado ranger texano Marcus Hamilton de Jeff Bridges.
Uma acertada mistura de western com filme de assalto situada após a explosão da bolha imobiliária norte-americana, A Qualquer Custo não faz nada de novo, mas faz tudo certo, elevando uma premissa de western espaguete à categoria de arte graças ao talento de diretor e elenco.

6 - Blade Runner 2049


É difícil acreditar que Blade Runner 2049 existe.
O filme de Dennis Villeneuve que naufragou de maneira brutal nas bilheterias é um dos mais corajosos, provocativos, espetaculares e profundos blockbusters de todos os tempos.
Tudo em Blade Runner 2049, à exceção de seu elenco e orçamento, o fazem parecer um filme de arte, de suas ideias espirituais a respeito de o que torna alguém humano ao modo como ele aproveita cada segundo de projeção para contar sua história sem mastigar nada para a audiência, repleto de camadas, texturas e ideias, Blade Runner 2049 é como o K de Ryan Golsing ou a Joi de Ana de Armas: Mais humano que os humanos.

5 - Logan


O Wolverine deixa de ser um super-herói para se tornar um personagem... Mais do que isso. Para se tornar uma pessoa.
Logan não é um filme de gibi. É um faroeste noir, um road movie, um drama onde casualmente os personagens centrais têm super-poderes.
James Mangold cria uma experiência visceral, um filme de quadrinhos que assume riscos criativos em nome de seu protagonista de corpo e alma feridos, que não faz concessões e se compromete até a medula com a história que deseja contar.
Empolgante, tenso, brutal e tocante Logan é tudo o que as outras duas incursões solo de Wolverine nos cinemas não foram em grande parte graças ao talento de Patrick Stewart, que graciosamente rouba todas as suas cenas no filme, de de Jackman, que finalmente consegue fincar suas garras na alma de Logan, e entregar uma atuação à altura de seu talento no papel de sua carreira.

4 - Planeta dos Macacos: A Guerra


Eu sempre me surpreendo em como sou capaz de esquecer da série Planeta dos Macacos quando penso nos melhores filmes de anos recentes.
A trilogia iniciada com Planeta dos Macacos: A Origem em 2011 é, fácil, uma das melhores do cinema recente pegando parelho com obras sensacionais como a trilogia das Trevas de Christopher Nolan.
O terceiro longa da série estrelada por Andy Serkis é, óbvio, um triunfo técnico sem precedentes, fazendo desaparecer qualquer resquício de trucagem ou CGI, garantindo que a audiência possa ser imersa pela interpretação de atores vivendo chimpanzés, gorilas e orangotangos, mas mais do que isso, é um fecho espetacular para a melhor saga de ficção científica desde De Volta para o Futuro que coloca a audiência na desconfortável (para alguns) posição de torcer contra a própria espécia à medida em que a tragédia torna os humanos monstros, e a mágica da Weta Digital torna macacos humanos.
Ancorado na menor escala da sua história e não na megalomania, Matt Reeves sustenta sua narrativa através de seus personagens com uma sensibilidade sem igual em outras franquias repletas de efeitos especiais, e entrega uma história tão empolgante quanto tocante em um dos melhores filmes do ano.

3 - Silêncio


Martin Scorsese chuta a porta do cinema e dramatiza a presença de Deus através de sua ausência na brutal adaptação do romance de Shusako Endo a respeito de dois jovens catequistas jesuítas que se veem do lado errado de uma querela entre o império japonês e o catolicismo.
Scorsese não faz de Silêncio apenas um dos melhores filmes de 2017, mas um dos melhores filmes de sua invejável carreira ao usar o talento de Andrew Garfield e de Liam Neeson para materializar graça de uma forma jamais vista na tela, e levar a audiência pela mão por uma Via Crúcis de castigos físicos e espirituais, respondendo às preces de seus personagens com doses cada vez maiores de sofrimento e humilhação, usando cada minuto silencioso de projeção para contar sua história até uma conclusão tão devastadora quanto iluminada.
É Scorsese em seu melhor. Trazendo culpa e redenção à ribalta em um filme que é um chute na boca do estômago.

2 - Até o último Homem


Mel Gibson pode ser um antissemita bêbado e espancador de mulher, mas continua sendo um dos astros com mais carisma nas telonas e um diretor de mão cheia.
Ele suportou calado todas as piadinhas e críticas pessoais que recebeu na última década dado seu comportamento imperdoável, e após o que pareceu uma pena imposta por Hollywood, respondeu com um trabalho que lhe rendeu, inclusive, uma indicação ao Oscar.
Até o último Homem é um filme de guerra que comove tanto quanto fere, e faz as duas coisas simultaneamente com galhardia e convicção, expondo sangue e violência em toda a sua glória digital ao mesmo tempo em que celebra um pacifista de convicções inamovíveis, um dos maiores heróis de guerra da história, e que jamais disparou um único tiro.
Nas mãos de Gibson, o conflito entre cristandade e carnificina se torna o teste de fé definitivo, um em que Andrew Garfield (de novo) crava os dentes com gosto (conseguindo, inclusive, uma indicação ao Oscar) com sua interpretação de Desmond Doss, um dos três objetores conscientes da História dos EUA a ser premiado com uma medalha de honra.
Sem economizar na violência ou no simbolismo religioso, Gibson entregou o melhor filme de guerra desde O Resgate do Soldado Ryan, um dos pontos mais altos de sua carreira como diretor, e um dos melhores filmes de 2017.

1 - Dunkirk


Capturar a batalha de Dunquerque não é uma tarefa fácil. Muito menos o relato de um momento de grande heroísmo em tempos de guerra e mais a narrativa de uma retirada bem-sucedida após o fronte francês sucumbir ao avanço alemão em maio de 1940, a premissa não parece das mais empolgantes ou fáceis de trabalhar.
Ainda assim, Christopher Nolan resolveu investir nisso, e entregou um trabalho à altura de sua melhor forma e seus melhores momentos como cineasta.
Combinando a estrutura narrativa quebrada espertinha de Amnésia, a escala e ambição de O Cavaleiro das Trevas e a cinematografia grandiloquente de A Origem, Nolan criou um clássico instantâneo.
Não há nenhum momento desperdiçado ao longo dos enxutos cento e seis minutos de projeção, cada um deles carregado de propósito narrativo, dispensando qualquer sentimentalismo, uma raridade em se tratando de filmes de guerra.
Dunkirk é um espetáculo que vai muito além da recriação de uma batalha da Segunda Guerra Mundial, procurando cada detalhe oculto dos timões dos barcos civis que cruzaram o canal para ajudar na evacuação à cabine dos caças da RAF, passando pelo adolescentes amontoados na praia de Dunquerque tentando digerir a derrota enquanto lutavam pela própria sobrevivência.
Uma obra-prima que leva a coroa de melhor do ano.

Top 10 Negativo - Cinema 2017

Eu fui pouco ao cinema esse ano. Mais do que isso, vi poucos filmes. Só posso assumir que estou ficando velho e me tornando (mais) chato com a idade.
Os filmes não me emocionam mais. Tive uma experiência horrível assistindo Star Wars: Os Últimos Jedi, não fui capaz de me conectar com Homem-Aranha: De Volta ao Lar, mas chorei, honestamente, assistindo Cosmos... Sei lá... Talvez minhas preferências é que estejam mudando, já que fui muito mais feliz no que tange a entretenimento assistindo séries em 2017. Better Call Saul, Game of Thrones, O Justiceiro, Stranger Things e Duses Americanos do que a maior parte dos filmes que assisti esse ano...
De qualquer forma, foi com muito custo que juntei os piores filmes que assisti ao longo de 2017 em uma lista de dez longas. O critério para merecer um lugar na lista segue o mesmo de anos anteriores: Bombas insuspeitas vencem porcarias óbvias, o grau de investimento conta e, claro, a expectativa em torno do filme, também. Apenas filmes lançados de janeiro pra cá e, claro, que eu tenha me dado ao trabalho de assistir...

10 - A Torre Negra


Tinha gente esperando há anos por esse filme. Hollywood flertava há anos com essa adaptação. Uma das obras mais cultuadas de um dos escritores mais populares da literatura contemporânea, a série A Torre Negra podia render uma franquia de oito filmes pro estúdio que investisse nas adaptações cinematográficas e acertasse a mão.
A Sony investiu, com certeza, mas errou feio a mão.
O filme de Nicholaj Arcel é vazio, desagrada os fãs dos livros e não empolga os não-fãs, desperdiça o talento de dois ótimos atores e entrega uma história genérica que rivaliza com coisas como Eragon, Eu Sou Número 4 e qualquer outro filhote anencéfalo de A História sem Fim e testa a paciência da audiência que, pra piorar, ainda tem breves vislumbres de que esse filme poderia ter sido bom.

9 - Assassin's Creed


Se tinha um filme, além de Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos, que parecia capaz de tirar a mancha que recai, merecidamente, diga-se de passagem, sobre os filmes baseados em videogames, esse filme era Assassin's Creed.
O longa era encabeçado por nada menos que três egressos do ótimo Macbeth: Ambição e Guerra, o diretor Justin Kurzel, a linda e talentosa Marion Cotillard e o ótimo Michael Fassbender, um assumido fã dos games que produziu a coisa toda.
Com um grande elenco com atores do calibre de Brendan Gleeson e Jeremy Irons parecia claro que Assassin's tinha tudo pra dar certo.
Mas não deu.
O roteiro é mal ajambrado, seu desenvolvimento é aborrecido e a história é confusa, resultando em um filme que não decide se vai focar em Aguilar ou Callum Lynch (ambos Fassbender) e quando finalmente escolhe um dos dois, faz a escolha errada. Não há atuação que salve um roteiro porcaria, e nem mesmo as atuações são grande coisa em Assassin's Creed, por Odin, nem mesmo a ação, o mais básico traço dos games, funciona.
Assim fica difícil.

8 - xXx: Reativado


Vamos colocar da seguinte forma: Um novo filme de Triplo X é uma ideia tão ruim há tanto tempo, que em 2005 uma sequência foi lançada sem Vin Diesel. Até o protagonista da bagaça sabe que essa série é uma porcaria.
Mas sabe como é. Diesel está chegando aos cinquenta, as ofertas de emprego não devem estar se empilhando à sua porta, e a franquia Velozes & Furiosos vai acabar em algum momento, ele não pode viver só de dizer "Eu sou Groot", então deve ter parecido uma boa ideia, pra alguém... Em algum nível... Sob algum ponto de vista... Revisitar um personagem que já nasceu datado em 2002.
O resultado é que Diesel e o diretor D. J. Caruso tentam fazer um filhote de Velozes & Furiosos com esportes radicais ao invés de carros tunados, cheio dos mesmos cacoetes, de famílias de foras da lei a vilões que passam pro lado do bem, em uma hora e quarenta e sete minutos de um dos piores filmes do ano que só não ganhou lugar mais perto do topo dessa lista porque era uma porcaria óbvia desde o anúncio...

7 - Velozes & Furiosos 8


E quem disse que grande retorno financeiro é garantia de qualidade? Certamente não a série bilionária Velozes & Furiosos, que começou como um bem-intencionado chupim de Caçadores de Emoção e logo se transformou no filhote burro e cheio de esteroides de Onze Homens e Um Segredo.
O oitavo e mais recente filme da franquia empilhou tantos dólares em bilheteria pelo mundo inteiro quanto ignorou as leis da física e teve atuações constrangedoras em sua trama requentada e boba a respeito de um bando de ladrões sendo usado pelo governo dos EUA para combater um outro bando de ladrões que está usando o líder do primeiro bando de ladrões para roubar um bagulho, lá.
O diretor F. Gary Gray não faz muita coisa além de distribuir os coletes e supervisionar o CGI num filme de ação genérico que é mais um capítulo sonolento e preguiçoso de uma série que já foi divertida, mas agora é apenas repetitiva.

6 - Baywatch


A briga entre Dwayne The Rock Johnson e Vin Diesel nos bastidores de Velozes & Furiosos 8 talvez tenha começado em uma disputa sobre quem fez os piores filmes em 2017... Se foi o caso, Johnson leva vantagem, além de ter estrelado em duas grandes porcarias ele nem teve o divertido Guardiões da Galáxia - Volume 2 em seu cartel pra dar uma amenizada.
Ao invés disso ele esteve em Baywatch, que tinha potencial e elenco pra ser uma comédia divertida, mas se tornou duas horas de uma série de piadas escatológicas embrulhadas em uma pseudo-trama mais frágil que papel higiênico molhado, inchada com romances sem química e gags sem graça.
Há poucas coisas nessa vida piores do que uma comédia sem graça, e uma delas é uma comédia sem graça que desperdiça o talento de atores que sabem ser engraçados.

5 - Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi


É, eu também não acredito. Mas é difícil pensar em uma sessão de cinema que tenha me deixado mais vazio e desapontado em 2017. Pior:
Quanto mais em penso a respeito do filme, menos eu gosto dele.
Com um roteiro cheio de buracos, tramas paralelas enfadonhas, personagens clássicos descaracterizados, personagens novos insuportáveis, absoluta falta de consideração pelas perguntas levantadas como importantes no filme anterior, e o maior e mais completo desrespeito ao cânone de Star Wars em todos os tempos, Os Últimos Jedi foi, de longe, o filme que me fez sentir pior durante esses últimos doze meses.
Rian Johnson limpou os pés na mitologia de Star Wars, ignorou os sete filmes anteriores e aparentemente criou um roteiro sem-sentido com o único intuito de mudar uma mitologia consagrada defenestrando as regras estabelecidas e a jornada do herói em nome de um retrato da geração millenial, que não precisa batalhar por nada, ganhando tudo de mão beijada na forma de Rey, a Mary Sue definitiva da história do cinema, e Kylo Ren, o emo riquinho revoltado.
Parabéns, Johnson, pela primeira vez saí de um cinema após ver Star Wars sem nenhum interesse em assistir a outro Star Wars.

4 - Transformers: O Último Cavaleiro


A verdade é que Transformers é uma franquia que piora em proporção geométrica a cada novo lançamento. O pior de tudo é lembrar que o primeiro filme era uma divertida mistura de Sci-fi, ação e comédia que foi sendo paulatinamente diluída em pirotecnia vazia ao longo de cinco filmes um pior que o outro.
O Último Cavaleiro é, fácil, o ponto mais baixo da franquia em todos esses anos, com uma trama confusa e besta que enfia os Transformers na lenda do rei Arthur, deixa Optimus Prime malvado e Anthony Hopkins constrangedor em meio àquelas tradicionais sequências de ação que a gente não consegue distinguir direito e aquela dor de cabeça que a edição disparatada da série já tornou tradicional.
Mark Wahlberg disse que não retornará para novas sequências. Todos deveriam fazer a mesma coisa...

3 - Bright


A Netflix enfiou os dois pés na jaca com gosto ao entregar 90 milhões de dólares pra David Ayer dirigir um filme sobre criaturas mágicas e gangues de Los Angeles estrelado por Will Smith.
O diretor que já havia cometido muito filme ruim, incluindo aí o horrendo Esquadrão Suicida faz o que faz melhor em Bright, enche a porra toda com a dinâmica de gangues e de policiais corruptos para contar uma história sobre orcs marginalizados e elfos privilegiados, no meio de tudo isso tem uma varinha mágica que explode usuários não-autorizados mas que ainda assim todo mundo quer, e uns tiroteios em becos iguais a todos os outros filmes de Ayer.
Will Smith fazendo papel de Will Smith, que à essa altura já encheu o saco, e duas horas da sua vida que ninguém vai devolver.

2 - Rei Arthur: A Lenda da Espada


Sabe o que é o mais triste?
Eu realmente achei que Guy Ritchie e Lionel Wigram fariam pelo rei Arthur a mesma coisa que haviam feito por Sherlock Holmes anos atrás, e entregariam uma interpretação divertida, movimentada e empolgante de um personagem clássico com uma roupagem nova, mas reconhecível.
Ledo e Ivo engano...
O Rei Arthur de Ritchie e Charlie Hunnam é arrastado e surtado na mesma toada, não é capaz de acender nenhuma emoção ou se segurar na memória da audiência, a trama confusa e inchada demanda concentração pra acompanhar mas não entrega o que promete. Monstros gigantes, malandragem rueira, espada e magia se empilham pela tela sem dó nem piedade e o espectador nem mesmo é capaz de ligar porque é simplesmente impossível se divertir ou se conectar emocionalmente a um videoclipe de mais de duas horas que nem mesmo tem música...

1 - A Múmia


Eu terminei de assistir A Múmia e me perguntei duas coisas:
Por que Tom Cruise aceitou fazer esse filme?
Por que a Universal entregou tamanho controle criativo a Tom Cruise a ponto de o astro pegar o que deveria ser o primeiro filme de seu universo de horror e transformar em um filhote genérico de Missão: Impossível onde o vilão da vez é uma múmia?
Provavelmente desespero pra capitalizar em cima de um catálogo de monstros com os quais a maioria das pessoas não se importa mais.
O resultado porém, foi tenebroso. Um filme de ação horroroso que trafega por cada parada obrigatória da cartilha do blockbuster vazio sem conseguir, de forma alguma, fazer o Universo Sombrio natimorto da Universal respirar.
Tom Cruise de fato é um herói. Matou essa ideia horrorosa antes mesmo que ela saísse da caixa.




quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Revendo Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi


Eu ainda não tinha visto um filme polarizar a opinião dos fãs da maneira como Star Wars: Os Últimos Jedi está fazendo.
Sério.
Mesmo filmes ruins do universo de Star Wars, como A Ameaça Fantasma e O Ataque dos Clones eram motivo de chacota dos não-fãs e vistos com alguma condescendência pelos apaixonados.
Quando alguém fala mal de A Ameaça Fantasma, eu sempre me lembro de Qui-Gon Jinn e Darth Maul, e o filme automaticamente me parece menos ruim. Quando falam do discurso de Anakin no Episódio II resmungando a respeito de ter areia na bunda durante uma conversa romântica, eu me lembro do impacto de ver o jovem padawan massacrando os caçadores Tuskan, ou Mace Windu mostrando a Jango Fett o tamanho do erro que é trazer um blaster para uma briga de sabres de luz, e as coisas ficam menos indigestas...
Os Últimos Jedi, porém, é um longa que eu vejo ser acalentado pela crítica especializada como um todo (algo que jamais ocorreu com outro Star Wars) e literalmente dividir os fãs da série.
Gente que cresceu ao som da fanfarra de John Williams pode ter achado o filme tanto o melhor da franquia, quanto o pior, e eu me encaixo no segundo grupo.
Atenção para os spoilers. Se não tiver assistido ao filme, não continue lendo.
Há muita gente defendendo ardorosamente Os Últimos Jedi e dizendo que o desgosto de parte da audiência se deve a subversão das suas expectativas. Eu me encaixo perfeitamente nesse grupo já que tinha a expectativa de ver um bom Star Wars e não foi o caso...
Eu não vou falar do péssimo arco de Finn e Rose (que chegam a ser presos em planeta Montecarlo por estacionar em local proibido), que poderia ter sido evitado se Holdo tivesse se comunicado com Poe e explicado seu plano ao invés de apenas tê-lo deixado acreditar que ela estava preparada pra deixar todo mundo morrer.
Não vou falar do absurdo desperdício da capitã Phasma, que aparentemente morreu... De novo? Após uns três minutos em cena, e nem da Super Leia...
Também não vou me concentrar em Snoke, uma das grandes perguntas do episódio VII que se transformou em um dos maiores "foda-se" da história da franquia. Esse ente antigo, amplamente instruído nos caminhos da Força, capaz de mexer com as mentes dos outros, de sacolejar seus asseclas como bonecos de pano, arregimentar um exército quase infinito com recursos ilimitados que após perder um planeta inteiro ainda supera os números da resistência em milhares e de repente foi partido ao meio porque sim...
Eu não tinha grandes teorias a respeito do filme, embora, obviamente, tivesse em minha mente algumas coisas que gostaria de ver, a maior parte delas envolvendo Luke e seu sabre de luz verde esmeralda... Mas tendo em vista que Rey é a personagem central desse novo Star Wars, estava preparado para ver Luke restrito à posição de mentor, conforme os trailers sugeriam... E aqui começam os problemas:
Luke, o não-mestre, é provavelmente o maior senão do filme.
O Jedi que derrotou e redimiu Darth Vader tornando-se um dos mais poderosos mestres da ordem que começou a reconstruir, virou o sujeito que acha que é hora de os Jedi acabarem.
Luke, por alguma razão, acha que permitir o fim da ordem trará equilíbrio à Força, ignorando o fato de que usuários do lado sombrio estão dominando a galáxia uma vitória após a outra e que bastou uma Jedi Miojo aparecer no campinho para que a coisa toda ficasse menos desigual...
O arco de Luke no filme, independente dos esforços de Mark Hamill (que disse publicamente não gostar da versão do personagem no filme antes mesmo do lançamento), é um dos piores de toda a série.
Ele é descaracterizado de uma forma grotesca.
Veja, descobrimos que a coisa toda começou porque, à certa altura do treinamento de Ben Solo, Luke viu a possibilidade de Ben ser seduzido pelo lado sombrio, e pensou em resolver o problema matando o sobrinho...
É.
O sujeito que disse com todas as letras a Yoda e Obi-Wan que não iria matar o maior assassino em série da galáxia, Darth Vader, porque ainda havia bem nele, cogita, mesmo que brevemente, a possibilidade de empalar o sobrinho adormecido porque existe a possibilidade de que ele vá para o lado do mal...
Não faz nenhum sentido, mas essencialmente o que temos no filme, é que Luke empurrou Ben Solo para os braços de Snoke, e enterrou a própria Ordem Jedi por ter feito... Bom... Exatamente o oposto de tudo o que ele já tinha feito na vida.
Após essa incoerente cagada de proporções monumentais, Luke dá as costas ao seu dever para com sua irmã, seus amigos, a galáxia e seu legado. Após sua falha, ele simplesmente se abstém de qualquer responsabilidade, indo morar numa ilha no meio do nada bebendo leite das tetas de um negócio-elefante qualquer, pescando e sendo amargurado para que a Ordem Jedi morra com ele (embora ele tenha deixado um mapa de como encontrá-lo, por alguma razão...).
Até que a Rey chega e ele decide que não vai treinar ela, mas aí diz que ensinará três lições, meio que ensina duas, ela vai embora e ele descobre que a Ordem Jedi tem que continuar...?
Luke, enfim, resolve superar sua fase sombria e rabugenta, e realizar um último grande feito, garantindo a sobrevida da Resistência em uma luta holográfica contra Kylo Ren.
Embora eu tenha achado interessante a forma como Luke lida com Kylo no final do filme, e tenha pensado "Ah, legal, agora Luke poderá ensinar Rey apropriadamente no próximo filme e ter um papel de mais destaque...", não.
Luke aparentemente fica esgotado após enfrentar Kylo Ren à distância, e morre de cansaço ou algo que o valha após o confronto.
Embora ele não tenha sido atingido por um golpe inimigo como Obi-Wan e nem estivesse velho e enfermo como Yoda, Luke termina sua luta ilusória contra Kylo todo suado... Talvez ele tenha morrido de calor.
Enfim, Luke cumpre seu arco no filme assim. Falha, se esconde, quer terminar com a ordem Jedi, não quer mais, dá um show de luzes e morre.
Olha... Eu estava preparado para ver a passagem do bastão.
Han Solo, um de meus personagens favoritos morreu no último filme e eu não odiei O Despertar da Força. O grande problema é a forma como essa passagem de bastão foi feita...
Han não foi descaracterizado, não teve seu legado vilipendiado. Não se tornou um acessório para que a nova geração tivesse destaque.
O que ocorreu com Luke.
Luke se tornou uma versão caricata que mal lembra o personagem de antigamente para que Rey e Kylo Ren tivessem um lugar ao sol, provavelmente porque os dois personagens não conseguem brilhar por conta própria.
Vamos focar em Rey, a Mary Sue definitiva do Universo Star Wars, que consegue ser mais beneficiada pelo roteiro do que Galen Marek era em The Force Unleashed...
As pessoas comparam a trajetória de Rey a de Luke nos episódios IV a VI de maneira leviana.
Em Uma Nova Esperança Luke usa a Força para acertar um tiro contra a Estrela da Morte. É tudo o que ele consegue fazer, e mesmo assim, ele precisa da ajuda de Han para não ser explodido por Vader. O Império Contra-Ataca acontece cerca de três anos após Uma Nova Esperança, e Luke evoluiu apenas o suficiente para conseguir lutar usando um sabre de luz e poder movimentar pequenos objeto usando a Força. Ele precisa viajar a Dagobah e passar por um árduo treinamento sob a tutela de Yoda para ser capaz de fazer um pouco mais do que isso, e mesmo assim, ao enfrentar Vader com seu treinamento incompleto, ele é DERROTADO pelo vilão.
Luke surge como um autêntico Jedi apenas no episódio VI, após mais alguns anos de retiro em Tatooine, onde seguiu realizando estudos, meditação e treinamentos e mesmo depois disso ele retornou a Dagobah para se submeter à avaliação de Yoda.
E a Rey?
A Rey já era uma esgrimista capaz de derrotar Kylo Ren ainda em O Despertar da Força. Era capaz de realizar truques mentais e resistir a interrogatórios. Os poderes dela já eram equiparados aos de um Jedi totalmente treinado antes mesmo de ela saber o que era a Força. Se a Rey fosse apenas uma ótima mecânica, piloto e uma lutadora durona, eu não teria nenhum problema, mas a Rey é uma Jedi Miojo, que ouve falar da Força e já sai usando... O Despertar da Força acontece ao longe de dois ou três dias, e Os Últimos Jedi começa imediatamente após o episódio VII e transcorre ao longo de, talvez, cinco dias?
Em uma semana, Rey é capaz de realizar feitos iguais aos de Jedi treinados da época da Guerra dos Clones.
Provavelmente essa seja a melhor razão para Luke não querer treinar Rey. Ela já sabe de tudo, mesmo...
O grande problema aqui é que Rey se torna uma personagem com quem não dá pra se relacionar. Enquanto Luke e o próprio Anakin Skywalker eram personagens que pagaram altos preços por seu conhecimento e poder, perdendo entes queridos, a juventude, e partes do corpo até se tornarem quem são, Rey jamais está em perigo.
Nós sabemos que, ali na frente algum deus ex-machina vai surgir pra ajudá-la a sair de qualquer enrascada.
Qual é a jornada de uma personagem como Rey? Que recebe todos os seus dons de mão beijada?
Aparentemente descobrir que ela não precisa de nenhum mentor.
Sem Han, sem Luke, sem Leia, ela sempre dá um jeito de vencer qualquer batalha, escapar de qualquer armadilha. Ela está presa com Kylo Ren na nave de Snoke e de repente já está dentro da Millenium Falcon salvando a resistência e ninguém questiona como ela chegou até ali porque afinal de contas é a Rey...
Uma das grandes perguntas de O Despertar da Força ao lado de "quem é Snoke?" era "Quem são os pais de Rey?". Essa pergunta foi respondida em Os Últimos Jedi, e a resposta é "ninguém importante".
Eu estou OK com isso.
Não acho que a família Skywalker tenha o monopólio da Força na galáxia, inclusive alguns dos meus Jedi preferidos, e alguns dos mais poderosos, não são Skywalker.
O grande problema aqui é a forma como Os Últimos Jedi desfaz dessas perguntas que foram apresentadas como sendo importantes.
Os pais da Rey eram um grande mistério. Era a grande pergunta. Toda a jornada da personagem no episódio VII alardeava aos pais. "Minha família", "Preciso esperar minha família", e de repente a família não importa.
Eu não desgosto de Os Últimos Jedi por não contar a história que eu esperava, ou por não contar a história que eu contaria, ou sequer por ter contado a história de O Império Contra-Ataca com outra roupagem (rebeldes perseguidos pelo império, jovem sensitivo da força treinando com um mestre...), eu desgosto de Os Últimos Jedi por ter subvertido as regras da mitologia porque sim, por ter trapaceado, por ter pego um personagem consagrado e mudado completamente sua essência para ele se encaixar melhor na jornada de outros.
Eu desgosto de Os Últimos Jedi porque o longa alardeou que iria ser desafiador, transgressor e novo, e apenas fingiu sê-lo, resultando em um filme tão convencional quanto o Despertar da Força, talvez mais, já que em nenhum momento qualquer um dos heróis está em perigo real.
Rian Johnson mexeu no funcionamento estabelecido da Força, criou um novo e piorado Luke Skywalker apenas para matá-lo no fim, e contou mais uma história onde o aprendizado não importa.
Rey é especial porque sim. Porque todos são, conforme o menino do estábulo comprova na última cena do filme, o que imediatamente me fez lembrar de Os Incríveis:
Se todos são especiais, então ninguém é.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Resenha DVD: A Torre Negra


Fãs hardcore vão querer me matar, mas a verdade é que nunca vi grande coisa no trabalho de Stephen King, midas da literatura fast-food que transforma tudo em um monstro a ser temido, de carros a meteoritos. Eu não sou um grande fã do gênero que consagrou King, e portanto não sou um leitor ávido de contos de horror. Ainda que eu saiba que Stephen King vai além do terror, e admire adaptações de obras suas que se aventuram por outros gêneros, como À Espera de um Milagre, Conta Comigo e Um Sonho de Liberdade, não sou um dos milhões de de leitores que tornaram King um multi milionário com mais de 400 milhões de cópias vendidas e um dos dez autores mais traduzidos do mundo. Digo isso tudo porque quero deixar claro que, quando assisti esse A Torre Negra, adaptação de uma cultuada série de ficção científica de King, eu o fiz apenas como um fã de filmes, sem nenhuma conexão emocional com o material-fonte, eu não era um fã de uma longeva série literária buscando na tela uma adaptação que fizesse justiça a coisa alguma. Eu queria apenas ver um bom filme.
A despeito de jamais ter assistido nenhum longa do diretor dinamarquês Nicolaj Arcel, eu estava mais ou menos familiarizado com o trabalho de dois dos roteiristas do longa, Akiva Goldsman que intercala trabalhos bons, não tão bons, e horrorosos, Jeff Pinkner (do tenebroso A 5º Onda), que trabalharam ao lado de Anders Thomas Jensen e do próprio Arcel para contar a história do jovem Jake Chambers (Tom Taylor), um jovem problemático, assolado por vívidos pesadelos desde a morte de seu pai.
Jake acredita que, de alguma forma, seus pesadelos são mais do que apenas ilusões oníricas, mas sim uma espécie de premonição.
Em seus sonhos ele vê uma espécie de fortaleza, de onde crianças são forçadas a lançarem raios para destruir uma torre negra. E quando, nos sonhos de Jake, essa torre é afligida por esses ataques, há grandes terremotos no mundo real.
A tal fortaleza é regida por um homem de preto (Matthew McConaughey) que comanda uma força de trabalho composta por pessoas-rato que usam máscaras de pele falsa. Esse Homem de Preto sabe que existe, no mundo, uma criança cujo grito destruirá a torre.
Com seus sonhos se tornando mais frequentes e danosos, a mãe de Jake, Laurie (A lindaça Katheryn Winnick) é forçada a considerar um retiro terapêutico para o moleque.
Antes de seu retiro, porém, Jake tem um novo sonho, no qual finalmente vê alguém capaz de se opôr ao homem de preto.
Um pistoleiro cuja habilidade no gatilho é apenas equiparada por seu ódio contra o Homem de Preto. Jake sabe que aquele Pistoleiro é sua melhor chance de entender tudo o que está ocorrendo, e não tarda para que ele próprio se veja na mira do Homem de Preto, tendo como única esperança de sobrevivência o Pistoleiro de suas visões, descobrindo que a Torre em seus sonhos é o pináculo que sustenta o nosso universo, e que o Homem de Preto, Walter O'Dim, planeja derrubá-la, espalhando o caos por todos os mundos, e reinando um inferno habitado por monstros.
Em seu caminho, encontravam-se os Pistoleiros. A ordem de antigos cavaleiros cuja missão era garantir que a Torre permanecesse em pé, entretanto, a ordem foi destruída por Walter, e Roland Deschain (Idris Elba) é seu último remanescente, solitário e alquebrado pelo desejo de vingança.
Unidos pelo inimigo em comum, Jake e Roland viajam pelos mundos procurando uma forma de encontrar o Homem de Preto e pôr um fim ao seus planos, salvaguardando a Torre Negra e a sobrevivência de todo o universo.
Conforme eu disse ali em cima, eu não sou um fã da série literária A Torre Negra. Jamais li nenhum dos volumes, então eu não fui ofendido por eventuais descaracterizações dos personagens do livro nem nada do tipo. Entretanto, posso dizer que A Torre Negra enquanto filme, e apenas filme, é absolutamente insonso. Um longa com um plot sem absolutamente nada de diferente de duzentos outros filmes sobre um adolescente descobrindo que seus sonhos são a chave para a salvação do universo partindo em uma jornada épica com uma figura paterna substituta.
Seria batido mesmo se fosse bem feito. E não é o caso. Jake é um recurso do roteiro mais do que um personagem. Um avatar da audiência que está sempre precisando de respostas para empurrar a trama até o final.
Apesar de Jake ser o catalisador da trama, o Pistoleiro e o Homem de Preto são os protagonistas do filme de fato, e sendo o que o longa tem de melhor a oferecer.
Elba garante uma bem vinda gravidade a Roland. É graças ao talento e carisma do britânico que o Pistoleiro não é um mero exercício vazio de estilo com seu sobretudo de couro e dedo nervoso. McConaughey faz o que pode com um personagem tenebrosamente unidimensional que precisaria de mais estofo para ser um bom vilão em um filme de James Bond. Ele esbanja seu charme mais canastrão para lançar feitiços e ser ameaçador, e nós não podemos deixar de nos perguntar como esse personagem seria maneiro se tivesse sido bem escrito.
Com problemas de ritmo, de edição (o longa aparentemente passou por extensas refilmagens e foi picotado e remendado após maus resultados em exibições-teste) e de desenvolvimento, A Torre Negra parece um filme que não sabia ao certo como contar sua história e então diluiu sua trama de todas as formas possíveis para agradar ao público mais amplo que fosse capaz, abrindo mão de sua alma em nome de um alcance maior. Ao fazê-lo, A Torre Negra resultou em um produto absolutamente desprovido de estofo. Incapaz de emocionar, divertir, ou ir além de um desperdício de talento de dois atores acima da média, e do tempo de quem se dá ao trabalho de assistir.
É uma pena.
Parece haver boas ideias no material-fonte. Quem sabe dou uma chance aos livros. Parece um programa muito melhor do que o filme foi.

"Eu não miro com minha mão. Aquele que mira com sua mão esqueceu do rosto de seu pai. Eu miro com meu olho. Eu não atiro com minha mão. Aquele que atira com sua mão esqueceu do rosto de seu pai. Eu atiro com minha mente. Eu não mato com minha arma. Aquele que mata com sua arma esqueceu o rosto de seu pai. Eu mato com meu coração."

sábado, 23 de dezembro de 2017

Resenha Filme: Bright


Após tomar o maior banho de água fria de todos os tempos ao assistir o primeiro Star Wars verdadeiramente ruim e desalmado da existência, eu fiquei alguns dias assistindo a trilogia setentistas pra me recuperar, e ontem, sem nada pra fazer, resolvi ver esse Bright, novo blockbuster da Netflix estrelado por Will Smith e dirigido por David Ayer do horroroso Esquadrão Suicida porque, afinal, nada mais esse ano iria pisotear minhas paixões cinematográficas como Os Últimos Jedi.
Logo, Bright não seria capaz de fazer mais estragos que outras bombas que eu já tinha assistido esse ano, então resolvi comprometer duas horas da minha vida e ver o blockbuster do serviço de streaming mais bacana do mundo (tô com vocês Netflix).
Bright mostra uma realidade onde criaturas de fantasia como fadas, centauros, elfos e orcs coexistem com seres humanos em um mundo contemporâneo.
A polícia de Los Angeles tem, inclusive, o primeiro oficial de polícia Orc, Nicholas Jakoby (Joel Edgerton), cuja nomeação parece uma imposição do escritório de integração muito mal aceita pelos demais policiais em geral, e por seu parceiro em particular, Daryl Ward (Smith).
Ninguém quer ter o orc como parceiro, Ward inclusive. Especialmente porque há pouco tempo Ward foi baleado por outro orc que escapou em circunstâncias nebulosas após ser perseguido por Jakoby. As tensões crescem entre os dois tiras quando a Assuntos Internos surge procurando por uma desculpa para dar fim à carreira de Jakoby na força policial, e pedem que Ward grave a confissão de seu parceiro e o entregue à corregedoria para ser expurgado.
As coisas se complicam quando ao responder um chamado na periferia de L.A. Ward e Jakoby encontram uma jovem elfa, Tikka (Lucy Fry) de posse de uma varinha mágica.
Varinhas mágicas são itens de extremo poder, que, se empunhadas por um bright (arrá!) são capazes de realizar o impossível (mas explodem qualquer outra pessoa que a segure). Quando Ward e Jakoby colocam Tikka sob custódia, e chamam reforços, não tarda para que a notícia de uma varinha na vizinhança atraia a atenção de todo mundo.
De policiais corruptos, de gangues latinas, de gangues orcs, do bureau federal de magia, e dos Inferni, um grupo de elfos renegados que tentam usar o poder de varinhas para trazer de volta à vida o senhor do escuro Saur... Não, peraí, é só Senhor das Trevas, mesmo.
Enfim, a líder dos Inferni, Leilah (Noomi Rapace), dona da varinha, torna impossível que o artefato se afaste dela além de certo ponto, o que força Ward e Jakoby a colocarem duas diferenças de lado e permanecer em território inimigo para proteger Tikka e a varinha por uma noite infernal onde eles estão cercados de inimigos por todos os lados.
Enfim, quando O Senhor dos Anéis encontra Marcados para Morrer e Dia de Treinamento, o resultado só podia ser essa meleca que é Bright.
David Ayer só sabe fazer um filme, e ele é a respeito de gangues latinas norte-americanas e policiais. Se não acredita em mim, reveja a filmografia de Ayer. Tempos de Violência é sobre um membro de gangue que quer ser policial, Os Reis da Rua, Marcados para Morrer, Sabotagem, todos sobre policiais.
Aí temos Corações de Ferro, que é sobre uma gangue à bordo de um tanque na Segunda Guerra, e depois temos Esquadrão Suicida que é sobre uma gangue de super(?) vilões, e agora Bright, sobre policiais ilhados em meio a gangues...
Outra coisa que sempre acontece em filmes de Ayer é a noite definitiva, elemento presente em vários dos filmes escritos e/ou dirigidos por Ayer, o diretor mais sem imaginação do cinemão hollywoodiano que, de modo geral, faz filmes meia-boca ou piores.
Bright não é exceção. O roteiro de Max Landis, mesmo de Dirk Gently: Holistic Detective Agency, Poder sem Limites e American Ultra foi escrito sob medida para Ayer.
Durante toda a sua duração o longa chafurda vigorosamente em lições rasas de aceitação do diferente, de amizade e companheirismo, traçando paralelos rasos com o racismo de nosso mundo através dos orcs de Los Angeles, diálogos absolutamente constrangedores e no desperdício de um bom elenco que conta ainda com Edgar Ramirez, Jay Hernandez e Ike Barinholtz, de onde ao menos Joel Edgerton escapa com a dignidade intacta (talvez por estar mascarado o filme inteiro).
Bright parece o resultado de um estúdio tão desesperado por ter um grande blockbuster que aprovou um conceito sem ter lido o roteiro, porque não há explicação para alguém ter lido o script de Landis e ter imaginado que se tornaria um grande filmes, especialmente nas mãos de Ayer.
Uma hora e cinquenta e sete minutos de sua vida que não vão voltar. Assista por sua conta e risco.

"-Isso é uma arma nuclear que realiza desejos."

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Resenha Cinema: Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi


Enquanto fã de Star Wars desde que a série se chamava Guerra nas Estrelas e ainda não havia sido mexida e remexida pelo pincel digital por vezes desajeitado de George Lucas, nem ganhado uma trilogia prequel duvidosa, tampouco se tornado uma propriedade para a Disney explorar ano sim, ano também, eu me tornei, confesso, ranzinza com a forma como essa galáxia bem, bem distante funciona.
Eu me enchi, ao longo de anos nos quais empunhei uma lanterna na escuridão como um sabre de luz, nos quais me tornei um contrabandista charmoso ou um piloto de mão cheia em jogos de videogame, ou nos quais criei minha própria história paralela em RPGs que se comportavam exatamente da forma como eu achava que esse universo deveria se comportar, de vícios. De noções pré-concebidas do que Star Wars é. Do que Star Wars deve ser.
Quando George Lucas vendeu Star Wars para a Disney como um pai vendendo seus filhos a mercadores de escravos (palavras dele, não minhas), eu me enchi, confesso, da mesma esperança que a galáxia sentiu quando a Aliança Rebelde explodiu a Estrela da Morte sobre Yavin 4.
Eu achei, francamente, que seria sensacional ver Star Wars anualmente nos cinemas em novas produções que dariam sequência à história que eu aprendera a amar desde antes de saber pronunciar Chewbacca.
Se O Despertar da Força em diversos aspectos me desapontou sobremaneira, mas tinha potencial de melhora, e Rogue One foi um tapa-buraco bem intencionado e bem realizado entre os episódios III e IV, eu, tinha, desde o início, uma restrição a Os Últimos Jedi que não era capaz de explicar.
Talvez fosse apenas uma vacina inconsciente, uma forma de lidar, de antemão, com uma eventual decepção ao ver o filme. Talvez fosse medo da vulgarização de algo que eu tinha como um mega evento. Talvez fosse uma premonição da Força...
Críticas, impressões iniciais e declarações do diretor Rian Johnson e da Disney, que até ofereceu uma nova trilogia original ao cineasta, de tão impressionados com Os Últimos Jedi, me fizeram relaxar. Baixar a guarda. E agir como um bom nerd e ir pra estréia ver o filme.
Não consegui ser mais rápido no gatilho do que os tarados da Aliança Rebelde RS que zeraram os ingressos da pré-estréia no dia em que começou a venda antecipada, mas matei a academia para ir pro cinema o mais cedo possível hoje, no dia da estréia. E fui conferir as duas horas e meia de Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi, mais longo filme da franquia em todos os tempos.
O longa abre quase que imediatamente após o final de O Despertar da Força.
A Resistência enfrenta de maneira claudicante todo o poderio militar da Primeira Ordem, que mesmo após a perda da estação Starkiller avança com sua infinita máquina de guerra contra a Nova República, esmagada pela super arma no episódio anterior.
Cada vitória dos comandados da general Leia Organa (Carrie Fisher) é conquistada a um alto custo de armas e vidas, num jogo cruel contra a monstruosa força sob o comando do general Hux (Domhnal Gleeson), Kylo Ren (Adam Driver) e do Supremo Líder Snoke (Andy Serkis, cheio de CGI pra interpretar o ditador galáctico com nome de cachorro).
Quando uma audaciosa manobra de Poe Dameron (Oscar Isaac) garante uma evacuação de emergência para os remanescentes da Resistência em uma base remota, o que parecia uma grande chance de fuga logo se torna uma perseguição mortal da armada da Primeira Ordem contra a pequena frota dos rebeldes que se vê incapaz de evitar o rastreio do inimigo. A única chance de sobrevida para o grupo é Finn (John Boyega) e Rose Tiko (Kelly Marie Tran) alcançarem um habilidoso slicer no planeta cassino de Canto Bright para ajudá-los a realizar uma arriscada manobra e tentar garantir uma possibilidade de escapar da armadilha de Hux.
Enquanto isso, no planeta Ahch-To (saúde), Rey (Daisy Ridley) encontra o mestre Jedi auto-exilado Luke Skywalker (Mark Hamill), mas as coisas não saem conforme ela esperava...
Não tarda para todos esses frontes estarem envolvidos em uma partida de xadrez de proporções épicas, onde cada movimento coloca um dos jogadores mais perto do destino da galáxia enquanto fazem novas descobertas e apostas cada vez mais altas.
Meh...
Os Últimos Jedi consegue a proeza de nem sequer ser o filme de Star Wars do qual eu menos gostei em todos os tempos (esse posto ainda é de A Ameaça Fantasma). É o primeiro filme de Star Wars do qual eu não gostei, ponto, e me dói na alma dizer isso.
Dói porque Os Últimos Jedi é um filme bem produzido, visualmente interessante, repleto de belas tomadas, belas ideias de ambientação, efeitos especiais de ponta e trilha sonora invocada do mestre John Williams, mas ao mesmo tempo é um longa que se anunciava com um potencial do caralho para alterar tudo o que sabíamos a respeito desse novo momento da série, chacoalhando as certezas da audiência após o convencional episódio VII, mas ao invés de fazer isso, apenas finge tomar tais atitudes, acenando com mudanças que jamais chegam, provocando com a sugestão de novidade e reviravolta que no final das contas se mostram apenas mais do mesmo.
Pra piorar, o roteiro do longa, além de exagerar no humor, roubando da audiência momentos de drama onde nós poderíamos nos comprometer emocionalmente com o filme, é cheio de furos.
Não bastasse que à maioria dos momentos de pujança emocional do script, segue-se um momentinho para erguer as sobrancelhas e disparar uma punch line, a própria trama que movimenta o longa não suporta um mínimo de escrutínio lógico.
E é uma pena, pois os atores estão claramente comprometidos com seus personagens e o texto que lhes é entregue. O grande problema é que esse texto não está à altura do comprometimento.
O script de Rian Johnson dribla a audiência como um garrincha da maneira mais desonesta, fingindo que vai abraçar a novidade e a incerteza para então tomar exatamente as mesmas decisões de O Despertar da Força com uma roupa mais sombria e bonita, mas de maneira incompetente, quase boba.
Rey continua sendo Mary Sue até não poder mais, apenas recebendo mais e mais habilidades sem passar por nenhum tipo de treinamento. Kylo Ren ainda é um vilão chiliquento e cheio de uma necessidade de auto-afirmação risível que a cada decisão que toma parece mais burro. Luke passou trinta anos meditando e usando a Força e parece menos Jedi, agora, do que em O Retorno de Jedi.
Johnson centra a história nesses três personagens de maneira acertada, rodopia ao redor deles como se estivesse pronto para evoluí-los mas deixa essa evolução na promessa. Eles terminam o filme basicamente onde começaram.
Entre as adições do elenco, a almirante Holdo de Laura Dern é um destaque, enquanto o slicer interpretado por Benicio Del Toro tem seus momentos. John Boyega também tira de letra sua missão ao lado de Tran, sendo engraçado e aventuresco, entretanto nenhum desses personagens é o foco de Os Últimos Jedi, eles são acessórios da história que o filme quer contar, e que se desenvolve e movimenta através dos usuários da Força do elenco, e o faz com grande desenvoltura e garbo, mas sem entregar nada do que prometeu, exceto a necessidade quase patológica de alçar o "novo" à ribalta em detrimento do velho. Exatamente como O Despertar da Força fizera dois anos atrás.
Eu não fiquei impressionado então, e não estou impressionado agora.
Tão bom quanto O Império Contra-Ataca?
Não. Nem remotamente próximo.
Nem na mesma galáxia.

"-Você sempre foi escória.
-Escória rebelde."

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Resenha DVD: Em Ritmo de Fuga


Eu tenho, e já admiti, uma implicância inexplicável com musicais. Uma aversão à ideia em si, que não necessariamente se traduz em aversão aos exemplares que eu me arrisco a, de fato, assistir... Mesmo filmes como La La Land, que me causava urticária à sua simples menção à época em que era só do que se falava nas conversas sobre cinema, são espetáculos que, no momento certo, sob a devida atmosfera, se tornam passatempos dos quais eu sou capaz de usufruir e torno-me incapaz de odiar após conferir, ainda que me dispusesse a fazê-lo com grande entusiasmo, antes.
Li muito pouco sobre Em Rito de Fuga antes do lançamento do filme, mas uma das coisas que li, sobre o longa ser baseado em um videoclipe dirigido por Edgar Wright, o gênio por trás da trilogia Cornetto e de Scott Pilgrim Contra o Mundo, foi o suficiente para me fazer ignorar o filme durante sua breve passagem pelo circuito de cineplexes em Porto Alegre (ou ao menos parece-me que foi breve. Não tenho certeza pois não prestei atenção).
De qualquer sorte, pouco impressionado com a premissa do jovem boa-pinta que é piloto de fuga após Carga Explosiva e Drive, eu deixei o filme pra lá.
Até sexta, quando, ao passar pela locadora, na falta de algo mais para ver, acabei locando o filme, e percebendo o tamanho do meu erro em tê-lo ignorado no cinema.
Em Ritmo de Fuga conta a história de B-A-B-Y, Baby (Ansel Elgort), um jovem que é um capeta atrás de um volante e usa suas incríveis habilidades como motorista a serviço de Doc (Kevin Spacey).
Doc é um chefão do submundo, especialista em organizar assaltos. Ele jamais usa a mesma equipe duas vezes, embora trabalhe geralmente com as mesmas pessoas. A única coisa constante nos trabalhos organizados por Doc é Baby, o piloto de fuga que sempre escapa e que se tornou um tipo de amuleto para Doc com o passar dos anos.
O acordo de Doc com Baby é ligeiramente diferente do acordo dele com seus demais contratados. Ainda criança Baby roubou um carro de Doc. O veículo estava carregado com bens valiosos e, em troca do perdão por sua falta, Baby tem trabalhado para Doc desde então e devolvido a imensa maioria dos lucros do serviço ao seu empregador para saldar sua dívida.
Introspectivo Baby, que sofreu um acidente automobilístico na infância que o deixou com um zumbido no ouvido, está sempre com fones escutando música. Isso faz com que o mundo dance ao redor de Baby ao som do que quer que ele esteja ouvindo no momento.
O som, ele explica, o ajuda a se concentrar, e dirigir perigosamente é a sua única válvula de escape.
Dirigir e gravar fragmentos de conversas ao seu redor e os transforma em breves remixes musicais que o ajudam a manter-se conectado com seu dia após dia.
Mas o trabalho como piloto de fuga é apenas uma pequena parte da vida de Baby. E, embora seja uma com a qual ele tem que lidar, não é a mais importante.
A música é importante. Seu pai adotivo Joseph (C. J. Jones), que gosta de sanduíches com a pasta de amendoim espalhada até as beiradas do pão e de "ouvir" música através das vibrações das caixas de som de casa é importante, e, quando Baby acerta sua ´divida com Doc, a garçonete Debora (Lily James) também se torna uma parte importante da vida de Baby, que se prepara para se endireitar e deixar o passado de crime pra trás.
Ao menos até Doc ressurgir à sua porta com uma oferta que Baby, literalmente, não pode negar, colocando o jovem piloto e todos a quem ele ama em risco.
Em Ritmo de Fuga é ótimo.
O longa dá uma respirada em meio a super-heróis, robôs gigantes, remakes e sequências para ser apenas um bom filme de assalto à moda antiga. Mesmo se fosse apenas isso, Em Ritmo de Fuga já mereceria um aplauso ou a deferência de uma espiada, mas Edgar Wright tem muito mais a oferecer.
Vários diretores são capazes de escolher grandes trilhas sonoras, alguns conseguem transformar a trilha em personagens, mas Wright vai além, ele torna a trilha um personagem imprescindível, trabalhando sempre em uníssono com a ação na tela desde a primeira ótima sequência de perseguição do longa após Darling (Eiza Gonzáles), Buddy (Jon Hamm) e Griff (Jon Bernthal) assaltarem um banco no centro de Atlanta.
Dali pra frente, nós passamos o tempo inteiro esperando pela próxima canção, e como ela irá se encaixar para embalar o mundo quando sair de um dos inúmeros I-Pods de Baby.
As ótimas sequências de ação e uma trilha inspirada, porém, são apenas parte do cardápio.
Wright manja demais de escolher elencos, e não faz diferente aqui.
Ansel Elgort, Lily James e C.J. Jones são adoráveis, cada um a seu modo. Não estamos apenas torcendo por eles, estamos REALMENTE torcendo por eles. Nos importamos com esses personagens e queremos que eles fiquem bem.
Seria muito fácil contrapor esse trio de gente-boas a um bando de vilões escrotos uma barbaridade, mas não é o que ocorre aqui.
Mesmo vilões óbvios como o Doc de Kevin Spacey e o Bats de Jamie Foxx têm profundidade, e conseguem ser tão divertidos ou ternos quanto perigosos quando o momento se apresenta.
Não há personagem que não tenha sido cuidadosamente imaginado por Wright, que além de diretor é o roteirista do filme, como uma pessoa real, com dimensões e profundidade, da balconista dos correios ao sobrinho de Doc, passando pelo assaltante que trocou a tatuagem da palavra Hate (ódio) em seu pescoço por Hat (chapéu) e o desenho de um chapéu para melhorar suas chances de conseguir um emprego porque, afinal, quem não gosta de chapéus?
A mão privilegiada de Wright para equilibrar ação, tensão e comédia não é novidade para quem acompanha seus outros trabalhos, e esse balanceamento beira tanto a perfeição neste filme que eu me peguei realmente lamentando que o cineasta tenha saltado fora de Homem Formiga.
Em pouco menos de duas horas de ação, adrenalina, comédia e música, Edgar Wright e companhia fizeram, senão um dos melhores filmes, certamente uma das mais divertidas sessões de cinema do ano, seja num cinema de verdade, ou no sofá de casa.
Certamente vale a locação.


"-Quer dizer, ele é retardado?
-'Retardado' significa 'lento', ele foi lento?"

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Resenha DVD: Atômica


Quando o trailer de Atômica caiu na internet alguns meses atrás eu realmente fiquei com vontade de ver o filme. Não apenas por parecer um James Bond de saias, ou acenar com uma sequência de sexo lésbico entre a protagonista Charlize Theron e Sofia Boutella, ou mesmo por ser um longa de David Leitch, co-diretor de De Volta ao Jogo, que prometia pancadaria de fundamento no longa metragem, mas por todos esses fatores combinados ao talento de Charlize Theron que, depois do festival de canastrice de Velozes & Furiosos 8, precisava de algo para se redimir...
Não consegui assistir ao filme no cinema. Ando preguiçoso com cinema esse ano. E desapontado... Mas peguei o filme pelo pé assim que ele chegou à locadora nessa semana, e o assisti ontem.
Atômica narra a história de Lorraine Broughton (Theron) uma espiã do MI-6 britânico que, às vésperas da queda do muro de Berlim, é incumbida de viajar à Alemanha para investigar o assassinato de um colega e recuperar arquivos confidenciais com uma lista de nomes de agentes duplos.
Para tanto, ela entrará na Alemanha sob o disfarce da representante legal da família do agente falecido tentando recuperar o cadáver. Usando a rede de contatos do agente David Percival (James McAvoy), chefe da estação britânica em Berlim, ela vai mergulhar de cabeça em uma intrincada trama de enganação e espionagem durante os estertores da Guerra Fria, onde ela precisará usar toda a extensão de seu vasto rol de habilidades para, mais do que cumprir sua missão, sobreviver à ela, em um arriscado jogo onde as únicas opções são vencer ou morrer...
É justo dizer que, se Atômica se chamasse "Atômico", e fosse exatamente o mesmo filme, mas estrelado por um homem... E não necessariamente um mau ator, mas por um sujeito de razoáveis habilidades dramáticas, tal qual um Chris Evans ou Charlie Hunnam, provavelmente seria um lançamento direto pra DVD para o qual ninguém ligaria.
Muito da graça de Atômica vem do fato de termos uma loira bonita e de aparência delicada caindo na porrada e fazendo proezas físicas como saltar de uma sacada usando uma mangueira de jardim como corda de segurança, ou saindo no braço com meia-dúzia de policiais alemães em um apartamento... Se tivéssemos um sujeito boa-pinta com físico de action hero no papel, não teria nem metade do impacto.
Especialmente porque Atômica não chega a ser um primor em sua trama algo genérica. O roteiro de Kurt Johnstad, baseado no gibi de Antony Johnston e Sam Hart é uma correta história de espionagem durante a Guerra Fria que, vez que outra, escorrega na hiper-exposição e chega a dar a impressão de se achar mais esperto do que realmente é, fato que podemos relevar pelo voto de confiança que Leitch e Johnstad dão à audiência ao suprimir praticamente qualquer informação a respeito de Lorraine além de um breve resumo de seus conjunto de habilidades e um breve flashback onde revela-se que ela teve um envolvimento com o agente cuja morte catalisa a história.
Com um intérprete menos hábil no papel central, o longa poderia ser um daqueles filmes que passam de tarde no Telecine Action; por sorte, a estrela é Charlize Theron, que transpira talento.
A protagonista pega a falta de background da personagem e usa isso para torná-la genuinamente misteriosa. Ao invés de vazia, ela se torna ensimesmada.
Ela tem um olhar de mormaço, um quê de diva enfarada, que torna seus prodígios físicos convincentes. Quando Lorraine ri da expressão "superiores" durante o interrogatório pós-missão, nós concordamos com ela. Os burocratas engravatados do outro lado da mesa não são seus superiores. Lorraine anda o tempo todo preparada para ser atacada tanto por ser espiã quanto por ser uma mulher. Sua "poker face" é sua primeira linha de defesa antes de pontapés, murros, tiros e facadas, e porque sua poker face é convincente, também são suas sequências de ação.
E elas são ótimas. As lutas são encenadas com garra pela sul-africana, e em nenhum momento ela parece super-humana ao enfrentar marmanjos com o dobro de seu tamanho. Ela se arrebenta inteira, e precisa usar técnica e surpresa para subjugar seus antagonistas, quando isso não funciona, as lutas se tornam mais complicadas para Lorraine e ela apanha um bocado, precisando improvisar para sobreviver em sequências de ação ao melhor estilo The Raid, filmadas com galhardia por Leitch, por vezes em tomadas sem cortes visíveis onde a câmera persegue os lutadores pelo cenário.
Somando-se ao talento dramático de Theron e à mão privilegiada de Leitch pra pancadaria, há uma fotografia bem sacada de Jonathan Sela, que deixa tudo meio cinzento a maior parte do tempo, contrastando com neons vermelhos e azuis estrategicamente posicionados nas decorações do filme, e uma trilha sonora com tudo a que uma ambientação oitentista tem direito.
No elenco há Toby Jones, James Faulkner, Sofia Boutella, Til Schweiger, Bill Skarsgård, Eddie Marsan e John Goodman, mas não tem pra ninguém:
Charlize Theron desfila majestosa por cada cena memorável do filme, e o carrega em suas costas delicadas durante pouco menos de duas horas oferecendo ao que seria um filme esquecível a chance de se tornar um bom programa.
Vale a locação.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O Trailer de Vingadores: Guerra Infinita

E houve um dia, um dia como nenhum outro dia, quando a Marvel divulgou o trailer de Vingadores: Guerra Infinita:



Estrelado por todo mundo que ainda está vivo no Universo Cinemático Marvel e dirigido pelos irmãos Russo de Capitão América 2 e 3, Vingadores: Guerra Infinita estréia em 26 de Abril de 2018.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 13: Memento Mori


O final de temporada de O Justiceiro chegou com o confronto que todos estavam esperando. Após cuidar de Rawlins, era hora de Frank Castle acertar as contas com o amigo que o traiu, Billy Russo, e fechar a conta de sua vingança de maneira definitiva, mas antes, Frank precisava de cuidados médicos.
A surra que Rawlins aplicou em Castle no capítulo anterior não foi pouca coisa, e sem a ajuda de Micro, de Madani, e do pai dela, o cirurgião Hamid Madani (Houshang Touzie) Castle talvez não tenha gás para dar o próximo passo. Enquanto Castle luta por sua vida, Billy Russo se prepara para fugir de Nova York após o fim de sua operação com a CIA. Ele, porém, não quer deixar pontas soltas, não conhecendo Frank, e ele parte em busca de uma apólice de seguro para o confronto derradeiro que se desenha em seu horizonte.
O desfecho do primeiro ano de O Justiceiro chegou com rotação menos acelerada do que o episódio anterior, mas ainda comparável aos melhores momentos da temporada. Memento Mori é um ótimo capítulo, com as reverberações dos acontecimentos da série se sobressaindo frente à ação.
Claro, há boas cenas de ação no episódio, óbvio, mas elas empalidecem na comparação com ao menos dois grandes momentos do season finale, o primeiro deles, sem dúvida, o flashback mostrando a família Castle indo ao parque junto com o "tio Bill".
A cena que antecede o último encontro entre Frank e Billy é perfeita para ilustrar o tamanho da animosidade entre os dois, do rancor de Frank sente por ter sido traído por alguém que era parte de sua família, e do longo percurso que Russo trilhou para se tornar o homem que aguarda Frank no carrossel para um duelo.
Billy não se tornou um vilão do dia pra noite, mas foi lentamente deixando que suas ambições e traumas o transformassem em um sujeito amoral e egoísta, incapaz de ver além do próprio umbigo. As interações entre Bernthal e Barnes estão entre as melhores coisas dessa primeira temporada de Justiceiro, com sorte veremos mais disso na segunda temporada.
O outro momento é a forma como Frank escolhe lidar com a situação após seu desfecho.
Se Frank tivesse simplesmente recomeçado sua vida, a série estaria sendo desonesta com seu desenrolar. Frank não demonstra culpa, mas há tristeza e pesar genuínos nele quando ele pesa a sua vingança.
Se o Justiceiro dos quadrinhos é uma máquina de guerra irresistível em sua luta para levar terror e morte aos criminosos, o Justiceiro trazido à vida na série é uma pessoa de carne e osso com sentimentos e remorso verdadeiros, que fez o que julgou necessário e terá que conviver com essa decisão nos dias vindouros, esse retrato se despede de nós de maneira vívida graças à interpretação de Jon Berthal, que mantém a excelência de seu trabalho em cada cena.
Da mesma forma, Ebon Moss-Bachrach mostrou uma química insuspeita com Bernthal, e em diversas ocasiões a amizade entre Frank e David foi o coração de O Justiceiro. Micro apareceu pouco nesse capítulo final já que seu arco na série estava concluído após ele recuperar sua família e sua vida, mas eu francamente espero que voltemos a vê-lo.
Se a série sobre Frank Castle ficou devendo em algum ponto, foi no núcleo da Segurança Nacional de Dinah Madani, que começou e terminou a série sem dizer a que veio, soando sempre como intrusos de uma outro programa aparecendo de penetra.
A primeira temporada de O Justiceiro estabelece a série como o o segundo melhor produto Marvel/Netflix quase em pé de igualdade com Demolidor. A mera coragem de tocar em assuntos delicados como transtorno de estresse pós-traumático, controle de armas e em humanizar um assassino em massa com uma caveira pintada no peito sem cair no ridículo merece aplausos mesmo que nem tudo funciona à perfeição.
Grande trabalho de elenco e equipe de produção equilibrando drama e ação com tremenda qualidade, e O Justiceiro finca o pé como uma das melhores adaptações de quadrinhos no mercado atua em qualquer mídia.
Bem vindo, Frank. Espero vê-lo de novo no ano que vem.

"-Sabe, enquanto eu estava na guerra, eu nunca pensei no que aconteceria depois. No que faria quando acabasse. Mas acho que é isso, sabe? Acho que pode ser a parte mais difícil. O silêncio. O silêncio quando o tiroteio acaba. É como... Como viver desse jeito? Acho... Acho que é o que vocês todos estão tentando descobrir. É o que vocês estão fazendo. Estão trabalhando nisso. Eu respeito isso. Eu só... Se vai olhar pra si mesmo. Olhar bem no espelho, tem que admitir quem é... Mas não só pra si mesmo... Tem de admitir a todos. Pela primeira vez que me lembro não tenho uma guerra pra lutar. E acho que, sendo sincero, eu só... Estou com medo."

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 12: Home


Atenção! Há spoilers do episódio abaixo!
O episódio 11 de O Justiceiro, Danger Close, se equiparara aos melhores momentos da série solo do vigilante mais sanguinário dos quadrinhos. Home, porém, deu um passo além, e foi, sem sombra de dúvida, o melhor capítulo da jornada solo de Frank Castle.
Frank e David vão até Madani e oferecem seus testemunhos para a Segurança Nacional antes de colocar em prática um plano suicida para recuperar Sarah e Zach das mãos de Billy Russo e Rawlins em um arriscado movimento que coloca o Justiceiro nas mãos de seus inimigos e em uma batalha definitiva de vida ou morte.
Se Home fosse o último episódio de O Justiceiro, teria sido o proverbial fecho de ouro para uma série que sempre foi muito acima da média das adaptações de quadrinhos televisivas.
Numa das melhores decisões narrativas do programa, o episódio colocou a audiência dentro da cabeça de Frank Castle enquanto ele decidia se era hora de se juntar à sua esposa e filhos na morte, ou se tentaria se manter respirando para lutar por mais um dia.
As cenas onde Frank e Maria (Kelli Barrett) dançam em um cenário onírico quando o espancamento de Rawlins se torna mais feroz e sangrento são sensacionais para nos aprofundar na psique do Justiceiro, e nos mostrar que, por mais que valorize a sua família, Frank é, acima de tudo, um soldado com uma missão, e não há descanso enquanto a missão não for cumprida. O que significa más notícias para Rawlins e para Billy.
Rawlins, aliás, seguiu com seu papel de vilão genérico nesse episódio. Sim, ele torturou Frank com vontade durante quase o capítulo inteiro, mas isso não o tornou um personagem mais interessante em nenhuma medida já que conhecemos o agente da CIA em uma sessão de tortura.
Entre os vilões da trama, Billy segue sendo o mais interessante, e sua interação com Frank durante um intervalo no espancamento de Rawlins, onde ele assume seu papel na morte da família Castle, parece ser muito mais dolorido para Frank do que qualquer um dos socos do Agente Laranja.
Os escritores da série fizeram um trabalho sensacional ao tornar Billy Russo um vilão humano e cheio de camadas, a quem a audiência pode entender, mesmo se não possa gostar ou aprovar. O desenvolvimento do personagem foi louvável ao longo de toda a temporada, e o trabalho de Ben Barnes com o material é ótimo, tornando a jornada de Billy absolutamente plausível e crível, um dos pilares da série.
Outro pilar da série é Ebon Moss-Bachrach. O personagem que surgiu como um maluco algo arrogante escondido em um porão qualquer passou por uma transformação sutil ao longo dos últimos onze capítulos. Sua aliança com Frank se tornou uma verdadeira amizade, e mudou sia visão de mundo. O David Lieberman que luta para salvar seu amigo não é o mesmo que perseguiu Frank Castle com sistemas de vigilância intrincados no início da temporada. Ele é um sujeito que foi impregnado com o senso de justiça bíblico preto no branco de Frank, e está disposto a lutar por isso.
A cena onde ele implora pela vida de seu amigo é ótima, mas quando ele desafia Madani a respeito de como se faz para levar justiça a homens como Russo e Rawlins é que nós somos capazes de vislumbrar a evolução desse personagem.
Jon Bernthal segue sendo um capítulo à parte. Seu trabalho à frente de O Justiceiro é digno de premiação. Muito das razões para que vejamos Frank como uma pessoa dolorosamente atormentada e não como uma máquina de matar movida a desejo de vingança passa pelo trabalho do ator que empresta uma humanidade quase dolorosa ao anti-herói. As lágrimas que ele derrama ao descobrir que Billy sabia que sua família seria assassinada são de partir o coração, e conseguir emprestar esse tipo de emoção a um personagem que passou a maior parte da temporada empapado do sangue de seus inimigos é testemunho do talento de Bernthal.
Quem não tem tanta sorte é Amber Rose-Revah. Dinah Madani segue sendo uma personagem que parece tão perdida na trama quanto o Rawlins de Paul Schulze. Enquanto os três personagens centrais da trama têm objetivos definidos e que são integrais à trama, Madani está ali orbitando a jornada desses três sem, de fato, ser mais do que um acessório da história, servindo apenas para ocupar o meio-campo entre esses três homens e a lei. Veremos o que o futuro reserva para ela no capítulo derradeiro da temporada. Enquanto isso, Home se garante como o melhor capítulo de O Justiceiro até aqui, e provavelmente um dos três melhores episódios de qualquer série da Marvel/Netflix.
A luta de Frank para escolher entre vida e morte garantiu uma hora de entretenimento com coração e alma graças aos trabalhos inspirados de Bachrach, Barnes e especialmente Bernthal.


"-Esse homem está morrendo pela sua justiça, que tal fazer alguma pra ele?"

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 11: Danger Close


O Justiceiro vinha de dois ou três episódios um pouco irregulares na comparação com seus melhores momentos. Seguia acima da média, mas picos de qualidade como Kandahar, Gunner e The Judas Goat ainda não haviam sido alcançados novamente.
Até Danger Close.
Após descobrir a traição de Russo, salvar Karen e impedir que Lewis Wilson sucedesse em suas aspirações terroristas, Frank, todo estropiado, retorna ao esconderijo, onde remói as traições de seu passado recente, o linchamento que a opinião pública faz contra ele, e toma a decisão de assumir a fama de bicho-papão que todos lhe atribuem de uma vez por todas.
Os planos de Frank de levar o inferno a seus inimigos, rompendo sua aliança com Micro, porém, são impedidos por Rowlins.
O agente corrupto consegue autorização de Marion James para utilizar o sistema de vigilância da CIA em Nova York na busca por Frank, isso o leva direto até a família Lieberman após Zach (moleque pentelho do caralho), ficar furioso com a revelação de que Pete Castiglione é, na verdade, Frank Castle, e fazer uma denúncia anônima.
Isso coloca o moleque e Sarah na mira de Billy Russo, e Frank e David na mira dos mercenários da Anvil que são enviados ao esconderijo de Micro, onde Frank, novamente envergando a caveira branca sobre o colete negro, os aguarda para levar sua vingança até o próximo nível.
Danger Close voltou ao que funciona em O Justiceiro sem dó nem piedade e entregou exatamente o que os fãs do Justiceiro poderiam desejar.
O banho de sangue resultante da invasão dos mercenários de Billy à casa segura de Micro é um espetáculo de ação digno de John Wick, o interessante, porém, é que apesar de mostrar a faceta assassina fria e eficaz de Castle, não esqueceu de humanizá-lo.
Após o massacre, Frank está sentado em meio aos cadáveres, olhar vazio, exausto, quase amortecido, como se não tivesse mais nada para oferecer.
A coragem de O Justiceiro de humanizar e dar consciência a um personagem que é, em essência, um assassino em série, é louvável. E mesmo quando as coisas não funcionam como deveriam, O Justiceiro continua sendo uma série acima da média.
O ponto aqui é saber o quanto se pode humanizar Frank sem matá-lo. O Justiceiro não é um super-herói. Nao tem super-força, super-sentidos ou pele impenetrável. Ele é um soldado altamente especializado, mas não creio que haja dúvidas de que ele só pode ir até certo ponto antes de sofrer uma lesão fatal ou incapacitante, e mesmo Micro, ao ver Frank chegar ao esconderijo sangrando feito um porco, lhe avisa que a cruzada deles precisa terminar em algum momento.
Resta saber se a jornada de Frank realmente termina com a vingança pela morte de sua família, ou se, como acontece nos quadrinhos, ele resolve assumir para si a responsabilidade de levar morte e destruição a todos os criminosos.
De qualquer forma não foi apenas a ação que funcionou em Danger Close.
O reencontro de David com Leo (Ripley Sobo) foi tocante, e a hesitação do hacker ante a perspectiva de rever sua filha foi um show à parte de Ebon Moss-Bachrach. Ver que Madani finalmente pode se juntar a Frank e Micro, também foi um alento, embora isso esteja se arrastando há mais tempo do que deveria. Entre as coisas que não funcionam, conforme vai se desenhando que Billy não deverá se tornar Retalho (ao menos não tão já), Rowlins se torna o grande antagonista da temporada.
Se for o caso, ele provavelmente é o pior vilão de uma série da Netflix desde o Cascavel de Luke Cage.
Todos conhecem o sujeito corrupto de move céus e terras e trai até a mãe para manter suas mãos "limpas", mas francamente, ver Rowlins discursando e tramando ao longo dos capítulos dificilmente o torna um antagonista digno de nota e, pra ser bem honesto, eu não vou ficar particularmente mais satisfeito de ver Frank explodir a cabeça dele com um balaço no final da temporada do que ficaria com qualquer outro capanga malvado.
De qualquer forma, Danger Close foi mais um ponto alto da série que se consolida como um dos melhores produtos da Marvel na Netflix, e que entra em sua reta final em alta octanagem.

"-É, bem sutil. Nunca vão vê-lo se aproximando.
-Quero que me vejam."

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 10: Virtue of the Vicious


Virtue of the Vicious, décimo capítulo de O Justiceiro, usou um artifício interessante ao mostrar os mesmos eventos através de diversas perspectivas conforme saltava pra frente e pra trás no tempo.
Por um lado, eu sou um grande fã desse tipo de artifício narrativo, mas por outro, as idas e vindas no tempo acabaram tirando um pouco do foco de capítulo, que deveria ser o desfecho do arco de Lewis Wilson, que foi de jovem traumatizado após o serviço militar a terrorista assassino nos últimos capítulos.
O episódio está centrado nas tentativas do sargento Mahoney (Royce Johnson) de remontar o quebra-cabeças de destruição e morte após uma tentativa de assassinato contra o senador Stan Ori por parte de Lewis e, ao que tudo indica, Frank Castle.
Ao longo de 49 minutos nós acompanhamos as versões de Billy Russo, do senador Ori, de Dinah Madani e de Karen Page sobre o que aconteceu naquele hotel durante o atentado, recebendo mais fragmentos de informação a cada novo depoimento.
O resultado é irregular. Se por um lado faz maravilhas pela ação, com algumas das melhores sequências da série, por outro, a narrativa novamente tem sua dinâmica prejudicada pelo vai e vem da história, e, outra vez, o debate vazio sobre controle de armas (inclusive com o senador escamoso que defende as restrições revelando-se ainda mais covarde do que inicialmente mostrado) interrompe o andamento da trama com nenhum efeito.
Da mesma forma, a linha narrativa paralela de Lewis se encerra de uma maneira algo abrupta. Havíamos passado tanto tempo com esse personagem, vendo suas dificuldades para se reintegrar à vida civil, havíamos conhecido seu pai e visto sua relação com Curtis se deteriorar até o ponto sem volta de Front Toward Enemy, que eu francamente achei que ele teria uma função maior na trama.
Confesso que quando o vi enchendo uma lata de pregos dentro de uma panela de pressão, supus que ele seria responsável pela transformação de Billy Russo em Retalho, algo que não aconteceu.
De qualquer forma, Lewsis não apenas não teve papel fundamental em nenhum grande evento do plot dessa primeira temporada (ao menos até esse décimo capítulo, que parece a despedida do personagem da série), mas também não vimos como a sua transformação em terrorista afetou seu pai, se Curtis ainda seria capaz de sentir compaixão por ele e tentar salvá-lo, e nem nada do tipo. Com alguma sorte esses núcleos podem ser revisitados de maneira a oferecer um pouco mais de encerramento a esse personagem que acabou se destacando tanto por seu tempo em cena, quanto pelo ótimo trabalho de Daniel Webber.
A Karen Page de Deborah Ann Woll que havia parecido deslocada na trama desde sua segunda aparição, quase como que forçando a relação de O Justiceiro com o resto do universo Marvel da Netflix, finalmente voltou a ter função.
A cena onde ela e Frank se despedem no elevador é excelente, e reforça a importância da personagem para o protagonista. À essa altura, Karen é uma das únicas pessoas a quem Castle pode se referir como uma amiga. Explorar o lado mais humano de Frank vem sendo uma das melhores sacadas com o personagem desde seu arco em Demolidor, então foi bem ver isso aflorar naquela sequência. O olhar de Frank, todo esgualepado, quando Karen o abraça, é tocante, lhe oferece a humanidade que o restante do episódio, muito mais focado na forma como cada pessoa que oferece seu testemunho o vê, lhe sonegou.
Falando nas visões que os personagens têm uns dos outros, Madani pode ter tido uma revelação para fazê-la repensar suas alianças. Talvez agora, com o luto por Stein devidamente cumprido e novas informações em seu poder, ela possa deixar de ser o ponto mais fraco da série e assumir um lugar de destaque mais proativo na trama. Um vislumbre disso já foi dado na cena da escada, uma ótima sequência que poderia ter sido muito mais tensa sem a narrativa fragmentada.
Apesar de algumas más decisões narrativas, o capítulo foi sólido, e ter um episódio como esse sendo um dos piores da série é testemunho da força de O Justiceiro.
Faltando três episódios para o final, algumas das histórias paralelas se encerram dando espaço para que a trama principal receba a merecida atenção.

"Lembre-se que é ruína fugir de uma luta, então aguarde ordem aberta, deite-se e espere apoio como um soldado. Espere, espere, espere como um soldado."