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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Disfarçada de Certeza


Eu te encontrei...
Assim, de supetão, num comentário aguardando moderação há mais de quatro meses...
E eu fiquei pensando... Será que era tu?
Será que era tu, de verdade?
Porque... Tu está tão longe... Metafórica e fisicamente. Tão distante... Que eu fico, volta e meia, te trazendo pra perto quando escrevo. Nas vezes em que tu transborda da minha memória e me escapa pelos dedos pra tela do computador.
Eu te trago pra perto porque preciso reviver e reinventar pontos finais que jamais foram colocados... Pra me convencer que eu preciso seguir em frente e que tu está melhor agora e que eu vou ficar bem...
E de repente... Em um dia onde tudo ia bem... Onde eu só tinha pensado em ti duas vezes... Eu me deparo com aquelas palavras anônimas...
E me pergunto se era tu...
Era tu?
Tu ainda pensa em mim? Ou pensava em abril...
Tu ainda pensa em mim, ao menos de vez em quando, como eu penso em ti de vez em sempre? Todo o dia? Toda a hora?
Tu ainda me vê no boneco do Demolidor na tua estante como eu te vejo na ausência dele na minha?
Era tu?
Jogando o cabelo pro lado e escrevendo algumas palavras cálidas pra mim? Fosse por saudade, fosse por saudosismo... Me dizendo o que tu achava que eu gostaria de ouvir, ou o que tu de fato sente, sentia, sentiu...
Era tu?
Olhando por cima do ombro e pensando "até que não foi de todo ruim", ou "as partes boas fizeram as ruins valerem a pena", ou "por você eu esperaria até o dia d'A Chegada do Reino"...
Era tu?
Me lembrando de o quanto eu fui feliz e completo e bobo de jogar tudo pela janela por medo e senso de inadequação? Me lembrando que o que havia entre nós era tão perfeito que ao primeiro sinal de problemas eu senti que tinha estragado tudo e precisei te afastar?
Era tu?
Me mostrando que minha sensação de ostracismo era infundada? Que tu está feliz e bem e ainda tem espaço no teu coração completo pra me dirigir alguma atenção?
Era tu? Me dizendo, gentilmente, que o trem partiu, mas meu lugar ficou vazio?
Era tu?
Eu não sei. Não com certeza, mas vou manter pra mim que sim.
Que era.
E essa ideia disfarçada de certeza, vai me fazer sorrir nos próximos dias. Todas as vezes em que eu pensar em ti.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Resenha DVD: Vida


Em anos recentes, sempre tem havido algum sci-fi que deita a concorrência, e, a menos pra mim, fica com folgas no posto de melhor filme do ano. Interestelar, Perdido em Marte e A Chegada são os que me vem à mente de primeira. Filmaços que galgaram o lugar mais alto no pódio do meu top-10 de cinema anual, sem contar Gravidade, que não encabeçou minha lista em seu ano de lançamento mas, tenho certeza, deve ter figurado na metade mais alta da lista, no mínimo...
E é justamente por ser um apaixonado pelo gênero, e estar ciente de que todo o ano sai um representante muito foda do gênero, que eu lamentei tê-lo perdido nos cinemas, e fiquei feliz por encontrá-lo na locadora no final de semana.
No filme de Daniel Espinosa, o mesmo de Protegendo o Inimigo e Crimes Ocultos, uma tripulação de especialistas à bordo da Estação Espacial Internacional se prepara para o que pode ser um momento decisivo na História da ciência.
Uma cápsula com material de pesquisa colhido de Marte pela missão Peregrino vai passar pela Estação, e os astronautas têm apenas uma chance de agarrá-lo com um braço mecânico e trazer as amostras para estudo. O homem para a missão é o especialista Rory Adams (Ryan Reynolds), que consegue capturar as amostras de solo que imediatamente passam ao cientista Hugh Derry (Ariyon Bakare), que se põe a vasculhar as amostras de solo em busca de indícios de vida extraterrestre.
E eles encontram.
O que inicialmente é uma única célula em estado dormente, sob os estímulos certos logo começa a multiplicar as células de seu organismo confirmando a existência de vida fora da Terra.
Há um grande alarde midiático, os astronautas a bordo, Sho Murakami (Hiroyuki Sanada), Miranda North (Rebecca Ferguson), Katerina Golovkina (Olga Dykhovichnaya) e David Jordan (Jake Gyllenhaal) são tratados como celebridades dando entrevistas direto da Estação Espacial enquanto os estudos seguem com o alienígena, batizado Calvin em um concurso entre escolas na Terra, crescendo e maravilhando Hugh por sua capacidade ímpar de adaptação.
Quando a forma de vida, que à essa altura adquiriu a forma de uma pequena mistura de flor e estrela-do-mar, entra novamente em estado de hibernação, Hugh, que é paraplégico, e vê na criatura o potencial para curar qualquer tipo de moléstia terrestre graças à sua inacreditável estrutura celular, vê-se disposto a tentar tudo para tirar o alienígena de seu torpor. E é justamente nesse momento que as coisas começam a dar errado.
Calvin desperta de fato, mas o faz na como um organismo baseado em carbono que precisa de oxigênio, água e alimento para sobreviver e crescer. E ele quer crescer mais, e mais rápido.
Inicialmente uma massa de pétalas grudentas que corre pelas paredes se escondendo dos astronautas (o que, convenhamos, já é bem ruim), Calvin não tarda a começar a se alimentar dos membros da tripulação enquanto aumenta seu tamanho e inteligência transmutando-se em uma grande mistura de flor de lótus, naja e polvo decidida a seguir aumentando de tamanho, transformando os labirínticos e claustrofóbicos corredores da Estação em um sinistro campo de caça de onde ninguém pode escapar sem eliminar a criatura que, se por alguma eventualidade chegar à Terra, pode causar uma hecatombe sem precedentes.
Eu gosto de um bom filme de monstro espacial.
Na verdade, estava curioso pra ver o que se apresentava como uma mistura de Gravidade e Alien: O Oitavo Passageiro, um respiro bacana após tantas ficções científicas mais calorosas. Não é difícil de imaginar que Reeth Reese e Paul Wernick, roteiristas do longa (e responsáveis pelos scripts de Deadpool e Zumbilândia) tenham assistido Gravidade e pensado em como aquela situação poderia ficar ainda pior.
Sem uma premissa original, o negócio seria Reese, Wernick e Espinosa capricharem na atmosfera de tensão e nos sustos, o que jamais acontece.
Há alguma sequências inspiradas, como o primeiro cumprimento de Calvin, uma cena realmente tensa sob diversos aspectos, o problema é que, daí pra frente, a coisa toda vai se tornando mais previsível e aborrecida, afinal de contas, só há um certo número de coisas que se pode imaginar com um polvo espacial dentro de corredores estreitos, e não tarda para que as possibilidades se reduzam a correr flutuando pelos corredores, fechando a escotilha no último instante apenas para descobrir que Calvin conseguiu se esgueirar por outra fresta...
O longa ainda tenta se redimir de sua previsibilidade com uma cena final algo amarga, mas a verdade é que, na preparação para o desfecho, nós já começamos a antever do que se trata o encerramento, e, de novo, não há surpresa.
Apesar dos esforços de um bom elenco e da boa fotografia de Seamus McGarvey, Vida não decola, apenas flutua como os cadáveres das vítimas de Calvin, e meia hora após o fim do filme, a audiência já não liga para aqueles personagens e nem para aquele alienígena que os comeu.

"-Isso parece as merdas d'A Hora dos Mortos-Vivos...
-Essa é uma referência obscura.
-Não pra um Nerd."

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Resenha Blu-Ray: Kong - A Ilha da Caveira


Minha fé em Kong - A Ilha da Caveira, era inversamente proporcional ao tamanho do macacão no poster do filme, desde as primeiras imagens deixando claro ser bem maior do que os treze metros do King Kong que eu conheci. O Kong de Ilha da Caveira não escala arranha-céus, ele próprio é um arranha-céu.
Essa turbinada no tamanho do símio gigante é necessária para que Kong possa enfrentar Godzilla num futuro crossover de monstros gigantes, porque aparentemente, hoje em dia, não basta a um estúdio ter uma franquia (Kong é da Warner, que já tem a DC e Harry Potter), é necessário ter um universo compartilhado, não importa se é uma boa ideia, ou não.
Esse Kong - A Ilha da Caveira, dá a pinta de ser um lance feito algo apressadamente de maneira a aproveitar o sucesso do Godzilla, de Gareth Edwards, um filme que eu, francamente, não achei tão bom quanto foi alardeado.
Isso não significa, porém, que o novo King Kong seja um filme ruim, ou desprovido de qualquer qualidade.
Não é o caso.
Há boas ideias no longa de Jordan Vogt-Roberts, ainda que elas não sejam sempre bem aproveitadas e nem bem organizadas.
O filme narra a história de um grupo de cientistas que, em 1973, no apagar das luzes da guerra do Vietnã consegue permissão do governo dos EUA para explorar uma ilha não-cartografada no pacífico sul. Os idealizadores dessa pesquisa são Bill Randa (John Goodman) e Houston Brooks (Corey Hawkins). Sua desculpa para investigar a ilha é a de explorá-la antes que os soviéticos o façam, mas, na verdade, Randa planeja encontrar lá um novo tipo de ecossistema que existe no subterrâneo, composto por criaturas tão grandes que teriam tomado parte na extinção dos dinossauros.
Para chegarem à ilha, cercada sempre por um microclima de tempestades perenes, os cientistas precisam de escolta militar, que se materializa na forma do coronel Preston Packard (Samuel L. Jackson), um militar devotado ao seu ofício, que ainda não aceitou a derrota no Vietnã. O coronel Packard e seus homens, um grande contingente de militares dos quais apenas uns dois ou três são dignos de nota, se juntam a Randa, Brooks e seu grupo, um grande contingente de cientistas dos quais apenas dois ou três são dignos de nota, além do ex-oficial da SAS James Conrad (Tom Hiddleston), e da fotógrafa de guerra Mason Weaver (Brie Larson).
O plano é verificar o subsolo da ilha através da detonação de cargas explosivas sísmicas, uma maneira bastante irresponsável de explorar um ambiente estranho sem nenhum contato documentado com a humanidade, devo dizer, mas enfim... O plano é cruzar a ilha de norte a sul, encontrar um grupo com combustível e suprimentos, reabastecer as aeronaves e ir embora.
Obviamente não precisamos de mais do que meia-dúzia de explosões para que o rei da ilha, Kong em pessoa, apareça e lance o horror sobre os militares, que desprovidos de seus equipamentos e aeronaves se veem em um ambiente absolutamente hostil onde não são nada além de comida.
Pior: Ao lançarem suas cargas sísmicas, os visitantes despertaram um grande terror oculto nas entranhas da terra, e não tarda para que sua única chance de sobrevivência seja confiar em Hank Marlow (John C. Reilly), um combatente da Segunda Guerra Mundial que está perdido na Ilha há 28 anos, e em Kong, adorado pela tripo que lá vive como um Deus Protetor. Mas mesmo isso pode ser impossível conforme um dos membros do grupo passa a nutrir um ódio quase mortal por Kong.
Os filmes de monstros se dividem entre os de suspense e os de aventura.
Nos suspenses nós pouco vemos o monstro, que geralmente é guardado para o final em uma revelação épica que toma quase toda a duração do filme ao longo do qual temos mais a reação das pessoas à criatura. Nos filmes de aventura, o fetiche é o monstro, e não seu efeito sobre as pessoas, e nós podemos ver o bicho desde o começo e ele raramente fica longe da tela.
Ilha da Caveira, obviamente é um exemplar do segundo tipo, contra o qual, aliás, eu nada tenho.
Kong aparece na tela parcialmente logo nos primeiros minutos de filme, e não leva meia hora pra comandar as ações do longa junto com todas as outras criaturas que habitam a ilha, aranhas gigantes, búfalos gigantes, polvos gigantes, e lagartos rastejantes com bicos de pterodáctilo e cauda de serpente que não têm pernas (é, eu sei. Estranho).
O roteiro de John Gatins, Dan Gilroy, Max Borenstein e Dereck Connoly acerta a mão em diversos pontos, como situar a ação nos anos setenta, quando mapeamento por satélite ainda era uma novidade e o gosto amargo do Vietnã ainda era muito presente na boca dos militares norte-americanos, usando uma trilha sonora cabulosa com Creedence Clearwater Revival, Jefferson Airplane e outras clássicas enquanto presta homenagens mais do que claras a Apocalypse Now e Platoon, enquanto tece não-tão-discretas críticas ao militarismo estadunidense em meio ao espetáculo.
O ponto é que, a despeito dos efeitos visuais caprichados, que dão tamanho e peso às criaturas na tela, o visual de Kong não é tão espetacular. Não há nada de novo em ver monstros gigantes de digladiando. A luta entre o King Kong de Peter Jackson e dois tiranossauros ainda é melhor do que qualquer uma das várias cenas de luta em Ilha da Caveira.
Outro senão do longa é que os personagens simplesmente não evocam interesse. Ninguém liga pro rastreador bonitão de Tom Hiddleston, nem pro milico malvado de Jackson, ou pra mocinha de cabelos revoltos de Brie Larson. O único personagem realmente cativante do filme é o de John C. Reilly, que consegue roubar a cena até mesmo de Kong, óbvia estrela do filme, seguido de muito longe pelos soldados Cole de Shea Whigham e Slivko, de Thomas Mann, de resto, são todos arquétipos, acessórios ou comida de monstro.
Mesmo Kong, um personagem com quem, em geral, a audiência se importa (eu me escondi embaixo do sofá, chorando, após a morte do Kong de 1973), não gera o mesmo fascínio conforme sabemos que ele precisa sobreviver a esse filme para enfrentar Godzilla, então até o mote da destruição da natureza de Kong como o bom-selvagem é diluído, e o filme se dilui junto.
Ainda assim, Kong, se for visto de maneira absolutamente despretensiosa, rende duas horas de entretenimento rasteiro. Há capricho técnico e um elenco de qualidade sem ter muito o que fazer (John Ortiz, Richard Jenkins, Toby Kebbell também estão no elenco junto com a, agora obrigatória presença chinesa, Tian Jing), e Kong termina deixando bastante claro que era, acima de tudo, um produto mais do que um filme.
Assista se for um fã hardcore de filmes de monstros, ou estiver preso em casa numa tarde chuvosa de domingo.

"-Ás vezes não há inimigo até você procurar um."



Resenha Série: Game of Thrones, Temporada 7, Episódio 7: The Dragon and the Wolf


Atenção! Essa postagem é escura e cheia de spoilers!
O episódio da semana passada de Game of Thrones, Beyond the Wall, teve alguns problemas de desenvolvimento por conta da correria do capítulo de enfiar uma grande quantidade de informações em um espaço relativamente exíguo de tempo.
Apesar das piadas sobre Gendry ser aparentado com Usain Bolt, corvos supersônicos e dragões Concorde, porém, Beyond the Wall fora um bom episódio da série, e só não foi excelente por conta da bagunça cronológica que acelerou os acontecimentos para caberem no formato mais exíguo da temporada, encurtada em três episódios na comparação com as anteriores.
Felizmente, o episódio de ontem, season finale dessa sétima temporada, voltou aos melhores momentos de Game of Thrones, entregando um episódio sensacional que se esticou até quase uma hora e vinte minutos de TV de altíssima qualidade.
The Dragon and the Wolf abriu com os exércitos de Daenerys chegando a Porto Real para o encontro com as forças de Cersei. Era o momento que Jon esperava há tempo, de provar aos reinos do sul a existência dos Outros, dos Andarilhos Brancos, do Rei da Noite e tentar conclamar a união dos vivos contra os mortos.
No Fosso dos Dragões, local escolhido para o encontro, tivemos uma das maiores reuniões de personagens desde a primeira temporada, com Jon, Daenerys, Cersei, Jaime, Davos, Jorah, Tyrion, Pod, Qyburn, Varys, Brienne, Bronn, Sandor, Gregor, Missandei, Theon, Euron... Enfim, quase todo mundo que ainda está vivo no sul, gerando um festival de encontros entre pessoas que jamais haviam se visto, especificamente Cersei e Daenerys, além de diversos reencontros, entre Tyrion e vários personagens que ele não via há tempos (Pod, Cersei, Sandor, Bronn...), além de uma prévia do Cleganebowl (o duelo prometido entre o Cão e a Montanha), e o reencontro de Brienne com Jaime e com o Cão de Caça (onde os dois relembram Arya e Sansa).
Enfim, o conclave entre as monarcas foi tão tenso quanto se poderia esperar, a rainha de Westeros não parecia inclinada a cooperar até ver o morto-vivo de além da Muralha.
É a visão da morte rumando para sul que faz com que Cersei aceite a trégua de Daenerys, mas imponha como condição que Jon Snow não assumirá lados quando o conflito pelo trono de ferro recomeçar.
Jon, é óbvio, não aceita a condição. Anunciando em alto e bom som que não pode fazê-lo por já ter aceitado Dany como sua rainha.
É bom ver que Jon mantém a honradez pétrea de Ned e de Robb. Por mais que todos saibamos que essa não é, nem de longe, a forma mais saudável de jogar o jogo dos tronos, quando Jon declara que precisa dizer a verdade, pois se não o fizer a vida se torna uma competição sobre quem conta as mentiras mais agradáveis, isso faz sentido.
Tanto para nós quanto para Daenerys, que se já estava atraída pelo bastardo nortista, fica claramente caidinha por ele depois disso.
A trégua, porém, era o mínimo que Dany e companhia haviam ido buscar em Porto Real, e estavam saindo de mãos vazias até que Tyrion resolveu dar um passo à frente e conversar em particular com a irmã.
É ótima a cena entre os dois (sempre foram, por sinal. Lena Headey e Peter Dinklage são ótimos juntos), com a amargura e o ódio de Cersei pelo caçula, ainda assim, o resultado da conversa pareceu o melhor possível, com Cersei não apenas aceitando a trégua, mas também prometendo lutar lado a lado com as forças de Dany e de Jon contra os exércitos do Rei da Noite.
Seria ainda melhor se não fosse, conforme descobrimos depois, apenas uma arapuca digna de Tywin Lannister. Cersei planejou tudo, de sua negativa inicial à proposta até a promessa de apoio, passando pela aparente deserção de Euron Greyjoy, de forma a ganhar tempo para trazer de Essos a Companhia Dourada, uma das mais poderosas forças mercenárias do mundo, com dezenas de milhares de homens, cavalos e elefantes, conhecidos por jamais ter quebrado um contrato (e que nos livros apoiam outro candidato ao Trono de Ferro...).
Aqui cabe outro parêntese, de que, por mais legal (e óbvio) que fosse termos todos os vivos se unindo contra os mortos, não se pode deixar de fazer sentido para a personagem estar maquinando e tramando pelas costas de seus inimigos. De uma forma distorcida, é mais honesto que Cersei aja dessa forma do que tendo uma grande epifania a respeito da necessidade de união entre todos. Ia parecer fora de lugar.
A traição de Cersei, porém, teve um efeito muito bem-vindo para os fãs da série (ao menos pra mim, certamente foi): Jaime, após tomar conhecimento da traição da irmã e de uma breve conversa com Brienne no encontro no Fosso dos Dragões, resolve desertar de sua rainha, e rumar para o Norte para tomar parte na Grande Guerra conforme prometera.
Bom pra ele.
Jaime é provavelmente o personagem que passa pela maior transformação nos livros, e é comum ver gente dizendo que o odiava no início, mas à certa altura passou a tê-lo como um dos personagens favoritos. Certamente aconteceu comigo, que ainda estou esperando para saber o que o aguarda no covil de Lady Coração de Pedra no próximo livro e reclamava abertamente sobre o desserviço que o seriado vinha prestando ao personagem em comparação com sua jornada na literatura. Vai ser bom ver o Regicida no lado certo de uma luta, pra variar. Quem sabe não é ele o destinado a matar o Viserion zumbi? Seria um tremendo salto ir de "kingslayer" a "dragonslayer".
A metade do episódio se deu em Porto Real, a outra metade, porém, aconteceu em Winterfell.
Eu havia dito alguns episódios atrás do potencial que o confronto entre Petyr Baelish e Arya Stark tinha para acabar mal. O maquinador mestre, afinal de contas, estava sempre dois passos adiante de todos os seus antagonistas, e era, ao lado de Tywin, Varys e Olenna, o melhor jogador da série.
Eu havia, inclusive, dito como era frustrante ver o Mindinho tocando Arya e Sansa ao mesmo tempo, manipulando as irmãs e usando a animosidade que sempre existira entre as duas para dar mais um passo rumo ao Trono de Ferro, seu objetivo máximo, com Sansa a seu lado.
O desfecho de todo o caso foi um bálsamo, especialmente por perverter algumas das regras às quais havíamos nos acostumado na série, por exemplo, a das tramas secretas que a audiência não via, serem aquelas maquinadas pelos vilões.
Nós não vimos Roose Bolton e Tywin Lannister armarem o Casamento Vermelho com Walder Frey, nem vimos Alliser Thorne planejar o assassinato de Jon Snow, ou Cersei ordenar que Lancell dopasse Robert antes da caça ao javali. Nós apenas ficávamos sabendo o que havia ocorrido na hora em que o plano se concretizava e os vilões alcançavam seu intento.
Ver isso acontecer do lado dos mocinhos, pra variar, foi particularmente satisfatório. Saber que, durante todo o tempo em que a tensão entre as duas aumentava, Arya, Sansa e Bran estavam fazendo um pequeno circo para Baelish se sentir confortável foi uma daquelas coisas que fazem a audiência rir alto na sala de casa. Grande parte do mérito da cena, por sinal, passa pelo show de Aidan Gillen, que desfilou um arsenal de reações em breves minutos após perceber que os Stark sabiam tudo o que ele vinha aprontando, afinal, Bran estava ali pra relembrar textualmente, até as coisas que o cafetão mais ambicioso de Westeros dissera antes de cometer suas traições mais vis.
Bran, aliás, não foi útil apenas no julgamento do Mindinho.
Samwell Tarly retornou ao Norte para se juntar aos esforços de guerra de Jon Snow. e lá, ao ouvir do Corvo de Três Olhos que Jon era um Sand, nome dado aos bastardos nascidos em Dorne, Sam lembrou-se de Gilly falando dos diários do septão que celebrou a anulação do casório de Rhaegar Targaryen com Elia Martell, e seu casamento com Lyanna Stark. Bran retornou no tempo para ver o casamento de Rhaegar e Lyanna, e o momento em que sua tia dizia a Ned Stark que o nome do menino era Aegon Targaryen.
Me permitam parar de novo.
Rhaegar já tinha um filho chamado Aegon, com sua esposa dornesa. Foi a criança cuja cabeça Gregor Clegane esmigalhou na parede antes de violar e matar Elia Martell. Esse Aegon morreu dois anos antes do nascimento de Jon, então, Rhaegar, ou gostava muito do nome (há onze Aegon na árvore genealógica Targaryen, fora Jon), ou, sendo obcecado com profecias como quem leu os livros sabe que é o caso, achava que O Príncipe que foi prometido deveria se chamar Aegon.
Outra curiosidade, nos livros, há outro pretendente ao trono chamado Aegon, que clama ser o filho de Rhaegar, que teria sobrevivido ao saque a Porto Real. Teoriza-se porém, que esse Aegon é, na verdade, um Blackfyre, casa derivada dos Targaryen iniciada pelo bastardo Daemon Waters, mas enfim, desculpem o devaneio...
De toda a sorte, a revelação surge de maneira muito bem sacada, com Bran testemunhando o casório, a revelação do nome de seu meio-irmão/primo, e narrando enquanto, em um navio rumo ao Norte, Jon Snow e Daenerys fazem sexo pela primeira vez, que Jon é o herdeiro legítimo ao Trono de Ferro.
É interessante imaginar como essa revelação vai pesar sobre a relação entre Jon e Dany. Não pelo fato de serem tia e sobrinho, essa revelação pode incomodar a audiência, não Dany, os Targaryen, afinal de contas, se casaram entre irmãos por gerações, e ela própria achava que estava destinada a se casar com Viserys antes de ser vendida a Drogo. O impacto pode ser político, já que a pretensão de Jon ao trono seria mais fundamentada do que a de Daenerys.
A expressão de Tyrion ao ver Jon entrando na cabine de Daenerys diz muito sobre as possíveis consequências da relação.
Antes de embarcar rumo ao Norte, porém, Jon teve uma conversa calorosa com Theon Greyjoy.
Uma conversa que colocou o filho castrado de Balon de volta nos trilhos. Deu-lhe uma boa sequência de luta e devolveu-lhe a espinha encaminhando sua jornada para a oitava temporada:
O resgate de Yara, ainda cativa de Euron.
Após passar tanto tempo sendo apenas o sofrenildo na sombra da irmã, ou a vítima das torturas de Ramsey, foi bom ter visto Theon voltar à luz, e mostrar um pouco de decisão e coragem, afinal de contas. Jon deveria ser palestrante motivacional, além de Rei do Norte.
O desfecho do episódio, porém, ainda guardava um grande momento:
Da muralha, Tormund e Beric viram conforme as infinitas forças do Rei da Noite avançavam para fora da mata perfilando-se ante o último obstáculo. Se a coisa já estava ruim com a mera visão do exército de zumbis e Andarilhos Brancos, piorou quando, das nuvens, surgiu o senhor dos mortos montado em Viserion, o dragão de gelo da profecia, que devastou um naco da Muralha, permitindo a passagem de suas forças rumo aos reinos dos homens, e levando consigo a Longa Noite.
Após um episódio acelerado em demasia, Game of Thrones acertadamente pisou no freio e por quase oitenta minutos nos entregou o desfecho do sétimo ano com cenas mais longas e cheias de diálogos, temperadas com revelações, traições e reviravoltas para embalar o que foi, de longe, a melhor temporada de Game of Thrones até aqui, e deixar todo mundo na ponta do sofá após o final com um cliffhanger daqueles.
O negócio agora é torcer para que o oitavo ano da série de fantasia mais sensacional da história da TV não chegue apenas em 2019.
Seria uma espera longa demais para quem ainda está roendo as unhas esperando que George R. R. Martin lance Os Ventos do Inverno.

"-Quando o inverno chega, e sopram os ventos brancos, o lobo solitário irá morrer, mas a alcateia sobreviverá."

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Resenha Série: Os Defensores, Temporada 1, Episódio 8: The Defenders


Os Defensores vinha sendo um programa que melhorou a cada episódio após um começo algo modorrento, alcançando seu ápice por volta da metade da temporada e voltando a cair de qualidade na sequência de uma maneira tão vertiginosa que o último capítulo conseguiu ser um dos piores da temporada, um tremendo desperdício de potencial.
Os Defensores não retomou de onde Fish in the Jailhouse terminara.
Na verdade o episódio volta alguns minutos no tempo para um diálogo que não havia acontecido no episódio sete, onde os personagens em Midland Circle debatem a legitimidade de um plano que envolve destruir um arranha-céu no meio de Nova York, um ato de terrorismo doméstico, frisa Jessica Jones.
No subsolo, descobrimos que o Tentáculo queria chegar à estrutura em forma de domo selada pelos anciãos de K'un-Lun para acessar o cemitério de fósseis de dragão escondido sob Midland Circle. É através desses restos mortais que a organização sintetiza a Substância que oferece vida eterna aos seus membros. A destruição de Nova York era um mero efeito colateral geológico da remoção dos fósseis.
Enquanto Danny começa a lutar com Gao e seus capangas, os demais heróis partem em seu resgate, deixando Colleen e Claire incumbidas de plantar as cargas de demolição nos locais indicados pelo arquiteto e colocar o edifício abaixo.
Isso leva ao confronto definitivo entre Bakuto e Colleen, com participação de Claire e Misty Knight e um momento que era aguardado pelos fãs da policial dos quadrinhos, e um novo encontro entre os Defensores e o Tentáculo na caverna sob Nova York, onde eles têm uma última chance de derrotar essa organização milenar, agora sob o comando de Elektra.
Um tremendo anticlímax.
Chega a ser triste lembrar que o ponto alto da série em termos de ação foi, mesmo, a luta do grupo de vigilantes contra o Tentáculo quando os quatro se encontram pela primeira vez, e os duelos entre Luke e Danny e entre Demolidor e Danny, e que daí pra frente, as cenas de luta foram apenas mais do mesmo. Após apresentar os cinco braços do Tentáculo, a minha expectativa é que cada um daqueles sujeitos fossem ser grandes desafios individuais para os heróis, mas não, eles são um bando de lutadores meia-boca que justificam o fato de viverem escondidos sob o manto do anonimato, eu nem mesmo sei como foi que eles conseguiram matar os Punhos de Ferro que vieram antes de Danny.
No final das contas o grande desfecho da série foi uma panorâmica dos super-heróis espancando um bando de seguranças armados enquanto Matt enfrentava Elektra.
Sim, Charlie Cox é ótimo, Elodie Young é apaixonante, e a coreografia de luta deles não é tão ruim quanto o resto, mas continuar batendo na tecla do "ainda há bem em você", "o jogo é divertido" acaba cansando, especialmente porque já vimos isso ser explorado, e muito melhor explorado, na segunda temporada da série solo do vigilante cego.
Pra piorar, após tanto alarde, simplesmente não há consequências para o confronto, as ameaças do Tentáculo, as mortes e nem pra destruição do prédio da Midland Circle.
Tudo acaba bem, exceto para os vilões.
Após ter mostrado pontas de excelência no meio da temporada e até em episódios mais recentes, como Ashes, Ashes, Os Defensores entregou um final vazio e aborrecido, que mais pareceu uma forma de dar continuidade às séries solo dos personagens sem precisar se preocupar com os eventos da série da equipe.
Uma pena, especialmente porque, no decorrer dos oito episódios, nós vimos que esses personagens tinham uma química de grupo genuína, e funcionavam em equipe com dinâmicas interessantes.
Após oito episódios, nada mudou no universo Marvel Netflix. A série do Demolidor segue sendo a melhor do serviço com uma vantagem muito larga sobre as demais. Luke Cage, Jessica Jones e Punho de Ferro precisam comer muito arroz com feijão pra chegar ao mesmo patamar, e embora não sejam ruins, servem mais pra preencher o espaço entre uma temporada do Demo e a próxima. E a série do grupo é apenas mais uma no catálogo.
Ao menos novembro vem aí, e talvez o Justiceiro de Jon Bernthal dê uma alterada no panorama.
Enquanto isso, falta muito pra terceira temporada de Demolidor?

"-Gao... O que está acontecendo?
-O fim."

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Resenha Série: Os Defensores, Temporada 1, Episódio 7: Fish in the Jailhouse


Cuidado, pode haver spoilers!
Após o eletrizante desfecho de Ashes, Ashes, um episódio que, a despeito de seus defeitos, é repleto de revelações, acontecimentos e reviravoltas, Fish in the Jailhouse foi um tanto quanto anti-climático. Praticamente dois terços do episódio se passam dentro da delegacia onde os entes queridos dos Defensores se escondem sob a tutela de Misty Knight, ou no prédio da Midland Circle, onde Elektra, agora a líder do Tentáculo, levou Danny Rand para abrir a porta oculta sob o prédio.
O episódio, então, se arrasta a passos lentos, dando uma impressão bastante clara de que não há muito mais história pra contar, e dá ao capítulo uma indisfarçável cara de filler, com diálogos relembrando elementos da trama e a dinâmica dos relacionamentos sendo re-reforçada de maneira, no mínimo, desnecessária.
Se há pontos altos no desenvolvimento do episódio, provavelmente passam pela conclusão de Matt de que, a despeito do que Karen e Foggy tentaram lhe empurrar goela abaixo nos últimos tempos, ele não esteve "retomando sua vida" no período em que pendurou os chifres. Pelo contrário, sua vida é aquela. A luta contra o mal é o que move Matt, nos tribunais, sim, mas também nos becos e telhados esmurrando malfeitores. Ele nasceu pra isso.
Ver seu sorriso quando percebe que a muda de roupas que Foggy lhe entregou na delegacia é seu traje de Demolidor deixa claro o quão aliviado ele está por finalmente poder deixar essa crise de identidade pra trás, com o consentimento de seu melhor amigo.
E isso finalmente faz a trama andar, com Luke, Jess e Matt fugindo da delegacia para resgatar Danny e colocar um fim definitivo às maquinações do Tentáculo custe o que custar, enquanto Danny precisa enfrentar Elektra.
E aqui esbarramos em outros dois problemas do episódio:
Primeiro, Danny sabe, textualmente, que Elektra precisa usar seu Punho de Ferro para abrir a tal porta. Ainda assim, após começarem a lutar, uma breve provocação da ninja assassina faz com que Danny acenda seu punho brilhante e comece a esmurrar às cegas pelo salão praticamente fazendo o que Elektra precisava que ele fizesse da maneira mais burra e obtusa possível.
E lá se foi o amadurecimento de Danny Rand, que volta a ser um fedelho emburrado toda a vez que alguém lhe pisa nos calos e parece incapaz de raciocinar além do seu chi.
Outro problema no segmento é como os objetivos do Tentáculo variam. No início era destruir Nova York (como já haviam feito com Pompéia e Chernobyl, situando a organização mais ou menos como a Liga das Sombras da trilogia das Trevas do Batman), depois, seu grande objetivo era retornar a K'un-Lun, de onde os cinco braços do Tentáculo haviam sido expulsos, e agora, é tudo a respeito da tal da Substância, o fluido que ressuscita os mortos.
Quando os Defensores chegam a Midlan Circle, eles são recepcionados por Murakami, Bakuto e Gao, e começa outra cena de luta.
Sim, eu também esperava uma grande cena de ação, especialmente após as duas ótimas cenas que tivemos em Ashes, Ashes, especialmente o quebra entre Demolidor e Punho de Ferro, infelizmente a mão do diretor pesa, aqui, e nós temos o duelo editado de maneira excessiva, com Gao enfrentando Luke e Jess, enquanto o Demolidor sai no braço contra as katanas de Bakuto e Murakami.
A cena é entrecortada com o duelo entre Danny e Elektra no subsolo, e há tantos cortes de cena que fica praticamente impossível aproveitar realmente a sequência, e é difícil não lamentar o que poderia ter sido um festival de porradaria pra jogar a nota do episódio pro céu. Ao invés disso temos Gao empurrando fardos de tijolos contra Luke e Jessica e o Demolidor enfrentando dois dos mais incompetentes espadachins imortais do mundo, já que eles não conseguem, em dupla, vencer um cara cego.
O episódio se encerra com a fuga dos três braços remanescentes, a chegada de Misty e Claire ao prédio, e com os Defensores rumando para o subsolo junto com Colleen Wing, que trouxe da delegacia as plantas do edifício e as cargas de demolição, enquanto Danny desperta sob o que parece ser o esqueleto de um dragão, nos fazendo questionar se o que havia sob Manhattan era uma passagem alternativa para K'un-Lun.
Com apenas mais um episódio, fica a esperança de que Os Defensores retome o bom caminho de capítulos anteriores e entregue um desfecho à altura da expectativa dos fãs.

"-De agora em diante, nada ficará no meu caminho. Nem mesmo a morte."


Resenha Série: Os Defensores, Temporada 1, Episódio 6: Ashes, Ashes


Atenção para os spoilers!
Ashes, Ashes demonstrou alguns problemas de desenvolvimento de um de seus protagonistas: Novamente o Punho de Ferro, que segue sendo a Geni do grupo depois de Jessica ser utilizada algo como alívio cômico na equipe, uma função à qual ela se presta sob medida com sua rabugice irônica.
Porém, o sexto episódio da temporada foi, no geral, bom, e contou ainda com alguns dos momentos mais dramáticos da série até aqui, quiçá de todo o universo Marvel Netflix, exceto, claro, por Demolidor, que segue hours-concours a menos que haja algo muito espetacular nos próximos dois capítulos.
O episódio abre com os heróis descobrindo, após interrogar Sowande, que o Punho de Ferro de Danny é a chave que dá acesso a o que quer que o Tentáculo esteja procurando em Nova York. Se inicialmente Danny duvida da veracidade da declaração de Sowande, Stick revela que já viu o chi ser usado para selar e abrir portas pelos anciãos de K'un-Lun, e, após todos concordarem que o importante é tirar o objetivo final do inimigo de vista, eles decidem esconder Danny do Tentáculo. Isso leva a uma bela luta entre Danny e Demolidor que, sim, ainda tem a participação de Luke e Jessica, mas a boa pancadaria é, mesmo, entre o defensor de K'un-Lun e o diabo da guarda de Hell's Kitchen, e trouxe o que foi a melhor coreografia de luta da série até aqui.
O grande problema de toda essa sequência é que ela meio que jogou no buraco todo o amadurecimento pelo qual o Punho de Ferro vinha passando desde o início de Os Defensores.
Danny estava se mostrando no caminho para virar o herói/empresário dos quadrinhos. Um sujeito confiante e centrado, capaz de ameaçar comprar a Stark Enterprises e ter uma equipe de advogados para livrá-lo de participar da Lei de Registro de Guerra Civil, mas Ashes, Ashes trouxe de volta o moleque mimado que volta e meia dava as caras na primeira temporada da série solo do herói, e isso meio que prestou um grande desserviço ao personagem que evoluía rumo à uma versão mais responsável e consciente de si próprio.
Danny acaba nocauteado por Jessica e amarrado à uma cadeira por Stick.
Ao menos, no período em que Danny esteve presoo sob vigilância, houveram ótimas interações entre ele e Luke, conversando sobre esmurrar o coração derretido de Shou-Lau, o que não morre, e sobre ser atingido por um tiro de escopeta na cara por Jessica Jones. É uma cena calorosa, perfeita para cimentar a amizade florescente entre os personagens.
Enquanto isso, Jessica e Matt partem para procurar por informações sobre o que o Tentáculo está tentando abrir com o Punho de Ferro, e resolvem fazê-lo através da única pista que possuem: A família do arquiteto que Jess investigava.
No período que a dupla passa junta também há tempo para dar uma amolecida na relação entre os dois, com Jessica revelando conhecer a história de vida de Matt, mas esse segmento, realmente, pareceu feito para a trama andar, pois não demora para os heróis encontrarem as plantas do grande poço sob o prédio da Midland Circle (aquele que vimos na segunda temporada de Demolidor) e perceberem que, o que quer que o Tentáculo deseje, deve estar lá.
Apesar do início algo desajeitado, o sexto episódio da temporada teve um encerramento cabuloso, quando Stick, bem à sua maneira, resolve que há uma forma mais simples de abordar a situação atual. Uma mais definitiva do que lutar ou se esconder.
A despeito do que possamos pensar, o curso de ação escolhido por Stick é desgraçadamente condizente com o passado do personagem, que sempre foi absolutamente pragmático, quase psicopata, em sua forma de ver a guerra entre o Casto e o Tentáculo.
Antes que o velho mestre de Murdock possa levar seu plano a cabo, porém, Céu Negro ressurge.
Após revisitar seu passado, a agente definitiva do Tentáculo parece ter sua fé em Alexandra mais forte do que nunca, ela invade o esconderijo dos heróis, e segue-se uma pequena luta com bons momentos, mas com resultados trágicos.
E se essa breve batalha parecia o clímax do capítulo, quando Elektra chega à base do Tentáculo trazendo consigo a chave do que quer que seja para Murakami, Bakuto, Gao e Alexandra, temos mais uma grande reviravolta enquanto a líder da organização dava seu discurso vitorioso sobre a eficácia de Céu Negro, uma reviravolta que certamente complicará enormemente a vida dos Defensores como um todo, de Matt em particular, no que promete ser um grande desfecho nos dois próximos episódios.
Conforme eu disse no início, o episódio teve seus problemas, fez a evolução de Danny dar dois passos atrás, foi excessivamente expositivo com relação aos objetivos do Tentáculo (poderiam ter feito isso nos primeiros episódios e nos livrado de mais um discurso sobre a "substância"), há alguns diálogos algo bobos e a forma como Matt e Jessica chegaram às plantas da Midland Circle foi algo preguiçosa, mas, por sorte, o que Ashes, Ashes teve de bom foi tão explosivo que a audiência não precisa ficar se apegando aos defeitos e apenas curtir mais um pouco de desenvolvimento das relações entre os personagens, ótimas sequências de luta e uma conclusão de cair o queixo.

"-Você tem certeza de que quer fazer isso?
-Não, eu não quero, mas farei, se tiver."

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Resenha Série: Os Defensores, Temporada 1, Episódio 5: Take Shelter


Atenção, pode haver spoilers!
Se os dois últimos episódios, Worst Behavior e Royal Dragon haviam servido para finalmente juntar os Defensores como uma equipe, Take Shelter foi o episódio que prestou serviço ao Tentáculo.
As motivações, backgrounds, objetivos, enfim, o verdadeiro potencial de ameaça da organização antagonista era nublada e vaga a ponto de o Tentáculo de Os Defensores parecer uma ameaça muito menor do que o Tentáculo da série do Punho de Ferro e especialmente do de Demolidor, que mostrava grupos de ninjas sequestrando dezenas de pessoas, invadindo hospitais e matando sem dó nem piedade. Em Os Defensores a organização parecia um clube pequeno burguês com uma segurança que sabia mais ou menos lutar kung fu, não tinha pudores em usar armas automáticas dentro de salas de reuniões e que gostava de planejar terremotos causando danos materiais. Pareciam mais com vândalos polidos do que com uma impiedosa máfia imortal.
Take Shelter finalmente estabeleceu as motivações para os cinco braços da organização, Alexandra, Madame Gao, Murakami (Yutaka Takeushi), Sowande (Babs Olusanmokun) e o ressuscitado Bakuto (Ramon Rodriguez), deu cara e voz para cada um dos líderes do Tentáculo, e o que antes era uma organização com motivações abstratas se tornou um grupo de pessoas com diferentes níveis de poder e influência unidas por uma origem e objetivo em comum, mesmo que eles não concordem totalmente entre si, e não confiem plenamente uns nos outros, algo que fica claro na cena em que eles confabulam a respeito da decisão unilateral de Alexandra de apostar todos os recursos da organização na ressurreição de Elektra.
Os braços do Tentáculo desejam retornar à sua terra natal: K'un-Lun, e para isso precisam o Punho de Ferro, aparentemente Danny Rand é a chave que abre a tal porta indestrutível cheia de escrituras na qual o pessoal de Gao relatou ter esbarrado quando falou com Alexandra na filarmônica.
Alexandra, por sinal, pode desejar retornar a K'un-Lun e readquirir a tal "substância" da imortalidade por outras razões, já que ela afirma, ao conversar com Elektra, que em uma de suas vidas anteriores, ela teve uma filha que lhe foi tomada, e ela acredita que sua missão de vida era criar a Céu Negro.
Ou seja, no mesmo episódio, tivemos uma noção real de quem forma o Tentáculo, e um insight das motivações da líder do grupo. Mais do que isso, em outro momento do capítulo, quando os entes queridos dos heróis são levados à delegacia para serem colocados sob a proteção da polícia de Nova York e de Misty Knight, nós também vemos o efeito que crescer sob a tutela do Tentáculo teve sobre Colleen Wing, conforme ela relata à Claire como se sente perdida agora que está fora do grupo. E então, a ideologia fanática do Tentáculo, também ganha forma e conteúdo.
Verdade, isso poderia ter sido feito durante os primeiros episódios, o que provavelmente teria enriquecido o programa, mas enfim, antes tarde do que nunca.
Além de desenvolver o que fora um antagonista algo frustrante no início da série, Take Shelter também trouxe o Demolidor de volta à tela, armado e parapetado, cheio de convicção sobre o que quer fazer, a ponto de surgir com seu traje para salvar Jessica e Trish de Murakami e interrogar cruelmente Sowande diante dos olhares algo assustados dos demais.
Mais do que isso, Matt reassumir a identidade do Demolidor, oferece outra interessante reviravolta à trama conforme Stick lhe diz que não acredita na liderança de Danny, e acha que Matt é quem deve comandar os Defensores na vindoura Guerra contra o Tentáculo.
Se tudo isso fosse pouco, ainda pudemos ver que Elektra não é a folha em branco que Alexandra imaginava, e que a ninja foi abalada por seus encontros com Matt. Nós a acompanhamos conforme ela vaga por suas memórias parciais até chegar ao apartamento de seu ex-amante, deitar-se em sua cama, e parecer ter encontrado, ali, um lugar para ficar em paz.
Depois de um começo algo modorrento, Os Defensores segue mantendo a qualidade, apesar de ter colocado o pé no freio e de ter iniciado o episódio com uma sequência de ação meio broxante, usou seu tempo para se aprofundar na dinâmica do grupo e para oferecer um bem vindo fundamento aos objetivos dos vilões.

"-Belas orelhas.
-São chifres."

Resenha Série: Os Defensores, Temporada 1, Episódio 4: Royal Dragon


Após uma boa (boa, não "grande", não "ótima", nem de longe "excelente". "Boa".) sequência de ação no encerramento de Worst Behavior, Os Defensores seguiu sua escalada de qualidade no seu quarto capítulo. Precisamos andar metade da temporada para que a série d'Os Defensores finalmente parecesse uma série de super-grupo, e, com mil diabos, a série acertou a mão.
Após fugir do prédio da Midland Circle sob o fogo cerrado dos agentes do Tentáculo, Matt, Jessica, Luke e Danny se abrigam em um restaurante chinês (o Royal Dragon do título), aquartelados lá, os personagens precisam planejar seu próximo passo na certeza de que o Tentáculo não irá simplesmente deixá-los ir embora após a última contenda, especialmente agora que ficou claro que a organização precisa de Danny Rand e de seu punho de ferro para alcançar seus nefastos objetivos.
Mas será que esses quatro desajustados conseguirão parar de bater cabeça e trabalhar juntos, ou as diferenças entre essas pessoas tão diferentes tornará a união impossível, colocando a cidade de Nova York nas mãos do Tentáculo?
Royal Dragon é quase um "botled episode", aqueles episódios confinados a um único cenário feitos para encher uma temporada, o exemplo clássico é o episódio da Mosca em Breaking Bad. Royal Dragon se desenvolve quase que inteiramente dentro do restaurante, e força os personagens principais a interagirem entre si de uma forma como a série ainda não havia conseguido fazer com resultados muito bons, já que a disfuncionalidade desse grupo gera uma dinâmica divertida entre os protagonistas ao longo dos quarenta e cinco minutos do episódio.
A despeito de ter pouquíssima ação, o capítulo serviu para mostrar que os Defensores na verdade gozam de uma ótima química entre si graças aos diferentes backgrounds e personalidades dos heróis, tanto que, quando a ação sai do restaurante, o que ocorre para mostrar que Alexandra e Elektra partilham um tipo de laço de mãe e filha, e para mostrar que os cinco braços do Tentáculo (em inglês eles são os cinco dedos da mão, o que faz mais sentido) estão prestes a se unir novamente após, ao que parece, um longo período afastados, nós ficamos ansiosos para que volte logo.
Danny, que segue sendo um ingênuo heroico, acredita que eles foram unidos pelo destino, Jessica acha a situação toda absolutamente insuportável e só quer ir embora, enquanto Luke se ressente da presença de Matt que segue cobrindo o rosto em meio aos demais. Mesmo em um espaço tão diminuto, o episódio consegue compartimentar a narrativa, oferecendo interações específicas entre os personagens, Jessica e Luke têm tempo para relembrar seu breve romance, enquanto Danny e Luke podem semear uma das mais duradouras amizades dos quadrinhos, há espaço para tensão e humor, mas o drama acaba recaindo sobre os ombros de Charlie Cox. O intérprete do Demolidor é, com alguma vantagem, o ator mais dramaticamente capacitado do quarteto, e é o mais convincente quando chega o momento de falar sobre perda e sobre o dano que o Tentáculo é capaz de causar à vida de alguém, então, quando ele tira a máscara e revela sua identidade ao restante da equipe, isso ganha peso, e mostra que um laço de confiança foi formado, e que, ainda que a confiança surja relativamente rápido, a audiência não se sente enganada, e nem tem a impressão de que a situação foi apressada.
E quando Stick chega, para explicar as origens do Tentáculo, o ofício da organização criminosa, e sua forma de agir, há uma tensão bem balanceada entre Danny, que quer e precisa, por dever de ofício como Punho de Ferro, saber mais, e Matt, que à essa altura da vida se vê absolutamente incapaz de confiar no seu velho mestre não importa o quão próxima a ameaça do Tentáculo esteja deles.
Royal Dragon faz o falatório semi-expositivo dos primeiros episódios e a reapresentação dos personagens parecer ainda mais desnecessária ao passear por referências de temporadas prévias das séries solo das quais nós ainda nos lembramos porque, então, elas tiveram significância, e ao fazer isso, alcança seu melhor momento na metade da temporada.
E quando a ação finalmente ocorre, no final do capítulo, com o retorno de um personagem que abandonara os demais voltando para a luta e se perfilando ao grupo, nós percebemos que esses Vingadores Desfuncionais têm, de fato, futuro.
Chega a ser estranho imaginar que uma série com a premissa da super-equipe fosse encontrar seu melhor momento ao redor da mesa de um restaurante, mas foi o que aconteceu.

"-A única coisa impedindo que Manhattan se desmanche em uma pulha de pó, são vocês quatro."

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Resenha Série: Os Defensores, Temporada 1, Episódio 3: Worst Behavior


Após dois episódios quase que inteiramente dedicados a estabelecer a persona de cada um dos protagonistas para um público eventual que ainda não tivesse assistido às séries solo dos personagens e muito falatório, finalmente as coisas tomaram forma de uma série de super-heróis em Os Defensores com o terceiro capítulo, Worst Behavior.
O episódio, que abre com um longo flashback de como a ressurreição de Elektra foi realizada pelo Tentáculo a mando de Alexandra, seu treinamento e programação para se tornar o Céu Negro, a arma definitiva a serviço do Tentáculo.
Elektra Natchios não existe mais, em seu lugar ressurge uma página em branco, fria e sem emoções, para ser preenchida de acordo com os desejos de Alexandra e os ideias sádicos d'O Tentáculo.
Elektra sem dúvida acrescenta urgência à organização criminosa da série, infelizmente, ela ainda não deu uma agenda para o grupo. O Tentáculo segue vago e com objetivos e ideais abstratos nesse terceiro episódio. Eles querem destruir Nova York, OK, nós entendemos, mas por que? Dois episódios foram desperdiçados com uma longa configuração para situar a audiência de coisas desnecessárias, enquanto as motivações dos vilões seguem um mistério. Mesmo o tipo de mal que eles podem causar à cidade continuaria absolutamente nublado se não fosse o vislumbre que tivemos do potencial maligno da organização em Demolidor. De toda a sorte, Stick (Scott Glenn) está de volta, e parece disposto a tudo para não permanecer sob o jugo do Tentáculo e levar adiante a missão d'O Casto de se opor ao mal.
Por problemática que seja a retratação do Tentáculo, o episódio ao menos conseguiu unir os heróis de maneira mais orgânica, sem necessariamente fazê-los sair na porrada.
Enquanto isso, na delegacia, Matt tentava aplicar alguns conselhos legais na cabeça de Jessica Jones, obviamente, sem sucesso, e a coisa toda acabou sendo um seguindo o outro por Nova York.
Em compensação, Claire imediatamente soube de quem Luke estava falando ao ouvi-lo falar que fora esmurrado por um moleque branco magricela com um punho brilhante, e juntar os dois na mesma sala para conversar pareceu algo que uma pessoa com a cabeça no lugar faria, tão razoável que pareceu quase fora de lugar em um derivado de quadrinhos.
A interação entre Luke e Danny foi ótima.
É bom saber que a Netflix não esqueceu completamente de quem esses dois personagens são, e o argumento de Cage, de que Danny é um filho do privilégio, é bem embasado no background do defensor do Harlem, assim como a abordagem caolha de Danny, que cresceu entre monges guerreiros aprendendo a lutar, e tem, como primeiro impulso, resolver tudo através de violência, faz todo o sentido para o personagem.
Apesar de os dois não se entenderem de pronto, fica claro que Luke chamar a atenção de Danny quanto ao seu verdadeiro poder: O alcance de sua fortuna, mexe com o herdeiro das Empresas Rand, e não tarda para que vejamos Danny Rand usando seus recursos para descobrir onde é a toca do leão, e aparecer de terno e gravata visitando a Midland Circle, braço corporativo do Tentáculo do qual já ouvimos falar antes em Demolidor e Punho de Ferro.
Não tarda para que Jessica Jones, Luke Cage e Matt cheguem ao mesmo lugar e, finalmente, vejamos Os Defensores lutando lado a lado após Danny conhecer Alexandra e entender que o Tentáculo o quer vivo.
Também temos Demolidor reencontrando a ressuscitada Elektra em mais uma sequência de luta através de corredores.
Tudo bem, Worst Behaviour não foi, nem de longe, um episódio épico de seriado, mas foi, fácil, o melhor capítulo desse início de Os Defensores, se não teve o grau de fodacidade das grandes sequências de luta de Demolidor, ao menos contou com bons diálogos, interações divertidas entre os heróis, e alguns pontos altos no tocante à ação, como a sequência em que Luke protege Danny das metralhadoras dos agentes do Tentáculo, ou o momento em que Danny destrói a espada de Elektra para proteger Matt.
Os Defensores ainda não alcançou seu verdadeiro potencial, mas em seu terceiro episódio, ao menos bateu asas, agora só falta decolar.

"-Sua investigação está te levando de encontro a algo sinistro.
-Você é o advogado mais cheio de papo-furado que eu já conheci, espero que você aprecie a magnitude dessa declaração."

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Resenha Série: Os Defensores, Temporada 1, Episódio 2: Mean Right Hook


O segundo episódio de Os Defensores seguiu tendo mais ou menos os mesmos problemas do primeiro episódio, os personagens estavam separados, ainda sem um objetivo para forçá-los a se unirem.
Essa toada foi mantida por mais da metade do capítulo.
O grande terremoto que causou estragos em Nova York (aparentemente foi só o que ocorreu, danos materiais, não há indicação de feridos ou mortos) tirou Matt da aposentadoria, fazendo-o reviver, ainda que brevemente seus dias de Demolidor. Jessica Jones estava no apartamento até onde havia seguido a pista do arquiteto desaparecido, cercada de cargas de demolição, enquanto Luke estava nas ruas do Harlem, bem a tempo de impedir que um poste arrebentasse a cabeça de uma velhinha. Após a noite de pânico em Manhattan, cada um deles seguiu sua rotina da maneira que pôde, planejando seus próximos passos.
Colleen foi quem teve a ideia de sugerir ao Punho de Ferro que eles talvez precisem encontrar aliados para sua guerra contra o Tentáculo. Sua única pista era a espada do homem morto no Camboja, de uma espécie que era fabricada em Nova York.
Luke resolveu se aprofundar na investigação de quem está contratando jovens do Harlem para morrer fazendo um trabalho sujo. Após interrogar Turk (Rob Morgan), ele acaba descobrindo que um sujeito chamado de "Chapéu Branco" é quem está por trás dos desvios de comportamento dos jovens, e isso faz com que seu caminho se cruze, justamente, com o de Danny Rand.
A cena de luta entre os dois é bacana.
Ver Danny desperdiçando seu kung-fu no invulnerável Luke Cage, e ver o efeito do imortal punho de ferro de Danny em Luke numa repetição da antológica cena do murro da série de Luke com resultados completamente diferentes foi bastante divertido.
A cena dos dois não teve nada comparável às espetaculares coreografias de luta de Demolidor, mas ainda assim, é sempre agradável ver um quebra entre super-heróis, especialmente com poderes tão distintos quanto Luke e Danny.
Apesar disso, quem de fato fez a trama andar, foi Jessica Jones,
A investigadora se enfiou em arquivos municipais após afanar um documento do apartamento onde encontrou as cargas de demolição e se depara com uma empresa de fantasma que têm fechado suas portas e passado seus bens a outras empresas de fachada pelos últimos cento e noventa e três anos mantendo a presença do Tentáculo em Nova York oculta ahá quase dois séculos.
O fato de Jessica estar, de fato, obtendo respostas, faz com que durante o seu segmento, a audiência experimente uma trama que avança, algo que não se repete nas linhas narrativas de seus colegas, fazendo com que tenhamos a impressão de vai-não-vai, porque a série aparentemente luta para que todos os personagens tenham o mesmo tempo de tela, e por mais louvável que isso seja, nós não chegamos a um ponto onde todos os personagens movem as engrenagens da trama igualmente, e com isso, é justamente Matt, o personagem cuja apresentação menos prejudicara no primeiro episódio, quem mais se ressente de não ter, ainda, um papel mais ativo no desenrolar da história.
Alexandra, por sua vez, ganhou mais um drops de desenvolvimento no episódio.
Sua longevidade é sugerida como excepcionalmente longa, a ponto de ela se referir a Brahms e Beethoven como se fossem compadres, mas seus planos e motivações seguem sendo nublados, pra dizer o mínimo.
Na verdade, o Tentáculo dirigido por Alexandra parece bastante burguês, com Sigourney Weaver ouvindo apresentações privadas da Filarmônica de Nova York em belos ambientes iluminados e bem decorados enquanto conversa casualmente com a diretora da orquestra. A "organização criminosa guiada por uma crença fanática" parecia bem mais perigosa sob o comando de Nobu, ou mesmo de madame Gao do que pareceu sob o comando de Bakuto e especialmente Alexandra. Um terremoto sem vítimas fatais e muito falatório não me parece particularmente uma ameaça capaz de destruir Nova York.
Ao menos, conforme nos aproximamos do fim do episódio, uma invasão inesperada ao escritório/apartamento de Jessica, somada à intervenção de Jeri Hogarth (Carry Anne-Moss) faz com que o caminho de Jessica se cruze com o de Matt, e ainda fazemos a descoberta de quê Alexandra tem um prisioneiro importante em seu poder.
De novo, Os Defensores não se tornou o que a audiência esperava, ainda assim, Mean Right Hook mostrou mais propósito em seu desenvolvimento, uniu alguns dos personagens centrais e pode se centrar em fazê-los trabalhar juntos.

"-Você quer mais?
-Ah, nós nem mesmo começamos..."

Resenha Série: Os Defensores, Temporada 1, Episódio 1: The "H" Word


Após longa espera, na sexta-feira passada Os Defensores, os Vingadores da Netflix, chegaram ao cardápio do serviço de streaming para alegria de nerds que, assim como eu, estavam com saudades dos super-heróis mais pé-no-chão da Marvel, e já haviam começado a babar de antecipação após os ótimos trailers da série da equipe. O que poderia ser mais bacana do que um crossover entre os personagens do bem-sucedido universo compartilhado Marvel/Netflix pra saciar a sede dos marvetes de plantão?
O primeiro episódio, porém, foi mais uma recapitulação do que havia acontecido com os personagens em suas aventuras solo do que o verdadeiro pontapé inicial da série do grupo, em The "H" Word, o crossover ficou só na promessa, já que os heróis não dividem nenhuma cena juntos.
O que nós vemos é Danny Rand (Finn Jones) e Colleen Wing (Jessica Henwick) ainda procurando pelo Tentáculo após a descoberta da destruição de K'un-Lun. Após apanharem de uma mulher misteriosa (não tão misteriosa pra quem acompanhou todas as séries Marvel do catálogo), eles são orientados a retornar a Nova York, que é o lugar onde o Tentáculo realmente está.
Enquanto isso vemos Luke Cage (Mike Colter) sendo libertado da prisão por ninguém menos do que Foggy Nelson (Elden Henson), e retornando ao Harlem para reencontrar Claire (Rosario Dawson).
A enfermeira noturna quer que Luke cuide de si próprio por enquanto, mas Luke parece decidido a assumir o lugar de Pop como o norte moral dos jovens do bairro, tanto que não pensa duas vezes em aceitar o convite da detetive Misty Knight (Simone Missick) para um passeio e descobrir que alguém está usando jovens negros para um trabalho obscuro que paga muito bem mas termina muito mal.
Jessica Jones (Kristen Ritter), por outro lado, não tem investigado nada. Após a Jessica largou o serviço e ignora as ligações que recebe sem pensar duas vezes negando caso após caso enquanto se encharca de tanto beber para desespero de Trish (Rachel Taylor), que não consegue entender como a amiga desperdiça o potencial de seus poderes. Jessica parece decidida a não aceitar nenhum caso até que uma mulher e sua filha, procurando pelo pai da família, um engenheiro desaparecido há dias, surgem na porta do A.L.I.A.S. Investigações. Se a princípio a detetive não dá mostras de que irá aceitar procurar pelo sujeito, a insistência de Malcom (Eka Darville) e uma ligação dizendo que ela não aceite o caso, acabam fazendo-a mudar de ideia.
Completando o tabuleiro, Matt Murdockv (Charlie Cox) pendurou os chifres. Ele tem tentado encontrar satisfação em ajudar pessoas no tribunal, fazendo trabalho pro-bono sem esmurrar ninguém. Parece uma boa saída para conter as aspirações heroicas de Matt, mas nós o ouvimos na primeira temporada, e o próprio admitiu: Ele gosta de machucar pessoas.
Ainda assim, ao encontrar Karen Page (Deborah Ann Wool) após fechar um processo vitorioso, ele mente dizendo não sentir falta de sua vida dupla.
Além dos heróis, nós conhecemos Alexandra (Sigourney Weaver).
Quando a conhecemos, ela está recebendo más notícias do seu médico. Aparentemente, ela tem poucos meses de vida, e não há nada que a medicina possa fazer por ela.
Alexandra é um membro do Tentáculo, uma das líderes da organização, e ao receber a informação de que há pouco tempo em seu horizonte, ela se decide a apressar os planos da organização para Nova York, a despeito dos alertas de Madame Gao (Wai Ching Ho) de que, se fizerem tal coisa, não será possível executar o plano de forma discreta.
Alexandra não parece se importar, e o resultado é um tremendo terremoto que sacode a ilha de Manhattan de ponta a ponta, chamando a atenção de todos os heróis da cidade.
The "H" Word foi algo lento em seu desenvolvimento. Há pouca ação no episódio, que parece preocupado em demasia em situar uma audiência que eventualmente não tenha assistido às séries solo dos personagens sobre quem eles são e em que pé estão suas vidas. Isso acaba sendo um pouco aborrecido para quem se deu ao trabalho de ver mais de treze horas de cada um desses sujeitos (vinte e seis de Demolidor) e está mais do que ciente de tudo isso.
Martelar excessivamente nas principais características da personalidade de cada um é outro problema.
Ver Luke Cage afirmando repetidas vezes que só quer ajudar as pessoas do Harlem o faz parecer um político em campanha, ver Danny entoar como um mantra que sua missão é destruir o tentáculo faz parecer que ele próprio não tem convicção disso, e ver Jessica sempre com uma birita na mão a faz parecer uma alcoólatra que deveria estar internada e não investigando coisa nenhuma na rua. Quem escapa dessa aproximação perigosa com a caricatura é o Matt Murdock de Cox, já que a sua obsessão com o vigilantismo é um traço recorrente do personagem desde o primeiro episódio de sua série.
O começo de Os Defensores não é dos mais animadores, mas a audiência vai continuar ligada, afinal de contas, nós vimos os trailers e sabemos o que vem por aí.
Um pouco mais de audácia do roteiro, porém, teria sido bem vinda, especialmente se considerarmos que, ao invés de treze episódios como as demais séries da Marvel Netflix, Os Defensores tem apenas oito.
Vamos esperar pra ver.

"-Você sente falta disso? O traje? A máscara?
-Não. Parece um capítulo da minha vida que se encerrou."

Resenha Série: Game of Thrones, Temporada 7, Episódio 6: Beyond the Wall


Atenção! Zona de spoilers severa nos próximos parágrafos!
Após uma semana ignorando tudo sobre Game of Thrones na internet por conta do vazamento de Beyond the Wall na Espanha na semana passada, ontem era hora de sentar para assistir ao penúltimo episódio dessa temporada magra de Game of Thrones.
Eu passei os primeiros cinco episódios da sétima temporada garganteando sobre como a redução do número de capítulos da série nesse ano não estava pesando sobre o roteiro da série, que seguia funcionando a despeito da restrição orçamentária que enxugou em três episódios (quase três horas) o tamanho da temporada, algo que deve ser ainda mais significativo na oitava temporada, que deverá ter apenas cinco capítulos.
Pois bem, em Beyond the Wall, finalmente, a correria cobrou seu preço.
Ainda que o sexto capítulo da temporada tenha mantido a escrita de Game of Thrones, de o penúltimo episódio de cada temporada ser aquele onde tudo vai pro inferno e as maiores desgraças ocorrem, teve grandes cenas de ação, e aumentou a aposta na relação entre duas personagens-chave da série.
Mas fez tudo isso meio na correria.
A necessidade de espremer a coisa toda em sete, e não dez capítulos, fez com que Beyond The Wall parecesse apressado, e pior, acabando com a noção de tempo da audiência dentro do episódio (as noções de tempo sempre foram confusas em GoT, mas ao menos nós tivemos a confirmação de que as viagens na série, de fato, levam meses, quando Samwell Tarly disse ao arquimeitre que conhecera Bran Stark "anos atrás". Saber que viagens levam meses na série ajudou a estabelecer a passagem dos anos anos no programa e esculhambou completamente a cronologia dos fatos em Beyond the Wall.).
Mas vamos ao que interessa:
Os Vingadores da Costa Westeros liderados por Jon Snow andaram por um período de tempo que não ficou claro se foi de horas ou dias pela planície gelada, pelas montanhas e pelas escarpas d'além da muralha.
O grupo composto por Jorah Mormont, Beric Dondarrion, Thoros de Myr, Sandor Clegane, Thormund e Gendry, além de uma porção de coadjuvantes sem nome, adentrou o território inóspito com galhardia em sua missão de apanhar um dos Outros, e levá-lo a Porto Real para convencer Cersei de que o perigo representado pelo Rei da Noite é genuíno.
O plano, obviamente, não era dos melhor pensados. E tinha tudo e mais um pouco para dar errado.
Após se digladiarem com um urso polar zumbi, perdendo um membro da companhia, e vendo Thoros de Myr ser gravemente ferido, o grupo finalmente chegou à montanha com o topo no formato de uma cabeça de flecha que o Cão de Caça viu no fogo, e lá, depararam-se com um pequeno contingente de zumbis liderados por um Andarilho Branco.
Ao apanhar seu zumbi, porém, o grupo viu-se na mira da maior horda de zumbis de que já se teve notícia e enquanto Gendry fugia de volta para Atalaia Leste do Mar para pedir reforços, o restante do grupo ficou para lutar por suas vidas.
Gendry correu até chegar extenuado à Atalaia Leste do Mar, e um corvo foi enviado à Pedra do Dragão, de onde Daenerys parte para o resgate.
Deixe-me abrir um parêntese aqui, para falar a respeito da confusão temporal que começa nesse ponto.
Nós não temos como saber quanto tempo o grupo ficou ilhado naquela pedra. A melhor aposta parece ser em dia e uma noite, dois dias e uma noite, ao menos é a impressão que temos assistindo ao episódio. Gendry corre, aparentemente por um dia inteiro até retornar à Atalaia Leste do Mar, e, sabe Deus quanto tempo um corvo leva da Muralha até Pedra do Dragão, e quanto tempo um dragão leva de Pedra do Dragão até além da Muralha, a questão é que, nesse ponto, tudo se tornou muito corrido, com as coisas se sucedendo tão rapidamente que mesmo a morte de um personagem com mais background e carisma, no caso Thoros de Myr, acabou passando em brancas nuvens porque, simplesmente, não deu tempo de lamentar seu fim em meio a alguns coadjuvantes sem nome que estavam no grupo apenas para morrer.
Se a caminhada da equipe até a montanha com pico de cabeça de flecha serviu para oferecer alguns momentos de interações bacanas entre personagens que jamais se encontraram, com diálogos divertidos entre Thormund e Sandor, e um momento tocante entre Jorah e Jon a respeito da espada ancestral da família Mormont, Garralonga, do encontro com o Andarilho Branco pra frente, tudo fica meio confuso.
Enquanto Jon se ilhava com seus colegas à espera de um milagre, em Winterfell a tensão entre as irmãs Stark está cada vez maior com as duas sendo tocadas por Petyr Baelish como se fossem violinos.
Não posso deixar de achar frustrante que, à essa altura do campeonato, Arya e Sansa ainda sejam tão facilmente manipuláveis. Tudo bem que as duas são praticamente estranhas após anos separadas, e que Arya veja Sansa como a mesma menina idiota que só queria usar belos vestidos e casar com o rei, e que Sansa veja Arya como uma selvagem que age apenas por impulso, mas já não ficou claro para as duas que o Mindinho não vale o que come no que tange a maquinar e sacanear os outros? Ele conseguiu até mesmo convencer Sansa a mandar Bryenne embora de Winterfell, abrindo mão de sua mais capacitada defensora.
Ainda assim, o diálogo das duas no mezanino de onde Ned e Catelyn costumavam observar os filhos praticando, foi particularmente bem atuado. Um ponto alto para as duas atrizes na série.
E, em Pedra do Dragão, Tyrion e Daenerys tocaram no sensível ponto da sucessão ao Trono de Ferro, já que, caso a mãe dos dragões consiga a coroa, ela não pode gerar filhos. Um ponto que claramente deixa a herdeira Targaryen bastante emputecida.
Agora, após essa conversa, Daenerys novamente opta por não dar ouvidos a Tyrion, e parte rumo ao o Norte para salvar Jon e companhia no último momento.
A batalha, porém, não sai como Daenerys planejara, já que, enquanto fritava todos os zumbis que cercavam o grupo, Dany viu o impossível acontecer:
O Rei da Noite, com uma lança de gelo, e uma pontaria sensacional, conseguiu matar um dos dragões de Daenerys em pleno voo.
Viserion exalou seu último sopro flamejante e, durante a fuga que se seguiu à morte do dragão, Jon caiu no rio congelado arrastado por dois zumbis, sendo deixado pra trás enquanto o restante do grupo escapava no lombo de Drogon.
Jon, porém, não pereceu, sendo salvo da horda de zumbis por seu tio Benjen Stark (Joseph Mawle) no último instante, e conseguindo retornar à Atalaia Leste do Mar no lombo do cavalo de Benjen, que se sacrificou por seu sobrinho.
Como dá pra ver, muita coisa aconteceu no episódio de ontem, e eu nem mesmo falei que Jon e Jorah deduziram que, ao matar um Andarilho Branco, os zumbis trazidos de volta à vida por aquela criatura são destruídos instantaneamente, que Jon e Daenerys tiveram um momento de ternura no barco de volta à Pedra do Dragão onde pudemos ver um pouco da Dany de antigamente, mais frágil e acessível e menos quebradora de correntes, mãe dos dragões nascida da tormenta, e que talvez, justamente isso, aliado ao resgate mais do que providencial, tenha feito Jon reconhecê-la como sua rainha (depois de chamá-la de Dany), e que após tudo isso, os zumbis retiraram o corpo de Viserion do lago congelado, e o Rei da Noite o trouxe de volta ganhando seu próprio Dragão-zumbi (ei, eu falei lá em cima que essa era uma zona de spoilers severa).
Por tantos acontecimentos importantes, incluindo aí o primeiro encontro de várias testemunhas com o Rei da Noite, incluindo aí Daenerys, que finalmente reconheceu o senhor dos Andarilhos Brancos como o inimigo a ser vencido, é uma pena que Beyond the Wall tenha sido tão prejudicado pela pressa.
Se houvesse seguido o ritmo de temporadas anteriores ao menos aqui, esticando a coisa toda por mais um capítulo ou dois, nós provavelmente estaríamos diante de um forte candidato a melhor episódio da série, infelizmente, ele acabou sendo apenas bom por conta da correria que roubou peso de revelações, encontros e mortes pra chegar logo ao final como um adolescente trepando.
Vamos esperar que, na semana que vem, o oitavo episódio recupere o nível dos últimos seis capítulos, e entregue um cliffhanger de deixar todo mundo na ponta da cadeira até 2019.

"-Morte é o inimigo. O primeiro inimigo, e o último.
-Todos nós vamos morrer.
-O inimigo sempre vence. Mas ainda assim, precisamos enfrentá-lo."

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Resenha Série: Game of Thrones, Temporada 7, Episódio 5: Eastwatch


Atenção! Há spoilers!
Ontem me dei conta, chocado, que a atual temporada de Game of Thrones que eu vinha tratando como uma temporada mais curta de oito episódios, na verdade será uma temporada AINDA mais curta, de sete episódios. O letreiro de que faltavam apenas dois capítulos para o final do sétimo ano da série foi um balde de água gelada particularmente doloroso já que estamos naquela época do ano quando a semana é aquele intervalo chato até o próximo episódio de Game of Thrones.
As coisa seguem em movimento acelerado em Westeros, com a guerra entre Daenerys e Cersei a pleno vapor. Jaime, de fato, sobreviveu ao seu contato imediato com Drogon na semana passada, sendo salvo por Bronn (que também sobreviveu. Se Bronn fosse um personagem de RPG, ele precisaria de uma classe de personagem criada só pra ele, que seria "Sobrevivente" e seu nível seria 35, pelo menos) no último instante, e podendo voltar para Porto Real e informar à Cersei, em primeiríssima mão, que a balestra Escorpião não é nem de longe tão eficiente quanto Qyburn supunha, já que acertar Drogon, Viserion e Rhaegal no campo de batalha é sensivelmente diferente de alvejar o crânio de Balerion nas catacumbas da Fortaleza Vermelha.
Para aqueles que ficaram temerosos pela saúde do dragão negro de Dany, por sinal, temendo que as lanças disparadas pela arma de Qyburn pudessem ser envenenadas, aparentemente não é o caso. O lagartão estava muito bem após a batalha, inclusive servindo como executor de Daenerys quando a jovem rainha levou sua justiça à tropa inimiga, oferecendo aos homens a chance de se renderem ou serem incinerados pelo hálito flamejante de Drogon, destino escolhido por Randyl e Dickon Tarly (James Faulkner e Tom Hopper), e, ao agonizante churrasco protagonizado pelos senhores de Monte Chifre, seguiu-se a rendição em massa da tropa de Jaime e companhia.
Eu gosto da forma como a violência da justiça Targaryen de Daenerys impacta sobre o círculo de aliados mais próximos dela.
Tyrion, em particular, parece sempre disposto a tentar encontrar o meio termo nas situações de conflito, e a despeito de ter matado Tywin, ele não vê execuções com bons olhos. Seu desconforto andando pelas cinzas do campo de batalha após a vitória de Dany e sua expressão quando os Tarly foram transformados em cinzas deixam claro que, por mais que ele não vá virar a casaca pra cima da mãe dos dragões, ele também não está inteiramente satisfeito com o modo como certas coisas acontecem, sentimento compartilhado por Varys e até por Jon, ele próprio um comandante de guerra que viu milhares morrerem em combate.
Jon, por sinal, avançou um pouquinho mais fundo no coração de Daenerys ao acariciar Drogon, e recebeu notícias perturbadoras do Norte, já que Bran, usando seus poderes de Corvo de Três Olhos, descobriu que o Rei da Noite se aproxima da Muralha com um exército de centenas de milhares de mortos-vivos. A gravidade da ameaça é tão grande que Daenerys viu-se oferecendo uma trégua a Cersei para que suas tropas possam ajudar Jon a combater os Andarilhos Brancos no Norte.
Trégua essa que pôde ser negociada graças ao laço que Tyrion mantém com Jaime, a despeito de todas as diferenças entre os dois, e da habilidade de sor Davos Seaworth de entrar e sair sorrateiramente da maioria dos lugares graças a seus dias como contrabandista
Enquanto Tyrion negociava o armistício com Jaime e Cersei, Davos foi até a Rua do Aço e encontrou ninguém menos que Gendry (Joe Dempsie), que não, não passou os últimos três anos remando após deixar Pedra do Dragão, mas voltou a Porto Real e tem seguido com seu ofício de ferreiro, fazendo espadas para as pessoas que tramaram a morte de seu pai. Esse período certamente mudou Gendry, que de um sujeito que só queria ficar na sua, tornou-se alguém que estava esperando o chamado da aventura de martelo de guerra em punho, e que está mais do que disposto a repetir a parceria entre Robert Baratheon e Eddard Stark em versão bastarda, aliando-se a Jon Snow.
Jon, aliás, pode não ser tão bastardo assim.
Explica-se: Durante um breve interlúdio na Cidadela, após Sam se ver de saco cheio da amarração dos grão-meistres que seguem duvidando da existência dos Andarilhos Brancos, dos Outros e do Rei da Noite, o aspirante aparentemente desistiu de se tornar um meistre, apanhou todos os livros que lhe interessavam e resolveu partir de Vila Velha. Antes disso, porém, Gilly (Hannah Murray) que se tornou uma ávida leitora, passava os olhos por um tomo onde leu algo a respeito da anulação do casamento do príncipe "Regar", e de seu matrimônio com outra esposa em Dorne, no mesmo dia.
Todos sabemos que Jon é filho de Rhaegar Targaryen e Lyanna Stark, mas suspeitava-se que ele era um bastardo. Entretanto, se houve a anulação do casório de Rhaegar com Elia Martell e o casamento formal do último Dragão com Lyanna, Jon é oficialmente Jon Stark Targaryen, legítimo herdeiro do trono de ferro.
Como, e se, essa informação chegará a Jon, permanece um mistério, já que Sam, desesperado por informações que possam impedir a Longa Noite, nem mesmo deixou Gilly terminar de falar, mas uma vez que Bran sabe da verdadeira origem de Jon, a questão pode voltar a ser importante num futuro próximo.
No momento, não é.
Tyrion, Varys e companhia chegaram à conclusão de que a melhor forma de unir Westeros contra a ameaça que vem do Norte é provar a existência do perigo, e, para isso, uma comitiva foi montada para fazer uma expedição para além da Muralha e capturar um dos zumbis de olhos azuis.
Jon obviamente se voluntariou para a empreitada, o bastardo que passa a vida inteira tentando fazer a paz com seus inimigos voltou do túmulo ainda mais disposto a dar sua vida pelo bem comum, e segue modesto a respeito da própria ressurreição. Todas essas qualidades deixaram Daenerys visivelmente atraída pelo rei do Norte quando ele partiu para mais uma missão potencialmente suicida.
Jon, por sinal, não partiu sozinho. Sor Jorah Mormont retornou ao convívio da sua amada Khaleesi, e nem esquentou banco em Pedra do Dragão, tomando o rumo do norte junto com Jon Snow, que serviu sob o comando do pai de Jorah, o velho Urso Jeor Mormont.
Enquanto isso, em Winterfell, Arya começou a seguir Mindinho mais de perto, e não custou a ficar claro que lorde Baelish está ávido para usar a desconfiança da caçula dos Stark para seu próprio ganho, jogando com a animosidade entre as irmãs Stark.
Esse é um daqueles confrontos com todo o potencial do mundo pra acabar mal, já que Arya, a despeito de seus anos de calvário para se tornar uma sobrevivente nata, vai estar jogando um jogo que Mindinho pratica há décadas. Resta saber se a alcateia vai conseguir permanecer unida a despeito das maquinações de Petyr.
Para fechar a conta, descobrimos que Cersei está novamente grávida do irmão, e mais do que nunca, disposta a esmagar seus inimigos para que ela e Jaime possam viver seu amor da maneira que sempre desejaram.
Eu estava bastante crente que Cersei, Jaime e Euron Greyjoy seriam os grandes antagonistas dessa temporada e que a luta contra o Rei da Noite seria o mote da temporada final, agora, já não estou tão certo disso, e não me surpreenderia se nós víssemos, nos episódios vindouros, uma grande coalizão de todos os personagens ainda vivos na luta contra a Longa Noite, o que, admitamos, seria simplesmente sensacional em uma série onde todo mundo tenta ferrar todo mundo desde o primeiro capítulo.
Poderemos ter um vislumbre da resposta na semana que vem, já que o episódio se encerrou com Jon Snow, Gendry, Jorah e Tormund cruzando a Muralha rumo a norte junto com Beric Dondarrion, Thoros de Myr e Sandor Clegane, que eram prisioneiros em Atalaia Leste do Mar.
Com dois episódios (e não três) para encerrar a temporada, Game of Thrones pisou no freio no quesito ação, mas encheu uma hora com reencontros, maquinações e situações de tensão que se aprofundaram nas motivações de seus personagens e deixaram a audiência com uma longa semana pela frente.
Haja unhas pelos próximos seis dias.

"-Eles e nós estamos do mesmo lado.
-Como é possível?
-Estamos todos respirando."

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A Primeira Imagem Oficial de Cable

Ryan Reynolds e Josh Brolin revelaram as primeiras imagens oficiais de Cable, o mutante viajante do tempo que será a principal adição do segundo longa de Deadpool, o mercenário tagarela.
Veja abaixo o ator com o olho e o braço biônicos tradicionais do personagem que, nos quadrinhos, é o filho de Scott Summers, o Ciclope, e de Jean Grey, a Fênix, que volta do futuro e cuja presença na sequência já havia sido revelada por Reynolds na cena pós-créditos do primeiro Deadpool:


Eu achei que ficou bem legal, embora não possa deixar de imaginar se Keira Knightley não ficaria melhor no papel.
Deadpool 2 estréia em 1° de junho de 2018 e terá as voltas de Reynolds, Morena Bacarin, T. J. Miller, Karan Soni, Brianna Hildebrand e Stefan Kapicic, se juntarão a eles Zazie Beetz, interpretando a mutante Dominó e Brolin no papel de Cable. O longa será dirigido por David Leitch e roteiro de Drew Goddard.

Resenha DVD: Power Rangers


Quando eu passo pela locadora e apanho um filme como Power Rangers, eu me sento para assistir à película me esforçando o melhor que posso para fazê-lo tendo consciência de que eu não sou o público alvo que os produtores, roteiristas e diretor tinham em mente quando bolaram o longa em questão.
Foi o que fiz ontem, quando, no meio da tarde, resolvi matar duas horas assistindo um filme que gritava censura dez anos já pelo simples fato de ser um remake de um super sentai japonês transformado em série infantil norte-americana que ocupava as manhãs da Globo antes de a vênus platinada resolver que crianças não valiam quatro horas de programação e que era mais rentável transformar a Fátima Bernardes em palhaça.
Eu nunca fui fã de Power Rangers. Os únicos Super Sentai que acompanhei na vida foi o saudoso Changeman (eu era o change grifo nas brincadeiras. Não porque gostasse de me vestir de preto, mas porque grifos eram minha besta mitológica favorita aos sete anos) e o CyberCop, os policiais do futuro, eventualmente o Google Five (nada a ver com o mecanismo de busca, nem existia internet à época), e o Flashman, mas esses bem menos do que os dois primeiros, que assistia com avidez de fã.
Power Rangers, por sua vez, chegou ao Brasil em uma época em que eu estava no começo da adolescência, e de repente futebol e gurias eram mais atraentes para mim do que séries de TV, filmes e mesmo quadrinhos, de modo que os protetores de Alameda dos Anjos não significavam nada pra mim nem quando ganharam um longa metragem mais parrudo do que os episódios diários na TV Colosso em meados de 95, e não me levaram ao cinema quando chegaram aqui em março desse ano em sua nova roupagem.
Power Rangers abre com uma batalha tomando curso na era cenozoica. Em meio a dinossauros e pteranodontes, o ranger vermelho Zordon (Bryan Cranston) faz um último e desesperado esforço para derrotar a renegada Ranger verde, Rita (Elizabeth Banks), lançando um asteróide contra a Terra. Antes do impacto, porém, ele guarda os amuletos que geram a transformação dos Rangers, ordenando que eles encontrem os mais valorosos quando a hora chegar.
Corta para o presente.
O jovem Jason Scott (Dacre Montgomery) quarterback do time de futebol da escola que é um delinquente juvenil nas horas de folga, fazendo coisas como amarrar um boi ao vestiário do time de futebol, os Bulls, sendo descoberto pela polícia, se acidentando, e no processo perdendo sua vaga no time, e as potenciais bolsas de estudo universitário que elas ofereceriam, além de se machucar e ser condenado à prisão domiciliar e detenção escolar no processo.
É na detenção que Jason conhece Billy Cranston (RJ Cyler), um jovem com uma forma leve de autismo que sofre bullying de um colega mala e vê em Jason um novo amigo em potencial. Ainda na detenção está a popular Kimberly Hart (Naomi Scott), (uma líder de torcida ou membro da equipe de saltos, francamente, eu não lembro) que está lá por ter divulgado fotos íntimas de uma colega.
Quando Bily promete hackear a tornozeleira eletrônica de Jason em troca de companhia na exploração da pedreira adjacente à mina de ouro local, Jason aceita, e acaba esbarrando com Kimberly, que gosta de nadar num rio próximo à noite.
Ainda no local, estão o garoto-problema Zack Taylor (Ludi Lin), que gosta de matar aula e acampar em trens abandonados e a garota problemática Trini (Becky G), que apenas curte o isolamento.
Quando Billy causa uma explosão num paredão rochoso, revelando cinco moedas ancestrais enterradas por Zordon há 65 milhões de anos, os cinco adolescentes logo percebem que há algo errado quando, após um desastroso acidente de carro, acordam no dia seguinte sem nenhum ferimento, com força sobre-humana, e agilidades ímpar.
Decididos a descobrir a causa da mutação, eles retornam à mina e descobrem uma nave estelar enterrada há milhões de anos. Lá eles conhecem o robô Alpha 5 (dublado por Bill Hader) e Zordon, cuja consciência foi assimilada pelo sistema da espaço-nave mantendo-o parcialmente vivo, mas confinado à máquina.
O antigo Ranger vermelho explica aos jovens que eles foram escolhidos para se tornarem os novos Power Rangers, e enfrentar a ameaça de Rita Repulsa, que
planeja utilizar uma antiga abominação chamada Goldar para alcançar um cristal de poder que gera a vida na Terra. Goldar se alimentará dos cristal, e Rita herdará o universo para reinar como desejar.
A única coisa capaz de impedir a vilã de conquistar tudo é que os Ranger aprendam a dominar os poderes que os amuletos lhes trouxeram e detenham Rita.
Mas estarão esses cinco jovens problemáticos à altura do desafio?
Serão eles capazes de proteger a Terra quando eles não conseguem nem mesmo resolver os próprios dramas adolescentes?
Seria muito fácil eu simplesmente começar a pichar Power Rangers sem dó nem piedade dizendo o tamanho da bomba que o filme é, mas a verdade é que Power Rangers não é um filme ruim.
Ao menos, não de todo.
Talvez o maior problema do longa seja a irregularidade, o que não chega a ser surpreendente haja vista que o roteiro do longa conta com cinco créditos (John Gatins, Matt Sazama, Burk Sharpless, Michelle e Kieran Mulroney) fora o dos dois criadores do conceito (Haim Saban e Shuki Levy). O resultado final é que Power Rangers soa como dois ou três filmes costurados em um único longa, e o que deveria ser o produto principal, o longa de super-herói, é o menos interessante.
O segmento com os renegados se encontrando, com a maior cara de Clube dos Cinco, é provavelmente o mais bacana. Os atores são carismáticos, em especial RJ Cyler, que consegue ser o elemento que mantém o grupo unido e o alívio cômico sem perder a dignidade, mas o personagem de Ludi Lin, que tem uma mãe doente com quem conversa em mandarim também tem seu potencial, enquanto a Trini de Becky G se destaca por, à certa altura do longa, revelar que é lésbica, o que seria motivo para parabenizar Power Rangers por ter a primeira heroína assumidamente homossexual do cinema, se a revelação não viesse em um átimo no meio de uma conversa repleta de revelações.
Quando esses párias sociais começam a explorar seus poderes, Power Rangers flerta com o ótimo Poder Sem Limites, e é pena que seja tão breve porque a história precisa avançar para os bonecos de massa, e os Zords e as armaduras, e o fan-service e o merchandising... Porque quando tudo isso acontece, Power Rangers se dilui e chega perto de ser aquela bomba que eu poderia pichar sem dó nem piedade.
Chega perto, mas não se torna.
Talvez porque o longa de Dan Israelite tenha duas qualidades que normalmente me fazem simpatizar com um filme:
Primeiro, ele não se leva demasiado a sério. Durante suas duas horas e pouco de duração o longa está sempre ciente do seu absurdo, do ridículo inerente ao esquadrão super sentai tentando pegar carona na onda dos filmes de super-heróis em geral, de super-grupos em particular. E com isso ele mantém algum frescor, uma ponta de dignidade irônica para manter a cabeça fora d'água. Segundo, o filme é honesto.
Power Rangers de fato acredita na mensagem que alardeia, de que a união faz a força. E quando o longa acredita tão vigorosamente na ideia em seu cerne, fica difícil fazer troça dele. Porque a despeito de todos os seus exageros, ele jamais se torna um exercício vazio de estilo.
Não quero dizer com isso que Power Rangers é um bom filme. Ele não é.
Ao menos, não pra mim. Ou pra maioria das pessoas com faixa etária superior aos doze anos.
Mas ele é franco. É honesto. Tem caminhadas em câmera lenta de heróis em armaduras coloridas, robôs dinossauro que se acoplam para formar um enorme guerreiro mecânico, um Walter White holográfico na parede de uma espaçonave que manda uma molecada matar a Rita sem o menor pudor, e uma sequência de ação final cheia de exageros ao redor de uma loja de rosquinhas do que, eu suponho, seja uma grande rede de lojas de rosquinhas americana, a Krispi Kreme... Mas jamais é pedante, jamais é sorumbático ou falsamente cool.
Não é pra todas as audiências, mas se tu tem doze anos ou menos, ou filhos com essa idade, talvez Power Rangers possa ser um bom programa em família.
Mal, eu tenho certeza que não vai fazer.

"-É hora de morfar."