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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O Trailer de Vingadores: Guerra Infinita

E houve um dia, um dia como nenhum outro dia, quando a Marvel divulgou o trailer de Vingadores: Guerra Infinita:



Estrelado por todo mundo que ainda está vivo no Universo Cinemático Marvel e dirigido pelos irmãos Russo de Capitão América 2 e 3, Vingadores: Guerra Infinita estréia em 26 de Abril de 2018.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 13: Memento Mori


O final de temporada de O Justiceiro chegou com o confronto que todos estavam esperando. Após cuidar de Rawlins, era hora de Frank Castle acertar as contas com o amigo que o traiu, Billy Russo, e fechar a conta de sua vingança de maneira definitiva, mas antes, Frank precisava de cuidados médicos.
A surra que Rawlins aplicou em Castle no capítulo anterior não foi pouca coisa, e sem a ajuda de Micro, de Madani, e do pai dela, o cirurgião Hamid Madani (Houshang Touzie) Castle talvez não tenha gás para dar o próximo passo. Enquanto Castle luta por sua vida, Billy Russo se prepara para fugir de Nova York após o fim de sua operação com a CIA. Ele, porém, não quer deixar pontas soltas, não conhecendo Frank, e ele parte em busca de uma apólice de seguro para o confronto derradeiro que se desenha em seu horizonte.
O desfecho do primeiro ano de O Justiceiro chegou com rotação menos acelerada do que o episódio anterior, mas ainda comparável aos melhores momentos da temporada. Memento Mori é um ótimo capítulo, com as reverberações dos acontecimentos da série se sobressaindo frente à ação.
Claro, há boas cenas de ação no episódio, óbvio, mas elas empalidecem na comparação com ao menos dois grandes momentos do season finale, o primeiro deles, sem dúvida, o flashback mostrando a família Castle indo ao parque junto com o "tio Bill".
A cena que antecede o último encontro entre Frank e Billy é perfeita para ilustrar o tamanho da animosidade entre os dois, do rancor de Frank sente por ter sido traído por alguém que era parte de sua família, e do longo percurso que Russo trilhou para se tornar o homem que aguarda Frank no carrossel para um duelo.
Billy não se tornou um vilão do dia pra noite, mas foi lentamente deixando que suas ambições e traumas o transformassem em um sujeito amoral e egoísta, incapaz de ver além do próprio umbigo. As interações entre Bernthal e Barnes estão entre as melhores coisas dessa primeira temporada de Justiceiro, com sorte veremos mais disso na segunda temporada.
O outro momento é a forma como Frank escolhe lidar com a situação após seu desfecho.
Se Frank tivesse simplesmente recomeçado sua vida, a série estaria sendo desonesta com seu desenrolar. Frank não demonstra culpa, mas há tristeza e pesar genuínos nele quando ele pesa a sua vingança.
Se o Justiceiro dos quadrinhos é uma máquina de guerra irresistível em sua luta para levar terror e morte aos criminosos, o Justiceiro trazido à vida na série é uma pessoa de carne e osso com sentimentos e remorso verdadeiros, que fez o que julgou necessário e terá que conviver com essa decisão nos dias vindouros, esse retrato se despede de nós de maneira vívida graças à interpretação de Jon Berthal, que mantém a excelência de seu trabalho em cada cena.
Da mesma forma, Ebon Moss-Bachrach mostrou uma química insuspeita com Bernthal, e em diversas ocasiões a amizade entre Frank e David foi o coração de O Justiceiro. Micro apareceu pouco nesse capítulo final já que seu arco na série estava concluído após ele recuperar sua família e sua vida, mas eu francamente espero que voltemos a vê-lo.
Se a série sobre Frank Castle ficou devendo em algum ponto, foi no núcleo da Segurança Nacional de Dinah Madani, que começou e terminou a série sem dizer a que veio, soando sempre como intrusos de uma outro programa aparecendo de penetra.
A primeira temporada de O Justiceiro estabelece a série como o o segundo melhor produto Marvel/Netflix quase em pé de igualdade com Demolidor. A mera coragem de tocar em assuntos delicados como transtorno de estresse pós-traumático, controle de armas e em humanizar um assassino em massa com uma caveira pintada no peito sem cair no ridículo merece aplausos mesmo que nem tudo funciona à perfeição.
Grande trabalho de elenco e equipe de produção equilibrando drama e ação com tremenda qualidade, e O Justiceiro finca o pé como uma das melhores adaptações de quadrinhos no mercado atua em qualquer mídia.
Bem vindo, Frank. Espero vê-lo de novo no ano que vem.

"-Sabe, enquanto eu estava na guerra, eu nunca pensei no que aconteceria depois. No que faria quando acabasse. Mas acho que é isso, sabe? Acho que pode ser a parte mais difícil. O silêncio. O silêncio quando o tiroteio acaba. É como... Como viver desse jeito? Acho... Acho que é o que vocês todos estão tentando descobrir. É o que vocês estão fazendo. Estão trabalhando nisso. Eu respeito isso. Eu só... Se vai olhar pra si mesmo. Olhar bem no espelho, tem que admitir quem é... Mas não só pra si mesmo... Tem de admitir a todos. Pela primeira vez que me lembro não tenho uma guerra pra lutar. E acho que, sendo sincero, eu só... Estou com medo."

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 12: Home


Atenção! Há spoilers do episódio abaixo!
O episódio 11 de O Justiceiro, Danger Close, se equiparara aos melhores momentos da série solo do vigilante mais sanguinário dos quadrinhos. Home, porém, deu um passo além, e foi, sem sombra de dúvida, o melhor capítulo da jornada solo de Frank Castle.
Frank e David vão até Madani e oferecem seus testemunhos para a Segurança Nacional antes de colocar em prática um plano suicida para recuperar Sarah e Zach das mãos de Billy Russo e Rawlins em um arriscado movimento que coloca o Justiceiro nas mãos de seus inimigos e em uma batalha definitiva de vida ou morte.
Se Home fosse o último episódio de O Justiceiro, teria sido o proverbial fecho de ouro para uma série que sempre foi muito acima da média das adaptações de quadrinhos televisivas.
Numa das melhores decisões narrativas do programa, o episódio colocou a audiência dentro da cabeça de Frank Castle enquanto ele decidia se era hora de se juntar à sua esposa e filhos na morte, ou se tentaria se manter respirando para lutar por mais um dia.
As cenas onde Frank e Maria (Kelli Barrett) dançam em um cenário onírico quando o espancamento de Rawlins se torna mais feroz e sangrento são sensacionais para nos aprofundar na psique do Justiceiro, e nos mostrar que, por mais que valorize a sua família, Frank é, acima de tudo, um soldado com uma missão, e não há descanso enquanto a missão não for cumprida. O que significa más notícias para Rawlins e para Billy.
Rawlins, aliás, seguiu com seu papel de vilão genérico nesse episódio. Sim, ele torturou Frank com vontade durante quase o capítulo inteiro, mas isso não o tornou um personagem mais interessante em nenhuma medida já que conhecemos o agente da CIA em uma sessão de tortura.
Entre os vilões da trama, Billy segue sendo o mais interessante, e sua interação com Frank durante um intervalo no espancamento de Rawlins, onde ele assume seu papel na morte da família Castle, parece ser muito mais dolorido para Frank do que qualquer um dos socos do Agente Laranja.
Os escritores da série fizeram um trabalho sensacional ao tornar Billy Russo um vilão humano e cheio de camadas, a quem a audiência pode entender, mesmo se não possa gostar ou aprovar. O desenvolvimento do personagem foi louvável ao longo de toda a temporada, e o trabalho de Ben Barnes com o material é ótimo, tornando a jornada de Billy absolutamente plausível e crível, um dos pilares da série.
Outro pilar da série é Ebon Moss-Bachrach. O personagem que surgiu como um maluco algo arrogante escondido em um porão qualquer passou por uma transformação sutil ao longo dos últimos onze capítulos. Sua aliança com Frank se tornou uma verdadeira amizade, e mudou sia visão de mundo. O David Lieberman que luta para salvar seu amigo não é o mesmo que perseguiu Frank Castle com sistemas de vigilância intrincados no início da temporada. Ele é um sujeito que foi impregnado com o senso de justiça bíblico preto no branco de Frank, e está disposto a lutar por isso.
A cena onde ele implora pela vida de seu amigo é ótima, mas quando ele desafia Madani a respeito de como se faz para levar justiça a homens como Russo e Rawlins é que nós somos capazes de vislumbrar a evolução desse personagem.
Jon Bernthal segue sendo um capítulo à parte. Seu trabalho à frente de O Justiceiro é digno de premiação. Muito das razões para que vejamos Frank como uma pessoa dolorosamente atormentada e não como uma máquina de matar movida a desejo de vingança passa pelo trabalho do ator que empresta uma humanidade quase dolorosa ao anti-herói. As lágrimas que ele derrama ao descobrir que Billy sabia que sua família seria assassinada são de partir o coração, e conseguir emprestar esse tipo de emoção a um personagem que passou a maior parte da temporada empapado do sangue de seus inimigos é testemunho do talento de Bernthal.
Quem não tem tanta sorte é Amber Rose-Revah. Dinah Madani segue sendo uma personagem que parece tão perdida na trama quanto o Rawlins de Paul Schulze. Enquanto os três personagens centrais da trama têm objetivos definidos e que são integrais à trama, Madani está ali orbitando a jornada desses três sem, de fato, ser mais do que um acessório da história, servindo apenas para ocupar o meio-campo entre esses três homens e a lei. Veremos o que o futuro reserva para ela no capítulo derradeiro da temporada. Enquanto isso, Home se garante como o melhor capítulo de O Justiceiro até aqui, e provavelmente um dos três melhores episódios de qualquer série da Marvel/Netflix.
A luta de Frank para escolher entre vida e morte garantiu uma hora de entretenimento com coração e alma graças aos trabalhos inspirados de Bachrach, Barnes e especialmente Bernthal.


"-Esse homem está morrendo pela sua justiça, que tal fazer alguma pra ele?"

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 11: Danger Close


O Justiceiro vinha de dois ou três episódios um pouco irregulares na comparação com seus melhores momentos. Seguia acima da média, mas picos de qualidade como Kandahar, Gunner e The Judas Goat ainda não haviam sido alcançados novamente.
Até Danger Close.
Após descobrir a traição de Russo, salvar Karen e impedir que Lewis Wilson sucedesse em suas aspirações terroristas, Frank, todo estropiado, retorna ao esconderijo, onde remói as traições de seu passado recente, o linchamento que a opinião pública faz contra ele, e toma a decisão de assumir a fama de bicho-papão que todos lhe atribuem de uma vez por todas.
Os planos de Frank de levar o inferno a seus inimigos, rompendo sua aliança com Micro, porém, são impedidos por Rowlins.
O agente corrupto consegue autorização de Marion James para utilizar o sistema de vigilância da CIA em Nova York na busca por Frank, isso o leva direto até a família Lieberman após Zach (moleque pentelho do caralho), ficar furioso com a revelação de que Pete Castiglione é, na verdade, Frank Castle, e fazer uma denúncia anônima.
Isso coloca o moleque e Sarah na mira de Billy Russo, e Frank e David na mira dos mercenários da Anvil que são enviados ao esconderijo de Micro, onde Frank, novamente envergando a caveira branca sobre o colete negro, os aguarda para levar sua vingança até o próximo nível.
Danger Close voltou ao que funciona em O Justiceiro sem dó nem piedade e entregou exatamente o que os fãs do Justiceiro poderiam desejar.
O banho de sangue resultante da invasão dos mercenários de Billy à casa segura de Micro é um espetáculo de ação digno de John Wick, o interessante, porém, é que apesar de mostrar a faceta assassina fria e eficaz de Castle, não esqueceu de humanizá-lo.
Após o massacre, Frank está sentado em meio aos cadáveres, olhar vazio, exausto, quase amortecido, como se não tivesse mais nada para oferecer.
A coragem de O Justiceiro de humanizar e dar consciência a um personagem que é, em essência, um assassino em série, é louvável. E mesmo quando as coisas não funcionam como deveriam, O Justiceiro continua sendo uma série acima da média.
O ponto aqui é saber o quanto se pode humanizar Frank sem matá-lo. O Justiceiro não é um super-herói. Nao tem super-força, super-sentidos ou pele impenetrável. Ele é um soldado altamente especializado, mas não creio que haja dúvidas de que ele só pode ir até certo ponto antes de sofrer uma lesão fatal ou incapacitante, e mesmo Micro, ao ver Frank chegar ao esconderijo sangrando feito um porco, lhe avisa que a cruzada deles precisa terminar em algum momento.
Resta saber se a jornada de Frank realmente termina com a vingança pela morte de sua família, ou se, como acontece nos quadrinhos, ele resolve assumir para si a responsabilidade de levar morte e destruição a todos os criminosos.
De qualquer forma não foi apenas a ação que funcionou em Danger Close.
O reencontro de David com Leo (Ripley Sobo) foi tocante, e a hesitação do hacker ante a perspectiva de rever sua filha foi um show à parte de Ebon Moss-Bachrach. Ver que Madani finalmente pode se juntar a Frank e Micro, também foi um alento, embora isso esteja se arrastando há mais tempo do que deveria. Entre as coisas que não funcionam, conforme vai se desenhando que Billy não deverá se tornar Retalho (ao menos não tão já), Rowlins se torna o grande antagonista da temporada.
Se for o caso, ele provavelmente é o pior vilão de uma série da Netflix desde o Cascavel de Luke Cage.
Todos conhecem o sujeito corrupto de move céus e terras e trai até a mãe para manter suas mãos "limpas", mas francamente, ver Rowlins discursando e tramando ao longo dos capítulos dificilmente o torna um antagonista digno de nota e, pra ser bem honesto, eu não vou ficar particularmente mais satisfeito de ver Frank explodir a cabeça dele com um balaço no final da temporada do que ficaria com qualquer outro capanga malvado.
De qualquer forma, Danger Close foi mais um ponto alto da série que se consolida como um dos melhores produtos da Marvel na Netflix, e que entra em sua reta final em alta octanagem.

"-É, bem sutil. Nunca vão vê-lo se aproximando.
-Quero que me vejam."

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 10: Virtue of the Vicious


Virtue of the Vicious, décimo capítulo de O Justiceiro, usou um artifício interessante ao mostrar os mesmos eventos através de diversas perspectivas conforme saltava pra frente e pra trás no tempo.
Por um lado, eu sou um grande fã desse tipo de artifício narrativo, mas por outro, as idas e vindas no tempo acabaram tirando um pouco do foco de capítulo, que deveria ser o desfecho do arco de Lewis Wilson, que foi de jovem traumatizado após o serviço militar a terrorista assassino nos últimos capítulos.
O episódio está centrado nas tentativas do sargento Mahoney (Royce Johnson) de remontar o quebra-cabeças de destruição e morte após uma tentativa de assassinato contra o senador Stan Ori por parte de Lewis e, ao que tudo indica, Frank Castle.
Ao longo de 49 minutos nós acompanhamos as versões de Billy Russo, do senador Ori, de Dinah Madani e de Karen Page sobre o que aconteceu naquele hotel durante o atentado, recebendo mais fragmentos de informação a cada novo depoimento.
O resultado é irregular. Se por um lado faz maravilhas pela ação, com algumas das melhores sequências da série, por outro, a narrativa novamente tem sua dinâmica prejudicada pelo vai e vem da história, e, outra vez, o debate vazio sobre controle de armas (inclusive com o senador escamoso que defende as restrições revelando-se ainda mais covarde do que inicialmente mostrado) interrompe o andamento da trama com nenhum efeito.
Da mesma forma, a linha narrativa paralela de Lewis se encerra de uma maneira algo abrupta. Havíamos passado tanto tempo com esse personagem, vendo suas dificuldades para se reintegrar à vida civil, havíamos conhecido seu pai e visto sua relação com Curtis se deteriorar até o ponto sem volta de Front Toward Enemy, que eu francamente achei que ele teria uma função maior na trama.
Confesso que quando o vi enchendo uma lata de pregos dentro de uma panela de pressão, supus que ele seria responsável pela transformação de Billy Russo em Retalho, algo que não aconteceu.
De qualquer forma, Lewsis não apenas não teve papel fundamental em nenhum grande evento do plot dessa primeira temporada (ao menos até esse décimo capítulo, que parece a despedida do personagem da série), mas também não vimos como a sua transformação em terrorista afetou seu pai, se Curtis ainda seria capaz de sentir compaixão por ele e tentar salvá-lo, e nem nada do tipo. Com alguma sorte esses núcleos podem ser revisitados de maneira a oferecer um pouco mais de encerramento a esse personagem que acabou se destacando tanto por seu tempo em cena, quanto pelo ótimo trabalho de Daniel Webber.
A Karen Page de Deborah Ann Woll que havia parecido deslocada na trama desde sua segunda aparição, quase como que forçando a relação de O Justiceiro com o resto do universo Marvel da Netflix, finalmente voltou a ter função.
A cena onde ela e Frank se despedem no elevador é excelente, e reforça a importância da personagem para o protagonista. À essa altura, Karen é uma das únicas pessoas a quem Castle pode se referir como uma amiga. Explorar o lado mais humano de Frank vem sendo uma das melhores sacadas com o personagem desde seu arco em Demolidor, então foi bem ver isso aflorar naquela sequência. O olhar de Frank, todo esgualepado, quando Karen o abraça, é tocante, lhe oferece a humanidade que o restante do episódio, muito mais focado na forma como cada pessoa que oferece seu testemunho o vê, lhe sonegou.
Falando nas visões que os personagens têm uns dos outros, Madani pode ter tido uma revelação para fazê-la repensar suas alianças. Talvez agora, com o luto por Stein devidamente cumprido e novas informações em seu poder, ela possa deixar de ser o ponto mais fraco da série e assumir um lugar de destaque mais proativo na trama. Um vislumbre disso já foi dado na cena da escada, uma ótima sequência que poderia ter sido muito mais tensa sem a narrativa fragmentada.
Apesar de algumas más decisões narrativas, o capítulo foi sólido, e ter um episódio como esse sendo um dos piores da série é testemunho da força de O Justiceiro.
Faltando três episódios para o final, algumas das histórias paralelas se encerram dando espaço para que a trama principal receba a merecida atenção.

"Lembre-se que é ruína fugir de uma luta, então aguarde ordem aberta, deite-se e espere apoio como um soldado. Espere, espere, espere como um soldado."

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 9: Front Toward Enemy


Ao longo dos últimos oito episódios, o Justiceiro vinha conseguindo se equilibrar muito bem entre todas as suas linhas narrativas paralelas (exceto Madani e Stein, que ele descanse em paz, mas, pobre Michael Nathanson, pouco havia para ele fazer ali exceto ser um alívio cômico desnecessário), e eu estava ansioso para ver o momento em que todas elas se cruzariam.
Provavelmente a que mais me chamava a atenção era a de Lewis Wilson, personagem de David Webber que, à certa altura da temporada, parecia merecer seu próprio seriado mostrando ele, seu pai, Curtis e O'Connor lidando com os traumas do pós-guerra.
Bem, após um breve interlúdio no capítulo anterior, Lewis voltou, e trouxe o inferno consigo.
Enquanto Frank e David aguardam que Madani lide com seu luto após a morte do parceiro para tentar fazê-la se aliar a eles em sua luta contra Rowlins, nós descobrimos o que Lewis pretendia fazer com suas bombas caseiras. O ex-soldado se torna um filhote de Unabomber, explodindo prédios onde, supõe, haja pessoas agindo contra os interesses dos cidadãos americanos.
O jovem se vê como um vingador, e escolhe Karen Page como porta-voz de suas aspirações patrióticas por conta da ligação da repórter com Frank Castle no passado, e, ao ver-se rejeitado e afrontado por sua possível aliada, ele a torna um alvo.
Desnecessário dizer que Frank não gosta nem um pouco disso.
Ao mesmo tempo em que Frank adia a abordagem à Madani em nome de proteger Karen, Curtis não precisa de muito para descobrir que Lewis está implicado nos ataques terroristas, e logo vai ao encalço do rapaz, com graves consequências.
Provavelmente o episódio mais irregular de O Justiceiro até aqui, Front Toward Enemy se seguraria perfeitamente bem como um ótimo episódio não fosse a vontade desenfreada de enfiar Karen Page na série e o debate vazio a respeito de controle de armas.
Ao acrescentar uma discussão tremendamente séria no programa, e tratá-la de forma algo leviava, Front Toward Enemy só não foi um episódio ruim porque em seus trinta minutos finais o episódio se centrou nas interações entre Frank, Curtis e Lewis, três personagens que compartilham elementos de seu background, e que respondem de maneiras incrivelmente distintas às suas experiências prévias.
Ao oferecer essa visão interna de cada um desses homens, O Justiceiro os torna mais críveis e vivos, e faz pela discussão a respeito do transtorno de estresse pós-traumático o que não é capaz de fazer pela discussão sobre o controle de armas.
Talvez seja a por conta da minha opinião pessoal, uma vez que eu sou favorável a controle de armas mais restritivo em qualquer lugar do mundo, e gostaria de não ver armas nas mãos de qualquer um, mas eu achei que a série tomou partido de uma maneira um tanto quanto descarada. Novamente, pode ser apenas a minha opinião, mas quando personagens simpáticos à audiência como Karen e Frank defendem o direito de todo mundo andar armado e um político escamoso é a voz que se opõe à essa ideia, me parece que os produtores e roteiristas escolheram seu lado de maneira inapelável, algo que, em um país como os EUA, onde os tiroteios em massa se tornam tão habituais por conta do fácil acesso ao armamento, me parece algo irresponsável, e que pouco acrescenta à trama, apenas rouba tempo de tela dos personagens que realmente fazem a série andar.
Vemos muito pouco de Frank, Micro e Billy, e há até um segmento onde Karen e o escamoso senador Stan Ori (Rick Holmes) participam de um debate em um programa de rádio (a coisa toda talvez fosse menos chata se o programa em questão fosse o Trish Talk), de qualquer forma, por mais interessante que seja ver uma série de TV abordar problemas do mundo real, faltou um balaio de sutileza na hora de abordar o controle de armas, e a imposição de Karen a um programa tão recheado de bons personagens que realmente têm o que fazer em cena acabou sendo um desserviço à dinâmica do programa até aqui.
De qualquer forma, o capítulo se redime de seus deslizes ao dar tempo de cena a Jon Bernthal junto com Jason R. Moore, os dois atores mandam muito bem durante a sequência na casa de O'Connor, e são acompanhados por Daniel Webber, que segue fazendo um belo trabalho como o atormentado Lewis Wilson.
O final do capítulo vem com a revelação para o mundo de que o Justiceiro ainda está vivo, o que sem sombra de dúvida dificultará as vidas de Frank e David, e colocará novos obstáculos nos planos de ambos.
Front Towards Enemy funciona ao centrar fogo em seus protagonistas. Bernthal, Moore, Bachrach, Barnes, Webber... Eles fazem o programa andar, e todo o resto é ruído, com sorte, agora, Rose-Revah se junta a eles nos episódios vindouros.

"Sic semper tyrannis"

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 8: Cold Steel


No episódio anterior de O Justiceiro, Paul Schulze escapou de um destino que vinha sendo padrão nas séries Marvel/Netflix: Ser o vilão que morre no capítulo sete.
William Rowlins se safou de levar uma bala na testa graças aos vidros balísticos da mansão onde se esconde.
Após a tentativa fracassada de assassinar o Agente Laranja, Frank e Micro conseguem ligar um nome ao corrupto agente da CIA, agora eles precisam descobrir o que fazer com isso. De um lado, Frank quer se manter no plano de matar Rowlins, por outro, David começa a imaginar se não seria melhor se eles entregassem tudo o que sabem, incluindo o testemunho de Castle.
Madani e Stein, por sua vez, planejam usar a escuta no escritório da agente em seu favor. O plano é usar o nome de Castle para lançar desinteligência em quem quer que esteja ouvindo, desentocar os conspiradores e capturá-los, um plano que não sai nem um pouco como a dupla de agentes esperava por conta do envolvimento de Billy Russo.
O personagem de Ben Barnes começa esse episódio nos dando vislumbres de seu passado. O desenvolvimento de Russo não precisou de flashbacks para nos mostrar como ele se tornou quem é. Bastaram as interações de Billy com sua mãe, no hospital, e com Dinah, no quarto que o casal compartilha, para que a audiência entendesse que não houve um momento onde ele se voltou para o lado sombrio, mas que cada desgraça de sua vida moldou sua personalidade até aquele ponto, onde ser um homem bem-sucedido era tudo o que importava pra ele.
Um ponto interessante é que Billy continua se considerando o herói de sua própria história. Ele ainda se vê como amigo de Frank, ele se preocupa com Madani, e ele é um patriota que acredita ter nascido no maior país do mundo.
Após ter crescido em orfanatos e ter sofrido diversos abusos na infância, as noções de certo e errado de Billy se tornaram cinzentas, e ele faz o que for necessário para chegar onde imagina ser seu lugar. Palmas para Barnes, que consegue interpretar esse personagem de maneira a torná-lo o grande vilão da série, mas o faz de modo a não torná-lo um monstro, e com isso se junta a Jon Berthal e Ebon Moss-Bachrach como molas propulsoras da série.
A amizade dos personagens de Berthal e Bachrach, por sinal, poderia ter sido abalada conforme Sarah começa a ver Frank como um interesse romântico, por sorte os escritores do seriado, apesar de estarem acenando com um triângulo amoroso já há alguns episódios, têm conseguido evitar que as coisas descambem nesse sentido, ainda assim é fácil entender o lado de Sarah.
De repente um bom sujeito aparece, fazendo consertos, trazendo flores para uma mulher sozinha com dois filhos para criar... Falando em filhos, o jovem Zach Lieberman (Kobi Frumer) finalmente vai além de ser um aborrescente escroto, e mostra uma faceta de humanidade, o que dá a Frank a oportunidade de estender sua paternidade temporária por mais algum tempo brincando com o guri.
Todo esse segmento pode incomodar alguns espectadores mais afoitos, mas são essenciais para aprofundar os personagens e torná-los mais do que recortes em cena.
Se a série havia feito um ótimo trabalho mostrando sem pressa a psicologia de um veterano de guerra, com personagens como Lewis, Curtis, Billy e o próprio Frank, ao tentar mostrar a psicologia de um adolescente que perdeu o pai os escritores o fazem de maneira um pouco mais apressada mas ainda assim, interessante, em grande parte graças ao momento compartilhado por Zach e Frank, e o efeito que isso causa em David é outro ponto alto das atuações do episódio.
Em termos de ação, dessa vez as coisas ficaram nas mãos de Madani e Stein, mas o resultado não foi dos melhores para a dupla.
Talvez o resultado trágico da operação engendrada pela agente especial possa servir para fazer um pouco de sangue pulsar nas veias dela e finalmente colocá-la em maior sintonia com o Justiceiro e Micro.
Com oito episódios O Justiceiro mostra que segue com lenha pra queimar. Mesmo os segmentos menos interessantes da série, nominalmente Rowlins, Madani e Stein não chegam a incomodar graças à dinâmica do roteiro.
A transformação de Billy, de amigo e aliado a principal antagonista foi bem trabalhada, e não soou forçada, e o desenvolvimento dele se tornou tão interessante de assistir quanto a relação entre Frank e David, o que é uma tremenda sacada, já que foi um dos fatores que tornaram Demolidor uma série tão memorável.

"-Não há ninguém nesse mundo que eu me preocupe em antagonizar... Está claro?"

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 7: Crosshairs


O Justiceiro quebrou a barreira da metade da temporada com um episódio que, mesmo estando aquém dos melhores momentos da série, manteve um bom nível, mostrando que a história solo de Frank Castle tem muita bala na agulha.
Ao longo de um capítulo que se diluiu entre múltiplas linhas narrativas acompanhamos o que parece ser o passo definitivo de Lewis em um caminho sem volta quando ele, após ter assassinado O'Connor, volta pra casa e, após uma tocante conversa com seu pai, parece manter-se inexorável em seu caminho rumo às profundezas.
Lewis, mais do que Frank, é a epítome do soldado com transtorno de estresse pós-traumático que volta da guerra e não consegue mais se encaixar. É admirável que uma série baseada em giis que coexiste com Luke Cage, Punho de Ferro e Demolidor tenha a coragem de abraçar um assunto tão delicado da forma como O Justiceiro está fazendo, e o faça de maneira tão acertada.
Por mais que, inicialmente, possa parecer que a trajetória de Lewis é completamente desligada da de Frank, um problema que praticamente destrói o segmento de Dinah Madani e Sam Stein, o fato de Lewis ser, de certa forma, um reflexo de Frank, nos impele a querer saber mais dele. Do que acontecerá a ele em seu futuro. E qual será seu papel, de fato, em O Justiceiro.
O fato de ele ter terminado sua participação nesse capítulo preparando uma bomba caseira em uma panela-de-pressão me deu uma ideia muito vívida de qual será o envolvimento dele no futuro de alguém, mas enfim, eu posso estar errado... De qualquer forma, o fato de Lewis não ser mostrado como um personagem glorificado ou demonizado é digno de nota, e de aplausos, por parte de público e crítica.
Enfim, enquanto Lewis segue sua decida, Frank e Micro dão seu próximo passo na missão de expôr o Agente Laranja com um plano audacioso, Frank irá se infiltrar em uma base militar e interrogar o coronel Morty Bennett (Andrew Polk), outro rosto do passado de Castle na Operação Cérberus, o problema é quem mais pode estar sabendo dos planos da dupla, que segue na mira de Rawlins e de Billy Russo.
Rawlins é um vilão OK, mas francamente, eu tinha pra mim que ele seria o proverbial vilão a morrer no sétimo episódio de uma série Netflix. Nada contra Paul Schulze, o intérprete do Agente Laranja, mas há muito pouco que ele possa fazer interpretando um personagem que é um agente corrupto da CIA, e era isso.
Por outro lado, Billy Russo ganha estofo no carisma de Ben Barnes, entretanto é outro personagem carecendo de um pouco mais de profundidade. Nós sabemos que ele é um sujeito ambicioso, que gosta de carrões, casas de campo e contratos com o governo, OK, mas será que é apenas isso? Dinheiro foi a única razão para que ele traísse Frank e se corrompesse?
É possível, mas eu gostaria que houvesse um pouco mais aí, especialmente porque, quando Billy fala a respeito de Castle, ele demonstra genuína admiração por seu irmão de armas. Seria uma pena se ele fosse apenas outro bandido unicamente atrás de grana.
Enquanto isso, o escritório da Segurança Nacional segue sendo o ponto mais fraco do programa. Mesmo com Madani e Stein percebendo um padrão nos acontecimentos recentes e partindo para caçar um grampo no escritório de Dinah, o segmento dos dois ainda é deslocado do resto da série. Talvez a conversa entre a dupla, onde Sam diz que Madani é como Frank Castle possa ser um indicativo de que, em algum momento, esses dois personagens ganharão alguma relevância na trama, talvez, até, formando uma parceria com Frank e Micro. Nesse meio tempo, porém, eles seguem sendo a parte mais dispensável de um programa com ótimos personagens.

"-Foreman não pôde fazer do jeito que queria... E perdeu. O outro cara mudou seu jogo. Achou um jeito de vencer."







Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 6: The Judas Goat



O episódio anterior de O Justiceiro não havia terminado bem para Frank. Apesar de ele e seu ex-companheiro Gunner terem conseguido massacrar os soldados enviados pelo "Agente Laranja" William Rowlins, o preço foi alto. Gunner morreu na floresta, e Frank, baleado e flechado, está em péssimo estado, muito além das habilidades médicas de Micro, o que obriga o ex-analista a ir até Curtis Hoyle em busca de ajuda para não deixar o Justiceiro morrer.
Enquanto Castle se recupera, Curtis, que já tinha coisas suficientes em seu prato com a situação mental de Lewis, que após se sentir traído por O'Connor (Delaney Williams) dá mais um passo em sua descida rumo ao inferno.
O ex-médico de campo tenta fazer Micro ponderar as consequências de levar Frank de volta à guerra, mas o ex-analista não tem mais ninguém a quem recorrer.
Ao mesmo tempo, a relação entre Billy Russo e Dinah Madani se aprofunda o suficiente para que a agente especial resolva se abrir, ao menos parcialmente, com o ex-militar. Sabendo que Frank está vivo, Billy passa a procurá-lo tanto através de Curtis, quanto através de códigos de rádio, algo que deixa Micro na ponta dos cascos.
Esse sexto episódio de O Justiceiro seguiu com a boa qualidade da série até o momento, embora tenha mudado sensivelmente o tom.
Há mais drama de personagens do que a urgência dos capítulos anteriores, o que está longe de ser mau negócio, já que as relações entre esses personagens é muito do que faz a série funcionar tão bem.
Novamente a relação entre Frank e David é um dos pontos altos da série.
A amizade entre os dois é muito bem trabalhada, e cresce de forma orgânica e esperta conforme eles experimentam, juntos, situações de vida ou morte, e quando David, de fato, resolve ouvir Curtis, e aconselha Frank a falar com Billy, que poderia oferecer-lhe uma forma de sair do país e retomar sua vida, ele fica no esconderijo sabendo que, tanto está perdendo a sua melhor chance de recuperar sua família, quanto aquele que pode ser seu único amigo.
A sequência onde Frank volta à casa de Sarah e as coisas se aproximam desconfortavelmente de uma conversa romântica é particularmente bem trabalhada, com David acompanhando pelas câmeras o clima entre sua esposa e seu amigo se tornando mais amigável e Frank sabendo que David está observando tudo pelo seu sistema de vigilância. Eu realmente não gostaria que as coisas se tornassem um triângulo amoroso manjado entre esses três, mas essa sequência, em particular, foi muito bem sacada.
O que nos leva a constatar, novamente, que todos os núcleos em O Justiceiro são muito bem escritos.
Eu me importo com os Lieberman, tanto com Sarah quanto com a filha Leo e o filho bully que está precisando de uma surra urgentemente, são todos personagens com quem eu me sinto capaz de sentir empatia. A mesma coisa vale para o núcleo de Curtis, com o grupo de apoio, O'Connor, Lewis e companhia, é uma história que eu curto acompanhar, em compensação, o pessoal do Lei & Ordem inserido ali no meio, segue sendo um pé no saco.
Madani, Stein, Hernandez... Todo o segmento estrelado pelo pessoal da Segurança Nacional é de amargar, e com a série prestes a ultrapassar sua metade, eles seguem dando a impressão de estarem em outro seriado, muito menos interessante, e que é enfiado no meio da edição.
De qualquer forma, acompanhar a jornada de Frank Castle segue sendo um prazer, e se o preço a pagar por isso é ter que suportar esses tiras xaropões, paciência.
O episódio se encerra com uma relação que não chega a surpreender quem acompanha os gibis, mas que deixa várias perguntas no ar. Os próximos sete episódios de O Justiceiro prometem.

"-Que tipo de vida é essa? Você passa por toda essa merda, é remendado e mandado de volta pra fazer tudo de novo."

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 5: Gunner


Após inadvertidamente deixar a agente Madani ciente de sua sobrevivência após salvá-la dos destroços de seu carro em Resupply, Frank e David precisam planejar seu próximo passo para expôr a conspiração que custou as famílias de ambos.
Devidamente armados e equipados, o Justiceiro e Micro vão atrás da fonte da gravação que colocou os dois na alça de mira do Agente Laranja (Paul Schulze), o especialista Gunner Henderson (Jeb Kraeger), companheiro de Frank durante a malfadada missão Cérberus, uma viagem que pode ter consequências potencialmente trágicas para todos os envolvidos.
Enquanto Frank faz preparativos para a viagem ajudando Sarah na residência Lieberman, a agente Madani, ainda se recuperando do capotamento nas docas começa a tentar rastrear sua melhor pista para o assassinato de Ahmad, o próprio Justiceiro. Para isso, ela sai no encalço de pessoas relacionadas ao vigilante, começando com Karen Page.
É interessante perceber como algumas coisas seguem funcionando após cinco episódios e outras continuam sem funcionar.
Todo o núcleo de Madani, com sua mãe, Stein e o superintendente Hernandez (Tony Plana) é terrivelmente chato e continua apartado da história principal. Nem mesmo a presença de Karen fazendo o meio-campo entre Frank e a agente especial funcionou, na verdade, pareceu uma tentativa desesperada de mostrar a conexão entre todas as séries, e por mais que O Justiceiro siga operando em uma nota completamente distinta das demais séries do universo televisivo, muito mais urgente, dramático e pesado, nós sabemos que Castle deu as caras pela primeira vez em Demolidor, tem um uniforme com uma caveira branca no peito e tudo mais, então, soou desnecessário.
Mais justificada foi a interação entre Karen e Frank. Há até algum potencial para envolvimento romântico ali, já que a química entre os personagens e intérpretes é flagrante. De qualquer forma, com Frank, Karen parece estar mais confortável para ser ela mesma, algo que nem sempre parece verdadeiro quando ela interage com Foggy Nelson e Matt Murdock em Demolidor, onde ela parece estar sempre se esforçando para esconder alguma coisa.
Falando entre personagens e intérpretes com química, Jon Bernthal e Ebon Moss-Bachrach estão muito perto de superar a química entre Charlie Cox e Elden Henson como o melhor bromance da Marvel/Netflix (O melhor bromance da TV em geral ainda é o de Steve e Dustin em Stranger Things). A dinâmica de Estranho Casal dos dois é muito engraçada, e se equilibra com perfeição entre o drama e a comédia.
Da forma como Micro usa Frank para interagir indiretamente com sua família enquanto Frank tem, nesses momentos, a oportunidade de voltar a agir como uma pessoa normal num tipo de terapia, ao modo como, ao ver David comendo um apetitoso sanduíche enquanto ele precisa se virar com ração empacotada, Frank pergunta se Micro fez um pra ele, a relação dos dois caminha a passos largos para se tornar um dos pontos altos de uma série repleta de boas sacadas, atuações e personagens.
Um personagem que apenas agora deu as caras foi a diretora da CIA Marion James de Mary Elizabeth Mastrantonio (que foi a Lady Marion de Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões com Kevin Coster), uma jogadora misteriosa e aparentemente capacitada nesse tabuleiro mortal.
Pra fechar a conta, a chegada de Frank e David ao Kentucky para tentar conversar com Gunnar não acaba nada bem para o Justiceiro, quando ele e seu ex-companheiro são emboscados por soldados a mando do Agente Laranja William Rawlins, liberando o inferno nas florestas isoladas onde o ex-combatente foi viver.
Uma das melhores sequências de ação da série, a luta da dupla contra os homens de Rawlins pode não ser tão bem coreografada como as belas sequências de pancadaria de Demolidor, mas, caraca, é urgente, tensa e sangrenta, carregada com um vasto cardápio de flechadas, tiros, murros e facadas, e o preço a pagar por esse confronto é alto.
O Justiceiro vai se aproximando da metade de sua primeira temporada se consolidando como a melhor série do universo Marvel Netflix ao lado de Demolidor, uma posição que dificilmente vai perder, a menos que a série tenha um decréscimo de qualidade absolutamente inacreditável do episódio seis em diante.
Apesar de ainda estar em seu início, o programa vai dando mostras de que seus produtores, roteiristas e diretores sabem o tipo de história que desejam contar, e não abrem concessões na hora de contá-la.

"-Quem quer que você seja, eu estou indo atrás de você."


Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 4: Resupply


A série solo d'O Justiceiro manteve a boa forma com Resupply, um episódio que, se não foi tão sensacional quanto Kandahar, esteve bem perto.
O capítulo abriu com Lewis se afundando mais e mais em sua dificuldade de readaptação à vida civil. Ele cava uma trincheira para dormir no quintal da casa dos pais.
Lewis, por sinal, tem um arco que vai deixando cada vez mais claro que ele tem um papel a cumprir nessa série após sua nova carreira ser frustrada por intervenção de Hoyle.
Mas se o arco de Lweis é interessante, ele segue sendo um arco secundário, e, falando em secundários, um dos salafrários de segunda mais recorrentes do universo Marvel/Netflix deu as caras quando o Justiceiro tentou roubar armas de Turk Barett (Rob Morgan), que vem apanhando de vigilantes desde o episódio piloto de Demolidor.
O problema é que o carregamento de Turk estava bem aquém do que Frank e David precisam, e os dois saem atrás de um outro carregamento de armas ilegais que os coloca em rota de colisão com a Segurança Nacional e os agentes Sam Sten e Dinah Madani.
Antes disso, porém, Frank é incumbido por David de ajudar sua esposa, Sarah Lieberman (Jaime Ray Newman).
Isso abre espaço para vermos um pouco mais do lado humano do Justiceiro. Quando ele é apenas um cara normal ajudando a consertar um triturador ou o farol de um carro. Jon Bernthal consegue transitar entre esse sujeito e o matador com uma naturalidade assustadora, e suas interações com os Lieberman são todas calorosas, mas com uma ponta de desconforto.
Eu torcia o nariz para Bernthal antigamente, mas preciso fazer um mea culpa e admitir que estava errado. O sujeito realmente manja, e Frank Castle é um personagem sob medida para ele mostrar o que sabe fazer.
Uma oportunidade de mostrar serviço também é oferecida a Madani e Stein, durante uma operação para frustrar a venda de uma fortuna em armas ilegais de contrabandistas gregos. Quando o Justiceiro e Micro se envolvem, finalmente vemos a agente especial entrar em ação.
Ao longo dos três primeiros capítulos a personagem de Amber Rose Revah vinha sendo um dos pontos mais fracos da série, com um breve vislumbre de personalidade durante uma interação com Billy Russo antes de Frank matar Wolf.
Em Resupply Madani bota a mão na massa, e vai pro confronto direto com Frank em um estiloso racha com mustangs.
Apesar de a sequência ser boa, e ter um desfecho que pode ecoar profundamente no futuro tanto da agente quanto no de Frank, ainda não foi o suficiente para redimir por completo a personagem. Madani continua sendo o ponto baixo da série, e eu continuo com o impulso de, nas partes em que ela e Stein aparecem, ir pegar algo na geladeira.
Por outro lado a relação de Frank com Micro só melhora.
Os dois estão formando uma parceria muito bacana, e me fazendo torcer para que a série não siga o caminho dos quadrinhos, onde, após anos e anos de camaradagem, os dois se tornam inimigos.
Apesar de Madani e Stein terem ganho um momento na ribalta, e o arco de Lewis e Hoyle se ligando a Billy Russo ser interessante, é a relação entre Frank e os Lieberman, em especial David, que dá o impulso para esse capítulo ser tão bom. O equilíbrio entre drama, ação e comédia dessas interações é o que, de melhor, esse episódio tem a oferecer.

"Ficou puto? ótimo. Puto é sempre melhor que assustado."

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 3: Kandahar


A série solo do Justiceiro na Netflix já havia mostrado sua força nos seus dois primeiros episódios, este terceiro, porém, Kandahar, é um pontapé no gogó em termos tanto de desenvolvimento de personagens, quanto de ação, deixando claro o tipo de história que o showrunner Steve Lightfoot quer contar.
No final do capítulo anterior havíamos visto que o encontro cara a cara de David Lieberman, o Micro, e Frank Castle, o Justiceiro, não fora dos mais amistosos, e as coisas seguem nem um pouco amigáveis entre os dois.
Boa parte da primeira parte do capítulo se desenrola com David amarrado à uma cadeira enquanto Frank o espanca e ameaça durante um interrogatório, isso leva a uma série de flashbacks mostrando como o ex-analista da Agência de Segurança Nacional norte-americana deu uma de John Snowden após encontrar um arquivo terrivelmente comprometedor durante seus afazeres, e se viu do lado errado da história, sendo obrigado a fingir a própria morte para poder se manter vivo e deixar sua família em segurança.
Também relembramos o passado de Castle durante a intervenção dos EUA no Afeganistão.
O ex-fuzileiro relembra a série de eventos que levaram até a morte do policial Ahmad Zubair (Shezi Sardar), incluindo a operação narrada por Schoonover (Clancy Brown) durante o julgamento do Justiceiro em Demolidor, uma sequência de ação brutal, sangrenta e visceral.
Os flashbacks de Frank também servem para mostrar a amizade dele com Billy Russo, o que poderá tornar particularmente doloroso se esse personagem cumprir seu destino.
Veja, no quadrinhos, Russo era um assassino da máfia que, desfigurado adota o codinome do vilão Retalho, que apesar de ter surgido como oponente do Homem-Aranha, se tornou o arqui-inimigo do Justiceiro ao longo dos anos (mais ou menos como o Dentes de Sabre, que apareceu como inimigo do Luke Cage, a apenas depois virou o arqui-inimigo do Wolverine).
Se o personagem vivido por Ben Barnes se transformar em Retalho em algum ponto da série, será mais doloroso para Frank já que eles têm um passado em comum e, mais do que isso, eram melhores amigos, praticamente irmãos.
Aliás, Russo, agora o dono da Anvil, parece um bom sujeito. Ele ajuda Curtis a manter o grupo de apoio a ex-soldados, visita o túmulo de Frank, e se pergunta porque o seu amigo se tornou o Justiceiro ao invés de ir até ele, será interessante descobrir em qual momento de seu passado ele se transformou em um vilão.
Através dos flashbacks nós também descobrimos que Frank está mais ligado à morte de Zubair do que se poderia imaginar, e começamos a entender que, se a morte de Maria e as crianças foi o que tornou Castle o Justiceiro, esse não foi um processo súbito.
Frank vinha perdendo porções de sua alma a cada nova missão no oriente médio, e muito provavelmente o massacre de sua família foi apenas a gota d'água.
Todo esse transtorno de stress pós-traumático também está presente no arco paralelo do ex-soldado Lewis Walcott (Daniel Webber), um dos membros do grupo de apoio de Hoyle. Lewis não é um personagem egresso dos quadrinhos, mas a forma como ele começa a aparecer daqui por diante nos faz imaginar que ele terá um papel mais importante a desempenhar na série no futuro. Seu arco é certamente dramático e interessante, muito mais do que o dos agentes especiais Madani e Stein, por exemplo.
Apesar de Amber Rose Revah ter mostrado que é boa atriz e que sua personagem poderia ser interessante durante um breve momento no segundo capítulo, quando suas participações se resumem a ficar atrás da escrivaninha conversando com Stein, ou trovando com sua mãe (Shoreh Agdashloo) em casa, a personagem volta a ser um dos pontos mais fracos da série, aquela parte que a gente usa pra ir fazer um refil no refrigerante.
Apesar da utilização duvidosa de alguns núcleos, no entanto, a série segue forte.
Frank Castle é um personagem dinâmico e humano, e é difícil não querer saber pra onde ele vai em seguida. A adição de Micro ao núcleo pessoal do anti-herói torna as coisas consideravelmente mais interessantes, e a forma honesta e profunda de a série abordar os problemas de seus protagonistas oferecem uma relevância inaudita ao programa que alcança um tremendo pico em seu terceiro episódio.

"-Essa é a Operação Cérberus. E vocês são meus cães de guerra."

sábado, 18 de novembro de 2017

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 2: Two Dead Men


O primeiro episódio da série solo do Justiceiro fora uma boa largada, em grande parte, graças ao protagonista. Jon Bernthal já deixara bem claro que é um ator com capacidade dramática para viver um personagem atormentado como Frank Castle indo bem além do trivial. O único senão de 3 AM eram os coadjuvantes. A agente especial Madani, seu parceiro Sam Stein e o chefe de ambos, Wolf (C. Thomas Howell) não tinham bala na agulha pra aparecer na tela sem que a audiência tivesse a impressão de que poderia estar vendo mais de Bernthal.
O segundo episódio teve mais apresentações, e um ou dois reencontros.
Conhecemos Billy Russo (Ben Barnes), ex-colega de Frank Castle nos fuzileiros que retornou do Afeganistão para iniciar sua própria firma de segurança privada em Nova York se torna alvo das investigações de Madani, que continua tentando encontrar uma forma de burlar as ordens de seu chefe e continuar investigando a morte de seu antigo parceiro em Kandahar. Ligar Madani a alguém do passado de Frank, e tornar sua trajetória mais próxima do protagonista é uma boa jogada. Deixa o arco da personagem mais conectado ao do Justiceiro, mantendo a coesão da série. Parte das razões para Madani e Stein não terem sido particularmente memoráveis no primeiro capítulo era a falta de ligação daquele núcleo com o personagem central.
Outra apresentação desse episódio foi a do Micro David Lieberman (Ebon Moss-Bachrach), personagem cuja existência fora acenada no final de Demolidor, e que surge em Two Dead Men como um hacker tentando manipular Castle. Ele está em completo controle da situação, jogando com o Justiceiro para obrigar o vigilante a entrar em uma aliança desigual.
Estar encurralado não é algo pelo que Frank nutra grande apreço, e isso o força a procurar ajuda para tentar equilibrar a equação. Isso leva a um reencontro entre o anti-herói e Karen Page (Deborah Ann Woll).
Seus contatos como repórter no New York Bulletin podem ser a chance de Frank para tentar descobrir algo sobre Micro que lhe dê alguma vantagem.
Por mais que se possa caracterizar a presença de Karen no episódio como mero fan-service, eu gostei de revê-la.
Primeiro porque Ann Woll é linda e boa atriz, e segundo porque ela oferece a Frank momentos de mais humanidade, e sempre que a dicotomia entre o homem alquebrado e a máquina de matar ganha espaço na série, ela se eleva graças à atuação de Bernthal, que leva seu trabalho extremamente a sério, e cria um retrato dolorosamente vivo de seu personagem.
Falando em máquina de matar, temos uma nova cena de luta nesse episódio, onde o Justiceiro e Wolf saem na porrada.
Novamente é uma grande coreografia de luta, crua e brutal, parecendo muito mais com os bons momentos de Demolidor do que com a pancadaria fajuta de Jessica Jones e Luke Cage ou o balé de Punho de Ferro. Aliás, palmas para C. Thomas Howell. O ator veterano cai na bordoada sem ficar devendo nada para Bernthal.
De qualquer forma, a trama anda para mostrar o Justiceiro contando com a ajuda de Karen e Curt para virar o jogo pra cima de Micro, e a sequência onde ele o faz é muito boa. A expressão facial de Moss-Bachrach conforme ele vê seu joguete cuidadosamente arquitetado ruir como um castelo de cartas é impagável, e seu primeiro encontro com o Justiceiro certamente não termina do jeito que ele esperaria.
Ainda é cedo pra saber se O Justiceiro será Demolidor ou Punho de Ferro no tocante à qualidade, mas se a série conseguir manter o nível apresentado nesses dois primeiros episódios ao longo de toda a temporada, contando com o acertado retrato e desenvolvimento de Frank Castle e de seus coadjuvantes, podemos estar diante da melhor série da Marvel/Netflix desde a segunda temporada de Demolidor.

"-Você é Frank Castle, não é? O cara morto...
-Agora nós somos dois."

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Resenha Série: O Justiceiro, Temporada 1, Episódio 1: 3 AM


Uma das boas sacadas da segunda temporada de Demolidor foi a presença do Justiceiro vivido por Jon Bernthal, cujo arco ocupou a primeira metade da série do diabo da guarda de Hell's Kitchen.
O retrato que os roteiristas da série e Bernthal criaram para o mais violento anti-herói dos quadrinhos foi certeiro, garantindo que Frank Castle tivesse seu lugar ao sol em um programa recheado de personagens interessantes que a audiência aprendeu a curtir.
A abordagem era tão boa que era difícil acreditar que Castle não ganharia uma série própria na sequência, e apesar de inicialmente ter sido exatamente o que a Netflix dissera, o serviço de streaming, a Marvel e a ABC resolveram ouvir o clamor dos fãs e me mexer para dar ao Justiceiro uma chance de continuar seu caminho com as próprias pernas.
Disponibilizado hoje de manhã pela Netflix, o seriado solo abre com uma violenta sequência mostrando Castle, usando o colete de caveira que ele envergava quando o vimos pela última vez, aparando as últimas pontas soltas de sua vingança contra os responsáveis pela morte de sua esposa e filhos.
Castle viaja do Alabama a El Paso e a Nova York para garantir que nenhum afiliado à gangue de motoqueiros, membro do cartel, ou mafioso irlandês fique livre de punição por seus crimes. Seja atropelando, baleando ou esganando, Frank garante que todos recebam seu quinhão de justiça.
Após isso, porém, para surpresa de todos, Frank se retira. Ele queima seu traje, e tenta levar uma vida o mais normal possível fora dos radares da lei. Assumindo o nome de Pete Castiglione ele passa a trabalhar na construção civil em Nova York, e dividir seu tempo entre o trabalho onde descarrega sua ira e frustração em paredes que precisam ser derrubadas, e a leitura no acanhado apartamento onde passa suas noites durante seis meses lutando para deixar o passado pra trás.
O piloto de Justiceiro faz um ótimo trabalho reintroduzindo o personagem central para a audiência.
Nós somos levados por um tortuoso passeio pela mente de um homem atormentado que é incapaz de fazer as pazes com seu passado. O grande certo nesse início, é deixar claro o quanto Frank está dividido entre seguir adiante ou continuar remoendo seus demônios.
Ele acorda todas as noites às três da manhã, despertado por pesadelos da última vez que foi despertado por sua esposa. Ele continua em conflito com relação às missões que realizou no Afeganistão. E ele continua incapaz de deixar qualquer pessoa se aproximar.
Ao mesmo tempo, ele faz todo o possível para conter seu instinto de simplesmente matar todos que o cercam cada vez que algo lhe parece fora de lugar.
Jon Bernthal mantém o excelente trabalho que fizera em Demolidor na hora de abraçar todos os aspectos de Frank Castle. Ele segue fazendo um trabalho elegante e equilibrado ao retratar um homem que está sempre no limiar de esmagar ossos e abrir buracos em quem cruza seu caminho, mas ao mesmo tempo tem a vulnerabilidade palpável de alguém que perdeu mais do que era capaz de suportar.
Com Bernthal mastigando suas cenas e dominando o episódio, fica complicado para o elenco de apoio apresentado nesse primeiro capítulo não parecer deslocado ou desnecessário.
A agente especial da segurança doméstica Dinah Madani interpretada por Amber Rose Revah. Sendo apenas o primeiro episódio, eu vou me conter antes de dizer que ela é uma coleção de clichês ambulante em suas breves aparições.
Uma investigadora capacitada e idealista que não desiste da verdade mas é escanteada pelo machismo de seus superiores. Parece algo saído de uma caixa de sucrilhos. Ela estar querendo descobrir a verdade por trás da morte de seu parceiro, não ajuda, e ser a filha de um abastado casal de médicos de ascendência árabe ainda menos. Mas enfim, apenas o primeiro capítulo. Temos mais doze episódios para que Madani e seu parceiro, Sam Stein (Michael Nathanson), que aqui pareceu uma tentativa fracassada de alívio cômico, crescerem.
Um coadjuvante que não desperdiça seu tempo em cena é Curtis Hoyle (Jason R. Moore), ex-companheiro de Frank no exército que após sofrer ferimentos graves toca um grupo de apoio a ex-soldados.
Curt aparece como uma consciência externa para Frank. Apesar de terem experiências militares semelhantes, Curt parece menos afetado por seu passado do que Frank, e tenta tirar o amigo do buraco. Será interessante descobrir se a diferença entre os dois é apenas a morte da família do Justiceiro, ou se há mais coisas no passado que fizeram Frank trilhar um caminho consideravelmente mais sombrio.
O debute solo do Justiceiro é uma experiência emocionalmente dolorosa, temperada com boas explosões de violência gráfica, e carregado nas costas pelo protagonista. Veremos o que o futuro reserva a Frank nos episódios vindouros.

"-Eu entendo, olho por olho e tudo mais... Eu tenho uma família...
-Eu não tenho."

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Resenha Cinema: Liga da Justiça


Os primeiros passos da DC na sua tentativa de criar um universo cinematográfico compartilhado à imagem e semelhança da máquina de fazer dinheiro que a Marvel construiu a partir de Homem de Ferro em 2008 foram, pra dizer o mínimo, claudicantes.
O Lanterna Verde estrelado por Ryan Reynolds, talvez o primeiro filme da DC que parecia estar interessado em levar as coisas nessa direção, foi um medonho tiro no pé.
Ao fracasso de bilheteria e crítica de Hal Jordan, seguiu-se o bom O Homem de Aço, que reintroduziu o Superman nas telonas sem nenhuma conexão com o filme do defensor do setor espacial 2814.
A boa resposta do público ao novo Kal-El e o sucesso estrondoso de Os Vingadores e Homem de Ferro 3, fizeram a DC/Warner pisar com força no acelerador, dando sequencia ao universo iniciado com o Superman de Zack Snyder com, diretaço, Batman vs Superman: A Origem da Justiça.
O longa dividiu opiniões, sendo aclamado pelos fãs hardcore da DC e avacalhado por quase todo mundo que gosta de cinema.
O filme de Snyder jogava o final de O Homem de Aço pela janela, opunha ao Superman um Batman tacanho e homicida vivido por um esforçado Ben Affleck, e ainda acrescentava à salada um equivocado Lex Luthor vivido por Jesse Eisenberg, o vilão Apocalypse, a Mulher Maravilha interpretada por Gal Gadot, e misturava várias histórias clássicas dos quadrinhos em um filme confuso em tom, longo e apressado que era meio sequência de O Homem de Aço, meio filme do Batman, meio Cavaleiro das Trevas do Frank Miller, meio A Morte do Superman, meio embrião da Liga da Justiça, meio pepperoni e meio mussarela.
De repente o universo compartilhado da DC já não parecia mais uma ideia tão boa.
A pressa da Warner em alcançar a Marvel sugeria desespero e o resultado que se anunciava áquela altura era trágico.
As coisas só ficaram mais feias conforme Esquadrão Suicida foi lançado e o resultado foi um grande sucesso de bilheteria para um filme que era horroroso até a medula, e ameaçava se tornar a regra das adaptações da DC.
Mas aí, a Mulher Maravilha de Patty Jenkins surgiu.
Diana Prince deixou Temiscyra para apontar aos homens do estúdio o caminho a seguir.
Sumia o espetáculo tétrico de amargura e ódio de Batman vs. Superman ou o showzinho de conteúdo vazio de Esquadrão, entrava uma história de origem divertida e esperançosa, sobre uma heroína ingênua e idealista disposta a forçar o mundo a fazer sentido fosse pela força, fosse pela sabedoria.
E, vendo como a Mulher Maravilha se tornara um absurdo sucesso comercial e crítico, a DC percebeu que estava sentada em cima de uma mina de ouro que acabava de descobrir como garimpar.
Bem na hora, afinal, a Liga da Justiça estava chegando.
Ben Affleck, Gal Gadot e (possivelmente) Henry Cavill retornariam. A eles juntariam-se Jason Momoa como o Aquaman, Ezra Miller como o Flash, e Ray Fisher como o Cyborgue. O roteiro seguia nas mãos de Chris Terrio, um dos responsáveis pelo tenebroso script de Batman vs Superman, e de Zack Snyder, um cineasta visualmente talentosíssimo mas com sérios problemas de condução narrativa, mas agora havia um mapa do que fazer, uma direção a seguir, e a supervisão de Geoff Johns, um dos principais criadores da DC nos quadrinhos.
Os trailers iniciais pareciam bons, mas não se podia ter certeza de nada, o trailer de Esquadrão Suicida era ótimo, também.
Aos trinta e cinco do segundo tempo uma tragédia familiar afastou Snyder da direção do filme, e Joss Whedon, diretor dos dois filmes dos Vingadores da Marvel, foi chamado para assumir o posto e terminar o serviço, refilmando diversas passagens do longa e reescrevendo partes do roteiro.
A coisa toda cheirava a remodelação e refilmagem da grossa, com Snyder escanteado para que a visão dele não entrasse em conflito com os desejos do estúdio, os augúrios que acompanhavam a Liga pareciam problemáticos, e eu, que já começava a ficar de saco cheio de filmes de super-herói feitos sob encomenda pelo estúdio, desprovidos de alma, me perguntava se valeria a pena ir pro cinema arriscar meu suado dinheirinho numa empreitada que, talvez, fosse me deixar tão aborrecido quanto o último Homem-Aranha.
Mas eu sou um nerd teimoso.
Hoje, meia-noite e dois, eu estava na sala um do meu cinema favorito, confortavelmente sentado para ver o primeiro filme de super-grupo da DC.
Liga da Justiça abre com o Batman (Ben Affleck) investigando o que parecem ser os primeiros passos de uma invasão alienígena.
Com informações limitadas a respeito do inimigo, o homem-morcego segue sua investigação para tentar descobrir os planos desse adversário misterioso, que tem sequestrado pessoas em Gotham e Metrópolis.
As coisas se aceleram quando o tal adversário, o Lobo da Estepe (Ciarán Hinds) surge em Temyscira para reclamar um antigo artefato confiado ás amazonas, uma Caixa Materna, antigos objetos de poder imensurável ocultos em nosso planeta.
Milhares de anos atrás uma aliança entre os velhos deuses, os atlantes, as amazonas e os homens se opôs à primeira tentativa de invasão do Lobo da Estepe e de seu exército de parademônios, uma das caixas ficou em poder das amazonas, outra de posse dos atlantes, e uma terceira foi dada aos homens.
Após a morte do Superman, as defesas fragilizadas da Terra dispararam um alarme nas caixas, avisando o Lobo da Estepe de que o momento para uma nova invasão havia chegado.
O invasor, sedento de vingança pela derrota sofrida em sua última tentativa de conquista, mais sábio, poderoso e cruel, retorna obstinado a cumprir o seu destino e trazer o inferno ao nosso mundo, e a única chance que o Batman e a Mulher Maravilha têm de detê-lo, é unir uma equipe de heróis.
O herdeiro de Atlântida Arthur Curry, o velocista escarlate Barry Allen e o ciborgue nascido do poder das Caixas Maternas Victor Stone precisam ser recrutados para tentar impedir a destruição de nosso planeta.
Mas, mesmo que esses cinco heróis sejam capazes de trabalhar juntos, seu poder será o suficiente para impedir a ascensão do Lobo da Estepe?
Vou iniciar dizendo que há uma série de problemas em Liga da Justiça.
O longa é apressado em alguns momentos, a diferença entre os segmentos dirigidos por Snyder e Whedon é gritante, e o desfecho do longa pode soar insatisfatório para muita gente por sua simplicidade. Posto isso, deixe-me dizer que:
Liga da Justiça é legal pra caralho.
O longa mostra que a DC aprendeu sua lição, e fez um filme de super-herói divertido, movimentado, bonito e esperançoso.
Eu não vou dar spoilers aqui, mas nós finalmente temos sorrisos que haviam feito muita falta em filmes anteriores.
Mais do que isso, temos a super-equipe mais poderosa dos quadrinhos trabalhando junta, estabelecendo uma dinâmica de grupo bacana, dando demonstrações de poder hercúleo e lutando pra salvar a Terra sem que isso pareça um velório.
A diversão está lá, em cada frame, em nenhum momento parece deslocada ou excessiva (ainda que algumas piadas pareçam fora de lugar, mas sem chegar ao ponto dos filmes da Marvel, com uma piadinha em cada cena.), os efeitos especiais são bons, embora o Lobo da Estepe, vez que outra, pareça meio falso, as sequências de ação são boas, em especial o combate que encerra o filme e o resgate da Mulher Maravilha no museu.
A trilha sonora de Danny Elfman é extremamente bem sacada, e as atuações estão muito boas, com destaque para o Ciborgue de Ray Fisher e o Flash palhaço da classe de Ezra Miller.
Além do elenco principal há ainda o Alfred de Jeremy Irons, o comissário Gordon de J.K. Simmons, a Lois Lane de Amy Adams, a Martha Kent de Diane Lane e a rainha Hippolyta de Connie Nielsen, o doutor Silas Stone de Joe Morton, além da apresentação da Mera da gatona Amber Heard e do Henry Allen de Billy Crudup.
Alguns personagens quase não têm tempo em cena, outros parecem ter um pouco de tempo demais, mas, entre mortos e feridos, todos se salvam.
O clima do longa lembra a brilhante animação da Liga da Justiça em diversos momentos, em outros tantos, emula o clima da ótima história Liberdade e Justiça, as duas abordagens são triunfantes, pois tratam-se de dois produtos muito acima da média.
A Liga da Justiça se une, e salva o dia em uma história que transpira otimismo. Não fica muito melhor do que isso.
Falta muito pra sequência?

"A esperança está lá fora. Basta olhar para o céu."

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Revendo Homem-Aranha: De Volta ao Lar


Apenas nesse final de semana resolvi voltar a assistir Homem-Aranha: De Volta ao Lar, primeiro filme do cabeça-de-teia realizado pela parceria entre os estúdios Marvel e a Sony, detentora dos direitos do herói que viu que, pagando a Marvel pra fazer filmes com o personagem, obteria mais dinheiro nas bilheterias.
Quando assisti ao filme em julho, fiquei, francamente, sem saber se tinha gostado, ou não.
Meus sentimentos com relação ao longa foram conflituosos e eu, de fato, não sabia o quanto dos meus desgostos para com o filme eram mera implicância, de modo que pensei em rever o debute do Aranha da Marvel e, quem sabe, com o coração mais leve, aproveitar a jornada de maneira menos crítica.
Mas infelizmente, não deu.
A óbvia diversão do filme continua lá, mas foi ficando mais e mais diluída em meio aos problemas que praticamente saltam da tela pra morder os pés de uma audiência que tenha um grau um pouquinho mais elevado de exigência.
O texto a seguir contém detalhes importantes do enredo, incluindo reviravoltas na trama, e não é recomendado a quem ainda não houver assistido ao filme. A resenha livre de spoilers pode ser lida aqui:


-A Origem:
A origem dos super-poderes do Homem-Aranha não é mostrada em De Volta ao Lar. O personagem já havia aparecido fazendo tudo o que uma aranha faz em Capitão-América: Guerra Civil, de onde De Volta ao Lar praticamente começa, de modo que, desde a sua primeira cena no filme, Peter Parker já é o Homem-Aranha, e à certa altura do longa ele apenas menciona, brevemente, que foi picado por uma aranha.
Outra coisa que não é referida de maneira apropriada é a morte do tio Ben.
Não há, na verdade, nenhuma menção ao tio Ben, de modo que, nesse universo, a tia May de Marisa Tomei pode perfeitamente ser uma lésbica viúva de Benedita Parker, a quem chamava carinhosamente de Ben, sei lá. Ele apenas menciona, também de maneira bastante casual, que não quer preocupar sua tia depois de tudo pelo que ela passou. Não sabemos se foi a perda do marido, se foi a quebra de seu negócio como confeiteira, perder a eleição pro conselho tutelar, enfim, não há nenhuma menção à vida de Peter e May ao longo do filme. Não se fala sobre dinheiro, e mesmo o prédio onde Peter vive com a tia mudou, ficando bem mais ajeitadinho que o conjunto habitacional do primeiro longa.
O grau de pobreza apresentado em Guerra Civil se dissipa, provavelmente porque mostrar um jovem morando nos conjuntos habitacionais de Queens, precisando pegar sucata pra montar computadores e apanhando lixo pra tentar usufruir de um pouco de conforto poderia parecer demasiado duro pro tipo de filme levinho que a Marvel gosta, então toda aquela realidade empobrecida mostrada quando Tony Stark procurou Peter no terceiro Capitão-América é amenizada em altíssimo nível.
Também não há nenhuma menção ao que Peter fez após descobrir suas novas habilidades, tampouco sabemos se ele tentou usá-las para conseguir dinheiro antes de começar a combater o crime, ou sequer se a morte do tio Ben (ou da tia Benedita), teve algo a ver com essa decisão.
Eu entendo que revisitar a origem do personagem pela terceira vez em um período de quinze anos poderia ser forçação de barra. Entretanto, eu francamente acho que a origem do Homem-Aranha ajuda a edificá-lo como personagem. Suas motivações de culpa e responsabilidade fazem esse personagem ser quem é, e ao tirar isso dele, rouba-se a sua essência, tornando-o apenas mais um.
Por mais que nós saibamos como Peter Parker tomou a decisão de usar seus poderes em nome do bem, simplesmente sumir com a tomada dessa decisão, restringindo-a a uma frase no meio de Guerra Civil empobrece a mitologia do herói, e muito.

-Ned Leeds:
Provavelmente uma das coisas mais desagradáveis do filme é a presença de Ned Leeds. O melhor amigo da vez surge como uma contraparte da audiência, um nerd gordo de brinca de lego e sofre de diarreia verbal e está sempre pendurado em Peter.
O Ned Leeds de Jacob Batalon é um personagem tenebrosamente unidimensional, que parece um recorte, como se os seis roteiristas do longa tivessem tentado imaginar com o que se parece e como se comporta um geek adolescente do novo milênio e surgido com aquilo ali. Até faz sentido, a maior parte das características de Ned são os defeitos dos millenials, a grande questão aqui é: Por que diabos alguém iria querer ser amigo desse cara?
Ned é socialmente deficiente, tacanho, desprovido de empatia, e o que ele mais faz ao longo do filme é pedir permissão para contar pra todo mundo o maior segredo de Peter colocando seu amigo e a tia dele em perigo mortal sem nenhum tipo de consideração.
Eu não consigo pensar em um amigo pior pra se ter por perto.
Deixa eu ilustrar o quanto Ned é péssimo:
Eu preferia ser amigo do valentão Flash Thompson de Tony Revolori do que do Ned Leeds.

Liz Toomes:
A Liz do filme não é a Liz Allen, meia-irmã do Magma igual aos quadrinhos, mas sim Liz Toomes, filha de Adrian Toomes, o Abutre. Deixa eu dizer que, na verdade, eu não achei o fim da picada mudarem (e aumentarem) o parentesco criminoso de Liz. Eu duvido que o Magma apareça em algum filme vindouro do Aranha, então, OK ela ser filha do Abutre.
O grande problema com Liz é que também ela é uma personagem absolutamente vazia. Nós sabemos que ela tem uma quedinha pelo Homem-Aranha, sabe que o Peter tem uma quedinha por ela, é uma guria popular e inteligente mas não é uma escrota, e meio que isso é tudo o que ela tem a oferecer. Não sabemos como ela se relaciona com as amigas, como é sua vida em casa e nem nos interessamos, afinal de contas, a personagem é chata pra caralho e se ela tivesse morrido no elevador em Washington não teria feito nenhuma diferença, na verdade, poderia ter até beneficiado o desfecho do filme, eu explico isso mais adiante.

-Michelle:
Argh...
OK, eu acho a Zendaya bonita.
Muito bonita.
E acho que bastava pintar o cabelo dela de vermelho e zas, teríamos uma ótima Mary Jane do ponto de vista visual.
Mas Zandaya não interpreta Mary Jane. Ela interpreta Michelle Jones, a quem seus amigos chamam de "MJ". Certo... Michelle está no filme para ser o futuro interesse amoroso de Peter Parker, não importa se os produtores mudarem de ideia e jogarem essa premissa no lixo na hora de escrever De Volta ao Lar 2. Essa é a óbvia ideia. Michelle é a substituta de Mary Jane e de Gwen Stacy no universo cinemático Marvel.
O grande problema aqui, é que pode-se aplicar à ela a mesma lógica que apliquei a Ned Leeds:
Por que diabos alguém iria querer ser namorado de Michelle?
Não me refiro à aparência física, já disse, acho ela uma guria bonita, mas a seu comportamento. Michelle é uma engajadinha de biblioteca que faz tanto bullying contra Peter e Ned quanto Flash, mas os persegue pra fazer isso. Ela é, para Peter, o que a molecada chama de stalker, e o "stalkeia" pra tirar sarro e humilhá-lo com suas piadinhas maldosas.
Quem é que quer namorar essa vaquinha?
"Ah, mas a Michelle é muito mais do que vimos nesse filme...".
Talvez.
Tomara.
Porque baseado no que vimos nesse filme, a Michelle é uma personagem antipática e chata, que nada tem a ver com os outros interesses amorosos que já vimos na tela. A Mary Jane de Kirsten Dunst com toda a sua chatice, sabia estar lá pra dizer "pega eles, gatão" na hora em que Peter ouvia uma sirene da polícia e sabia que era sua responsabilidade ir atrás. E a Gwen de Emma Stone era simplesmente um sonho, capturando com maestria a namorada cuja morte todos os fãs do herói lamentaram por anos.
A Michelle Jones de Zendaya vai precisar comer muito arroz com feijão se quiser ganhar um espaço no coração dos fãs do herói.

-Tia May:
OK. Tia May é atraente.
Sai a frágil velhinha septuagenária de Rosemary Harris, ou a sessentona amorosa e proativa de Sally Field, entra a italiana bonitona de Marisa Tomei que desperta o desejo de toda a indústria de alimentação de Queens, do dono da lanchonete latino ao garçom do restaurante asiático, todo mundo que faz comida quer comer a tia do Bátima, digo, do Aranha.
Nada contra Marisa Tomei ou o Homem-Aranha ter uma tia que não apreça uma uva passa, o lance aqui é:
É mais uma medida para remover qualquer resquício de drama da vida do Homem-Aranha, tornando seus filmes mais leves, alegrinhos, descompromissados, enfim... Mais Marvel.
Aquela mulher saudável e bonita jamais vai estar com a saúde em frangalhos num futuro próximo.
A tia Marisa To-May não carece dos mesmos cuidados que a tia Sally, a tia Rosemary e especialmente a May dos quadrinhos que, era um, dois e estava desmaiando e sendo levada às pressas pro hospital.
Considerando o sistema de saúde dos EUA, uma velhinha doente era fonte inesgotável de drama familiar/financeiro pro personagem central, e, dessa forma, é fácil perceber porque ela foi trocada por uma versão jovem e saudável.
Nos filmes da Marvel não pode haver drama.
Ao menos não sem ser seguido de uma piadinha.

-Adrian Toomes/Abutre:
Um dos grandes acertos do longa, o vilão interpretado por Michael Keaton é um dos melhores vilões do passado recente da Marvel. Obviamente inferior ao carismático Loki de Tom Hiddleston, o vilão alado do De Volta ao Lar consegue pegar parelho com o Obadiah Stane de Jeff Bridges.
Suas motivações são conhecidas e bem embasadas, ele é ameaçador e esperto sem ser necessariamente um gênio criminoso, e tem ciência das próprias limitações, tudo isso o torna um ótimo vilão, que, de bônus, rompendo a tradição da Marvel nos cinemas, tão tem exatamente os mesmos poderes do herói. O que é deveras refrescante.
Aqui vai, então, o grande problema:
À certa altura do filme, na sequência de ação em Washington, o Homem-Aranha salva Liz, filha do Abutre, de um elevador em queda livre.
No final do filme, quando Peter vai buscar Liz em sua casa para o baile da escola, ele reconhece Adrian como o Abutre e o vilão o reconhece como o Homem-Aranha (mostrando que o disfarce do Superman é péssimo pois se mesmo com a cara toda coberta o disfarce do Homem-Aranha pode ser descoberto por causa da sua voz, imagine, então, usando apenas óculos e um penteado vagamente diferente...), de qualquer forma, o Abutre pede que Liz saia do carro pra ter aquela conversa com o namorado da filha e, diz pra ele "Eu sei quem você é, mas você salvou minha filha, então eu vou te deixar ir, mas se tu aparecer no meu caminho de novo eu te mato e mato todo mundo de quem tu gosta e blá-blá, blá..."
Até ali, o Abutre era um personagem sólido, ameaçador e esperto, mesmo sem ser um gênio. E nessa sequência, ele joga tudo isso pela janela ao cometer um erro crasso e absolutamente imbecil.
Mesmo se o Homem-Aranha em pessoa não fosse atrás do Abutre, conforme aconteceu, o Abutre já deveria saber que o herói de Queens é amigo do Homem de Ferro e faz um "estágio" na Stark, o que significa que ele obviamente tem laços com os Vingadores.
Se o Homem-Aranha não fosse tão idiota ele poderia simplesmente ir até a Stark Tower e falar pessoalmente com Happy Hogan explicando a situação e pronto. Happy avisaria Tony e os Vingadores cairiam em cima do Abutre e de sua gangue. Credo, o Visão, sozinho, demoliria o Abutre, o Shocker e o Consertador sem nem precisar mexer os braços.
O mais triste é que era fácil de resolver isso.
O Abutre poderia simplesmente ter atirado em Peter dentro do carro, e a sequência de ação final começava ali, e não apenas depois de Peter largar a Liz na festa...

-A Trama:
A história de Homem-Aranha: De Volta ao Lar segue exatamente a cartilha dos filmes de super-herói em geral, da Marvel em particular, mostrando a origem do vilão (A do herói também seria mostrada, mas foi pulada, colocando o holofote sobre o relacionamento de Peter com Tony Stark), o momento de crise existencial do herói, e seu confronto com o dito vilão, um embate que termina com o protagonista em desvantagem num primeiro momento, mas com o triunfo do herói no final. A família do herói e seus amigos aparecem, há um interesse amoroso, e três sequências de ação.
Como tudo que é feito seguindo uma cartilha, o resultado é correto, e nada além disso. É como estar com fome e comer um sanduíche de mortadela. Mata a fome, e segura a onda até a próxima refeição. E isso é tudo o que De Volta ao Lar fez. Foi apenas mais um tijolinho sem importância numa estrada levando à Guerra Infinita...

-O Traje:
O uniforme do Homem-Aranha ter sido um presente de Tony Stark foi tido por muita gente como uma grande sacada. Explicaria o que muita gente não consegue compreender, que é, como um adolescente conseguiria fazer, sozinho, um traje fodão como o usado por Peter Parker.
Bem, eu até concordaria se não fosse o fato de vários de nós já termos visto cosplays excelentes do traje aracnídeo feito por fãs em casa com material comprado em lojas de tecidos.
O uniforme de O Espetacular Homem-Aranha era um macacão de spandex bem semelhante aos utilizados pelos atletas de bosled, com lentes feitas de óculos de sol, e botas improvisadas a partir de tênis da Asics. Um moleque devidamente interessado e com tempo livre poderia perfeitamente fazer um traje melhor que o utilizado por Tom Hollando no desfecho de De Volta ao Lar.
O grande problema, porém, é que o traje dado por Tony Stark tem muito mais funcionalidades do que as lentes retráteis dos olhos. O uniforme tem pára-quedas, mais de quinhentas combinações de lança-teias, drone de reconhecimento, localizador holográfico, modo de interrogatório, modo de morte-instantânea, asas de teia, e até uma inteligência artificial chamada Karen, dublada pela linda Jennifer Connely, que está ali para que Peter, a exemplo da audiência-alvo do longa, não precise pensar.
Nada disso acrescenta coisa alguma ao personagem, e aparece no filme apenas pra fazer piadinhas.
O traje-aranha criado por Tony Stark é um dos pontos mais baixos do longa, e, o pior de tudo, inevitavelmente vai voltar, e provavelmente receber upgrades em Os Vingadores: Guerra Infinita.

-Tony Stark, figura paterna:
O Homem de Ferro de Robert Downey Jr. provavelmente é o retrato da Marvel em seus melhores momentos. Talentoso, esperto, divertido. Não é à toa que a Sony quis o personagem em Homem-Aranha: De Volta ao Lar, aceitando pagar uma fortuna a Robert Downey Jr. por sua participação que, não é tão grande quanto o trailer sugeria, mas é maior do que deveria.
E não me entenda mal. Eu curto demais o Tony Stark de Downey Jr., sempre acho um deleite vê-lo em cena, e compreendo que a Sony quisesse reforçar a relação desse novo Homem-Aranha com o Marvel Studios, o grande problema aqui foi pegar um personagem que já deu diversas demonstrações de impulsividade e até irresponsabilidade, e torná-lo o norte moral de um herói que tem como mote de vida que grandes poderes trazem grandes responsabilidades.
Tornar Peter Parker uma tiete de Tony Stark enfraquece Peter como personagem, pois ele deixa de ser uma figura inspiradora para se tornar apenas outro moleque da audiência que idolatra o Homem de Ferro. É, em nome do espetáculo, que nem é tão grandioso, esvaziar o protagonista.

-Peter Parker, sábio idiota:
O roteiro de De Volta ao Lar parece tentar equilibrar o Homem-Aranha/Peter Parker de Tom Holland no meio do espectro entre a pegada mais esperta de Andrew Garfield e o jeitão aparvalhado de Tobey Maguire com resultados que ficam apenas meia-boca.
Se por um lado temos um Peter Parker capaz de hackear o uniforme dado por Tony Stark e de criar seu próprio fluido de teia, por outro temos um personagem que é péssimo em interações sociais sem a máscara e que surge com alguns dos comportamentos mais infantis que um adolescente poderia ter.
Sua impaciência, seus chiliques, imaturidade e irresponsabilidade o tornam o menos gostável de todos os Peter Parker do cinema, e olha que eu sou o maior detrator de Tobey Maguire em todo o mundo.
O mais triste disso é que, novamente, esse personagem havia sido apresentado de uma forma muito interessante em Guerra Civil, e parecia que a Marvel estava com a faca e o queijo na mão para, finalmente, mostrar o Homem-Aranha/Peter Parker dos quadrinhos ao grande público. Infelizmente, meia dúzia de roteiristas não foram capazes de criar uma tradução à altura do personagem cinquentenário.
Nem mesmo a tentativa de oferecer um grande momento a Peter na sequência do armazém, quando Peter é soterrado sob toneladas de entulho e precisa se superar para conseguir se libertar, emulando a brilhante edição 33 de The Amazing Spider-Man, de 1966, sem porém, nada do peso da história original.
Essa sequência, talvez, seja o grande retrato de Homem-Aranha: De Volta ao Lar, um produto bonitinho, que te lembra algo de que tu gosta muito, mas sem nenhum conteúdo para sustentar a forma.
É por isso que eu preciso dizer, com tristeza, que até o momento, Homem-Aranha: De Volta ao Lar, se destaca negativamente, sendo o pior exemplar de super-heróis do cinema em um ano recheado de filmes de gibi.
O pior de tudo é que a Marvel Studios tem um péssimo histórico de não aprender com seus erros, afinal, por que deveriam? O dinheiro entra de maneira obscena na conta da Disney mesmo com todos os problemas narrativos.
É necessário, então, se acostumar ao fato de que esse Homem-Aranha genérico e sem-graça, veio pra ficar...

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Resenha DVD: Transformers: O Último Cavaleiro


Me lembro de, conversando com um amigo que é fã de longa data de Transformers, ao ser perguntado se havia ido ao cinema ver este O Último Cavaleiro, responder que o quarto filme, A Era da Extinção, havia me causado um efeito tão ruim, que eu simplesmente desistira de pagar ingresso pra ver Transformers já que a série desenvolvera uma capacidade inacreditável de piorar de um filme para o próximo.
A resposta dele, dando de ombros foi, "mas esperar o que de um filme baseado em um brinquedo?".
Eu até poderia concordar. Quer dizer, quando vemos coisas como G.I. Joe ou Resident Evil, nós sabemos, pelo material-fonte, que os filmes dificilmente serão grandes obras. Se forem uma hora e meia de diversão escapista, minha nossa, já estamos no lucro.
O grande problema, aqui, foi que Transformers começou sua carreira no cinema com um filme que era bom.
O longa original chegou aos cinemas uma década atrás e apresentou ação, aventura e comédia num longa que era, na pior das hipóteses, divertidíssimo.
O problema parece ser que, o sucesso crítico e comercial daquele primeiro longa subiu à cabeça da Paramount e do diretor Michael Bay, porque, do segundo filme, Transformers: A Vingança dos Fallen, em diante, a coisa desandou de uma maneira vertiginosa.
A cada nova incursão dos organismos cibernéticos do planeta Cybertron às telonas, se tornou tarefa mais difícil considerar qualquer dos filmes mais do que um guilty pleasure (a ausência de Megan Fox contribui aqui, sim ou claro?) conforme a história ia se tornando um elemento menos importante entre as explosões e as piadinhas.
No sábado, resolvi apanhar, por curiosidade mórbida, o último filme da franquia, e conferir, com meus próprios olhos, se o longa era tão ruim quanto eu imaginara.
Após um flashback do passado, mostrando o rei Arthur e seus cavaleiros da Távola Redonda enfrentando uma imensa invasão de saxões enfurecidos e sem chance de vitória até Merlin (Stanley Tucci) surgir com uma tropa de transformers para auxiliar no combate, O último Cavaleiro retoma mais ou menos de onde o longa anterior terminara.
Optimus Prime retornou a Cybertron (eu jurava que Prime tinha dito que esse planeta havia sido destruído no primeiro filme.), e na Terra, os transformers são caçados pela humanidade.
Enquanto grupos mercenários contratados por governos do mundo se especializam em caçar os alienígenas à solta no planeta, alguns indivíduos se dedicam a ajudá-los.
Como Cade Yeager (Mark Wahlberg).
O inventor fracassado que ajudou a salvar a Terra no filme anterior segue se dedicando a consertar e abrigar Autobots enquanto mantém sua aliança com Bumblebee, Drift, Hound, Daytrader e Hot Rod.
Seu círculo de amizades, porém, veio com um alto preço. Cade vive escondido, perseguido pelas organizações que se opõe aos transformers, e incapaz de se comunicar com sua filha, a quem não vê há um longo tempo.
Se a situação já era ruim, ela só piora quando Optimus chega à Cybertron, encontrando o planeta em ruínas, e descobre que ele foi destruído pela guerra entre Autobots e Decepticons, mas que a chave para reconstruí-lo, o cajado de Merlin, está na Terra.
A deusa da vida de Cybertron, a criadora Quintessa (Gemma Chan), domina a mente de Optimus Prime, e o envia de volta ao nosso planeta, onde, de posse do cajado, a vilã poderá usar nosso mundo para alimentar e reviver o seu.
Mas não é apenas Optimus Prime e Quintessa que desejam o cajado.
Ainda por aqui após ser morto umas quatro ou cinco vezes, Megatron também deseja a poderosa arma, e se prepara para tentar encontrá-la. A chave da localização do artefato está em um talismã que, por mero acaso, cai nas mãos de Cade, colocando-o no radar dos Decepticons e de lorde Edmund Burton (Anthony Hopkins), guardião de uma antiga ordem de homens dedicados a manter em segredo a longeva história de parceria entre humanos e transformers.
Ele guarda a chave de como usar o talismã para chegar ao cajado antes de Quintessa e Megatron, porém, apenas uma pessoa pode manusear o objeto é a doutora Vivian Wembley (Laura Haddock, retomando a tradição da série de mulheres bonitas demais para suas profissões ao lado da mecânica Megan Fox, da hacker Rachel Taylor e da contadora Rosie Huntington-Whiteley), uma historiadora, filosofa, e mais alguma coisa, especializada na lenda de Arthur que é, na verdade, a última descendente viva do mago Merlin.
É... Eu sei.
Não me culpem, os responsáveis por esse troço são Akiva Goldsman, Art Marcum, Matt Holloway e Ken Nolan. Essas quatro pessoas cometeram o roteiro que, aparentemente nem sequer importava muito pro Michael Bay já que seu filme histérico, sempre em volume máximo e com uma geografia que inexiste nas cenas de ação parece fazer todo o possível para que a edição não faça lá muito sentido, mesmo.
O longa começa de um jeito, ali pelas tantas some com todos os coadjuvantes que haviam sido apresentados e vai pra Inglaterra contar o que parece uma história paralela que poderia, sozinha, sustentar um filme se o roteiro fosse bem trabalhado e o cineasta não sofresse de transtorno de déficit de atenção.
Ali pelas tantas, têm umas perseguições de carro, aparece um submarino, e todo o elenco está junto numa nave alienígena no Stonehenge com um robô dragão de três cabeças porque sim...
Esses elementos todos, os robôs gigantes, os efeitos visuais, os carrões, as mulheres bonitas e Anthony Hopkins interpretando um velho maluco, tinham potencial para repetir o primeiro Transformers e ser um filme muito divertido.
Isso infelizmente não acontece.
Em parte porque Michael Bay parece um traficante de adrenalina, fazendo todo o possível para que a audiência tenha uma overdose durante o longa que começa com bolas de fogo, explosões e corpos voando pelo ar e termina com bolas de fogo, explosões e corpos voando pelo ar praticamente sem cessar por duas horas e vinte minutos de surto no pior sentido da expressão.
Em parte porque o roteiro parece não saber que história que contar, dando a impressão de que a equipe criativa se trancou numa sala, escreveram vários pedaços de papel com coisas de que gostavam e depois de um sorteio criaram um script que costurasse "Rei Arthur", Segunda Guerra Mundial", "Downton Abbey" e "Anthony Hopkins" à qualquer custo.
O resultado é um filme tão incoerente que parece uma paródia de si próprio, com um ritmo tão acelerado e tão barulhento que a gente tem vontade de dar uma martelada no dedo só pra ter tempo de respirar, e que ainda desperdiça dois dos melhore nomes no elenco (Hopkins e John Turturro, fazendo uma ponta) para despejar o falatório expositivo que a mitologia da série simplesmente não consegue abraçar em filmes que são meras duas horas de correria e explosões.
O mais patético?
O longa se encerra com uma gancho para Transformers 6.
Com um pouco de sorte, a bilheteria fraca, na casa dos seiscentos milhões de dólares, a mais baixa da série, faça a Paramount repensar os rumos da sua grande franquia.
Até lá, Transformers segue sendo um produto de home video e olhe lá.

"Foi dito através das eras, que não pode haver vitória sem sacrifício."