Ultimamente eu me flagro, quase todos os dias, pensando nas coisas que deram errado na minha vida.
É um longo exercício de futilidade e auto-flagelação que não leva a nada, exceto à certeza de que a responsabilidade pela minha própria tragédia é integralmente decorrente das minhas ações.
O exercício toma um grande tempo porque, em dois anos, tudo o que podia ter dado errado pra mim, deu errado.
Não é um exagero. Não é uma hipérbole. É um fato.
Profissionalmente, academicamente, sentimentalmente, financeiramente... Tudo foi por água abaixo. Mesmo minha saúde, que, como diria a saudosa Rita Lee, não era de ferro, não, mas jamais me deixara excessivamente na mão, resolveu arriar, e eu me deparei com problemas de saúde que jamais imaginei que enfrentaria e que são dolorosamente debilitantes. Como se isso não fosse o suficiente, meus problemas financeiros pioraram, e eu me vi enredado em um processo judicial após sofrer um golpe de meu antigo empregador. Isso tudo, extraiu um alto preço da minha saúde mental, e eu mergulhei em uma profunda depressão que me fez passar semanas trancado em casa sem conseguir sair da cama enquanto vislumbrava a maneira como tudo desmoronou ao meu redor e o quanto eu estava impotente para lidar com a situação.
Essa foi uma das razões para eu ter me afastado do blog. Eu não tinha nada de positivo para compartilhar com ninguém. Nada de interessante. Nada de bom... E, contrariando o adágio popular, minha miséria não adora companhia. Muito antes pelo contrário. Eu sempre preferi sofrer quieto no meu canto.
E é o que eu tenho feito nesses últimos anos.
As coisas não melhoraram pra mim. E eu não vejo uma possibilidade de mudança no horizonte. Estou tentando me manter vagamente funcional. Eventualmente tento fazer algo que gosto, como jogar RPG com meus amigos, assistir um filme, ler um livro, jogar videogame... Meu médico me mandou praticar exercício, então voltei a fazer musculação. Ajuda um pouco, mas cada vez ajuda menos e se torna mais doloroso...
De qualquer forma, eu tento não me queixar. Tento manter o foco nas coisas imediatas. Dividir meus dias em pequenas unidades de tempo que eu possa gerenciar.
Todo o momento em que eu não estou gerenciando uma pequena tarefa, eu estou pensando nas coisas que deram errado... Nas coisas que eu fiz, que me trouxeram até onde eu estou. Acabado. Doente. Derrotado. Triste. Sozinho...
É, como eu disse antes, um tipo de tortura auto imposta. Eu sei. Mas é inevitável.
Acho que esse ato de ruminar o passado é típico de quem destruiu todas as suas chances de ser feliz.
Todo o tempo eu estou pensando em coisas que eu deveria ter feito. Coisas que deveria ter dito. Arrependimentos. Erros. Equívocos. Falhas. Chances desperdiçadas...
Todo o tempo...
Mas não hoje.
Hoje, eu vou pensar em ti.
Não com tristeza. Não com dor. Não com saudade...
Hoje, eu vou pensa só no dia em que eu estava andando nervosamente em uma calçada, e de repente virei sobre os calcanhares e me deparei com o amor da minha vida.