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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Resenha DVD: Mandela - O Caminho Para a Liberdade


Cinebiografia não é uma seara das mais fáceis de trilhar no cinema. Não é raro ver filmes que prometiam contar a história de vida de uma personalidade se diluir na reverência e se transformar em um incompleto e desonesto veículo de promoção de uma única faceta do biografado. Os recentes Jobs e Somos Tão Jovens são exemplos bem claros desse tipo de biografia chapa-branca xaropona que é recorrente no cinema em geral, e praticamente regra no cinema brasileiro.
Havia uma grande chance de que, na hora de transformar em filme a autobiografia de Nelson Mandela, uma das personalidades mais importantes do Século XX, o diretor Justin Chadwick (A Outra) e o roteirista William Nicholson (Gladiador, Os Miseráveis) ficassem inclinados a adular a lenda do pacifista que transformou a África do Sul do apartheid na Nação Arco-Íris. Foi, afinal de contas, mais ou menos o que Clint Eastwood fez no excelente Invictus, e deu certo pro Clint...
Por sorte, Chadwick e Nicholson resolveram seguir um outro caminho, um pouco mais honesto e que, se não chega a ser controverso, ao menos não é panfletário.
Mandela - O Caminho Para a Liberdade mostra a vida de Nelson Mandela (Idris Elba) desde a suas origens tribais Xhosa, e sua vida como um jovem advogado nos anos 40 e 50.
Nessa fase, temos a oportunidade de ver um Nelson Mandela diferente da versão no inconsciente de todo o mundo.
Ao invés do velho gentil de cabelos grisalhos e fala pausada, vemos um homem vigoroso e divertido, praticante de boxe, sempre atrás de um rabo de saia, interessado em prosperar em seu ofício e deixando o preconceito dos africâneres e bôeres restrito apenas à sua vida profissional. Isso muda após Mandela ter um amigo assassinado pela polícia Sul-Africana ao ser preso por não possuir um passe, documento símbolo do apartheid.
Unindo-se ao Congresso Nacional Africano (ANC na sigla em inglês), Mandela sobre rapidamente na cadeia de comando do partido, o que o afasta de sua esposa Evelyn (Terry Pheto) e de seus dois filhos, o que culmina com seu divórcio e um segundo casamento, com a enfermeira Winnie Mandikizela (o pitéu Naomie Harris).
E se inicialmente Mandela acreditava em formas não-violentas de obter direitos civis para a maioria negra da Africa do Sul, essa crença muda radicalmente após o massacre de Sharpeville, em 1960, quando a polícia abre fogo contra manifestantes desarmados matando 69 pessoas e ferindo quase duzentas.
A partir desse momento, o CNA permite a criação de um braço armado, a Umkhonto we Sizwe, ou Lança da Nação, responsável por atentados a bomba e atos de sabotagem em resposta à violência do governo sul-africano contra os cidadãos negros.
Após anos vivendo na clandestinidade, Mandela é preso em 1962, e em 64, é condenado à prisão perpétua, pena a ser cumprida na prisão da Ilha Robben.
A partir daí, Mandela - O Caminho Para a Liberdade, que havia sido ligeiro, quase apressado, se torna um filme de ritmo bem mais lento.
Dividindo-se entre o crescimento e amadurecimento de Mandela no cárcere, tornando-se um mestre zen na arte de superar as agruras do isolamento do mundo na prisão, e desenvolvendo a persona política conciliadora que se tornaria sua marca registrada após sair da prisão, aprendendo tudo sobre seus captores, da cultura e língua africâner até os nomes dos filhos de seus carcereiros, e a atribulada vida de Winnie Mandela enquanto seu marido estava preso.
Winnie não ficou sentada lamentando o destino de Nelson. Ela própria foi vítima de perseguição racial e política, mas, ao contrário de Mandela, encontrou no ódio por seus opressores a força para se manter viva, tornando-se, ao menos no longa metragem, praticamente o Malcom X do Martin Luther King do protagonista.
Essa diferença de visão se torna uma tensão praticamente palpável quando a prisão de Mandela começa a afrouxar na segunda metade dos anos oitenta, e ele inicia seu processo de negociação com a minoria branca no poder ao se aproximar do presidente Frederik DeKlerk (Gys de Villiers), seu antecessor no comando do país.
Muito do que funciona em Mandela - O Caminho Para a Liberdade, está na atuação do casal protagonista.
Naomie Harris é intensa no papel de Winnie, que o roteiro tenta não demonizar, mas ao mesmo tempo, não se esforça para absolver, de modo que, por mais que a atriz se esforce para tornar a personagem compreensível à audiência (e ela é), ela se torna "malvada" quando comparada ao Mandela de Idris Elba.
Mesmo com Chadwick e Nicholson trazendo à luz momentos menos grandiosos de Mandela, como os casos extra-conjugais durante o seu primeiro casamento, o momento "bon vivant" após o divórcio, a morte de um correligionário durante um dos atos de sabotagem engendrados por ele, e sua relação complicada com a segunda esposa, o homem que passa quase trinta anos preso e sai disposto a perdoar seus captores e construir um país com eles é poderoso demais para ser ignorado, de modo que seus desvios de caráter, servem apenas para torná-lo mais humano, e, por consequência, ainda mais admirável.
E Idris Elba faz um trabalho excepcional no papel de protagonista,
Seu estilo maroto de personificar o político na juventude é particularmente bem sucedido à medida em que, mesmo retratando um Mandela muito distante daquele que todos conhecem, ainda é reconhecível no gestual e na forma de falar, e a maneira como, conforme seu personagem vai envelhecendo na prisão, ele incorpora os trejeitos mais famosos do Mandela real, é particularmente inteligente, ajudando o ator a se sobressair mesmo com um trabalho de maquiagem apenas OK.
No final das contas, Mandela - O Caminho Para a Liberdade é melhor do que a média das cinebiografias, não permitindo que o respeito ou a reverência pelo biografado se torne mais importante do que a história de vida de uma pessoa de verdade, e isso, por si só, já é um êxito.
Felizmente, não é o único.
A direção reverente mas não demais, de Chadwick, o bom roteiro de Nicholson e o trabalho do elenco encabeçado por Elba e Harris (mais Tony Kgoroge, Riaad Moosa, Jamie Bartlett, Lindiwe Matshikiza e Deon Lotz) tornam o longa metragem uma homenagem digna e justa ao herói que retrata.
Assista. Vale a locação, e Nelson Mandela certamente merece a deferência.

"Eu trilhei um longo caminho para a liberdade. Tem sido um caminho solitário, e que ainda está por terminar. Eu sei que meu país não foi feito para ser uma terra de ódio. Ninguém nasce odiando outra pessoa por conta da cor de sua pele. As pessoas aprendem a odiar. Elas podem ser ensinadas a amar. Pois o amor vem mais naturalmente ao coração humano."

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Resenha Cinema: 13° Distrito


Eu reclamo dos cinemas que exibem filmes dublados em horários de adulto(à noite). Reclamo muito. Detesto filmes dublados. Acho que já tivemos a melhor dublagem do mundo mas esse tempo acabou em meados dos anos oitenta. Hoje em dia, a nossa dublagem é medíocre e olhe lá, e mesmo os poucos bons dubladores que ainda temos são mal-escalados em papéis que simplesmente não fazem sentido (Guilherme Briggs dando voz a Han Solo e Indiana Jones?). Por essas e outras, eu simplesmente não assisto mais nada dublado, exceto Os Simpsons, provavelmente a única coisa na TV que eu assisto sem o som original e não fico com a sensação de estar perdendo alguma coisa.
Mas devo dizer que, talvez, eu esteja reclamando de barriga cheia, afinal, se aqui no Brasil, algumas exibidoras de cinema simplesmente abrem mão de exibir filmes legendados (como a rede Cineflix, onde eu nunca, jamais, em tempo algum entrarei), nos EUA, a aversão à leitura de legendas é tão grande, que, quando os estúdios percebem potencial de venda em algum filme de fora do país, simplesmente o refazem com atores que falam inglês no lugar dos originais.
Os escandinavos Deixe Ela Entrar e Os Homens que Não Amavam as Mulheres, por exemplo, ganharam boas versões faladas em inglês, mas que, à bem da verdade, não acrescentam muita coisa aos originais exceto nomes famosos no elenco.
O mais recente exemplo dos famigerados remakes hollywoodianos é esse 13° Distrito, que pega a premissa do divertido B13- 13° Distrito, e transporta a ação dos guetos de Paris, para Detroit (que desde a época de RoboCop precisava ter suas áreas mais pobres devastadas e substituídas por uma cidade do futuro...), troca um dos protagonistas, Cyril Raffaelli por Paul Walker, e a voz do outro protagonista, David Belle, pela de Vin Diesel, e pronto, temos praticamente o mesmo filme, mas mais palatável para a audiência média dos EUA.
Sendo bem franco, B13 já não era grande coisa, um fiapo de história servindo pra justificar as sequências de parkour dos dois protagonistas. Era, porém, divertido, descompromissado, e tinha uma saudável aura de filme B que não se leva a sério.
No remake americano, a história é praticamente a mesma do francês original:
O fora-da-lei de bom coração Lino (David Belle) luta sozinho contra o tráfico de drogas em Brick Mansions (Mansões de tijolos, o apelido dos prédios de tijolo-à-vista dos conjuntos habitacionais dos EUA), uma região pobre e violenta que é isolada do resto da cidade de Detroit por uma muralha, tornando-se uma terra de ninguém onde impera o crime, comandado com mão de ferro por Tremaine Alexander (o rapper RZA).
Lino acaba preso após bater de frente com o traficante de drogas, e tem sua namorada Lola (a deliciosa Catalina Denis) sequestrada pelo bandido, ao mesmo tempo em que as autoridades descobrem que uma bomba de nêutrons foi roubada pelos criminosos, e escondida em algum lugar do bairro onde as autoridades simplesmente não podem entrar.
A alternativa é infiltrar um homem da lei no distrito 13. O homem para o serviço é Damien Collier (o falecido Paul Walker), policial acostumado a trabalhar disfarçado e que tem uma rixa pessoal com Tremaine, que matou seu pai numa das últimas incursões da polícia à região.
Entretanto, como não se pode simplesmente ir entrando no bairro isolado, o plano é unir Damien e Lino, para que, juntos, eles possam impedir Tremaine de destruir a cidade inteira.
É ruim, mas diverte.
13° Distrito está longe de ser uma pérola do cinema, mas ao menos mantém a ideia de não se levar a sério demais, o que funciona pra um filme com premissa absurda, mas apenas até certo ponto.
Se há boas sequências de ação no longa (item de série que qualquer fita do estilo com orçamento razoável), é meio que só isso. Até o parkour, que era a grande estrela do longa original, é deixada de lado pelo diretor Camille Delamarre para dar mais espaços a perseguições automobilísticas, à medida em que Walker não tem a desenvoltura de Cyril Raffaelli no free running, e também precisa de espaço pra brilhar ao lado de Belle.
Belle, aliás, foi mesmo totalmente dublado por Vin Diesel no filme, por não ser fluente em inglês, e falar com um pesado sotaque francês, o que tornava inverossímil que ele morasse a anos nos EUA. Ora, vamos... Arnold Schwarzenegger mora nos EUA desde os anos setenta, foi governador da califórnia, e continua não sendo fluente em inglês e tendo um pesado sotaque austríaco... Pra piorar, o vilão do filme não convence e tem um final que, eu não vou contar pra não ficar passando spoilers, mas me deixou meio "Ei, não estão esquecendo de nada?"... Por mais que um filme não se leve a sério, e que isso seja saudável, há limites.
No fim das contas, 13° Distrito só estreou nos cinemas brasileiros porque Paul Walker morreu de maneira trágica, outrossim, teria seguido o caminho de outras produções estreladas pelo ator e saído direto em DVD. Talvez seja, no final das contas, a mídia certa para o filme. Uma sessão de entretenimento descartável no sofá de casa.
Espere sair em DVD.

"-Está preparado pra um salto mortal?"

Resenha Cinema: O Grande Hotel Budapeste


Eu sou um admirador contido dos filmes de Wes Anderson, e acho que desde Os Excêntricos Tenenbaums, o único que eu não assisti foi O Fantástico Sr. Raposo (Afora seus curta-metragens).
Gosto do cinema de Wes Anderson, de seu jeito quase estranho de fazer filmes, com aquelas tomadas assinatura de personagens olhando direto pra câmera com cara de quem está confuso, e suas histórias carregadas de sensibilidade e de humor, e, ao contrário de alguns fãs do cineasta, não acho que ele deva mudar sua forma de fazer cinema, pois, pra mim, ela funciona, ainda que não empolgue tanto quanto a crítica especializada, mas eu sou apenas um nerd que adora cinema, e não necessariamente entendo do assunto.
De qualquer forma, eu não sou um fã apaixonado do cinema de Anderson, ou não era, até ver O Grande Hotel Budapeste.
No filme conhecemos a história de monsieur Guastave H. (Ralph Fiennes, brilhante), concierge do Grande Hotel Budapeste do título, uma joia da prestação de serviços de hospedagem encravada nas montanhas da fictícia nação leste-européia de Zubrowka nos anos entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
As aventuras de M. Gustave, são lidas por uma jovem aos pés da estátua de um celebrado autor (Tom Wilkinson), que nos remete a um documentário gravado e narrado pelo próprio, onde ele relembra sua passagem pelo Grande Budapeste, quando, na juventude (vivido por Jude Law), pôde ouvir o conto da boca do proprietário do hotel, Mr. Moustafa (F. Murray Abraham) em pessoa, numa estrutura narrativa com cara de matrioska, com história dentro da história dentro da história.
História essa que nos remete ao ano de 1932, quando a partida de uma iminente hóspede do hotel, madame Céline Villeneuve Desgoffe und Taxis, uma abastada viúva de 84 anos (Tilda Swinton, irreconhecível) e um dos muitos casos amorosos de monsieur Gustave, um artista na arte de entreter velhas senhoras ricas, faz o concierge notar a presença do novo mensageiro, Zero Moustafa (o estreante Toni Revolori).
Monsieur Gustave toma o jovem Zero como seu protegido, e passa a instruí-lo na arte sutil de ser um mensageiro perfeito, mas a notícia da morte de Madame Céline, e a presença de monsieur Gustave em seu testamento, sendo agraciado com uma notável pintura renascentista, o coloca em rota de colisão com toda a família da falecida, em especial seu impossivelmente malvado filho, Dmitri (Adrien Brody), que com a ajuda de seu capanga Jopling (Willem Dafoe, sensacional), não medirá esforços para impedir que Gustave consiga qualquer migalha da fortuna de sua mãe, dando início a uma série de eventos que formam a deliciosa trama farsesca com cara de cinemão de antigamente temperado com o humor esperto de Anderson que é O Grande Hotel Budapeste.
É excelente.
O longa-metragem talvez seja o trabalho de Anderson que mais se beneficie das obsessões do cineasta na hora de filmar. Dos enquadramentos dramáticos ao trabalho de direção de arte esmerado passando pelos planos-sequência com movimento de câmera pensado em cada milímetro, tudo funciona para dar a O Grande Hotel Budapeste a cara que ele tem, e que é a que precisava, uma farsa tragicômica que esconde em meio ao riso uma homenagem ao cinema dos anos 30 e 40, assim como a todo um capítulo da História da cultura. Um capítulo que seria fechado com a eclosão da Segunda Grande Guerra.
A Europa do início do Século XX.
Oculto entre os vilões que retorcem seus bigodes, às moças camponesas de coração puro e aos improváveis heróis criados pelas circunstâncias estão a Europa oriental sendo subjugada pelos alemães, e depois entregue ao comunismo, a perseguição à minorias étnicas e os refugiados de zonas de conflito. Nada que transforme Wes Anderson em um documentarista, mas que serve para mostrar que o diretor/roteirista é capaz de ir além do núcleo familiar problemático para contar suas histórias.
Ajuda o diretor ter, em mãos, um tremendo de um elenco, que tem atores que já participaram de produções de Anderson (Brody de Viagem a Daarjeling, Dafoe e Jeff Goldblum de A Vida Marinha com Steve Zissou, Swinton, Edward Norton e Harvey Keitel de Moonrise Kingdom), os atores recorrentes de praticamente todos os filmes do cineasta (Bill Murray, Jason Schwartzman, Owen Wilson, Bob Balaban, todos em pontas), além de Mathieu Almaric (o mordomo Serge X), a deliciosa Léa Seidoux, e Saoirse Ronan, todos ótimos mas eclipsados pelo verdadeiro dono do filme, Ralph Fiennes.
É ele o autêntico protagonista de direito em O Grande Hotel Budapeste, esbanjando uma insuspeita veia cômica de fazer chorar de rir em alguns momentos e capaz de emocionar em outros, genuinamente se divertindo com seu trabalho, e sendo a alma do filme com seu inexplicável concierge, amante de poesia que volta e meia pragueja palavrões e xingamentos de fazer corar de vergonha, que não fica sem seu perfume L'Air de Panache, que usa em grandes quantidades, e um apaixonado por velhas senhoras a quem chama, nada sutilmente, de "cortes mais baratos".
Em suma, Wes Anderson acerta em tudo, da estrutura narrativa à direção de elenco, passando pela forma de contar sua história, escondendo suas influências, mensagens e homenagens em meio a uma comédia que diverte e faz rir, mas que não abre mão da nostalgia e da melancolia habituais do trabalho do cineasta.
Bravo, senhor Anderson. Tem um novo fã de seu trabalho.
Um dos melhores filmes do ano. Assista no cinema.

"Veja só, ainda permanecem tênues fagulhas de civilização neste matadouro bárbaro outrora conhecido como humanidade. De fato, isto é o que provemos em nossos próprios modestos, humildes, insignificantes... Ah, que se foda."

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Resenha DVD: Need for Speed - O Filme


Filmes baseados em videogames, eu já dizia alguns dias atrás, são sempre ruins.
É difícil saber a causa disso. Videogames recentes como The Last of Us, a série Uncharted, Red Dead Redemption e GTA IV tê histórias excelentes, recheadas de drama e personagens incrivelmente humanos, de modo que não se pode mais culpar a falta de profundidade da fonte pela incompetência da adaptação.
Mesmo a mais longeva e bem sucedida franquia cinematográfica nascida de um videogame, a série Resident Evil, estrelada por Milla Jovovich, é composta por cinco filmes muito ruins, que são inferiores mesmo à pior edição da série gamística.
Atrocidades como Super Mario Bros, Street Fighter, Alone in the Dark, Max Payne e Bloodrayne só servem pra fazer todo mundo lembrar de Mortal Kombat (1995) como a melhor adaptação de um game para cinema, e manter a audiência que valoriza seu dinheiro e tem algum resquício de cérebro funcionando longe dos cinemas quando estreia uma nova pérola da mesma estirpe.
Foi, aliás, o que eu fiz quando Need for Speed - O Filme, estreou nos cinemas alguns meses atrás. Passei longe. Bem longe.
Mas acabou que o filme saiu em DVD, eu estava com uma tediosa tarde chuvosa pela frente, e não tinha nenhum outro filme que eu ainda não tivesse visto na locadora, de modo que pensei em alugar NfS - O Filme, nem que fosse apenas por curiosidade mórbida e pra engrossar a minha lista dos piores do ano em dezembro.
No longa dirigido por Scott Waugh, que tinha no cartel apenas o longa Ato de Valor (exceto por alguns trabalhos como assistente de direção e diretor de segunda unidade), conhecemos Tobey Marshall (Aaron Paul, de Breaking Bad, bitch), um jovem dono de uma oficina de customização de automóveis no interior do estado de Nova York.
Além de ser um ótimo mecânico, Tobey também é um piloto talentoso, que complementa seus ganhos na oficina com corridas de rua.
Após uma dessas corridas, Tobey recebe a visita de seu antigo rival Dino Brewster (Dominic Cooper).
Dino fez fortuna pilotando na Indy e em outras ligas profissionais, e hoje é noivo de Anita (Dakota Johnson), ex-namorada de Tobey, com quem vive em Manhattan. A despeito das animosidades entre os dois, Dino reconhece que Tobey e sua equipe são os melhores customizadores de automóveis, e lhes oferece a possibilidade de concluir o trabalho de restauração de um Ford Mustang que estava sendo trabalhado pelo legendário designer Carroll Shelby, que morreu sem concluir o projeto.
Dino oferece a Tobey e sua equipe 25% do valor do carro, estimado em 2 milhões de dólares. A contrag0osto, mas ameaçado por dívidas, Tobey aceita o projeto, e conclui a restauração do carro, que acaba sendo vendido acima do valor estimado por Dino. Entretanto, após a conclusão do negócio, Dino e Tobey discutem, e apostam o valor integral da venda em uma corrida de rua com carros idênticos, os velocíssimos Koenigsegg Agera de seu tio.
Havendo três carros, o membro mais jovem da equipe de Tobey, Pete (Harrison Gilbertson), pede para participar.
Durante a corrida, enquanto Tobey lidera, Pete e Dino lutam pelo segundo lugar, até Dino desviar o carro de Pete, que gira, capota, e despenca da ponte, causando sua morte.
Dino desaparece após o acidente, e Tobey, tentando resgatar o amigo, é preso, e cumpre dois anos por homicídio culposo.
Ao sair da prisão, ele tem apenas uma coisa em mente:
Provar sua inocência, e se vingar de Dino. Para isso, planeja participar da legendária corrida conhecida como DeLeon, organizada pelo excêntrico Monarch (Michael Keaton, surtado como em Os Fantasmas se Divertem), para isso, porém, ele precisa cruzar o país violando sua condicional, e de um carro veloz, como o Mustang de Carrol Shelby, para as duas coisas ele precisará do apoio de sua equipe, e da ajuda da especialista em carros Julia Maddon (A delicinha Imogen Poots).
E quer saber? Não sei se era por ter as expectativas abaixo de zero, mas eu gostei de Need for Speed - O Filme. Diria, inclusive, que é de longe, a melhor adaptação de um videogame para o cinema. De longe.
Lógico que não é um grande filme, é repleto de defeitos que vão das sequências de ação nonsense à má qualidade das sequências dramáticas, mas, que diabos, é um filme de corridas de carros baseado em um videogame... Eu consegui me envolver com o drama do protagonista, achei a mocinha adorável com seu sotaque britânico excessivo, e desprezei o vilão, torcendo para que ele fosse pego. Se as sequências de corrida não chegam a ser brilhantemente filmadas (há um óbvio excesso de cortes que tira um pouco do tesão da velocidade), os carros são magníficos, e mesmo a insistência com o Shelby mustang, é justificável, afinal, é um puta carro, especialmente a versão vermelha que aparece no final.
Em suma? Eu gostei. Acho que limpa o chão com qualquer um dos Velozes & Furiosos (uma franquia cada vez mais afundada no pastiche.), faz justiça ao game e diverte. Quer gulty pleasure melhor que isso?
Alugue e divirta-se.

"-Pilotos devem correr. Tiras devem comer rosquinhas."

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Resenha DVD: Operação Invasão 2


Quem não viu o primeiro Operação Invasão, bom sujeito não é.
Estamos falando de uma das melhores fitas de ação e artes marciais dos anos recentes. O longa dirigido pelo galês Gareth Evans mostrava uma operação de invasão (dã) da polícia de Jacarta a um edifício que servia de covil a traficantes de drogas. Descobertos pelos bandidos e traídos por seu superior corrupto, o tenente Wahyu, todo o esquadrão era massacrado, á exceção do policial Rama (Iko Uwais), que carregando o colega Bowo gravemente ferido, resolvia partir contra os criminosos até alcançar o chefão do crime Tama, uma tarefa indigesta à medida que, entre o policial e seu alvo, havia dúzias de criminosos armados até os dentes, incluindo aí o psicopata marcial Mad Dog.
Baita filme. Operação Invasão foi um tremendo sucesso entre fãs de longas de artes marciais, e graças ao boca-a-boca dos sortudos que viram o filme, ganhou o merecido reconhecimento que fez com que a sequência se tornasse particularmente esperada pelos fãs do estilo.
Novamente escrito e dirigido por Gareth Evans, Operação Invasão 2 começa imediatamente após o desfecho do primeiro longa.
Rama está frente a frente com o policial Bunawar, seu colega ferido, Bowo, e o tenente corrupto Wahyu. Após encaminhar Bowo para o hospital, e Wahyu para o necrotério, Bunawar faz uma proposta a Rama.
Seu triunfo contra Tama e seus homens, foi pequeno comparado ao grande trabalho de eliminar o crime de Jacarta, mas notável o suficiente para fazer com que Rama entrasse no radar dos sindicatos do crime, repletos de policiais e políticos corruptos e muito acima de Tama e seus homens.
Bunawar faz parte de uma pequena força-tarefa disposta a tudo para derrubar esses homens. Os verdadeiros chefões do crime da Indonésia.
Ele faz uma proposta a Rama:
O grupo de Bunawar pode garantir a segurança da esposa e do filho do policial, mas ele terá que se infiltrar na organização do perigoso Bangun, um dos cabeças do crime organizado local com laços profundos com policiais sujos como o comissário Reza.
Para se infiltrar nesse grupo, Rama precisa abandonar sua identidade como policial, e sua família. Ser preso como um delinquente, e fazer amizade com o filho de Bangun, Uco, também encarcerado.
Reticente no princípio, Rama acaba se convencendo da necessidade de proteger sua família, e aceita a missão.
Após dois anos preso, Rama, agora atendendo pela alcunha de Yuda, se tornou amigo de Uco, e é acolhido na organização criminosa de Bangun, o lançando nas entranhas do mundo do crime de Jacarta, onde a corrupção, a violência e a traição estão em toda a parte, um mundo difícil de se adentrar, e quiçá impossível de abandonar com vida!
Muito mais preocupado com trama e desenvolvimento de personagens do que o primeiro filme, Operação Invasão surpreende pelo andamento muito mais cadenciada, que abre mão da ação vertiginosa e quase ininterrupta do antecessor por uma intricada rede de intrigas e trairagens entrecortada por uma sequência de ação aqui e ali até o adrenalínico final.
Gareth Evans mantém o bom toque pra tensão e porradaria do primeiro filme, mas também abre o leque. Embora as atuações do longa sigam o modelo oriental, muito mais teatral e cheio de caras e bocas do que estamos acostumados, alguns atores conseguem se destacar como Arifin Putra, intérprete de Uco, mas ninguém estraga o filme por não saber atuar, mesmo Yayan Ruhian (intérprete de Mad Dog no primeiro filme, que retorna na sequência em outro papel) se esforça para dar estofo ao seu personagem.
Eu sei, a qualidade das atuações pode parecer irrelevante em um filme de ação indonésio, mas não se engane. Como eu disse antes, Operação Invasão 2 é muito mais cadenciado do que o filme original, se estendendo por duas horas e meia que não são porrada do início ao fim, então, não faz mal nenhum que os atores ao menos saibam quem seus personagens são. Por sorte Gareth Evans já tinha mostrado que consegue fazer isso no primeiro filme, quando, em menos de dez minutos, com mínimo diálogo, já havia estabelecido a identidade de seus heróis e vilões, e se alguns deles eram cartunescos então (Rama, Andi, Tama e Mad Dog eram todos personagens arquetípicos), continuam sendo agora, alguns até mais (como Alícia Hammer Girl, o Homem com o Bastão de Beisebol, Bangun, Uco, Eka e Prakoso, novo personagem de Ruhian), mas isso não importa, nem tira o brilho do longa, que se equilibra entre a trama do tira disfarçado evocando Os Infiltrados, e a ultra violência de uma fita de artes marciais. Se o durante do filme, vez que outra faz a audiência duvidar que está, de fato, vendo uma sequência do primeiro The Raid, o final do longa metragem, regado com sangue, martelos, bastões de beisebol, facas karambit e pancak silat pra tudo que é lado deixa absolutamente claro qual é a linhagem dessa segunda parte.
Alugue e divirta-se, vale horrores a pena.
E que venha Operação Invasão 3.

"-Não... Pra mim, chega."

Resenha Cinema: Sob a Pele


Quem leu a premissa de Sob a Pele, filme de alienígena comedora de gente disfarçada de mulher-sonho-de-consumo-de-qualquer-homem-em-idade-reprodutiva-ou-não, certamente teve lembranças de A Experiência e Garota Infernal, pra ficar nas mais óbvias evocações de o que seria um filme com essa premissa estrelada por Scarlett Johansson, que está na lista de top-10 mulheres gostosas do cinema de qualquer homem (certamente está na minha).
Curiosamente o diretor Jonathan Glazer (do bom Sexy Beast e do péssimo Reencarnação) foi na contramão de tudo o que era óbvio na hora de adaptar o livro de mesmo título escrito por Michael Faber em 2001.
Sob a Pele começa com a construção da pele da alien sem nome de Johansson enquanto ela fala palavras em ordem alfabética para a criação de sua voz. Imediatamente após, vemos seu ajudante (o ex-piloto de corridas Jeremy McWilliams) arrancar uma mulher morta do meio do mato, e colocá-la nos fundos de uma van.
Lá, Scarlett, em sua gloriosa nudez de mulher de verdade, despe a defunta, e rouba suas roupas. Dali, ela faz uma parada em um shopping, compra um casaco e maquiagem, e inicia sua caçada, parando desconhecidos a pretexto de pedir informações, apenas para seduzi-los, e levá-los a seu abatedouro, onde eles são transformados em alimento.
O trabalho da alienígena operária vai bem, com sua beleza, sua vozinha rouca, e seus generosos atributos físicos, até mesmo sem querer ela obtém comida, entretanto, um encontro com uma vítima, acende uma fagulha de questionamento na caçadora, e ela começa a desenvolver empatia e compaixão por sua presa, a levando a uma fuga e a uma jornada para tentar se descobrir.
OK... Eu gosto de cinema... De cinemão espetaculoso, mesmo. Vingadores, O Homem de Aço, O Hobbit... Mas também sou capaz de curtir cinema mais autoral, me agrada a ideia de tentar desvendar um filme, ou de ver um filme que te obriga a pensar para acompanhar o que está acontecendo ao invés de mastigar a trama e regurgitar pra audiência.
Talvez com Sob a Pele, essa fosse a intenção de Glazer.
Criar um filme onde não há exposição excessiva, onde não há mocinhos ou bandidos, nem explosões, correria e perseguições, ou mesmo romances com final feliz.
Sob certa ótica ele consegue.
Não há nada hiper exposto em Sob a Pele. Nem sequer exposto, pra falar a verdade. Deduzimos que a personagem sem nome de Scarlett é uma alienígena pela abertura do filme e pelo pôster estrelado. Supomos que ela se alimenta dos homens, ou que ela alimenta alguém por causa de duas cenas que sugerem isso. Apenas sugerem.
Podemos deduzir que ela tem um tipo de supervisor... E podemos apenas supôr que a personagem central está fugindo dele quando se cansa de levar homens para a casa da sala negra...
Nada disso é explicado. Com cerca de uma hora e meia, há pouquíssimos diálogos em Sob a Pele, reduzidos à conversa fiada que a protagonista utiliza para seduzir suas presas. E se de certa forma é instigante que a primeira metade do filme, enquanto Scarlett caça, seja assim, despida de conversas e explicações (quem é que estaria interessado em mais uma mitologia besta de aliens comedores de gente? Podemos passar sem), a segunda metade, quando ela se rebela contra sua função, chegando a ser acolhida por um terráqueo, poderia e até deveria ter mais diálogos.
Mas não tem.
Tudo recai sobre as imagens.
As cenas são lentas, silenciosas, reduzidas ao som ambiente, à trilha sonora minimalista, ou entrecortadas por falas breves, tomadas contemplativas, e a criação muda de uma atmosfera muito mais agourenta e maçante do que amedrontadora.
Scarlett Johansson, único nome reconhecível do elenco, faz o que pode em um papel sem muito texto nem espectro emocional, sua função é ser atraente em algumas cenas e parecer perdida em outras, ela se esforça mas a verdade é que não salvaria Sob a Pele nem que passasse o filme todo pelada (tá... Talvez salvasse, vá...).
Em seu admirável esforço autoral para criar um retrato de uma humanidade falha, que passa cega às belezas da vida sem assumir o papel de vilão ou herói de sua própria história, Glazer e o roteirista Walter Campbell criaram um filme lento, que parece mais interessado em abrir brechas para a audiência ter ideias, do que em apresentar e desenvolver qualquer ideia própria.
Pra piorar, toda a trama arrastada e simbólica, se estende em sua marcha lenta sem oferecer nada de realmente relevante, e quando termina, o faz em um encerramento algo abrupto que não oferece desfecho à "não" história que acompanhamos nos noventa minutos anteriores.
Uma pena.
Até seria interessante assistir a um filme de alien sedutora devoradora de homens que almejasse mais. Sob a Pele, porém, não é esse filme.
Assista quando sair em DVD se quiser muito ver a Scarlett nua. É, no final das contas, o ponto alto do filme.

"-Você quer me tocar?"

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Resenha Cinema: Transcendence - A Revolução


É até surpreendente a quantidade de nomes e rostos reconhecíveis que Martin Pfister angariou para o elenco de seu debute na cadeira de diretor cinematográfico.
Lá estão Johnny Depp, Paul Bettany, Morgan Freeman, Rebecca Hall, Cillian Murphy (esses três últimos egressos de filmes de Christopher Nolan, com quem Pfister trabalhou por anos como diretor de fotografia), além de Kate Mara, Clifton Collins Jr. e Cole Hauser. Esse time nada desprezível se juntou ao cineasta para transformar em filme o roteiro do novato Jack Plagen sobre o cientista Will Caster (Depp), um dos maiores nomes da tecnologia de inteligência artificial, que após um atentado engendrado por um grupo terrorista tecnofóbico, vê-se as portas da morte.
Com um mês de vida pela frente, a esposa de Will, Evelyn, pede ajuda ao melhor amigo do casal, Max (Bettany), para escanear a mente do visionário moribundo, e fazer o upload dela em um poderoso computador, onde ele poderá viver indefinidamente como a primeira inteligência artificial verdadeiramente autônoma da história da humanidade!
Max e Evelyn sucedem em seu intento, e pouco após a morte de Caster, ele ressurge nas telas do computador onde sua consciência foi instalada.
De imediato, Will pede para ser ligado à internet, pois sua consciência expandida lhe permitirá realizar em pouco tempo os mais fantásticos avanços que a ciência jamais viu.
Conforme a sede de conhecimento e poder de Will cresce conforme sua mente evolui para uma entidade onipresente, os piores temores de Max e Evelyn parecem se concretizar a medida em que a única certeza para o evento que eles testemunham é o que pode não haver forma de detê-lo!
É visível a inexperiência de Pfister em Transcendence - A Revolução. Fica muito óbvia a falta de malandragem e traquejo do comandante do projeto para aparar as arestas que estão em toda a parte na fita. O roteiro de Plagen não ajuda. Além de não ser exatamente original, é repleto de uma qualidade meio pretensiosa, se achando mais esperto e relevante do que de fato é.
Não bastasse isso, de pouco vale ter um elenco conhecido e talentoso quando os atores são mal utilizados.
Johnny Depp está intragável no papel do cientista que vira computador, revivendo os maus momentos que parecem ter virado regra na filmografia recente do ator transformado em astro por Jack Sparrow, que tem usado sua influência e status para projetos cada vez piores.
Rebecca Hall, a feia mais gatinha de Hollywood também já viu dias melhores. Morgan Freeman e Cillian Murphy fazem figuração de luxo, só com caras e bocas, e Kate Mara, cuja única qualidade é ser bonitinha, está esquisita com um cabelo descolorido medonho. Se salva Paul Bettany, aparentemente o único ator do elenco que comprou a ideia do roteiro (também premiado por ter o único papel vagamente interessante), tentando atuar sempre que a oportunidade se apresenta, mas nada que salve Transcendence - A Revolução do naufrágio cataclísmico que ele efetivamente se torna.
É uma pena, mas ao menos serve de lição, para que, no futuro, Plagen e Pfister se toquem que para ser inteligente, um filme não precisa ser pedante.
Assista na TV a cabo, ou por curiosidade mórbida.

"-O que você está fazendo, Will? Nãos não podemos lutar com eles.
-Nós não vamos lutar com eles. Vamos transcendê-los."

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Resenha Cinema: Transformers - A Era da Extinção


Transformers era um bom filme. Falando sério. O primeiro filme, de 2007, dirigido por Michael Bay e produzido por Steven Spielberg era um sci-fi muito competente. Era honesto, divertido, despretensioso e movimentado. Não se pode exigir muito mais de uma fita de ação estrelada por robôs gigantes que foram criados com o único e exclusivo propósito de vender brinquedos.
O filme era bom sim. E foi tão bem de bilheteria que, em 2009, ganhou uma sequência. O irregular Transformers - A Vingança dos Fallen, que nem de longe era tão maneiro quanto o primeiro, mas continuava engraçado, tinha ótimas lutas de robôs gigantes e, claro, a Megan Fox de shortinho em cima da motocicleta, uma imagem que, sozinha, valia um ingresso, ou pelo menos um pôster.
O terceiro filme, deu uma descambada, novamente dirigido por Michael Bay e estrelado por Shia LaBeuf, saiu Megan Fox e entrou Rosie Huntington-Whiteley numa trama sem pé e nem cabeça. Os momentos genuinamente engraçados eram poucos, a trama totalmente sem sentido e, após dois filmes, mesmo as lutas entre robôs gigantes e robôs abissais abraçados em edifícios já não impressionavam tanto.
Ao final da "trilogia", ficava a impressão de que, se Transformers havia feito alguma coisa de bom pelo cinema além de mostrar Megan Fox correndo em câmera lenta, as lutas brutais entre Optimus Prime e qualquer Decepticon, e garantir que Gillermo Del Toro obtivesse recursos para realizar Círculo de Fogo, ninguém ficou sabendo.
Ainda assim, o terceiro filme era uma produção cinematográfica que faturara mais de um bilhão de dólares em bilheterias, de modo que era virtualmente impossível manter essa máquina de fazer dinheiro longe dos cinemas.
E lá estavam novamente Michael Bay, papa dos filmes de ação sem cérebro e o roteirista Ehren Krugger, egresso do segundo e terceiro filmes da franquia para criar mais uma aventura de Autobots e Decepticons.
Transformers - A Era da Extinção se passa três anos após os eventos do terceiro filme, quando a guerra entre Autobots e Decepticons devastou Chicago.
O governo dos EUA pede que qualquer atividade alienígena seja relatada imediatamente, e um braço da CIA criou uma força-tarefa encarregada unicamente de caçar e destruir o povo de Cybertron, não importa se são vilões ou mocinhos.
Essa força tarefa é encabeçada por Harold Attinger (Kelsey Grammer), ex-superintendente da CIA que, ao lado do industrial Joshua Joyce (Stanley Tucci, interpretando uma cópia de Steve Jobs), planeja usar o código genético dos Transformers para produzir, a partir de um material chamado Transformium (é, eu sei...), seu próprio exército de robôs transmorfos.
Ao mesmo tempo, o engenheiro mecânico e inventor fracassado Cade Yeager (Mark Wahlberg), tentando conseguir dinheiro para garantir a faculdade de sua filha Tessa (Nikola Peltz, gostosinha e insossa), compra e reforma sucata.
Em uma de suas negociatas em um antigo cinema por fechar, ele compra um caminhão parcialmente destruído. Ao examiná-lo, descobre tratar-se (claro) de um Transformer, e não qualquer Transformer, Optimus Prime em pessoa!
Cade ajuda Optimus, mas acaba na mira dos homens de Attinger, que invadem sua casa e ameaçam sua filha, salvos por Optimus, Cade, Tessa e seu namorado secreto Shane (Jack Reynor) ficam na mira do governo dos EUA, e agora precisam descobrir por que os Transformers estão sendo caçados pelos humanos, e por que o misterioso Lockdown, o caçador de recompensas intergaláctico, está garantindo que tenham sucesso!
Bem...
Em pelo menos duas ocasiões do filme, o personagem de Wahlberg diz que espera que alguém olhe pro lixo e veja um tesouro. Talvez seja o mote de Michael Bay e Ehren Krugger e sua esperança quando as pessoas assistem Transformers - A Era da Extinção.
Porque o filme é lixo.
Não é o pior longa metragem de todos os tempos, mas o quarto filme da série é apenas uma coleção de explosões, lutas e perseguições automobilísticas que simplesmente não fazem sentido a menos que tu esteja assistindo ao filme em uma tela com doze andares de altura e um quilômetro de largura. É informação visual demais na tela, e pior, informação inútil, já que a trama é rasa feito um pires e frágil que nem casca de ovo.
Os personagens são bobos no sentido de serem mal-construídos ou bobos porque só fazem bobagem, e nem mesmo os reforços de peso na bublagem (John Goodman dá voz a Hound, um robô gordo e barbudo que fuma charutos de metal, e Ken Watanabe dubla Drift, um robô samurai) servem pra alguma coisa no meio da tempestade de explosões, tiroteios, carros arremessados pelo ar e dinossauros robôs cuspidores de fogo.
Com todos os ingredientes dos filmes de Michael Bay, da luz alaranjada que sempre faz parecer que está amanhecendo ou anoitecendo às tomadas com a câmera rodopiando ao redor dos personagens, Transformers - A Era da Extinção é descartável e megalomaníaco como todo o resto do cinema do diretor, mas já perdeu o impacto e a relevância que faziam a série valer a ida ao cinema.
Espere sair em DVD, e enquanto isso assista de novo a qualquer outro filme da franquia. Dá na mesma.

"-Adolescentes...
-Eu passei pela mesma coisa com Bumblebee."

terça-feira, 15 de julho de 2014

Rapidinhas do Capita


Sabe aquelas bobagens que fazem neguinho perder a vontade de ler quadrinhos? Essas coisas tipo Novos 52, Saga do Clone, Homem-Aranha Superior e tal?
Como não poderia deixar de ser, mais uma surgiu.
A pataquada da vez é da Marvel. A editora divulgou que, em sua nova fase, Thor, o Deus do Trovão, será uma mulher.
É.
O Thor, vai ser uma mulher.
E antes que tu te pergute se é uma parceira ou versão feminina, estilo Mulher-Aranha ou Batgirl, reproduzo as palavras de Ryan Penagos, diretor executivo de editorial da Marvel Digital (que porra de cargo é esse...):
"Essa não é a Mulher-Thor. Essa não é Lady Thor. Essa não é Thorita. Essa é Thor."
Então, em sua nova fase nos quadrinhos (escritos por Jason Aaron e ilustrada por Russel Dauterman), Thor seguirá o caminho de Loki (durante a fase escrita por J. Michael Strakzinsky) e experimentará uma fase transgênero.
E depois me perguntam porque eu só leio encadernados de quadrinhos antigos...

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Um dos personagens mais maneiros da quarta temporada de Game of Thrones pode ter ganhado sua herdeira no quinto ano da série.
Explico, segundo o jornal neo-zelandês New Zealand Herald, Keisha Castle-Hughes, de A Encantadora de Baleias, teria sido escalada para o papel de uma das bastardas de Oberyn Martell (Pedro Pascal).
Nos livros, as filhas de Oberyn são oito, e atendem pela alcunha de Serpentes da Areia, um grupo de mulheres fortes e cascudas que causam uma dor de cabeça danada ao princípe Doran, irmão mais velho de Oberyn.
O papel de Keisha Castle-Hughes seria o de Nymeria Sand.
Apesar de serem oito, nos livros, apenas três Serpentes da Areia devem aparecer na série.
Por enquanto trate essa informação como mera especulação, não muito melhor do que a notícia que dizia que Selton Mello seria Doran Martell.

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Feliz dia do homem, rapeize. Honrem suas bolas.

Top 10 Casa do Capita: Games Baseados em Filmes

Conversava com um amigo meu a respeito da má qualidade dos filmes baseados em videogames. Após relembrarmos pérolas como Street Fighter com Jean Claude Van Damme, Super Mario Bros. com Bob Hoskins e John Leguizamo, e a longeva série Resident Evil, com Milla Jovovich, acabei ficando na cabeça com as obras que fizeram o caminho inverso, e migraram do cinema aos consoles.
Analisando friamente, a verdade é que há o mesmo déficit de qualidade por ambas as vias. Seja dos games pras telonas, ou vice e versa, a combinação entre games e filmes raramente valem a mídia em que são armazenados. Há inclusive quem diga que o pior game jamais feito é uma adaptação do filme E.T. - O Extraterrestre para o Atari 3600, que de tão ruim, teve suas cópias enterradas em um canto remoto do Novo México nos anos 80. Mas nem precisa ir tão longe. De Homem de Ferro a Lanterna Verde, passando por A Ilha da Garganta Cortada, Missão: Impossível e Piratas do Caribe, esses tenebrosos caça-niqueis que abrem mão do desenvolvimento para tentar faturar um trocado à custa de um grande (ou nem tanto) lançamento cinematográfico lotam as prateleiras das lojas de games a cada temporada, de modo que, muito mais difícil do que elencar os fracassos, é tentar encontrar dez deles que valham a jogatina.
Foi com isso em mente que surgiu mais um infame top-10 Casa do Capita, dedicado aos melhores games baseados em filmes.
A ele:

10 - Star Wars - Shadows of the Empire (LucasArts, 1996)


Muita gente pode torcer o nariz para esse game lançado no distante ano de 1996 para computadores e Nintendo 64, mas eu, francamente, sou incapaz de entender por quê.
Em Shadows of the Empire o jogador encarnava Dash Rendar, um contrabandista amigo de Han Solo que desempenhava um importante papel em eventos ocultos da saga entre os episódios V e VI, quando o príncipe Xizor tentava assumir a posição de Darth Vader ao lado do imperador Palpatine.
Shadows of the Empire tinha uma jogabilidade mista muito bacana, permitindo que o player experimentasse um jogo de tiro em terceira pessoa, corridas de speeder bike e combate aéreo e espacial. A atmosfera era excelente, os gráficos estavam na média da época, e os controles, mesmo com o joystick jumbo do N64, não eram nenhum pesadelo. Com uma história bem amarrada e cheia de referências à trilogia clássica, um protagonista cativante e uma engenharia de fases esperta, que obrigava o jogador a estar ligado com seus pontos de vida e munição, o game tem um lugar de destaque entre os games que nasceram de filmes, e um lugar carinhoso na coleção dos fãs da saga espacial mais amada do universo.

9 - X-Men Origins - Wolverine (Raven Software, Activision, 2009)


Quer experiência mais satisfatória pra um nerd do que liberar a fúria do Wolverine retalhando, surrando, desmembrando e eviscerando a bandidagem enquanto sofre danos absurdos sendo imolado até o seu esqueleto de adamantium apenas para parar alguns segundos e então ver sua carne crescendo de volta apenas o suficiente para começar a massacrar a próxima leva de inimigos?
Era exatamente o que X-Men Origins - Wolverine Uncaged, game baseado no horroroso filme de 2008 oferecia.
Apesar de se basear livremente no odioso filme solo do mutante canadense, o game se aprofundava sem vergonha no universo dos quadrinhos dando a oportunidade de enfrentar monstros de lava gigantes, criaturas que entravam em combustão espontânea e até um robô sentinela, tudo isso sem abrir mão do sangue, tripas e gosma que os fãs sempre quiseram ver ao se imaginar no controle do mutante mais perigoso do mundo.

8 - The Lord of The Rings - The Two Towers (Eletronic Arts, 2002)


O game baseado em O Senhor dos Anéis - As Duas Torres, mostrava diversos eventos de A Sociedade do Anel e transitava até o desfecho de As Duas Torres dando ao jogador a oportunidade de encarnar Aragorn, Legolas ou Gimli em um saboroso hack and slash contra as forças de Sauron.
Longe de ser um primor de gráficos, enredo ou mesmo jogabilidade, O Senhor dos Anéis tinha uma cara danada daqueles esmaga-botões divertidíssimos da infância, embalado num dos maiores espetáculos cinematográficos que uma geração inteira pôde presenciar. Eu cheguei a fazer calos dos dedos jogando a versão de Game Cube.


7 - Star Wars - Rogue Squadron II: Rogue Leader (LucasArts, Factor 5, 2001)


Mais um game de Star Wars que fez a alegria de milhares de gamers ao redor do mundo. Se o primeiro game da série Rogue Squadron era um divertido jogo de ação, a segunda incursão da LucasArts pelos cockpits de X-Wings, Snowspeeders e Y-Wings era muito superior em todos os aspectos, incluindo aí os gráficos, que receberam tratamento especial já que o game era uma das jóias do lançamento do Nintendo Game Cube.
Oferecendo ao jogador a oportunidade de tomar o lugar de Wedge Antilles, principal piloto da Aliança Rebelde, ou de Luke Skywalker, dependendo da fase, Rogue Squadron II: Rogue Leader passeava pelas principais batalhas da trilogia clássica com missões por vezes encardidas de proteger ou encontrar e destruir por cenários de encher os olhos ao longo de dez estágios por vezes apinhados de Walkers, Tie-Fighters, turretes e Stormtroopers.
Com dublagem de Dennis Lawson, o Wedge Antilles original, som de primeira, e gráficos top de linha da sua época, Rogue Squadron II: Rogue Leader, é tudo o que um simulador de voo de Star Wars deveria ser.

6 - The Lord of the Rings - The Return of the King (Eletronic Arts, 2003)


The Lord of the Rings - The Two Towers foi um game que fez uma ótima carreira na época de seu lançamento. Aproveitando o hype da trilogia cinematográfica de O Senhor dos Anéis, em um game divertido e simples, a EA viu que podia faturar ainda mais se desse uma caprichada, e, rapaz, como eles capricharam.
The Lord of the Rings - The Return of the King era um jogo superior ao antecessor em todos os aspectos. Dos gráficos, à música, passando pela jogabilidade, tamanho e fator replay, TRotK era muito mais jogo que TTT.
O game foi renderizado com duas vezes mais polígonos do que o antecessor, foi inteiro desenhado tomando por base a arte dos filmes da New Line, era dublado pelos atores da trilogia, tinha a música de Howard Shore, ambientes muito maiores, mais interativos e menos lineares, quantidades absurdas de inimigos, um sistema de aprimoramentos mais elaborado, além de três linhas narrativas para seguir com oito personagens jogáveis abarcando os eventos do terceiro filme desde a batalha do Abismo de Helm.
Só a possibilidade de jogar como Gandalf, um Gandalf virtualmente invencível (se tu fizesse tudo direitinho) defendendo Minas Tirith do ataque inclemente das forças de Mordor já garante uma posição para esse game na lista.

5 - Ghostbusters: The Video Game (Atari, Sony, 2009)


Algumas pessoas continuam querendo ver um terceiro filme dos Caça-Fantasmas, que já era uma aposta de risco mesmo antes da morte de Harold Ramis, um dos roteiristas originais e o Egon Spengler dos filmes.
Eu estou no time de Bill Murray, e acho um terceiro longa totalmente dispensável, tanto pela perda de Ramis, quanto porque já existe uma sequência para Os Caça-Fantasmas 2, e é esse Ghostbusters: The Video Game.
O jogo lançado em 2009 pela Atari e Sony é uma carta de amor a Os Caça-Fantasmas, e tudo o que um eventual terceiro filme poderia sonhar em ser um dia. Todos o elenco original está presente, a história se passa em novembro de 1991, tem participação de Ramis e Dan Aykroid nos roteiros e usa e abusa de efeitos visuais que inexistiam na época dos filmes originais, de modo que faz tudo o que um terceiro filme poderia fazer hoje em dia, mas melhor.
O game, um jogo de tiro em terceira pessoa que troca armas comuns por mochilas aceleradoras e feixes de prótons, acompanha os Caça-Fantasmas após terem se tornado contratados da cidade de Nova York, e, contratando um novo membro (um personagem sem nome, chamado de "novato" pelos demais por sugestão de Peter Venkman, para evitar se apegar demais a ele caso algo aconteça), vendo-se as voltas com uma nova trama que culmina com uma grotesca invasão de fantasmas e espíritos demoníacos na cidade.
Embora tenha lá seus defeitos, Ghostbusters: The Video Game tem gráficos excelentes, música de primeira, vozes dos atores originais e uma história bem amarrada que permite ao player a experiência mais próxima de ser um Caça-Fantasmas. Quer melhor do que isso?

4 - Star Wars - The Force Unleashed (LucasArts, 2008)


Pela primeira vez na história dos consoles, o jogador era um Jedi com a possibilidade de fazer tudo, eu disse TUDO, o que um Jedi pode fazer.
Isso, por si só, já garante posição de destaque a Star Wars - The Force Unleashed, game que acompanhava Galen Marek, codinome Starkiller, filho de um cavaleiro Jedi morto durante o expurgo subsequente à Ordem 66, que era cooptado como um aprendiz por Darth Vader e transformado em um peão para os planos do lorde negro de Sith, até ser traído e fazer o caminho oposto ao de Anakin Skywalker, indo das profundezas do lado sombrio até a redenção como um verdadeiro cavaleiro Jedi a serviço do lado luminoso da Força e da incipiente Aliança Rebelde.
Visualmente muito bonito, com boa música, trabalho de dublagem acima da média e uma história bacana que conseguia ser relevante mesmo em meio à pirotecnia de poderes Jedi levados até o limite e além, The Force Unleashed realizou sonhos e fez a alegria de um monte de guri que sempre quis fugir para uma galáxia bem, em distante, e fazer carreira como Jedi.

3 - Aliens vs Predator 2 (Monolith Productions, Fox Interactive, 2001)


Com gráficos meia-boca e olhe lá, o game permitia ao jogador escolher entre ser um Predador, grande, forte, equipado com armamento de altíssima tecnologia, um xenomorfo alien, sorrateiro, ligeiro, mortal ou criar a experiência mais tensa e assustadora que se podia ter num computador à época:
Jogar a campanha como um colonial marine.
Entenda-se que, ao fazer isso, tu estava assumindo a decisão consciente de ser um humano frágil em meio aos xenomorfos alienígenas de sangue ácido que podiam despencar do teto a qualquer segundo, e os predadores alienígenas armados até os dentes que podiam estar bem atrás de ti com o canhão de plasma no ombro, as lâminas de pulso ou a lança apontada pra tua nuca.
Embora a campanha fosse bastante divertida, o multiplayer com seis modos é que era o grande barato do game. Quem nunca ficou invisível num canto esperando os amigos passarem pra desmontá-los com uma rajada de plasma não sabe o que perdeu...

2 - Goldeneye 007 (Rare, Nintendo, 1997)


Goldeneye 007 fez apenas uma coisa:
Criou o game de tiro em primeira-pessoa como o conhecemos hoje.
Pode parecer exagero, mas não é. O game da Rare lançado para Nintendo 64 foi provavelmente o primeiro jogo de tiro com todas as características que se exigem de um FPS atual.
A variedade de armas e gadgets, cenários e objetivos, o ritmo quase frenético de determinadas fases, o desespero de ver Natalya Fyodorovna Simonova se enfiando no meio do tiroteio enquanto tu tentava proteger uma das mais irritantes personagens de todos os tempos em qualquer videogame, tudo isso, mais um dos primeiros bons multiplayers da história dos consoles, criava uma experiência de jogo única.
O prazer de pegar uma arma em cada mão e tocar o horror nos soldados russos e nos capangas de Janus era um lance sem preço!

1 - Spider-Man 2 (Treyarch, Activision 2004)


O Homem-Aranha já tinha tido alguns bons jogos ao longo dos anos. Spider-Man and Venom vs. Maximum Carnage, para Super NES, Spider-Man para PS1 e Nintendo 64, e até o game do primeiro filme, Spider-Man, que tinha algumas falhas bem irritantes mas não era nenhum horror, funcionavam bem.
Mas foi em 2004 que finalmente foi encontrada "A" fórmula para um game do cabeça de teia: Spider-Man 2, game baseado no filme de mesmo título, entregou o que era, até então, a melhor experiência de ser um super-herói.
Num game sandbox com uma Manhattan e áreas adjacentes de tamanho considerável, cheia de emergências aleatórias que requeriam a intervenção do herói, além de um storyline que seguia e extrapolava os eventos do filme, a Activision e a Treyarch não criaram uma cópia perfeita de Nova York, mas criaram a Nova York perfeita para o Homem-Aranha, cheia de arranha-céus, crimes e super-vilões.
Com gráficos bons, dublagem do elenco original do filme, e um game infinito (após terminar a storyline o jogador podia jogar indefinidamente pela cidade, pois sempre haviam mais crimes ocorrendo), Spider-Man 2 é, para este humilde escriba, o melhor game baseado em um filme.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Resenha Blu-Ray: 300 - A Ascensão do Império


Era muito claro que a Warner queria lucrar mais um pouco com 300, filme baseado na mini-série em quadrinhos de Frank Miller, baseada no filme Os 300 de Esparta, de 1962, de onde, por sinal, vêm as melhores frases de efeito tanto do quadrinho de Miller quanto do filme de Zack Snyder.
300 fez bastante sucesso, era um filme de 65 milhões de dólares todo realizado com tecnologia de previsão do tempo, e faturou mais de 456 milhões de dólares só em bilheterias. Era uma fita de ação bacana e estilosa que não poupava na violência e na nudez, e, a despeito da tensão homoerótica e de não ser um filme que suportava bem uma segunda assistida, encontrou seu lugar no coração dos fãs naquela galeria de filmes de quadrinhos que não são de super-heróis.
Então até que demorou para 300 - A Ascensão do Império, surgir. Parte da demora (o filme original é de 2006) devia-se ao fato de que não havia fonte para um segundo longa. Apenas em 2011 Frank Miller começou a publicar Xerxes, que, por sinal, permanece inconclusa, mas que serve de base para a sequência, novamente co-escrita por Zack Snyder (ao lado de Kurt Johnstad), também produtor do filme, que deixou a direção a cargo de Noam Murro (Que tinha um único longa no currículo, Vivendo e Aprendendo, de 2008).
O longa, poderia se chamar "De 299 a 301", já que se passa antes, durante e depois do original, e mostra a guerra entre Pérsia e Grécia pelo ponto de vista do ex-general ateniense Temístocles (Sullivan Stapleton), o homem que matou o rei Dario (Igal Naor) e acendeu, no coração de Xerxes (novamente Rodrigo Santoro) o ódio pelos gregos.
Auxiliado, e as vezes manipulado, pela bela e vingativa comandante Artemísia (Eva Green, lindona, ponto alto do filme), a mulher responsável por torná-lo um Deus-Rei, Xerxes lança sua ira contra toda a Grécia para vingar a morte de seu pai.
Ante o ataque iminente, Temístocles tenta unir as polis gregas para enfrentar os exércitos persas, mas as diferenças políticas se fazem notar, e Atenas e Esparta lutam isoladas, a primeira no mar, a segunda nos portões de fogo.
Após a derrota de Leônidas e seus homens, e a destruição da maior parte da frota naval ateniense, Xerxes avança rumo a Atenas, obrigando Temístocles a, novamente, pedir ajuda de Esparta e das demais cidades-estado quando os Persas estão destruindo a mais coruscante joia da Grécia.
Mas mesmo se tal reforço vier, será suficiente para suportar a ira das forças infinitas do Rei-Deus?
Horrível.
No comecinho de 300, quando o emissário persa pede a oferta simbólica de terra e água ao rei de Esparta, Leônidas tergiversa dizendo que soube que a mesma proposta fora feita a Atenas e negada. Ele diz que não ficaria bem para Esparta aquiescer ao pedido se "aqueles filósofos e pederastas" negaram.
Bem, 300 - A Ascensão do Império, é uma tentativa de reproduzir o filme anterior com os filósofos pederastas de capa azul no papel de mocinhos. E, claro, não funciona.
O roteiro de Snyder e Johnstad é tenebroso, pueril, mal escrito, cheio de furos, frases vazias e diálogos embaraçosos. Não sei quanto da culpa recai sobre Frank Miller porque não li os números já lançados de Xerxes, mas vendo esse filme e me lembrando de Sucker Punch, me causa um pouco de receio do que pode sair do roteiro de Batman v Superman - Dawn of Justice, a cargo de Snyder e David S. Goyer.
Não bastasse o script péssimo, a direção de Noam Murro não ajuda em absolutamente nada.
O diretor não tem um décimo da boa mão para ação de Snyder, mesmo usando à exaustão os slow motion, fetiche visual do longa anterior, as lutas do filme são vexatórias, o sangue digital jorra aos borbotões de uma maneira quase cômica de tão caricata, e as sequências de batalha são tudo nessa vida, menos épicas.
Pra piorar, existe uma sugestão de romance entre Temístocles e Artemísia que é absolutamente artificial, e resulta numa cena de sexo tão burlesca que chega a causar vergonha alheia e onde só saem com dignidade inabalada os gloriosos peitos de Eva Green.
Do elenco, inclusive, só ela se salva.
Mesmo prejudicada pelo texto primário, ao menos a francesa ganha um background para sua personagem, feita sob medida pra sensualidade malvada da intérprete. Rodrigo Santoro também acaba conseguindo escapar do fiasco, mas mais porque não chega a ter vinte minutos em cena.
Stapleton Sullivan é uma óbvia má escolha para o papel principal, incapaz de emular a macheza camarada de Gerard Butler ele apenas faz caras e bocas enquanto vomita os diálogos vexatórios do escript, assim como seus parceiros Callan Mulvey (que interpreta Scyllias, personagem com um intragável arco dramático de pai e filho) e Hans Matheson, todos claramente deslocados em seus papéis.
Não bastasse apresentar uma porção de personagens ruins, 300 - A Ascensão do Império ainda faz o favor de estragar alguns dos personagens interessantes do filme anterior, Dilios (David Wenham) e a Rainha Gorgo (Lena Headey) fazem figurações que só servem pra contradizer o final do primeiro longa e diluir sua importância numa clara demonstração do que acontece quando se faz uma sequência a qualquer custo de um filme que se encerrava satisfatoriamente em si próprio.
Em suma?
300 - A Ascenção do Império é igual a 300, só que ruim.
Espere sair na TV a cabo. Não vale a locação.

"Eu prefiro morrer livre a viver como um escravo... Mesmo se estivesse acorrentado a você."

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A Brabeza de George R. R. Martin


Em uma entrevista a um jornal suíço, George R. R. Martin, autor dos livros da série As Crônicas do Gelo e Fogo, a fonte para o programa Game of Thrones, da HBO, disse que considera extremamente ofensiva a preocupação dos fãs que acham que ele pode morrer antes de concluir a saga, e disse que os fãs que duvidam da sua capacidade de sobreviver aos livros podem ir "se foder".
Dos prometidos sete livros da série (originalmente imaginada como uma trilogia), Martin publicou cinco, trabalha no sexto, e afirma que podem vir a se tornar oito.
Ora, vamos. Se Ned Stark não sobreviveu UM livro inteiro, como é que nós podemos esperar que o Martin sobreviva a oito?
Eu não quero precisar recorrer à psicografia para saber o que acontece!
Brincadeira, vá...
Tudo bem, George, eu entendo a tua brabeza, é, mesmo indelicado o pessoal ficar aventando a tua morte prematura, mas entenda os fãs...
Se os teus personagens não tivessem se tornado tão queridos aos leitores dos livros e espectadores da série, ninguém ligaria.
O medo e a preocupação ofensivos dos fãs são reflexo da beleza do teu trabalho. Ninguém quer ficar sem saber o que acontece com Tyrion, Arya, Jaime, Davos e Daenerys... Todos nós amamos odiar a Cersei, o Hizdhar Zo Loraq, Gregor Clegane e Robert Strong... Ficar sem saber o que acontece a esses personagens é assustador para todos nós. Mesmo que haja a promessa de que os produtores da série sabem, quem confia neles após terem se distanciado tanto dos livros na última temporada?
Não, George... Não podemos confiar neles. Queremos as tuas palavras em preto no branco das páginas. Queremos os teus capítulos de pontos de vista repletos de uma humanidade quase crua que torna os heróis menos heroicos e os vilões menos vilanescos.
Queremos experimentar a tensão de saber que, na tua Westeros, nada é sagrado, e que mesmo os personagens mais adorados de todos podem morrer. Queremos roer as unhas pensando qual será o próximo Stark a encontrar um fim trágico pela tua pena sangrenta.
Então, perdoe-nos o mau jeito. Não queríamos ofender. Só nos preocupa quando o nosso autor preferido tem 65 anos de idade e corpinho de 75.
Mas se tu diz que consegue, vá lá, eu acredito.
Só apura um pouquinho, e pega leve nas frituras, tá? Não tem porque ficar brincando com a saúde, também...

A Cara da CBF


OK, OK... Sete a um foi meio excessivo, mas o que eu falei dia primeiro de julho ainda vale:
Seria injusto que esse título ficasse com o Brasil.
Essa seleção brasileira montada com cadeiras cativas para Fred e Hulk, com um treinador incapaz de treinar uma jogada além da pressão na saída do adversário, não tinha nem a mais remota chance de vencer uma seleção de ponta.
Se com as presenças de Neymar e Thiago Silva já teria sido extremamente improvável vencer uma Alemanha ou Holanda, sem eles a missão tornou-se impossível.
Basta olhar pra equipe brasileira pra saber que daquele mato não sai coelho.
Quando mesmo o craque do time (Neymar) desaparece em campo enfrentando Chile e Colômbia, quando os expoentes do escrete são a dupla de zaga, quando o outro jogador acima da média do time (Oscar) está sendo marcado pelo próprio treinador, os grandes adversários não têm muito o que temer.
A geração atual é tão fraca que Paulinho, um jogador absolutamente comum, vinha mal e foi substituído por Fernandinho, que ontem era desarmado como se fosse um boneco de gelatina pelo trator alemão Toni Kroos. Com laterais ofensivos que não sabem marcar, volantes fracos, e três jogadores se abstendo totalmente de funções defensivas (Hulk, Fred e Bernard), a defesa brasileira foi patrolada pelo time alemão.
Mesmo David Luiz, um dos poucos a se salvar do violento fiasco que foi a partida de ontem, teve alta parcela de responsabilidade em pelo menos dois gols alemães, o primeiro, de Muller, e o segundo gol marcado por Kroos (Acho, foram tantos que posso estar enganado.).
Mas é importante que fique claro que esse fiasco não é apenas do Luís Felipe Scolari, nem tampouco dos atletas, por piores que sejam. Esse é um fiasco da CBF como um todo.
O órgão gerente do futebol brasileiro, segundo Carlos Alberto Parreira "O Brasil que deu certo", é lixo.
É lixo e não é de hoje.
Comandada por uma dinastia de mafiosos e seus cupinchas desde os tempos de João Havelange, passando por Ricardo Teixeira e desembocando em José Maria Marin, a Confederação Brasileira de Futebol é um circo onde futebol é o que menos importa, contanto que os patrocinadores estejam enchendo seus cofres de dinheiro. Em nome de joguetes de interesses, escolhe-se a comissão técnica, compromete-se a preparação do time, e manda-se tudo longe, contanto que se pague, e o esporte que se exploda. Não é novidade que a CBF é corrupta e está à venda. Quem não lembra do que aconteceu à Portuguesa no ano passado, ou com o Internacional em 2005?
A seleção brasileira que levou 7 x 1 da Alemanha, ontem, é o reflexo da confederação que a organiza, decadente como muitos dos jogadores convocados, ultrapassada como as ideias de seus treinador, e precisando urgentemente de uma faxina como o Brasil em geral.
Que o impiedoso massacre da Alemanha ontem não tenha servido apenas para salvar o Brasil de perder a Copa para a Argentina, mas também pra fazer todos acordarem e perceberem que a CBF é um dos cânceres do futebol brasileiro, e precisa ser extirpado.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Resenha DVD: Nebraska


A imagem de abertura de Nebraska, com Woody Grant (Bruce Dern) andando com dificuldade pelo acostamento de uma rodovia de Montana até ser parado por um policial preocupado com aquele idoso dividindo espaço com os automóveis poderia ser uma carta de intenções e tanto do que se trata o filme de Alexander Payne (o rei dos road movies por trás de As Confissões de Schmidt, Sideways e Os Descendentes).
Naquela tomada, na dificuldade de Woody para andar, em sua dificuldade para respirar, na sua forma lacônica de responder com gestos óbvios aos questionamentos do policial que o interpela, existe uma decadência quase palpável.
O cenário urbano, a decrepitude do corpo de Woody em sua dificuldade para andar e de sua mente em sua incapacidade de ser claro com relação ao que quer (ou não quer) expressar... Tudo serviria para evocar um determinado tipo de aura, e apresentar um certo tipo de filme.
Mas não tema.
Há mais em Nebraska do que decrepitude e decadência.
Woody é um veterano da guerra da Coréia, mecânico aposentado que vive em Billings, Montana com sua esposa Kate (June Squibb), aparentemente apenas esperando que a demência o consuma.
Os sinais de demência começam a parecer mais fortes conforme Woody começa a fugir de casa, obrigando seu filho David (Will Forte, do Saturday Night Live) a sair do trabalho para procurá-lo nas ruas, ou apanhá-lo na delegacia.
Woody, porém, sabe pra onde quer ir.
Após receber uma carta de uma empresa de marketing oferecendo assinaturas de revista e a promessa de um prêmio de um milhão de dólares, Woody encasqueta de viajar até Lincoln, Nebraska, para apanhar, em pessoa, seu prêmio.
Sem que Kate ou seu filho mais velho, Ross (Bob Odenkirk, de Breaking Bad), consigam demovê-lo da ideia e convecê-lo de que se trata de um obvio golpe, David decide levar o pai a Lincoln, tanto para fazer sua vontade quanto para passar algum tempo com o velho e, por que, não? Se afastar um pouco dos próprios problemas.
David acabou de terminar um relacionamento de dois anos, trabalha como vendedor em uma loja de aparelhos de som e está entrando em uma crise de meia idade. Passar alguns dias na estrada com seu pai não parece uma ideia horrível.
A caminho de Lincoln, os dois acabam passando um final de semana na cidade natal de Woody, Hawthorne, onde sua chegada resulta em uma inesperada reunião de família e reencontros com velhos amigos como Ed Pegram (Stacy Keach).
A notícia de que ele se tornou "um milionário" porém, corre ligeira pela cidade, parecendo despertar o que há de pior em todos, mas, ao mesmo tempo, a viagem serve para David aprender um pouco mais sobre seu pai, e vê-lo além do alcoólatra de poucas palavras, encontrando na cidade natal de Woody uma insuspeita história de vida de um homem que sofreu na guerra, teve uma vida amorosa conturbada, e era reconhecido pela generosidade e ingenuidade, dessa forma, contrariando a impressão gerada por aquela imagem inicial, Nebraska deixa de ser a respeito de decrepitude ou decadência, ou mesmo a tristeza do delírio de fortuna do personagem central, mas sim uma bela história sobre sua vida oculta, seu passado e a surpresa de seu filho ao descobri-la.
Com um trabalho excepcional de Bruce Dern, demolidor como Woody, transitando entre o velho frágil, o rabugento e o aéreo com segurança, além dele, June Squibb está ótima como sua desbocada e enfurecida esposa, Kate, roubando a cena em várias ocasiões.
Forte e Odenkirk também vão bem, e Stacy Keach já entrou pro rol da fama dos sujeitos nojentos.
A direção de Payne é segura e tranquila, mesmo dirigindo um script que não foi escrito por ele (mas por Bob Nelson), algo raro em sua carreira, o cineasta está em seu ambiente com velhos solitários e adultos maduros passando por momentos de desilusão e solidão, e a linda fotografia em preto e branco de Phedon Papamichael é um bônus maneiro, emprestando estilo à paisagem monótona e feia de uma América tão decrépita e judiada quanto seus protagonistas.
Entre direção segura, bom roteiro, história tocante, bela fotografia e ótimo trabalho de elenco, não há muito que se dizer:
Assista Nebraska. Vale muito a pena.

"-Como foi que você e a mamãe acabaram se casando?
-Ela queria.
-E você, não?
-Eu pensei, pro inferno...
-E você alguma vez se arrependeu de ter casado com ela?
-O tempo todo."

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Novo(?) Traje do Superman


Viram a foto nova do Superman em Batman v Superman - Dawn of Justice?
Não?
Não perderam muita coisa. Seguindo o exemplo dos filmes do Homem-Aranha de Sam Raimi o traje é praticamente igual ao usado por Henry Cavill em O Homem de Aço, com sensíveis alterações que só podem ser percebidas com muita atenção, ou sendo um nerd muito cri-cri (o meu caso).
As poucas diferenças incluem um design diferente nos braceletes, na fivela flutuante do cinto, nas placas abaixo das costelas e nas botas.
Um escudo peitoral que parece um pouco menor, com um detalhe em corte no centro do "S" (não é um "S") e uma gola levemente mais fechada, além de um cabelo menos amplo na cabeça do herói.
Eu, particularmente gostei de não criarem um novo traje pro herói, a roupa do Superman é icônica, não funcional, é a herança de seu planeta natal, não haveria porque ela ficar mudando de um filme pro outro (já foi ruim o suficiente o traje não ter vindo na sua nave, mas sim ter sido encontrado em uma espaçonave exploratória qualquer).
Faz sentido que Batman e Homem de Ferro troquem de uniforme o tempo todo, afinal, seus trajes são feitos para desempenhar tarefas, de modo que sempre podem passar por um upgrade ou receber novas características, o do Superman não precisa disso.
Ponto pro Snyder, e vamos torcer pra que o traje da Mulher-"Magravilha" seja igualmente bem sacado, e que a Gal Gadot não pareça a Olívia Palito dentro dele...

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Quem Vê Cara...


Quem via os dois na rua, ele grandalhão, tímido, andando de mãos dadas com ela, bonita e cheia de uma doçura quase ingênua, por vezes ingênua de fato, os tomava quase de imediato por um casalzinho de nerds evangélicos daqueles bem sem-graça.
Quando os dois falavam do que faziam juntos, as pessoas os olhavam dando aquela tradicional quebrada de pescoço que é um sinal de admiração pela fofura, por vezes seguida do "óóóóóin", que pra muita gente escapa quase ao natural.
Era um tal de "Ele me busca no trabalho e a gente volta pra casa de mãos dadas" pra cá, "Eu pego ela na casa dela, a gente janta e vai ao cinema pra lá.", "A gente assiste desenho animado domingo à tardinha" daqui, "A gente joga RPG sábado de noite" dali... Tudo tão baunilha, tão engraçadinho, tão nerdinho... Que as pessoas olhavam pros dois com certa condescendência. Alguma piedade por um casal tão sem graça.
O que ninguém imaginava é que eles chegavam do cinema, começavam a se malhar vigorosamente, com ambos percorrendo o corpo um do outro com beijos e carícias, e ele pedia pra ela ficar de sapatos durante o sexo, ela sorria maliciosa e tirava a roupa bem devagarinho na frente dele, peça por peça, até que sobrassem apenas a calcinha e os sapatos, algum escarpim preto brilhante salto quinze.
Ele resfolegava quase num rosnado, a tomando pra si com força, beijando-a com sofreguidão e mordendo-lhe o lábio inferior enquanto ela o ajudava a se livrar de suas roupas fazendo particular alarido ao manusear a fivela do seu cinto.
O ato se dava sem que ele houvesse conseguido remover toda a sua roupa e com ela ainda de calcinha, a peça íntima apenas afastada para o lado enquanto ela o recebia em si.
Experimentavam posições diversas por mais de duas horas, e terminavam com ele ajoelhado diante dela, deitada sobre as costas, com os pés apoiados em seu peito, o salto agulha a ferir-lhe a pele enquanto ele arremetia de maneira incansável para dentro dela, descabelada, suada, com os olhos manchados de rímel e um sorriso selvagem no rosto, gemendo alto até ambos chegarem juntos ao clímax.
Aí, eles ficavam deitados lado a lado, fazendo carícias no rosto um do outro, ela rindo muito, ele falando muita bobagem, até resolverem tomar banho e ir dormir.
E ninguém nunca ficaria sabendo, porque o que eles faziam entre quatro paredes era da conta só dos dois, e se o resto do mundo quisesse continuar os vendo como um par de bobões, azar do mundo.
Eles não estavam nem aí pro resto da humanidade.
Só ligavam um pro outro.

Resenha DVD: O Grande Herói


Não há grande surpresa em assistir a um filme cujo título original (Lone Survivor) entrega o desfecho da história. Obviamente essa não é a preocupação do diretor/roteirista Peter Berg com seu filme, que abre com o protagonista Marcus Luttrell (Um esforçado Mark Wahlberg) todo arrebentado em cima de uma mesa de operações. A grande preocupação de Berg provavelmente era se recuperar do catastrófico Battleship - A Batalha dos Mares fazendo um filme de guerra visceral e bruto, tomando por base o livro do verdadeiro Marcus Luttrell, um fuzileiro naval americano que, em 2005 participou da malfadada missão Red Wings, descrita no filme. Ao filme, aliás...
No longa conhecemos o grupo de homens-rã especialistas em demolições dos fuzileiros navais dos EUA sediados no Afeganistão. Eles são Michael Murphy (Taylor Kitsch), Marcus Luttrell (Wahlberg), Danny Dietz (Emile Hirsch) e Matt "Axe" Axelson (Ben Foster). Eles são convocados pelo comandante Erik Kristensen (Eric Bana) para uma missão discreta em território inimigo, encontrar, capturar e eliminar Ahmad Shah, líder de uma milícia talibã.
Os quatro fuzileiros se embrenham em um território montanhoso, de difícil acesso e comunicações precárias para confirmar a posição de Shah, mas acabam descobertos por pastores de cabras locais. Os soldados votam entre matar os três e seguir conforme o planejado, ou libertá-los e abortar a missão. Decidindo pelas regras de confronto e optando pela segunda alternativa, eles tentam obter extração por rádio, mas com as comunicações precárias na região montanhosa, acabam presos em território inimigo, com recursos limitados e cercado por duzentos milicianos talibãs armados com metralhadoras, fuzis, morteiros e lançadores de granadas num desesperado esforço de sobrevivência.
Peter Berg certamente acerta a mão no tocante a crueza e brutalidade.
Os tiroteios do longa são tensos, bem filmados, repletos de urgência, graças ao trabalho do cinematógrafo Tobias A. Schliessler, parceiro costumeiro de Berg, que é acima da média, tornando todas as sequências de ação uma montanha russa.
Um filme, porém, não é feito só de tiroteios, nem mesmo um filme de guerra, e há muitos defeitos em O Grande Herói.
O diretor é descarado nas suas tentativas de emocionar a audiência. Ele firma a relação amorosa entre todos os soldados por alguns minutos no início do filme, deixando claro que são todos irmãos, que todos se adoram, e que são todos uns caras muito legais, pra então passar meia hora os explodindo, baleando, jogando ribanceira abaixo, tudo com requintes de crueldade, com feridas pintadas de vermelho vivo por um espertíssimo trabalho de maquiagem, e o ruído de ossos se partindo e carne rebentando a cada tombo improvável de uma beirada pedregosa.
O castigo físico que os personagens suportam, diga-se de passagem, chega a ser ridículo de tão sobre-humano, para Peter Berg os Navy Seals são super-homens.
Super-homens e super burros. Todas as decisões que os militares tomam durante a missão são absolutamente imbecis (Sério? Libertar os três sujeitos, incluindo o rapagão com ódio nos olhos sem ter certeza de uma extração por medo da côrte marcial e da resposta negativa da imprensa? Fazer uma operação de resgate com helicópteros de transporte de tropas sem cobertura dos apaches em um território inimigo apinhado de RPGs 7?), e os clichês do roteiro, cheio de propaganda pró-EUA em frases de dar vergonha, não ajudam, assim como mostrar os verdadeiros membros da operação nos créditos finais, um golpe de sentimentalismo dos mais baixos.
No final das contas, O Grande Herói não chega a ser horrível no conjunto, e até diverte por duas horas, mas quando passa por um escrutínio mais minucioso, perde demais.
Alugue se for um aficionado por filmes de guerra, outrossim, espere até a TV a cabo.

"-Você pode morrer pelo seu país, eu vou viver pelo meu."

terça-feira, 1 de julho de 2014

Selecinha


E a Copa, hein? A despeito da gastança desenfreada com retorno zero em termos de "legado", dos superfaturamentos que inevitavelmente serão descobertos após o torneio, dos "ídolos" falando bobagens como "Copa não se faz com hospitais", e do papelão que alguns jornalistas fizeram entrevistando sósias do Felipão, de uma coisa ninguém pode se queixar:
A qualidade dos jogos.
Fazia muito tempo que uma Copa do Mundo não tinha uma média de gols tão alta, com tanto equilíbrio nos duelos e tantos jogos bons. Até mesmo Coréia do Sul x Argélia, que todo mundo achava que seria uma pelada disputada entre o país do tae-kwon-do e o país do buzkashi (Tá, vá lá, é um esporte afegão, mas enfim. Não sabe que esporte é esse? Assista Rambo III) acabou sendo uma movimentada partida que terminou com cinco gols!
Em meio aos gols de Messi, Müller, Benzema e James Rodríguez, às caretas de Cristiano Ronaldo pro telão, os pulinhos do treinador do México, a surpreendente Costa Rica a gente até esquece as mazelas sócio-econômico-políticas do país (até por que os noticiários todos viraram mesas redondas onde só se fala de Copa, ou, como dizem os gremistas, côpa.).
Nesse cenário todo, porém, uma coisa salta aos olhos mais do que todas:
O deserto técnico que é essa seleção brasileira.
Eu acho que a única seleção que eu vi, que era pior do que a de hoje, foi a de 90. E olha que eu acompanhei a Seleção de 94, que era extremamente limitada, mas ao menos tinha Bebeto e Romário, e tinha uma defesa sólida com Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo/Branco, com Mauro Silva e Dunga na cabeça de área. Longe de ser um time de encher os olhos, a Seleção de 94 tinha vontade de vencer, e ao menos dois atacantes fora de série que decidiam.
O time brasileiro da "Copa das Copas" até tem uma dupla de jogadores acima da média, Neymar e Oscar, mas eles não conseguem carregar o time nas costas.
Neymar é indiscutivelmente craque (apesar de se tornar irritante o fato de a Globo o elevar à condição de igual de Messi, Cristiano Ronaldo e Zidane, o que ele não é), mas tem 22 anos, está longe de ter a maturidade necessária pra assumir a bronca e jogar sozinho no meio de uma defesa adversária.
Oscar é igualmente jovem, joga demais, é voluntarioso, inteligente e hábil, mas é prejudicado tanto pela falta de cancha quanto pelo esquema que torna ele o único armados do time, jogando bem aberto pela direita, quase um auxiliar de lateral-direito.
Além desses dois, temos três bons zagueiros no grupo, os titulares Thiago Silva e David Luiz, e o reserva Dante. E a seleção meio que termina por aí.
Se Paulinho, William, Fernandinho, Henrique, Maicon e outros são jogadores de comuns a bons, e nada além disso, outros, como Hulk, Fred e Daniel Alves são rematadas perebas, e, pior de tudo, têm ilusões de genialidade e cadeira cativa com o treinador.
O treinador, aliás, é outro problema. Felipão jamais foi um gênio tático. É um motivador retranqueirista cujos maiores trabalhos sempre primaram muito mais por força e empolgação do que por grande futebol. Felipão não sabe trabalhar com pouco recurso e a geração atual do futebol no Brasil é tão limitada que na hora do hino já tem jogador chorando de ruim... Se Felipão sabia tirar leite de pedra na época de Criciúma e grêmio, times pequenos que conseguiu alavancar a títulos importantes, perdeu o hábito após passar por Palmeiras, Cruzeiro, Chelsea... Se foi campeão do mundo em 2002 (Com Rivaldo voando, Ronaldinho e gordo Ronaldo jogando muito), também perdeu a Euro 2004 com Portugal jogando em casa para a modestíssima Grécia...
Pra piorar, não soube se reciclar, continua apostando no "vamo que vamo" e na "família Scolari" em detrimento da parte tática. Onde estão as variações de jogadas? Será que já não ficou claro que um armador sozinho não consegue fazer o time jogar? Daniel Alves e Marcelo já não deixaram bem claro que são duas perimetrais ao redor da defesa? O que dizer de Fred e Jô? E o Hulk?
A seleção brasileira está tão desnorteada, com os nervos tão em frangalhos que levou um tradicional vareio do Chile no sábado (achando ao acaso um gol no meio da defesa de oompa-loompas do adversário) com os jogadores desmoronando em prantos antes, durante e depois da partida.
Li em algum lugar que Scolari ficou preocupadíssimo após o jogo, inclusive convocando uma psicóloga pra dar uma levantada na moral dos jogadores.
Bacana... Mas ele poderia convocar um treinador reserva, também. Alguém pra treinar um pouco, manja? Umas variações de jogadas, umas saídas diferentes... Alguém pra cuidar do time enquanto ele faz propaganda de galinha assada, operadora de celular, super mercado...
Porque do jeito que está, com um time tecnicamente limitado, com os nervos em frangalhos, e sem treinamento, não há pênalti inventado que faça milagre.
Do jeito que está, seria muito INJUSTO se o título ficasse com essa seleção brasileira. Assim mesmo. Com letra minúscula.