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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Quem Vê Cara...


Quem via os dois na rua, ele grandalhão, tímido, andando de mãos dadas com ela, bonita e cheia de uma doçura quase ingênua, por vezes ingênua de fato, os tomava quase de imediato por um casalzinho de nerds evangélicos daqueles bem sem-graça.
Quando os dois falavam do que faziam juntos, as pessoas os olhavam dando aquela tradicional quebrada de pescoço que é um sinal de admiração pela fofura, por vezes seguida do "óóóóóin", que pra muita gente escapa quase ao natural.
Era um tal de "Ele me busca no trabalho e a gente volta pra casa de mãos dadas" pra cá, "Eu pego ela na casa dela, a gente janta e vai ao cinema pra lá.", "A gente assiste desenho animado domingo à tardinha" daqui, "A gente joga RPG sábado de noite" dali... Tudo tão baunilha, tão engraçadinho, tão nerdinho... Que as pessoas olhavam pros dois com certa condescendência. Alguma piedade por um casal tão sem graça.
O que ninguém imaginava é que eles chegavam do cinema, começavam a se malhar vigorosamente, com ambos percorrendo o corpo um do outro com beijos e carícias, e ele pedia pra ela ficar de sapatos durante o sexo, ela sorria maliciosa e tirava a roupa bem devagarinho na frente dele, peça por peça, até que sobrassem apenas a calcinha e os sapatos, algum escarpim preto brilhante salto quinze.
Ele resfolegava quase num rosnado, a tomando pra si com força, beijando-a com sofreguidão e mordendo-lhe o lábio inferior enquanto ela o ajudava a se livrar de suas roupas fazendo particular alarido ao manusear a fivela do seu cinto.
O ato se dava sem que ele houvesse conseguido remover toda a sua roupa e com ela ainda de calcinha, a peça íntima apenas afastada para o lado enquanto ela o recebia em si.
Experimentavam posições diversas por mais de duas horas, e terminavam com ele ajoelhado diante dela, deitada sobre as costas, com os pés apoiados em seu peito, o salto agulha a ferir-lhe a pele enquanto ele arremetia de maneira incansável para dentro dela, descabelada, suada, com os olhos manchados de rímel e um sorriso selvagem no rosto, gemendo alto até ambos chegarem juntos ao clímax.
Aí, eles ficavam deitados lado a lado, fazendo carícias no rosto um do outro, ela rindo muito, ele falando muita bobagem, até resolverem tomar banho e ir dormir.
E ninguém nunca ficaria sabendo, porque o que eles faziam entre quatro paredes era da conta só dos dois, e se o resto do mundo quisesse continuar os vendo como um par de bobões, azar do mundo.
Eles não estavam nem aí pro resto da humanidade.
Só ligavam um pro outro.

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