Pesquisar este blog

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Resenha Cinema: Sob a Pele


Quem leu a premissa de Sob a Pele, filme de alienígena comedora de gente disfarçada de mulher-sonho-de-consumo-de-qualquer-homem-em-idade-reprodutiva-ou-não, certamente teve lembranças de A Experiência e Garota Infernal, pra ficar nas mais óbvias evocações de o que seria um filme com essa premissa estrelada por Scarlett Johansson, que está na lista de top-10 mulheres gostosas do cinema de qualquer homem (certamente está na minha).
Curiosamente o diretor Jonathan Glazer (do bom Sexy Beast e do péssimo Reencarnação) foi na contramão de tudo o que era óbvio na hora de adaptar o livro de mesmo título escrito por Michael Faber em 2001.
Sob a Pele começa com a construção da pele da alien sem nome de Johansson enquanto ela fala palavras em ordem alfabética para a criação de sua voz. Imediatamente após, vemos seu ajudante (o ex-piloto de corridas Jeremy McWilliams) arrancar uma mulher morta do meio do mato, e colocá-la nos fundos de uma van.
Lá, Scarlett, em sua gloriosa nudez de mulher de verdade, despe a defunta, e rouba suas roupas. Dali, ela faz uma parada em um shopping, compra um casaco e maquiagem, e inicia sua caçada, parando desconhecidos a pretexto de pedir informações, apenas para seduzi-los, e levá-los a seu abatedouro, onde eles são transformados em alimento.
O trabalho da alienígena operária vai bem, com sua beleza, sua vozinha rouca, e seus generosos atributos físicos, até mesmo sem querer ela obtém comida, entretanto, um encontro com uma vítima, acende uma fagulha de questionamento na caçadora, e ela começa a desenvolver empatia e compaixão por sua presa, a levando a uma fuga e a uma jornada para tentar se descobrir.
OK... Eu gosto de cinema... De cinemão espetaculoso, mesmo. Vingadores, O Homem de Aço, O Hobbit... Mas também sou capaz de curtir cinema mais autoral, me agrada a ideia de tentar desvendar um filme, ou de ver um filme que te obriga a pensar para acompanhar o que está acontecendo ao invés de mastigar a trama e regurgitar pra audiência.
Talvez com Sob a Pele, essa fosse a intenção de Glazer.
Criar um filme onde não há exposição excessiva, onde não há mocinhos ou bandidos, nem explosões, correria e perseguições, ou mesmo romances com final feliz.
Sob certa ótica ele consegue.
Não há nada hiper exposto em Sob a Pele. Nem sequer exposto, pra falar a verdade. Deduzimos que a personagem sem nome de Scarlett é uma alienígena pela abertura do filme e pelo pôster estrelado. Supomos que ela se alimenta dos homens, ou que ela alimenta alguém por causa de duas cenas que sugerem isso. Apenas sugerem.
Podemos deduzir que ela tem um tipo de supervisor... E podemos apenas supôr que a personagem central está fugindo dele quando se cansa de levar homens para a casa da sala negra...
Nada disso é explicado. Com cerca de uma hora e meia, há pouquíssimos diálogos em Sob a Pele, reduzidos à conversa fiada que a protagonista utiliza para seduzir suas presas. E se de certa forma é instigante que a primeira metade do filme, enquanto Scarlett caça, seja assim, despida de conversas e explicações (quem é que estaria interessado em mais uma mitologia besta de aliens comedores de gente? Podemos passar sem), a segunda metade, quando ela se rebela contra sua função, chegando a ser acolhida por um terráqueo, poderia e até deveria ter mais diálogos.
Mas não tem.
Tudo recai sobre as imagens.
As cenas são lentas, silenciosas, reduzidas ao som ambiente, à trilha sonora minimalista, ou entrecortadas por falas breves, tomadas contemplativas, e a criação muda de uma atmosfera muito mais agourenta e maçante do que amedrontadora.
Scarlett Johansson, único nome reconhecível do elenco, faz o que pode em um papel sem muito texto nem espectro emocional, sua função é ser atraente em algumas cenas e parecer perdida em outras, ela se esforça mas a verdade é que não salvaria Sob a Pele nem que passasse o filme todo pelada (tá... Talvez salvasse, vá...).
Em seu admirável esforço autoral para criar um retrato de uma humanidade falha, que passa cega às belezas da vida sem assumir o papel de vilão ou herói de sua própria história, Glazer e o roteirista Walter Campbell criaram um filme lento, que parece mais interessado em abrir brechas para a audiência ter ideias, do que em apresentar e desenvolver qualquer ideia própria.
Pra piorar, toda a trama arrastada e simbólica, se estende em sua marcha lenta sem oferecer nada de realmente relevante, e quando termina, o faz em um encerramento algo abrupto que não oferece desfecho à "não" história que acompanhamos nos noventa minutos anteriores.
Uma pena.
Até seria interessante assistir a um filme de alien sedutora devoradora de homens que almejasse mais. Sob a Pele, porém, não é esse filme.
Assista quando sair em DVD se quiser muito ver a Scarlett nua. É, no final das contas, o ponto alto do filme.

"-Você quer me tocar?"

Nenhum comentário:

Postar um comentário