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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Resenha Cinema: Joy - O Nome do Sucesso


Há atores e atrizes que se tornam fetiches de diretores. Como se fossem musas que os cineastas parecem enxergar em qualquer papel, em qualquer filme e que se tornam parcerias recorrentes.
É fácil nomear algumas dessas relações sem sequer precisar pensar muito.
Robert De Niro e Martin Scorsese, Denzel Washington e Tony Scott, Diane Lane e Woody Allen... São todas relações entre cineastas e seus atores-fetiche.
E, olhando em perspectiva, poucos diretores se entregam com tanta volúpia ao rótulo quanto David O. Russell, o realizador de filmes como O Vencedor, O Lado Bom da Vida, e Trapaça.
Nem mesmo a recente (e excelente) série de trabalhos de Scorsese com Leonardo DiCaprio é tão assumidamente fetichista quanto a do realizador de Três Reis com Jennifer Lawrence. A atriz de 25 anos é escalada por Russell em papéis de toda a ordem, sempre dando conta do recado como testemunham seus três Globos de Ouro e seu Oscar.
Russell enxerga Lawrence em qualquer papel, e a atriz de Jogos Vorazes e X-Men se sente à vontade e tem talento de sobra pra encarar qualquer parada.
Eu não sei, porém, se essas parcerias todas têm data de validade e eventualmente estão fadadas a terminarem, mas Joy - O Nome do Sucesso, é facilmente o pior filme de Russell em muito tempo, o que não quer dizer que o filme seja ruim, não é o caso, ele apenas empalidece ante os recentes trabalhos do cineasta.
Joy é uma biografia romanceada da inventora norte-americana Joy Mangano, criadora do Miracle Mop.
No longa de Russel, a biografia de Joy se torna uma fábula com direito a "Era uma vez" narrado pela avó da protagonista, Mimi (Diane Ladd).
Joy é apresentada como uma menina de oito anos que adora criar coisas. Joy tem uma casa, uma fazenda, árvores e animais de papel, seu maior poder, nem era sua criatividade, mas sim o fato de não precisar de um príncipe encantado.
Corta pra dezessete anos mais tarde.
Joy é a mãe divorciada de dois filhos pequenos. Ela luta feito uma fera para manter a casa onde vive com os filhos, a avó, a mãe (Virginia Madsen), e o ex-marido Tony (Edgar Ramirez).
Enquanto Mimi passa o tempo todo soprando frases inspiradoras no ouvido de Joy, sua mãe jamais sai do quarto onde assiste novelas 24 horas por dia, e Tony, um cantor venezuelano fracassado ensaia sem cessar no porão da casa na tentativa de se tornar o novo Tom Jones, embora apenas cante de graça em um bar local.
Não fosse o suficiente, Joy ainda recebe o pai, Ruddy (Robert De Niro), "devolvido" pela namorada que não o aguenta mais, e, como desgraça pouca é bobagem, a moça ainda recebe a notícia de que seu trabalho como bilheteira de uma companhia aérea está ameaçado já que ela vai ser transferida para o turno da noite, algo impensável para alguém com tantas atribuições, que acumula a função de contabilista da oficina de seu pai, e de faz-tudo da casa onde vive.
Joy se pega prestes a vergar sob o peso da responsabilidade quando, durante um passeio de barco com a endinheirada nova namorada de seu pai, Truddy (Isabella Rossellini), tem uma ideia potencialmente inspirada ao cortar as mãos limpando vinho tinto do convés:
Um esfregão hiper-absorvente e que pode ser torcido sem utilizar as mãos.
Joy aposta alto na sua ideia, tentando a todo o pano evitar que tenha o mesmo destino de outras ideias suas que jamais foi capaz de patentear e viu se tornarem produtos sem sua participação.
Com a ajuda dos trabalhadores da oficina de seu pai e de um investimento inicial de Truddy, Joy consegue produzir algumas peças, lutando para vendê-las em pequenas lojas ou no estacionamento do supermercado, tudo sem sucesso.
Joy tem uma chance de mudar isso quando Tony consegue uma reunião para ela numa rede de TV de anúncios 24 horas.
O gerente de programação Neil Walker (Bradley Cooper) gosta do produto de Joy, e tenta vendê-lo em sua grade de programação, inicialmente, sem efeito.
As coisas tomam outro rumo quando a inventora convence Neil a deixá-la anunciar seu esfregão ela mesma.
Mas conseguir vender seu produto acaba não sendo o suficiente quando Joy percebe que, mau orientada pelos advogados de Truddy, e sem o apoio de sua família, está prestes a perder seu negócio, e que cabe à ela, sozinha, lutar contra tudo e todos em nome de seus sonhos.
"Irregular" é uma palavra usada de maneira quase indiscriminada para fazer de filmes que não funcionam, mas têm alguma qualidade. E é a palavra que serve à perfeição para ilustrar Joy - O Nome do Sucesso.
O longa de David O. Russell é irregular. Algumas coisas funcionam, outras simplesmente, não.
Há uma característica algo largada no longa. Coisas que simplesmente parecem mal acabadas. A narração em off da avó, por exemplo, que ali pelas tantas simplesmente some, para voltar mais adiante quando a audiência quase havia esquecido que ela estava lá, é uma delas. Outra, ainda mais problemática, é a família de Joy. Enquanto os núcleos familiares de O Vencedor, Trapaça e especialmente de O Lado Bom da Vida eram críveis mesmo dentro desse universo exacerbado e histérico onde os filmes de Russell se passam, o mesmo não se pode dizer da família de Joy.
Tudo no longa soa algo artificial, casual, mal acabado, sem que nenhuma das personagens femininas tenha a profundidade de Jackie Weaver como Dolores Solitano em O Lado Bom da Vida, por exemplo.
A irmã da protagonista, Peggy (vivida por Elizabeth Rohm, de Trapaça) é um exemplo. Ela aparece sempre como um poço de ressentimento, sem praticamente jamais dar uma palavra de suporte à irmã, e nem qualquer tipo de background. Igualmente vazia, mas menos antipática, é a melhor amiga de Joy, Jackie (Dasha Polanco de Orange is the New Black), que é o extremo oposto da irmã, sempre apoiando e ajudando a inventora.
Os personagens masculinos não são muito melhor acabados. O Ruddy de De Niro é um personagem que se apresenta promissor mas que não se sustenta dessa forma quando a história avança, e Bradley Cooper faz quase uma ponta de luxo.
Melhor sorte tem Edgar Ramirez, que consegue assinar seu fracassado Tony Miranne com uma nota de ternura que o torna até simpático.
Após listar todas essas características ruins, tu pode estar se perguntando "mas o que diabos funciona em Joy pra tornar o filme regular e não uma bomba?".
A resposta é Jennifer Lawrence.
Russell acerta a mão ao centrar fogo na sua protagonista. A história não anda sem Lawrence na tela, e isso tanto pode ser o maior defeito do filme (já que os outros personagens simplesmente não têm lastro pra fazer o filme andar) quanto sua maior qualidade já que Lawrence tem talento e estampa de sobra pra carregar o filme nos ombros.
Mesmo mal escalada por conta de sua idade (a atriz de vinte e cinco anos interpreta uma personagem quase dez anos mais velha), Lawrence se adona do papel. Sem esforço ela torna a gata borralheira do roteiro uma personagem humana e magnética, ela simplesmente convence.
Com isso em mente, fica fácil entender porque ela é a atriz-fetiche de David Russell, mas difícil entender porque ele fez um filme tão meia-boca para servir-lhe de veículo.
Não fosse pela protagonista, Joy seria um filme com uma sólida nota cinco. Jennifer Lawrence, porém, o eleva bem acima disso, e a interpretação dela, sozinha, já faz valer a ida ao cinema.

"-Jamais pense que o mundo te deve alguma coisa, porque ele não deve. O mundo não te deve nada."

Um comentário:

  1. É uma boa história, e a verdade é que Lawrence e Cooper fazem um casal bonito. Além de que a maioria dos filmes do Bradley Cooper são realmente muito divertido. Seus papéis todos têm os seus prós e contras, mas no geral eu acho que é um excelente ator, como a versatilidade de seus papéis é grande, recentemente eu vi americana Sniper e ficou encantado com o seu papel, mas o filme não foi inteiramente de o meu gosto.

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