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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
Resenha Cinema: O Regresso
O nome de Leonardo DiCaprio no pôster de um filme é garantia de qualidade.
O astro de Titanic simplesmente não sabe escolher maus roteiros pra estrelar.
Parece um poder mutante de alguma espécie, mas a presença de DiCaprio, sozinha, vale a deferência da ida ao cinema, a qualquer filme.
Esse, sozinho, já era motivo para estar na fila do cinema pra ver O Regresso, que estreou ontem.
Mas O Regresso tem ainda mais a oferecer.
O longa é dirigido por Alejandro Gonzáles Iñarritu, vencedor do Oscar de melhor diretor do ano passado com Birdman, um filme que, para esse humilde blogueiro, não é, nem de longe, o melhor da carreira do cineasta por trás de Amores Brutos, Babel e Biutiful, mas abocanhou prêmios e mais prêmios em 2015, de modo que aí já temos dois bons motivos pra conferir o longa que conta a tenebrosa história de sobrevivência e vingança de Hugh Glass (DiCaprio).
Glass é um homem da fronteira selvagem dos EUA na década de 1820. Ele e seu filho mestiço Hawk (Forrest Goodluck), guiam um grupo de peleiros por uma região inóspita sob domínio indígena. Após um ataque de índios que mata três quartos do grupo, e do qual os restantes escapam por muito pouco em um barco, o líder da expedição, capitão Andrew Henry (Domhnall Gleeson) resolve seguir o conselho de Glass, abandonar a embarcação, e seguir por terra de volta à base. Um forte perdido no meio da imensidão nevada.
A decisão desagrada a alguns membros do grupo, em especial John Fitzgerald (Tom Hardy).
Fitzgerald mal segue as ordens de Henry, não gosta de Glass e despreza Hawk. E, mais do que isso, faz questão de deixar tudo muito claro.
Enquanto seguem viagem por terra, Glass é atacado de maneira brutal por um urso. O violento ataque do animal deixa o guia entre a vida e a morte, e o torna mais um fardo para a combalida expedição.
Com a vida de todo o grupo pendendo por um fio, e a animosidade dos homens para com Glass aumentando a cada percalço, Henry fica sem alternativas, e promete uma pequena fortuna em bônus aos homens que ficarem pra trás, garantindo algum conforto a Glass no que devem ser suas últimas horas, e um funeral digno quando o momento chegar.
Hawk, obviamente fica. Além dele o jovem Bridger (Will Poulter), e, assim que os dois prometem abir mão de seus bônus de cem dólares para o homem que ficar com eles, Fitzgerald se oferece para o serviço.
Enquanto Henry e os demais sobreviventes seguem viagem, Hawk, Bridger e Fitzgerald montam acampamento para cuidar do moribundo Glass.
Obviamente Fitzgerald não demora a se impacientar com a teimosia de Glass em permanecer vivo a despeito de seus extensos ferimentos. Após tentar sufocar o guia, Fitzgerald e Hawk entram em uma discussão que termina no assassinato do jovem, apunhalado diante do pai imobilizado.
Após enganar Bridger com a presença de índios, e mentir sobre o paradeiro de Hawk, Fitzgerald abandona Hugh parcialmente enterrado, e parte.
Enquanto o algoz de seu filho se vai, Glass se arrasta pra fora do túmulo, e inicia a jornada para encontrar vingança.
Com o corpo dilacerado, ossos partidos, sem comida ou abrigo, Glass conta apenas com seus conhecimentos de sobrevivência, determinação e ódio para se arrastar adiante, inexoravelmente, por um terreno hostil por sua própria natureza, recusando-se a ceder ou desistir enquanto não cumprir seu objetivo, e vingar a morte de Hawk.
É muito bom.
O roteiro, co-escrito por Iñarritu e Mark L. Smith (egresso de filmes de terror bem porcarias) livremente baseado no livro The Revenant - A Novel of Revenge, de Michael Punke é bem construído, redondinho, quase prosaico. Todos nós já vimos faroestes de vingança antes. Não é, porém, o plot que faz diferença em O Regresso, mas a forma como ele é retratado.
Nas mãos de Iñarritu e de seu diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, a natureza se torna a maior de todas as ameaças.
Lindamente filmadas, arvores, neve, rios, tudo parece conspirar contra o protagonista. Mesmo os índios Arikara, que dividem com Fitzgerald o posto de "vilões" do filme, não aparecem como oponentes tradicionais, mas como mais uma faceta da natureza impiedosa que se opõe a Glass.
Falando nisso, o termo "vilão", não faz sentido sequer para Fitzgerald. A despeito de eventuais exageros da direção, Tom Hardy entrega uma ótima atuação, e consegue se manter por muito tempo sobre o fio da navalha, como um personagem que é difícil de categorizar como "mau", já que ele age e vive dentro de uma esfera moral que, com mil demônios, pode ser muito particular, mas dado seu estilo de vida, não é gratuita ou sem sentido. Domhnall Gleeson é outro que manda bem como o capitão Henry, e dá sequência a um luminoso ano de 2015 (sim, O Regresso é um filme do ano passado, inexplicavelmente estreando no Brasil mais de um mês após sua estréia nos EUA), e Will Poulter também faz um bom trabalho, ainda que o filme pertença, claro, a DiCaprio.
A atuação visceral do ator é um dos pontos altos do filme, enquanto seu personagem luta pela vida rosnando e babando enquanto come carne crua e cauteriza as próprias feridas com pólvora, DiCaprio convence como um ser humano levado além do limite unicamente por ódio e teimosia.
Mas não.
Não é a melhor atuação da carreira de DiCaprio.
É tão boa quanto outras atuações dignas de prêmio que ele apresentou em filme como O Aviador, e O Lobo de Wall Street, e Diamante de Sangue, de modo que, se ele ganhar o Oscar, não será uma injustiça (embora eu ainda não tenha visto A Garota Dinamarquesa), mas tampouco será porque DiCaprio entregou algo que ainda não tinha mostrado em sua vasta e excelente filmografia.
O Regresso não a grande atuação da carreira de DiCaprio, não é o grade filme da carreira de Iñarritu e nem é um filme perfeito.
Os elementos sobrenaturais da trama, que como parece obrigatório à qualquer história de índio envolve um quê de "magia da terra", fazem uma oposição algo desajeitada à crueza do restante da história, e soam como se conduzidas com algum constrangimento pelo diretor. Essas inserções místicas arrastam um pouco o filme, tornando suas mais de duas horas e meia algo inchadas, ainda que jamais se tornem cansativas por conta da sucessão de momentos tensos e empolgantes.
Em suma?
O Regresso merece a visita ao cinema sem o menor questionamento. É um ótimo trabalho de produção, direção e elenco, merece a láurea das premiações a que concorre e que venceu, mas não é a última bolacha do pacote, e não é melhor que Mad Max - Estrada da Fúria, mas é um ótimo filme.
O nome de DiCaprio no pôster assegura isso.
"-Enquanto puder tomar fôlego... Você luta."
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