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terça-feira, 8 de maio de 2018

Resenha DVD: O Destino de Uma Nação


Meu filme preferido no ano passado foi Dunkirk. O longa de guerra que contou a história, não de uma batalha, mas de uma retirada. No caso, a retirada das forças armadas britânicas da França após o exército local e os reforços aliados não serem capazes de conter o avanço alemão.
Este O Destino de uma Nação é praticamente o irmão de outra mãe de Dunkirk, pois enquanto o filme de Christopher Nolan mostrava a operação Dínamo tentando desesperadamente evacuar as praias de Dunquerque, o filme do diretor Joe Wright se concentra na ginástica que o primeiro-ministro inglês fez para tentar tirar mais de trezentos mil homens da França pelo Canal da Mancha.
Mas não apenas nisto.
O Destino de Uma Nação se passa entre os dias 8 de maio e 4 de junho de 1940, período em que o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain (Ronald Pickup) é coagido pela oposição a renunciar ao cargo por não ser considerado capacitado para liderar o país em tempos de guerra.
Os nazistas avançam contra a França e a Bélgica e os ingleses querem ação.
O favorito do partido para o cargo é o visconde Halifax (o Stannis Baratheon Stephen Dillane), porém é público e notório que apenas um nome conservador será aceito pela oposição:
O de Winston Churchill (Gary Oldman, oscarizado pelo papel).
A questão é que Churchill chega chutando a porta e conclamando o povo inglês a lutar contra Hitler, enquanto o restante de seus aliados políticos, incluindo Chamberlain, Halifax e o rei inglês George VI (Ben Mendelsohn, finalmente não interpretando um burocrata vilanesco) anseiam por um acordo de paz com a Alemanha nazista.
Diante da possibilidade de ter seu exército esmagado na França, a Grã-Bretanha se vê diante de uma encruzilhada: Tentar costurar um acordo de paz com os nazistas tendo a Itália fascista de Mussolini como intermediária, ou seguir lutando sozinhos uma guerra que podem não ter como vencer contra um inimigo que está tomando a Europa de assalto.
Brilhante.
Espertamente, o roteiro de Anthony McCarten se foca em um breve período do início do mandato de Churchill para mostrar como as decisões do primeiro-ministro decidiram os rumos da Inglaterra na Segunda Guerra, e, por consequência, do mundo.
McCarten e o diretor Joe Wright acertam a mão ao focar em Churchill como um homem de convicções, mas não um estadista infalível. O político conhecido pela retórica aguçada dá demonstrações de fragilidade e dúvida. Ele próprio se pergunta o que é melhor para a Inglaterra diante da sombra crescente da extrema-direita sobre o continente. Essa faceta ganha corpo, em parte, graças a presença da excelente Kristin Scott Thomas como Clementine Churchill, a fiel esposa de Winston, e de sua secretária, Elizabeth Layton (Lily James). Quando vemos Churchill pela ótica das duas, ele se humaniza além do retrato que a posteridade criou. O Churchill vivido por Oldman não é feito de caretas e trejeitos, e suas nuances, mesmo sob a pesada maquiagem, conduzem o longa por duas horas e cinco minutos dos quais ele raramente está ausente.
Mas por mais que a interpretação de Oldman seja excelente e digna de todas as láureas que conquistou, não é menos verdade que O Destino de uma Nação não é um show de um homem só.
Da direção de Wright ao roteiro de McCarten, passando pela fotografia lindíssima de Bruno Delbonnel e a trilha sonora equilibrada de Dario Marianelli tudo funciona para levar o longa à excelência que ele alcança. Eu não consigo me lembrar de outro drama histórico que se apoiasse unicamente em seu texto para tensionar a audiência com tamanha competência.
A cena em que Churchill conversa com Roosevelt ao telefone, por exemplo, é testemunho do isolamento que a Inglaterra sofria no início da Guerra, enquanto a sequência dentro do trem, ainda que algo piegas, mostra o tamanho do apreço de que Churchill gozava junto ao povo em tempos de guerra (mas não em tempos de paz...).
O Destino de uma Nação tem o texto como seu grande lastro, e convida a audiência a sentar e acompanhar o filme em seu ritmo, se engajando com a experiência de maneira cerebral, e não visceral. Pode ser um desafio para quem não se interessa pelos bastidores da política na Segunda Guerra ou não tem paciência para filmes que demandam atenção. Se esse não for o caso, porém, pode se preparar para uma lição de História embrulhada em um thriller de proporções genuinamente catastróficas realizado com altíssimos padrões artísticos por um time de craques do goleiro ao ponta-esquerda.
Teria valido a ida ao cinema, certamente vale a locação.
Assista.

"-Não se pode argumentar com o tigre quando nossa cabeça está em sua boca."

Um comentário:

  1. O que salva O Destino de Uma Nação de se tornar ordinário e, pelo contrário, o transforma em um filme realmente ambicioso e diferente dos demais, Bradshaw diz, é a performance de Oldman, tão inegavelmente ambiciosa em si mesma. Este filme é um dos melhores do gênero de drama que estreou o ano passado acho que O Conto é um dos melhores filmes de Laura Dern. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. Amei o grande elenco do filme, quem fez possível a empatia com os seus personagens em cada uma das situações. Sem dúvida a veria novamente.

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