Bem vindos a casa do Capita. O pequeno lar virtual de um nerd à moda antiga onde se fala de cinema, de quadrinhos, literatura, videogames, RPG (E não me refiro a reeducação postural geral.) e até de coisas que não importam nem um pouco. Aproveite o passeio.
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quarta-feira, 30 de junho de 2010
Kick-Ass Quebrando Tudo
Hoje pretendo assistir Kick-Ass-Quebrando Tudo, o filme, por isso, foi meio que foi um caminho natural pra mim comprar e ler o gibi antes disso.
A Panini lançou recentemente a obra de Mark Millar e John Romita Jr. no Brasil em uma edição luxuosa, encadernada, de capa dura com verniz localizado e papel de qualidade no miolo, um primor, o preço, R$60,00, provavelmente vale á pena pra nerds mais velhos e que admiram uma estante cheia de gibis com lombada identificável, mas afugentará tantos outros que não estão dipostos á torrar essa grana em quadrinhos, aliás, fica a dica pra Panini: Não seria interessante ter lançado o gibi, também em formato mini-série, mais modesto, á preço de, sei lá, seis, sete pilas por edição?Como combater e reclamar da pirataria quando se lança um gibi extremamente recente como Kick-Ass unicamente em formato luxo? Tiro no pé, rapaziada.
Mas, vamos ao quadrinho. Kick-Ass conta a história de Dave Lizewski, um nerd de dezesseis anos, órfão de mãe, aluno do secundário e viciado em quadrinhos, que, em um momento meio lunático de inspiração, decide se tornar um super-herói. Compra uma roupa de mergulho que modifica transformando em uniforme, se arma com um par de porretes e passa a combater o crime usando a identidade de Kick-Ass.
Não vale contar em detalhes pra não estragar a surpresa de quem for ler, mas é importante saber que, em sua primeira missão de combate ao mal, Kick-Ass não se dá bem, pelo contrário, se dá mal à beça.
É interessante perceber como Millar tenta desconstruir o mito do super-herói, mostrando personagens que não se tornam heróis após um acidente ou tragédia, mas causam acidentes e tragédias por que querem se tornar super-heróis. A violência estampada por todo o gibi mostra o quanto pode ser destrutivo tentar realizar prodígios sem ter sido picado por uma Aranha Radioativa, ser o último filho de um distante planeta moribundo ou ter treinado obstinadamente amparado por uma fortuna bilionária, o festival de golpes brutais que resulta em chuvas de vísceras, nuvens de sangue e mutilações extremamente gráficas e explícitas provavelmente servem pra dar aquele choque de realidade e desencorajar possíveis Dave Lizewskis da vida real.
Os palavrões, espalhados em cada balão de diálogo, deixam o papo dos personagens adolescentes extremamente natural e verossímil, e os desenhos super expressivos de Romita Jr. carregados de uma dinâmica extremamente ágil, não deixam a peteca cair.
Kick-Ass é um quadrinho com o selo Millar de qualidade, se você curtiu outros trabalhos do escocês maluco (Que de maluco não tem nada, basta ver a grana que deve ganhar com as adaptações de seus trabalhos.), certamente gostará de Kick-Ass, ele cria uma história rock'n roll, extremamente divertida, repleta de referências ao mundo dos quadrinhos, e que não tem pretensões de alterar o panorama dos quadrinhos do mundo, nem de edificar o leitor, de quem até tira algum sarro, apenas de dar o que ele quer, diversão e ação, numa embalagem cool e bonita, e, dando aquela escorregada tradicional dos quadrinhos Millar no terceiro ato.
Não é perfeito, mas é maneiro, ora bolas.
"Ele atirou no meu funto!"
Linha de Produção
Foi um gesto, não um gesto, apenas, na verdade dois, totalmente opostos.
Era uma noite de sexta-feira, numa danceteria daquelas com música beeeeem alta e pessoas dançando como se estivessem tendo convulsões verticais, com olhos revirados e sacudindo os braços e pernas.
Naquela noite, Adriana estava na danceteria para, ora bolas, dançar. Ela fora á tal casa com algumas amigas, que convidaram uns amigos, que convidaram mais gente, de modo que chegaram ao lugar, nas palavras deles próprios, "de galera".
Adriana não conhecia nenhum dos guris que estavam lá, e nem queria, eles até pareciam ser gente-boa, mas não gente-boa o suficiente pra que ela quisesse ficar com eles, afinal, Adriana era reservada, algo tímida, até, e se enfiar no meio de uma porção de desconhecidos não era, nem de longe o que ela precisava naquele dia.
Especialmente homens, gênero produzido em série e que ela, durante aquela semana, começara a odiar de modo quase incondicional.
Aquele dia era o último de uma semaninha desgraçada, em que Adriana descobrira que Jéferson, seu namorado, estava mantendo relações sexuais ás escondidas com uma colega do pré-vestibular, ou, nas palavras dela, "comendo uma vadiazinha lá do cursinho" o que a fez se amaldiçoar por ter dado bola pra um fedelho dois anos mais novo e sem nada na cabeça, cuja única qualidade era lembrar, vagamente, o Heath Ledger. Ela descobriu, também, que, por dois décimos de nota, pegara exame na faculdade, justamente em antropologia filosófica, matéria do professor que ela mais detestava, o que significava que ela não poderia viajar para a casa da avó nas férias, que seriam atrasadas em, pelo menos, uma semana, exatamente a semana de folga que ela teria no emprego, e, também descobrira, após consultar seu chefe, que não podia transferir a folga pra semana seguinte por causa das escalas.
Pra completar, ela acordou na quinta com uma espinha do tamanho do monte Everest (Pelo menos na própria avaliação) no nariz, não bem na ponta, mas do lado, em cima da narina esquerda.
Foi depois de colocar as coisas do Jéferson, o clone defeituoso do Ledger e, agora, seu ex-namorado em uma caixa de papelão e deixar na portaria do prédio pra ele pegar (ou serem doadas pra caridade após uma semana, ela não ligava), que ela recebeu a ligação de Fabi, sua amiga, que a convidou pra sair, dançar, e tirar aquela semana do corpo, convite ao qual Adriana aquiesceu apenas após alguma insistência de Fabi.
Ela tomou um bom e longo banho, ajeitou os cabelos loiro avermelhados em um coque propositadamente desalinhado, e maquiou os olhos castanho-claros e os lábios generosos de maneira suave. Cobriu o corpo esguio, de pernas longas e algo finas com um vestido preto simples, e calçou os pés bonitos com sandálias igualmente pretas, e de salto baixo, por que ela queria dançar até não aguentar mais.
Agora, Adriana, dentro da danceteria, havia bebido um pouco, e estava ouvindo as gurias do Pussycat Dolls se esguelando enquanto ela dançava, dançava e espantava seus males, ou, pelo menos, os colocava atrás de si, ainda que apenas por algumas horas, ela queria distância de tudo, queria esquecer de tudo, queria que não houvesse mundo além daquilo, ela nem escutava a música ruim, ela só sentia as batidas reverberando na boca do estômago e reagia á elas dançando.
Talvez fosse aquilo, o desalinho do cabelo, escapando do coque, e o fato de ela ter os olhos fechados, e dançar jogando a cabeça pra trás, com o corpo solto, que levou um rapagão que dançava perto dela na pista, á imaginar que ela estava podre de bêbada, e, por que ela era uma moça de vinte anos, bonita, de vestido curto, o tal rapagão, ele sim, bastante embriagado, não resistiu á tentar tirar uma casquinha, e se aproximou lânguido, remexendo muito os ombros, e os braços, e envolveu Adriana pela cintura, e se pôs á beijar-lhe o pescoço longo e alvo.
Adriana levou uma fração de segundo pra se dar conta do que estava acontecendo, mas, quando percebeu a situação, não gostou nenhum pouco. Na verdade, a última coisa que Adriana queria àquela altura, era um pinguço metido á gostoso lambendo o perfume Gabriela Sabatini de seu pescoço.
Ela o empurrou pra longe de si, enquanto perguntava, aos berros, o que ele estava pensando. O sujeito não respondeu, riu, bêbado que estava, e avançou de novo, projetando o lábio inferior e fazendo uma expressão engraçada com o rosto enquanto enlaçava Adriana pela cintura. Ela imediatamente se pôs á tentar se desvencilhar daquele imbecil de baby look azul piscina e calça branca justa, mas ele era um imbecil forte, e, por alguma razão, achava que estava agradando.
Foi quando alguém cutucou o ombro do hébrio excitado, e o afastou de Adriana. Ela se desequilibrou e caiu, torcendo o tornozelo, e foi sentada no chão, enquanto era aparada por Fabi, que viu Roberto, um dos amigos das amigas da Fabi interpelar o pinguço, ela achou o diálogo de Roberto com o bêbado excitado muito bacana:
-Tu perdeu alguma coisa, parceiro?
-Não...
-Perdeu sim, só não sei se foi o respeito, o juízo ou a noção do perigo, te manda!
O bebum deu de ombros e foi embora, e Roberto se ajoelhou e ajudou Adriana a se levantar, a amparou até uma cadeira, tirou sua sandália e lhe trouxe um copo de água. Só depois que ela bebera a água sentindo o gás machucar sua garganta, ele tirou o cabelo dela dos olhos e perguntou se ela estava legal.
Ele acompanhou ela e Fabi até sua casa quando saíram da danceteria, e perguntou, outra vez, se ela estava bem. Despediu-se beijando ela na testa, e foi embora a pé, caminhando devagar e mexendo no telefone.
Fabi disse pra ela quando entraram no prédio "O Roberto tá na tua.", e ela deu uma risada forçada pro lado, como quem responde "Ah, é.", mas no fundo, ela imaginou que seria bacana, que talvez, nem todos os homens saíssem da mesma linha de produção, e, se saíssem, talvez ela pudesse dar a sorte de encontrar um "com defeito".
terça-feira, 29 de junho de 2010
Feijão com Arroz.
Acácio não era um homem bonito. Não que fosse feio como o Tévez, não, mas não era bonito. Aparência mediana. Era assim que era Acácio. Aparência mediana, um metro e setenta e sete de altura. Estatura mediana. Cabelos castanhos, olhos castanhos, branco. Calçava 41, não usava barba ou bigode.
Acácio seria descrito, se alguém tivesse que descrevê-lo, como um sujeito comum.
Acácio também não era particularmente inteligente, na faculdade, onde cursava administração, passava por média. Média. Essa palavra perseguia Acácio. Mais que a palavra, o conceito. Acácio era assim. Médio. Mediano, medíocre.
Acácio era um pálido fantasma, um estereótipo. Ele jamais seria descoberto por um caça-talentos, mas certamente seria escalado como figurante em um filme ou novela, pois era do tipo que se vê em qualquer esquina.
Acácio não chegava a se importar com isso. Convivia bem com a própria mediocridade. Claro, vez por outra se pegava tendo sonhos de grandeza, jogava na loteria, participava de concursos e sorteios, mas, na maior parte do tempo, Acácio estava ciente de sua mediocridade, e, até conformado com ela.
Acácio não era mediano e medíocre apenas em uma coisa:
Ângela.
Ângela era namorada de Acácio. Ela era tudo o que Acácio não era. Ângela era morena, de cabelos negros como a asa da graúna, mas um pouco mais curtos que seu talhe da folha de palmeira, tinha olhos verdes faiscantes, algumas sardas marotas salpicadas sobre o nariz e os ombros. Ângela era mais bonita que a maioria, era mais alta, mais magra e tinha pés menores. Com um metro e setenta e sete centímetros, a mesma altura de Acácio, ela se equilibrava sobre pezinhos tamanho 34. Ângela também era mais inteligente que a maioria. Cursava faculdade de física. E era o segundo curso superior de Ângela, já formada em química.
Ninguém entendia o que Ângela vira em Acácio, uma vez que Acácio não era sujeito de grandes atrativos, sequer tinha um grande papo, era agradável, educado, mas, com mil demônios, todos eram polidos, educados, praticamente lordes ingleses, na presença coruscante de Ângela. Por que logo Acácio? Ninguém sabia, ninguém podia entender, mas o fato era que Ângela namorava com Acácio, de passear de mãos dadas e de trocarem beijos resfolegantes na frente do prédio da universidade.
Talvez fosse alguma conjunção astrológica que lançou uma luz sobre Acácio no momento exato em que Ângela olhou pra ele pela primeira vez, ou, quem sabe, Acácio sequestrara algum familiar de Ângela e prometera não matá-lo se ela aceitasse ser sua namorada, ou ela, física, afinal de contas, descobrira como vislumbrar o futuro e descobriu que Acácio ganharia na loteria em algum momento? Só podia ser algo assim, ou, pelo menos era o que especulavam os invejosos e as fofoqueiras de plantão.
Ângela tinha outros pretendentes, sujeitos fortões, com braços grossos como pernas, e músculos abdominais divididos em mais gomos do que uma bergamota. Havia esnobado o dono de uma empresa de tecnologia que não andava de carro quando ia á praia, mas de helicóptero, isso sem contar todos os outros sujeitos que a cortejavam onde quer que fosse. Pór que, então, Ângela, com tantos predicados, cheia de possibilidades, continuava com Acácio, aquele poço tranquilo de normalidade?
Era por que Acácio era tudo que Ângela não era. Acácio tranquilizava Ângela quando ela estava nervosa, ele a ajudava a encontrar os trilhos da normalidade quando ela se tornava demasiado extravagante, ele não era ambicioso, e isso a fazia querer ser mais generosa, ele não era apressado, e isso a fazia aproveitar melhor o caminho que trilhavam juntos. Ângela sabia o que queria e pra onde ia, Acácio encarava qualquer coisa e ia à qualquer lugar, contanto que fosse com ela.
As qualidades de Acácio podiam não ser particularmente chamativas, mas eram exatamente aquelas de que Ângela precisava para complementar as suas próprias.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Testemunha
Sentado na beira do caminho, olhando com aquela curiosidade acadêmica a forma como as demais pessoas se comportam, algo alheio aos sentimentos e ás sensações da vida daquela gente estranha.
Era assim que ele era, não?
Reservado, fechado, algo frio, distante, até?
Claro que ele era. Como poderia ser diferente? Por que deveria ser diferente? Quando, em sua vida, alguém lhe deu qualquer razão para que não fosse assim? Para que adotasse alguma postura que não essa?
Ele se sentia bem assim. Não achava que estava ferindo ninguém, não achava que estivesse sendo um incômodo para ninguém. Não se colocava em papel de vítima ou de algoz de ninguém, e não podia se responsabilizar pelos papéis aos quais os outros o escalavam, certo? Ele se escalava no papel de testemunha. Ás vezes achava que a vida o queria no papel de mártir, mas, francamente, isso era só em momentos particularmente dramáticos, e, também, era um papel que ele não aceitava.
Testemunha.
Assim ele se sentia bem. OK, bem é um exagero. Nesse papel ele não se sentia mal. Melhor?
De toda a sorte, ele sabia ser testemunha. Vez que outra interferia, sempre deixava bem claro, interferia para seu próprio prazer ou por ser sua responsabilidade, não ligava para os outros, testemunhas não fazem isso, mas ele se sentia no direito, mais que isso, na obrigação, de defender o próprio bem-estar, por fugaz que pudesse ser, de quando em quando.
Ele estava tranquilo. Conseguia viver daquele jeito, e vivia com relativo sucesso, um dia por vez, pois era como estava equipado para viver pelas vicissitudes do destino.
Mas, e sempre há um "mas", ou um "porém", ou um "todavia", ás vezes, ele sentia que estava perdendo alguma coisa. Especialmente no que se referia á ela. Os olhos dela, o seu sorriso, a forma como ela inquiria "O quê?" quando ele a olhava com certa devoção, eram coisas que o faziam se questionar. Havia momentos em que ele se perguntava se não podia ser mais que isso. Se não poderia ser mais que testemunha lutando para não ser mártir. Ás vezes ele se perguntava em que papel ela o escalara. Se ele teria um papel de destaque, ou se seria só mais um alguém naquele elenco. Na maior parte do tempo, ele preferia não saber, porque pode ser doloroso conhecer a verdade sobre o que as pessoas pensam de você. Saber que, pra elas, tu não tens o valor que elas têm pra ti, ou saber, como ás vezes ele tinha a impressão de saber, que ela era demasiado diferente dele, que tinha gostos, cores e tons diferentes demais dele, e que, em algum momento, se ele se abrisse, ela perceberia o quão sem graça ele era.
Ele se mantinha, então, naquela distância segura, naquele perímetro defensivo onde podia evitar, ou, ao menos arrefecer, a dor que lhe poderiam infligir, naquele local onde ele, com a sua distância, com sua clausura e reserva, com seu quê de frieza, estava confortável, onde não colocaria tudo á perder.
Por vezes, ele se sentia covarde, em outras, ele apenas percebia que estava sendo sensato. Com mil demônios, como ele queria ser insensato, pelo menos uma vez.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Resenha Cinema: Esquadrão Classe A
Ontem convenci meus amigos á deixar o Príncipe da Pérsia de Jake Gyllenhaal pra mais tarde, e assistir a adaptação para os cinemas do clássico da televisão oitentista Esquadrão Classe A. Lembra desse? Era o seriado que mostrava veteranos da guerra do Vietnã, que, traídos pelo exército se tornavam mercenários, e tinha, como grande expoente, Mr. T, interpretando B.A., o sargento casca-grossa que usava uns colares maneiros e um moicano malvadão. Fazia muito sucesso, eu, claro, era fã do B.A. por que ele era o Mr. T, e também fã do Murdock por uma questão de estilo (Nós dois usávamos bonés com frequência), eu tinha bonecos de todos os membros da equipe, e até o furgão extra-cool onde eles rodavam para suas missões. Enfim, era, á despeito da tenra idade, fã da série, e, quando vi que a adaptação sairia, fui tomado pela ansiedade e pela tensão, afinal, alguém lembra de uma adaptação de seriado que tenha funcionado?
As Panteras: Lixo.
S.W.A.T.: Lixo.
Starsky & Hutch: Lixo.
Super máquina: Lixo.
A lista de equívocos é grande, e, pra piorar, é um filme da FOX, o que raramente é um bom sinal. Por outro lado, a direção e o roteiro caírem na mão de Joe Carnaham, diretor do bom NARC e do irregular A Última Cartada, era uma ideia promissora, assim como o envolvimento de Tony Scott na produção. O elenco, encabeçado por Liam Neeson e Bradley Cooper, também parecia tomar o rumo certo, de modo que eu não sabia se as coisas saíriam muito bem ou muito mal pro esquadrão nas telonas.
Bueno, após ver o filme, posso dizer que as coisas deram bastante certo.
Esquadrão Classe A começa mostrando o coronel dos Rangers John "Hannibal" Smith (Liam Neeson, se divertindo adoidado.) em missão de resgate ao tenente Templeton "Cara-de-Pau" Peck (Bradley Cooper, maneiraço no papel.) no méxico. Uma série de coincidências coloca Hannibal no caminho (literalmente) do militar exonerado Bosco B.A. Barracus (Quinton Rampage Jackson, esforçado, mas ainda assim o pior ator do filme.). Após resgatar Peck, os três precisam de um piloto de fuga, e, na ala psiquiátrica de um hospital, eles encontram outro ex-Ranger, o capitão H. M. Murdock (Sharlto Copley, genial), formando o grupo que todo mundo conheceu na TV.
Oito anos e oitocentas missões bem-sucedidas depois eles são uma lenda nas força-armadas, conhecidos por transformarem missões impossíveis em sucessos absurdos. Infelizmente essa fama os torna o alvo ideal para uma trama que envolve a CIA do agente Lynch (O Coruja Patrick Wilson), o exército e o Departamento de Defesa dos EUA da agente Sosa (Jéssica Biel, benzadeus!), e o Esquadrão acaba preso e destituído de suas patentes, sendo forçados a escapar para limpar seus nomes e impedir que um golpe bilionário seja executado às suas custas.
No final das contas, é um filmaço de ação repleto de absurdos que não cai no ridículo apenas por que tem a decência de não se levar á sério desde a primeira sequência de ação. Outro trunfo é o elenco, Liam Neeson e Bradley Cooper caem como luvas no papel do cerebral Hannibal e do mulherengo boa-pinta Cara-de-Pau, e, se Quinton Jackson não chega á ser um Daniel Day-Lewis, não compromete no papel de B.A., mas quem rouba a cena é Sharlto Copley, o Wikus Van Der Merwe de Distrito 9 encarna o pirado Murdock com maestria, e cada cena em que ele aparece garante boas risadas, especialmente suas interações com B.A., o Ranger do ar que executou 516 saltos bem sucedidos e ficou com medo de voar após um único passeio com Murdock.
Como de hábito, tenho que ressaltar que não, Esquadrão Classe A não é um filme perfeito, mas ele abraça seus defeitos (O exagero, o absurdo, até uma pequena dose de canastrice aqui e ali.) ao invés de disfarçá-los, o que torna toda a viagem mais divertida e saborosa.
Vale muito a pena.
"Adoro quando um plano dá certo."
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Rapidinhas do Capita.
Ela, muito bonita, vinte e dois aninhos, corpo esguio, volume apenas nos lugares certos, cabelo castanho, carinha de francesa, calça jeans, sandália de salto preta, bluza de lurex dourada, escorada em uma coluna na danceteria parecendo perdida. Ele se aproximou, pouco mais alto que ela, cavanhaque só embaixo do queixo, cabelo preto e encaracolado, não era bonito, mas não chegava á ser totalmente repelente. Parou na coluna em frente á dela, falando bem alto pra tentar superar a batida ensurdecedora da música da Lady Gaga.
-Oi.
-Oi.
-Tudo jóia?
-Hã?
-Tudo jóia?
-Tudo, tudo.
-Curtindo a festa?
-Quê?
-Curtindo a festa?
-Sim, sim, tá boa.
-Já tinha vindo aqui, antes?
-Quê?
-Já tinha vindo aqui, antes?
-Não, primeira vez.
-...
-...
-Tu veio sozinha?
-Quê?
-Tu veio sozinha?
-Desculpa, não te ouvi, o quê?
-TU VEIO SOZINHA?
-Não. Tô com uma amiga. Mas ela sumiu.
-Ah.
-Quê?
-Eu disse "ah", como quem entende, tá ligada?
-Hã?
-Eu te amo! Tu é linda, quando eu olhei pra ti, a música silenciou, as cores empalideceram e as outras mulheres se tornaram estátuas de sal, enquanto os homens se transformaram em elfos tocando harpas e flautas pra celebrar tua beleza e o meu amor recém-nascido.
-Quê?
-Quer dançar?
-Quero!
E eles viveram felizes para sempre, até as seis da manhã quando a amiga dela voltou e ela precisou aproveitar a carona.
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Adamastor observava Roberta sentada em sua mesa, duas mais á esquerda da sua, na sala onde operavam telemarketing. Assim que Bira, o único além deles que ainda estava na sala, saiu dando boa noite, Adamastor se levantou e foi até onde ela estava sentada. Agachou-se, segurou a mão dela com firmeza, a olhou nos olhos e disse que a amava. Ela riu. Ele continuou a encarando, sério. Repetiu que a amava.
-Desde o primeiro dia em que me sentei ali, eu te achei linda, mas só comecei a te amar quando nossos braços se tocaram no elevador. Era verão, tu estava de blusa de alcinha branca e eu com uma camiseta do Led Zeppelin. Eu te desejo em segredo desde então.
Ela ergueu os olhos, sua expressão branda se endureceu:
-Se tu me ama, vai fazer o que á respeito?
-O que tu quer que eu faça?
-Alguma coisa, qualquer coisa.
Adamastor esticou o braço jogando os fones as canetas e os papéis de Roberta no chão, o copo, cheio até a metade com um mocaccino virou, derramando o líquido quente sobre a escrivaninha.
Adamastor colheu Roberta pelos ombros enquanto a beijava com sofreguidão, com fúria. Deitou-a sobre a escrivaninha suja de cafe, rasgou sua blusa revelando seus seios cobertos pelo sutiã de renda cor de rosa, suspirou de desejo.
-Eu te amo, Roberta, eu te amo! Tu é minha, pra sempre minha, toda minha!
Roberta gemeu e resfolegou enquanto Adamastor a segurava com firmeza pelos quadris com a mão direita e explorava suas coxas com a esquerda sem jamais dar descanso aos seus lábios, que seguia fustigando com beijos desejosos., desceu os lábios pelo queixo, pescoço e peito e então...
-Boa noite, Adamastor, até amanhã.
Desperto de seu devaneio, Adamastor apenas sorriu e acenou, enquanto pensava:
Um dia desses...
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Resenha DVD: Preciosa - Uma História de Esperança
Sábado assisti a'O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus, passei horas agradáveis em companhia de pessoas de quem eu gosto, e, ao chegar em casa por volta das cinco e quinze da matina, percebi que tinha alugado o filme Preciosa - Uma História de Esperança, e ainda não havia assistido.
Dando sequência á minha meta de assistir todos os filmes concorrentes ao Oscar, enfiei o disco no DVD, e assisti.
Estava curioso, queria ver se a atuação de Mo'nike como a mãe da protagonista era fodona como alardeavam, queria ver se o filme era de fato, uma máquina de extrair lágrimas, e se Gaborney Sedibe, a Preciosa do título, era tão promissora quanto foi comentado. Se o filme não fosse nada disso, ainda haveria Paula Patton (Benzadeus!), então, não podia ser de todo ruim.
Preciosa conta a história de Caireece Precious Jones (Gaborney Sedibe), uma adolescente de dezesseis anos, negra, obesa e analfabeta funcional, ela divide seu tempo entre a escola e a casa onde vive com sua mãe (Mo'nike, ótima no papel.). Precious sofreu abusos sexuais recorrentes do pai, o que lhe rendeu uma filha, apelidada de Mongo, por ser portadora de síndrome de Down, e uma segunda gravidez. Não bastassem os abusos sexuais do pai, Precious ainda convive com os abusos psicológicos e físicos de sua mãe, Mary, que a ofende, espanca e explora enquanto assiste TV, come e fuma esperando pelo benefício do seguro-social.
A segunda gravidez de Precious leva a diretora do colégio que ela frequenta á encaminhá-la á uma escola alternativa.
Lá, ela conhece a profesora Blu Rain (Paula Patton, linda como sempre e emprestando um quê de distanciamento á sua personagem, conferindo-lhe mais veracidade.), que lhe mostra que existe outro caminho á seguir além do que leva á auto-comiseração.
Agora, falando sério, dá pra imaginar um filme mais clichê? Estão ali todos os elementos do dramalhão feito para a TV que recheava o Cinema em Casa do SBT nos anos oitenta. A jovem introspectiva que se torna agressiva pelos abusos, a mãe violenta e repelente que não ajuda a filha, a professora engajada que lhe mostra o caminho da luz, isso sem comentar a assistente social senhora Weiss de (uma irreconhecível, no bom sentido) Mariah Carey. Como, então, esse filme concorreu á tantos prêmios?
Bem, pesa aí a mão do diretor Lee Daniels, que ao invés de investir nas lágrimas fáceis prefere manter uma câmera na mão e alguma frieza na tarefa de "testemunhar" o que a mulherada faz no filme. Essa frieza certamente é a maior qualidade de todas as atuações, de Gabourne, que empresta agressividade e honestidade á Precious, até a melancolia de quem já viu tudo da senhora Weiss, passando pela estagnação enfurecida de Mary.
No final das contas, Preciosa é um bom filme; Embora em certos momentos eu tenha ficado com a impressão de que o roteiro se ocupou apenas de empilhar desgraças e mais desgraças em cima de uma pessoa só (Á certa altura eu já estava esperando que ela ficasse inválida ou que um de seus filhos morresse...) diante de uma câmera trêmula pra dar sensação de realidade na veia, as boas atuações e as escolhas acertadas do diretor, garantem a qualidade do programa. E ainda tem a Paula Patton. É um bom filme, sim, e merece ser assistido.
"Por favor, não minta pra mim, senhora Rain. O amor não fez nada por mim, exceto me espancar... Me estuprar... Me chamar de animal. Me fazer sentir inútil! Me deixar doente!"
Resenha Cinema: O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus
Sou fã de Terry Gilliam. Fã de carteirinha, um de meus filmes preferidos é O Pescador de Ilusões, adoro Os 12 Macacos e o Monty Python, curti Brazil - O Filme, enfim, gosto muito do trabalho de Gilliam, até o irregular Os Irmãos Grimm tem cadeira cativa na minha estante de DVDs, e ainda sonho em ver, um dia, seu (azaradíssimo) filme de Dom Quixote, mesmo que seja sem Johnny Depp.
Sendo, pois, fã do cineasta, foi com grande ansiedade que corri pro cinema no sábado à noite para assistir O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus, seu filme mais recente.
O longa conta a história do doutor Parnassus (Christopher Plummer, excelente.), um sábio imortal que viaja pelo mundo com seu espetáculo itinerante, em que conduz a imaginação das pessoas por um mundo mágico até que elas possam escolher entre a sabedoria e a iluminação, ou entre a danação e as trevas.
Acompanhado de sua trupe, formada por Anton (Andrew Garfield), Percy (Verne Troyer) e sua filha Valentina (Lily Cole), Parnassus segue com sua rotina escondendo um segredo: Mais de mil anos atrás, ele iniciou uma rotina de apostas com Nick, o diabo (Tom Waitts, maneiro.), que lhe concedeu imortalidade em um jogo de arrecadação de almas.
Acreditando ter superado o coisa-ruim, Parnassus continuou jogando com o capeta, até que, apaixonado, fez sua aposta mais arriscada, pedindo juventude e vigor em troca de qualquer filho que viesse a ter. Parnassus manteve-se sem filhos até que, milagrosamente, sua mulher engravidou aos sessenta anos, gravidez que gerou Valentina, que, ás vésperas de completar dezesseis anos, está prestes á ser coletada pelo inimigo de seu pai.
Parnassus, hoje um pálido reflexo do homem que foi, está desesperado e entregue á bebida, até que Nick surge, e oferece um último acordo á ele: Quem coletar cinco almas primeiro, vence, e mantém Valentina.
Desesperado ele aceita, embora sejam novos tempos, e seu espetáculo já não tenha o apelo que teve em outros tempos, Parnassus parte para o tudo ou nada, mas precisará de ajuda para superar o diabo e salvar sua filha e ela chega na forma de Tony (Heath Ledger, Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrel, todos muito bem), um estranho amnésico que eles encontram pendurado pelo pescoço na ponte de Londres e o convence á repaginar seu número para vencer a aposta derradeira, mas será que Tony é confiável?
Tá aí a premissa, maneira, original, e, quando vemos o filme, as boas atuações e o visual único empregado por Gilliam á seus filmes tornam a experiência toda ainda mais maneira.
Mas o filme tem lá seus defeitos. A morte de Ledger durante as filmagens, que forçou a participação dos parceiros Depp, Law e Farrel certamente dá uma quebrada no ritmo do filme. A participação dos três atores, fazendo o papel de Tony no mundo imaginário é legal, e casa bem com o tom da história, entretanto, o terceiro ato me deixou com uma sensação de que aquele, no final das contas, não foi bem o filme que Gilliam queria fazer, mas foi o que ele pôde fazer considerando tudo. O resultado é um ritmo um pouco irregular, especialmente levando em conta a cartilha dos filmes hollywoodianos que vemos sempre. No final das contas, ainda gostei do filme, e continuo fã do Gilliam, de quem quero continuar assistindo filmes, de preferência, filmes com trajetórias mais tranquilas por trás das câmeras.
"Não mate o mensageiro!"
sexta-feira, 11 de junho de 2010
FIFA WORLD CUP
Era um sábado, ela estava na cozinha, lavando a louça do café da manhã que acabara de tomar, ele nem tinha tomado café da manhã, estava na sala, sentado no sofá.
-Amor, vamos à casa da mãe, mais tarde?
-Hmmm.
-Amor? Ô, amor...
-Quê?
-Vamos na casa da mãe mais tarde?
-Fazê o quê, lá?
-Ah, ver ela, como ela tá... Vamos?
-Hmmm...
-Rodolfo?
-Que horas?
-Como que horas? Tu tem algum compromisso em pleno sábado?
-Tenho.
-Que compromisso?
-Hm?
-Que compromisso que tu tem, Rodolfo?
-Inglaterra e Estados Unidos, três da tarde.
-Quê?
-Inglaterra e Estados Unidos, jogo de abertura do grupo C.
-Ah, pelo amor de Deus, Rodolfo, futebol?
-Futebol, não, Copa do Mundo. É a meca do futebol, é uma novela feita só de últimos capítulos.
-Ah, Rodolfo... Por favor. Futebol tem duas vezes por semana o ano inteiro...
-Copa do Mundo é uma vez a cada quatro anos, só.
-Tá, tá bem. A gente pode ir depois do jogo, então. Acaba o quê, lá pelas cinco?
-O jogo, sim, mas aí tem as mesas redondas repercutindo a rodada, que só terminam lá pelas oito.
-Oito... Tá vamos ver, Acho que dá pra sair oito horas e chegar lá em uns vinte minutos-
-Não, não, oito e quinze tem o Jornal Nacional, eles têm reportagens especiais da Copa, e mostram os gols da rodada e já começam a antecipar a rodada de amanhã.
-Ah, que é isso, Rodolfo? Tu já não vai ter visto os gols durante o jogo? Pra que ver de novo depois? Eu não entendo isso. E amanhã? Podemos almoçar lá amanhã?
-Hm?
-Rodolfo! Presta atenção no que eu tô te falando! Vamos almoçar com a minha mãe amanhã?
-Que horas?
-Como "que horas", Rodolfo? Á que horas se almoça? Meio dia. Uma hora, vá lá, já que é domingo.
-...
-Rodolfo!
-Quê?
-Almoço! Amanhã! Uma da tarde! Na minha mãe!
-Não posso.
-Como não pode? Por que não pode?
-...
-RODOLFO!
-Quê?
-Por que não pode amanhã?
-Hm?
-Por que tu não pode almoçar lá amanhã, Rodolfo?
-Sérvia e Gana. Jogo oito, grupo D, começa onze da manhã.
-Tem TV na casa da minha mãe, Rodolfo. Dá pra tu assistir o jogo lá essa porcaria passa em todos os canais, mesmo.
-Não dá.
-Como não dá? Por que não dá?
-Antes de Sérvia e Gana tem Argélia e Eslovênia, jogo 6, grupo C. Começa oito e meia.
-Ah, mas que barbaridade. Esse mês vai ser todo assim? Tu sentado na frente da TV feito um zumbi? Eu falando contigo e tu sem prestar atenção, de olhos grudados na TV?
-...
-RODOLFO!
-Quê?
-Tu ouviu o que eu perguntei?
-Ouvi.
-E então?
-Amanhã não posso.
-Não foi isso Rodolfo! Eu perguntei se esse mês inteiro vai ser assim!
-Ah.
-E então?
-Então, o quê?
-Vai ser assim?
-Não.
-Ah, não?
-Não, eu trabalho durante a semana, só os finais de semana vão ser assim.
-Eu não vou suportar isso, Rodolfo. Tu tá me ouvindo? Eu não vou aguentar isso. Eu não sou palhaça, tu não pode ficar fazendo isso comigo, eu sou uma pessoa de verdade, com sentimentos de verdade, e, não me importa se é só uma vez a cada quatro anos, podia ser uma vez a cada dez anos, eu não vou ser tratada desse jeito dentro da minha casa, entendido?
-...
-RODOLFO!
-Shhh. Olha o hino da Coréia do Sul, que lindo.
-Eu vou embora! É isso. Eu vou embora e só volto no final desse evento imbecil. Só volto quando a FIFA libertar os homens do mundo. Ouviu, Rodolfo? Eu vou sumir o mês inteiro, tu nem tem ideia do que eu vou fazer. Tu vai passar um mês vendo vinte e dois marmanjos correndo atrás de uma bola e eu vou curtir a vida, entendeu? Não vou ser feita de palhaça pelo futebol. Quando eu voltar, se eu voltar, tu vai ficar te perguntando o que eu fiz o mês inteiro, e se tu me perguntar tu sabe o que eu vou dizer? Sabe?
-...
-RODOLFO!
-âhn?
-Tu sabe o que eu vou dizer?
-Pra quem?
-Pra ti, Rodolfo! Tu sabe o que eu vou te dizer?
-O quê?
-Que não interessa, Rodolfo, eu vou dizer que não interessa, que se tu pode passar um mês inteiro me ignorando, eu posso passar a vida inteira te sonegando uma informação. Vou dizer que não te interessa.
-Quando?
-Quando o quê, Rodolfo?
-O que tu tava falando, aí...
-O que... Eu falei um monte de coisa, Rodolfo, nem tenho como repetir tudo.
-...
-Eu vou embora. É isso. Vou embora. Tchau. Te diverte com o Luciano do Valle, com o Galvão Bueno, te diverte com eles porque eu fui.
-Nêga!
-Ah, eu sabia. O quê? Vai te desculpar?
-Traz uma cerveja quando voltar.
-VAI PRO INFERNO, RODOLFO!
Começou a Copa do Mundo. Mulheres do Brasil, tremei.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Tic-tac II
Retardo emocional. Era o diagnóstico que Adalberto fazia de si próprio:
Retardo emocional. Se alguém perguntasse á Adalberto o que significava esse diagnóstico, ele, de bom grado, explicaria que era a incapacidade de participar de um relacionamento como uma pessoa adulta e saudável. Adalberto não sabia fazer isso. Ele gostava de se relacionar, ele gostava de gostar de pessoas. Adalberto gostava de pessoas. Adalberto flertava, Adalberto fazia amizades (Poucas, afinal, era um misantropo com fortes tendências á ter um saudável misto de desconfiança e ódio da humanidade, mas ainda assim...), ele se apaixonava, amava. Ás vezes era fugaz, em outras durava anos.
Adalberto sabia o que queria. Á despeito de olhar pela janela e ler os jornais, e ver os noticiários e saber que aquele mundo estava com o prazo de validade bem próximo de expirar, e que o mais correto seria que ninguém mais tivesse filhos para garantir a extinção da raça humana caso a mãe natureza falhasse, ele ainda assim, sabia.
Adalberto queria ter uma família. Ele queria filhos, queria ensinar um moleque a olhar sob a saia das meninas e chutar uma bola, e queria encher o coração dos pretendentes de sua filha de pavor quando ela fosse sair pela primeira vez. E, acima de tudo, Adalberto queria uma mulher com quem pudesse envelhecer, alguém para lhe dizer que calças com prega estavam fora de moda, e que aquela camisa azul ficaria medonha com o blazer marrom. Alguém que perguntasse o que ele havia feito o dia todo, e em cujo colo ele pudesse deitar a cabeça se o dia houvesse sido medonho. Ele queria alguém de quem tomar conta, alguém á quem pudesse garantir a segurança, por mais improvável que seja a ideia de segurança em um mundo que está se esfacelando á olhos vistos. Ele queria uma companheira para dividir os dias, e as noites, e queria amar e ser amado. Mas nesse mundo? Sendo ele quem era? Sendo como era? Seria justo arrastar uma mulher especial o suficiente para amá-lo (E amar Adalberto era, de fato, tarefa para poucas e bravas pessoas.) para uma existência repleta de mazelas e obstáculos?
Eram os desejos de Adalberto, amar, ser amado, veruma família crescer... Pelo menos quando ele não estava vergando sob o peso do próprio pessimismo e da própria falta de noção de relacionamentos.
Adalberto já havia estado em relacionamentos, claro, mas sempre percebeu que não fora a pessoa que deveria ser. Ele sempre acabava interpretando um papel, e jamais era ele mesmo, se doava de menos, ou se doava demais, e então, magoava a pessoa que estava com ele, ou acabava ele, magoado.
E, para explicar sua dificuldade em se relacionar, o diagnóstico encontrado por Adalberto era esse:
Retardo emocional.
Relacionamentos, para Adalberto, eram tão misteriosos e complexos quanto física nuclear para uma criança de seis anos de idade.
A diferença é que Adalberto era uma criança de seis anos que, como Mahmmoud Ahmadinejar e Enéias Carneiro, queria uma bomba atômica.
Adalberto queria se relacionar, ele sabia com quem, mas ele não sabia como. E, com o planeta se esfacelando ao seu redor, ele via o relógio tique-taqueando, e imaginava se daria tempo para isso.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Resenha DVD: Amor Sem Escalas
Sábado dei sequência à minha peregrinação para assistir todos os concorrentes ao Oscar desse ano e ver se alguém me convence que Bastardos Inglórios não foi um injustiçado na categoria Melhor Filme.
Passei na locadora e apanhaei Amor sem Escalas, o filme de Jason Reitman, jovem diretor dos bons Juno e Obrigado por Fumar, estrelado por George Clooney.
A despeito do infeliz título em português remeter à uma comédia romântica das mais açucaradas, Amor sem Escalas (Up in the Air, no original) não tem anda de coma diabético. É um filme ácido, mas não indigesto.
Ryan Bingham (Clooney, ótimo.) é funcionário de uma empresa contratada para dar más notícias.
Ele viaja pelos Estados Unidos demitindo empregados de outras companhias, e livrando os chefes da ingrata tarefa. Ele é bom no que faz, e, mais importante, gosta do que faz. Ryan passa mais de 300 dias por ano viajando. Ele mora em um pequeno apartamento alugado onde praticamente não entra, tem duas irmãs que praticamente não vê, é membro de todos os clubes de fidelidade que possam lhe reverter milhas aéreas e ajudá-lo a alcançar seu objetivo:
Acumular dez milhões de milhas.
Ele também ministra palestras motivacionais em que apresenta a teoria da mochila vazia, ensinando as pessoas que não há nada de errado em não querer assumir compromissos de qualquer espécie. Na verdade, ao fazê-lo o indivíduo estará livre para se movimentar sem carregar o peso de relações interpessoais.
Ryan é um fiel adepto da filosofia em questão, em suas viagens ele coleciona relacionamentos fugazes sem jamais se amarrar, relacionamentos como o que engata com Alex (Vera Farmiga, excelente.), uma mulher independente e interessante que aparentemente partilha das convicções de Ryan, e mais do que isso, é, nas próprias palavras, um Ryan com uma vagina.
Ryan está feliz, até que sua empresa, pensando em aumentar os lucros no momento em que os EUA passam por uma crise econômica que lhes é muito favorável, abraça a ideia de utilizar uma nova tecnologia na arte de demitir.
Natalie Keener (Anna Kendrick, um achado!) desenvolveu o sistema que aumenta a eficácia do processo de dispensa de empregados ao utilizar a vídeo-conferência através da Internet para se reunir com os demitidos. Aumento de produtividade e redução dos custos, demitindo muito mais rápido, e mantendo todos em terra. Um pesadelo para Ryan, que subitamente se vê ensinando a arte na qual é mestre à Natalie enquanto se envolve cada vez mais profundamente com Alex, a ponto de, de fato, pensar em levar uma vida estável, longe dos aviões, aeroportos, locadoras de automóveis e hotéis.
Não se engane, apesar da premissa, Amor sem Escalas não é um desses filminhos de sessão da tarde, e jamais se torna um romance tradicional.
As ótimas atuações, o bom roteiro, e a direção segura de Reitman garantem a diversão, e até a reflexão a respeito da artificialidade das relações humanas em tempos de viagens, clubes de fidelidade e tecnologia de atualizações minuto a minuto.
Não é melhor que Bastardos Inglórios, mas é um ótimo filme.
"Todas as pessoas que já construíram um império ou mudaram o mundo, estiveram onde você está agora. E foi por terem estado onde você está, que elas foram capazes de fazê-lo."
sexta-feira, 4 de junho de 2010
...
Quando eu nasci, o pai de meu pai, um homem austero e até bruto, já havia morrido. Eu jamais o conheci, exceto pelos relatos de meu pai e meus tios que, confesso, não me deixaram com a impressão de ter perdido muita coisa.
O pai de minha mãe, eu também não cheguei a conhecer, mas por outras razões.
Ele era a ovelha negra de uma família do interior do Rio Grande do Sul, o que, à época, provavelmente convencionava-se caracterizar como um pândego. Um homem com gosto pela bebida, mulheres erradas, e que não era talhado para a vida em família, o que causou a separação dele e de minha avó. Ou, pelo menos, é a versão que me foi contada. Jamais o conheci, então, se ele tem uma versão diferente para os fatos, eu mantenho aberta a porta para eventualmente ouví-la, embora deva admitir que, após mais de 28 anos exposto á uma versão, fico inclinado a aceitá-la.
Enfim, como eu dizia, não conheci meus avós homens. Conheci um bisavô, o seu Costa, que era muito velhinho à época, conversava pouco, e, mesmo que falasse muito, eu era pequeno demais para discorrer acerca de qualquer tema com ele, exceto, sei lá, carrinhos e chupetas.
Minha avó materna, após se separar de meu avô, se casou novamente. Ela casou com Henrique, um homem de biografia tão vasta e diversificada quanto um secos e molhados do interior.
De imediato, lembro que ele foi marinheiro em São Paulo, lutou na Guerra da Coréia, foi boxeador na Argentina, agente da guarda-costeira, policial federal... Um sem-número de profissões, que ele abraçou e abandonou ao longo da vida.
Quando o conheci, de fato, lá com meus seis, sete anos de idade (Ele me conheceu bem antes, com dois dias de vida. Mas eu não me lembro.), lembro de achá-lo um sujeito durão, algo rude de vez em quando, mas era divertido. Tinha uma constituição sólida, era daqueles sujeitos que, quando tu olha, percebe que ele pode ser perigoso em uma briga independente da idade. Mas era uma cara que ele usava apenas externamente. Em casa era um sujeito bonachão, piadista, ás vezes até bobo.
Me lembro de sua enigmática pasta executiva, onde ele tinha os papéis de seu trabalho e um par de revólveres nos quais eu era proibido de tocar, exceto na presença dele e quando estavam descarregados. Me lembro de assistir filmes de Charles Bronson e Clint Eastwood e Silvester Stallone com ele. De acompanhar as Olimpíadas e corridas de Formula 1, ele sentado em sua poltrona, eu no chão, bem na frente da TV.
Henrique e minha avó não tiveram filhos, ele não tinha família, exceto por um irmão nos EUA, e uma irmã na Espanha. Minha mãe e minha tia não o chamavam de pai, o chamavam pelo primeiro nome, Henrique, e eu cresci acostumado a chamá-lo assim, também. Ás vezes, eu o encontrava no Centro de Porto Alegre, onde ele seguia trabalhando aos setenta e tantos anos. Quando o via, geralmente ele estava conversando com amigos, e me cumprimentava apertando muito a minha mão, e fazendo movimentos de queda-de-braço, então dizia que um dia eu teria que ganhar dele, e me apresentava aos amigos como seu neto.
Henrique jamais foi homem de ficar doente. Era um sujeito durão, como eu já disse. Mas a idade chegou. E, cerca de dois anos atrás ele foi acometido por um violento câncer no intestino. Só descobriu a doença em estágio avançado, o que dificultou o tratamento.
Passou por um par de cirurgias às quais os médicos não tinham certeza se sobreviveria. Sobreviveu. Poucos dias depois, estava subindo as escadas do prédio onde vivia. Mas nem tudo foram rosas.
As cirurgias, procedimentos invasivos e traumáticos, fizeram mal a ele. Ele começou a sofrer lapsos de memória, tonturas, ainda sofria com o câncer, que não fora totalmente eliminado e requeria cuidados.
A vida dele se tornou episódica. Ás vezes ele lembrava das coisas, ás vezes não.
Poucas semanas atrás, ele havia esquecido quem eram a minha tia e a minha avó, a quem se referia como "aquela enfermeira camarada".
Mas quando eu o visitava, ele sempre se lembrava de mim.
Pelo nome.
Dizia sempre que me conheceu quando eu tinha apenas dois dias de idade, e que me carregara no colo, e era capaz de lembrar que fora eu a instalar a antena da Televisão à que assistia atentamente na sala oito anos antes.
Na quarta-feira, durante a manhã gelada. Ele estava andando com a minha avó na rua. E sofreu uma tontura. Minha avó me chamou, pedindo que eu o ajudasse a levantar e tomar um táxi de volta para casa. Quando cheguei, ele estava sentado na calçada, parecia confuso. Dizia que se levantaria em um minuto.
Então me olhou e me chamou pelo nome.
Ele não se levantou. A despeito dos serviços da Brigada militar e dos esforços do SAMU, Henrique morreu na Avenida Borges de Medeiros ás dez para as onze da manhã da quarta-feira, dois de junho de 2010, 87 anos após nascer.
Durante seu funeral, na noite do mesmo dia, me lembrei do sujeito durão que me ensinou a amarrar os sapatos e cortar a carne com faca.
E só então percebi, que havia perdido meu avô.
O pai de minha mãe, eu também não cheguei a conhecer, mas por outras razões.
Ele era a ovelha negra de uma família do interior do Rio Grande do Sul, o que, à época, provavelmente convencionava-se caracterizar como um pândego. Um homem com gosto pela bebida, mulheres erradas, e que não era talhado para a vida em família, o que causou a separação dele e de minha avó. Ou, pelo menos, é a versão que me foi contada. Jamais o conheci, então, se ele tem uma versão diferente para os fatos, eu mantenho aberta a porta para eventualmente ouví-la, embora deva admitir que, após mais de 28 anos exposto á uma versão, fico inclinado a aceitá-la.
Enfim, como eu dizia, não conheci meus avós homens. Conheci um bisavô, o seu Costa, que era muito velhinho à época, conversava pouco, e, mesmo que falasse muito, eu era pequeno demais para discorrer acerca de qualquer tema com ele, exceto, sei lá, carrinhos e chupetas.
Minha avó materna, após se separar de meu avô, se casou novamente. Ela casou com Henrique, um homem de biografia tão vasta e diversificada quanto um secos e molhados do interior.
De imediato, lembro que ele foi marinheiro em São Paulo, lutou na Guerra da Coréia, foi boxeador na Argentina, agente da guarda-costeira, policial federal... Um sem-número de profissões, que ele abraçou e abandonou ao longo da vida.
Quando o conheci, de fato, lá com meus seis, sete anos de idade (Ele me conheceu bem antes, com dois dias de vida. Mas eu não me lembro.), lembro de achá-lo um sujeito durão, algo rude de vez em quando, mas era divertido. Tinha uma constituição sólida, era daqueles sujeitos que, quando tu olha, percebe que ele pode ser perigoso em uma briga independente da idade. Mas era uma cara que ele usava apenas externamente. Em casa era um sujeito bonachão, piadista, ás vezes até bobo.
Me lembro de sua enigmática pasta executiva, onde ele tinha os papéis de seu trabalho e um par de revólveres nos quais eu era proibido de tocar, exceto na presença dele e quando estavam descarregados. Me lembro de assistir filmes de Charles Bronson e Clint Eastwood e Silvester Stallone com ele. De acompanhar as Olimpíadas e corridas de Formula 1, ele sentado em sua poltrona, eu no chão, bem na frente da TV.
Henrique e minha avó não tiveram filhos, ele não tinha família, exceto por um irmão nos EUA, e uma irmã na Espanha. Minha mãe e minha tia não o chamavam de pai, o chamavam pelo primeiro nome, Henrique, e eu cresci acostumado a chamá-lo assim, também. Ás vezes, eu o encontrava no Centro de Porto Alegre, onde ele seguia trabalhando aos setenta e tantos anos. Quando o via, geralmente ele estava conversando com amigos, e me cumprimentava apertando muito a minha mão, e fazendo movimentos de queda-de-braço, então dizia que um dia eu teria que ganhar dele, e me apresentava aos amigos como seu neto.
Henrique jamais foi homem de ficar doente. Era um sujeito durão, como eu já disse. Mas a idade chegou. E, cerca de dois anos atrás ele foi acometido por um violento câncer no intestino. Só descobriu a doença em estágio avançado, o que dificultou o tratamento.
Passou por um par de cirurgias às quais os médicos não tinham certeza se sobreviveria. Sobreviveu. Poucos dias depois, estava subindo as escadas do prédio onde vivia. Mas nem tudo foram rosas.
As cirurgias, procedimentos invasivos e traumáticos, fizeram mal a ele. Ele começou a sofrer lapsos de memória, tonturas, ainda sofria com o câncer, que não fora totalmente eliminado e requeria cuidados.
A vida dele se tornou episódica. Ás vezes ele lembrava das coisas, ás vezes não.
Poucas semanas atrás, ele havia esquecido quem eram a minha tia e a minha avó, a quem se referia como "aquela enfermeira camarada".
Mas quando eu o visitava, ele sempre se lembrava de mim.
Pelo nome.
Dizia sempre que me conheceu quando eu tinha apenas dois dias de idade, e que me carregara no colo, e era capaz de lembrar que fora eu a instalar a antena da Televisão à que assistia atentamente na sala oito anos antes.
Na quarta-feira, durante a manhã gelada. Ele estava andando com a minha avó na rua. E sofreu uma tontura. Minha avó me chamou, pedindo que eu o ajudasse a levantar e tomar um táxi de volta para casa. Quando cheguei, ele estava sentado na calçada, parecia confuso. Dizia que se levantaria em um minuto.
Então me olhou e me chamou pelo nome.
Ele não se levantou. A despeito dos serviços da Brigada militar e dos esforços do SAMU, Henrique morreu na Avenida Borges de Medeiros ás dez para as onze da manhã da quarta-feira, dois de junho de 2010, 87 anos após nascer.
Durante seu funeral, na noite do mesmo dia, me lembrei do sujeito durão que me ensinou a amarrar os sapatos e cortar a carne com faca.
E só então percebi, que havia perdido meu avô.
Resenha cinema: Tudo Pode Dar Certo
Encarei, na terça-feira, minha segunda matinê em menos de uma semana, sessão das quatro e meia da tarde no Guion Lima e Silva, recanto tradicional de filmes de circuito reduzido. Foi lá que encontrei Tudo Pode Dar Certo, tradução meio preguiçosa pra Whatever Works, mais recente trabalho de Woody Allen á chegar as telas por aqui.
Sou fã de Allen, sério, você pode não acreditar que um nerd que ama sci-fi, quadrinhos e todas essas coisas gosta de Allen, mas eu gosto.
Não sou fã de carteirinha de todos os filmes dele, mas gosto demais de vários como Noivo Neurótico Noiva Nervosa (Ou será o contrário? Geralmente trato esse filme pelo título original, Annie Hall...), Na Era do Rádio, Poderosa Afrodite, Sonhos de um Sedutor, curti a fuga européia dele que rendeu Scoop, o excelente Match Point, Vicky Christina Barcelona (que foi o melhor filme do Almodóvar que eu já assisti), enfim, gosto dos filmes do Allen, e, naquelas rodas de amigos em que, quando um filme dele é mencionado alguém diz "Ah, tá louco, com esse cara...", eu sempre defendo á ele e sua filmografia (Não se preocupe, Woody.).
Mas, á despeito disso, vou confessar que jamais, que eu me lembre, havia assistido um filme do Allen no cinema. Sério. Não estou vasculhando minhas memória com muito afinco, mas, que eu me lembre, nunca havia visto um filme do Allen no cinema. Acho que é comum, me lembro de, em uma entrevista de divulgação de Scoop, o próprio Allen ter retrucado um elogio de Hugh Jackman com um comentário á esse respeito.
Mas, então, na terça-feira remediei isso. E não me arrependo nem um pouco. Tudo Pode Dar Certo é um filme ótimo.
Na história conhecemos Boris Yellnikoff (Larry David, o melhor alter-ego de Allen que eu já vi em um filme.), físico brilhante, inclusive tendo sido considerado para um Prêmio Nobel, ele vergou sobre o peso da própria misantropia e neurose, e, após uma tentativa fracassada de suicídio que resultou em uma lesão que o faz mancar e um divórcio, vive sozinho em Nova York dando aulas de xadrez para crianças(Geniais as sequências em que ele "ensina" aos pimpolhos a arte do enxadrismo.).
Ele vive sozinho, defendendo-se do mundo que o cerca com sarcasmo, cinismo e cetisismo em quantidades industriais, e acha que está bem.
As coisas mudam quando Melody Celestine (Evan Rachel Wood, linda, rescindindo doçura e frescor.), uma jovem e desmiolada concorrente de concursos de beleza do Mississipi que fugiu de casa aparece em sua porta.
A jovem pede guarida, á contragosto Boris aceita, e eles passam á viver juntos até que Melody consiga um emprego e possa se virar sozinha.
Na relação dos dois estão alguns dos melhores momentos do filme. Melody é uma menina avoada, burrinha, doce e gentil, Boris é um velho cínico, falastrão e agressivo, mas eles se entrosam. Melody tenta entender Boris, nem sempre consegue, mas pelo menos toca o velho rabugento. E a parceria se torna um casamento. Um casamento feliz.
Pelo menos até a mãe de Melody, Marietta (Patricia Clarkson), encontrar a filha, desaprovar a relação dela com Boris, e se inserir na vida do casal ao mesmo tempo em que procura seu lugar no mundo após a separação do marido, que mais tarde também surge em Nova York, e se vê na mesma situação vivida por Melody e Marietta. Tudo isso tendo por testemunha Boris, o gênio excêntrico que enxerga o cenário mais amplo (Táo amplo que, em vários momentos quebra a quarta parede e fala com a audiência.) e não passa incólume pela experiência.
Enfim, apesar de gstar de Scoop, Match Point, Viky Cristina Barcelona, é bom ver Woody Allen de volta á Nova York, aos judeus neuróticos e ás mulheres doces. Á despeito do que Boris anuncia logo no início da projeção, Tudo Pode Dar Certo é um "feelgood movie". Pelo menos, á despeito de ter descoberto que sou Boris Yellnikoff, eu me senti bem.
"É isso que eu não posso repetir o suficiente, qualquer amor que você puder colher e partilhar, qualquer felicidade que puder agarrar ou prover, qualquer medida temporária de graça, tudo pode dar certo."
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