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terça-feira, 29 de junho de 2010

Feijão com Arroz.


Acácio não era um homem bonito. Não que fosse feio como o Tévez, não, mas não era bonito. Aparência mediana. Era assim que era Acácio. Aparência mediana, um metro e setenta e sete de altura. Estatura mediana. Cabelos castanhos, olhos castanhos, branco. Calçava 41, não usava barba ou bigode.
Acácio seria descrito, se alguém tivesse que descrevê-lo, como um sujeito comum.
Acácio também não era particularmente inteligente, na faculdade, onde cursava administração, passava por média. Média. Essa palavra perseguia Acácio. Mais que a palavra, o conceito. Acácio era assim. Médio. Mediano, medíocre.
Acácio era um pálido fantasma, um estereótipo. Ele jamais seria descoberto por um caça-talentos, mas certamente seria escalado como figurante em um filme ou novela, pois era do tipo que se vê em qualquer esquina.
Acácio não chegava a se importar com isso. Convivia bem com a própria mediocridade. Claro, vez por outra se pegava tendo sonhos de grandeza, jogava na loteria, participava de concursos e sorteios, mas, na maior parte do tempo, Acácio estava ciente de sua mediocridade, e, até conformado com ela.
Acácio não era mediano e medíocre apenas em uma coisa:
Ângela.
Ângela era namorada de Acácio. Ela era tudo o que Acácio não era. Ângela era morena, de cabelos negros como a asa da graúna, mas um pouco mais curtos que seu talhe da folha de palmeira, tinha olhos verdes faiscantes, algumas sardas marotas salpicadas sobre o nariz e os ombros. Ângela era mais bonita que a maioria, era mais alta, mais magra e tinha pés menores. Com um metro e setenta e sete centímetros, a mesma altura de Acácio, ela se equilibrava sobre pezinhos tamanho 34. Ângela também era mais inteligente que a maioria. Cursava faculdade de física. E era o segundo curso superior de Ângela, já formada em química.
Ninguém entendia o que Ângela vira em Acácio, uma vez que Acácio não era sujeito de grandes atrativos, sequer tinha um grande papo, era agradável, educado, mas, com mil demônios, todos eram polidos, educados, praticamente lordes ingleses, na presença coruscante de Ângela. Por que logo Acácio? Ninguém sabia, ninguém podia entender, mas o fato era que Ângela namorava com Acácio, de passear de mãos dadas e de trocarem beijos resfolegantes na frente do prédio da universidade.
Talvez fosse alguma conjunção astrológica que lançou uma luz sobre Acácio no momento exato em que Ângela olhou pra ele pela primeira vez, ou, quem sabe, Acácio sequestrara algum familiar de Ângela e prometera não matá-lo se ela aceitasse ser sua namorada, ou ela, física, afinal de contas, descobrira como vislumbrar o futuro e descobriu que Acácio ganharia na loteria em algum momento? Só podia ser algo assim, ou, pelo menos era o que especulavam os invejosos e as fofoqueiras de plantão.
Ângela tinha outros pretendentes, sujeitos fortões, com braços grossos como pernas, e músculos abdominais divididos em mais gomos do que uma bergamota. Havia esnobado o dono de uma empresa de tecnologia que não andava de carro quando ia á praia, mas de helicóptero, isso sem contar todos os outros sujeitos que a cortejavam onde quer que fosse. Pór que, então, Ângela, com tantos predicados, cheia de possibilidades, continuava com Acácio, aquele poço tranquilo de normalidade?
Era por que Acácio era tudo que Ângela não era. Acácio tranquilizava Ângela quando ela estava nervosa, ele a ajudava a encontrar os trilhos da normalidade quando ela se tornava demasiado extravagante, ele não era ambicioso, e isso a fazia querer ser mais generosa, ele não era apressado, e isso a fazia aproveitar melhor o caminho que trilhavam juntos. Ângela sabia o que queria e pra onde ia, Acácio encarava qualquer coisa e ia à qualquer lugar, contanto que fosse com ela.
As qualidades de Acácio podiam não ser particularmente chamativas, mas eram exatamente aquelas de que Ângela precisava para complementar as suas próprias.

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