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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Resenha cinema: Tudo Pode Dar Certo


Encarei, na terça-feira, minha segunda matinê em menos de uma semana, sessão das quatro e meia da tarde no Guion Lima e Silva, recanto tradicional de filmes de circuito reduzido. Foi lá que encontrei Tudo Pode Dar Certo, tradução meio preguiçosa pra Whatever Works, mais recente trabalho de Woody Allen á chegar as telas por aqui.
Sou fã de Allen, sério, você pode não acreditar que um nerd que ama sci-fi, quadrinhos e todas essas coisas gosta de Allen, mas eu gosto.
Não sou fã de carteirinha de todos os filmes dele, mas gosto demais de vários como Noivo Neurótico Noiva Nervosa (Ou será o contrário? Geralmente trato esse filme pelo título original, Annie Hall...), Na Era do Rádio, Poderosa Afrodite, Sonhos de um Sedutor, curti a fuga européia dele que rendeu Scoop, o excelente Match Point, Vicky Christina Barcelona (que foi o melhor filme do Almodóvar que eu já assisti), enfim, gosto dos filmes do Allen, e, naquelas rodas de amigos em que, quando um filme dele é mencionado alguém diz "Ah, tá louco, com esse cara...", eu sempre defendo á ele e sua filmografia (Não se preocupe, Woody.).
Mas, á despeito disso, vou confessar que jamais, que eu me lembre, havia assistido um filme do Allen no cinema. Sério. Não estou vasculhando minhas memória com muito afinco, mas, que eu me lembre, nunca havia visto um filme do Allen no cinema. Acho que é comum, me lembro de, em uma entrevista de divulgação de Scoop, o próprio Allen ter retrucado um elogio de Hugh Jackman com um comentário á esse respeito.
Mas, então, na terça-feira remediei isso. E não me arrependo nem um pouco. Tudo Pode Dar Certo é um filme ótimo.
Na história conhecemos Boris Yellnikoff (Larry David, o melhor alter-ego de Allen que eu já vi em um filme.), físico brilhante, inclusive tendo sido considerado para um Prêmio Nobel, ele vergou sobre o peso da própria misantropia e neurose, e, após uma tentativa fracassada de suicídio que resultou em uma lesão que o faz mancar e um divórcio, vive sozinho em Nova York dando aulas de xadrez para crianças(Geniais as sequências em que ele "ensina" aos pimpolhos a arte do enxadrismo.).
Ele vive sozinho, defendendo-se do mundo que o cerca com sarcasmo, cinismo e cetisismo em quantidades industriais, e acha que está bem.
As coisas mudam quando Melody Celestine (Evan Rachel Wood, linda, rescindindo doçura e frescor.), uma jovem e desmiolada concorrente de concursos de beleza do Mississipi que fugiu de casa aparece em sua porta.
A jovem pede guarida, á contragosto Boris aceita, e eles passam á viver juntos até que Melody consiga um emprego e possa se virar sozinha.
Na relação dos dois estão alguns dos melhores momentos do filme. Melody é uma menina avoada, burrinha, doce e gentil, Boris é um velho cínico, falastrão e agressivo, mas eles se entrosam. Melody tenta entender Boris, nem sempre consegue, mas pelo menos toca o velho rabugento. E a parceria se torna um casamento. Um casamento feliz.
Pelo menos até a mãe de Melody, Marietta (Patricia Clarkson), encontrar a filha, desaprovar a relação dela com Boris, e se inserir na vida do casal ao mesmo tempo em que procura seu lugar no mundo após a separação do marido, que mais tarde também surge em Nova York, e se vê na mesma situação vivida por Melody e Marietta. Tudo isso tendo por testemunha Boris, o gênio excêntrico que enxerga o cenário mais amplo (Táo amplo que, em vários momentos quebra a quarta parede e fala com a audiência.) e não passa incólume pela experiência.
Enfim, apesar de gstar de Scoop, Match Point, Viky Cristina Barcelona, é bom ver Woody Allen de volta á Nova York, aos judeus neuróticos e ás mulheres doces. Á despeito do que Boris anuncia logo no início da projeção, Tudo Pode Dar Certo é um "feelgood movie". Pelo menos, á despeito de ter descoberto que sou Boris Yellnikoff, eu me senti bem.

"É isso que eu não posso repetir o suficiente, qualquer amor que você puder colher e partilhar, qualquer felicidade que puder agarrar ou prover, qualquer medida temporária de graça, tudo pode dar certo."

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