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segunda-feira, 21 de junho de 2010
Testemunha
Sentado na beira do caminho, olhando com aquela curiosidade acadêmica a forma como as demais pessoas se comportam, algo alheio aos sentimentos e ás sensações da vida daquela gente estranha.
Era assim que ele era, não?
Reservado, fechado, algo frio, distante, até?
Claro que ele era. Como poderia ser diferente? Por que deveria ser diferente? Quando, em sua vida, alguém lhe deu qualquer razão para que não fosse assim? Para que adotasse alguma postura que não essa?
Ele se sentia bem assim. Não achava que estava ferindo ninguém, não achava que estivesse sendo um incômodo para ninguém. Não se colocava em papel de vítima ou de algoz de ninguém, e não podia se responsabilizar pelos papéis aos quais os outros o escalavam, certo? Ele se escalava no papel de testemunha. Ás vezes achava que a vida o queria no papel de mártir, mas, francamente, isso era só em momentos particularmente dramáticos, e, também, era um papel que ele não aceitava.
Testemunha.
Assim ele se sentia bem. OK, bem é um exagero. Nesse papel ele não se sentia mal. Melhor?
De toda a sorte, ele sabia ser testemunha. Vez que outra interferia, sempre deixava bem claro, interferia para seu próprio prazer ou por ser sua responsabilidade, não ligava para os outros, testemunhas não fazem isso, mas ele se sentia no direito, mais que isso, na obrigação, de defender o próprio bem-estar, por fugaz que pudesse ser, de quando em quando.
Ele estava tranquilo. Conseguia viver daquele jeito, e vivia com relativo sucesso, um dia por vez, pois era como estava equipado para viver pelas vicissitudes do destino.
Mas, e sempre há um "mas", ou um "porém", ou um "todavia", ás vezes, ele sentia que estava perdendo alguma coisa. Especialmente no que se referia á ela. Os olhos dela, o seu sorriso, a forma como ela inquiria "O quê?" quando ele a olhava com certa devoção, eram coisas que o faziam se questionar. Havia momentos em que ele se perguntava se não podia ser mais que isso. Se não poderia ser mais que testemunha lutando para não ser mártir. Ás vezes ele se perguntava em que papel ela o escalara. Se ele teria um papel de destaque, ou se seria só mais um alguém naquele elenco. Na maior parte do tempo, ele preferia não saber, porque pode ser doloroso conhecer a verdade sobre o que as pessoas pensam de você. Saber que, pra elas, tu não tens o valor que elas têm pra ti, ou saber, como ás vezes ele tinha a impressão de saber, que ela era demasiado diferente dele, que tinha gostos, cores e tons diferentes demais dele, e que, em algum momento, se ele se abrisse, ela perceberia o quão sem graça ele era.
Ele se mantinha, então, naquela distância segura, naquele perímetro defensivo onde podia evitar, ou, ao menos arrefecer, a dor que lhe poderiam infligir, naquele local onde ele, com a sua distância, com sua clausura e reserva, com seu quê de frieza, estava confortável, onde não colocaria tudo á perder.
Por vezes, ele se sentia covarde, em outras, ele apenas percebia que estava sendo sensato. Com mil demônios, como ele queria ser insensato, pelo menos uma vez.
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Ser testemunha é muita responsabilidade! Contudo, para saber qual papel "ela" daria a ele, é preciso estar mais perto, talves, não mais como testemunha, e sim como personagem. Agora, que papel ter, vai depender dos atributos que o ator dispõe.
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