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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ridículo


Eram três sentados no sofá, jogando video game. Dois disputavam uma partida de futebol virtual enquanto o terceiro lia a Playboy de abril esperando sua vez de jogar.
Era justamente esse que lia a Playboy, o Walter, quem falou:
-Barbaridade, mas que mulher gostosa!
E espichou o pôster dobrado no meio da revista, onde a moça em questão fazia uma posição de balé nua em pelo. Admirando mesmerizado o pôster ele continuou:
-Quem é ela?
Um dos que jogava, Mário, incapaz de resistir a uma foto de mulher nua, espichou o olho e viu, de soslaio, a parte de trás do pôster, com uma foto em cujo centro exibia-se garboso o traseiro pétreo da moça em questão.
-Puta que o pariu! - Exclamou o voyeur de ocasião, pausando o jogo e apanhando o pôster e virando-o sem pedir licença.
-Quem é esta égua? - Inquiriu, ignorando que "égua" dificilmente poderia ser considerado um elogio, mesmo que tenha parecido como tal em sua cabeça nas breves frações de segundo em que ele pensou antes de verbalizar.
O terceiro, que estivera calado até ali, olhou de relance e disse:
-Ah, é um dançarina do Faustão. Muito boa, mesmo... - Aquiesceu antes de apontar para a televisão com a cabeça e perguntar:
-Bora?
Tarde demais, no entanto... O seu antagonista no clássico eletrônico, agora, perdera de vez o foco no jogo, estava olhando apenas a moça nua.
-E aquela da Lindsay Lohan, tu comprou? - Perguntou o Walter, que originalmente encontrara a revista ao lado do sofá.
-Comprei. - Disse o terceiro, dono da casa, com pouco caso. - Muito palha. Não mostra quase nada. Perde de goleada pra qualquer uma das brasileiras...
-É, eu sei. - Concordou Walter - Queria ver mais por curiosidade, mesmo. A mina é podre de bagaceira...
-Arram... Dá pra voltar ao jogo ou tu vai te trancar no banheiro com a revista, simpatia? - Inquiriu o dono da casa ao seu distraído antagonista.
-Não, não... Bora jogar. - Concordou Mário, largando a revista enquanto balançava a cabeça positivamente com os cantos da boca virados pra baixo em sinal de admiração.
Jogaram por mais alguns minutos enquanto Walter começava a folhear uma Aventura na História de 2001 que encontrara sob o sofá. Inquieto, largou a revista e disse ao acaso:
-Uma vez eu me vesti de prenda, corri até o quintal onde a minha irmã estava brincando de casinha com as amigas dela e gritei "Chegou a dona cobra!", levantei o vestido e mostrei o tico pra elas.
Os outros dois pausaram o jogo em uníssono, o dono da casa, que andava meio sorumbático naqueles dias, não se aguentou e riu, o outro então, quase chorou de tanto gargalhar. O dono da casa perguntou enquanto ria:
-Mas que merda é essa?
-Sei lá... - Disse o Walter. - Me veio à mente. Acho que foi o momento mais ridículo da minha vida. - Reconheceu.
O dono da casa riu.
-É ridículo, claro, mas é normal moleque fazer isso. Eu, com seis anos de idade brinquei com a Raquel, uma vizinha da praia, de subir na mesa da sala e arriar a calça. Acho que nessa idade, tirando o vestido de prenda, isso é normal...
Walter riu desconfortável:
-É, mas eu já tinha doze...
Mário, limpando uma lágrima, disse:
-Então fodeu, mano, tu queria era ser travesti, mas não foi homem suficiente pra abraçar a causa.
Riram de novo.
O Mário começou:
-Eu nunca fui exibicionista... Até o capitão bom-moço aqui já se exibiu pra vizinha - Disse apontando com o queixo pro dono da casa. - Eu não. Nunca fiz isso. Acho que é porque eu sempre fui muito feio. -
-Só tu? Interrompeu o dono da casa, apontando pra própria cara e pro Walter, que protestou:
-Vai se foder.
Mas o Mário seguiu:
-A primeira vez que uma mulher que não fosse minha mãe me dando banho, ou uma avó ou tia trocando fralda viu meu tico, foi quando eu já tinha dezoito anos.
-Dezoito? - Inquiriu espantado Walter. - Não é meio tarde?
-Não acho... - Disse o Mário. -Quantos anos tu tinha quando uma mulher te viu sem roupa a primeira vez? - Perguntou ao dono da casa:
-Se não contar a Raquel, a vizinha lá de Pinhal, eu tinha dezesseis. - Ele respondeu sem precisar pensar.
-E tu? - Perguntou ao outro.
-Doze, porra. Acabei de dizer, as amigas da minha irmã...
-Não, velho, tirando isso. Pra valer, mesmo, a fú.
-Ah, então quatorze.
-Ah... Então eu sou faísca atrasada, mesmo... -Reconheceu. E então continuou:
-Enfim, eu tinha dezoito. Ela era perva-
-Era o quê? - Perguntou o dono da casa.
-Perva. Profissa. Da noite. Puta - Explicou.
-Ah.
-Enfim, ela era profissional, e eu tava lá, dezoito anos, nervoso barbaridade. Deitei peladão do lado dela, só de meia-
-De meia? - Perguntou Walter, rindo. -Por que de meia?
-Sei lá... Não queria estar todo pelado, não sei... Enfim, eu deitei do lado dela, e ela começou lá, a fazer as paradas dela, e mexer em mim, e tal, e dava umas gemidas, e eu fui me animando, claro, guri novo, primeira mulher pelada de carne e osso do meu lado, né? Aí, ali pelas tantas, a perva levanta a cabeça, olha pra mim, pega a minha mão, mas com força, tá ligado? Agarra minha mão, dá um puxão, e enfia no meio das pernas-
-das pernas dela? - Quis saber o Walter.
-Sim, né? Das dela. Enfia a minha mão no meio das pernas dela, mas enfia mesmo, às ganha, e dá uma mexida, sacudindo com força, me olhando meio assustada, de olho arregalado, e eu, apavorado, pensando o que que eu tinha feito de errado, o que ela queria com aquilo, se eu tinha deixado de fazer alguma coisa, sei lá, horrorizado, só olhando pra cara dela, e ela me diz: "Olha só como a minha vagina tá lubrificada, gurizinho!".
Os outros dois riram, ele continuou:
-Porra... "Vagina"? E eu tenho cara de ginecologista? "Vagina"... A mesma coisa que dizer "enfia a mão no meu endométrio", "Arromba meu cérvix", ah, vai se foder acabou com o clima...
-Mas é o nome! - Protestou Walter, rindo.
-Ah, para que é o nome? Eu sei que é o nome, porra, mas tem que usar os apelidos, os apelidos é que dão tesão... Porra, "vagina"... "lubrificada"... Diz que tá molhadinha, então... E de preferência sem tentar arrancar meu braço, caralho.
Os outros dois riram, mais da reação do Mário do que da história em si.
Walter e Mário demoraram mais a parar de rir do que o dono da casa. Então Walter perguntou:
-E tu, capitón bom-moço, qual a tua história ridícula?
-É - Aquiesceu Mário - A gente abriu o coração, agora é tua vez.
O dono da casa puxou pela memória... Nada de engraçado veio à sua mente. Pelo menos não "engraçado 'rá, rá'". "O que eu andei fazendo de ridículo?", ele se perguntou... Um par de coisas, com certeza. Mas não... Não tinha nada pra dividir que fosse arrancar risos dos seus amigos. E já se decidira a tentar sempre sofrer sozinho e em silêncio.
-Nada, gurizada. Não sou "amadorista" que nem vocês. Bora jogar, aí.
Os outros fizeram sons de protesto e ironia. Continuaram jogando. Ao fim daquele jogo o dono da casa deixou Mário e Walter jogando um game de boxe e foi à cozinha. Serviu um copo de Coca-Cola e tomou quase todo, deixando pouco menos da metade no copo. Apenas um, de muitos hábitos que ele teria que aprender a perder.
"Isso", pensou ele, "Certamente se qualifica como 'ridículo'.".

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Rapidinhas do Capita


Um jovem sueco de nome sueco Vugar Huseynzade teria sido contratado como gerente de futebol reserva pela equipe do Baku FC, do Azerbaijão, devido a suas habilidades de gerência demonstradas, pasme, no simulador Football Menager.
Vigar, que de fato trabalhou em uma agência esportiva e fez cursos de gerenciamento nos EUA, não tinha nenhuma experiência verdadeira com clubes de futebol, mas era craque em levar seus times virtuais aos píncaros da glória no computador.
Mostre isso pra sua esposa, namorada ou mãe se elas acham que o tempo passado na frente do video game é desperdício.
Eu ainda estou esperando os zumbis se erguerem do túmulo, ou as conspirações templárias serem reveladas pra mostrar tudo o que já aprendi jogando Resident Evil e Assassin's Creed, mas enquanto isso, deixo pro Internacional, meu time do coração que procura um novo vice de futebol e um novo executivo de futebol remunerado, o meu currículo recente no FIFA Soccer, só na versão 2013, que é pra não ficar pedante:
Três Brasileirões, três Copas do Brasil, Rússia classificada à Copa do Mundo e mais de cem milhões de dólares em lucro.

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O mendigo, com um pedaço de pão seco entre as mãos crispadas, olhou com os olhos ocultos sob a máscara de inchaço que a bebida alcoólica e o calor formaram em seu rosto, e com a voz rouca suplicou ao transeunte:
-Me ajuda a comer um sanduíche, companheiro?
Viktor de SanMartin (pronuncia-se San martã), sacudiu a mão esquerda espalmada sem reduzir o passo dizendo:
-Não, obrigado, acabei de almoçar.
Para Viktor de SanMartin, o canalha, não existem limites para a escrotidão.

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Luís Fernando Veríssimo, meu escritor favorito, o maior cronista do Brasil está internado no Hospital Moinhos de Vento, em estado grave vítima de uma infecção generalizada.
Fica a torcida para que ele, assim como a minha avó, saiam do hospital bem, e em pouco tempo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Resenha Cinema: Argo


Existe uma tradição de atores não tão bons que se tornam diretores de cinema acima da média. Ron Howard, Jon Favreau, por exemplo... Há também a linhagem de astros de um papel só, que assumem a cadeira de diretor e apenas então mostram seu verdadeiro potencial, como Clint Eastwood, Kevin Costner, George Clooney e Mel Gibson, pra ficar apenas nos mais óbvios. A esses caras, juntou-se, não tem muito tempo, Ben Affleck.
O Astro de bombas como Pearl Harbour, Armageddon e Ele Não Está Tão A Fim de Você assumiu a cadeira do diretor em Medo da Verdade, de 2007, fazendo um bom suspense estrelado pelo seu irmão caçula, Casey Affleck, Ed Harris, Morgan Freeman e a delicinha Michelle Monaghan. Ele repetiu a dose em 2010, com o ótimo filme policial Atração Perigosa, dessa vez estrelado por ele próprio, Rebecca Hall, o Gavião Arqueiro Jeremy Renner e a delicinha Blake Lively. Agora, em 2012, Affleck volta a carga com esse Argo, filme que conta como a CIA usou uma ficção científica meia-boca para salvar diplomatas norte-americanos presos no Irã durante a crise dos reféns no país em 1980.
O Xá Reza Pahlevi foi demovido do poder pela revolução islâmica Iraniana. Enquanto o aiatolá Khomeini assume o poder no país, Pahlevi, opressor do seu povo e peão dos interesses norte-americanos no oriente médio se exila nos EUA para fúria dos manifestantes, que exigem que ele seja entregue ao governo de Teerã, julgado e executado. Uma das manifestações mais violentas ocorre junto à embaixada norte-americana em Teerã. Lá, após uma invasão, todos os funcionários do corpo diplomático estado-unidense são feitos reféns pelos revolucionários, exceto por seis pessoas que conseguem fugir e se esconder na residência oficial do embaixador do Canadá.
Vivendo em sigilo absoluto por meses os funcionários começam a correr perigo ainda quando os iranianos descobrem que faltam seis americanos entre os prisioneiros.
É nesse momento que o Departamento de Estado dos EUA e a CIA começam a traçar planos para remover os seus conterrâneos do Irã sem azedar ainda mais as já estremecidas relações entre os países.
O especialista em exfiltrações Tony Mendez (Affleck) tem a ideia de realizar o resgate usando como fachada a produção de um filme de ficção científica ao estilo Star Wars, que usaria as paisagens exóticas do Irã como locação.
Com o auxílio do especialista em maquiagem vencedor do Oscar John Chambers (John Goodman) e do produtor de cinema Lester Siegel (O ótimo Alan Arkin, impagável), Mendez se infiltra em Hollywood para poder se infiltrar em Teerã e realizar a extração.
Argo é ótimo.
Ben Affleck e seu parceiro, o roteirista Chris Terrio conseguem equilibrar a comédia do absurdo que era o plano de Mendez, em especial no segundo ato do filme, quando Mendez, Chambers e Siegel transitam por uma afetadíssima Hollywood, o drama dos reféns, e a tensão de um suspense de deixar o espectador na ponta da cadeira (A sequência final, no aeroporto de Teerã, é de assistir com o Isordil embaixo da língua.).
O elenco não decepciona, e mesmo Affleck, um canastrão costumeiro, mantém a boa forma de seus últimos trabalhos e entrega uma atuação muito digna. O elenco ainda tem nomes como Bryan Cranston (ótimo como o superior de Mendez, Jack O'Donnell), Victor Garber como o embaixador Canadense Ken Taylor além de Tate Donovan, Clea DuVall, Scoot McNairy, Rory Cochrane, Christopher Denham e Kerry Bishé como os fugitivos do corpo diplomático estadunidense. Com uma fotografia esperta, trilha sonora discreta, roteiro inteligente e direção segura Argo é um filmão que não coloca o discurso político acima da história, presta homengem à Hollywood e ao cinema em geral (Fique ligado em como os storyboards começam e terminam o filme além de ter papel crucial em uma das cenas mais tensas da produção), e se torna desde já figurinha carimbada entre os melhores filmes de um baita ano cinematográfico, além de acenar com uma carreira longa e promissora para Affleck detrás das câmeras.

"ArGo fuck youserlf!"

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ordem natural


Eu não acredito em Deus.
O conceito me é totalmente estranho. Não me cabe na cabeça. Eu preciso de evidências pra acreditar nas coisas, e não me serve qualquer evidência. Eu acredito em coisas que se provam de forma empírica, e mesmo assim, mantenho sempre um pé atrás, um gole de dúvida no fundo do copo. Acreditar cegamente, o que é requisito básico pra qualquer religião, além de mais algumas coisas, não é algo do qual eu seja capaz.
A crença cega, inabalável, o salto de fé, a certeza independente de prova... Eu até gostaria de saber fazer isso. Mas não sei. Não consigo, e nem tenho certeza se quero.
Abrir a guarda assim, pra qualquer coisa, te coloca em uma posição de vulnerabilidade extremamente desconfortável. Ao menos pra mim. Odeio estar vulnerável.
Não é do meu feitio estar a mercê de nada ou ninguém.
Então, religião, é um conceito do qual eu passo longe. Considero ridículo. Como Deuses são a matéria prima da religião, também passo longe deles. Fantasmas, espíritos, vida após a morte em geral, tudo bazófia.
Eu acredito nas coisas que eu vejo. Naquelas em que posso tocar. Nas que têm relevância pra minha vida e a de todas as outras pessoas e não apenas pra esse ou aquele grupo.
Eu não acredito.
Não sei acreditar.
Nem tenho certeza se quero.
Eu vejo as coisas, as interpreto, e me preparo pra o que está por vir.
Ás vezes eu acerto, outras vezes erro.
Mas normalmente eu acerto.
Isso não quer dizer que eu seja mais sagaz ou mais inteligente que os demais. É apenas resultado do fato de que minha visão não está nublada por noções errôneas da realidade. Quando eu ouço o barulho de cascos, penso em cavalos, e não em zebras. Ao contrário de pessoas religiosas ou apaixonadas, por exemplo.
Eu leio sinais de maneira extremamente simples. E o que as entrelinhas nos mostram em sinais lidos de forma simples, geralmente é que se tem.
Por exemplo, agora... Eu vejo as coisas que acontecem, eu olho os sinais, leio as entrelinhas, e o que eu vejo é fim.
Todos têm sua parcela de responsabilidade, mas ninguém tem culpa. É a ordem das coisas. Tudo acaba em fim. Não em novos começos, não em reticências, mas em pontos finais.
Isso é um fim, em essência.
Então, por doloroso que seja. Por estranho que pareça. Por mais que eu quisesse negar... O que se avizinha é um fim.
Mais um.
E eu tenho que estar pronto, certo? Afinal, perecer é o destino de todas as coisas.
As pessoas que me conhecem sabe que isso não é falácia de internet. Eu sou quem sou. Sem mais nem menos a oferecer pro bem ou mal. Talvez, á distância eu cause outra impressão, mas eu sou como a vida, devo apenas ser lido de forma simples.
O fim se avizinha. E eu estou com raiva por causa disso. É minha única fase de luto, a raiva, eu pulo as outras três. Estou com raiva.
Com raiva, mas não iludido.
É só a ordem natural das coisas.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Minotauro


Flertavam descaradamente. Ele a achava muito atraente, e ela de fato era. Além de ter um rosto muito bonito, com uma dessas belezas menos óbvias, era bem feita. Bem construída, bem proporcionada. Tinha aquele tipo de corpo feminino que mesmo quando engorda uns quilinhos coloca peso nos lugares certos, e passa de "muito bonita" a uma longa fase de "gostosona" antes de virar "uma gordinha".
Ela, mesmo sendo bonita e bem constituída lhe dava abertura. Talvez o achasse um bom sujeito. Isso o preocupava um pouco. A maioria das mulheres parecia demonstrar atração por ele unicamente por isso. Por ele ser a epítome do bom sujeito. Aquele camarada confiável com quem a mulher sabe que não vai ter muito trabalho na vida. No início, quando deu-se conta, ele ficou muito aborrecido, mas acabou resignando-se ao perceber que era melhor ter essa única qualidade do que não ter atrativo algum para o sexo oposto, enfim.
O lance é que ela e ele flertavam, e ele gostava daquilo. O flerte era provavelmente a fase mais divertida de uma relação na opinião dele, e embora ele quisesse, de fato, ter uma relação de longo prazo, duradoura, repleta de confiança, amor e compreensão com uma moça que fosse lesada o suficiente pra querer o mesmo com ele, a única coisa de que ele sentiria falta na solteirice, seria da perspectiva do flerte.
O flerte dele e dela consistia em conversar sempre que tinham oportunidade, sobre qualquer assunto, sempre tentando parecer ao menos um pouco espirituoso, muitas vezes olhando nos olhos. De vez em quando fingindo ter perdido o fio da meada imerso na escuridão dos profundos olhos castanhos dela. Um toque, de fingido acaso, com a mão espalmada nas costas dela quando ia lhe mostrar algo na sua mesa, e um abraço suave, de um braço só, mas com o peito colado ao corpo dela na despedida... Tudo corria tão bem, em um ritmo tão natural, que ele já se perguntava se ela não seria aquela pessoa... A pessoa que o ensinaria a amar. Que faria dele, finalmente um homem completo.
Foi justamente numa daquelas conversas casuais junto à copiadora que aconteceu. Conversavam, quando ela comentou:
-Ai, tenho que ir cedo pra casa dar uma limpada porque a minha faxineira está com labirintite.
Ele sorriu dizendo:
-Que, como todos sabem, é uma inflamação causada por germes transmitidos pelo minotauro.
Ela não riu. Disse, muito séria que não tinha entendido. Ele explicou:
-O minotauro, da lenda de Teseu, vivia em um labirinto, e tal...
-E o que é que tem isso a ver com a faxineira?
Ele desistiu, sugeriu que ela deixasse pra lá, e ela deixou.
Quando acabou o expediente se despediram com um aceno à distância. Ele não sabia se estava sendo rigoroso demais, mas a verdade é que jamais poderia amar uma mulher que não entendesse aquela referência.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A Vida


Encontrou um amigo na rua, se cumprimentaram. O amigo, sorridente, mão no ombro dele, perguntou:
-E aí, tchê? Como vai a vida?
Ele teve que se esforçar pra não bufar e dizer:
-Ah, nem me deixa começar a falar da vida...

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Encontrou um amigo na rua, se cumprimentaram. O amigo, sorridente, mão no ombro dele, perguntou:
-E aí, tchê? Como vai a vida?
Ele teve que se esforçar pra não rilhar os dentes e dizer:
-A minha tá uma merda, mas a tua deve estar muito boa. Ou isso ou tu tá me achando com cara de dentista pra tá cheio de sorriso...

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Encontrou um amigo na rua, se cumprimentaram. O amigo, sorridente, mão no ombro dele, perguntou:
-E aí, tchê? Como vai a vida?
Ele teve que se esforçar pra não sorrir, melancólico, e dizer:
-Só não tá totalmente fodida porque eu tô apaixonado. Ah, não... Peraí... Foi exatamente isso que terminou de foder com a minha vida...

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Encontrou um amigo na rua, se cumprimentaram. O amigo, sorridente, mão no ombro dele, perguntou:
-E aí, tchê? Como vai a vida?
Ele teve que se esforçar pra não dar um grito de guerra em um antigo dialeto mongol e esmurrar o amigo na cara.

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Encontrou um amigo na rua, se cumprimentaram. O amigo, sorridente, mão no ombro dele, perguntou:
-E aí, tchê? Como vai a vida?
Ele teve que se esforçar pra não começar a rir histericamente enquanto parava os transeuntes que passavam perto e repetia perdendo o fôlego:
-A vida! Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah! A vida!

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Encontrou um amigo na rua, se cumprimentaram. O amigo, sorridente, mão no ombro dele, perguntou:
-E aí, tchê? Como vai a vida?
Ele teve que se esforçar pra não se sentar no cordão da calçada e chorar.

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Encontrou um amigo na rua, se cumprimentaram. O amigo, sorridente, mão no ombro dele, perguntou:
-E aí, tchê? Como vai a vida?
Ele teve que se esforçar pra não suspirar:
-Falando sério: Essa pergunta é retórica, né?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Significado


Existe uma taxa de qualidade pra tudo o que as pessoas fazem. A Zoraide, por exemplo, era péssima de memória. Era quase uma vítima de Alzhaimer, esquecia tudo, horários de compromissos, datas de aniversário, endereços, nomes de conhecidos... Era um fiasco social a Zoraide.
Em mais de uma ocasião a Zoraide se apresentou ao namorado da irmã dela, o Juca, por puro esquecimento. "Oi, prazer, Juca, eu sou a Zoraide.", deixando o guri com uma dúzia de pulgas atrás da orelha, e lançando sobre o relacionamento da irmã uma sombra de guria namoradeira que leva tantos rapazes em casa que a irmã dela até esquece quem é quem.
Não era o caso.
A irmã da Zoraide, Alice, era bem comportada, de namoradeira não tinha nada, namorava normalmente, como qualquer outra pessoa, o lance é que a taxa de qualidade da memória da Zoraide, era zero.
Ela compensava isso sendo a pessoa mais gentil e delicada do mundo. Era muito delicada a Zoraide. Era daquele tipo de moça que domina a arte dos trabalhos manuais, capaz de escrever com letra rebuscada em grão de arroz de tão minuciosa e hábil o bastante pra fazer laço armado em fita mimosa, manja? Era na delicadeza e na habilidade e no jeito que a Zoraide compensava a memória, ali, a sua taxa de qualidade se elevava a níveis estratosféricos.
Já a Alice, a irmã comportada e erroneamente taxada de namoradeira pelo Juca após o(s) mal-entendido(s) com a Zoraide, tinha baixa taxa de qualidade no quesito paciência. A Alice não apenas não sabia esperar, como, por ser uma guria muito eficiente e de rápido entendimento, cobrava essas mesmas características naqueles que a cercavam, o que, aliás, e natural do ser humano.
A Alice explicou duas vezes pro Juca que os lapsos de memória da Zoraide eram tradicionais e até caso de chacota na família, na segunda vez já bufava, e não por conta de ter sua honra injustamente manchada pela amnésia recorrente da irmã, mas sim por ter sido obrigada a explicar uma segunda vez algo que já fizera, de maneira mais do que satisfatória, tinha certeza, pouco antes. Todavia, Alice, que tinha baixa qualidade no tocante à paciência, era mais do que versada na arte da eficiência. Era quase uma exterminadora do futuro de tão eficaz. Nada que pedissem para Alice era feito sem esmero, sem apuro, sem total dedicação. Alice se dedicava ao máximo à qualquer tarefa de modo a executá-la com a certeza de que não deixara nada a desejar, e que ninguém teria que refazer o seu serviço de nenhuma maneira, tal era a qualidade que ela imprimia ao que fazia.
E o Juca? O Juca, o namorado desconfiado da Alice, era assim. Desconfiado. Era essa sua baixa taxa de qualidade. O Juca era quase que patologicamente desconfiado, era quase uma maldição. Se alguém passava pelo Juca na rua e não o cumprimentava, o Juca jamais imaginava que a pessoa estava distraída, que estava apressada e passou correndo, que não o percebeu, ele de imediato se punha a imaginar o que havia feito para que aquela pessoa o ignorasse com tamanha desfaçatez. Imediatamente começava a repassar sua relação com aquela pessoa tentando descobrir o que ele poderia ter feito para ofendê-la, e depois, começava a imaginar o que aquela pessoa estaria maquinando as suas costas para não querer nem mesmo cumprimentá-lo na rua.
O Juca era assim. Desconfiado. Taxa de qualidade zero em termos de confiança. Mas na seara do companheirismo o Juca pagava com juros e correção o seu déficit de confiabilidade. Não deixava amigo na mão. Nem conhecido o Juca deixava na mão. Já entrara em brigas homéricas, daquelas que garantem olhos roxos e abrasões persistentes por semanas pra não deixar um amigo, ou até um conhecido na pior. Juca não gostava de ver ninguém ser deixado pra trás, e não deixava ninguém pra trás, tinha taxa de qualidade nota dez em termos de comprometimento.
As pessoas são assim... Tem taxas de qualidade diversas em aspectos diversos da vida. Dão grande importância a coisas que por vezes não importam nem um pouco pras outras e vice versa, é outra coisa da natureza humana, como procurar significado em coisas que não tem significado algum, e abstrair o peso das coisas que, de fato, têm significância, como o fato de que, no fim das contas, não é a quantidade de amor que importa, mas sim sua taxa de qualidade.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Resenha Filme: Prometheus


Foi nessa madrugada de domingo pra segunda-feira, particularmente insone por mil razões, que eu assisti, com um semestre de atraso, a Prometheus, longa de ficção científica de Ridley Scott que levava o diretor de volta ao universo de Alien - O Oitavo Passageiro.
O que surgia desde as primeiras notícias até o lançamento dos trailers iniciais prometia o grande filme do ano. Era, inclusive a minha aposta pra encabeçar o infame top 10 de cinema da Casa do Capita em dezembro, se alguém me pedisse uma projeção em janeiro.
Mas algo estranho aconteceu. E Prometheus não fez a carreira que todo mundo imaginava. Dividiu a crítica, não agradou ao público, enfim... Prometheus mas não cumpriu (treino para o Zorra Total).
E, entre Vingadores, A Perseguição, Batman e Homem-Aranha, eu acabei deixando o filme de lado. Até essa madrugada.
Assisti Prometheus num desses serviços de locação de filme pela TV a cabo, e após duas horas e dois minutos, mais ou menos, devo dizer que a nova incursão de Scott pelo mundo dos Aliens não é nem a oitava maravilha do mundo, tampouco a bomba que muita gente pichou.
No filme, os cientistas Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) e Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) descobrem no ano de 2089, em sítios arqueológicos diversos e não relacionados ao redor da Terra, indícios de que todas essas civilizações antigas tinham conhecimento das mesmas "divindades".
Esses indícios continham ainda uma carta estelar, dando a localização de um planeta em um sistema solar a trilhões de quilômetros da Via Láctea, onde, supõe os doutores Holloway e Shaw, estejam o que eles chamam de "engenheiros", formas de vida alienígenas avançadíssimas que geraram a vida na Terra.
Financiados pela corporação Weyland de Peter Weyland (um quase irreconhecível Guy Pearce), os dois cientistas se juntam à tripulação da nave de pesquisa Prometheus, numa viagem de dois anos de crio-sono até o planeta marcado no mapa em busca da origem da vida.
Além deles, estão na empreitada o capitão Janek (Idris Elba), o geólogo Fifield (Sean Harris), o biólogo Millburn (Rafe Spall), a médica Ford (Kate Dickie), os pilotos Chance e Ravel (Emun Elliott e Benedict Wong), mais a representante da Weyland, Meredith Vickers (Charlize Theron) e o androide David (Michael Fassbender), além de um pequeno grupo de mercenários para fazer a segurança da tripulação.
Assim que chegam ao seu destino, o grupo encontra uma construção onde existem vestígios dos "engenheiros", entretanto, eles descobrem que ali, mais do que a origem da humanidade, pode estar uma promessa de seu fim.
Não. Prometheus não é nenhuma maravilha, eu já disse. É um filme que carece do frescor e da honestidade de Alien - O Oitavo Passageiro e Blade Runner, pra ficar só nas duas grandes ficções científicas de Scott.
Prometheus rescinde pretensão. É demasiado ambicioso pro seu próprio bem, e ainda incorre em um erro fatal, que é o de apostar em duas linhas narrativas diferentes (origem da vida na Terra e prequel de Alien), e na hora de eleger uma em detrimento da outra pra terminar de contar sua história, escolhe errado, assim como parece nuna encontrar o tom certo, tentando apresentar a grandiloquência simbólica de 2001, pra no momento seguinte apelar pra tensão de vislumbres ligeiros de Alien, e em seguida partir pro gore, mesmo e era isso...
Ainda assim, está longe de ser ruim, Ridley Scott entende muito do riscado, e mesmo que o filme não tivesse absolutamente nada a oferecer em termos de conteúdo ainda seria um espetáculo visual glorioso desde as primeiras cenas, com grandiosas paisagens da Escócia e Noruega, passando pelo inóspito planeta onde a ação se desenrola, os corredores e laboratórios da Prometheus e os túneis da Pirâmide dos Engenheiros. Além disso, O elenco é ótimo, com destaque para o cientista pretensioso de Marshall-Green, o abnegado e divertido capitão Janek, estereótipo do machão simplório com coração de ouro, e o androide de Michael Fassbender, que com seus chinelinhos e cabelo descolorido se junta com louvor à Lance Henriksen na galeria de robôs que a gente não sabe se ama ou odeia da franquia de Aliens, que, como todos sabem, são regidos pela mulherada.
É por isso que Prometheus se salva de ser totalmente descartável, está bem servido de ombros em quê se apoiar, a lindona Charlize Theron (de uniforme colante...)e a deliciosamente esquisita Noomi Rapace (Toda suada, com seu corpaço de Noomi Rapace envolto apenas por um singelo biquíni de gaze...) seguram a peteca, carregam um ótimo espectro de emoções, convencem e nos seguram na frente da tela até que o filme termine.
O final anti climático, aliás, sugere uma continuação, de que Prometheus precisa desesperadamente, mas da qual a audiência provavelmente consegue passar sem...

"Nós os chamamos de "Engenheiros".
-E o que eles construíram?
-Nós."

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Crônicas do Observador


O observador andava pela rua, indo atarantado para o trabalho. Três minutos era o tempo que faltava para o início do seu expediente, e uma caminhada de dez minutos o separava do seu local de trabalho. A unha de seu pé direito, encravada, doía bastante, fazendo-o mancar. Em sua cabeça, uma sucessão de problemas relacionados a pessoas que lhe eram caras o impediam de se concentrar de maneira minimamente satisfatória em praticamente tudo.
Eram dias doloridos aqueles que se passavam. O observador caminhava sem ouvir música, quando viu, de esguelha, um mendigo abrindo a tampa de um dos contêineres de lixo que existem espalhados pelas ruas de certos bairros da cidade.
O sujeito apanhou algumas embalagens tetra-pack de leite, dois ou três jornais completos, e um relógio-despertador sem pilhas, ou estragado.
Era um relógio estiloso. Com um design futurista, como se fosse uma bola de acrílico branca repleta de botões verde-limão com um enorme mostrador digital apagado em um dos lados.
O mendigo, um homem jovem, de seus trinta, trinta e poucos anos, forte, agarrou o relógio intrigado. Largou os demais itens que resgatara do lixo no chão, e agachou-se com o relógio virado pra si. Tinha o relógio firme entre os dedos, e o virava com cuidado, examinando todos os pontos da esfera de acrílico quase de maneira clínica. Cutucou o mostrador digital com o indicador, tentou girá-lo, e então apertou os botões, primeiro um, por um, depois, todos ao mesmo tempo.
Mirou o relógio por mais alguns segundos, como que ignorando a falta de pilhas ou a possibilidade de o aparato estar avariado, esperando que algo acontecesse após sua breve exploração, mas nada aconteceu, e o aparelho permaneceu estático. O mendigo o pegou com cuidado, e escolhendo uma, entre as dezenas de sacolas que carregava consigo, guardou com cuidado o despertador, e seguindo seu caminho.
O observador se lembrou do Homo habilis. Um hominídeo que viveu a cerca de dois milhões de anos na terra, e foi o primeiro ancestral humano a construir ferramentas de osso, madeira e pedra lascada.
Como será que o Homo habilis teria reagido se encontrasse uma ferramenta construída por um neandertal?
Os neandertais viveram bem depois dos habilis, existia entre eles o homo erectus e quase um milhão e meio de anos.
Será que o homo habilis não teria reagido à uma faca, ou à uma lança, ou um raspador da mesma forma como aquele mendigo reagiu ao estiloso relógio descartado no lixo?
O observador não sorriu enquanto percebeu que o avanço tão veloz da tecnologia aliado à estagnação das condições sociais da modernidade gerou um mundo onde o acaso involui os seres humanos milhões de anos apenas com descaso.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Rapidinhas do Capita


E nesses dias em que me ausentei do blog muita coisa aconteceu. A primeira em grau de importância:
O Pato Donald se tornou um jedi... Não. A Disney comprou a Lucas Films, de George Lucas, produtora que detém os direitos de Star Wars, e já planeja lançar um episódio VII em 2015.
Não posso negar que fiquei surpreso. Me pergunto de onde sai tanto dinheiro pra casa do Mickey Mouse, que comprou a Marvel algum tempo atrás e que tomou um tombo violentíssimo com o fracasso retumbante de John Carter - Entre Dois Mundos nas bilheterias pelo mundo... Ao mesmo tempo, acho que a notícia é positiva. Duvido que alguém faça mais cagadas com Star Wars do que George Lucas fez.
Provavelmente um estúdio que não é, em essência (Ainda que seja de direito), o dono da franquia, vai ter mais respeito e reverência pela mitologia de Star Wars do que o criador da coisa, que dava a impressão de volta e meia olhar a série em cima da mesa, cofiar a barba e pensar "Uh! Tive uma ideia!", e lançava uma versão piorada dos filmes.
Eu já disse isso antes e repito:
George Lucas, uma vez, teve uma ideia genial chamada Star Wars. Assim que conseguiu tirá-la do papel, dedicou sua vida a destruí-la de todas as maneiras possíveis.
Que as aventuras de jedi, sith, contrabandistas, dróides e princesas em uma galáxia bem, bem distante encontrem uma acolhida calorosa na casa do Mickey.

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Jamie Foxx, que em breve vai estar em Django Livre de Quentin Tarantino foi contratado para interpretar o vilão da sequência de O Espetacular Homem-Aranha.
Foxx vai dar vida a Max Dillon, o Electro. Funcionário de uma empresa de energia que após um acidente se torna capaz de controlar e emitir eletricidade de seu corpo.
Ainda que seja da etnia errada (nos quadrinhos o Electro é branco, e o ator é negro.), Foxx é um ótimo intérprete, e não vejo a etnia como um empecilho, embora essa seja uma modinha que eu não veja com bons olhos.
E se fosse o oposto, e mudassem a etnia de um personagem negro?
Se escalassem um ator branco para interpretar o Falcão, ou o Luke Cage, provavelmente chiariam. Enfim...
Foxx é o segundo ator confirmado na sequência do longa do herói aracnídeo após Shailene Woodley, que dará vida à Mary Jane Watson.
Que venha O Espetacular Homem-Aranha 2, com Andrew Garfield, Emma Stone, Sally Field, Jamie Foxx e sem predisposição genética.

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E quando a gente pensa que as coisas não podem piorar em termos de "crise de criatividade em Hollywood", elas pioram.
Começou a circular nos EUA a ideia de realizar uma sequência de Casablanca.
É...
De Casablanca...
O filme seria intitulado Return to Casablanca, e mostraria o filho de Ilsa e Rick viajando a Casablanca a procura de seu pai.
Humphrey Bogart deve estar se revirando na cova.
Toque As Time Goes By, Sam...

Resenha Cinema: 007 - Skyfall


Sou fã de longa data do agente menos secreto a serviço de sua Majestade. Acompanho as aventuras de Bond, James Bond, desde a época de Roger Moore, cujos filmes quase cômicos eu assistia sentado faceiro no sofá da sala da minha avó em nebulosas tardes de sábado na minha infância.
Depois, um pouco mais velho, assisti aos filmes de Sean Connery, ao solitário filme de George Lazenby, e após Moore vi Timothy Dalton (Sim, meu Bond favorito, ainda que eu saiba que Connery foi o melhor), Pierce Brosnan e o atual, Daniel Craig que, vou confessar, foi o único James Bond cujos filmes eu assisti todos no cinema (Sim... Meu primeiro James Bond em tela grande, foi 007 - Cassino Royale. Também lembro que o primeiro filme de 007 que eu aluguei foi Goldeneye, todos os outros eu assisti na TV aberta.).
Enfim, sou fã da antiga de James Bond, e, devo dizer, apesar de gostar muito dos filmes estrelados por Daniel Craig, o ator britânico jamais me convenceu como James Bond.
Sua encarnação raivosa e urgente do personagem, correndo, saltando, atirando e esmurrando de um lado pro outro sempre evocou uma aura de Jason Bourne que, pra mim, não casava com o Bond que eu conhecia.
Ainda que Cassino Royale fosse um ótimo filme de ação com cara de reboot e que apresentasse uma origem bacana pro personagem que recebia lastro, profundidade e humanidade, e Quantum of Solace fosse uma sequência à altura do predecessor, Daniel Craig continuava, na minha cabeça, sendo apenas um dublê de Jason Bourne fingindo ser James Bond...
Mas aí, veio 007 - Skyfall (que no Brasil, por algum motivo obscuro ganhou um "operação" no meio do título.).
Skyfall começa, claro, com uma brutal sequência de ação na Turquia, envolvendo Bond às voltas com uma lista de nomes de agentes secretos infiltrados pelo mundo.
Dado como morto após a missão, Bond ressurge quando o MI-6 e M (Judy Dench) se tornam alvos de um obstinado terrorista, Silva (Javier Bardem, histérico), que coloca a inteligência britânica em um sádico jogo de gato e rato em busca de vingança.
Finalmente Daniel Craig mostra que pode ser James Bond.
Ainda que insista em mostrar o peitoral musculoso e o abdome sarado mais vezes do que a audiência masculina está disposta a ver, o ator encontra o tom canastra do espião mais famoso do cinema nessa terceira incursão no papel, dessa vez sob a batuta do diretor Sam Mendes.
Acompanhado por um elenco de apoio de peso, que inclui além de Judi Dench, Ben Whishaw (um jovem e moderninho Q), Naomie Harris (esbanjando saúde como Eve), Ralph Fiennes (Gareth Mallory), Berénice Marlohe (Sévérine), Ola Rapace (Patrice) e Albert Finney (Kincade), além do vilão Silva, de Javier Bardem, que começa ótimo, afetado, agressivo, sexualmente indefinido, mas vai ficando mais, digamos, "tradicional" conforme o filme se desenrola rumo ao explosivo desfecho na Escócia, Craig protagoniza uma volta de James Bond às origens, ainda que discretamente, flertando com a homenagem, com as traquitanas tecnológicas de Q, o Aston Martin com assento ejetor, paisagens exóticas, mulheres lindas, vodca-martínis batidos, e não mexidos e o tradicionalíssimo "Bond, James Bond".
Depois de dois "filmes de origem", reboots ou seja lá o que foram Cassino Royale e Quantum of Solace, foi bom voltar a ver o velho James Bond em um filme cuja maior qualidade talvez seja justamente parecer um filme de James Bond.
Bem vindo, duplo zero sete, sentimos sua falta.

"-Todos precisam de um hobby.
-...E qual o seu?
-Ressurreição."