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quinta-feira, 28 de março de 2013

Rapidinhas do Capita


Ontem foi aniversário de Quentin Tarantino, um dos diretores de cinema mais cultuados de Hollywood.
O ex-balconista de locadora e rato de cinema que se tornou, não apenas realizador cinematográfico, mas uma grife ao regar histórias de violência com sangue e cultura pop, completou ontem, cinquenta invernos.
Roteirista, produtor, diretor, e o ator preferido de Quentin Tarantino, este caipira de Knoxville, Tenessee está por trás de alguns dos filmes mais maneiros das últimas décadas, sempre misturando referências a estilos cinematográficos setentistas, como o Blaxploitation de Jackie Brown(1997), os filmes de kung-fu chineses em Kill-Bill volumes I (2003) e II (2004), filmes de guerra com toques de western spaghetti, o caso de Bastardos Inglórios (2009) e o faroeste descarado de Django Livre (2012), além de produzir uma pá de filmes de Robert Rodriguez (Grindhouse, 2007) e Eli Roth (O Albergue, 2005) e ter escrito os roteiros de Amor à Queima Roupa e Assassinos Por Natureza, que viraram bons filmes na mão de outros diretores.
Tarantino, que continua sem Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor (embora tenha vencido dois prêmios da academia na categoria Melhor Roteiro, com Pulp Fiction e Django Livre) ameaça se aposentar logo, dizendo que cinema é coisa pra ser feita por pessoas jovens. Esperemos todos que ele ainda se sinta suficientemente jovem pra produzir por mais algumas décadas, e, quem sabe, perseguir aquele Oscar de Diretor.

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O Natalino gostava da Úrsula. Gostava, mesmo, de verdade. A Úrsula era bonita, divertida, esperta, e tinha um apetite sexual bem saudável. Por tudo isso ele gostava dela, de estar na companhia dela, e de conviver com ela.
Mas o que fazia o Natalino ser, realmente, apaixonado pela Úrsula, era o fato de que, durante o sexo, quando ele estava por cima, ela, ao invés de simplesmente plantar os pés sobre o colchão como fazem a maioria das mulheres, o abraçava, enlaçando as pernas ao redor da cintura dele, e acariciava-lhe sofregamente as coxas com a ponta dos pés delicados fazendo um arco.
Aquilo, que provavelmente passaria batido pra muitos, era, para o Natalino, a prova inequívoca de que a Úrsula, mesmo nos momentos mais íntimos, entre contatos suados, sussurros sem fôlego e gemidos estridentes, além de tudo o que lhe proporcionava, ainda estava disposta a lhe fazer mais um carinho.
E isso, pro Natalino, não tinha preço.

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O Caio disse que amava muito a Doroteia e que não tinha olhos pra nenhuma outra mulher nesse mundo, mas quando pousou os olhos na Fernanda, uma loura longilínea que tinha de coxa o que moças inteiras têm de altura, e que começara a trabalhar na repartição naquele dia, ele a olhou. Por Deus, como ele a olhou.
Se a expressão "comer com os olhos" não fosse figurativa, o Caio teria deixado a Fernanda, ou grávida ou em pedaços, dependendo do uso do verbo "comer" que estivesse em uso naquele momento.
Depois que a Fernanda sentou-se em frente ao seu computador, e o Caio recuperou os outros quatro sentidos, ele não pôde deixar de imaginar que se, ao contrário do que dissera à Doroteia, tinha olhos pra outras mulheres, então ele provavelmente não a amava tanto quanto supunha.
Mazelas do pensamento lógico.

terça-feira, 26 de março de 2013

Rapidinhas do Capita


Um feliz aniversário pra Porto Alegre. A cidade que eu adoro e que não troco por nenhuma outra.
241 anos, tá ficando velha, Portinho. Hora de começar a crescer.

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O Paulinho se apaixonou pela Beatriz não porque ela era linda (Claro que isso ajudou.), não porque ela cheirava divinamente (Isso, também ajudou), não porque ela gostava dos mesmos filmes, quadrinhos e jogos de video-game que ele (Isso, ajudou, claro). Ele se apaixonou por ela porque ela olhou pra ele e viu mais que um sujeito triste e solitário. Mais do que um pouco de escárnio e cabelos bagunçados. Ela viu uma pessoa.
O Paulinho se encantou porque a Beatriz olhou pro exterior dele, e viu o interior.
Talvez o grande mal que a Beatriz fez ao Paulinho, tenha sido usar essa visão de raio X e ver um sujeito que não era bom o bastante pra merecer confiança.

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Por três vezes o Antenor decidira parar de escrever.
Em duas delas, foi unicamente por acreditar que ninguém lia, e que não fazia sentido escrever pra que ninguém lesse.
A terceira, porém, foi porque ele achou que Clarice, a pessoa pra quem ele escrevia não estava mais interessada em saber dele. Do que ele sentia e o que ele pensava.
Foi quando teve a grave suspeita de que ela estava fazendo um esforço pra exorcizá-lo de si. Dizendo às pessoas que não mais sofreria se estivesse apartada dele, que aprendera a valorizar a tentativa quase tanto quanto o sucesso, e que flertava com a ideia de deixá-lo.
Antenor viu os sinais deixados por Clarice e os interpretou. Chegou a formular uma despedida e publicá-la. Mas, para sua surpresa, Clarice, após alguns dias de distância, apareceu à sua porta, beijou-o e abraçou-o, e ele aliviado e de coração leve, revogou sua despedida.
Mal sabia o Antenor que a Clarice ainda sabia viver sem ele. E estava preparada para fazê-lo.

sábado, 23 de março de 2013

Rapidinhas do Capita


Bonito. Colocaram a primeira torre de sustentação para a cobertura que tornará o Beira Rio o estádio mais bonito do Brasil.
Foi ontem que o primeiro arco treliçado de metal foi cravado no pátio do estádio no lado do placar eletrônico.
Pode parecer bobagem, mas ao ver as fotos da colocação da estrutura fiquei emocionado. O Beira Rio, em certa medida lar dos Colorados do Mundo inteiro, está passando por uma cirurgia que o tornará mais bonito, seguro e moderno. Que o tornará um estádio de padrão FIFA para receber jogos da Copa do Mundo, e se adequar a ser a casa do time mais glorioso do Rio Grande do Sul e um dos mais vitoriosos do planeta.
Dá-lhe, Colorado!

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Cheiro de coco. Doce. Muito bom, na verdade. Ainda assim, fez estremecer a espinha do Raul, enquanto trabalhava. Era o cheiro dela.
Raul não pôde deixar de pensar, quanto abria a porta e olhava a rua, como era ridículo que um sujeito do seu tamanho, estivesse traumatizado com o cheiro que uma menina do tamanho dela exalava.
Lembrou-se, de imediato, de Raglan Road, de Luke Kelly.

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Ontem foi Dia da Água. Bacana. Eu nem sabia que a água tinha seu próprio dia. Faz sentido, no entanto. Como condição inequívoca para a perpetração da vida, a água merece um efeméride.
Se o café tem seu próprio dia, a água também merece, já que não se faz café sem água... Acho, porém, que há mais coisas que merecem seu dia. O dia do achocolatado em pó, por exemplo... É um produto que presta um serviço ímpar à sociedade, ao convencer piás como eu fui a tomar leite... Se eu não sofro de osteoporose é unicamente graças aos Nescaus, Toddys e Nesquicks da vida.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Rapidinhas do Capita


-A verdade, é que se desse pra voltar no tempo, tu não iria pedir pra voltar atrás e não conhecer ela.
-Não?
-Não. Tu ia voltar no tempo pra ficar rico. Investir na bolsa, jogar na Mega Sena, apostar em corridas de cavalos... Isso é que tu ia fazer.
-É?
-É. Tu ia ficar biliardário, e comer só panicat.
-As panicats parecem halterofilistas...
-Tomá no teu cu. São tri gostosas.
-Deus me livre... Subir numa cama com alguém que tenha mais músculos que eu, nem por decreto...
-Bichona.
-É, deve ser, mesmo. Tu é que suspira pensando em músculos volumosos nas pernas e no trapézio, e a bichona sou eu... Bom, sabendo pra que time tu torce a gente já se flagra das tuas preferências...
-Vai se fudê tu e o colorado.
Riram os dois. Ele saiu se despedindo do amigo com um abraço. Ao chegar à rua, viu-se obrigado a concordar. Se o doutor Brown aparecesse ali, naquele momento, num DeLorean voador, e convidasse ele pra dar uma volta, ele não teria voltado no tempo pra não conhecê-la. Teria voltado pra estar com ela nos momentos de apupo pelos quais ela passou sem que ele estivesse presente, e se desculpar por ter tirado conclusões precipitadas das ações dela. Enfim, o doutor Brown não viria. E ele tinha que seguir seu caminho.

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Contagem regressiva para a terceira temporada de Game of Thrones, certo?
Nhéa... Mais ou menos... A verdade é que eu acho GOT a melhor série de TV do momento e uma das melhores dos últimos anos. Não era fã de Roma, não gosto de Spartacus, e achei The Walking Dead meio xarope, mas Game Of Thrones eu achei cabulosa, boa mesmo. Aliás, a série me pegou tão de jeito, que comprei todos os livros já lançados d'As Cônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin, série literária que originou a série, e li os quatro primeiros volumes. O resultado?
A série perdeu muito da graça depois de eu ver como os livros são espetaculosos.
Assistirei a nova temporada, claro, mas não sei se vai ser tão boa quanto me pareceram as duas primeiras antes da leitura dos livros.
Trocando em miúdos?
A ignorância, em diversas ocasiões, é uma benção.

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O telefone tocou, ele atendeu dizendo "pronto", como sempre fazia. Ninguém falou do outro lado.
Como sempre fazia quando isso acontecia, ele esperou alguns segundos e desligou. Ato contínuo, mexeu na caixa do lado do gaveteiro, e de lá sacou uma foto. Perguntou-se se a pessoa que ligara e ficara em silêncio do outro lado da linha era ela. E torceu, francamente, pra que se ela estivesse em algum apuro, ligasse novamente e falasse com ele.

terça-feira, 19 de março de 2013

Tatuagem 2


O Caio entrou no ateliê de tatuagens segurando o catálogo que tinha recebido de uma amiga, e algumas folhas de papel que havia impresso. Foi ignorado por todas as pessoas lá dentro, até se dirigir ao balcão, onde se escorou sem jeito, e pigarreou:
-Com licença?
-Um minutinho. - Respondeu a moça atrás do balcão, mexendo o mouse de um computador.
O Caio esperou. Viu uma moça entrar, lépida, e se dirigir direto até um espaço separado da recepção por um biombo cheio de desenhos.
A moça atrás do balcão, de cabelo cor de rosa curtinho, alargadores nas duas orelhas e a palavra "amor" tatuada, pequenininha, sobre a sobrancelha esquerda ergueu a cabeça e deu um sorrisão metálico de aparelho nos dentes:
-Pois não?
O Caio hesitou um instante, mas tomou fôlego e disse:
-Eu queria orçar uns desenhos... Talvez trocar uma ideia com um dos tatuadores. Ver o que dá pra fazer...
-Claro. - A moça assentiu. -Deixa eu ver quem tá liberado, tá? Minutinho.
Caio ficou ali. Olhando pra um painel repleto de desenhos instalado na parede. A moça voltou, trazendo a tiracolo um tipo magrelo usando uma camiseta de física preta que deixavam claro o quanto o sujeito gostava de tatuagens, já que parecia estar usando mangas e gola rolê graças aos desenhos que ele ostentava na pele que ficava a mostra.
Cumprimentou Caio com um aperto de mão enquanto dizia "E aí?". Se apresentou como Mauro, e perguntou amigavelmente:
-Vamo se riscá um pouco?
Caio riu, e confirmou.
-Tem dois desenhos que eu quero fazer... Esse aqui - Disse mostrando um dos desenhos. A folha retratava Narsil, a espada quebrada de Elendil, que após ser reforjada pelos elfos tornou-se Andúril e passou às mãos de Aragorn. O Mauro tatuador não sabia disso. Perguntou:
-Tu não tem nenhum desenho dela inteira?
Caio não entendeu:
-Inteira?
-É... Tu só tem foto dela quebrada, assim?
-Não... Quer dizer, sim, mas é que eu quero ela quebrada. O desenho que eu quero é dela partida, assim. - Afirmou Caio, mostrando o desenho, e virando o botão da arma pra cima.
-Ah... Tá, tá... Entendi. Beleza, dá pra fazer, sim. Dá pra deixar bonitão, colocar umas sombras, e pá... Show. Já escolheu o tamanho?
-Sim - Confirmou Caio. -Esse aqui, mesmo. Imprimi o desenho do tamanho que quero a tatuagem.
-Joia, melhor ainda. - Disse o tatuador apanhando as folhas impressas do Caio. -É isso?
-Não... Na verdade, dependendo do valor, eu vou querer fazer esse outro aqui, também. - Disse o Caio, tirando mais algumas folhas de papel. Mas esse eu queria ver tamanho... É que quero fazer no braço direito, perto do ombro, e tenho uma tatuagem no esquerdo, então não quero que fiquem com tamanhos muito diferentes...
O Mauro pegou os papéis, várias modelos de sabres-de-luz, e uma frase. Mauro perguntou:
-Qual é o que tu quer?
-Na verdade - Começou o Caio, perfilando-se ao Mauro enquanto apontava as folhas - Tinha pensado numa composição assim, com esse sabre aqui em cima, esse outro embaixo, ambos apontando pra lados diferentes, na horizontal, e entre eles a frase. Numa letra maneira aí que tu me recomende...
-Hmmm... Entendi - Entendeu o Mauro, olhando pro desenho. -Parceiro, eu vou montar a composição e a gente vê que tamanho dá pra fazer... Tu tem como passar aí amanhã? Aí a gente, sabendo os tamanhos, bota preço no bagulho.
-Beleza. - Assentiu Caio.
Mauro bateu as palmas das mãos uma na outra:
-Maravilha, então tu passa ali com a Priscila, ela anota teus dados, e a gente marca uma hora amanhã. Se bobear a gente pode até começar a fazer um dos desenhos, já.
Entregou os papéis e as anotações pra menina do aparelho e sumiu atrás do biombo após se despedir de Caio com um novo aperto de mão. Caio andou até o balcão com a Priscila, que acompanhara atentamente a conferência de Caio e Mauro, ela anotou os dados dele, e então perguntou enquanto mexia casualmente nas folhas trazidas por Caio:
-"Seres Iluminados, Somos Nós. Não Esta Rude Matéria". Uma espada partida e um dizer espírita... Não acho que combine muito... - Sorriu. -Qual é tua outra tatuagem?
-Um Homem-Aranha. - Disse Caio.
-Tudo a ver. - Riu a Priscila. -Bom, o importante é que tu goste.
Entregou um cartão pro Caio com um horário anotado. Enquanto saía do estabelecimento, por duas vezes o Caio teve ânsias de voltar e explicar pra menina que a frase não era um "dizer espírita", mas sim uma frase do Mestre Yoda. Pensou em explicar que, ao contrário do sinal Aranha em seu braço esquerdo, feito unicamente por afeto ao personagem, as duas novas tatuagens tinham sentidos que iam além de adorar O Senhor dos Anéis e Star Wars. Elas haviam surgido em sua mente já a algum tempo, mas apenas recentemente haviam ganhado o status que agora possuíam para Caio. Elas eram coisas de que ele precisava:
Caio, como Narsil, estava quebrado. Do mesmo modo que a espada do rei Elendil havia experimentado grandeza, Caio experimentara completude. E guardava a esperança de, quem sabe, se ver refeito, um dia, mesmo que demorasse, e ele sabia que demoraria...
A frase de Yoda também encerrava seu significado... Se ao contrário de Narsil, Caio jamais fosse reforjado, era melhor que houvesse algo mais com que se preocupar do que unicamente a nada rude matéria da qual ele sentia tanta falta.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Top 10 Cinema: Cenas de Luta

Me acordei macho, hoje. Tão macho que resolvi celebrar a macheza como macho de verdade celebra tudo:
Com porrada.
Com isso em mente, tomou forma mais um infame top 10 Casa do Capita, este, dedicado à razão de ser de brucutus e machões mundo afora, a troca franca de sopapos, bordoadas e bofetões. Ligue Eye of The Tiger a todo o volume, assista aos filmes, ou ao menos às cenas de porradaria, e aproveite:


10 - Os Vingadores x Chitauri (Os Vingadores, 2012)
Talvez seja deslumbramento de fanboy, mas não poderia deixar essa pancadaria de fora. A luta generalizada dos heróis mais poderosos da Terra contra a armada alienígena de Loki não tinha como estar fora da lista. As frentes múltiplas encabeçadas por Capitão-América (Chris Evans) e Viúva Negra (Scarlett Johanson) no solo, Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) no ponto de observação, Thor (Chris Hemsworth) no céu, Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) mantendo o perímetro, e Hulk (Mark Ruffalo) esmagando geral enche os olhos, derruba queixos e aviva aquela criança interior.


9 - Policial Rama x Bandidagem no quarto andar (Operação Invasão, 2011)
O festival de socos, tiros, pontapés e joelhaços de The Raid Redemption está mal começando quando o policial Rama (Iko Uwais) esconde um colega ferido em uma alcova de um apartamento e sai sozinho pelos corredores do prédio comandado pelo crime organizado de Jacarta para enfrentar a vagabundagem local de peito aberto e botas com pontas de aço. Muay Thai pra tudo quanto é lado, cutelos voando, e meliantes sendo chutados e degolados em portas arrombadas. Clássico.


8 - Rocky Balboa x Apollo Creed (Rocky - Um Lutador, 1976)
O azarão Rocky Balboa (Sylvester Stallone) tem a chance de sua vida ao subir no ringue com o campeão mundial dos pesados Apollo Creed (Carl Weathers) no dia da independência. Enquanto Creed se farta em dinheiro, fama e auto-promoção, Rocky treina como um desgraçado, corre até vomitar, come gemas de ovos cruas no café da manhã e espanca vacas mortas até quebrar-lhes as costelas. O resultado é visto no ringue. Balboa, com seu queixo de aço e mão de bigorna, vai até o último assalto contra Creed, ambos os lutadores com as caras transformadas em hambúrgueres após doze assaltos de castigo no tradicional estilo de boxe sem guarda consagrado pela série.


7 - Frank Castle x O Russo (O Justiceiro, 2004)
Frank Castle (Thomas Jane) está enchendo a cara de uísque depois de jantar com uma vizinha gostosa (Rebecca Romjin)e dois vizinhos imbecis (Ben Foster e John Pinette)quando é surpreendido pela inesperada visita do Russo (Kevin Nash). O gigantesco assassino contratado de Howard Saint (John Travolta) limpa o chão com a cara do Justiceiro demolindo as paredes do apartamento usando a carcaça do adversário como aríete. Socos, estrangulamentos, facadas, arremessos através de portas e paredes e até banho de sopa quente estão no indigesto menu da briga mais violenta dos filmes baseados em quadrinhos.


6 - Jason Bourne x Castel (A Identidade Bourne, 2002)
Jason Bourne (Matt Damon), o espião amnésico que deu sorte não apenas de ser resgatado, mas de ser resgatado pelo único pesqueiro capitaneado por um homem com mãos firmes o suficiente pra extrair balas de ferimentos durante uma tempestade em alto mar, descobre que vive em Paris e pega uma carona com Marie (Franka Potente) até sua casa. Lá, enquanto procura por pistas de quem é e do que faz da vida, recebe a visita de Castel (Nicky Naudé), outro operativo do Programa Treadstone. Não é uma visita social. Castel e Bourne caem na porrada, até o assassino perceber que está em desvantagem e puxar uma adaga de luta pra equilibrar as coisas. Ele não contava, porém, com a caneta Bic de Bourne sobre a escrivaninha.


5 - Neo x agente Smith (Matrix, 1999)
Neo (Keanu Reeves) está sem telefone após a bala disparada pelo incansável agente Smith (Hugo Weaving) destruir o orelhão que era sua passagem de volta pro mundo real. Contrariando todos os avisos que recebeu de jamais enfrentar um agente, Neo resolve permanecer no velho metrô, e encarar o inimigo.
A gloriosa coreografia de luta idealizada por Yuen Woo Ping usando o fino do wire work e o bullet time dos Wachowski transformam a luta de kung-fu dos lutadores em um balé brutal e definidor, que elenca Smith e Neo como a nêmese final um do outro, e encerra o primeiro round de um combate que ainda teria a ótima Super Brawl de cem Smiths contra um Neo em Matrix Reloaded, e a Mega Brawl de Matrix Revolutions, outros dois tremendos festivais de pancadaria, mas sem a crueza franca desse primeiro embate.


4 - O Narrador x Angel Face (Clube da Luta, 1999)
O Narrador sem nome de Edward Norton vê do outro lado do porão sombrio onde finalmente se sente vivo, o rosto perfeito de seu loiríssimo colega de clube(Jared Leto).
Tomado por uma fúria vil, o Narrador surra brutalmente Angel Face, esmigalhando-lhe os dentes e desfigurando-o por completo. Ao fim da contenda sangrenta, embalada pela cacofonia de socos duros, Tyler Durden (Brad Pitt) pergunta "Qual é o lance, garoto psicótico?". A honesta resposta:
"Eu fiquei com vontade de destruir alguma coisa bonita."


3 - Martin Riggs e Roger Murtaugh x Wah Sing Ku (Máquina Mortífera 4, 1998)
Riggs e Murtaugh (Mel Gibson e Danny Glover)estão velhos demais pra isso. Além do mais, Ku (Jet Li), um dos cabeças da tríade chinesa, é mestre de kung-fu, falhou em sua missão de resgatar o patriarca de seu grupo, e teve o irmão morto. Não é um bom momento para enfrentá-lo.
Mas o gângster chinês desmontou a arma de Riggs com uma mão só. E Riggs e Murtaugh precisam descobrir como...
É catártico o confronto do metódico, veloz, mortal e preciso Ku contra o raivoso Riggs e o desajeitadão Murtaugh. Os dois coroas esmurram, agarram, chacoalham e cabeceiam o adversário para tentar equilibrar seus chutes, socos e estrangulamentos rápidos como raios. O resultado é uma pancadaria franca, entre três estilos completamente diferentes que deixa a gente na ponta da cadeira, fazendo caretas de dor, e até soltando eventuais gargalhadas.


2 - Wong Fei-Hung x John e Ho Sung (O Mestre Invencível 2, 1994)
Wong Fei (Jackie Chan) havia desistido de lutar a pedido de seu pai, um pacifista convicto. Entretanto, quando criminosos passam a desrespeitar o povo local roubando valiosos artefatos, Wong pode não ter alternativa, exceto cair na porrada.
A luta final do filme, entre Chan e os vilões Ken Lo e Kar Lok Chin é brutal. Em desvantagem numérica Wong é brutalmente surrado pelos dois bandidos até encher a cara de gasolina industrial e turbinar o seu drunken box. Depois de limpar o chão com Ho Sung, Wong volta-se para John e seu pé nervoso que chuta feito um helicóptero, e vai à forra com juros, correção e a mistura de artes marciais e comédia que consagrou Jackie Chan.


1 - Tang Lung x Colt (O Vôo do Dragão, 1972)
Tang Lung (Bruce Lee), viajou à Itália para visitar seus parentes que têm um restaurante na Cidade Eterna. Ao chegar lá, porém, descobre que sua família está sendo ameaçada por um grupo de mafiosos. Na tradição dos filmes de artes marciais após algumas lutas há um confronto definitivo.
Este é tão definitivo que toma lugar no Coliseu Romano, onde Tang Lung, o Dragão, enfrenta Colt (Chuck Norris).
Isso mesmo. Bruce Lee x Chuck Norris, no Coliseu Romano, duelando ao entardecer. São miados estridentes, roundhouse kicks e cabelos ruivos pra ninguém botar defeito numa emblemática cena de luta.
Quem vence?
No filme Bruce Lee, que é o mocinho.
Mas, como disse meu amigo Alê, Norris perdeu no cinema, mas Lee morreu na vida real.

sábado, 16 de março de 2013

O Sorriso do Dustin Hoffman


A Regina entrou no restaurante onde tinha marcado com seu amigo Lucas andando bem rápido e arfando. Assim que olhou pra ela, o Lucas sacou que ela estava fingindo aquela pose toda de quem havia acabado de correr a meia-maratona.
-Corta a atuação, Rê. Se tu fosse boa atriz as peças ruins que tu me obriga a assistir seriam estreladas por ti, e não por aquele povo estranho com quem tu estudou atuação.
A Regina ainda respirou, ofegando mais um par de vezes antes de começar a rir e se desculpar.
-A minha cama me agarrou depois do banho e não queria me deixar sair, guri.
Ele riu, um sorriso falso que era muito dele, em que ele apenas comprimia a boca de um modo que os cantos se reviram muito sutilmente pra cima. A Regina achava aquele sorriso falso medonho. Especialmente porque, a contração que o Lucas fazia era tanta, que o vinco sobre seu lábio superior se espalhava por baixo de todo o nariz dele, quase fazendo uma grande seta apontando pra sua boca deformada pela careta.
-Que horror esse teu sorriso, Lucas.
-Como assim, "Que horror"? Esse é um ótimo sorriso, copiei ele do Dustin Hoffman em Krammer x Krammer, naquela cena em que ele tá lavando a louça e dá um tapinha na bunda da amiga dele.
-Amorzinho - Ela disse, se debruçando sobre a mesa e erguendo uma sobrancelha enquanto cochichava - O Dustin Hoffman é muito feio.
-Eu, também. - O Lucas respondeu enquanto encarava o cardápio. Largou ele de repente.
-Tu vai comer? - Perguntou pra Regina, que mexia no celular.
-Não. - Ela respondeu distraída. - Eu comi antes do banho. Tava vesga de fome. Acho que vou só tomar um refri.
Ele grunhiu enquanto largava o cardápio em cima da mesa.
-Que foi? - A Regina perguntou, sem desgrudar os olhos do telefone.
-Rê... - Ele começou. -Se tu não queria vir, era só me dizer. Na verdade nem eu queria vir. Eu ia ficar bem quieto em casa, comendo eme emes e vendo Mythbusters, só saí porque tu insistiu. - Terminou a frase num suspiro.
A Regina largou o telefone após uma fração de segundo que se alongou indefinidamente do ponto de vista do Lucas.
-Honey... Olha... Eu também não queria sair. Eu trabalhei o dia inteiro, não folguei semana passada, então tô no meu décimo dia de trabalho sem folga. Acordei seis da manhã, fiz o café do Roger, enchi as tigelas de comida dos gatos e fui trabalhar. Cheguei em casa moída, varada de fome, suada feito uma porca e louca por um banho, e encontrei o Roger dormitando no sofá enquanto a casa fedia a merda de gato. Eu tinha pegado o celular e começado a digitar a mensagem me desculpando e dizendo que tava morta, mas aí eu me lembrei que, se eu não te tirasse de casa, hoje, tu ia ficar mais um dia sozinho, jogado em casa com aquela tua roupa rasgada e cheia de pelo de cachorro olhando TV e comendo porcaria. Então resolvi sair, e te encontrar. Desculpa se eu me atrasei, mas eu tava, mesmo, moída, e antes do banho tive que lavar o piso onde os gatos tinham feito cocô porque o Roger não trocou a areia da caixa, e tive que brigar com um homem crescido porque ele não faz as tarefas dele, que são só trocar a areia da caixa dos gatos e baixar a tampa do vaso depois que mija.
Ela suspirou com a mão na testa, e mexeu na bolsa de novo. Tirou o cigarro e o isqueiro. O Lucas segurou a mão dela antes de ela tirar um cigarro do maço.
-Desculpa, Rê. Eu não queria ser grosso.
-Tu não é capaz de ser grosso. - Ela sorriu, guardando o cigarro e o isqueiro novamente.
-Tu diz isso porque nunca me viu jogando futebol. - Ele respondeu.
-Vi, sim - Ela respondeu. -Na época da escola. As gurias adoravam te ver de calção justo.
Ele riu.
-Na época em que eu era jovem e bonito, e não um gordo maltrapilho.
-Ai, cala a boca. - Ela disse, apanhando o cardápio. - Agora me deu fome... Vou comer um prensado.
-Bem prensado. - Ele respondeu.
Ela não entendeu o trocadilho, e continuou olhando pra página enquanto o Lucas olhava em volta, pra um casal, sentado num canto, lado a lado, de costas pra TV, alheios à barulheira ao redor, braços colados enquanto esgrimavam com um canudinho aos risos.
-Não faz isso. - A Regina disse, colocando a mão sobre a dele. Ele repetiu o sorriso contorcido de Dustin Hoffman, mas tinha os olhos tristes.
-Por que tu faz isso, Lucas?
-Faço o quê?
-Isso. Te afasta do mundo. Tu não precisa ser mártir, mas ninguém vem ao mundo a passeio. Tu tem que tomar partido. Fazer as coisas. Tu não vai conhecer ninguém sentado no sofá jogando video game e lendo...
-Eu não quero conhecer ninguém.
-Mas tu precisa. Tu é novo, tem coisas pra dividir. Pra oferecer e ensinar... Tu precisa ver gente... Tu ligou pra Fabi?
-Não...
-Ela gosta de ti, Lucas. Ela disse.
-É... A Fabi é legal.
-Tu dormiu com ela e não ligou, Lucas... Isso é... Bah... Isso é muito foda, Lucas...
-É...- Ele concordou, envergonhado. -É que... É diferente, sabe?
-O que que é diferente, Lucas?
-Pra ela e pra mim... É diferente.
-Porque ela é mulher e tu é homem?
-Não... Porque ela quer tudo, sabe? Ela quer romance, e cartões, e presentes, e intimidade de verdade, dia a dia... Ela quer se apaixonar.
-E qual o problema?
-Nenhum... Mas é que eu já vivi o amor da minha vida. E não dá pra fazer isso duas vezes.
A Regina engoliu em seco, e olhou pro chão. O Lucas se levantou e sorriu. Não o sorriso do Dustin Hoffman, um outro sorriso, triste mas franco.
-Vou dar uma mijada. Tomei duas Fantas e uma Soda Limonada te esperando. Pede teu prensado pra levar. Eu te deixo em casa. Se abaixou e espetou um beijo estalado na bochecha da amiga enquanto rumava pro banheiro. A Regina olhou ele de esguelha enquanto andava, e entendeu que o Lucas parecia estragado... Quebrado quando ela o conheceu. E depois, pareceu estar inteiro... Mas aí quebrou de novo. E talvez essa fratura jamais fosse sarar.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Quadrinhos: Sandman Apresenta 5: Contos Fabulosos


A Panini lançou mais um número da série Sandman Apresenta, que faz o favor de, volta e meia, levar os fãs do melhor quadrinho já escrito de volta ao universo de Morfeus e ver o que os personagens que lá habitam andam aprontando após o desfecho da saga do senhor dos sonhos.
Nesse quinto número, composto por várias histórias, o manda-chuva é Bill Willingham, autor da série Fábulas, que aqui escreve uma série de contos que leva o leitor a passear literalmente, pelos bastidores do Sonhar, e ver como o pessoal de lá mantém os nossos devaneios oníricos em ordem quando fechamos os olhos pra puxar um ronco.
A história inicial é estrelada por Merv Cabeça de Abóbora, narrando a seus colegas uma missão secreta no estilo James Bond (Preste atenção aos títulos dos capítulos) encabeçada por ele para rastrear e capturar um sonho erótico renegado e recuperar um punhado de areia dos sonhos roubado de uma gaveta de seu senhor.
Como qualquer história estrelada pelo faxineiro do Sonhar, Merv Cabeça de Abóbora, Agente do S.O.N.H.A.R. é um grande pastelão, brincando com os conceitos estabelecidos pela mitologia Sandmaniana de Neil Gaiman.
Na segunda, As Novas Aventuras de Danny Nod, O Heroico Bibliotecário Assistente, o personagem título vaga pelas muitas localidades do Sonhar e cenários de diversos contos, como Peter Pan e Os Três Porquinhos e Rei Arthur em busca de livros retirados da sessão de fábulas da Biblioteca de Lucien, enquanto explica a Goldie, o gárgula de estimação de Abel, as ferramentas necessárias para suceder na profissão.
No final, há uma série de oito micro histórias parcialmente interligadas, Tudo O Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sonhos... Mas Tinha Medo De Perguntar, que responde, ao estilo do Lorde Moldador, questões a respeito dos sonhos, como Por Que Temos Pesadelos, Por Que Tantos Sonhos São De Natureza Sexual, Sonhos Também Dormem e Sonham Sonhos? e Por Que Às Vezes é Difícil Lembrar-se Dos Sonhos?, todas humor de sobra, o que chega a causar algum estranhamento a quem estava habituado às histórias de Gaiman, e Mike Carey, que economizavam no humor, ao menos em suas tintas mais vivas.
Há que se ver que, a despeito da leveza das histórias, e de contarem com personagens criados por Gaiman para contá-las, o que Willingham faz na edição toda é, como ele mesmo deixa claro antes do início da primeira páginas de quadrinhos, prestar uma homenagem à arte de contar histórias.
Talvez isso explique sua fixação com a biblioteca de Lucien, e Merv Cabeça de Abóbora, um notório embusteiro, e as presenças de Caim e Abel, contadores de histórias profissionais do Sonhar.
A arte fica a cargo de Mark Buckingham, Peter Gross, Daniel Torres, Pail Pope, Michael Kaluta, Phil Jimenez, Adam Hughes, Linda Medley, Marc Laming, John Stoques, Zander Cannon, Albert Monteys, Duncan Fegredo, Kevin Nowlan, Jason Little, Niko Henrichon e do próprio Willingham.
Não é nenhuma maravilha, mas a edição bonita, de capa dura envernizada pelo preço módico de vinte reais e noventa centavos impelem aqueles que, como eu, não resistem a ver uma brecha na sua coleção...

"Chega de choro, bonequinha, esse emprego é dos sonhos."

quinta-feira, 7 de março de 2013

Sal


Que o Plínio estava triste ninguém precisava ser vidente pra ver. Não precisava nem ser particularmente sensível, ou mais dotado do que a maioria no tocante à empatia. A tristeza do Plínio saltava tão miseravelmente aos olhos que mesmo nas ocasiões em que tentava fingir estar feliz, ou pelo menos mão parecer triste, a sua condição ainda saltava aos olhos.
Um de seus amigos tinha um irmão que era pouco mais que um ogro em forma de gente. Era grosseiro além da medida, machista, metido a sabe tudo, e portador de um comportamento do melhor estilo "foda-se o mundo que eu não tô nem aí" que era insuportável. E mesmo esse sujeito, ao encontrar o Plínio na casa do irmão, perguntou "O que te aconteceu, velho? Porque essa cara?".
Era assim que o Plínio estava.
Chegou a passar duas semanas inteiras em casa, fazendo nada exceto ler, olhar a televisão, e tomar banho.
Plínio não andava dormindo, também.
Chegou a passar três dias acordado sem pregar o olho além de um cochilo que mal servia pra que Plínio não sofresse de tremores. Pelo menos era o que ele tinha pensado.
Depois Plínio dormiu quase um dia inteiro. Foi dormir às seis da manhã de um domingo, e acordou quatro da madrugada de segunda-feira, dolorido como jamais estivera.
Plínio, claro, sofria de um coração partido. Irremediavelmente partido.
Alguém lhe disse, após saber do male que o cometia, que a melhor coisa para fazer era esquecer.
"Ótima ideia", pensou Plínio. "'Lacuna Inc.' aqui vou eu!". Não existia possibilidade de Plínio esquecer. Ninguém esqueceria o que ele experimentara. Nem mesmo alguém que esquecesse sempre das coisas esqueceria o que ele encontrara. Imagine então o Plínio, que lembrava de praticamente tudo, e pior: Lembrava de praticamente tudo com riqueza de detalhes?
Não... Plínio não podia esquecer.
Outra pessoa, lhe disse que sabia que não dava pra esquecer. E que o que o Plínio devia fazer, era se concentrar nas coisas ruins.
"Toda a vez que pensar nela", disse-lhe a pessoa "Concentre-se nas coisas ruins.". "Más experiências. Coisas que te irritavam. programas ruins que vocês fizeram juntos.".
O segredo, continuou, é sempre ligar a pessoa a uma experiência ruim. Assim, logo só vão sobrar más lembranças, e aí, tu não vai gostar de pensar a respeito, e sem pensar a respeito, vai cicatrizar, e parar de doer.
Parecia, de fato, uma boa fórmula.
Quem lhe dera tal receita tinha vasto histórico em assuntos do fórum em questão, de modo que havia credibilidade naquilo.
Plínio esbarrou em um único problema:
Nada tinha de ruim para pensar da pessoa que tentava, desesperadamente tirar de si.
Ela o magoara, claro. Lhe tirara uma coisa que, pra ele, era muito especial. E estilhaçara seu coração.
Mas a verdade é que o coração de Plínio pertencia a ela pra destruir se assim desejasse.
Ele só funcionara porque ela fora persistente o suficiente pra minerar seu peito até encontrá-lo, e depositar-lhe vida.
Essa era a unica coisa ruim que ela havia feito, Plínio bem sabia. De resto, apenas coisas boas.
Passeios. Beijos. Conversas. Noites de sono e noites insones... Todas memórias cálidas. Daquelas que Plínio não queria ver irem embora pelo ralo.
"Paciência", ele pensou. "Se é pra ser assim. Que assim, seja.".
Plínio se acostumou à ideia de ser uma sombra de si próprio. De deixar de ser ele mesmo e se tornar o que restara de si.
Era o caminho, e Plínio o trilharia, já que fora idiota o suficiente para pavimentá-lo.
Até que aconteceu...
O Plínio descobriu uma faceta dela, de que não gostava.
Uma tendência vil de não estar satisfeita em tê-lo derrubado. De não se saciar de vê-lo com um punhal cravado em si.
Aparentemente, aquilo, pra ela, não bastava. Não era bom o bastante vê-lo ferido. Era preciso torcer a faca. Salgar o machucado.
Saber que Plínio estava triste era pouco. Era necessário dizer o quanto ela estava feliz. Como tinha o removido plenamente de uma vida que então se tornava plena.
Era uma faceta bastante abjeta. Uma que Plínio jamais lhe teria atribuído. Que chegou a chocá-lo.
Mas ensinou-lhe uma lição.
E Plínio está sempre ávido por aprender.