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terça-feira, 29 de abril de 2014

Rapidinhas do Capita


Épico demais para ser desprezado.
Após semanas de especulações, idas e vindas e fofocas não confirmadas finalmente divulgaram o elenco oficial de Star Wars - Episódio VII.
A Lucasfilm e J. J. Abrams publicaram uma foto com os envolvidos na empreitada:


Contando de Abrams, ao centro, e, em sentido horário temos:
Harrison Ford (Han Solo), Daisy Ridley, Carrie Fisher (Princesa Léia), Peter Mayhew (Chewbacca), os produtores Bryan Burk, e Kathleen Kennedy (que também é a presidente da Lucasfilm), Domhnal Gleeson, Anthony Daniels (C3-PO), Mark Hammil (Luke Skywalker), Andy Serkis (Gollum, opa, deixa pra lá...), Oscar Isaac, John Boyega, Adam Driver mais o roteirista Lawrence Kasdan, todos sob o olhar vigilante do R2-D2 que deve voltar a ser vivido por Kenny Baker.
Além do povo da foto, ainda estará no filme o veterano Max Von Sidow que, assim como todos os demais novatos, não teve seu papel divulgado, o que deve levar uma vida pra acontecer baseado no que se sabe sobre a forma de Abrams de tratar os segredos de seus filmes.

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E, um pouco atrasado, mas pra não ficar só no anúncio de Star Wars...
A Warner confirmou, através de seu presidente mundial de produção, Greg Silverman que, após o lançamento de Superman vs Batman deverá mesmo lançar o filme da Liga da Justiça em meados de 2018 e que o diretor será o mesmo Zack Snyder de O Homem de Aço.
Por enquanto estão confirmados no filme Henry Cavill, como Superman, Ben Affleck, no papel de Batman, Gal Gadot como a Mulher-Maravilha e Ray Fischer, recentemente contratado para viver Victor Stone, o Ciborgue, deixando no ar que o longa se focará na formação da equipe das séries dos Novos 52.
Enquanto os fãs especulam se Ryan Reynolds voltará a ser o Lanterna Verde, se Matt Damon ou Jason Momoa será o Aquaman, e se Grant Gustin, o Flash da TV tem lugar nesse elenco, eu ainda estou preocupado com a pressa da DC/Warner em colocar Batman e Superman juntos no mesmo filme sem que o novo homem morcego tenha tido um filme solo pra mostrar a que veio...

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E Avi Arad, produtor da cinessérie Homem-Aranha disse que pode até haver um crossover do cabeça de teia com Os Vingadores, contanto que o herói aracnídeo seja o protagonista.
Foi uma maneira gentil de jogar aquele baldaço de água fria nos fãs, afinal, se nem o Tony Stark de Robert Downey Jr. conseguiu ser o protagonista de Os Vingadores, por que o Homem-Aranha o seria?
Ah, contagem regressiva para O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Resenha Cinema: Noé


Foi uma surpresa para mim, um ateu convicto, descobrir que outro ateu (Darren Aronofsky) faria um filme baseado em Noé. Aquele Noé do dilúvio, chuva de quarenta dias e quarenta noites, neto de Matusalém, da arca com dois animais de cada e talicoisa...
A passagem do dilúvio é uma das estórias bíblicas que mais ri na cara da ciência e que é mais risível do ponto de vista científico (nem sei por onde começar a citar as arbitrariedades e impossibilidades científicas do mito, mas digamos que um dilúvio pôr o mundo debaixo d'água e um barco comportar animais que nem existiam, ou viviam a meio mundo de distância, esteja longe de ser fato), então, eu confesso que minha primeira reação à adaptação de Aronofsky foi um misto de descaso e curiosidade.
O elenco, porém, fez a curiosidade prevalecer, afinal, qual cinéfilo minimamente respeitável desperdiça uma oportunidade de ver Russel Crowe, Jennifer Connely, Anthony Hopkins, Logan Lerman e Emma Watson sob a batuta de Aronofsky?
Filme conferido, confesso, com algum atraso, mas bom.
Noé, mostra como o primogênito da linhagem abraâmica de Set, irmão menos famoso de Caim e Abel, leva sua vida tentando ser justo e decente em um mundo consumido pela ganância e pelo pecado.
Em um sonho, Noé recebe do Criador o aviso de que os dias do mundo estão contados, um grande dilúvio lavará o mundo da maldade do Homem para ele ser reiniciado de acordo com os desejos de Deus. De posse dessa informação, Noé vaga com sua esposa Naameh (Connely) e seus filhos Sem, Cam e Jafé até o monte onde vive seu avô, Matusalém (Hopkins).
Aconselhado pelo homem mais velho do mundo, Noé entende que seu dever é erigir a arca que guardará um par de cada um dos animais da criação, garantindo que o reinício da vida na Terra seja completo.
A tarefa de edificar a imensa embarcação, porém, é apenas metade do perrengue pelo qual Noé e sua família irão passar. Os milagres sucessivos que antecedem o dilúvio atraem a atenção de Tubalcain, guerreiro/ferreiro/lenhador/caçador/rei dos homens ímpios (vivido por Ray Winstone), que deseja a arca para salvar a si próprio e seus seguidores, ao mesmo tempo em que a fé cega de Noé o coloca em rota de colisão com sua própria família no limiar do fim do mundo.
Noé está longe de ser mau filme. Muito, muito longe, mesmo.
Ainda assim, há um certo estranhamento em ver que, do projeto de Darren Aronofsky resultou um filme bíblico tão tradicional.
O roteiro escrito por Ari Handel e pelo próprio Aronofsky é bastante conservador para com a história bíblica.
Os grandes diferenciais, Tubal-Cain, a menina Ila (personagem de Emma Watson), a presença de anjos caídos tornados gigantes de pedra (e dublados por Nick Nolte, Mark Magolis e Kevin Durand)... São, em sua maioria, adições em nome do espetáculo muito mais do que do bom andamento da história, representando, em uma interpretação simplista, o vilão, o interesse romântico e as criaturas fabulosas ao melhor estilo O Hobbit.
Some-se a isso a mensagem vegetariana ecológica do filme (os malvados comem carne e queimam a floresta, os bonzinhos catam líquens com tubos de ensaio ante-diluvianos e jamais pegam mais do que precisam ou podem usar) e Noé fica com a maior cara de épico bíblico de fantasia new-age.
Por sorte há espaço para alguns questionamentos mais Aronofskyanos. Se na bíblia Noé e Deus conversam feito dois compadres, no longa as mensagens divinas são todas enigmáticas, chegando ao homem através de sonhos que precisam ser interpretados. Colocar Noé, não como alguém que ouve com clareza a voz de Deus, mas sim como um ser humano tentando interpretar o divino, abre um leque de possibilidades que faz maravilhas pelo personagem e dá a Russel Crowe, um dos grandes atores em atividade no cinema, mais ferramentas pra trabalhar.
É legal, também, perceber que além do acréscimo do espetáculo, o roteiro se esforça para explicar certos aspectos do mito bíblico, dando-lhes mais estofo e lastro, como a embriaguez de Noé, ou o pecado de Cam (Logan Lerman) contra seu pai.
Entre erros e acertos, Noé se segura bem em grande parte graças ao elenco de cobras e ao espetáculo visual bem pensado e executado à perfeição.
A despeito de não ser o grande filme (ou a grande atuação) da carreira de nenhum dos envolvidos, Noé é espetáculo, e, como tal, merece platéia.
Assista no cinema, mas dispense o 3-D.

"-Eu trago homens às minhas costas, e você, sozinho, me desafia?
-Não estou sozinho."

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Resenha DVD: Blue Jasmine


Antes mesmo de Cate Blanchett ser oscarizada pela sua atuação no longa, eu já estava pilhadaço para ver Blue Jasmine.
Não que eu seja um fã inveterado de Woody Allen. Adoro os filmes do sujeito, mas a verdade é que em uma única ocasião, assisti um filme do diretor no cinema. Pois é, Tudo Pode dar Certo, estrelado por Larry David e Evan Rachel Wood, foi o único filme de Allen que eu vi em tela grande.
O que, sejamos francos, não chega a depôr contra mim... O próprio Allen brinca com o fato de seus filmes não darem dinheiro, e, va lá, eu podia fazer pior do que não ir ao cinema... Podia baixar da internet ou esperar passar na TV a cabo... Mas não, alugo na locadora, pagando diária e tudo mais... Vez que outra, se o filme se torna particularmente caro pra mim, como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e Tudo Pode dar Certo, até compro o DVD ou Blu-Ray (quando encontro...).
Mas enfim...
Queria ver Blue Jasmine, em especial, por causa de Cate Blanchett.
A australiana, além de bonitona, é uma das atrizes mais fodonas em atividade, e eu acho um lance meio cruel que as atrizes, quando chegam à uma certa idade, não encontrem mais papéis à altura de seu estofo.
A partir do momento em que uma mulher vira uma determinada esquina, ali pelos quarenta e poucos anos, os projetos interessantes começam a minguar paulatinamente até aquela idade em que só existem papéis de avó, então, maneiro ver a Cate Blanchett, não apenas em um papel que parecia maneiro desde o trailer inicial do filme, mas que também era o de protagonista, aliás, outro diferencial de Blue Jasmine.
Uma mulher sendo o, quase obrigatório, alter ego de Allen no longa.
Na trama conhecemos Jasmine (Blanchett), ela está uma pilha de nervos, chegando à São Francisco, onde irá morar com a irmã Ginger (Sally Hawkins) após sua vida em Nova York ir pro buraco.
Jasmine era casada com um ricaço, o empresário Hal (Alec Baldwin), e levava uma vida de luxo e ostentação na alta roda de Manhattan.
Entretanto, os negócios de Hal não eram exatamente limpos, e ele, eventualmente acabou sendo preso, o que fez com que Jasmine perdesse tudo e acabasse na rua da amargura, com um colapso nervoso e nenhum centavo na bolsa Vuitton.
Aquartelada no apartamento simples da irmã na Califórnia, Jasmine precisa colocar sua vida nos eixos e reaprender a andar com as próprias pernas após anos sendo mimada pelo marido magnata, uma tarefa que já seria suficientemente difícil em circunstâncias normais, e que só se torna mais desafiadora para uma mulher que luta o tempo inteiro contra uma recaída que pode lavá-la ao destrambelhamento total, as lembranças do passado que a assombram, além da própria personalidade narcisista.
É muito bom.
A estrutura narrativa, volta e meia levando Jasmine a relembrar episódios marcantes de seu passado, funciona que é uma beleza, ajudando o espectador a entender como foi que a protagonista chegou tão fundo no poço.
Praticamente não há cenas sem Jasmine no filme, e esse é um dos grandes acertos do longa, Cate Blanchett está demolidora no papel, merecendo cada aplauso de pé e estatueta de premiação que colocou na estante pela performance.
Sem jamais deixar de ser a personagem que conhecemos no início do filme, ela consegue transitar entre o drama e a comédia de maneira extremamente natural, comédia essa, que fique bem claro, muito mais de desconforto, escárnio e até humor negro, do que de gargalhada.
Embora a protagonista seja a senhora do filme, há mais em Blue Jasmine do que apenas ela. Sally Hawkins está ótima como Ginger. A irmã adotiva que nada tem a ver com Jasmine contrapõe a protagonista com justiça e sem desaparecer na comparação, o que, por si só, já seria passível de elogios. Nos papéis masculinos, palmas para Alec Baldwin, mostrando-se um expert na arte de interpretar escrotos cheios da grana, Bobby Cannavale, como o sanguíneo e apaixonado mecânico Chili, namorado de Ginger, e destaque especial para Andrew Dice Clay (Lembram dele em As Aventuras de Fair Farlane?) como Augie, o ex-marido de Ginger, cuja chance de se dar bem na vida foi corroída numa das armações de Hal.
Seu Augie é um retrato do ressentimento proletário frente à ganância dos ricos, e talvez o personagem mais simpático do longa.
Flertando com temas como as estripulias financeiras de especuladores ao melhor estilo Bernie Madoff, a discutível necessidade de recomeços das pessoas, e até que ponto a vida de alguém pode desmoronar antes que ela colapse e leve consigo aqueles que tentam segurá-la, Blue Jasmine não é o melhor nem o mais acessível filme da carreira de Woody Allen, mas a maturidade com que ele conta a história dessa mulher auto-destrutiva e egoísta nos mostra que a melhor forma do diretor é estratosfericamente acima da média, e que, na arte de escolher protagonistas talentosas e atraentes, Allen é mestre sem precedentes.
Assista, se não tiver medo de um pouco de amargura, é difícil não gostar.

"Ansiedade, pesadelos e um colapso nervoso, há apenas uma determinada quantidade de traumas a que uma pessoa pode resistir até ir para a rua e começar a gritar."

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Resenha Cinema: Refém da Paixão


Jason Reitman é um desses sujeitos que resolveram seguir nos negócios da família.
No caso dele, cinema.
O sujeito é filho de Ivan Reitman, diretor de filmes como Os Caça-Fantasmas, Evolução, e Irmãos Gêmeos.
Se Jason não trilhou exatamente o mesmo caminho do pai, um diretor de comédias rasgadas, também é verdade que a fruta não caiu longe do pé.
A curta filmografia de Reitman filho conta com longa-metragens que se dividem entre ótimos (Como Amor sem Escalas, Juno e Obrigado Por Fumar) e bons (como Jovens Adultos), com todos partilhando um senso de humor sutil e esperto. Aquela qualidade de não se levar excessivamente a sério que faz maravilhas pela maioria dos filmes.
Foi por isso que ontem, assistindo a Refém da Paixão, título danado de ruim para o Labor Day original, me surpreendi pela quase que completa ausência de humor do filme, que, vá lá, não se ressente tanto de motivos pra rir, sendo o que é...
No longa, conhecemos a história de Adele e Henry Wheeler.
Adele (Kate Winslet, lindona e monstra na atuação) é uma mulher alquebrada, vivendo em constante depressão após o divórcio, ela mais é cuidada pelo filho (Gattlin Griffith, bem), que se esforça na medida do possível para ser o homem da casa e impedir que sua mãe afunde por completo na tristeza.
Os dois dançam, conversam, e fazem compras quando Adele encontra coragem para sair de casa, e é justamente em uma dessas incursões ao super-mercado que Frank entra na vida dos dois.
Frank (um seguro Josh Brolin), é um presidiário fugitivo da penitenciária, aproveitando uma apendicite e a distração de um guarda, ele saltou de uma janela e escapou.
Ferido e em fuga, Frank coage Adele e Henry a abrigá-lo enquanto recupera o fôlego e trata de seus machucados e espera o próximo trem para completar sua escapada rumo ao Canadá.
O feriado prolongado do dia do trabalho, porém, se interpõe no caminho de Frank, que disposto a não ser um estorvo, promete realizar algumas tarefas na casa.
Frank é macho alfa, rústico, cara de caubói, mas cozinha, lava, limpa, conserta dobradiças de porta, troca fusíveis de faróis e o óleo do motor do carro, ensina Henry a jogar beisebol e conforta o filho da vizinha com paralisia cerebral levando-o para brincar no quintal e aplicando-lhe uma toalha molhada para afastar o calorão.
Conforme o feriadão se desenrola, a carente Adele obviamente se deixa levar por Frank, o provedor bonitão, rude mas de bom coração, sonho de consumo de oito em cada dez mulheres e de alguns gremistas e São-Paulinos, também.
Mas não apenas ela.
Henry, um moleque precisando desesperadamente de uma figura masculina presente em sua vida e desejando que sua mãe saia do torpor da depressão, também se apega a Frank, a quem vê como o bote salva-vidas que pode tirar sua mãe do naufrágio em que sua vida se tornou após o fim do casamento, ao menos até começar a ter dúvidas se existirá eapaço para ele na nova vida de sua mãe.
É um belo filme.
O senso de humor, cuja falta referi lá em cima, realmente não é necessário em um óbvio drama romântico, ainda assim, talvez ajudasse a afastar um pouco a sensação de absurdo de algumas passagens do roteiro (de autoria do próprio Reitman, baseado no livro de Joyce Maynard), como o fato de Frank ser o presidiário mais gente-boa e repleto de qualidades da História do cinema, e mesmo ferido e em fuga encontrar tempo para fazer reparos, dançar rumba e fazer churrasco.
Essas passagens tão românticas, porém, podem ser atenuadas conforme entendemos que o filme é uma lembrança, contado em flashback por Henry já adulto (vivido por Tobey Maguire), e que suas lembranças, talvez, sejam um pouco mais floreadas do que a realidade teria sido.
De uma forma ou outra, nada disso estraga Refém da Paixão, nem remove as qualidades do longa, que conta uma bonita história de amor, que como qualquer história de amor clama por suspensão de descrença, estrelada por um bom elenco com, pelo menos dois nomes acima da média.
Josh Brolin, que consegue ser verossímil, forte e terno, deixando a mulherada cega ao fato de que tem cara de australopitecus, e Kate Winslet, essa, uma mutante de tão excelente, capaz de arrancar lágrimas com um único olhar, além de ser muito, muito, muito linda. A eles juntam-se Griffith, Maguire, além de J. K. Simmons, James Van der Beek e Clark Gregg.
Refém da Paixão não vai revolucionar a história do cinema, e não é filme pra todo mundo, mas pra que sabe endurecer sem perder a ternura, vale a visita ao cinema.

"-Eu não posso te dar uma família.
-Você já deu..."

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Rapidinhas do Capita


Mais um ano, mais um gre-Nal, mais uma vitória do Inter e mais um titulo gaúcho que, sejamos francos, não vale lá muita coisa. O divertido, mesmo, é a vitória no clássico, a possibilidade (re-re-re-repetida) de tocar aquela flauta nos amigos que torcem pelos azuis, de atormentar os vizinhos tricolores, e, claro, de colocar mais um tijolo no mural da vantagem, que se tornou superioridade, que se tornou hegemonia que se tornou paternidade na relação do Internacional com seu mais clássico rival.
O mais gostoso?
De goleada, 4 x 1, com o treinador adversário, o promissor neófito Enderson Moreira (que inclusive já passou pelo Internacional), apavorado após o quarto gol colorado, tirando um meia e colocando mais um volante na desesperada tentativa de evitar que o vexame inapelável se tornasse ainda maior.
O time do Inter segue sendo fraco, precisando de reforços em quase todos os setores, e, na opinião desse escriba corneteiro, incapaz de almejar o titulo do Brasileirão (embora a Copa do Brasil, torneio menor em expressão, prestígio e grau de dificuldade, seja factível.), mas por me abrir um sorriso no domingo e na segunda, por antecipar a páscoa distribuindo chocolate uma semana antes da data, e por deixar encarnado de tão vermelho o lombo do co-irmão sob suas camisas azuis, já me torna mais propenso a apoiar e torcer, ainda que descrente.

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E parabéns antecipado ao maestro da surra de rebenque que o Colorado aplicou no rival na tarde de ontem.
Andrés Nicolás D'alessandro, o mito escarlate que assombra os pesadelos dos tricolores até as plagas mais distantes com seu cabezón e suas chuteiras brancas que parecem grandes demais para seus pés, amanhã completa trinta e três invernos.
Esbanjando o talento que todos sempre souberam que ele tinha, aliado à uma inédita maturidade, que sabe o craque portenho não seja o diferencial capaz de tornar possível o improvável, pra dizer o mínimo, título do Brasileirão?
Parece querer demais?
Concordo.
Mas após sapecar o laço na paleta do co-irmão, qual de nós, da nação rubra, não nos sentimos no direito de ousar pensar no que parece improvável, afinal de contas?

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Mais alguém tem visto o Gigante da Beira-Rio com seu sistema de iluminação ativado à noite?
Durante a semana passada, pus-me a correr à beira do Guaíba de manhã bem cedo, quando ainda é noite, e fui surpreendido pelo brilho candente do gigante erguido sobre as águas na distância. Tão bonito e tão forte a iluminação, que tomou-me uma fração de segundo para perceber que tratava-se, não de um UFO erguendo-se das profundezas do Inferno, mas sim de um dos mais imponentes estádios de futebol do Mundo. Logo ali, a poucos quilômetros de onde eu estava.
Melhor que ver com meus próprios olhos a beleza ímpar do Beira-Rio, só constatar que ela não passa despercebida nem pelos rivais quando o taxista, conduzindo-me do Barra pra casa após Capitão-América 2, passa diante do estádio e diz, cheio de desdém:
-Olha aí o "abobrão" do Inter...
Para então acrescentar:
-Puta merda, mas ficou linda essa porra...

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Resenha Cinema: Capitão América 2 - O Soldado Invernal


Lá em julho de 2011, eu falei que, para tornar o Capitão-América mais palatável ao grande público, os estúdios Marvel, o diretor Joe Johnston e os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely não contaram a história de um bandeiroso super-soldado norte-americano, mas sim a história de um rapaz idealista que aceitava ser cobaia em uma experiência para poder fazer sua parte em uma luta contra o mal.
Esse retrato do Capitão América como a síntese do jovem valente de boa índole querendo desempenhar o seu papel num mundo onde o mal não podia ser mais óbvio talvez seja a melhor interpretação do personagem.
Enxergar Steve Rogers como um ingênuo idealista dos anos quarenta representando um ideal perdido em um passado distante é certeza de descobrir alguma empatia por um personagem que, em tempos de anti-americanismo exacerbado, já começa a se tornar repulsivo nas cores do uniforme.
Seguindo a cartilha da Marvel, Capitão América 2 - O Soldado Invernal, não apenas mantém essa imagem do personagem, como aprofunda o herói ao colocá-lo como um sujeito nascido em 1918 que enxerga tudo em preto e branco no mundo tomado por tons de cinza do século XXI.
A nova aventura de Steve Rogers começa com o herói (Chris Evans) morando em Washington e seguindo com sua tentativa de se reintegrar ao mundo, ouvindo músicas, assistindo filmes, conversando com novas pessoas como sua vizinha Kate (Emily VanCamp) ou com o soldado reformado Sam Wilson (Anthony Mackie) enquanto colabora com a SHIELD de Nick Fury (Samuel L. Jackson) fazendo o papel de super-soldado que foi criado para desempenhar.
Porém, após uma missão particularmente nebulosa, que vai rapidamente do resgate de reféns sob poder do terrorista argelino Batroc (O lutador de MMA Georges Saint-Pierre) em uma incursão de espionagem e roubo de dados da Viúva Negra (Scarlett Johansson, gostosíssima), Rogers percebe que não está se sentindo muito confortável com seu papel no atual esquema das coisas, especialmente após descobrir que a SHIELD está criando um novo sistema bélico de vigilância sub-orbital que pode eliminar inimigos antes mesmo que eles sejam capazes de agir.
Enquanto é alertado de todos os lados sobre a dificuldade de sustentar a ingenuidade de sua visão de mundo, Rogers vê Fury sob ataque, a SHIELD, agora sob o comando de Alexander Pierce (Robert Redford) comprometida desde a raiz, e a lista de pessoas em quem pode confiar sendo reduzida sistematicamente enquanto é taxado de traidor e envolvido em uma gigantesca conspiração que se revela na forma do assassino conhecido como Soldado Invernal (Sebastian Stan).
Chega a ser admirável o salto de qualidade nas produções da Marvel pós-Vingadores.
Se Homem de Ferro 3 não foi muito mais que um divertido mais do mesmo centrado na impagável figura do Tony Stark de Robert Downey Jr., Thor - O Mundo Sombrio encontrou o tom em sua divertidíssima salada de referências que iam muito além dos quadrinhos do Deus do Trovão, passando de O Senhor dos Anéis a Star Wars, e Capitão América 2 - O Soldado Invernal, ergueu ainda mais o padrão ao conseguir contar uma história de fundo político cheia de temas atuais e relevantes em um filme de ação e espionagem que, em nenhum momento, se envergonha de sua origem (Um ótimo arco de histórias escritas por Ed Brubaker) ou de seus coloridos uniformes.
Sob a batuta dos irmãos Joe e Anthony Russo (Não eram exatamente os nomes dos irmãos da Blossom?) o estado de vigilância excessiva, medo do terrorismo e liberdade controlada norte-americana pós ato-patriótico se integra perfeitamente à história de super-herói e homem fora de seu tempo e de seu ambiente de Steve Rogers sem abrir mão da ação, do espetáculo visual e até mesmo dos alívios cômicos que se tornaram a marca registrada dos estúdios Marvel (Nem tudo funciona, porém. A piadinha particular pros brasileiros na caderneta de referências do Capitão é meio sofrível, quem indicaria Xuxa e Mamonas Assassinas pra alguém que teve a sorte de estar congelado durante esses "fenômenos"?) numa fita de alta qualidade que chega a surpreender pela coesão, pelas reviravoltas e pelo peso de seu desfecho.
Equilibrado entre o roteiro redondinho (Novamente de McFeely e Markus), o bom trabalho dos diretores e de um elenco de atores esforçados ou talentosos ou ambos, onde se destaca a maturidade de Chris Evans, visivelmente evoluindo como ator e confortável no papel do herói, Scarlett Johansson, um colírio adorável com sua voz rouca, e Anthony Mackie, ótimo como Sam Wilson, o Falcão, herói boa-praça que tem algumas sequências de ação vertiginosas, mais Redford, como Pearce, além dos retornos de um sem-número de caras conhecidas dos filmes da Marvel(Cobbie Smulders, Maximiliano Hernández, Gary Shandling, Hayley Atwell, Toby Jones...).
Em suma:
Assista no cinema, o 3-D é totalmente dispensável, mas o espetáculo do retorno do Sentinela da Liberdade é obrigatório.
Ah, claro, fique até o fim dos créditos, há duas cenas extras.

"-Isso não é liberdade. Isso é medo."

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A Maldição de Vandeca


A Vandeca considerava a própria beleza uma maldição.
Não era gênero, não. A beleza já havia causado problemas pra Vandeca mais de uma vez.
Além dos problemas tradicionais que uma mulher bonita sempre enfrenta, como não ser levada a sério por seus colegas de trabalho e estudo, os olhos cobiçosos de homens que a veem primeiro como objeto sexual e apenas depois como ser-humano, a condescendência invejosa de outras mulheres menos dotadas de atributos físicos, havia mais.
E não era o fato de a Vandeca ter percebido que a maioria dos homens se intimidavam ante sua vasta beleza, nem o fato de ter notado que, para a maioria dos que se aproximavam dela e a cortejavam, ela era pouco mais do que um troféu para ser exibido após o "abate"...
Não. A raiz do problema era mais profunda.
Vandeca começou a, de fato, preocupar-se, quando resolveu sair com um rapaz que conhecera na academia, o Inácio.
Inácio conversou com Vandeca de maneira gentil e descontraída, sem sugerir nada com seu sorriso tímido ou com suas palavras escolhidas com cautela.
Vandeca logo percebeu que Inácio não a via como um objeto. E se, a princípio, achou que ele era apenas um sujeito mais esperto que a maioria, tentando uma estratégia inteligente para acessá-la, não tardou em dar-se conta de que o jovem, pasmem, era sincero.
Inácio de fato relacionava-se com Vandeca como uma amiga em potencial.
Vandeca não saberia dizer se fora efeito de descobrir genuína sinceridade em um homem, se fora a delicadeza que Inácio reservava ao tratamento com ela, ou simplesmente o tesão acumulado de uma mulher linda, jovem e saudável que estava a muito tempo ocultando-se de eventuais predadores sob uma carapaça de reserva, mas a verdade é que Inácio tornou-se, de súbito, o alvo das atenções de Vandeca.
Ninguém na academia entendia, nem instrutores, nem frequentadores.
Como uma mulher linda, linda, linda, tão gostosa que não havia de ter carteira de identidade, mas escritura, que rescindia sensualidade, podia se interessar, subitamente, pelo Inácio?
Aquele sujeito modesto, de físico meia-boca, aparência regular, tímido, contemplativo e introspectivo. Não parecia possível.
Mas foi.
Vandeca viu-se praticamente obcecada por Inácio. Passou a tentar, de maneira sutil, dar-lhe abertura. Tocava-lhe o braço enquanto conversavam entre os aparelhos de musculação.
Tocava-lhe a perna quando o via sentado ou deitado levantando pesos.
Quando sentavam lado a lado para desamarrar os tênis ou fazer exercícios com halteres, ela colava sua coxa gloriosa na dele.
E ela via que Inácio a percebia. Percebia o rubor subir-lhe do colarinho e preencher-lhe a face de escarlate.
Mas ele não fazia um movimento, o que a desesperava.
Vandeca não entendia que Inácio, ciente que era de sua aparência e personalidade, não se achava à altura dela.
Para ele, um sujeito insuspeito, de disposições simples, ser amigo daquela deusa maravilhosa era mais do que ele podia almejar. Era um píncaro de realização em termos de relação homem/mulher, ou, naquele caso específico, de relação homem/monumento edificado pelos deuses em honra da beleza feminina.
Mas Vandeca, além de bela (bela, bela, bela, belíssima...), era, também, tenaz.
E, ao dar-se conta de que Inácio não iria tomar a iniciativa, tomou ela a iniciativa.
Um dia, após terminar suas séries de exercícios de glúteos (que provavam sua eficácia sob o tecido das calças e saias de Vandeca, e que durante algum tempo juntaram plateia), ela esperou que Inácio saísse do chuveiro e o abordou, convidando-o "repôr os carboidratos.".
Inácio, aturdido de início, aceitou o convite.
Foram a um restaurante italiano na Cidade Baixa, onde ele comeu pouco, conversando polidamente, mas visivelmente nervoso com a situação. Tomaram uma garrafa de vinho, com Inácio frisando o tempo todo que não era de beber.
Tudo aquilo, o nervosismo dele, a polidez, a deferência com que ele a tratava e mais o vinho, foram deixando Vandeca cada vez mais excitada.
Ao terminarem a sobremesa, um tiramisu particularmente delicioso, Vandeca preparou, apontou, e disparou o convite para que Inácio a acompanhasse até em casa.
Ele, ruborizado além do que parecia possível, aceitou gaguejando.
Durante o trajeto de táxi, Vandeca se segurou para não agarrá-lo sob os olhos do motorista que, como todos os motoristas de táxi que Vandeca podia se lembrar, mirava-lhe as pernas e o colo pelo retrovisor.
Chegaram à casa dela, e, no elevador, Vandeca pôs-se a beijá-lo sofregamente, arrancando-lhe ruídos de afogamento quando descolava seus lábios carnudos dos dele, ao mesmo tempo em que interpunha a mão sedente por dentro de sua calça procurando por sua masculinidade.
Entraram no apartamento aos beijos, Vandeca arrancou-lhe a camisa fazendo botões quicarem com alarido pelo chão, ele largou a mochila e se pôs a desabotoar-lhe o vestido, mas ela não podia esperar, após dois botões o tirou por cima da cabeça deixando os seios que desafiavam a gravidade à mostra, e, ato contínuo, abriu o cinto de Inácio, e o libertou das calças.
Voltou a beijá-lo com luxúria, com lascívia, esfregando a renda da calcinha preta que lhe cobria o púbis contra o membro de Inácio, que pulsava.
Mordeu-lhe o lábio inferior, e sussurrou como se fizesse confidência:
-Quero que tu me pegue por trás.
Dando-lhe as costas, e ajoelhando-se, para então baixar a roupa íntima apenas até a altura das coxas, e inclinar-se para a frente, apoiando-se também nas mãos.
Esperava a aproximação de Inácio, esperava pelo mais básico e bestial dos sexos, pela penetração vinda por trás, enquanto ele a mordia nos ombros e nuca e lambia-lhe as costas.
Inácio, porém, a ver Vandeca de quatro, empinando-se e exibindo-se em toda a sua glória morena-clara, nada pôde fazer, exceto explodir em aplausos, como se acabasse de assistir à um concerto de André Rieu.
Era por essas e outras que Vandeca, volta e meia, pensava em basear sua dieta em pizza e sorvete, e parar de frequentar academia.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Rapidinhas do Capita


E o spin-off mais desnecessário da história do cinema tem diretor.
Sexteto Sinistro, filme focado no tradicional grupelho de inimigos do Homem-Aranha (com uma formação provavelmente bem diferente daquela dos quadrinhos), será dirigido por Drew Goddard, do meia-boca O Segredo da Cabana, que vai dirigir o roteiro escrito por si próprio mais Roberto Orci, Alex Kurtzman, Jeff Pinkner e Ed Solomon, num daqueles casos clássicos de "obra-prima" escrita a trocentas mãos que raramente acaba bem.
Ah, os ilustres roteiristas responsáveis pelo Sexteto (que, no filme, deve ser formado por Doutor Octopus, Electro, Abutre e Lagarto, Rino e Duende Verde entrando nos lugares de Homem-Areia, Mystério e Kraven/Duende Macabro), também responderão pelo filme solo do Venom, ou, o segundo spin-off mais desnecessário da história do cinema...

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Só hoje de manhã consegui assistir ao espetáculo de reinauguração do Beira-Rio, que aconteceu no último sábado, dia 5.
Me queixei muito, antes da referida festa, de um bocado de coisas:
Do fato de a organização do evento ter sido entregue à uma empresa de comunicação muito mais identificada com o rival, ao fato de terem começado a vender os caríssimos ingressos sem que o nome do que era prometido como "uma grande atração internacional" fosse divulgado, à ideia de realizar um evento cheio de alegorias em estilo carnaval ou abertura de Jogos Olímpicos, e ao fato de o adversário no amistoso de inauguração ser um pobre coitado time uruguaio, que, junto com Argentina e Colômbia só se segura no nome e na lembrança de áureos tempos.
Após ver a festa, duas queixas permaneceram:
O Peñarol é um adversário risível, representando um futebol que nos últimos cinco anos desapareceu do mapa.
A banda Blitz, de Evandro Mesquita, e o D.J. Fatboy Slim, são duas atrações completamente despropositadas e sem nenhuma ligação sequer com o Internacional.
Mas a festa foi bonita.
A homenagem aos atletas de outrora, gloriosa, ver Falcão, fardado de vermelho e branco no centro do gramada, foi épico.
A voz embargada de Fabiano dizendo que lamentava não ter conquistado grandes títulos, mas que havia tentado, ao som de Because, dos Beatles, me fez verter lágrimas.
Os jogadores campeões de todos os tempos, narrando o apoteótico gol de Adriano Gabiru contra o Barcelona, como se fossem torcedores comuns olhando o jogo pela TV, foi a síntese do que é ser Colorado.
E ainda que eu seja ranheta o suficiente pra ter visto mil defeitos nas mais de duas horas de espetáculo, as performances de artistas e cantores gaúchos (muito melhor integradas ao evento do que Blitz e Fatboy), e os depoimentos de campeões de todas as décadas, valeram demais.

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E Stan Lee deixou J. K. Rowling pra trás em termos de retorno financeiro em bilheterias.
Explica-se:
Com o lançamento de Capitão-América 2 - O Soldado Invernal, a grife Marvel com seus nove filmes chegou a 2 bilhões, quatrocentos e cinquenta milhões de dólares em bilheterias nos EUA, contra dois bilhões, trezentos e noventa milhões de dólares de Harry Potter.
Contando os filmes da marca realizados por outras produtoras, como os X-Men e Quarteto Fantástico da FOX, e o Homem-Aranha da Sony, a marca é ainda maior, com mais de cinco bilhões de dólares.
E pra quem acha que, com os lançamentos dos filmes derivados de Harry Potter, como a trilogia baseada nos livros sobre a fauna do mundo do bruxo, Rowling e a Warner vão retomar a dianteira, não esqueça que a Marvel tem filmes agendados até 2028.
Então vai longe a dianteira da Casa das Ideias.
Melhor a DC começar a se mexer, e direito.

Dúvida


O Ari tinha todos os defeitos do mundo, mas de idiota tinha só a cara e o jeitão de caminhar.
Quando sua namorada, a Sônia, um notório chicletão, daquelas pessoas bem grudentas, que têm que estar sempre perto do amado, começou a, de repente, acrescentar distância entre os dois de qualquer forma que fosse possível, o Ari percebeu que havia algo de podre no seu reino da Dinamarca particular.
O Ari não era um sujeito particularmente ciumento. Não porque fosse muito bonito, muito superior ou muito seguro de si. Ele não era ciumento unicamente porque achava que o ciúme era um desperdício de energia.
Era virtualmente impossível tu passar vinte e quatro horas do dia monitorando os passos de uma pessoa, e mesmo que fosse possível, vá lá, com celulares, dispositivos de rastreamento, e o escambau, que tipo de relacionamento saudável deria erigido sobre o alicerce da desconfiança?
Era, pro Ari, fato comprovado que, se uma pessoa quisesse trair a outra, ela trairia quando tivesse a oportunidade, e não havia nada que a outra pudesse fazer.
Posto isso, o Ari, que não era particularmente adepto da crença em amores eternos e almas gêmeas e amores da vida, só esperava que, no momento em que a vontade do um de estar com outro alguém fosse grande demais pra conter, a pessoa tivesse a educação de avisar.
Era, sem falácias, o que ele faria numa situação dessas.
Mas o Ai, além de não ser idiota e ter esse senso de respeito comum fora da realidade, ainda era realista o suficiente pra saber que, pra imensa maioria das pessoas, esse curso de ação era impensável.
E aí o Ari se via em uma sinuca:
Se não estava tudo bem, e ele sabia que não estava tudo bem, o que fazer?
Forçar uma confrontação com a Sônia, alguém que, mesmo desapontando-o, ainda lhe era uma pessoa cara?
E se ela não o estivesse traindo?
E se fosse apenas um momento ruim pra ela e ela precisasse de mais espaço, ficar sozinha, pensar na vida, quem sabe até remoer a seu modo alguma frustração?
Com que direito ele a acusaria do que quer que fosse? Que bem faria, sendo, ou não, verdade?
Mas ao mesmo tempo, se ficasse em silêncio, o Ari estaria sujeitando-se à uma condição tão deplorável que não sabia como se olharia no espelho pela manhã, o que, se ao menos o livraria de ter que ver a própria carranca, também tornaria difícil pentear o cabelo.
Foi assim, sob o prisma dessa dúvida, que naquela tarde de sábado o Ari resolveu falar com a Sônia, e colocar tudo em pratos limpos.
Tocou no interfone da casa dela. Ela atendeu gritando "Quem?", que era uma coisa que dava nos nervos do Ari. Ele sempre se perguntava o que custava dizer o "é", entre o "quem" e o ponto de interrogação.
Gritar "Quem?" no interfone era uma das manias da Sônia que incomodava o Ari.
Ao entrar ela o recebeu com as mãos erguidas como quem está sendo assaltada, e deu-lhe um beijinho estalado nos lábios voltando pra cozinha, de onde saíra para recepcioná-lo.
Ela estava misturando, com as mãos, leite, farinha, e um composto preparado para fazer pão de queijo. Disse:
-Tô preparando pão de queijo. Assim que eu terminar de misturar, faço as bolinhas, coloco numa forma untada com manteiga e, em meia hora, vamos estar nos entupindo. Tomara que fiquem bons...
O Ari não respondeu. Continuou escorado com o ombro contra o marco da porta, expressão indefinida. Pensava em como entrar na seara que pretendia trilhar ali.
Resolveu ser franco e direto:
-Sô... Posso te perguntar uma coisa?
Ela virou o rosto, olhando pra ele com a barriga colada ao balcão da cozinha:
-Claro...
Ari sentiu o estômago se encolher. Respirou fundo. Odiava aquele tipo de confrontação:
-Olha... Eu não quero te ofender... Eu não quero que tu tenha raiva de mim... Mas eu preciso te perguntar uma coisa. E preciso que tu me responda com toda a sinceridade do mundo...
Ela tirou as mãos da bandeja, estavam sujas de leite e da massa e de farinha. Ela ia limpar num pano de prato, sem descolar os olhos dele, mas ele a deteve:
-Não... Lava as mãos... Não emporcalha teu pano de prato...
Ela disse "Que se foda o pano de prato.", e limpou as mãos nele.
Eram outras duas das manias da Sônia que irritavam o Ari:
Ela era bagunceira e desbocada.
-O que tu quer saber? - Ela perguntou, agressiva.
A agressividade dela, fez com que Ari tivesse certeza de que sim, ela o traíra. Era a agressividade de alguém prestes a ser confrontado com sua própria culpa. Aquilo deixou o Ari com raiva:
-Tu tá insatisfeita com a nossa relação? Tem alguma coisa entre nós que não te serve? Que te cansa? Que te exaspera de algum modo? Tem alguma coisa no convívio comigo que tu não consegue suportar?
Ela ficou olhando pra ele com uma expressão entre incrédula e confusa.
-Do que é que tu tá falando? - Perguntou.
Ele respirou fundo de novo. Se endireitou junto à porta, ergueu os ombros:
-Tu tem... Procurado algo de que tu sente falta fora da nossa relação?
Ele franziu o cenho, levando uma fração de segundo pra entender a pergunta da forma como ele a colocara:
-Tu tá me perguntando se eu tô te traindo?
Ficaram se olhando por um bom tempo, ambos em silêncio, até o Ari erguer as sobrancelhas generosas e perguntar:
-...Tá?
Ela respirou fundo, apoiando a bunda no balcão da cozinha e encarando a parede coberta com o balcão por alguns momentos.
Voltou-se pra ele:
-E se eu disser que não? Que não tô te traindo? Como vai ser?
O Ari não entendeu. Ficou olhando pra Sônia sem saber o que dizer. Deu de ombros.
Ela falou:
-Eu vou ter que aceitar um sorriso de alívio teu, uma brincadeirinha, um beijo e um abraço, e vamos seguir a vida comigo ignorando o fato de que tu, não só não confia em mim, mas também acha que eu sou uma puta fodedeira que precisa de mais caralho ou que quer dar diferente de como dá pro namorado, e aí, sai procurando quem queira?
O Ari odiava quando a Sônia desembestava a falar palavrão. Toda a sua família era de gente que falava palavrão, e ele tinha pânico daquilo.
-Eu... Eu não sei. - Ele respondeu, francamente. Não sabia como seria.
Se tivesse pensado antes, provavelmente teria formulado uma teoria, mas não pensara em como as coisas seguiriam após ele sanar a dúvida, apenas precisava saná-la.
Sônia continuou:
-E se eu disser que sim? Que eu tô dando pra outro? Que ando arriando a calcinha e abrindo as pernas pra outro cara. Ou outros. O que seria pior? Se fossem vários ou se fosse um só? E se eu dissesse que lamento muito, mas sim, ando trepando com mais gente? O que aconteceria? Tu iria me agredir? Gritar comigo? Confessar que também fodeu com alguma puta por aí quando teve chance?
O Tom agressivo da Sônia fez o Ari entortar o rosto numa careta. Ela percebeu:
-Tu não tá gostando do meu tom? Tu acha que falar merda pra alguém é aceitável contanto que tu seja polido e te desculpe de antemão, mas é horrível se tu for humano e te emputecer e falar palavrão?
-Eu não disse isso. - Defendeu-se Ari.
-Não importa... - Disse a Sônia, deixando os braços caírem e deixando o corpo correr pelo balcão da cozinha até sentar no piso frio.
-Tu não me respondeu... O que é que muda se eu tiver te traído? O que é que tu vai fazer? Dizer que me odeia? - Lágrimas lhe escorriam abundantemente rosto abaixo.
O Ari se agachou diante dela, estava sério. Limpou-lhe o rosto com o lado de fora do dedo mínimo:
-Eu te amo por quase toda a minha vida adulta. Isso não há o que mude. - Disse.
Ela o encarou, os olhos úmidos, a maquiagem em volta dos olhos escorrida.
Ari suspirou:
-O que mudaria, é que eu ia estar fulo contigo... E não estaria mais por perto.
Sônia tentou pegar as mãos dele, mas ele as afastou.
Olhou pra ela com uma interrogação nos olhos.


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Rapidinhas do Capita


Só ontem vi a primeira foto de Evan Peters caracterizado como Mercúrio para X-Men - Dias de um Futuro Esquecido.
Claro, não foi ontem que a primeira foto do ator com seu figurino foi divulgada, já haviam sido mostradas algumas fotos antes, mas eu não tinha prestado muita atenção, o que, os leitores hão de me perdoar, é resultado da quantidade ultrajante de mutantes prometidos nesse filme, e a certeza de que a maioria deles simplesmente não fará mais do que mera figuração no longa.
Notei que Peters está com os cabelos grisalhos, a exemplo de Aaron Taylor-Johnson, que interpretará o mesmo papel em Os Vingadores 2 - A Era de Ultron (Já havia escrito sobre isso, aqui. Por serem mutantes e Vingadores, tanto Mercúrio quanto a Feiticeira Escarlate podem ser usados na franquia X da Fox e pelos Vingadores dos estúdios Marvel, como, me ocorreu agora, também deveria valer para o Fera, e o Wolverine, que são ambos X-Men e Vingadores...).
De qualquer modo, comparei o visual do personagem em seus respectivos filmes, e achei que os dois funcionam.
Enquanto o Mercúrio de Os Vingadores 2 usa um uniforme bem tradicional no estilo super-heroico Marvel Studios, com cores chamativas e até meio feioso (Normal em Os Vingadores, quem não lembra do pânico generalizado entre os nerds quando surgiram as primeiras fotos do traje do Capitão América?), o traje de X-Men - DduFE tem uma cara mais minimalista e descolada. Uma jaqueta de couro algo metálica, e camiseta do Pink Floyd por baixo (pra dar a cara setentista que a ambientação do filme pede) completado por um óculos de piloto que faz sentido considerando os dons do personagem.
Em suma: Duas caracterizações que são coerentes tanto para com o personagem, seus poderes e características, quanto para com as respectivas franquias (X-Men de trajes pretos de couro, Vingadores com múltiplas camadas de múltiplas cores).
Peters e Taylor-Johnson não têm do que se queixar, e nem os fãs.
E tu? Qual prefere?



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E depois de drones darem as caras no novo RoboCop, e na premissa da sequência de Top Gun que Tom Cruise e os produtores do original tentam emplacar, o conceito pode surgir no reboot do Quarteto Fantástico.
Segundo o site Nerdist o Doutor Destino de Toby Kebbell (que se não tirar o elmo nenhuma vez já será bem melhor que o de Julian McMahon) usará seus famosos Doombots (cópias mecânicas exatas da armadura de Von Doom) como drones no filme.
O que seria uma notícia excelente acaba tirando o sorriso do rosto dos fãs quando se menciona o fato de que os Doombots do filme seriam movidos telecineticamente pelo bom doutor.
Esse filme não consegue dar uma boa notícia sem jogar um balde de água fria em cima...

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Enquanto isso, em uma galáxia bem, bem distante, comenta-se que Star Wars - Episódio VIII que começa a ser rodado agora, em maio, não vai direto para os tradicionais Pinewood Studios.
Oh, não.
As primeiras cenas da nova trilogia seriam gravadas no Marrocos, mesma locação usada para fazer o papel de Tatooine nos episódios I, II, III e IV...
Ah... E estranhamente, por mais desprovida de lastro, essa, sim, é uma boa notícia.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Novo Quarteto Fantástico


Hoje, com a notícia da escolha do ator que interpretará Victor Von Doom, o Doutor Destino em O Quarteto Fantástico, reinício da encarnação em celuloide do primeiro super-grupo da Marvel nos cinemas, me pus a pensar no que a Fox está fazendo com a franquia...
Se tem um quadrinho de super-herói que poderia se valer de um reboot cinematográfico, esse quadrinho é Quarteto Fantástico...
O filme de estréia do grupo, lá de 2005, era até bem intencionado.
A formação da equipe, com Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Michael Chiklis e Chris Evans, embora não fosse a ideal (Jessica Alba, por mais linda e gostosa que seja, por melhor que fique de colante, não nasceu pra ser Sue Storm), funcionava.
O diretor Tim Story conseguiu trabalhar sobre o roteiro e dar uma dinâmica familiar ao grupo, e se o filme tinha um defeito gravíssimo, era a escalação do galã televisivo Julian McMahon como Victor Von Doom, o Doutor Destino, e o fato de terem transformado o cientista/feiticeiro/monarca da Latvéria em um homem de negócios espertinho, vaidoso e truculento.
Mas o filme era uma matiné bem razoável, com um final que apontava em direção à melhoras futuras.
Infelizmente, elas não se confirmaram, e a sequência, Quarteto Fantástico & O Surfista Prateado, que seguiu brincando com a ideia de dinâmica familiar e apostando demais em um tom levinho e cômico acabou tirando toda a urgência da trama que envolvia a iminência do fim do mundo com a chegada de Galactus (No filme um tipo de nuvem corrosiva...) à Terra, e removendo toda a nobreza inerente à Norrin Raad ao torná-lo um coadjuvante resmungão e desinteressante.
A crítica e o público chiaram, e o Quarteto voltou pra gaveta.

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O Quarteto Fantástico aparentemente não teve a mesma sorte dos X-Men, ressuscitados com maestria por Bryan Singer após o fatídico X-3.
Josh Trank, escalado como diretor, talvez seja a coisa mais certa do novo filme, já que demonstrou em Poder sem Limites, que sabe colocar super-poderes em um contexto humano e realista.
O roteiro é de autoria de Simon Kindberg, que, se acertou a mão em Sherlock Holmes, errou feio em Jumper, Sr. e Sra. Smith, e X-Men 3 - O Confronto Final.
E aí chegamos ao que parece ser o maior problema de O Quarteto Fantástico:
O elenco.
Escalados nos papéis do grupo de astronautas bombardeados por radiação cósmica e abençoados com super-poderes estão:

Miles Teller, como Reed Richards, o Senhor Fantástico.


Jamie Bell como Ben Grimm, o Coisa.


Michael B. Jordan, como Johnny Storm, o Tocha Humana.


Kate Mara, talvez a única escolha razoavelmente cabível, como Sue Storm, a Mulher Invisível (Ou seria Garota Invisível?).


E, o já citado Toby Kebbel como Victor Von Doom, o Doutor Destino.

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Fala sério... Que elenco mais doente é esse?
Nenhum, repito, NENHUM dos atores parece ideal para o papel em que foi alocado.
Miles Teller, egresso de comédias que agora deve ter um papel sério (?) em Divergente como o cerebral Reed Richards?
Jamie Bell, o garoto de Billy Elliot, o Tin Tin em pessoa, como o poderoso Coisa?
Michael B. Jordan como o irmão mais jovem e loiro da garota invisível?
Toby Kebbel como o tirânico regente da nação leste-européia da Latvéria...?
Olha, desde que Heath Ledger deu show em O Cavaleiro das Trevas é difícil pichar escolhas de elenco antes de ver o resultado final, mas sejamos francos, por mais que fãs xiitas possam reclamar de Ben Affleck como Batman e de Gal Gadot como a Mulher-Maravilha, são escolhas estranhas, até irritantes, mas que fazem algum sentido sob determinado parâmetro, como o visual, por exemplo.
Os nomes escolhidos por Trank e a FOX para Quarteto Fantástico simplesmente não fazem sentido. Nem mesmo se o filme se dispôr a adaptar a versão Ultimate dos heróis, esse elenco se justifica.
E nem vamos entrar no mérito da troca de etnia do Tocha Humana.
Michael B. Jordan pode ser boa-pinta, carismático e bom ator, mas por que escalá-lo no papel de um personagem branco?
Imagine a chiadeira se fizessem o contrário, e escalassem um ator branco para interpretar Otelo, o Pantera Negra ou Martin Luther King...
O Quarteto Fantástico pode torrar línguas mundo afora e ser um filmaço, mas francamente, não parece andar nesse caminho...

Rapidinhas do Capita


E saiu mais um trailer de O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro, com algumas cenas inéditas e que podem dar pano pra manga.
Assista e atice aquela vontade louca de ver maio chegar logo:



E aí? Notou a cena a que me refiro?

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A cena em questão é essa aqui:


Onde vemos o Duende Jr. apanhando Gwen Stacy. Em trailer anteriores, Gwen aparecia sendo jogada no ar, aparentemente inerte, até ser resgatada pelo Homem-Aranha.
Baseado na cena acima, no figurino de Gwen (muito semelhante ao usado pela personagem na história A Noite em Que Gwen Stacy Morreu), e na violência do ataque do Aranha contra o Duende no final da prévia, podemos imaginar que os produtores vão chutar o pau da barraca e matar a Gwen já nesse segundo filme?
E ainda temos que esperar até maio pra descobrir.
Um mês! Um mês inteiro!!!!

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E divulgaram o escolhido para interpretar o vilão Victor Von Doom em O Quarteto Fantástico, filme que vai rebootar a primeira Super-Família do Universo Marvel no cinema:


Toby Kebbell, de Rock'n Rolla, Cavalo de Guerra e Fúria de Titãs 2 vai usar a armadura cinzenta e o manto verde do vilão.
Ou o terno bem cortado, dependendo da abordagem escolhida dessa vez...
O que eu acho?
Acho que está no mesmo patamar do resto do elenco. E isso está longe de ser um elogio.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Macarrão


Eles escolheram seus respectivos pratos no restaurante, variedades distintas de macarrão com molhos e acompanhamentos igualmente distintos. Ela pediu nhoque com molho de nata, ele pediu fusilli longo com molgo quatro queijos e iscas de carne incrementado com almôndegas. Ela beberia Sprite, ele beberia Fanta Laranja.
Foram ao caixa fazer o pedido e pagar a conta, ele se ofereceu para pagar o pedido dela, mas ela negou. Se ofereceu para pagar a dele, ele riu, ignorando o que, pra ele, era uma oferta absurda.
Pagaram, apanharam a plaquinha que guiaria o garçom, e escolheram uma mesa razoavelmente próxima.
Ele puxou a cadeira para ela, esperou que ela se ajeitasse, então sentou-se diante dela. Ela apanhou o celular da bolsa e começou mexer no aparelho:
-Adoro wi-fi zone... - Disse.
-É ótimo pra conversas... - Ele retrucou, se escorando no espaldar da cadeira.
Ela ergueu os olhos fazendo uma careta de quem entendeu a reprimenda e a ignorou solenemente.
De súbito, começou a dançar com os ombros e cantarolar em voz baixa conforme tirava os olhos da tela do aparelho e o fitava:
-You're so vain... You probably think this song is about you... You're so vain... I bet you think this song is about you... Don't you, don't you, don't you...
Ele riu do outro lado da mesa, olhando a dança dela, que o encarava com uma expressão repleta de sarcasmo.
-Quié isso, alemoa?
-É uma música pra ti. - Ela disse. -Me pareceu apropriada...
Ele franziu o cenho:
-E de onde tu tirou essa epifania súbita?
Ela sorriu enquanto punha o celular em espera e o guardava novamente na bolsa.
-Coisas que eu li...
-Bernard Cromwell?
-Cornwell. - Ela corrigiu. -Mas não... Não foi lendo nada do Cornwell...
Ficaram em silêncio algum tempo.
Ela perguntou:
-É pra eu abrir o meu whats de novo?
-Faça o que tu tiver que fazer, gentil donzela. - Ele respondeu após se endireitar na cadeira.
Ela riu. Então ficou séria:
-Desculpa. Eu fui estúpida.
-Não. - Ele respondeu.
-Tu não me desculpa? - Ela perguntou.
-Eu te desculpo. - Ele disse. - Mas não. Tu é estúpida. Com a tua estupidez eu já me acostumei. É fácil te aguentar sendo estúpida. Especialmente agora que nós somos só amigos. Quando a gente namorava, sim. Aí era difícil suportar tua estupidez, mas eu suportava. Estupidez é tranquilo. É um traço de personalidade. É do teu jeito de ser. Tu não foi estúpida. Foi má. Fosse em outros tempos e eu teria me levantado e ido embora.
Ela não disse nada. Ficou parada em silêncio por algum tempo. Ele evitou olhar pra ela. Ele suspirou:
-Desculpa ter sido má.
Ele olhou pra ela. Ela continuou:
-Eu fui má. Tem razão. Eu só... Sei lá. Achei que-
-Não tem problema. Eu te desculpo. Mas já passou da hora de tu parar de achar.
Ela continuou em silêncio.
-Eu sei do que tu tá falando. - Ele seguiu. -Mas não sou nem um pouco vaidoso. E certamente não sou tão burro. Talvez tenha sido excessivamente otimista algumas semanas atrás. No lance das fantasias. Achei, de fato, que pudesse ser. Depois percebi que não. Nem precisei ir a fundo. Não sou um imbecil e muito menos um "menino lindo". Então, não. Não pensei que essa canção fosse a meu respeito.
Ela não disse nada. Continuou séria, olhando pra frente, olhos baixos.
Ele abrandou o tom:
-Mas não te preocupa. Também não sou amargo. Sei ficar feliz pelas pessoas que eu amo.
Ela sorriu pra ele.
-Menos por ti. Aquele filhote de Cannigia que tu arrumou pra ti eu queria que morresse decapitado enquanto dormia e tu acordasse com a cabeça dele te olhando no travesseiro.
-Monstro! - Ela disse, começando a gargalhar em seguida.
Logo o macarrão deles chegou, e eles comeram, conversando e rindo, depois ele a levou até em casa, e na volta, percebeu que havia amadurecido, talvez encontrado sua parcela de paz, e aprendido a ser genuinamente feliz por aqueles a quem amava.

Resenha Cinema: Tudo por Justiça


É engraçado como um único elemento pode fazer a diferença e tornar um filme mais do que ele seria em outra situação.
Falando assim parece que esse único elemento pode ser pouca coisa, mas no caso de Tudo por Justiça, é "só" o elenco.
Não me entenda mal, ó, leitor. Tudo por Justiça não é um mau filme. Muito antes pelo contrário.
O que há no filme do diretor Scott Cooper (de Coração Louco) que poderia ser interpretado como defeitos, como o plot um tanto quanto óbvio (Trama de vingança familiar), uma qualidade de anacronismo (Toda a trama se passa em 2008, mas se nos fosse dito que é um filme de época produzido e transcorrido nos anos setenta ninguém ficaria exatamente surpreso), e uma ponta bastante aguda de machismo (Apenas um papel feminino relevante no filme, e não chega a ser exatamente lisonjeiro) apenas tornam esse thriller operário mais atraente, o removendo do lugar-comum pra onde tendem a ir as tramas de vingança familiares.
Tudo por Justiça mostra os irmãos Russel e Rodney Baze (Christian Bale e Casey Affleck), filhos da cidade de North Braddock, Pensilvânia, uma localidade erigida ao redor de uma usina siderúrgica.
Enquanto Russel seguiu os passos do pai e ganha a vida fazendo aço na usina, Rodney queria mais, e a sua chance de fuga foi a guerra. Veterano de três incursões ao Iraque, Rodney aposta em cavalos, toma dinheiro emprestado de agiotas e não consegue se encaixar na vida mundana dos proletários de North Braddock contraindo dívidas que Russel tenta pagar trabalhando dobrado.
À sua maneira torta, porém, os dois vivem direito. Russel mora com sua namorada Lena (Zoe Saldaña), Rodney vive com o pai de ambos, um homem adoentado que requer cuidados, e, meio aos trancos e barrancos, os irmãos tocam o barco.
Tudo muda, porém, quando Russel toma parte em um acidente automobilístico com vítimas fatais e é preso.
Enquanto cumpre sua pena, seu pai morre, e Rodney vai novamente ao Iraque, uma quarta incursão de onde volta particularmente marcado.
Quando Russel é libertado a vida de ambos mudou.
Enquanto ele tenta colocar as coisas de volta nos eixos, voltando ao seu emprego na usina e consertando a casa do pai, Rodney, afogando-se em dívidas, força o surpreendentemente complacente e amigável agiota John Petty (Willem Dafoe)a arranjar sua participação nas lutas de boxe sem luvas nas Apalaches, organizadas pelo traficante Harlan DeGroat (Woody Harrelson), um caipira psicopata viciado em violência, álcool, metanfetamina e dinheiro.
No cenário desolador de uma cidadezinha operária em tempos de depressão econômica, os dois irmãos se flagram tentando se encontrar enquanto lutam contra uma espiral de dor, arrependimento e desespero personalizada em DeGroat.
Com os nomes envolvidos é fácil perceber por que é o elenco que torna Tudo por Justiça maior do que poderia ser.
É o esforço e o talento dos atores que arranca o longa metragem da mundaneidade.
Se o hillbilly estricnado de Harrelson chega a ser assustador de tão repulsivo e os traumas do personagem de Affleck e a forma como eles o afetam são palpáveis, com o irmão mais moço de Ben Affleck garantindo, com sua interpretação, que Rodney não se torne antipático, Christian Bale continua sendo o grande nome do elenco.
Se o galês já havia sido monstruoso usando a extravagância de seus personagens como no recente Trapaça, nesse Tudo por Justiça ele dá uma elogiável demonstração de maturidade ao repetir a performance magnética, e fazê-lo sem nenhuma mudança física absurda.
Todo o peso dos acontecimentos sobre seu Russel Baze é demonstrado pelo ex-Batman através de sutis mudanças de postura e olhares.
Com uma direção segura, um roteiro simples e sem firulas de Cooper e Brad Ingelsby, bela fotografia em 35 mm de Masanobu Takayanagi (Filmando inteira e orgulhosamente em filme Kodak conforme os créditos), trilha sonora equilibrada e cheia de cordas de Dickon Hinchliffe, e um elencaço (que ainda conta com boas participações de Forrest Whitaker e Sam Sheppard) Tudo por Justiça garante uma visita sem desapontamentos ao cinema.

"-Você tá com algum problema comigo?
-Eu tô com algum problema com todo mundo."