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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Resenha Cinema: Refém da Paixão


Jason Reitman é um desses sujeitos que resolveram seguir nos negócios da família.
No caso dele, cinema.
O sujeito é filho de Ivan Reitman, diretor de filmes como Os Caça-Fantasmas, Evolução, e Irmãos Gêmeos.
Se Jason não trilhou exatamente o mesmo caminho do pai, um diretor de comédias rasgadas, também é verdade que a fruta não caiu longe do pé.
A curta filmografia de Reitman filho conta com longa-metragens que se dividem entre ótimos (Como Amor sem Escalas, Juno e Obrigado Por Fumar) e bons (como Jovens Adultos), com todos partilhando um senso de humor sutil e esperto. Aquela qualidade de não se levar excessivamente a sério que faz maravilhas pela maioria dos filmes.
Foi por isso que ontem, assistindo a Refém da Paixão, título danado de ruim para o Labor Day original, me surpreendi pela quase que completa ausência de humor do filme, que, vá lá, não se ressente tanto de motivos pra rir, sendo o que é...
No longa, conhecemos a história de Adele e Henry Wheeler.
Adele (Kate Winslet, lindona e monstra na atuação) é uma mulher alquebrada, vivendo em constante depressão após o divórcio, ela mais é cuidada pelo filho (Gattlin Griffith, bem), que se esforça na medida do possível para ser o homem da casa e impedir que sua mãe afunde por completo na tristeza.
Os dois dançam, conversam, e fazem compras quando Adele encontra coragem para sair de casa, e é justamente em uma dessas incursões ao super-mercado que Frank entra na vida dos dois.
Frank (um seguro Josh Brolin), é um presidiário fugitivo da penitenciária, aproveitando uma apendicite e a distração de um guarda, ele saltou de uma janela e escapou.
Ferido e em fuga, Frank coage Adele e Henry a abrigá-lo enquanto recupera o fôlego e trata de seus machucados e espera o próximo trem para completar sua escapada rumo ao Canadá.
O feriado prolongado do dia do trabalho, porém, se interpõe no caminho de Frank, que disposto a não ser um estorvo, promete realizar algumas tarefas na casa.
Frank é macho alfa, rústico, cara de caubói, mas cozinha, lava, limpa, conserta dobradiças de porta, troca fusíveis de faróis e o óleo do motor do carro, ensina Henry a jogar beisebol e conforta o filho da vizinha com paralisia cerebral levando-o para brincar no quintal e aplicando-lhe uma toalha molhada para afastar o calorão.
Conforme o feriadão se desenrola, a carente Adele obviamente se deixa levar por Frank, o provedor bonitão, rude mas de bom coração, sonho de consumo de oito em cada dez mulheres e de alguns gremistas e São-Paulinos, também.
Mas não apenas ela.
Henry, um moleque precisando desesperadamente de uma figura masculina presente em sua vida e desejando que sua mãe saia do torpor da depressão, também se apega a Frank, a quem vê como o bote salva-vidas que pode tirar sua mãe do naufrágio em que sua vida se tornou após o fim do casamento, ao menos até começar a ter dúvidas se existirá eapaço para ele na nova vida de sua mãe.
É um belo filme.
O senso de humor, cuja falta referi lá em cima, realmente não é necessário em um óbvio drama romântico, ainda assim, talvez ajudasse a afastar um pouco a sensação de absurdo de algumas passagens do roteiro (de autoria do próprio Reitman, baseado no livro de Joyce Maynard), como o fato de Frank ser o presidiário mais gente-boa e repleto de qualidades da História do cinema, e mesmo ferido e em fuga encontrar tempo para fazer reparos, dançar rumba e fazer churrasco.
Essas passagens tão românticas, porém, podem ser atenuadas conforme entendemos que o filme é uma lembrança, contado em flashback por Henry já adulto (vivido por Tobey Maguire), e que suas lembranças, talvez, sejam um pouco mais floreadas do que a realidade teria sido.
De uma forma ou outra, nada disso estraga Refém da Paixão, nem remove as qualidades do longa, que conta uma bonita história de amor, que como qualquer história de amor clama por suspensão de descrença, estrelada por um bom elenco com, pelo menos dois nomes acima da média.
Josh Brolin, que consegue ser verossímil, forte e terno, deixando a mulherada cega ao fato de que tem cara de australopitecus, e Kate Winslet, essa, uma mutante de tão excelente, capaz de arrancar lágrimas com um único olhar, além de ser muito, muito, muito linda. A eles juntam-se Griffith, Maguire, além de J. K. Simmons, James Van der Beek e Clark Gregg.
Refém da Paixão não vai revolucionar a história do cinema, e não é filme pra todo mundo, mas pra que sabe endurecer sem perder a ternura, vale a visita ao cinema.

"-Eu não posso te dar uma família.
-Você já deu..."

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