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sexta-feira, 20 de março de 2015

Resenha Cinema: Para Sempre Alice


Aqueles que, assim como eu, ficaram de certa forma chocados por alguns dias depois de assistir A Teoria de Tudo, imaginando o tamanho do desespero de uma pessoa que, pouco a pouco, vai sendo traída de maneira impiedosa por seu corpo, podem experimentar um novo baque após assistir Para Sempre Alice, longa metragem co-escrito e dirigido pela dupla Rchard Glatzer e Wash Westmoreland baseado no livro de mesmo título de Lisa Genova.
A grande diferença, é que, enquanto o Stephen Hawking de Eddie Redmayne via, de maneira totalmente lúcida, seu corpo parar, aos poucos de funcionar, a doutora Alice Howland de Julianne Moore, vai sendo traída de maneira paulatina por sua mente.
Quando a conhecemos, ela está celebrando seus cinquenta anos em um restaurante fino com sua família, o marido John (Alex Baldwin), a filha mais velha Anna (Kate Bosworth), o genro e o filho Tom (Hunter Parrish).
O cenário é quase idílico. Alice é uma bem-sucedida professora da universidade de Columbia, em Nova York, e autoridade mundial em linguística. Seu marido também é um cientista, seu filho é um médico, sua filha advogada, todos terrivelmente bem-sucedidos.
Alice transpira auto-confiança, é elegante, articulada, tem uma carreira sólida e cuida da casa daquela maneira que todas as mulheres que nós conhecemos acham impossível fazer.
Mas, sem nenhum aviso, Alice começa a ser traída pelas palavras. Esquece de um compromisso daqui... De um nome ali... Até que, durante uma corrida pelo campus da universidade, ela se perde de maneira inapelável. Absolutamente desorientada.
O episódio a leva a um neurologista que, após alguns exames, constata que Alice sofre de uma rara forma de Alzheimer genético, que ataca de maneira precoce.
A partir daí, ela passa a lidar com a doença e suas inevitáveis e progressivas limitações. Alice é uma pesquisadora e uma intelectual extremamente capacitada, que vai criando atalhos e testes para minimizar o estrago da doença em sua vida, mas parte da beleza da tragédia de Para Sempre Alice, é justamente o fato de que a protagonista nem sempre consegue fazê-lo. Humaniza ainda mais a personagem o fato que que ela, eventualmente, se aproveita de sua condição para manipular seus entes queridos, seja para evitar um programa chato, ou condicionar o comportamento de sua filha mais jovem, Lydia (uma surpreendente Kristen Stewart), que abriu mão da segurança das carreiras de seus irmãos mais velhos para tentar ser atriz em Los Angeles.
Juliane Moore dá show. A atriz sapateia, detona e quebra tudo na pele da protagonista. Sua segurança e charme quase fleumáticos do início do filme sendo gradualmente substituídos por uma fragilidade quase infantil são de partir o coração. A abordagem da atriz, que sem arroubos desnecessários, deixa bastante clara a vergonha e o medo que a personagem sente da doença que a assola, é brilhante, e ajuda Para Sempre Alice a escapar das falhas de direção (longe de ser inspirada, usando planos bem convencionais e uma fotografia estática dando ao filme uma cara de novela).
Fica difícil para o restante do elenco acompanhar Moore, mas Alec Baldwin não faz feio, e Kristen Stewart tem alguns ótimos momentos, Kate Bosworth se esforça, e o resto do elenco é pouco mais que um acessório, nenhum problema, já que o show pertence, mesmo, à justa vencedora do Oscar deste ano.
Bom filme que merece ser visto no cinema, Julianne Moore e seu show particular certamente valem o ingresso.

"Eu costumava ser alguém que sabia um bocado. Ninguém mais pede a minha opinião ou meu conselho. Eu sinto falta disso. Eu costumava ser curiosa e independente e confiante. Eu sinto falta de ter certeza das coisas. Não há paz em em estar incerta de tudo o tempo todo. Eu sinto falta de fazer tudo com facilidade. Eu sinto falta de fazer parte do que está acontecendo. Eu sinto falta de ser procurada. Eu sinto falta de minha vida e da minha família."

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