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segunda-feira, 22 de junho de 2015
Resenha DVD: Um Santo Vizinho
Eu vou confessar que não me lembro exatamente quando foi que começou a "mania" de Bill Murray...
É engraçado pensar que hoje, quando se fala em Bill Murray, todo mundo que entende um mínimo de cinema (ou finge que entende um mínimo de cinema) faz "ooooh", "Uau" ou algum outro ruído de deferência, e diz o quanto Bill Murray é foda.
Eu sempre gostei do Murray, mas a verdade é que eu sou de um tempo em que a maioria das pessoas mal e mal sabiam diferenciar Murray e James Belushi (inclusive ganhei um Street Fighter II pra Super NES numa aposta referente ao tema, mas tive a grandeza de não levá-la a cabo, deixando claro o quanto eu era magnânimo.).
Mas foi-se o tempo, e, quando quer que a onda Bill Murray tenha começado (Eu chuto que foi em Encontros e Desencontros), hoje o ator e comediante recebe o devido reconhecimento, ainda que tenha alcançado uma idade em que, infelizmente, os papéis de protagonista se tornaram mais raros, e em filmes que acabam em circuito reduzido em meio aos lançamentos barulhentos e a obrigatoriedade de ter sempre filmes nacionais passando nas salas.
Por sorte, um desses raros papéis de protagonista é o Vincent de Um Santo Vizinho.
Um rabugento veterano do Vietnã, Vincent é um sujeito azedo, beberrão, viciado em corridas de cavalos, que leva a vida entre visitas ao hipódromo, ao bar, e à prostituta grávida com quem mantém um "relacionamento".
Vincent está quebrado, devendo dinheiro a agiotas, com a conta mais de cem dólares negativa no banco e a saúde em frangalhos, e não está nem aí.
O caminho do velho podrão é cruzado pela nova vizinha, Maggie (Melissa McCarthy), que se muda para a casa ao lado, e do filho dela, Oliver (Jaeden Lieberher).
Maggie está se divorciando do marido, e Oliver entra em uma nova escola em meio ao período letivo. Com Maggie trabalhando horas extras para aumentar a renda, o guri fica à mercê do bullying dos novos colegas, e após perder suas chaves e seu celular em uma peça pregada por outro menino, acaba dependendo da boa-vontade de Vincent para contatar sua mãe.
Após alguns encontros breves e pequenas sessões de insultos, onde Vincent tenta arrancar dinheiro da nova vizinha para consertar seu carro, sua cerca, e a árvore (?) em seu quintal, eles acabam fechando um acordo em que Vincent será a babá de Oliver enquanto Maggie trabalha.
O arranjo, claro, culmina com excursões ao hipódromo, longas tardes no bar local, e convívio com a prostituta eslava Daka (Naomi Watts), além de visitas à Sandy, a esposa de Vincent, que, sofrendo de demência, vive em uma instituição.
Por estranho que pareça, o convívio com o velho podrão é benéfico para Oliver, que aprende com Vincent lições importantes de amadurecimento que não receberia de seu pai "abraçador de árvores", e, como não poderia deixar de ser, para Vincent, que, do convívio com o moleque, tira um pouco de alegria em sua vida amargurada.
É um feel-good-movie total, óbvio que só. O roteiro do diretor Theodore Melfi não tem absolutamente nenhuma novidade para acrescentar à cartilha dos feel-good-movies. E quer saber?
Funciona.
Funciona porque o cinema não precisa de mil novidades para um filme funcionar, e alguns temas, por mais batidos que sejam, sempre encontram em uma boa execução, uma forma de se tornar palatáveis.
A execução de Um Santo Vizinho encontra lastro em seu elenco. Bill Murray está excelente no papel de velho rabugento. Por melhor que seja vê-lo fazendo papel de palhaço, Murray tem estofo e talento para ser mais do que isso, e o roteiro de Melfi explora muito bem o potencial do ator em um papel terrivelmente humano.
Melissa McCarthy escapa (graças a Odin) do arquétipo da gorda trapalhona e escandalosa, e entrega uma atuação sensível e divertida sem arroubos. Naomi Watts imprime doçura à uma personagem que, à primeira vista pareceria ridícula. Além dos três ainda há Chris O'Dowd, como o professor Geragthy, e Terrence Howard, como o agiota Zucko, mas, a grande força de Um Santo Vizinho ao lado de Murray é o ator mirim Lieberher.
O moleque exala uma doçura, polidez e inocência genuínas, que contrastam à perfeição com o azedume cínico do velho ranzinza. A química da dupla é adorável como o filme que protagonizam, e ainda que o longa abuse de expedientes re-re-recauchutados pra arrancar risadas e lágrimas, quem é que liga quando o resultado é mais do que satisfatório?
Quisera eu ter conseguido assistir Um Santo Vizinho no cinema.
Assista. Vale demais a locação.
"-Você precisa se defender, ou então vai ser moído.
-Eu sou pequeno, caso o senhor não tenha notado.
-E, Hitler também era.
-Essa é uma comparação horrível.
-De fato. Mas eu estava provando um ponto."
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