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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
Resenha Cinema: A Forma da Água
Guillermo del Toro é muito mais do que o Peter Jackson latino. O diretor mexicano que vai do espetáculo de aventura descerebrado de O Círculo de Fogo à fantasia tocante de O Labirinto do Fauno passando pelo filme de super herói e pelo terror já deixou bastante claro que tem uma voz que é apenas sua, tão particular e única que toda a vez que ele salta fora de um projeto (e, rapaz, como ele salta fora de projetos...) os amantes de bom cinema lastimam uma chance perdida de ver um pouco mais do trabalho dele.
Do último segmento de sua trilogia de Hellboy qe jamais verá a luz do dia até sua versão de O Hobbit, ficamos imaginando como poderia ter sido se del Toro tivesse conseguido tirar sua visão do papel.
A questão é que, se o resultado de del Toro ter ficado de fora de Círculo de Fogo 2, por exemplo, é um filme como A Forma da Água, então, meus amigos, valeu a pena...
No longa conhecemos Elisa Esposito (Sally Hawkins, soberba), uma solitária faxineira muda que mora em um pequeno apartamento em cima de um antigo cinema e é vizinha de Giles (Richard Jenkins, sensacional), um pintor gay de meia-idade.
Elisa trabalha em uma instalação do governo dos EUA em Baltimore onde passa seus turnos de trabalho da madrugada ouvindo o falatório de sua colega Zelda (Octavia Spencer, ótima).
É 1962 e a Guerra Fria anda acelerada por conta do início da corrida espacial e em uma noite como qualquer outra, um novo "recurso" chega ao laboratório sob a supervisão do doutor Robert Hoffstetler (Michael Stuhlbarg) e do chefe de segurança coronel Richard Strickland (Michael Shannon). O recurso em questão, é um homem anfíbio (Doug Jones) dragado das profundezas de um rio no Amazonas, onde era adorado como um deus por uma tribo indígena. Para Hoffstetler, a criatura pode ser a chave para levar o homem ao espaço. Para os militares que comandam a operação, é uma coisa a ser estudada, para Strickland, é uma afronta a Deus.
Para, Elisa, porém, ele pode ser algo totalmente diferente.
Conforme os dias transcorrem, Elisa passa a entrar de mansinho no laboratório. Ela alimenta a criatura com ovos cozidos, ensina a linguagem dos sinais e lhe toca música... Aos poucos um laço se forma entre a faxineira e o homem-peixe, um laço ameaçado quando Strickland, um homem bruto e ignorante afeito a parábolas bíblicas, livros de auto-ajuda e um bastão elétrico de tocar gado, se convence de que a melhor forma de fazer avanços, é realizar uma vivissecção na criatura, abri-la e ver como funciona.
Ante a perspectiva de ver o homem anfíbio morrer, Elisa começa a divisar um arriscado plano para salvá-lo, um plano que não será capaz de realizar sozinha e que, mesmo se der certo, colocará ela e a criatura que deseja salvar em sérios riscos.
É espetacular.
A Forma da Água é, fácil, o melhor trabalho de del Toro desde O Labirinto do Fauno, com o qual compartilha diversas similaridades, especialmente no tom algo fabular e em seu vilão. O Richard Strickland de Michael Shannon é tão obstinado e cruel quanto o Vidal de Sergi López era no filme de 2006, e Shannon faz um excelente trabalho saboreando cada fração da vilania psicopata de Strickland como se fossem os doces que o personagem sempre carrega no bolso.
Na pior dar hipóteses, A Forma da Água seria um filme lindo de se ver.
Com um desenho de produção inspirado de Paul D. Austenberry, rica em verdes e azuis, figurinos espertos, cinematografia linda de Dan Laustsen e trilha sonora de chorar de Alexander Desplat, o longa já mereceria uma visita ao cinema. Mas há muito mais do que mera excelência técnica no longa.
A história engendrada por Vanessa Taylor e del Toro não tem pontas soltas ou arestas, é uma fábula onírica embrulhada em um filme B dos anos 50 sobre não se encaixar no que se considera ideal ou normal por ter nascido muito cedo ou muito tarde, como diz Giles. É sobre ser diferente e estar sozinho por isso, e subitamente descobrir que não é mais o caso.
Essa premissa pode não ter nada de novo, mas a forma que del Toro escolhe para expô-la e o elenco com o qual conta para isso fazem toda a diferença.
Sally Hawkins está fantástica. Sua personagem não é, de forma alguma, a deficiente sonsa que outras produções poderiam retratar. Elisa é corajosa, tem recursos, é assertiva com relação à sua sexualidade e seus desejos de modo geral. Richard Jenkins rouba praticamente todas as cenas em que aparece. Octavia Spencer é toda ternura e emoção. Cada um dos coadjuvantes faz o possível para que seus personagens não pareçam meros coadjuvantes e sucedem. Nós nos importamos com todos eles.
A despeito de certos problemas de ritmo (o segundo ato é algo arrastado, e a transição entre o romance mágico e o thriller sci-fi pode não ser digerida por todos os públicos) o longa sucede e encanta.
Guillermo del Toro ama monstros, e é capaz de estender esse sentimento à audiência através da história de Elisa e sua luta contra a maldade inerente ao ato de negar dignidade a criaturas vivas, mostrando que, na maioria das vezes, as pessoas são os verdadeiros monstros.
Veja no cinema. Aposta fácil na lista de melhores do ano.
"-Ah, Deus... A coisa nem mesmo é humana. Deus! ...O que?
Se nós/ Não fizermos nada/ também não somos."
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No resultado uma surpresa ao ver que o filme funcionou de forma maravilhosa pela grandíssima mescla, acertada, de humor, entretenimento e boníssima animação. Sem dúvida voltaria a ver este filme! Michael Shannon fez um ótimo trabalho no filme. Eu vi que seu próximo projeto, Fahrenheit 451 será lançado em breve. Acho que será ótimo! Adoro ler livros, cada um é diferente na narrativa e nos personagens, é bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar filmes baseados em livros. Acho que Fahrenheit 451 sera excelente! Se tornou em uma das minhas histórias preferidas desde que li o livro, quando soube que seria adaptado a um filme, fiquei na dúvida se eu a desfrutaria tanto como na versão impressa. Acabo de ver o trailer da adaptação do livro, na verdade parece muito boa, li o livro faz um tempo, mas acho que terei que ler novamente, para não perder nenhum detalhe. Sera um dos melhores filmes lançamentos em 2018 acho que é uma boa idéia fazer este tipo de adaptações cinematográficas.
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