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segunda-feira, 25 de junho de 2018
O Galã dos Anos 50
Eu sempre fiz um grande sucesso entre as velhinhas.
Sério.
Vovozinhas, titias...
Velhinhas sempre me acharam um pão. Sempre me acharam bonito, é isso que "pão" significa no dialeto das pessoas idosas, ou ao menos era o que significava quando essas pessoas idosas eram jovens.
Acho que eu tenho essa aparência de galã dos anos cinquenta... Lembra dos galãs dos anos cinquenta? Tu viu filmes o suficiente pra lembrar... Eles eram caras como Robert Mitchum, Dean Martin, Cary Grant, James Stewart, John Wayne... Todos esses sujeitos altos, de físico quadradão, que pareciam paizões e que, em sua imensa maioria, não eram nem remotamente bonitos.
Acredito que na década de 50 era melhor ter aparência de confiável, de bom provedor, do que ser fisicamente bonito. Victor Mature era um camarada meio gordo que fazia papel de homem forte, William Holden parecia vendedor de seguros, Clark Gable tinha as orelhas de um chimpanzé... Eram todos homens longe do que se pode considerar bonitos.
Acho que eu evoco esse tipo de aparência, e daí advém a admiração das velhinhas.
Isso, e o fato de eu ser educado.
Eu sou polido demais pro meu próprio bem.
Me custa ser mal-educado. E esse é outro traço que as velhinhas admiram em um mundo onde a maioria das pessoas perdeu contato com a polidez de outrora.
É possível que tu gostasse dessa característica minha... Ou, que talvez, ela te irritasse de vez em quando.
Eu sei que me irrito com a minha educação. Mesmo quando tento dar passa-fora em alguém, tento fazê-lo, se não de forma agradável, ao menos maneirosa; e nas poucas vezes em que sou, de fato, mal-educado, o faço, de modo geral, por mera distração, e depois fico me recriminando...
Eu sempre ouço as pessoas se referirem a isso como "boa criação", e eu não sei o quanto a criação tem a ver com quem somos quando crescemos.
Eu cresci cercado tanto por pessoas extremamente educadas quanto por pessoas muito mal-educadas. Gente grosseira e rude que gritava e se exasperava com facilidade, e esse tipo de comportamento sempre me causou desconforto. Então não sei quanto da educação é boa criação e quanto é mera empatia.
Independente da origem, após anos de prática, torna-se reflexo. Torna-se natural e parte de quem somos.
É parte de quem eu sou, provavelmente porque é o que eu acho que um homem deve ser.
Outra parte do que eu acho que um homem deve ser, é responsável.
Eu me sinto na obrigação de arcar com as consequências dos meus atos. Outro traço característico dos galãs cinquentistas, ao qual as velhinhas provavelmente se referem como "hombridade", e que a cultura atual provavelmente vai taxar de "masculinidade tóxica" a qualquer momento... Mas desculpe, estou me desviando do assunto... O ponto é que, eu acredito que colhemos o que plantamos, e, quando eu semeio determinada situação, não me cabe espernear sobre o quanto é injusta a colheita.
Entender os porquês sempre me ajudou a lidar melhor com más situações. Acho que já falei disso... É a razão pela qual eu me condoo mais pelas mazelas de crianças e animais do que pelas de outrem, porque crianças e animais não têm ferramentas cognitivas pra compreender por que sofrem. Eu tenho.
E eu sei porque sofro. Não é injustiça. É matemática.
E muito pior do que meu próprio sofrimento, é aquele que impingi a quem eu amo...
E assim, acho que além de polidez e hombridade, também tem um pouco de pretensa expiação nos meus bons modos. Uma forma de me certificar, ou ao menos tentar me convencer, que eu não causei nenhum estrago irreversível na vida de quem é tão importante pra mim...
E, claro, um pouco de amargura.
Ninguém foi um galã dos anos 1950 tão típico quando Humphrey Bogart e no final das contas Ilsa tomou aquele avião com Victor Laszlo...
Here's looking at you, kid.
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