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sábado, 28 de novembro de 2020

Resenha Série: O Mandaloriano, Temporada 2, Episódio 5: A Jedi

 


Atenção! Há alguns spoilers do episódio abaixo, então vá assistir e volte depois.
Entra semana, sai semana, e O Mandaloriano segue mostrando que dá pra fazer Star Wars bom, mas bom, MESMO, sem refazer os filmes originais com mais efeitos visuais e menos cérebro, dividir a base de fãs pra satisfazer o próprio ego ou espicaçar o que foi feito antes, em menos de 40 minutos de narrativa de altíssima qualidade, e se isso não é bater com o pau mole na cara de Jar-Jar Abrams, Rian Johnson e Kathleen Kennedy, então eu não sei mais o que é...
Desde o final da primeira temporada O Mandaloriano vinha mergulhando com vontade no universo das séries animadas The Clone Wars e Rebels, as quais eu não acompanhei (assisti alguns episódios de TCW mas quase nada de Rebels, pra ser mais exato), mas de cujas tramas me mantive vagamente informado porque, afinal, elas fazem parte do cânone Star "Warsiano". O sabre sombrio nas mãos de Moff Gideon abriu as portas para Bo-Katan, e Bo-Katan abriu as portas para Ahsoka Tano.
A discípula de Anakin Skywalker que, desiludida com as políticas do Conselho Jedi abandonou a ordem e cuja partida foi um dos tijolos que levaram O Escolhido para o lado sombrio da Força surgiu sendo detestada por público e crítica no longa animado que servia de piloto à série de Dave Filoni e George Lucas, mas ao longo das sete temporadas de The Clone Wars, foi ganhando profundidade e nuances a ponto de, hoje em dia, dividir espaço com Leia, Luke, Han, Obi-Wan, Chewie, Yoda e Darth Vader como uma das favoritas da base de fãs da franquia.
Ahsoka ganha a cara de Rosario Dawson (paulatinamente se tornando o equivalente feminino de Harrison Ford no altar da divindade nerd) que chega a parecer ter sido a inspiração para o visual original da personagem, tamanha sua semelhança com a versão animada da Jedi togruta. Ela está em Corvus, o planeta florestal que abriga a cidade de Calodan, conforme Bo-Katan havia contado a Mando. E ela não está lá a passeio.
Quando Mando e o bebê Yoda (a partir da próxima semana eu vou começar a chamar ele por outro nome, garanto.) chegam ao planeta, eles descobrem que Ahsoka é uma pedra no sapato da magistrada local, Morgan Elsbeth (Diana Lee Inosanto, afilhada de Bruce Lee), que ao lado de seu pistoleiro de confiança, Lang (Michael Biehn, o ator perfeito para interpretar ex-militares durões mastigados pela vida) mais um pequeno exército de soldados e dróides de combate, mantém Calodan sob seu cruel jugo, uma cidade inteira refém para manter Ahsoka afastada. Morgan tem algo que Ahsoka deseja, e Morgan deseja a Jedi morta. Tanto que está disposta a pagar um alto preço pela cabeça de sua inimiga. Um preço que ela oferece a Mando, sem saber que ele também procura por Ahsoka.
Eu não vou entrar em detalhes de nenhuma espécie sobre o que se desenrola após esse preâmbulo que abre A Jedi, mas permita-me dizer que esse episódio, além de um banquete de revelações, é, de longe, o melhor da temporada, e um dos melhores da série como um todo.
Da ambientação Kurosawana de Calodan à forma como o episódio abraça o lado faroeste de Star Wars passando pela maneira como seus quarenta minutos nos lambuzam com a trilogia sequência, a original e o universo expandido que chegou a ser condenado à morte pela Disney e a inspirada interpretação de Dawson, dando carne, osso, seriedade e altivez à Ahsoka, A Jedi é tudo o que Star Wars deve ser, tudo o que Star Wars precisa ser para lembrar seu lugar de direito como a franquia espacial mais amada da galáxia.
Mal posso esperar pela próxima sexta, quando O Mandaloriano irá mostrar de novo que esse é o caminho. 
E tenho dito.

"-Eu gosto de primeiras vezes. Boas ou más, elas são sempre memoráveis."

sábado, 21 de novembro de 2020

Resenha Série: O Mandaloriano, Temporada 2, Episódio 4: O Cerco


 Em minha primeira semana assistindo O Mandaloriano sem perna de pau, olho de vidro ou cara de mau, a viagem àquela galáxia bem, bem distante se mostrou um passeio agridoce sob certos aspectos que explicarei mais adiante.
Enfim, após os reparos à Razor Crest realizados pelo mon-calamari que disse não ser capaz de consertá-la, mas apenas de fazê-la voar, se mostrarem estritamente o que fora prometido, Mando tenta usar seu pequeno side-kick como um engenheiro elétrico na tentativa de fazer sua espaçovane parecer menos com um calhambeque em meio ao vácuo. As coisas obviamente não funcionam como esperado, e sem ser capaz de fazer os reparos de que precisa para chegar ao planeta indicado por Bo Kattan no capítulo anterior, Mando resolve fazer um pequeno desvio até Nevarro, e reparar sua espaçonave.
Ao chegar ao planeta do antigo QG dos Mandalorianos, percebemos que muita coisa mudou de lá pra cá. Greef Karga (Carl Weathers, que também dirige esse episódio) e Cara Dune (Gina Carano), que antes estavam na raspa do tacho da Orla Exterior, agora são respectivamente o administrador e a xerife locais, levando lei e ordem ao que antes era uma colméia nefasta de escória e vilania.
A avenida principal é um mercado, a cantina, uma escola, e Dune leva a justiça de Greef a todos os malfeitores comedores de furões que tentam se entranhar na região.
Até mesmo Mythrol (Horário Sanz), a primeira recompensa que vimos Mando capturar na série está de volta. Não mais congelado em carbonita, mas usando seus préstimos de contador para pagar sua dívida com Karga.
Se os amigos de Mando estão fazendo bom progresso em Nevarro, a verdade é que ainda há algumas coisas fora do alcance deles em termos de competência e poder de fogo. Coisas que, com um Mandaloriano autêntico em seu grupo, podem ser arranjadas, como a invasão a um posto avançado imperial que tem tirado o sono de Greef.
Mando não é o tipo de pessoa que dá as costas aos seus amigos, e lá vão os três para as regiões dos campos de lava de Nevarro para dar um fim à instalação imperial abandonada, antes que alguém resolva ocupá-la, uma missão que irá revelar um pouco mais sobre as experiências para as quais a Criança estava sendo preparada, e o papel do Moff Gideon  nos planos nefastos dos herdeiros de Palpatine.
Há muita coisa para amar em O Cerco. De Scout Troopers em motos speeder, Tie Fighters em combates aéreos em baixa atmosfera e o Bebê Yoda comendo biscoito recheado, o cerne da série segue sendo o que Star Wars tem de melhor e mais apaixonante.
O agridoce que eu mencionei lá no início, porém, está ligado a maneira como esse episódio parece ligar O Mandaloriano à trilogia sequência, em especial, ao Episódio IX.
E, se por um lado, seria bom ter um pouco de contexto para aqueles filmes horrorosos para ver se eles ficam me os terríveis com um pouco de background, por outro, eu não posso deixar de temer que a mediocridade dos episódios VII e IX, ou o escárnio vil do episódio VIII contaminem um programa que, nos últimos dois anos, eu aprendi a amar.
Seja como for, é bom ver o universo de O Mandaloriano se expandir um pouco, e assegurar à audiência que há algo maior acontecendo no pano de fundo do programa.

"-Você perdeu alguém?
-Eu perdi todos..."


sábado, 14 de novembro de 2020

Resenha Série: O Mandaloriano, Temporada 2, Episódio 3: A Herdeira

 


Após os problemas aracnídeos enfrentados pela tripulação da Razor Crest no capítulo anterior, Mando, a criança e a senhora Sapo chegam, claudicantes à Trask, a lua aquática para onde ele deveria ir em busca de outros mandalorianos.
Chegar ao planeta com a nave em frangalhos e apenas com o cockpit pressurizado já foi difícil, pousá-la nessas condições mostra-se uma tarefa ainda mais desafiadora, e que cobra da Razor praticamente tudo o que ela tinha a oferecer...
Após juntar a Sra. Sapo ao Sr. Sapo conforme havia prometido, Mando recebe o que lhe fora acordado, a localização de alguém que pode levá-lo a outros de sua estirpe. Em uma cantina ele conhece alguns marinheiros Quareen (Trask é habitada basicamente por Quareens e Mon-Calamaris, duas das mais famosas espécies aquáticas de Star Wars) que viram outros em armaduras de beskar, e aceitam levá-lo até eles, apenas a algumas horas de viagem de barco.
A viagem não ocorre sem sobressaltos, ainda assim, Mando eventualmente encontra outros três mandalorianos, Koska Reeves (a lutadora do WWE Sasha Banks/Mercedes Varnado), Axe Woves (Simon Kassianides, de Agentes da S.H.I.E.L.D.) e Bo-Katan (personagem da animação The Clone Wars que, em um duplo orgasmo nerd para os fãs do programa, é interpretada por sua dubladora original, Katee Sackhoff).
Entretanto, embora tenha motivos de sobra para ficar feliz por encontrá-los, Mando vira as costas e vai embora assim que os três tiram seus capacetes ao vê-lo.
Aparentemente, eles contam, não há apenas um caminho a trilhar para os mandalorianos...
De qualquer forma, eventualmente Mando é convencido a se juntar aos três em uma missão, em troca da localização de um membro da ordem Jedi para quem ele deve entregar a criança.
A missão dos três envolve o saque a um cargueiro Gozanti imperial (capitaneado por um oficial imperial interpretado por Titus Welliver, da série Bosch) carregado de armas sendo enviado ao Moff Gideon (Giancarlo Esposito), uma missão que, se cumprida com sucesso, pode ser um passo rumo à independência de Mandalore...
A Herdeira já seria um puta programa apenas por ser outro episódio excepcional de O Mandaloriano, mas em seu terceiro capítulo, a série dá um passo além, e volta a mergulhar no lore mais profundo de Star Wars referenciando tanto a animação A Guerra dos Clones quanto eventos mostrados na temporada anterior, além de trazer à baila um pouco da intrincada política mandaloriana e mostrar as diferenças entre os múltiplos séquitos da cultura guerreira (e nos explicando o motivo pelo qual alguns mandalorianos como Jango Fett e todos os que apareceram na animação não têm melindres em tirar o elmo enquanto Mando, a Armeira e todo o pessoal de Nevarro proibia tal prática). Mais do que isso, o episódio escrito por Jon Favreau (que tal um remake dos episódios I, II, III, VII, VIII e IX escritos, produzidos e dirigidos por ele e Feloni?) e dirigido por Bryce Dallas Howard ainda tem boas sequências de ação, mais amostras do apetite infinito do bebê Yoda, e cita um nome que certamente fez os apaixonados por The Clone Wars tremerem nas chinelas de antecipação pelo próximo capítulo.
Outros trinta minutos de excelência de O Mandaloriano que, além de entreter, pavimenta o caminho para o futuro da série...
Eu adoro esse programa.

"-Sua bravura não será esquecida. Esse é o caminho."


sábado, 7 de novembro de 2020

Resenha Série: O Mandaloriano, Temporada 2, Episódio 2: A Passageira

 



Ah, O Mandaloriano... É tão bom ter esse período em que sabemos que a cada semana poderemos ver Star Wars sem nos preocupar com qual parte da mitologia será vilipendiada pelos diretores e roteiristas contratados pela Lucas Film. É tão bom poder dizer "Hoje tem Star Wars" sem estar com cara de quem vai receber visita da sogra...
Enfim, ontem teve Star Wars, "e dos bons, Chaves", já diria Seu Madruga.
Após ajudar os mineradores de Mos Pelgo e o serife Cobb Vanth a se livrar de um dragão Krayt e recuperar a armadura de Bobba Fett, Mando e o bebê Yoda estão voltando a Mos Eisley quando uma emboscada os faz ter que tomar o caminho mais longo de volta.
Naquela conhecida Cantina, Mando acaba dando sorte, e encontra Peli Motto e um conhecido, Dr. Mandíbula, que, aparentemente, conhece alguém que pode ser capaz de colocá-lo em contato com mais mandalorianos. Após uma breve negociação, Mando descobre sobre uma localização em Trask, uma lua estuária no sistema vizinho, ao redor do gigante gasoso Kol Iben, onde há alguém que pode levá-lo a seu povo, mas, para isso, ele deverá dar uma carona a uma passageira, uma alienígena com aparência anfíbia creditada apenas como "Senhora Sapo", e interpretada por Misty Rosas e dublada por Dee Bradley Baker.
A Senhora Sapo, Peli informa, precisa ser levada até Trask, para que seus ovos sejam fertilizados por seu marido. A questão é que os ovos, mantidos em um recipiente com temperatura controlada, são muito frágeis para viajar em velocidade da luz, então a viagem deve ser feita à moda antiga. Mando não está particularmente satisfeito com a perspectiva de viajar em sub-luz, o que o deixaria vulnerável a piratas e senhores da guerra, mas acaba sendo convencido por Peli Motto.
A viagem em baixa velocidade acaba se provando realmente uma ideia ruim, embora não pelas razões que Mando supunha, e culmina com o trio naufragando com a Razor Crest parcialmente destruída em um planeta congelado, o que leva a um encontro tenebroso com os habitantes locais...
A Passageira mantém o ritmo que se tornou uma tradição na temporada passada, em um episódio o programa acena com o que parece ser o pano de fundo para um arco que ocupará todos os capítulos, no caso a possível presença de Bobba Fett na série, para no seguinte nos jogar em quarenta minutos de aventura basicamente inconsequente.
E quer saber?
Eu gosto.
O segundo episódio da temporada de O Mandaloriano é divertido, tem boas cenas de ação, humor, e flerta de maneira agradável com o horror em seu desfecho, um feito surpreendente já que o episódio é dirigido por Peyton Reed, de As Apimentadas e Homem-Formiga 1 e 2.
Alguém poderá dizer que o episódio é mero filler, mas os eventos que transcorreram aqui podem ter consequências no futuro imediato de Mando, há um elemento temático relacionado a paternidade/maternidade no cerne do episódio, e temos Mando dizendo "Que a Força esteja com vocês" e X-Wings, então, que a série se sinta à vontade para me trazer mais filler desse tipo sempre que quiser... Enfim, semana que vem tem mais Star Wars.

"Coloque uma marca nele e não haverá lugar onde você poderá de se esconder de mim."

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Resenha Filme: Problemas Monstruosos

 



Quando eu assisti ao trailer de Love and Monsters (um título perfeitamente bem encaixado na proposta do filme, por sinal, que é sobre amor e monstros), eu fiquei com a sensação de que era quase uma versão de Zumbilândia que trocava zumbis por monstros gigantes e, considerando o quanto Zumbilândia 2 foi ruim, eu não tinha certeza se estava disposto a ver mais uma imitação do longa.
Ainda assim, ontem à noite me deparei com o Problemas Monstruosos em um serviço de aluguel digital, e resolvi esvaziar a carteira digital e dar uma chance ao filme.
O mundo de Problemas Monstruosos nos é apresentado por seu narrador, Joel Dawson (Dylan O'Brien, encontrando um sensível equilíbrio entre neurótico irritante e neurótico gostável). Joel é um dos sobreviventes de um apocalipse que começou sete anos antes, quando um asteroide se aproximava da Terra. Os poderes do planeta se uniram e lançaram mísseis que detonaram a rocha em pleno voo, entretanto, os detritos da detonação, ao retornarem à atmosfera da Terra, causaram mutações em todas as criaturas de sangue frio de nossa fauna, que aumentaram de tamanho a ponto de termos crianças sendo comidas por peixes dourados e tanques de guerra sendo insuficientes para matar baratas.
A humanidade foi quase extinta, 95% da espécie humana foi perdida enfrentando as criaturas, e os cinco por cento restantes se recolheram em colônias subterrâneas onde subsistem de eventuais caçadas e coletas, sempre à sombra de criaturas que também estão famintas e caçando.
Joel não é um grande caçador ou coletor. Ele sofre de um problema de congelamento que o paralisa de medo em momentos de tensão, e faz sua parte no bunker onde vive operando o rádio e cozinhando. Nos últimos anos, Joel se tornou o mascote de um grupo de pessoas que se juntaram em casais enquanto ele perdeu o amor de sua vida, Aimee (Jessica Henwick, de Punho de Ferro) quando a humanidade foi chutada do topo da cadeia alimentar.
A questão é que, ao contrário dos pais de Joel, Aimee não morreu. Ela e ele apenas se separaram quando o apocalipse monstro começou, e, após sete anos de busca, ele finalmente descobriu onde ela está, e, sentindo-se sozinho no mundo, resolve encarar uma jornada de mais de cento e trinta quilômetros pela superfície hostil do planeta para encontrá-la.
Sem ser nada como um exímio sobrevivente, Joel começa sua jornada solitária de maneira atabalhoada, cometendo todo o tipo de erro, e contando com a sorte e a ajuda de desconhecidos que se tornam seus companheiros e aliados de maneira mais duradoura, como o cachorro Boy, ou brevemente, como os sobreviventes Clyde (Michael Rooker) e Minnow (Ariana Greenblatt) para não ser comido vivo logo em seus primeiros dias fora da colônia e tentar sobreviver por tempo o suficiente para reencontrar o amor de sua vida.
Problemas Monstruosos é muito melhor do que deveria ser.
Sério, quando eu comecei a assistir o filme, que se inicia com uma enxurrada de exposição, eu estava me preparando para procurar a duração do filme e descobrir por quanto tempo eu seria obrigado a suportá-lo, mas aí, em poucos minutos, o roteiro Brian Duffield e Matthew Robinson encontra os trilhos de uma maneira muito surpreendente, e muito, muito satisfatória ao dar algumas bolas dentro que me pegaram no contrapé.
Pra começar, a construção de mundo do longa é muito esperta. Nós rapidamente somos levados a temer esse mundo, e esperar qualquer coisa dele. Um trabalho ainda mais competente é feito com os personagens que o habitam, que não são apenas estereótipos peculiares para atrair o olhar da audiência por alguns minutos, mas a soma do que aconteceu com o mundo nesses últimos anos. Em nome de Stan Lee, o cachorro do filme tem mais personalidade, história de vida e profundidade emocional do que os personagens de Tenet todos juntos!
Pra tornar a coisa toda ainda mais inexplicavelmente bem sacada, Joel passa por uma jornada de verdade, seus confrontos e encontros têm peso baseado não apenas em sua inaptidão presente, mas ancorados em seu passado, e seu crescimento não é apenas tentar aprender a matar monstros, mas encontrar seu lugar em um mundo que, inicialmente, parecia não ter mais nada para lhe oferecer...
O diretor Michael Matthews ainda acerta a mão ao conseguir a proeza de tornar cada encontro monstruoso do longa diferente do anterior, mexendo não apenas no grau de perigo envolvido, mas encontrando sempre um novo propósito dramático ou emocional, e em um filme chamado Amor e Monstros (ou, vá lá, Problemas Monstruosos), isso não é um feito pequeno.
Com uma história redondinha, sem nenhum tipo de arbitrariedade narrativa, um elenco carismático e talentoso atuando de maneira honesta, e efeitos visuais competentes, Problemas Monstruosos foi uma das sessões de "cinema" mais prazerosas que eu tive nesse estranho ano de 2020, onde, na mesma semana eu assisti o blockbuster da temporada, dirigido pelo genial Christopher Nolan, e um filme de monstros lançado direto em formato digital, e fui mais cativado pelo segundo do que pelo primeiro.
Abra sua carteira digital e dê uma chance ao filme. Ele certamente vale uma hora e quarenta e nove minutos do teu tempo.

"-Eu vou te encontrar.
-Acho bom."

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Resenha Cinema: Tenet


 Na última década e meia, mais ou menos, Christopher Nolan conseguiu se alçar à condição de deus cinematográfico dos nerds do mundo graças a seu compromisso com uma forma muito esperta de fazer cinema, embrulhando temas em narrativas de múltiplas camadas, ás vezes não lineares, e sempre perfeitas do ponto de vista técnico. Ajudou bastante a carreira do homem o fato de ele ter feito o filme do Batman mais próximo da perfeição, e algumas fitas de ficção científica e ação que estão, todas, na prateleira de cima do que se produziu dentro da proposta nos últimos anos, como Interestelar, A Origem e O Grande Truque, de modo que o status de que o cineasta goza nos dias de hoje não é imerecido, de forma alguma. Nolan é o tipo de sujeito que sempre merece a deferência de uma visita ao cinema.
E foi por isso, e a recomendação de uma morena muito cheirosa, que eu resolvi gastar duas horas e meia do meu feriado na sala de cinema mais próxima de casa e conferir Tenet, o mais recente trabalho do diretor e, segundo o próprio, um roteiro tão complexo que lhe tomou mais de cinco anos para ser concluído.
Tenet começa durante um sítio terrorista na Rússia, quando o protagonista, Protagonista (John David Washington, de Infiltrado na Klan), e não, eu não estou brincando, esse é o nome dele nos créditos, faz parte de um grupo de operações especiais da CIA encarregado de resgatar um agente infiltrado tentando recuperar um artefato misterioso.
A missão porém, dá errado, o artefato cai em mãos inimigas e o Protagonista é capturado e torturado pelos vilões até conseguir comer um comprimido de cianeto e se matar.
Exceto que ele não morre. 
Ao despertar em uma localização secreta, ele descobre que toda a operação foi um teste para verificar se o agente estava apto a encarar a missão de verdade, fazer parte da organização chamada Tenet...
O Protagonista começa a tomar conhecimento de que se trata a coisa toda ao conhecer Barbara (Clémence Poésy), que lhe explica que, no futuro, a humanidade descobriu uma forma de alterar as propriedades dos objetos para que eles interajam com o tempo de maneira reversa. Objetos largados ou jogados no chão, vêm para a mão de quem os arremessou, balas disparadas por uma pistola, são aparadas pelo cano da arma, pilhas vão ganhando mais energia conforme o tempo passa...
Barbara explica que os objetos expostos à essa tecnologia são chamados de "invertidos" e que pessoas más do futuro, estão usando os invertidos para influenciar objetos no passado, o nosso presente, criando uma Guerra Fria Temporal, e Tenet está tentando impedir que essa guerra destrua o mundo.
Investigando as balas invertidas em posse de Tenet, o Protagonista chega a um traficante de armas indiano, que o direciona até o bilionário do contrabando bélico Andrei Sator (Kenneth Brannagh).
Sator, porém, é tão inatingível, que a única maneira de se conectar a ele é através de sua esposa, Kat (a bela e enorme Elizabeth Debicki, uma cabeça mais alta que todo o resto do elenco).
Kat, porém, vem sendo chantageada por Sator a permanecer casada com ele, e em troca de sua ajuda, ela deseja se ver livre do jugo do bandido e garantir que seu filho escape com ela, o que leva o Protagonista e seu parceiro, Neil (Robert Pattinson) a divisar um arriscado e explosivo plano para conseguir acesso ao mafioso e descobrir, de uma vez por todas, como impedir que a inversão do tempo cause danos catastróficos ao planeta.
É estranho dizer isso a respeito de um filme de Christopher Nolan, mas eu francamente não sei se gostei de Tenet.
O longa desafia a análise convencional porque ele se esforça o tempo todo para não sê-lo, e sim, isso é positivo, mas ao mesmo tempo é o tipo de filme que provavelmente precisa ser assistido múltiplas vezes para ser compreendido e apreciado em sua totalidade.
Assistindo ao filme uma única vez, seus defeitos acabam saltando aos olhos mais do que as eventuais qualidades que se escondam nas entrelinhas, então, eu me ressinto do fato de não saber absolutamente nada a respeito d'O Protagonista, exceto que ele é durão e esperto, e que qualquer resquício de personalidade que ele tenha, se deve ao carisma de John David Washington, ou que, ao invés de nos apresentar seu mundo e seus personagens para que nós nos aclimatássemos a eles (como era o caso em A Origem) o longa dispara nos mostrando uma série de eventos mais ou menos explicados porque quer que, no clímax, nós vejamos esses mesmos eventos sob um novo ponto de vista graças à narrativa não-linear.
Não me entenda errado, o filme é movimentado, repleto de sequências de ação interessantes, usa os invertidos de maneira visualmente bem esperta e deixa qualquer pessoa que esteja disposta a pensar nas implicações de longo prazo da utilização das Catracas coçando a cabeça por horas após o fim da sessão.
Aliás, falando em coçar a cabeça, eu fico imaginando como é que os povos que têm inglês como língua nativa conseguiram assistir a esse filme. Em certas cenas o som é tão abafado que, sem legendas, eu não faço ideia de como o público foi capaz de acompanhar o que estava acontecendo, e, lendo a respeito online, vi que isso é proposital, e não um problema da sala do GNC onde eu vi o filme.
O maior problema de Tenet, entretanto, é a maneira como o longa parece ter a cabeça enterrada em seu conceito, mais do que em sua história. Com os eventos parecendo muito mais com uma desculpa para a próxima sequência de tempo invertido que desafia a realidade do que tentativas de movimentar a narrativa adiante.
Os personagens são algo estéreis, como eu disse, o Protagonista mal tem uma personalidade, Kat quer fugir do marido malvado, Sator é malvado... A exceção é surpreendentemente Robert Pattinson, que consegue flutuar entre entendido de ciência e espião durão com uma boa dose de esquisitice e charme britânico, e parece estar realmente se divertindo no papel, o que o torna o ator mais divertido de assistir em um elenco que ainda conta com Dimple Kapadia,, Himesh Patel, Michael Caine, Aaron Taylor-Johnson e Martin Donovan.
Claramente há um bocado de trabalho duro por trás de Tenet, tanto do ponto de vista técnico quanto intelectual, tudo é filmado de maneira mais do que competente e é divertido de ver e até de ficar ponderando depois do fim, mas é difícil não ver o longa da mesma forma que eu vi Projeto Gemini no ano passado, muito mais como um exercício de conceito do que como uma história com a qual a audiência possa se conectar do ponto de vista emocional. O longa, em outras palavras, parece uma guria muito bonita, que parece inteligente e que fala bem, mas com quem tu não quer namorar.
Christopher Nolan continua sendo um cineasta fundamental de nossos tempos, e um cineasta necessário em um momento onde mais e mais os filmes parecem sair de linhas de montagem, entretanto, Tenet prova que apuro técnico e grandiloquência intelectual podem ser aspectos importantes de uma experiência cinematográfica, mas não substituem uma narrativa atraente e personagens bem desenvolvidos.
Em suma, mesmo tendo a impressão de que eu gostaria mais de Tenet ao vê-lo uma segunda vez, eu certamente não o farei no cinema.

"-O que aconteceu aqui?
-Ainda não aconteceu..."