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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Identidade.


Alfredo conhecia as regras da convivência e da etiqueta. Sabia se portar á mesa, segurava a porta para os vizinhos, deixava que as moças e as pessoas mais velhas passassem primeiro... Todas essas pequenas gentilezas diárias, Alfredo dominava e cultivava. Á primeira vista, Alfredo poderia ser considerado uma pessoa agradável, uma pessoa gentil, um bom sujeito. Na verdade, era assim que as pessoas lembravam de Alfredo. Raramente ele deixava uma impressão longeva nas pessoas, elas conversavam com ele, absorviam sua gentileza mundana por alguns minutos, e logo o esqueciam, depois, quando, por alguma eventualidade queriam se referir á ele diziam "Aquele cara... Pô, super gente-boa, como era o nome dele? Um de cabelo preto...". Era assim. A impressão que Alfredo deixava nas pessoas, em sua maioria, era uma impressão fast-food, ela tinha um bom sabor enquanto era experimentada, mas pouco depois, já não era mais lembrada.
Alfredo não ligava. Á despeito de ser gentil, polido e agradável, Alfredo nutria uma profunda indiferença para com as outras pessoas. Alfredo as olhava com condescendência, como um velho sábio olha um jovem imaturo. Não que Alfredo de considerasse um sábio, longe disso, ele apenas desconsiderava solenemente a opinião alheia.
Alfredo desprezava o senso comum, jamais pedia conselhos e tomava decisões baseado única e exclusivamente nas próprias crenças e vontades. Alfredo, á despeito de não se pautar pelo que os outros consideravam correto, era correto. Ele não tentava tirar vantagem de ninguém, não queria invadir o espaço alheio, nem nada do gênero. Ele apenas não usava parâmetros alheios para se decidir no que dizia respeito á ele individualmente. Alfredo não era uma pessoa de fácil convívio, ele tinha uma postura bastante rígida com relação á certo e errado em quase tudo, não acreditava em praticamente nada, e, embora acreditasse que todos tinham direito de discordar dele, discutia até a morte quando se opunham á suas ideias de maneira ríspida.
Alfredo não era unanimidade nem entre os familiares, muitos o viam como um acomodado preguiçoso, como um tolo, como um burro. Outros o enxergavam como se fosse um frio e calculista gênio do mal. Nenhuma das teorias estava certa, Alfredo não estava nem tanto ao céu nem tanto ao mar, ele era uma pessoa comum, talvez com um senso de responsabilidade e de individualidade um pouco acima da média, nada de tão fantástico. E, no final das contas, não lhe fazia nenhuma diferença, pois ele continuava não ligando pra o que os outros pensavam.
O caminho escolhido por Alfredo era um pouco solitário, muitas vezes as pessoas se cansavam de Alfredo antes de conseguirem entendê-lo o que, ele sabia, ás vezes podia tomar tempo, e nem sempre era garantia de que gostariam do resultado. Mas Alfredo, ainda assim, preferia se abraçar ás próprias crenças, e fazer o seu melhor de acordo com seus parâmetros particulares. Ele podia ser feliz ou infeliz fazendo isso. Poderia alcançar sucesso ou fracasso. Mas fosse qual fosse o resultado, Alfredo estaria em paz consigo mesmo. Por isso Alfredo vai torcer pelo Dunga e pela Seleção na Copa do Mundo, por que Alfredo sabe exatamente como Dunga se sente.

2 comentários:

  1. Perfeito!! Empatia ... se colocar no lugar do outro !!!
    (Yone)

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  2. Gosto do Alfredo!
    Mas o preço a se pagar pela própria opinião sendo a disparidade de elementos humanos, me faz pensar que, contentar-se em estar certo de suas decisões e não ter alguém para partilhar angústias e vitórias... me parece só demais...

    Eu também vou torcer pelo Dunga, quem sabe, por outros motivos... colorado, gaúcho, alemão... coisas que nada tem a ver com a estratégia em si, contudo, como não entendo de futebol, isso me basta... solitariamente, me basta!

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