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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Frustração


Não são as feridas nas mãos, nem o torcicolo de ter dormido todo torto em um carro caindo aos pedaços. Não é o cheiro de tinta nem a tinta, mesmo, presa embaixo das unhas. Não é a dor nos músculos dos ombros, nem tampouco as três horas e meia tendo que escolher entre ouvir Roupa Nova ou as peripécias do filho recém nascido do seu primo.
Não é o remorso por fingir que estava dormindo pra não precisar conversar, nem a dor na consciência por ter jogado fora um pincel recém comprado por preguiça de lavá-lo. Não é a raiva por estar fazendo um trabalho que tu pensou ter deixado pra trás quando ainda era adolescente, e, pra piorar sem ser pago, apenas por pressão de familiares chantagistas que te supões o único homem em idade produtiva da família.
Não... Tudo isso é secundário.
Essas pequenas dores, raivas e angustias suburbanas são superáveis.
Quando ele estava no chuveiro pela manhã, junto com a tinta e o suor do labor daqueles dois dias intermináveis ele viu escorrer pelo ralo aquelas frustrações comezinhas.
A frustração que ficou, aquela que ainda persiste, que não se vai, é a de tê-la desapontado.
A de tê-la deixado sem resposta, a de tê-la deixado ir sem dizer um "oi!", um "tchau", e vários "eu sou louco por ti" entre uma coisa e outra. A frustração que permanece, é a de que ela deve, e com razão, ter se cansado dele, da família dele, e das bagunças que surgem entre um e outro. A frustração que permanece, de verdade, é a que ele causou nela. E a dolorosa compreensão de que ela merece mais, e muito, muito melhor, e que ele merece apenas aquela foto, aqueles presentes e as lembranças... A lembrança do cheio do cabelo dela, da textura da sua pele, do gosto dos seus lábios.

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