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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Resenha Cinema: Django Livre
Foi com algum atraso que nesse final de semana finalmente consegui assistir Django Livre, mais recente filme de Quentin Tarantino, que desembarcou no Brasil carregando as polêmicas do país original onde foi duramente criticado (Inclusive por Spike Lee, outro ótimo cineasta, mas que infelizmente parece ter dificuldade em rir de si mesmo.) e acusado de ser um filme racista que trata sem a devida solenidade um tema espinhoso e delicado (especialmente nos EUA) como a escravidão.
Filme conferido, há que se entender porque alguns setores consideram a fita racista. A palavra "nigger" por exemplo, que poderia ser livremente traduzida como "crioulo", mas nos Estados Unidos tem uma conotação muuuuuito mais pejorativa, é repetida à exaustão durante a projeção. As representações dos castigos físicos aos quais os escravos eram submetidos também aparecem com frequência e de forma bastante gráfica, uma delas, envolvendo um cão, é particularmente brutal, e, de fato, todos os temas são tratados com a irreverência Tarantinesca habitual, o que, sejamos francos, é meio que uma marca do diretor que resolveu reescrever a História em Bastardos Inglórios. Tarantino demonstra reverência apenas pelo cinema, pelas centenas de filmes que viu durante a vida e aos quais faz declarações apaixonadas de amor cada vez que joga outro longa metragem no cinema.
O compromisso do diretor de 49 anos não é para com a importância de fatos históricos, mas sim com como esses fatos podem ser moldados para se tornarem um produto de entretenimento divertido, esperto, violento e vibrante. E nesse sentido, Quentin Tarantino e seu cinema acertam gloriosamente.
Django Livre narra a história de Django (Jamie Foxx), um escravo com um histórico de tentativas de fuga que é comprado por um caçador de recompensas alemão, o doutor King Schultz (Christoph Waltz), para ajudá-lo a encontrar um trio de foras da lei. Em troca da ajuda de Django, Schultz se propõe a libertá-lo e ajudá-lo a encontrar sua esposa, Brunhilde (Kerry Washington, um doce), que, como forma de puní-los por uma tentativa fracassada de fuga, foi vendida separada de Django a Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), um rico fazendeiro do Mississippi, dono da fazenda Candiland, palco de sangrentas lutas até a morte entre escravos.
Antes de chegar a Candie, porém, os dois caçadores de recompensa passam o inverno coletando prêmios com Django sendo treinado por Schultz até se tornar "o gatilho mais rápido do sul".
Nesse período uma das melhores sequências envolve uma acalorada e surreal discussão sobre os prós e contras de usar os sacos brancos furados como máscara na hora de caçar negros. Debate travado por um grupo de supremacistas brancos encabeçados por Big Daddy (Don Johnson) com participação especial de Jonah Hill.
Aliás, há várias participações especiais em Django Livre, além de Hill, há Amber Tamblyn, que aparece de relance olhando por uma janela, Zöe Bell, a estranhamente atraente musa atlética de Tarantino que nem sequer mostra o rosto, apenas os olhos como uma rastreadora a serviço de Candie, o ator australiano John Jarrat, como um funcionário da companhia mineradora The LeQuint Dickey, além de Franco Nero, o Django original e, claro, Quentin Tarantino, todos em pontas.
Quem de fato tem tempo em cena pra mostrar o que sabe é Jamie Foxx, competente como sempre na pele marcada de Django, e Leonardo DiCaprio, ótimo como o asqueroso fazendeiro francófilo que não sabe falar francês, monsieur Candie, mas não adianta, mesmo com dois atores desse calibre, e depois com a aparição de Samuel L. Jackson, muito bem como o detestável Stephen, quem rouba a cena e a atenção da audiência sempre que dá as caras é Christoph Waltz. O austríaco é quase tão destruidor em Django Livre quanto fora em Bastardos Inglórios, e se falta ao doutor King Schultz a perversidade magnética do coronel Hans Landa, sobra simpatia, e o carisma de Waltz torna-o uma presença tão rica em cena que é fácil esquecer que ele é um coadjuvante.
No fim das contas o grande e inspirado elenco, a sólida e divertida trama de vingança, regada com a violência crua, bruta e profundamente gráfica que se espalha ao longo do filme, e o selo Tarantino de excelência do entretenimento tornam Django Livre mais uma demonstração de como Tarantino ama o cinema de gênero.
Filmaço obrigatório.
"-O "D" é mudo, filho da puta."
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