De guerra Kathryn Bigelow entende. A primeira mulher a ganhar a estatueta do Oscar na categoria Melhor Direção com o ótimo Guerra ao Terror voltou à carga da luta Norte-Americana pós 11/09 em um filme sobre a caçada dos EUA a Osama Bin Laden, suposto mentor intelectual dos atentados que destruíram as Torres Gêmeas além dos demais sequestros de aeronaves que resultaram em milhares de mortes em 2001.
Como aconteceu com a Guerra no Iraque e ao sargento James em Guerra ao Terror, novamente Bigelow e o roteirista Mark Boal (Também autor do script do trabalho anterior de Bigelow) centra sua história em uma personagem com uma missão.
Dessa vez, ao invés do desarmador de bombas viciado em adrenalina ansiando por glória de Jeremy Renner, temos uma jovem técnica da CIA, Maya (Jessica Chastain, incrivelmente ruiva e tão bem quanto Renner fora em GAT, talvez melhor), designada para trabalhar no Paquistão junto à unidade responsável por descobrir o paradeiro do líder da Al-Qaeda.
É 2001, poucos meses após os atentados, e Maya se vê, logo de cara, assistindo ao agente Dan (Jason Clarke) começar, de maneira bastante honesta, um interrogatório.
E daí A Hora mais Escura segue, por dez longos anos, com estética semi-documental, a saga de Maya e de sua obstinada luta para descobrir onde está Bin Laden, hora enfrentando o desânimo de uma busca incessante que por vezes parece infrutífera, hora esbarrando na displicência de seus superiores, que a veem apenas como uma tecnocrata brincando de guerra. A tenaz Maya (Girl Power até a medula), no entanto, não se deixa abater por nenhum dos machões, e sem se importar com a sua posição na cadeia de comando, segue investigando nomes, datas, e conexões até encontrar uma pista que a levará à soleira da porta do homem mais procurado do mundo.
Kathryn Bigelow tem ótima mão pra ação. Tem mais colhões do que os irmãos Wachowsky (antes mesmo da castração de Larry), Michael Bay e Tymur Bekmambetov juntos, e sabe o que faz com uma câmera além de ter um senso narrativo talhado pra tensão. E não falta tensão em A Hora Mais Escura mesmo que todos saibam qual vai ser o desfecho da história.
Entre as torturas que inicialmente incomodam Maya (Que depois se habitua à prática, chegando a endossá-la), o árduo trabalho de detetive que liga os pontos até Osama, existe um mar de homens bomba, ataques de terroristas e a sombra do próprio fracasso, constantemente assolando a personagem central, que conforme aumenta seu nível de dedicação à sua missão, vai se vendo isolada de todos, seja por parecer incapaz de abandonar sua busca, seja porque as pessoas que a cercam morrem.
Kathryn Bigelow e seu elenco (Além de Chastain e Clarke ainda tem Mark Strong, Jennifer Ehle, Joel Edgerton, Edgar Ramirez, Kyle Chandler e Reda Kateb) sustentam bem a narrativa, e fecham o filme com uma ótima e violenta sequência da invasão ao esconderijo do terrorista mais perigoso do mundo.
E é aí, no desfecho, que surge outro elo com Guerra ao Terror que vai além da luta dos EUA contra o terrorismo, que é o conflito se transformando em definidor de identidade. Da mesma forma que James não sabia viver com a esposa, o filho e as prateleiras de cereais, Maya parece não saber quem é, uma vez que sua missão foi finalmente cumprida após dez anos de esforços.
Em tempos de guerra moderna, o "Nós" contra "Eles" quando "eles" são bombas parcialmente enterradas em ruas de areia ou nomes e números de telefone em telas de computador é intenso no durante, mas gera uma satisfação fugaz, se alguma, na conclusão.
Ótimo filme.
"-E você é?
-Eu sou "o filho da puta" que encontrou esse lugar."
Nenhum comentário:
Postar um comentário