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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Resenha Cinema: Jobs


Sexta-feira, prenúncio de feriadão pra este humilde escriba (Vocês que trabalham de segunda à sexta e desprezam feriados aos sábados não sabem como um feriado no sábado é maneiro para lacaios como eu), saí do serviço, apanhei meu cachorro no anho e fui ao cinema procurar algo para assistir.
Tinha intenção de ver o mais recente filme de Roland Emmerich, O Ataque. Me parecia que uma dose cavalar de diversão escapista e desprovida de qualquer gravidade além de um eventual pico de tensão infundada era exatamente o que eu precisava pra sobreviver ao final de semana prolongado que havia começado tão mal.
Mas mudei de ideia.
Não sei ao certo o que me fez comprar o ingresso para ver a cinebiografia de Steve Jobs. Não sou um seguidor da quase religião que faz alguns geeks se ajoelharem ante qualquer aparelho eletrônico com um desenho de maçã mordida, certamente não sou um fã dos talentos dramáticos de Ashton Kutcher, e nem sequer sou capaz de lembrar de nenhum outro trabalho do diretor do filme, Joshua Michael Stern.
Talvez tenha sido apenas vontade de, amargamente, reclamar de alguma coisa que não a vida, e, prevalecidamente, escolhi um alvo fácil para direcionar minha ranhetice.
Jobs é esse alvo fácil.
A cinebiografia narra episódios importantes da vida de Steve Jobs, genioso gênio por trás da Apple, desde sua fase hippie nos anos setenta, usando LSD e tentando pegar mulher na universidade que abandonaria antes da formatura, até suas midiáticas apresentações de produtos, já como o mais famoso CEO do mundo corporativo.
O filme, na verdade, abre em 2001, com um Ashton Kutcher devidamente caracterizado como o Steve Jobs que todo mundo conheceu (Diga-se de passagem: A maquiagem faz um ótimo trabalho ao realçar as semelhanças físicas entre Kutcher e Jobs), gola rolê, jeans, tênis apresentando o I-Pod, para então voltar no tempo, e mostrar Jobs, aluno genial da universidade de Reed, andando descalço pelo campus, seguindo-se à sua viagem à Índia, seu emprego na Atari, e a criação do Mac, na garagem da casa de seus pais adotivos.
Daí, o filme já avança para a Apple devidamente fundada, com uma bela sede em Palo Alto, na Califórnia, e um Steve Jobs grosseiro, briguento, workaholic e cheio de si. Um sujeito tão desprezível que, quando sua namorada o procura dizendo que está grávida, ouve que ele não tem tempo pra isso, e que a criança pode nem mesmo ser sua.
Quando esse sujeito egocêntrico e nojentão que "não sabe trabalhar em equipe" acaba chutado da própria companhia, é até difícil sentir pena dele.
Se até este ponto Jobs era uma cinebiografia chatinha com um protagonista canastrão, porém esforçado, daí em diante o filme assume sua natureza chapa branca, e passa a mitificar o biografado com unhas e dentes.
O protagonista se torna um homem generoso, sábio e tranquilo, casado, com filhos, e sendo visitado por aquela filha mais velha que tentou enjeitar anos antes.
Não há nenhuma menção à Pixar, empresa criada por Jobs, e mal e porcamente se ouve o nome de Bill Gates.
À exceção de Steve Wozniak (Josh Gad), seu amigo e parceiro na fundação da Apple, os coadjuvantes não têm nenhuma profundidade ou relevância exceto orbitar Jobs e fazê-lo parecer brilhante.
Mesmo Woz, co-criador do sistema operacional da empresa, aparece ouvindo "palestras" de seu amigo sobre como as invenções dele são geniais (o que rendeu queixas públicas do verdadeiro Wozniak e troca de farpas entre ele e Kutcher, que além de protagonizar, produz o longa metragem).
Kutcher se esforça, além da maquiagem se puxa para emular o jeito de falar e caminhar de Jobs, e até mesmo passou algum tempo se alimentando da mesma dieta maluca do fundador da Apple, que consistia em suco de cenoura e frutas variadas, mas está longe de ser ator pra segurar um drama biográfico nas costas, especialmente quando o personagem central do filme era alguém reconhecido por seu individualismo e personalidade magnética. Nem o fato de o restante do elenco (que conta com nomes como Dermot Mulroney, Lukas Haas, Matthew Modine e J.K. Simmons) ser subaproveitado ajuda o Jobs de Kutcher a convencer.
Apostando na superexposição, com personagens aparecendo volta e meia pra reforçar verbalmente o que a audiência vê na tela, o roteiro de Matt Whiteley simplesmente deixa de explorar a contento qualquer característica negativa de Jobs, preferindo lamber o saco do biografado e elevá-lo ao pedestal de grande revolucionário da ciência e da tecnologia (Albert Einstein aparece em um pôster no comecinho do filme) num longa que termina superficial e aborrecido.

"-Apple? Como a fruta?
-A fruta da criação."

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