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sábado, 28 de setembro de 2013

Resenha Game: Grand Theft Auto V


Logo que começou a ser anunciado, Grand Theft Auto V já prometia ser um dos melhores games de 2013, e o jogo ideal para fechar com chave de ouro as portas da geração atual de consoles.
Desde 2008, quando a Rockstar lançou o excepcional Grand Theft Auto IV, água passou sob a ponte.
A empresa lançou games fracos como LA: Noir, games competentes como Max Payne 3, e obras primas como Red Dead Redemption. A experiência que a desenvolvedora obteve com esses três jogos fica bastante clara em Grand Theft Auto V, assim como a reverência pelo game antecessor, óbvio melhor capítulo da franquia de roubos de carro, e a vontade de agradar aos fãs de Vice City e San Andreas, que sentiram falta do tom pastelão de ultra violência quase caricatural desses games em GTA IV.
Tecnicamente falando, GTA V é um triunfo técnico sem precedentes.
O mundo em que o jogo se desenvolve, a cidade de Los Santos, a dublê GTA de Los Angeles, é enorme e além de uma imensa metrópole, ainda conta com uma vasta área vicinal, cheia de cidades menores, condados interioranos cheios de caipiras, e paisagens florestais, desérticas e litorâneas de encher os olhos e que lembram versões melhoradas das melhores ambientações de Red Dead Redemption (Aliás, a influência de RDR também pode ser sentida além das paisagens, em atividades secundárias como a caça, e nas feras selvagens que vivem nas matas do interior e até nas cercanias da metrópole, fui atacado por um puma em uma montanha a uns duzentos metros da cidade...), tudo construído de maneira bonita e eficiente, com uma renderização beirando a perfeição com as coisas surgindo à distância, e não brotando do nada quando se chega perto...
A animação dos personagens é excelente, e mesmo os transeuntes aleatórios que encontramos nas ruas, nas praias e nos clubes de Los Santos são bem feitos. A física do jogo também é excepcional, com os veículos possuindo pesos e centros de gravidade distintos e tendo seu movimento influenciados pelo terreno, um detalhe muito bacana que também é sentido no movimento dos personagens a pé.
Grand Theft Auto V, pela primeira vez dá ao jogador a possibilidade de jogar com mais de um personagem. A trama tem três protagonistas, Michael, Franklin e Trevor, cada um deles com habilidades e backgrounds diferentes.
Michael roubava bancos, forjou a própria morte e se aposentou após fazer um acordo com um agente do FBI para viver com sua esposa e seus dois filhos em uma mansão em Los Santos usando um novo nome sob um programa de proteção à testemunha muito particular.
Franklin é um jovem negro de South Los Santos disposto a subir na vida da forma que for possível, mesmo pelo crime. Cansado dos marginais de sua vizinhança, vê em Michael uma espécie de figura paterna que pode lhe apontar o melhor caminho a seguir para ascender na cadeia alimentar da bandidagem e Trevor, um psicopata canadense de deixar o Wolverine encabulado, era parceiro de Michael na época dos assaltos, ele começa o jogo fabricando metanfetamina no interior, onde tenta eliminar a concorrência e expandir seu pequeno império de drogas até descobrir que Michael talvez não esteja morto.
A construção gráfica de todos eles é ótima, e pode-se inclusive mexer no visual dos personagens como em GTA - San Andreas, adicionando barbas, tatuagens e cortes de cabelo (Muitos fãs sentiam falta desses elementos em GTA IV), sem alterar a excelência das animações. Além disso, existem formas de melhorar as capacidades de pilotagem, a resistência, mira e força dos protagonistas, e mesmo suas habilidades especiais (Cada um deles têm uma), o que dá ao jogo uma faceta de RPG que, embora não chegue nem perto da de San Andreas, é bastante interessante.
O trabalho de dublagem também é excelente, todos os personagens, centrais e coadjuvantes são ricamente dotados em termos de sotaques, entonações e espectro emocional, e funcionam às mil maravilhas nesse mundo ambíguo, exagerado e construído à perfeição que é Los Santos e seus arredores.
A jogabilidade é funcional e simples como sempre. O sistema de tiro, herdado de Max Payne 3 é irrepreensível, embora eu sinta falta da barra de saúde dos antagonistas nos tiroteios e especialmente nas pancadarias. O modo de direção continua tão bom quanto antes, embora a física do jogo possa atrapalhar apressadinhos com pé de chumbo, já os sistemas de controle de vôo, são ambíguos, o dos helicópteros é bastante simples, praticamente igual ao de GTA IV, já o dos aviões é mais desafiador e complexo, mas nada que faça ninguém arrancar os cabelos.
Além das missões principais, cerca de sessenta e cinco, existem mais dezenas de missões secundárias, além de atividades de toda a espécie. Você pode assistir TV, navegar pela internet (Existem dois sites em particular que são ótimos, o Life Invader, emulando o Facebook, e o dublê GTA do Twitter, o Bleeker), ouvir rádio, jogar tênis, golfe, dardos, tunar seu automóvel e participar de corridas de rua, praticar tiro ao alvo, pesca submarina, triatlo, skydiving, base jump, caçar, ajudar transeuntes que são assaltados, ou ajudar assaltantes a fugir da polícia, visitar alguma das dezenas de lojas de roupas que existem pela cidade e arredores... Não falta o que fazer em GTA V.
Em termos de mecânica de jogo, de apuro técnico e de realização, GTA V é um triunfo absoluto, sem precedentes em termos de escala e detalhamento, está, porém, longe de ser perfeito.
A história do game é divertida, movimentada, por vezes beirando o absurdo, essa edição do game não quer ser um simulador realista de nada, e isso fica bastante claro na forma como as aventuras de Franklin, Michael e Trevor são conduzidas, pendendo muito mais à ação e ao humor do que a qualquer outra coisa, sem passar nem perto da profundidade da tragédia de Red Dead Redemption ou do círculo de crime e castigo de GTA IV, pra ficar só nos games da própria Rockstar.
Não bastasse essa propensão ao humor e ao absurdo, outro elemento claramente satírico da Rockstar gera desconforto:
os personagens.
Se Niko Bellic era sugado para o mundo da criminalidade pelas ações do primo e a força das circunstâncias e John Marston era obrigado pela lei a retomar a vida que tentava deixar pra trás, ambos eram homens de princípios, que, a seu modo torto, possuíam códigos de conduta e algum senso de honra.
Franklin, Michael e Trevor, por outro lado, são apenas bandidos.
A despeito de terem lá suas boas sacadas e lampejos de decência, os três não passam de marginais, sociopatas e psicóticos.
Esse detalhe talvez seja, mais do que as claras gozações da desenvolvedora ao America Way of Life (e à sociedade contemporânea como um todo espalhadas pelo game), a grande crítica do jogo ao player e ao mundo: Três protagonistas tão viciosos, e que ainda assim, são capazes de gerar algum carisma e empatia em uma geração que parece viciada em caos quando coloca as mãos no controle de um GTA.
Em suma, GTA V está longe de ser perfeito, mas é a quintessência dos games sandbox. A epítome da série Grand Theft Auto. Tudo aquilo com que toda uma geração de consoles esperava pra mostrar do que era capaz para o bem, ou o mal.
Obrigatório para fãs e não fãs da série.
Custa sonhar com todo esse apuro técnico e escala absurda de possibilidades num game mais profundo na nova geração?

"-Sabe, eu estive nesse jogo por muitos anos, e saí vivo. Se você quer meu conselho: Desista dessa merda."

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