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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Vai Começar


Daqui algumas horas começa mais uma caminhada do Internacional na Libertadores da América.
O Colorado vai à altitude dos Andes enfrentar o The Strongest da Bolívia numa partida onde começa enfrentando doze adversários:
O time da casa e a altitude de mais de 3600 metros acima do nível do mar.
Não promete ser uma caminhada das mais simples. O time do Inter tem problemas em todos os setores. A defesa, com seus laterais insuficientes e zagueiros perdidos conseguiu sofrer quatro gols do São José. O meio de campo é lento e tem dificuldades pra compor os movimentos defensivos e encaminhar ataques de velocidade, e o ataque é entregue à morte entre a zaga adversária à medida em que há um abismo entre os armadores e os homens de frente.
Não bastasse tudo isso, o treinador é uma incógnita, estrangeiro do Uruguai, num país onde técnicos estrangeiros quase imediatamente viram motivo de chacota, vindo do oriente médio onde o futebol é semi-amador.
Sua forma de armar o time desagrada o presidente que o aceitou sob severa insistência de um vice de futebol que, infelizmente, morreu antes de ser sua cria entrar em campo.
Não fosse tudo isso o suficiente, o Internacional claudica no torneio estadual, gerando dúvida e temor entre os torcedores que olham o time e continuam sem saber o que aquele grupo de jogadores é capaz de fazer dentro de campo, se é que são capazes de algo.
Fosse eu torcedor de alguma equipe menor, dessas que se agarram à místicas e tabus e mantras, eu poderia dizer que "é na hora em que tudo está contra que o Inter mais cresce".
Mas seria mentira.
O Internacional jamais foi Davi, se apequenando e lutando encolhido contra gigantes que o desprezavam.
Não.
O Inter sempre foi equipe de botar a bola no chão e tentar jogar. Mesmo que fosse jogando na retranca, como foi contra o Barcelona em 2006, ou partindo pra cima e surrando o adversário como fez com o Chivas na Libertadores em 2010.
O Inter é assim. Não vence guerras, ão vence graves conflitos onde se decide o futuro do clube. O Inter vence jogos.
E os vence jogando.
Fez sua história assim: Jogando futebol.
Hoje, começa mais uma jornada de Libertadores da América. Vamos torcer por Alisson, Léo, Ernando, Réver e, que Deus me perdoe, Fabrício. Vamos torcer por Nílton, Aránguiz, Anderson, D'alessandro, Alex e Sacha. Por Vitinho, Luque e Nilmar. Vamos torcer por eles como torcemos por Fernandão, Rafael Sóbis, Iarley, Ceará, Kléber, Bolívar, índio e Fabiano Eler, Clemer, Renan e Nei, Giuliano, Walter, Gilberto e Leandro Damião. Vamos torcer por todos eles como já fizemos antes. Vamos torcer para que entrem em campo e joguem melhor que os adversários, pois, sempre foi assim que vencemos.
Vai começar.

Resenha Cinema: Grandes Olhos


Acho que ninguém reclama tanto dos filmes iguais do Tim Burton quanto eu. Poucas pessoas se incomodam tanto com as faces pálidas, as roupas listradas, a fotografia escura, o Johnny Depp, a Helena Bohan-Carter a música do Danny Elfman e as versões sombrias de fábulas que todo mundo já conhece quanto eu faço toda a vez que vou no cinema e revejo esses expedientes re-re-re-re-re-repetidos.
Se o faço, não é apenas por ser chato. Não.
O faço porque sou um fã de Tim Burton, e na última vez em que o havia visto sair dessa insuportável zona de conforto, havia sido em Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas. Não apenas meu filme preferido de Tim Burton, mas também um de meus filmes preferidos em geral.
O longa que tinha a assinatura e a marca de Burton, mas não os lugares-comuns do diretor, era tudo o que todos os demais filmes dele de lá pra cá não foram capazes de ser. E, eu confesso, isso me irritava bastante.
Ontem, fui de maneira tardia assistir Grandes Olhos (forçado pelo calendário de lançamentos que inundou o cinema com tarados sádicos e sonsas masoquistas), mais recente trabalho de Burton e, ora veja, após 12 anos, Burton finalmente voltou a fazer um filme fugindo do lugar comum.
Em Grandes Olhos conhecemos Margareth (Amy Adams), uma mulher se preparando para o quê, nos anos cinquenta, era uma grande aventura:
Ela está abandonando o marido.
Com nada além de seu carro, suas roupas, sua filha e sua arte, Margareth chega a São Francisco e passa a batalhar para construir uma vida em um mundo onde mulheres em geral, artistas em particular, não causam lá grande efeito.
Enquanto trabalha fazendo pinturas à mão em berços e camas infantis em uma fábrica de móveis, Margareth tenta vender seus quadros com crianças de olhos grandes no parque aos domingos.
É num desses domingos que ela conhece Walter Keane (Christoph Waltz), ele próprio um pintor, também tentando vender seus quadros de paisagens urbanas francesas direto aos consumidores finais.
Walter, um homem charmoso e expansivo, divertido e bom provedor (em sua carreira principal como corretor de imóveis), logo encontra um caminho ao coração fragilizado de Margareth, e em pouco tempo, os dois estão casados passando lua de mel no Havaí, e procurando lugares para vender suas pinturas em conjunto.
É por acaso que Walter vende o primeiro Grandes Olhos de Margareth como se a obra fosse sua, mas, quando as crianças olhudas se popularizam, e começam a vender mais do que água mineral em São Paulo, o pintor frustrado, mas homem de negócios afiadíssimo, logo percebe que uma oportunidade de lucros ímpar se apresenta.
Com a conivência de Margareth, Walter passa a se apresentar como o autor dos Grandes Olhos, e a fazer uma fortuna vendendo as obras que são tremendamente apreciadas pelo público em geral, mas desprezadas pelos críticos especializados (retratados por Jason Schwartzman e Terence Stamp).
Conforme se tornam muito ricos à medida em que Walter não desperdiça uma única chance de promover "seu" trabalho e descobre as formas de abrir o mercado ao vender pôsteres e cartões postais das obras originais, Margareth se sente cada vez menos confortável com a farsa do casal.
As coisas só pioram conforme o deslumbrado Walter passa de um entusiasmado pai de família a um irascível e hiper-sensível falso artista apaixonado pela própria mentira, levando o casal por um rumo que só pode acabar em confronto e separação.
Mas, nesse caso, quem ficará com as crianças de Grandes Olhos?
É interessante ver um Tim Burton tão contido e interessado em seus personagens mais do que na ambientação. Amy Adams vai muito bem, e, tão contida quanto Burton, consegue uma atuação bela e emocional. Menos sorte tem Waltz, sem ter muito por onde trabalhar com o que o roteiro de Scott Alezander e Larry Karaszewski oferece a Walter, ele imediatamente se torna um vilão absolutamente caricatural, dando pistas de suas verdadeiras inclinações ainda quando deveria ser charmoso e gentil.
Burton leva o filme de maneira sóbria e comedida, levantando algumas questões interessantes sobre direitos das mulheres, o papel da mídia enquanto formadora de opinião, e, essencialmente, sobre quem é o guardião da arte? Quem diz o que é arte e o que não é?
Com momentos genuinamente divertidos, uma história real interessante, mas contada de maneira algo óbvia, Grandes Olhos se destaca entre os aborrecidos trabalhos recentes de Burton, mas está longe de seus melhores momentos.
Espere o DVD.

"Os olhos são janelas para a alma."

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Resenha Cinema: Sniper Americano


Clint Eastwood tem se mostrado um diretor mais prolífico conforme sua idade se torna mais provecta. O diretor octogenário, pela primeira vez em sua carreira, lançou dois filmes no mesmo ano, na verdade, lançou dois filmes com intervalo de seis meses (nos EUA, aqui, o hiato entre Jersey Boys e este Sniper Americano foi um pouco maior).
Esse espaço curto entre os lançamentos, por sinal, só torna o resultado final de Sniper Americano mais admirável.
O longa metragem de Eastwood abre no Iraque, onde o sniper Chris Kyle (Bradley Cooper) observa um pelotão de soldados norte-americanos inspecionando residências.
É a sequência do trailer, quando Kyle percebe que uma mulher e um menino se preparam para atacar a tropa em movimento, dando-lhe uma escolha indigesta.
É nessa fração de segundo, entre decidir o que fazer após receber dos supervisores a instrução de que a escolha de atirar ou não é sua, que o longa volta no tempo.
Após um episódio envolvendo o irmão mais novo de Chris no recreio da escola, o pai dos dois à mesa de jantar, divide o mundo entre "ovelhas", "lobos" e "cães pastores", deixando claro como uma cinta em cima da mesa qual tipo espera que seus filhos sejam.
Anos mais tarde, os irmãos Kyle levam uma vida sem propósito, trabalhando como ajudantes de fazenda e tentando se tornar estrelas do rodeio.
É após ouvir a notícia dos ataques à embaixadas norte-americanas na África que Chris percebe que sua vocação de cão pastor pode ser aplicada nas Forças Armadas. É durante seu treinamento para se tornar um navy SEAL que ele conhece Taya (Sienna Miller), se apaixona por ela, e é pouco antes de se casarem que acontecem os atentados de 11 de setembro de 2001, que culminam em seu envio ao Iraque.
Lá, Chris e a audiência percebem que, escolhas difíceis estão em cada esquina, e que a decisão consciente de ser um "protetor", é repleta de percalços, e tem um custo que não é pouco elevado.
A abordagem tradicional de Clint Eastwood, um dos diretores norte-americanos com melhor mão pra violência (Clint e David Cronemberg, que são totalmente diferentes, parecem os únicos sujeitos capazes de entender que a violência é parte da natureza humana, e a tratam como tal, sem grandes arroubos nem enfeites), ajuda Sniper Americano a dar seu recado.
Chris Kyle não teria sido o atirador mais mortífero da história das forças armadas dos EUA (com mais de 160 mortes confirmadas) se não entendesse e abraçasse sua missão. Em American Sniper a violência existe, tem peso, propósito e significado, mas não recebe confetes nem lamúria. Clint e o roteirista Jason Dean Hall não demonizam nem celebram a guerra, mas sabem que ela existe, e a tratam assim: Como algo que existe e, bom ou ruim, com a qual é necessário lidar.
Essa visão amortecida do conflito funciona porque Bradley Cooper, no que talvez seja a melhor atuação de sua carreira, parece perceber a guerra como algo plenamente justificável, e abraça a causa de proteger "o melhor país do mundo" com o coração que apenas um caipira crédulo teria.
Acertando a mão no sotaque do Texas, no físico parrudo, forte e gorducho, e na forma de interpretar o personagem, se equilibrando entre o ingênuo e o intenso, e sua certeza inabalável na justiça de sua missão jamais soam como um bravado vazio, mas sim como uma característica pessoal inalienável e além do julgamento de quem está de fora.
Sienna Miller é outra que acerta a mão em seu retrato de Kaya Kyle.
A atriz inglesa que já havia estado muito bem, obrigado em sua breve participação em Foxcatcher, tem em Sniper Americano mais espaço (aliás, bacana ver Eastwood mostrar o outro lado de um de seus heróis que não conseguem se conectar com a família), e é hábil em sua interpretação para não permitir que a personagem se torne apenas uma daquelas esposas sofridas que choramingam que só querem o marido de volta. Taya entende que o homem por quem ela se apaixonou é quem é, e negar-lhe sua vocação e valores, seria negar a ele próprio.
Com um grande elenco, uma história abordada de maneira corretíssima, Clint Eastwood acerta a mão, e faz um dos melhores filmes sobre as guerras norte-americanas no oriente médio.

"Eu estou ansioso para encontrar meu Criador e responder por cada tiro que eu disparei."

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Quadrinhos: Demolidor 6


Malditas sejam as distribuidoras, demorei uma barbaridade pra encontrar o sexto número de Demolidor nas bancas aqui em Porto Alegre (Eu amo esta cidade, mas ás vezes me irrita o fato de ela ter todos os problemas de uma metrópole e todas as mazelas de uma cidade do interior), cheguei a imaginar, angustiado, que a Panini havia parado de publicar a compilação trimestral.
Por sorte, ontem passei em uma comic shop mais ajeitadinha, e encontrei o sexto número do gibi do Demo dando sopa na prateleira.
Conforme já deixei claro nas outras cinco reviews da série, Demolidor é o melhor quadrinho em série sendo publicado no Brasil.
Sério.
As histórias medianas da série são boas, e as boas são ótimas.
Mark Waid tira de letra a tarefa de fazer quadrinhos à moda antiga, quando bastava contar uma boa história por mês e não existia a necessidade de se fazer um mega evento para chacoalhar a realidade dos personagens duas vezes por ano.
Não pense, porém, que isso significa que as histórias são paradas ou aborrecidas. Nem de longe. Encaixando uma trama na outra em forma de pequenos arcos, Waid (e sua competente turma de desenhistas) seguem mostrando a dura rotina de um advogado/vigilante cego cuja vida parece sempre destinada a piorar mas que, na visão do roteirista, ao contrário de outros tempos, não se deixa abater por isso.
Reunindo as edições de Daredevil de 31 a 36, o volume que conta com arte de Chris Samnee, Javier Rodriguez, Jasin Copland e Alvaro Lopez começa com o Demolidor ainda enredado com a hospitalização de Foggy Nelson, hospitalizado lutando contra um câncer, soterrado em trabalho no escritório onde conta com a ajuda da ex-quase-namorada Kirsten McDuffie, como se isso não fosse o suficiente, os Filhos da Serpente, o grupo supremacista branco que se enveredou pelos mais diversos ramos de Nova York, começa a usar os talentos do vilão Polichinelo para espalhar mensagens de ódio racial através da mídia, literalmente envenenando a cidade.
Após pesquisar sobre o grupo, Matt descobre que a organização criminosa tem raízes místicas, o que leva seu caminho a se cruzar com o de Stephen Strange, o Doutor Estranho, mago supremo da terra, e fazer uma viagem ao interior onde seu caminho se cruza com a Legião dos Monstros.
Não bastasse tudo isso, Matt se torna alvo de chantagem, e, disposto a tudo para manter sua consciência tranquila, e limpar as serpentes do sistema jurídico de Nova York, dá um passo em direção à uma decisão que poderá mudar para sempre a sua vida, e a vida de Foggy, à medida em que coloca o escritório Nelson e Murdock na mira da Ordem dos Advogados de Nova York.
Só posso dizer que Mark Waid deveria ser clonado e assumir todos os títulos de super-heróis da Marvel.
Eu não leio Homem-Aranha desde antes do evento Ilha-Aranha, e me dói confessar que eu não sinto falta alguma.
Demolidor atrasa por um mês e eu praticamente tenho urticária.
Por R$18,90, 132 páginas de quadrinhos de primeiríssima qualidade com capa cartão e papel WTC no miolo. Praticamente dado de presente.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Homem-Aranha Se Junta aos Marvel Studios


Pois é, nerdalhada, a Sony e os estúdios Marvel fecharam acordo e o Homem-Aranha, agora vai aparecer nos filmes do universo cinematográfico da editora junto com Thor, Capitão-América e Homem-de-Ferro.
A Sony e a Marvel confirmaram o trato que levará o cabeça de teia à sua nova velha casa e que já teve grande impacto na Marvel, que tratou de alterar as datas de quatro dos seus lançamentos para os próximos três anos (Thor - Ragnarok, saiu de 28 de julho de 2017 para 3 de novembro, Pantera Negra saiu de 3 de novembro de 2017 para 6 de julho de 2018, Capitã Marvel foi de 2 de novembro de 2018 para para 6 de julho de 2018 e Inumanos, originalmente marcado para 2 de novembro de 2018 agora será lançado em 12 de julho de 2019.
Essa dança das cadeiras deve-se ao fato de que a Marvel e a Sony unirão forças para lançar um novo longa do Homem-Aranha em 28 de julho de 2017.
O longa será produzido por Kevin Feige, da Marvel, e Amy Pascal, que recentemente se demitiu de seu cargo na Sony, além de Matt Tolmach e Avi Arad, produtores dos cinco filmes anteriores da franquia.
Antes de ter seu próprio filme, no entanto, o cabeça de teia deverá aparecer em um longa da Marvel, o candidato mais forte é Capitão-América - Guerra civil no ano que vem, já que, no quadrinho que que servirá de base ao filme, o Homem-Aranha é disputado feito uma vadia por Homem de Ferro e Capitão-América, virando casaca durante o conflito entre os dois Vingadores em lados opostos de uma lei de registro de super-humanos.
Embora a Marvel possa usar o teioso em seus filmes, a marca permanecerá pertencendo à SONY, que terá a prerrogativa de financiar e distribuir os filmes do teioso além de manter a palavra final sobre a parte criativa do personagem.
Como a resposta aos dois O Espetacular Homem-Aranha foi considerada morna pela Sony, é provável que Andrew Garfield, Mark Webb e todos os demais envolvidos sejam desligados do universo aracnídeo.
É uma pena, além de perdermos o melhor PeterParker/Homem-Aranha fora dos quadrinhos em todos os tempos, ainda teremos que ver mais uma origem do cabeça de teia nos cinemas, e um re-reboot.
Eu entendo que a Marvel queira o Homem-Aranha nos Vingadores.
O escalador de paredes é o herói mais famoso e popular da editora há anos (embora pareça que a própria Marvel esqueça disso ao achincalhar o personagem de todas as formas nos gibis), tão querido pelo público que a Marvel coloca ele em todo o lugar, Vingadores, Quarteto Fantástico e até nos X-Men (mesmo sem ser mutante), logo, é perfeitamente lógico que o estúdio da editora queira usar o personagem em seus filmes. Os próprios atores falavam a respeito, Chris Hemsworth o Thor do cinema, já havia dito que seus favoritos para se juntar aos Vingadores eram Wolverine e Homem-Aranha.
Agora a Marvel conseguiu isso, que ótimo.
Mas será que precisamos, mesmo, ver mais uma origem do Aranha no cinema?
Precisamos ver mais um adolescente excluído ser picado por uma aranha especial e deixar seu tio morrer por ser irresponsável?
Por que a Marvel não aproveita que já existe uma história em andamento de onde esses percalços já foram removidos e segue o baile com Garfield no papel principal?
Ao invés de um adolescente na escola, um jovem adulto na faculdade, tendo que equilibrar estudos, trabalho e perrengue financeiro com a vida de super-herói, e, mais que isso, de Vingador?
O Espetacular Homem-Aranha e O Espetacular Homem-Aranha 2 podem não ter sido excelentes, mas acertaram a mão com seu personagem principal.
Eu espero, francamente, que a Marvel não coloque tudo isso à perder.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Resenha Cinema: Corações de Ferro


Eu preciso confessar que não sou, nem de longe, um grande fã do cinema de David Ayer. O roteirista/diretor de filmes Os Reis da Rua, Marcados para Morrer e Sabotagem nunca me impressionou com suas histórias policiais urbanas onde, a bem da verdade, os personagens mais ou menos parecem sempre os mesmos, transitando pela faixa cinza entre o bem e o mal, eventualmente mais perto do branco, eventualmente mais perto do preto.
Prova da falta de mão de Ayer pra construção de personagens é que seu trabalho de maior visibilidade e prestígio é justamente aquele que ele não dirigiu (Dia de Treinamento), e assim que sentou na cadeira do diretor, se mostrou um cineasta com boa mão para construir sequências claustrofóbicas e tensas e, meio que foi só.
Ao assistir esse Corações de Ferro, o fiz com baixas expectativas, e muito mais por conta do que parecia um bom elenco e por curiosidade de ver Ayer trabalhar fora do seu ambiente natural de tiras urbanos do que esperando um grande filme de Segunda Guerra Mundial (um conflito que, diga-se de passagem, gerou muitos GRANDES filmes).
No longa conhecemos o tanque de guerra Fury, um Sherman norte-americano tripulado por cinco homens:
Sargento Don "Wardaddy" Collier (Brad Pitt), o canhoneiro Boyd (Bíblia) Swan (Shia LaBeuf), o motorista Trini (Gordo) Garcia (Michael Peña) e o mecânico caipira Grady (Bunda de guaxinim) Travis.
A este grupo de veteranos que luta junto desde a África, cortando a Europa Alemanha adentro rumo a Berlim, junta-se, após uma baixa, o novato Norman Ellison (Logan Lehrman), um fedelho de 18 anos treinado para ser datilógrafo que jamais disparou uma arma, nunca esteve em combate e sequer viu um tanque por dentro.
É abril de 1945, e os Aliados fazem sua derradeira investida rumo à capital alemã e o fim da guerra, entretanto, cada cidade tomada é a última resistência de uma tropa nazista, e muitas delas não estão dispostas a vender barato sua base.
Com as provisões, munições e até mesmo as tropas rareando, os soldados de Hitler passam a convocar mulheres e crianças aos esforços de guerra, tornando o conflito ainda mais traiçoeiro.
É à esta realidade suja e brutal que Norman precisa se adaptar para merecer o respeito de seus companheiros descrentes, compreender a dura doutrina do sargento Collier, e tentar sobreviver aos dias finais do conflito.
Não é ruim. Realmente não é ruim.
Corações de Ferro se abraça com força ao bravado macho dos games de tiro em primeira pessoa como Call of Duty e Battlefield para contar sua história sobre homens absolutamente distintos que, no calor da guerra se tornam amigos e irmãos, e isso não é um defeito.
Pra melhorar, Ayer consegue criar sequências de tensão genuínas (o que não é nenhuma surpresa, dado seu histórico), e ocupa de maneira esperta o claustrofóbico interior do tanque, lar de seus anti-heróis.
Além disso, o diretor não economiza no gore, e enche a tela com homens em chamas, desmembramentos, decapitações e corpos explodindo e sendo esmagados.
Infelizmente, parece que em sua ânsia por criar um filme brutal e sujo, que se equiparasse em termos de visual a O Resgate do Soldado Ryan (a inspiração na sequência da invasão à Normandia é flagrante), Ayer, mais uma vez, esqueceu de preencher seus personagens com alguma coisa além de arquétipos e frases de efeito.
Se Pitt, mostrando-se um astro maduro e seguro, se vira bem com seu "Wardaddy" Collier, nem todo mundo tem o tempo de tela do ex-Apache Rayne (infinitamente superior), e ainda que o elenco se esforce, os personagens simplesmente não têm estofo pra justificar uma eventual preocupação da audiência com eles.
LaBeuff e Lehrman inclusive se esforçam e fazem o possível, e mesmo Bernthal e Peña têm seus momentos, ainda assim, é óbvia a falta de mão de Ayer pra dirigir atores e seu desleixo com relação ao elemento humano. Ainda bem que o diretor consegue equilibrar seu texto raso e sua mão pesada pra dirigir sequências sem pancadaria com uma divertida batalha final repleta de pirotecnia e sangue que encerra o longa de maneira digna.
No fim das contas, entre (pilhas de) mortos e feridos, salvam-se o esforçado elenco, a esmerada produção, e as boas sequências de ação. Ayer segue devendo um ótimo filme, mas ao menos entrega seu primeiro filme bom.
Com baixas expectativas até vale a visita ao cinema.

"Ideais são pacíficos. História é violenta."

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Resenha Cinema: Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)


Após ver o filme, fica fácil entender porque foi que Birdman se tornou sensação nos festivais desde seu lançamento.
O longa metragem de Alejandro Gonzales Iñarritu (de Amores Brutos, 21 Gramas e Babel) é quase que um passo a passo na cartilha das premiações, com todos os elementos que agradam à crítica especializada. Um grande elenco na ponta dos cascos, um ótimo trabalho de edição e fotografia, e uma sátira à Hollywood dos blockbusters devorando a verdadeira tarefa dos atores em uma história repleta de metalinguagem que flutua entre o drama e a comédia.
Ah, sim. A história:
Riggan Thomson (Michael Keaton), é um ator veterano que, cerca de vinte anos atrás, viveu um icônico papel de super-herói em uma bem sucedida trilogia cinematográfica, o Birdman do titulo.
Agora decadente e semi-esquecido, Thomson resolve arriscar tudo em uma última tentativa de voltar a ser relevante, mas pelas razões certas. Ele escreve, dirige e estrela uma peça baseada em um romance de Raymond Carver que está prestes a fazer sua estréia na Broadway.
O que, por si só, já seria um desafio, só se torna mais complicado à medida em que Riggan não precisa lidar apenas com a pressão de construir o espetáculo, financiá-lo, lidar com o elenco, com a ex-esposa Sylvia(Any Ryan) e a filha/assistente Sam (Emma Stone), mas também manter sob controle a emplumada voz interior que expõe de maneira incessante seus medos mais profundos.
Conforme a grande estréia se aproxima, e os desastres começam a se empilhar uns sobre os outros na forma de uma mudança de elenco de última hora que termina com a entrada do virtuoso e arrogante Mike Shiner (Edward Norton) no time, e a ameaça da crítica do New York Times Tabitha Jenkins (Lindsay Duncan) de destruir a peça antes mesmo de ela começar, Riggan começa a duvidar de sua capacidade de levar o projeto adiante.
Muito do que funciona em Birdman, na verdade contradiz o subtítulo. Se o espectador é ignorante à carreira de Michael Keaton e à má fama de Edward Norton entre diretores e produtores, muito da graça de assistir aos dois atores simplesmente se perde.
Da mesma forma, toda a piada a respeito do domínio dos filmes de quadrinhos no cinema requer algum conhecimento, outrossim, boa parte do filme deixa de fazer sentido... O que ignorância alguma consegue ocultar, no entanto, é a excelência do trabalho do elenco.
Michael Keaton cai dentro de Riggan Thomson, e faz o que se espera quando um ator ganha o maior papel de sua carreira em mais de duas décadas, entrega sua melhor performance em anos.
Edward Norton é outro que tira de letra. Sua atuação é equilibrada o bastante para garantir que seu Mike Shiner seja arrogante o suficiente pra manter a audiência com um pé atrás com ele, mas honesto o suficiente para manter-se um personagem atraente e engraçado. Emma Stone também está ótima, e sua Sam Thomson é uma magnética mistura de rebeldia e candura adolescente.
Se destaca ainda Zach Galifianakis, surpreendentemente contido no papel do agente e produtor de Thomson, Jake, enquanto Andrea Risenborough e Naomie Watts têm pouco com o que trabalhar e não conseguem, em seus papéis pequenos, o mesmo impacto de Amy Ryan, que manda muito bem mesmo com a participação reduzida.
Com uma montagem esperta de Douglas Crise e Stephen Mirrione, trabalhando sobre o genial trabalho de câmera do cinematógrafo Emmanuel Lubezki, emulando um filme sem cortes (embora, em alguns momentos, fique claro onde está a "emenda"), mais uma trilha sonora quase opressiva (e por vezes excessiva) de Antonio Sanchez, é fácil sacar porque Birdman caiu no gosto da crítica, já que, pela primeira vez em sua carreira, Iñarritu parece estar se divertindo com o que faz.
Ainda assim, a dramédia do mexicano não chega, de fato, a empolgar, talvez porque o roteiro, do próprio Iñarritu mais Alexander Dinelares com a colaboração de Nicolás Giacobone e Armando Bo, é excessivamente pretensioso e auto-indulgente.
Sem nenhum pudor o filme separa arte maior de arte menor, esculhamba o cinemão-pipoca, demoniza os críticos e se coloca num pedestal, do tipo, o povo gosta de lixo, de ser "viral", "eles são produtos, isto é arte"... Com tanta antipatia, acaba ficando difícil abraçar os personagens e sua jornada, o que é uma pena, pois Michael Keaton e Riggan Thomson mereciam tal interesse.

"As pessoas, elas adoram sangue. Elas adoram ação. Não essa depressiva falação filosófica de merda."