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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Resenha Cinema: Grandes Olhos


Acho que ninguém reclama tanto dos filmes iguais do Tim Burton quanto eu. Poucas pessoas se incomodam tanto com as faces pálidas, as roupas listradas, a fotografia escura, o Johnny Depp, a Helena Bohan-Carter a música do Danny Elfman e as versões sombrias de fábulas que todo mundo já conhece quanto eu faço toda a vez que vou no cinema e revejo esses expedientes re-re-re-re-re-repetidos.
Se o faço, não é apenas por ser chato. Não.
O faço porque sou um fã de Tim Burton, e na última vez em que o havia visto sair dessa insuportável zona de conforto, havia sido em Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas. Não apenas meu filme preferido de Tim Burton, mas também um de meus filmes preferidos em geral.
O longa que tinha a assinatura e a marca de Burton, mas não os lugares-comuns do diretor, era tudo o que todos os demais filmes dele de lá pra cá não foram capazes de ser. E, eu confesso, isso me irritava bastante.
Ontem, fui de maneira tardia assistir Grandes Olhos (forçado pelo calendário de lançamentos que inundou o cinema com tarados sádicos e sonsas masoquistas), mais recente trabalho de Burton e, ora veja, após 12 anos, Burton finalmente voltou a fazer um filme fugindo do lugar comum.
Em Grandes Olhos conhecemos Margareth (Amy Adams), uma mulher se preparando para o quê, nos anos cinquenta, era uma grande aventura:
Ela está abandonando o marido.
Com nada além de seu carro, suas roupas, sua filha e sua arte, Margareth chega a São Francisco e passa a batalhar para construir uma vida em um mundo onde mulheres em geral, artistas em particular, não causam lá grande efeito.
Enquanto trabalha fazendo pinturas à mão em berços e camas infantis em uma fábrica de móveis, Margareth tenta vender seus quadros com crianças de olhos grandes no parque aos domingos.
É num desses domingos que ela conhece Walter Keane (Christoph Waltz), ele próprio um pintor, também tentando vender seus quadros de paisagens urbanas francesas direto aos consumidores finais.
Walter, um homem charmoso e expansivo, divertido e bom provedor (em sua carreira principal como corretor de imóveis), logo encontra um caminho ao coração fragilizado de Margareth, e em pouco tempo, os dois estão casados passando lua de mel no Havaí, e procurando lugares para vender suas pinturas em conjunto.
É por acaso que Walter vende o primeiro Grandes Olhos de Margareth como se a obra fosse sua, mas, quando as crianças olhudas se popularizam, e começam a vender mais do que água mineral em São Paulo, o pintor frustrado, mas homem de negócios afiadíssimo, logo percebe que uma oportunidade de lucros ímpar se apresenta.
Com a conivência de Margareth, Walter passa a se apresentar como o autor dos Grandes Olhos, e a fazer uma fortuna vendendo as obras que são tremendamente apreciadas pelo público em geral, mas desprezadas pelos críticos especializados (retratados por Jason Schwartzman e Terence Stamp).
Conforme se tornam muito ricos à medida em que Walter não desperdiça uma única chance de promover "seu" trabalho e descobre as formas de abrir o mercado ao vender pôsteres e cartões postais das obras originais, Margareth se sente cada vez menos confortável com a farsa do casal.
As coisas só pioram conforme o deslumbrado Walter passa de um entusiasmado pai de família a um irascível e hiper-sensível falso artista apaixonado pela própria mentira, levando o casal por um rumo que só pode acabar em confronto e separação.
Mas, nesse caso, quem ficará com as crianças de Grandes Olhos?
É interessante ver um Tim Burton tão contido e interessado em seus personagens mais do que na ambientação. Amy Adams vai muito bem, e, tão contida quanto Burton, consegue uma atuação bela e emocional. Menos sorte tem Waltz, sem ter muito por onde trabalhar com o que o roteiro de Scott Alezander e Larry Karaszewski oferece a Walter, ele imediatamente se torna um vilão absolutamente caricatural, dando pistas de suas verdadeiras inclinações ainda quando deveria ser charmoso e gentil.
Burton leva o filme de maneira sóbria e comedida, levantando algumas questões interessantes sobre direitos das mulheres, o papel da mídia enquanto formadora de opinião, e, essencialmente, sobre quem é o guardião da arte? Quem diz o que é arte e o que não é?
Com momentos genuinamente divertidos, uma história real interessante, mas contada de maneira algo óbvia, Grandes Olhos se destaca entre os aborrecidos trabalhos recentes de Burton, mas está longe de seus melhores momentos.
Espere o DVD.

"Os olhos são janelas para a alma."

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